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Aula Gestão social

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AULA 1 - Relação entre gestão empresarial e gestão social
Para iniciarmos o estudo sobre Gestão Social, precisamos entender como esse assunto teve início no mundo corporativo. O ponto de partida, sem dúvida, foi a preocupação das empresas com os assuntos que iam além das ações destinadas a se conseguir a maximização do lucro, de forma a dar o máximo retorno para os seus acionistas ou proprietários, mas envolviam ter políticas de ação claramente definidas em sua Gestão Empresarial, como a adoção da Responsabilidade Social Corporativa e a relação da empresa com outros atores (stakeholders) que participam igualmente da geração de valor da empresa destinado ao mercado e à sociedade.
Responsabilidade Social Corporativa (RSC)
Segundo o Livro Verde da Comissão Europeia (2001), a responsabilidade social é um conceito, segundo o qual as empresas decidem, numa base voluntária, contribuir para uma sociedade mais justa e para um ambiente mais limpo.
Com base nesse pressuposto, a gestão das empresas não pode, e/ou não deve, ser norteada apenas para o cumprimento de interesses dos proprietários das mesmas, mas também pelos de outros detentores de interesses. Veja alguns exemplos.
Na verdade, o conceito de responsabilidade social deve ser entendido em dois níveis.
Nível interno: O nível interno relaciona-se com os colaboradores e, mais genericamente, a todas as partes interessadas afetadas pela empresa e que, por seu turno, podem influenciar no alcance de seus resultados: clientes e fornecedores.
Nível externo: O nível externo tem em conta as consequências das ações de uma organização sobre os demais atores externos, como o meio ambiente, a comunidade, os sindicatos e o governo.
No contexto da globalização e de mutação industrial em larga escala, emergiram novas preocupações e expectativas dos cidadãos, dos consumidores, das autoridades públicas e dos investidores. Os indivíduos e as instituições, como consumidores e/ou como investidores, adotam progressivamente critérios sociais nas suas decisões.
Atualmente, os consumidores recorrem aos rótulos sociais e ecológicos para tomarem decisões de compra de produtos.
Os danos causados ao ambiente por parte das atividade econômicas têm gerado preocupações crescentes entre os cidadãos e diversas entidades coletivas, pressionando as empresas para a observância de requisitos ambientais e exigindo a entidades reguladoras, legislativas e governamentais a produção de quadros legais apropriados e a vigilância da sua aplicação.
Os meios de comunicação social e as modernas tecnologias da informação e da comunicação têm sujeitado a atividade empresarial e econômica a uma maior transparência. 
Daqui tem resultado um conhecimento mais rápido e mais profundo das ações empresariais – tanto as socialmente irresponsáveis (nefastas) como as que representam bons exemplos (e que, por isso, são passíveis de imitação) - com consequências notáveis na reputação e na imagem das empresas.
O entendimento da relação complexa que existe entre:
concerne ao estudo da responsabilidade social das empresas. Cada vez mais se percebe empresas privadas procurando atuar como agentes de desenvolvimento.
Além de vender bens e serviços, preocupam-se em mostrar responsabilidade pelo contexto social e ambiental em que realizam suas atividades, mantendo um bom relacionamento com os seus stakeholders.
Contudo, a questão da Responsabilidade Social Empresarial como vemos hoje é tema recente, polêmico e dinâmico, envolvendo desde a geração de lucros pelos empresários, em visão bastante simplificada, até a implementação de ações sociais no plano de negócios das companhias, em contexto abrangente e complexo.
A ideia de que as atividades empresariais afetam com suas práticas de negócios um número maior de interessados ficou evidenciada com a repercussão dos efeitos da Grande Depressão Americana dos anos 30, considerada a primeira crise econômica do sistema capitalista. A segunda crise ocorreu mais recentemente, em 2008, com o estouro da “bolha imobiliária” no mercado americano e que foi a responsável pela crise das economias de vários países da zona do Euro, entre eles: a Grécia, Irlanda, Portugal, Espanha e Itália.
Historicamente, a primeira abordagem referente à Responsabilidade Social das grandes empresas que se tem registro, foi em 1899, quando o empresário A. Camigie, fundador do conglomerado U.S. Stell Corporation, um gigante mundial do aço, resolver aderir às práticas de Responsabilidade Social através do princípio da caridade e da custódia. Na verdade, para os valores protestantes que orientava a formação religiosa dos EUA, o princípio da caridade instituía uma obrigação aos mais abastados, no sentido de contribuir financeiramente com os menos favorecidos da sociedade, como idosos, desempregados e inválidos, enquanto o princípio da custódia, instituía a ideia de as empresas e ricos multiplicarem a riqueza da sociedade.
Em 1919, a questão da ética, da responsabilidade e da discricionariedade dos dirigentes de empresas abertas veio a público com o julgamento do caso Dodge versus Ford, nos EUA, que tratava da competência de Henry Ford, presidente a acionista majoritário da empresa para tomar decisões que contrariavam interesses dos acionistas John e Horace Dodge. 
Conforme Ashley (2002), “[...] a Suprema Corte de Michigan foi favorável aos Dodges, justificando que a corporação existe para o benefício de seus acionistas e que diretores corporativos têm livre-arbítrio apenas quanto aos meios para alcançar tal fim, não podendo usar os lucros para outros objetivos”.
Como efeito, uma nova concepção de Responsabilidade Social emergiu e pautou-se pelo reflexo dos objetivos e valores sociais.
Houve o entendimento de que as companhias estão inseridas em ambiente complexo, onde suas atividades influenciam ou têm impacto sobre diversos agentes sociais, comunidade e sociedade. A nova moral das empresas passou por uma mudança, havendo um limite para o que produziam e vendiam, criando um novo paradigma da Responsabilidade Social pós-guerra do Vietnã. Porém, nesta época, a Responsabilidade Social encontrou muitas barreiras, através da figura dos fundamentalistas, que apoiavam a ideia de que as empresas devem somente realizar atividades que visam ao lucro dos acionistas. Eles diziam que qualquer desvirtuamento desta finalidade acabaria gerando impacto sobre os consumidores e, consequentemente, sobre a sociedade.
Na sociedade pós-capitalista, o conceito de Responsabilidade Social se amplia, instituindo uma nova visão que vai além da obrigação com os acionistas e passa também incluir outros grupos constituídos na sociedade. 
Assim como afirma Peter Druker, considerado um dos pilares do estudo da administração: “a empresa deve assumir responsabilidade por eventuais impactos causados para tudo e todos”.
Porém, preocupar-se com a maximização do retorno aos acionistas, a razão de ser da empresa deve ser a maximização do bem-estar social. A continuidade da empresa, no longo prazo, passa a depender da capacidade da administração no atendimento aos anseios da sociedade, incluindo as expectativas de outros agentes, além de empregados, acionistas e governo, em seu plano de negócios. Nesse sentido, vários autores concordam ao afirmar que todas as tendências provenientes de movimentos da sociedade civil, governos e empresas, conduziram a um aumento da responsabilidade social para outras dimensões, passando a incorporar as questões:
direcionando-o para aquilo que todos já conhecem como uma visão mais total e ampla, como propõe a Sustentabilidade.
Portanto, as visões de responsabilidade social corporativa são inúmeras. Clique no PDF e conheça algumas.
Aula 2 - a Teoria dos Stakeholders
O primeiro estudioso a apresentar, de forma explícita e detalhada, a Teoria dos Stakeholders, foi R. Edward Freeman, professor de administração de negócios da Darden School da Universidade de Virgínia. Ele argumenta que, na tomada de decisão sobre alocação de recursos organizacionais, devem ser considerados os efeitos que essa alocação causará sobre os gruposde interesse que se relacionam com a organização, sejam grupos na própria organização ou exteriores à ela.
De acordo com Bryson (2003), a simples definição de quem são realmente os stakeholders possui variações entre os autores, como exposto no quadro abaixo:
Existem duas correntes de pensamento. A primeira diz que os gestores têm a função principal de elevar, tanto quanto possível, o retorno dos acionistas ou cotistas da empresa e deveriam atuar somente de acordo com as forças impessoais do mercado, que demandam eficiência e lucro, tudo transcorrendo em um ambiente de respeito aos ditames legais impostos pelos agentes sociais, fazendo esse pensamento parte da teoria do acionista.
Já a segunda corrente de pensamento argumenta que os gestores exercem a função ética de respeitar os direitos coletivos e garantir o bem-estar entre todos os agentes afetados pela empresa, incluindo neste conjunto clientes, funcionários, fornecedores, proprietários, a comunidade em geral, como também os gestores, os quais estão a serviço desse amplo grupamento de partes interessadas.
Em uma outra visão, alguns autores enxergam a Responsabilidade Social sob três óticas.
A primeira refere-se ao exercício da gestão social interna, sendo o próprio cumprimento das obrigações sociais o que está previsto em lei. Este vai do pagamento de imposto até a colocação de chaminés em fábricas. O objetivo é aumentar a motivação, a satisfação e o comprometimento dos funcionários, contribuindo para incrementar a produtividade. Desta forma, torna a gestão social interna não um fim em si mesmo, mas transcende ao contemplar objetivos sociais mais amplos de mudança de cultura.
A segunda ótica se refere à gestão social externa, envolvendo a sociedade, as comunidades e os consumidores em questões como preservação do meio ambiente, impactos socioeconômicos, políticos e cultural na sociedade, segurança e qualidade dos produtos.
Por último, tem-se a terceira ótica, que aborda o exercício da gestão social cidadã, que extrapola a comunidade e se estende à sociedade como um todo. As empresas inserem-se socialmente na comunidade, cooperando para o desenvolvimento e fomentando projetos locais e regionais, mediante ações de filantropia, incentivo à geração de empregos e estabelecimento de parcerias com o Governo e outras entidades, além da promoção de campanhas de conscientização social e de cidadania.
Na visão clássica, as empresas são vistas como entidades econômicas produtoras de bens e prestadoras de serviços que precisam vender para clientes cada vez mais exigentes, em um mercado de acirrada concorrência.
Contudo, a visão contemporânea considera que as empresas têm um grande desafio por operarem em um ambiente marcado pela incerteza, pela inovação tecnológica e pelos novos paradigmas de gestão.
Estas tem origem numa impressionante velocidade de mudança nos campos da educação, da informação e do conhecimento, onde as empresas são concebidas como membros da sociedade. Embora as organizações de negócio exerçam claramente os dois papéis, o reconhecimento disso nem sempre responde à questão de como as companhias devem se envolver em atividades de Responsabilidade Social.
Zilberstajn (2000) afirma que: “com a adoção de práticas de Responsabilidade Social, mesmo sob a ótica de maximização do lucro sem que a empresa obtenha ganhos econômicos diretos, os benefícios advirão com a elevação do capital reputacional da empresa, favorecendo, no longo prazo, a maior adesão dos consumidores aos seus produtos.”.
Ademais, a crescente complexidade dos negócios, em decorrência da velocidade das inovações tecnológicas e da transição das nações para um mundo globalizado, desperta no empresariado e nos governos uma nova maneira de agir, obrigando-os a desenvolver formatos diferenciados para o desenvolvimento econômico, social e ambiental. O mundo empresarial, portanto, enxerga na Responsabilidade Social uma fonte de estratégia inovadora, que contribui para promover a elevação dos lucros e impulsionar o seu crescimento.
Nesse sentido, a Responsabilidade Social Corporativa (RSC) fundamenta-se, portanto, em estratégias para orientar as ações das empresas em consonância com as necessidades sociais, de modo que a empresa garanta, além do lucro e da satisfação dos seus clientes, o bem-estar da sociedade, como também os valores que suas ações possam agregar aos negócios e à sua imagem reputacional.
Uma referência no estudo da RSC, o Business for Social Responsibility Institute – BSRI (organização norte-americana, sem fins lucrativos, dedicada à divulgação de responsabilidade social nos negócios) relaciona a Responsabilidade Social Corporativa, em um sentido mais abrangente, à tomada de decisões nos negócios, tomando como base valores éticos que contemplem uma perspectiva de respeito e concordância a valores legais, comunidades, indivíduos e meio ambiente. Dentro desta visão, o BSRI focaliza as empresas socialmente responsáveis como aquelas que interagem, de forma harmônica, no ambiente de negócios no qual se inserem, desenvolvendo ações que permitem alcançar ou até mesmo superar expectativas éticas, legais e comerciais.
No Brasil, o Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social, fundado em 1998, por iniciativa de um grupo de empresários brasileiros, tem como função ajudar os empresários nacionais a compreender e incorporar o conceito de Responsabilidade Social no cotidiano de sua gestão, contribuindo para proliferação das ações socialmente responsáveis adotadas por um número cada vez maior de empresas.
AULA 3 – CONCEITO DE GESTÃO SOCIAL – DEFINIÇÃO E ORIGEM
Conceito de Gestão Social – Introdução
O tema gestão social tem sido cada vez mais utilizado nos últimos anos para acentuar a importância das questões sociais para os sistemas-governos (primeiro setor), principalmente na implementação das políticas públicas, assim como dos sistemas-empresa (segundo setor) no gerenciamento dos seus negócios.
Conforme opinião de Fernando Tenório, autor pioneiro dessa temática no país, a “Gestão Social contrapõe-se à gestão estratégica à medida que tenta substituir a gestão tecnoburocrática, monológica, baseada na hierarquia, por um gerenciamento mais participativo, dialógico, fundado no diálogo permanente entre os sujeitos participantes do processo de construção da decisão que deve ser coletiva e, portanto, gerando maior benefício para todos”.
Gestão Social pode ser entendida como “uma alternativa de intervenção e transformação social, coletiva e sustentável. Sendo um processo gerencial dialógico, onde a autoridade decisória é compartilhada entre os participantes da ação”. Ela tem encontrado suas práticas sociais nos diferentes atores, não apenas governamentais, mas de ONGs, associações, fundações, assim como algumas iniciativas do setor privado que se exprimem nas noções de responsabilidade social da empresa. A Gestão Social tem se mostrado uma forma de relação entre Estado e sociedade no enfrentamento das problemáticas mais contemporâneas.
O adjetivo ‘social’ qualificando o substantivo ‘gestão’ deve ser entendido como o espaço privilegiado de relações sociais no qual... todos têm o direito à fala, sem nenhum tipo de coação.
Desta forma, a gestão social é uma gestão realizada pela sociedade (coletiva) e para a sociedade. Nesse sentido, a Gestão Social se conceitua como sendo a construção de diversos espaços para a interação social.
Trata-se de um processo que é desenvolvido em uma determinada comunidade e que se baseia na aprendizagem coletiva, contínua e aberta para a concepção e a execução de projetos que respondam às demandas do espaço social. Sua implementação implica o diálogo entre os diversos atores/intervenientes, como os governantes, as empresas, as organizações civis e os cidadãos.
Por isso, a necessidade de um novo conceito para traduzir o espaço de interação da gestão social. A este dá-se o nome de cidadania deliberativa que significa, em linhas gerais: “que a legitimidade das decisões deve ter origem em processos de discussão orientados pelos princípios da inclusão, dopluralismo, da igualdade participativa, da autonomia e do bem comum". Sob essa perspectiva, a esfera pública seria o espaço de intermediação entre Estado, sociedade e mercado, bem como a Cidadania Deliberativa seria o processo participativo de deliberação baseado essencialmente no entendimento (e não no convencimento ou negociação) entre as partes e conforme escreve Tenório (2008):"[...] o procedimento da prática da cidadania deliberativa na Esfera Pública é a participação".
Em resumo, a Gestão Social pode ser entendida como a tomada de decisão coletiva, sem coerção, baseada na inteligibilidade da linguagem, na dialogicidade e no entendimento esclarecido como processo, na transparência como pressuposto e na emancipação como fim último. De uma forma mais prática, pode-se entender gestão social como a maneira de gerir assuntos públicos, baseando-se em participação, maior fluidez de informações, e buscando estabelecer formas de articulação social entre os diversos agentes locais, públicos e privados, de forma a compartilhar o poder e as responsabilidades com todos.
A Origem do Conceito
O conceito de Gestão Social em âmbito mundial começa a ganhar corpo no início da década de 50 com o Estado de bem-estar social ou welfare state, ou seja, quando o Estado assume um papel ativo de movimentar a agenda do desenvolvimento econômico e social. 
Exemplos marcantes estão relacionados com a reconstrução da Europa após a segunda guerra mundial, ampliando o papel do Estado não somente como garantidor do desenvolvimento, mas como provedor de benefícios sociais que até então não eram cogitados para serem adotados pela dinâmica das economias de mercado nos países desenvolvidos e sendo copiados pelos países em via de desenvolvimento, como o caso do Brasil. Diante desse contexto,  foi por volta de 1970, no Brasil, que a Gestão Social começou a ser debatida com mais ênfase, diante do próprio fortalecimento das organizações não governamentais (ONGs). Portanto, como se percebe, o tema é recente, o que faz existir uma carência de teorias ou conceituações na área, bem como a falta de consenso sobre o assunto. Na década de 80, com a população crescente, desempregos, problemas de exclusão social, as ONGs se espalharam por todo o mundo e o Terceiro Setor foi impulsionado para responder às demandas legítimas de governabilidade, que não eram atendidas pelos canais burocráticos, estatais ou privados, incapazes de atender às novas camadas sociais.
E é exatamente para atender a essas demandas que surge a gestão social como uma nova forma de gerenciar que, sem romper com os conceitos tradicionais da gestão empresarial, avança em direção a essa nova modalidade de gestão que precisa contemplar o social e o ambiental. 
Assim, agrega-se os valores e princípios da administração privada, que garantem a eficiência econômica, como: a avaliação, o planejamento, os controles menos burocráticos, a eficiência nos gastos e a eficácia nos resultados, aos objetivos da eficiência social para os stakeholders que participam igualmente do processo de geração de valor. Mas foi em face das mudanças econômicas e administrativas ocorridas na década de 1990 que a gestão social ganhou força, “surgiu” e se “estabeleceu”, na prática, contribuindo para mudar fortemente o papel das ONGs, deslocando-as da posição basicamente política e de interlocutoras da sociedade, para a de “parceiras do Estado” na execução das políticas públicas.
Neste cenário, o caráter político dá lugar ao técnico/burocrático, jurídico, econômico e administrativo, exigindo uma atuação gerencial próxima da gestão corporativa e do modelo gerencialista proposto na reforma do Estado, com o desafio da eficiência sem a perda do caráter político.
Evolução do Conceito
A expressão ‘gestão social’ tem sido usada de modo corrente nos últimos anos, servindo para identificar as mais variadas práticas sociais de diferentes atores não apenas governamentais, mas sobretudo de organizações não governamentais, associações, fundações, assim como, mais recentemente, algumas iniciativas partindo mesmo do setor privado e que se exprimem nas noções de cidadania corporativa ou de responsabilidade social da empresa. Vários autores vêm falando sobre o tema, capturando uma dimensão diferente do termo, mas sempre elevando o seu status na direção da necessidade da construção da cidadania, que pressupõe maior participação nos processos de tomada de decisão, favorecendo os sujeitos do processo. 
Como se pode concluir pela abordagem dos autores, todos destacam a importância da atitude deliberativa na construção da cidadania, pois ela valoriza a participação que, de fato, contribui para o desenvolvimento econômico e social, gerando maiores benefícios para aqueles que participam ativamente do processo e muitas das vezes não se fazem presente, quando se trata de auferir os benefícios das decisões tomadas. Por isso, a importância da construção democrática e coletiva das decisões.
Diferenças de Conceito
Para maior esclarecimento, é bom registrar que existe muita confusão na aplicação aos conceitos de gestão social. Fazendo um compilado por vários autores, trazemos aqui os que eles dizem, para que possamos ter uma espécie de quadro comparativo.
Tenório e Saraiva (2006) ressaltam que na maioria das vezes, a gestão social é entendida como gestão de políticas públicas e/ou programas sociais. Na verdade, o termo ainda tem sido objeto de estudo e prática muito mais associado à gestão de políticas sociais, de organizações do Terceiro Setor, de combate à pobreza e até ambiental, do que à discussão e possibilidade de uma gestão democrática, participativa, quer na formulação de políticas públicas, quer naquelas relações de caráter produtivo que deve ser a essência da gestão social.
Já, segundo Gomes (2008, p. 59), "[...] pensar em Gestão Social é pensar além da gestão de políticas públicas. É pensar em estabelecer as articulações entre ações de intervenção e de transformação do campo social, que é uma noção mais ampla, e que não se restringe à esfera público-governamental, como vemos a exemplos das ações de responsabilidade social e do crescimento do Terceiro Setor".
Para Botrel, Araújo e Pereira (2010), a Gestão Social se desenvolve no âmbito da esfera pública, na qual se sobressaem as organizações públicas não estatais e o interesse público da sociedade, além de proporcionar condições à emancipação dos indivíduos, baseando-se na democracia deliberativa, na formação da consciência crítica de seres humanos dotados de razão.
Por outro lado, o que se percebe é que a Gestão Social tem se consolidado como prática, sem ainda o consenso sobre o conceito. Temos que a Gestão Social parece constituir nos últimos anos um daqueles termos que tem conquistado uma visibilidade cada vez maior, tanto do ponto de vista acadêmico quanto nas mídias. Bom por um lado, pois tem curso a sua disseminação, mas por outro, acaba ocorrendo uma espécie de banalização, pois tudo que não é gestão tradicional passa então a ser visto como gestão social. É por essa razão que a gestão social tem sido mais associada à gestão de políticas sociais ou até ambientais, pois no espaço de elaboração e aplicação dessas políticas há necessidade de discussão pelas várias instâncias representativas, o que por si amplia e legitima como coisa pública. O resultado é favorecer o espaço democrático de discussão, exigindo, na prática, que os atores do processo se apresentem e ajudem a construir o processo de legitimação.
No Brasil, o social tem alargado seu espectro de expressão e organização desde a década de 90. A democratização do Estado Brasileiro apontou os direitos sociais como garantias para a cidadania - que está fortemente impregnado na Constituição Federal de 1988 - ampliando assim a implementação de políticas e programas sociais setoriais e por segmentos populacionais. O resultado, em termos práticos, foi a constituição de estruturas nos governos municipais, estaduais e federal para o planejamento, monitoramento, avaliação e gestão dessas políticas e programas sociais. Ao mesmotempo que multiplicaram, também, as organizações da sociedade civil para a realização das ações e projetos sociais.
Podemos resumir o que foi abordado nesta aula da seguinte forma:  
“Gestão Social é um processo que para ser implementado, requer uma aprendizagem conjunta, democrática, participativa e contínua dos grupos sociais, na construção de um espaço de relação social e criação de vínculos de relacionamento institucional, que lhes permitam pronunciar-se sobre a concepção e monitoramento da execução das políticas públicas, para que, de fato, os benefícios sejam efetivos para todos os participantes que formam a sociedade”.
Na prática, veremos que gestão social corresponde ao modo de gestão próprio das organizações que atuam em um espaço que não é originariamente aquele do mercado e/ou do Estado, muito embora existam relações dessas organizações com instituições privadas e públicas, através de variadas formas de parcerias para a consecução de projetos. Por isso diz-se que este é o espaço próprio da chamada sociedade civil, portanto, uma esfera pública de ação que não é estatal.
AULA 3 – CONCEITO DE GESTÃO SOCIAL – OBJETIVO E APLICAÇÃO
O objetivo da Gestão Social é o desenvolvimento socialmente justo e ecologicamente equilibrado. Seu estudo e sua prática estão associados às políticas sociais e ambientais, as ONGs, aos movimentos sociais, ao combate à pobreza, ao desenvolvimento territorial e à possibilidade de uma gestão democrática, participativa, na formulação de políticas públicas ou projetos sociais sustentáveis.
Determinada pela solidariedade, a Gestão Social é, portanto, um processo que deve primar pela concordância, onde o outro deve ser incluído e a cooperação deve ser o seu motivo. Por essa razão, constitui o modo de gestão próprio às organizações que atuam num circuito que não é originariamente aquele do mercado e/ou do Estado, muito embora estas organizações desenvolvam, em grande parte dos casos, relações com instituições privadas e públicas, através de variadas formas de parcerias para implementação dos projetos. Este é o espaço próprio da chamada sociedade civil, portanto, uma esfera pública de ação que não é estatal.
E para dar um sentido bem preciso ao campo de ação da Gestão Social, o professor Tenório, em um de seus estudos (2006), escreve: “o conceito de Gestão Social não deve estar atrelado às especificidades de políticas públicas direcionadas a questões de carência social ou de gestão de organizações do denominado Terceiro Setor, mas, também, a identificá-lo como uma possibilidade de gestão democrática, onde o imperativo não é apenas o eleitor e/ou contribuinte, mas sim o cidadão deliberativo; não é só a economia de mercado, mas também a economia social; não é o cálculo utilitário, mas o consenso solidário; não é o assalariado como mercadoria, mas o trabalhador como sujeito; não é somente a produção como valor de troca, mas igualmente como valor de uso; não é tão somente a responsabilidade técnica mas, além disso, a responsabilidade social; não é a responsabilidade privada, mas sim a responsabilidade pública; não é o monólogo mas ao contrário, o diálogo”.
Como o assunto é novo, outros autores desenvolvem suas análises em outras direções. De um lado, essas contribuições têm ampliado o próprio sentido da Gestão Social, enquanto, de outro, tem provocado confusão no entendimento do conceito, pois estreitam a dimensão que a Gestão Social tem em seu campo de atuação. A questão básica é que na maioria das vezes, a Gestão Social é entendida como gestão de políticas públicas e/ou programas sociais. Isto tem ocorrido pelo fato do termo ainda ser objeto de estudo e sua prática, muito mais associada à gestão de políticas sociais, de organizações do Terceiro Setor, de combate à pobreza e até ambiental, do que à discussão e possibilidade de uma gestão democrática, participativa, quer na formulação de políticas públicas, quer naquelas relações de caráter produtivo, que deve ser a essência da Gestão Social.
Pensar em Gestão Social é ir além da gestão de políticas públicas. É pensar em estabelecer as articulações entre ações de intervenção e de transformação do campo social, que é uma noção mais ampla, e que não se restringe à esfera público-governamental, como vemos a exemplos das ações de responsabilidade social e do crescimento do Terceiro Setor.
Um dos espaços naturais de ação da Gestão Social é o que se desenvolve no âmbito da esfera pública, na qual se sobressaem as organizações públicas não estatais e o interesse público da sociedade. Além de proporcionar condições à emancipação dos indivíduos, baseando-se na democracia deliberativa, ou seja, onde o cidadão deve ser ação deliberativa nos processos de tomada de decisão, contribui para a formação da consciência crítica dos seres humanos dotados de razão.
Outro ponto importante é que, diante das experiências práticas, a Gestão Social tem sido mais associada à gestão de políticas sociais ou até ambientais, do que à discussão e possibilidade de uma gestão democrática, participativa, quer na formulação de políticas públicas, quer nas relações de caráter produtivo. O resultado nesse sentido tem sido contribuir com mais confusão, do que propriamente com a consolidação de uma modalidade de gestão onde as principais características são o diálogo, a participação, o convencimento e a tomada de decisão coletiva.
Nesse sentido, a Gestão Social tem como objetivo a construção de diversos espaços para a interação social. É um processo desenvolvido numa determinada comunidade e deve se basear na aprendizagem coletiva, contínua e aberta para a concepção e a execução de projetos que respondam às demandas do espaço social. Sua implementação implica o diálogo entre os diversos atores/intervenientes, 
como os governantes, as empresas, as organizações civis e os cidadãos.
Por isto que a dinâmica do processo requer uma aprendizagem conjunta e contínua para os grupos sociais, que lhes permita pronunciar-se sobre a concepção das políticas públicas. Em suma, trata-se da construção de um espaço de relação social e vínculos de relacionamento institucional, que se consegue através de um conjunto de ações.
Em resumo, podemos dizer que a Gestão Social representa, por assim dizer, um intermediário através do qual a comunidade atua com espírito empreendedor para promover mudanças sociais. Nesse sentido, é necessário reforçar os laços comunitários e trabalhar em prol da recuperação da identidade cultural e dos valores coletivos da sociedade em questão. A pessoa com capacidade de coordenação e de negociação tanto dentro da sua própria organização como fora da mesma dá-se-lhe o nome de Gestor Social.
Aplicação
Como exemplo de aplicação do conceito da Gestão Social, trazemos aqui o case da Central Única de Favelas (CUFA), uma organização sólida, reconhecida nacionalmente pelas esferas políticas, sociais, esportivas e culturais. Ela foi criada a partir da união entre jovens de várias favelas do Rio de Janeiro – principalmente negros – que buscavam espaços para expressarem suas atitudes, questionamentos ou simplesmente sua vontade de viver.
A organização teve, entre os seus fundadores, o rapper MV Bill, que por sua ativa participação no movimento Hip Hop - considerada uma forma de expressão dos jovens moradores das comunidades pobres da periferia urbana – recebeu em 2004, da UNESCO, o prêmio como uma das dez pessoas mais militantes no mundo na última década. A parte feminina no movimento é bem representada pela Nega Gizza, uma forte referência feminina no mundo do Rap, conhecida e respeitada por seu empenho e dedicação às causas sociais.
Falando um pouco mais sobre o que foi a origem da CUFA, o Hip Hop acabou por se tornar a principal forma de expressão da entidade. Além disso, serve como ferramenta de integração e inclusão social por ser capaz de mobilizar e “estar em sintonia” com os anseios e linguagem desses jovens. Por ser um movimento que, há 20 anos, sobrevive se delineando nos guetos brasileiros, mesmo sem o apoio da mídia, cresce e se fortalece a cada dia, arrebatandoadmiradores de todas as camadas socioeconômicas e deixando para trás o rótulo de “cultura do excluído”. Ao longo de sua existência, o Hip Hop vem criando um movimento forte, atraente, com grande potencial, e segue abrindo portas para novos nichos comerciais ainda não explorados. Logo, fica claro que por interagir com os jovens no espaço que ele está inserido – seu hábitat – o Hip Hop se legitima e faz da CUFA uma entidade “bem vista”, que nasceu de dentro e não algo que “veio de fora”.
Outro instrumento que acabou sendo abraçado pela CUFA e que contribuiu para dar uma organicidade, tipicamente de entidade que se move dentro dos princípios da gestão social, é o basquete de rua. Este esporte é praticado fora das quadras e ginásios convencionais, o que o torna uma atividade democrática e cada vez mais procurada por adolescentes e jovens. Contendo lances de extrema plasticidade e habilidade, esta modalidade esportiva oportuniza o antagonismo de adolescentes e jovens de periferia diante da sociedade como um todo.
Assim, através de uma linguagem própria, a CUFA pretende ampliar suas formas e possibilidades de expressão e alcance, seja via música – o Hip Hop, seja pelo esporte – o basquete de rua. Deste modo, ela vai difundindo a conscientização das camadas desprivilegiadas da população com oficinas de capacitação profissional, entre outras atividades, que elevam a autoestima da periferia quando levam conhecimento a ela, oferecendo-lhe novas perspectivas. O resultado dessa ação da CUFA foi a formação, desde 1999, de um verdadeiro polo de produção cultural e prática desportiva, através de parcerias, apoios e patrocínios, a CUFA forma e informa os cidadãos do Rio de Janeiro e dos outros 26 Estados brasileiros, além do Distrito Federal e países como Bolívia, Alemanha, Chile, Hungria, Itália e Estados Unidos.
Atualmente, a CUFA expandiu as suas áreas da atuação, ampliando com cursos e oficinas de DJ, gastronomia, audiovisual, teatro, produção cultural e muitas outras. São diversas ações promovidas nos campos da educação, esporte, cultura e cidadania, com mão de obra própria. Um aspecto importante do modelo de organização adotado pela CUFA, que é uma característica da aplicação da Gestão Social, é que a formação da equipe é composta, em grande parte, por jovens formados nas oficinas de capacitação e profissionalização das bases da instituição e oriundos das camadas menos favorecidas da sociedade. Desta forma, aumenta a legitimidade de suas ações perante a comunidade e a sociedade, já que são, na sua maioria, formada por moradores de comunidades carentes.
Como podemos ver, a CUFA é um exemplo de Gestão Social Empreendedora, um caso de aplicação de resgate de jovens moradores das periferias pobres, que começam a se tornar cidadãos com acesso a cursos de capacitação que podem mudar, de fato, a sua vida. O passo seguinte é o engajamento desses agora profissionais na participação e construção da cidadania deliberativa. Ultrapassando os limites da CUFA e discutindo com potenciais parceiros públicos e privados, mais projetos que podem contribuir para melhorar, em definitivo, a realidade desses jovens.
Para finalizar, o último projeto de impacto da CUFA que contou com um empresário de shopping, mas se constitui um empreendedor social, é a construção do Favela Shopping, que está em curso no Morro do Alemão – favela pacificada pela Unidade de Política Pacificadora (UPP) lá instalada. Esta, ao ser implantada, contribuiu para a restauração do clima de segurança pública, levando, como resultado, a ampliação de novas oportunidades de novos empreendimentos sociais, onde se alia a eficiência econômica com a eficiência social.
O resultado aparece na valorização do espaço urbano das comunidades populares (as favelas) e amplia as oportunidades de empreendedorismo social, com a perspectiva de aumento da geração de riqueza. Contudo, o seu melhor aproveitamento se dará, na medida em que se desenvolva, de forma paralela, a participação da população nas políticas públicas que se destinam a comunidade e o próprio poder público interaja de forma verdadeira, permitindo que as decisões que envolvam o destino da comunidade sejam construídas na forma de decisões coletivas. Tudo isto integra o processo da aplicação do conceito de Gestão Social.
AULA 5 – A IMPORTANCIA DA GESTÃO SOCIAL NA CIDADANIA E NO DESENVOLVIMENTO
Soluções Individuais e Soluções Sociais
É interessante colocar a seguinte questão: Por que razão, com décadas de discurso antiestado, e com as grandes vitórias liberais, o Estado continuou aumentando? E aumentou na fase Thatcher na Inglaterra, na fase Reagan e Bush nos Estados Unidos, quando o discurso liberal que preconiza a redução do Estado, estava no cerne dos discursos políticos?
A realidade é que o Estado aumentou porque cresceu consideravelmente a demanda por bens públicos. Ainda que seja muito óbvio, é necessário lembrar que a problemática social mudou radicalmente com a urbanização.
Uma família no campo resolve os seus problemas individualmente, seja no caso do lixo, da água, do transporte ou outro. Na cidade, a residência só é viável quando integrada na rede de energia elétrica, telefonia, água, esgoto, calçamento, redes de ruas e assim por diante.
É por falta de solução adequada para um bem de consumo coletivo como o transporte que o paulistano se desloca numa velocidade média de 14 quilômetros por hora, ainda que tenha de pagar por um possante carro.
Mas uma cidade conseguir paralisar-se por excesso de meios de transporte, quando as alternativas baratas e funcionais são amplamente conhecidas, revela a que ponto a nossa capacidade de planejamento e de gestão social ficou parada no tempo, enquanto surgiam desafios dramáticos que exigem soluções renovadas. E os bens públicos exigem forte presença do Estado. Iremos até o absurdo de colocar pedágios nas ruas? E por que não para pedestres?
A urbanização também mudou a forma de organização da solidariedade social. Na família ampla do mundo rural, as crianças e os idosos, ou um eventual deficiente, eram sustentados pela parte ativa da família. Assim, a redistribuição necessária entre a fase na qual o indivíduo é ativo e as fases não ativas se fazia através da solidariedade da família. Com a urbanização, o conceito de família no sentido tradicional se modifica, rompendo o sistema.
Com as novas tecnologias, os miniapartamentos e a atomização social, a própria família nuclear se desintegra.
Nos Estados Unidos, apenas 26% dos domicílios, no início dos anos 90, tinham pai, mãe e filho, ou seja, uma família.
No caso brasileiro, o processo é dramático, pois nos urbanizamos em apenas três décadas, criamos cidades e, sobretudo, periferias sem infraestruturas, sem escolas, sem saneamento, sem segurança. Perdeu-se o pouco que havia de redes tradicionais e ainda estão nas fraldas os sistemas modernos de solidariedade pública. Discutimos amplamente os possíveis defeitos do Estado de Bem-Estar quando sequer chegamos a desenvolvê-lo.
Chegamos assim a alguns pensamentos absurdos defendidos pelos liberais mais ortodoxos, sobre se o princípio de ajuda pública aos vulneráveis da sociedade não constituiria por acaso um certo paternalismo - pecado mortal na visão de pessoas ricas - enquanto crianças inocentes morrem de fome e de causas ridículas, e a sociedade explode com desemprego, criminalidade, corrupção generalizada.
Outra tendência que muda o contexto são as novas tecnologias que constituem, junto com a urbanização, os dois eixos fundamentais de transformação da gestão social. 
Curiosamente, sentimos a tecnologia como ameaça. Em vez de aproveitarmos a oportunidade que ela oferece de fazer mais coisas com menos esforços, geramos o pânico do desemprego, e em vez de organizar a redistribuição do trabalho, aderimos com entusiasmo à nova indústria de bens e serviços de segurança, de condomínios fechados.
O fato de existirem robôs nas empresas automobilísticas não significa que deixamos de ter 20 milhões de pessoas que ainda trabalham no campo, dezenas de milhões de trabalhadores sem carteiraassinada, outros tantos em atividades precárias e informais, e um crescente contingente em atividades ilegais. Podemos imaginar no futuro uma sociedade em rede, crianças com computadores no bolso, a explosão do lazer. E o que construímos no país realmente existente são as fortalezas isoladas nos condomínios, enquanto a sociedade degenera gradualmente para a barbárie. É o que um americano chamou apropriadamente de "slow motion catastrophy" (catástrofe em câmara lenta).
Sonhos à parte, portanto, o desafio que temos pela frente, em termos de gestão social, é a construção de uma transição ordenada, minimamente viável em termos políticos, sociais e econômicos, para o admirável mundo novo que se delineia no horizonte. As pessoas frequentemente esquecem que a transição para a era industrial jogou milhões de pessoas no desemprego e no desespero, provocando gigantescas migrações, nos Estados Unidos ou no Brasil, ou em outros países. Repetir esse drama em escala planetária, com bilhões de pessoas excluídas do processo de transformação, neste pequeno e exausto planeta, levaria a tragédias insustentáveis. É fácil, sem dúvida, dizer que no futuro outros empregos virão substituir os que perdemos, e que outras formas de organização virão resolver os problemas. O que gostaríamos, naturalmente, é de sobreviver até lá. Articular o social com o realismo, flexibilidade e eficiência, e não mais com ideologias do século passado, tornou-se imperativo para as nossas sociedades.
Uma Área à Procura do seu Paradigma Organizacional
As áreas sociais adquiriram essa importância apenas nos últimos anos. Ainda não se formou realmente uma cultura setorial. E a grande realidade é que não sabemos como gerir essas novas áreas, pois os instrumentos de gestão correspondentes ainda estão engatinhando. Os paradigmas de gestão que herdamos - basta folhear qualquer revista de administração - têm sólidas raízes industriais. Só se fala em taylorismo, fordismo, toyotismo, just-in-time e assim por diante.
Como é que se faz um parto just-in-time? Ou educação em cadeia de montagem? Um CAD/CAM cultural?
Seria relativamente simples considerarmos o social como sendo naturalmente da órbita do Estado. Como se atinge 190 milhões de habitantes a partir de uma cadeia de comando central?
As áreas sociais são necessariamente capilares: a saúde deve atingir cada criança, cada família, em condições extremamente diferenciadas.
A gestão centralizada de megassistemas desse porte é viável?
Em termos práticos, sabemos que quando se ultrapassa 5 ou 6 níveis hierárquicos, os dirigentes vivem na ilusão de que alguém lá em baixo da hierarquia executa efetivamente os seus desejos, enquanto na base se imagina que alguém está realmente no comando. A agilidade e flexibilidade que exigem situações sociais muito diferenciadas não podem mais depender de intermináveis hierarquias estatais que paralisam as decisões e esgotam os recursos.
Na realidade, os paradigmas da gestão social ainda estão por ser definidos ou construídos. É uma gigantesca área em termos econômicos, de primeira importância em termos políticos e sociais, mas com pontos de referência organizacionais ainda em elaboração.
O mundo do lucro há tempos descobriu a nova mina de ouro que o social representa. Que pessoa recusará gastar todo o seu dinheiro, se precisa salvar um filho? E que informação alternativa tem o paciente, se o médico lhe recomenda um tratamento? 
Nos Estados Unidos, um hospital está sendo processado porque pagava 100 dólares a qualquer médico que encaminhasse um paciente aos seus serviços. 
Paciente é mercadoria? A Nature mostra como dezenas de pesquisadores publicavam como cartas pessoais em revistas científicas opiniões favoráveis ao fumo: descobriu-se que receberam em média dez mil dólares das empresas de cigarros. Um cientista se defende, dizendo que esta é a sua opinião sincera, e porque não fazê-la render? Para regular a cultura, basta a cultura do dinheiro?
Empresas hoje fornecem softwares educacionais para escolas, com publicidade já embutida, martelando a cabeça das crianças dentro da sala de aula. A televisão submete as nossas crianças (e nós) ao circo de quarta categoria que são os ratinhos de diversos tipos, explicando que está apenas seguindo as tendências do mercado, dando ao povo o que o povo gosta.
Se o argumento é válido, porque um professor também não pode passar a ensinar o que os alunos gostam, sem preocupação com a verdade e o nível cultural?
No Brasil, a excessiva rigidez das tradicionais estruturas centralizadas de Estado e a trágica inadequação do setor privado na gestão do social têm levado a uma situação cada vez mais caótica.
Uma avaliação recente não deixa dúvidas quanto à origem essencialmente institucional do estado caótico das políticas sociais no Brasil.
AULA 6 – O SOCIAL, UM PODEROSO ESPAÇO DE CONSTRUÇÃO DE DESCISOES COLETIVAS
O social: um espaço de construção das decisões coletivas
Um caminho renovado vem sendo construído através de parcerias envolvendo o setor estatal, organizações não governamentais e empresas privadas. Surgem com força conceitos como responsabilidade social e ambiental do setor privado. O chamado Terceiro Setor aparece como uma alternativa de organização que pode, ao se articular com o Estado e assegurar a participação cidadã, trazer respostas inovadoras.
As empresas privadas... ...ultrapassam a visão do assistencialismo para assumir a responsabilidade que lhes confere o poder político efetivo que têm. Passa-se assim do simples marketing social, frequentemente com objetivos cosméticos, para uma atitude construtiva onde o setor privado pode ajudar a construir o interesse público.
Onde funciona, por exemplo, no Canadá ou nos países escandinavos, a área social é gerida como bem público, de forma descentralizada e intensamente participativa.
A razão é simples: o cidadão associado à gestão da saúde do seu bairro está interessado em não ficar doente e está consciente de que se trata da sua vida. Um pai, associado à gestão da escola do seu bairro, não vai brincar com futuro dos seus filhos.
De certa forma, o interesse direto do cidadão pode ser capitalizado para se desenhar uma forma desburocratizada e flexível de gestão social, apontando para novos paradigmas que ultrapassam tanto a pirâmide estatal como o vale-tudo do mercado.
Outro eixo renovador surge com as políticas municipais, o chamado desenvolvimento local. A urbanização permite articular o social, o político e o econômico em políticas integradas e coerentes, a partir de ações de escala local, viabilizando - mas não garantindo, e isto é importante para entender o embate político - a participação direta do cidadão e a articulação dos parceiros. Outro eixo renovador surge com as políticas municipais, o chamado desenvolvimento local. A urbanização permite articular o social, o político e o econômico em políticas integradas e coerentes, a partir de ações de escala local, viabilizando - mas não garantindo, e isto é importante para entender o embate político - a participação direta do cidadão e a articulação dos parceiros.
O cruzamento entre a gestão social e a descentralização política oferece, portanto, perspectivas particularmente interessantes.
Uma vantagem muito significativa das políticas locais é o fato de poderem integrar os diferentes setores e articular os diversos atores. Um ponto de referência prático para esta visão pode ser encontrado nas atividades da Câmara Regional do Grande ABC, onde 7 municípios se articularam para dinamizar as atividades locais da indústria de plásticos: a formação dos trabalhadores é coordenada pelo sindicato dos químicos, em parceria com as empresas, Senai, Sebrae, empresas, faculdades e colégios locais, com apoio financeiro do FAT e outros que se articularam no processo.
Programas de alfabetização, como o Mova, e de formação de jovens e adultos, como o Seja, criam um processo mais amplo de mobilização. O IPT aderiu ao projeto criando um sistema móvel de apoio tecnológico à pequena e média empresa (projeto Prumo). A Unicamp participou com a realizaçãode um diagnóstico do setor plástico regional, e as pequenas e médias empresas se articulam por meio de reuniões periódicas da região.
O conjunto das iniciativas, estas e outras, encontram a sua lógica e coerência através da Câmara Regional que reúne as administrações municipais da região, além de representantes de outras instâncias do governo e da sociedade civil. As diferenças do espectro político das prefeituras da região não impediram a articulação desta rede onde as diversas iniciativas - educação, emprego, renda, produção - se tornam sinérgicas em vez de dispersivas.
Não há fórmula universal na área social. Como demonstra a riqueza do projeto médico de família, por exemplo, a dimensão diferenciada de relações humanas é fundamental nas políticas sociais. Uma das mais significativas riquezas do desenvolvimento local resulta, justamente, do fato de se poder adequar as ações às condições extremamente diferenciadas que as populações enfrentam.
Isto não implica, naturalmente, que as políticas sociais possam se resumir à ação local, às parcerias com o setor privado e à dinâmica do Terceiro Setor. A reformulação atinge diretamente a forma como está concebida a política nacional nas diversas áreas de gestão social, colocando em questão a presente hierarquização das esferas de governo, e nos obriga a repensar o processo de domínio das macroestruturas privadas que dominam a indústria da saúde, os meios de informação, os instrumentos de cultura.
As tendências recentes da gestão social nos obrigam a repensar formas de organização social, a redefinir a relação entre o político, o econômico e o social, a desenvolver pesquisas cruzando as diversas disciplinas, a escutar de forma sistemática os atores estatais, empresariais e comunitários. Trata-se hoje, realmente, de um universo em construção.
Mais uma vez, não se trata aqui de redescobrir coisas óbvias, mas devemos nos colocar uma pergunta elementar: se as atividades da área social estão se tornando o setor mais importante, que tipo de relações sociais de produção o seu surgimento traz no seu bojo? Seguramente, serão diferentes das que foram geradas com o desenvolvimento industrial. Apontam para uma sociedade mais horizontalizada, mais participativa, mais organizada em rede do que as tradicionais pirâmides de autoridade ou podem ainda gerar um tipo de capitalismo de pedágio centrado na indústria da doença, na indústria do diploma, na manipulação cultural através da publicidade e do controle.
A Agenda Social e o Programa Bolsa Família (PBF)
A Agenda Social tem como objetivo a redução das desigualdades sociais, a ampliação dos direitos de cidadania, a prioridade para a juventude, a promoção da cultura, a melhoria da qualidade da educação, da saúde e da segurança pública. Para tanto, articulam-se ações entre órgãos executores de políticas nos âmbitos federal, estadual, municipal e distrital e entre governo e sociedade civil.
O Brasil está vivendo uma mudança de paradigma na condução das políticas públicas, promovida por uma concepção de desenvolvimento mais distributiva e sustentável. Nesse contexto, as políticas sociais ganham papel relevante, rompendo com a falsa dicotomia entre o social e o econômico. Além da dimensão ética de proteção da vida, as políticas sociais estão mostrando grande possibilidade de dinamização das economias locais, com significativo impacto no fortalecimento do mercado interno, o que foi um trunfo valioso para o Brasil no enfrentamento da última crise econômica mundial.
No país, os efeitos da última crise econômica foram menores em comparação com outros países, desenvolvidos ou em desenvolvimento. Isso se deve às boas condições macroeconômicas e às políticas sociais que, dentre outros fatores, garantiram robustez ao mercado interno e aumentaram nossa capacidade de retomada de crescimento. Prova disso é que estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) indica que a pobreza no Brasil segue em queda, apesar da crise internacional.
O processo de desconcentração da renda no Brasil tem sido bastante positivo. De 2001 a 2008, a renda familiar per capita de toda a população cresceu, sendo que entre os mais pobres a evolução foi mais acelerada, de acordo com os gráficos a seguir apresentados. Enquanto a renda per capita dos 10% mais pobres cresceu a um ritmo de 8,1% ao ano, três vezes mais que a média nacional (2,7%), a renda dos 10% mais ricos cresceu de forma mais lenta, alcançando 1,5% ao ano nesse período. No ano de 2008, a taxa de crescimento na renda dos mais pobres foi a mais elevada entre todos os países do mundo. Simultaneamente, a taxa de crescimento na renda dos 10% mais ricos, embora menor que a de todos os demais décimos, foi superior ao que se observou em 85% dos demais países.
O resultado dessas ações contribuiu para que o Banco Mundial (Bird), o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) e o governo do Brasil formalizassem um acordo mediante o qual se comprometem a promover, globalmente, os planos sociais que tiraram da pobreza cerca de 40 milhões de brasileiros.
“Este acordo reconhece o Brasil como um líder global em redução da pobreza e da desigualdade e como um país do qual o mundo pode obter uma grande aprendizagem”, disse o presidente do BIRD, Jim Yong Kim, que lembrou que cerca de 25% da população mundial se encontra em níveis de pobreza moderados.
O acordo chamado Iniciativa de Conhecimento e Inovação para a Redução da Pobreza permitirá a criação de um banco de dados no qual constarão os detalhes da experiência brasileira que será promovida pelo Bird e o Pnud, contando com assessoria técnica do governo da presidente Dilma Rousseff.
Kim disse que os programas sociais brasileiros serviram como base para planos similares aplicados em diversos países do mundo, entre os quais citou os exemplos do Haiti, do Vietnã e da Nigéria e afirmou que esta iniciativa dará mais 'profundidade' à cooperação nessa área.
O representante do Pnud no Brasil, Jorge Chediek, considerou que o país se transformou em um “modelo mundial de desenvolvimento”. Segundo ele, o acordo permitirá que, no futuro, “milhões de pessoas em algum lugar do mundo melhorem suas vidas graças à experiência brasileira”.
As bases dos programas aplicados no país se concentram no plano conhecido como 'Brasil sem Miséria', anunciado em 2011 por Dilma que reuniu e ampliou diferentes projetos de apoio aos mais pobres desenvolvidos desde o ano 2000.
Agenda Social e o Programa Bolsa Família (PBF), que começaram no governo de Fernando Henrique Cardoso, aprofundaram-se durante os dois mandatos de Luiz Inácio Lula da Silva e ampliaram-se com Dilma no poder. Os programas conseguiram tirar da pobreza cerca de 40 milhões de pessoas, segundo dados oficiais.
Estes planos abrangem diversas medidas de apoio financeiro para pessoas de baixa renda, tanto nos grandes centros urbanos como no campo, outras voltadas a melhorar o acesso à educação e à saúde e também iniciativas dirigidas à construção de casas dignas, com os serviços básicos necessários.
AULA 7 – GESTÃO SOCIAL NO TERCEIRO SETOR – ÉTICA NAS ORGANIZAÇÕES
Cada vez mais aumenta sobre as empresas a cobrança da sociedade por mais ética, transparência, participação, políticas efetivas de responsabilidade social, programas sociais efetivos, respeito aos colaboradores. As empresas estão sendo mais cobradas pelo resultado de suas ações sociais e ambientais. Não bastam que elas tenham o melhor resultado econômico, cumpram as leis, paguem salários e recolham os impostos, elas precisam também mostrar que estão comprometidas com a sustentabilidade por meio de ações concretas.
A organização que queira competir no mercado globalizado em que vivemos terá que manter uma reputação sólida de comportamento ético. É importante que seja inserido em sua estratégia de negócios, atitudes que apoiem objetivos de ordem social e de preservação do meio ambiente, aliada a práticas gerenciais, de modo a fortalecer sua imagem, sua reputação, sua marca perante o mercado consumidor. Dessa forma é que países que desfrutam do estado de direitopermitem que a sociedade civil reúna condições para se mobilizar e retaliar as empresas socialmente irresponsáveis e inidôneas.
Desta forma, cabe sugerir às organizações que os resultados positivos na esfera profissional e empresarial dependem de decisões morais e éticas. Portanto, ter padrões éticos é o melhor caminho para a obtenção de bons negócios a curto e longo prazo.
Por oportuno, merece ser lembrada uma das maiores autoridades mundiais em ética empresarial, professora Laura Nash, da Harvard Business School, quando diz que a rapidez das mudanças nos negócios, o surgimento de novas tecnologias e a rapidez como as informações circulam estão fazendo com que os empresários se preocupem cada vez mais com as questões éticas. Pois, nos Estados Unidos, essa preocupação já está presente em 95% das organizações, que criaram seus próprios códigos de ética, como forma de preservar suas imagens.
A Articulação do Social e do Produtivo
Os mercados mundiais vivem a era dos serviços. Mas muitas das vezes essa conceituação tende, por sua generalidade, num primeiro momento, confundir mais do que ajudar. Vejamos o exemplo: a agricultura nos EUA ocupa 2,5% da mão de obra. Tal avaliação é possível porque reduzimos a atividade agrícola à lavra da terra. A atividade agrícola atual se apoia em serviços de análise de solos, em serviços de inseminação artificial, em serviços de calagem, serviços de silagem, serviços meteorológicos etc.
Neste contexto, cabe a seguinte pergunta:
Deixou de haver agricultura ou a agricultura passou a funcionar de outra forma?
Da mesma forma, poderíamos dizer que a secretária ou o engenheiro que trabalham na fábrica não estão na indústria, estão na área de "serviços". Que sentido teria isso? Na realidade, trata-se em grande parte de uma transformação do conteúdo das atividades produtivas, e não do desaparecimento dessas atividades em proveito de uma nebulosa área de "serviços".
Não é um terceiro "setor" que está surgindo, um "terciário". De certa forma, é o conjunto das atividades humanas que está sendo transformado, ao incorporar mais tecnologias, mais conhecimento e mais trabalho indireto. Adquirem maior conteúdo de pesquisa, de concepção, de planejamento e de organização tanto as atividades produtivas, como as atividades ligadas às infraestruturas econômicas, à intermediação comercial e financeira, e aos serviços sociais. É a dimensão de conhecimento do conjunto das nossas atividades de reprodução social que está se avolumando.
A sociedade precisa e demanda as necessidades básicas formadas por: casas, sapatos, arroz e feijão. Contudo, cada vez mais isso está sendo assegurado de forma diferente, ou seja, as atividades produtivas continuam essenciais, mas a sua forma de produção está sofrendo profundas modificações. 
Para que milhões de unidades empresariais da agricultura, da indústria, da construção, sejam produtivas, temos que assegurar, além da própria organização do tecido produtivo e do progresso da gestão empresarial, sólidas infraestruturas de transporte, energia, telecomunicações, bem como água e saneamento, as chamadas "redes" de infraestruturas, sem as quais as empresas enfrentam custos externos insustentáveis e se tornariam não competitivas.
Veja os efeitos proporcionados pelo transporte individual. As grandes cidades do mundo, principalmente as dos países que não optaram pelo transporte de massa, estão asfixiadas pelos sucessivos congestionamentos. Será inocente em termos de racionalidade da sociedade em seu conjunto o fato de termos optado por transporte rodoviário de carga e que usa predominantemente óleo diesel, altamente poluidor, em vez do transporte ferroviário e por água? Quanto nos custa em gastos de saúde e desconforto o fato de uma ampla maioria de domicílios do país não terem acesso a um saneamento adequado? 
O setor produtivo precisa, portanto, de infraestruturas adequadas para que a economia no seu conjunto funcione. Mas precisa também de um bom sistema de financiamento e de comercialização, para que os processos de trocas possam fluir de forma ágil: esses serviços de intermediação, no nosso caso, se tornaram um fim em si mesmo, drenando o essencial da riqueza, constituindo-se mais propriamente em atravessadores do que intermediários, esterilizando a poupança do país.
Finalmente, nem a área produtiva, nem as redes de infraestruturas, e nem os serviços de intermediação funcionarão de maneira adequada, se não houver investimento no ser humano, na sua formação, na sua saúde, na sua cultura, no seu lazer, na sua informação. Em outros termos, a dimensão social do desenvolvimento deixa de ser um "complemento", uma dimensão humanitária de certa forma externa aos processos econômicos centrais, para se tornar um componente essencial do conjunto da reprodução social.
Não há nada de novo, naturalmente, em se afirmar que para o funcionamento adequado da área empresarial produtiva são necessárias amplas redes de infraestruturas, serviços eficientes de intermediação, e um forte desenvolvimento da área social. O que há de diferente é a nova importância relativa da dimensão social do nosso desenvolvimento. A saúde, para ser viável, tem de ser preventiva, permear todo o tecido social, e atingir toda a população. A educação no Brasil envolve hoje, entre alunos e professores, mais de trinta milhões de pessoas. A cultura tornou-se um dos setores mais importantes no conjunto das atividades econômicas e sociais.
A dimensão e a importância da área social mudaram qualitativamente, exigindo novos equilíbrios nas prioridades da sociedade. E a construção desse novo equilíbrio passa a depender de articulações sociais mais complexas, que nos obrigam a deixar de lado as simplificações que estão embutidas nos modelos tradicionais de funcionamento da economia, que coloca a questão de mais estado (estatista) ou menos estado (liberal).
Ética e Ação Social
"Vivemos num mundo absurdamente desigual, um verdadeiro barril, não mais de pólvora, mas nuclear, químico, ecológico e biológico. A diferença entre os 20% mais ricos e os 20% mais pobres do planeta era de 11 vezes em 1913, passou para 30 vezes em 1960, para 60 vezes em 1990 e para 74 vezes em 1997”.
Ocorre que esses problemas – cuja solução passa por acordos e decisões de ordem ética – são os principais problemas da sociedade atual e os que inquietam a comunidade internacional. Com efeito, os dados disponíveis permitem entrever uma alternativa entre responsabilidade social ou barbárie. Neste sentido, anota Oded Grajew:
"As consequências desse processo - que inclui também a degradação ambiental – podem ser dramáticas". Continua Oded Grajew: "Com os recursos tornando-se menos abundantes, os alimentos mais escassos, a brecha entre ricos e pobres mais larga e a mudança climática promovendo tensões crescentes e migrações em massa, não é difícil prever cenários que levem, acidentalmente ou deliberadamente, ao conflito nuclear".
Para Reflexão
Em um ensaio de jornalismo econômico, Joelmir Betting faz-nos recuar até o ano de 1900, e propõe a um homem dessa época dois grupos de questões, perguntando-lhe quais deles serão resolvidos no final do século.
No primeiro grupo, encontram-se dificuldades como: transportar um elefante pelos céus a uma velocidade duas vezes maior do que a do som, transmitir instantaneamente a imagem e o som de um acontecimento ocorrido em outro continente, reproduzir para sempre a voz de uma pessoa falecida, e outras coisas do mesmo estilo.
Como afirma o jornalista, o nosso interlocutor certamente responderia que o segundo grupo de problemas poderia estar resolvido em fins do século, já que só exigiria um pouco de bom senso e cooperação, ao passo que os problemas do primeiro grupo exigiriam procedimentos fantásticos e absurdos. No entanto, a realidade foi bem outra; enquanto os problemas fantásticos foram resolvidos, os demais não só não encontraram solução, como se agravaram bastante. 
Os problemas do primeiro grupo são problemas técnicos, que dependem fundamentalmente do desenvolvimento das ciências físicas, ao passo que os demaisdependem de atitudes e decisões éticas.
Ética e Captação de Recursos
Nos países mais desenvolvidos, duas dificuldades ameaçam o terceiro setor: a burocratização e a mercantilização, isto é, converter-se em um agente da Administração (a qual às vezes substituem) ou em uma mera empresa entre outras (com as quais às vezes competem). Para preservar seu espírito e identidade, as organizações devem reforçar sua independência tanto em relação ao Estado quanto às empresas comerciais, buscando sua vinculação com o cidadão, seja como doador (de tempo, de dinheiro) ou como receptor de seus serviços.
AULA 8 – PAPEL DAS ORGANIZAÇÕES DO TERCEIRO SETOR (ONGS)
A Origem
As organizações não governamentais (ONGs) foram criadas a partir de movimentos de mobilização social nas diversas regiões do mundo, sobretudo na América Latina, Europa e Estados Unidos, a partir da década de 60 e, com mais intensidade, nos anos 70. Elas representam o processo de ordenação e fortalecimento de setores da sociedade civil, que apresentam disposição para se organizar na elaboração e realização de ações. Com isso, estabelecem um novo modelo de relação Estado/sociedade, a partir da atuação em áreas com lacunas ou incompletudes dos serviços públicos.
As primeiras ONGs no Brasil surgiram nos anos 70, apoiando organizações populares e movimentos sociais com um perfil de luta pela inclusão social, promovendo ações de cidadania e fortalecimento da sociedade civil, principalmente, apoiando ações na área de educação.
Além de representar um setor social atuante ao lado do Estado, de forma complementar, as ONGs também influenciam e mobilizam a sociedade e as organizações privadas em torno de causas de interesse comum, para a criação de políticas de responsabilidade social. Desta forma, representam um segmento de caráter político capaz de colher os ecos das demandas sociais e levá-los ao poder público em busca das soluções e de atuar como agente econômico e social.
Durante décadas, em virtude do regime governamental vigente e da dificuldade de estruturação econômica brasileira, as ONGs se posicionaram excessivamente no campo político. Muito embora apresentasse em seu discurso a pretensão da promoção do bem-estar social, negavam uma atuação econômica por acreditarem que a promoção da igualdade e do desenvolvimento seria possível a partir da liberdade individual (democracia), sem se pensar no bem-estar material.
Essa negação é considerada equivocada à luz de pensadores como Milton Friedman, que considera indissolúveis as relações entre política e economia. Geralmente se acredita que política e economia constituem territórios separados, apresentando pouquíssimas inter-relações; que a liberdade individual é um problema político e o bem-estar material um problema econômico; e que qualquer tipo de organização política pode ser combinado com qualquer tipo de organização econômica.
Para Friedman (1985), o processo de organização da economia possui importante papel na construção de uma sociedade livre. A liberdade econômica deve ser percebida como parte da liberdade em seu sentido mais amplo e também como um indispensável instrumento para o alcance da liberdade política. 
Friedman destaca a existência de preconceito dos intelectuais contra a consideração de fatores econômicos e uma tendência em desprezar parte importante do processo de desenvolvimento humano no que diz respeito ao material. Segundo ele, passa-se a considerar aspectos ideológicos como pressupostos de valores mais elevados e pertencentes a um plano diferente, os quais recebem especial atenção. No entanto, Friedman destaca que, para os cidadãos – ou até mesmo para os intelectuais - a liberdade econômica, ou a economia como um todo, em seus atributos quotidianos, que impactam a vida de todos e são percebidos por todos, deve receber significação como instrumento de obtenção da liberdade política.
No que se refere às mudanças de paradigmas, que alteram a concepção de atuação política para um viés econômico, o Brasil na década de 1990, segundo Filgueiras (2000), foi marcado por uma série de reformas de ordem econômica, política e administrativa. Essas mudanças resultaram no redesenho do modelo de gestão pública e de reestruturação do Estado e colocaram o país em outra perspectiva de desenvolvimento econômico, com a abertura das fronteiras geopolíticas ao capital estrangeiro e a superação da inflação. Embora economicamente relevante, essas transformações não contribuíram de forma efetiva para a superação da pobreza e dos problemas sociais históricos, que continuaram afetando as camadas mais pobres da população, mesmo em períodos de crescimento econômico. Esse fato contribuiu para o surgimento de grupos e organizações da sociedade civil intencionados  em atuar na minimização das causas dos problemas sociais, ou seja, uma saída forçada da posição apenas política para a de agente econômico, interventor e promotor de desenvolvimento.
Este período, segundo Acioli (2008), apresentou grande crescimento do terceiro setor brasileiro, impulsionado não apenas pelas conquistas sociais e reconhecimento da sociedade civil, mas pela perspectiva de financiamento com recursos advindos de agências internacionais, que reconheceram nas ONGs brasileiras, potencialidades para desenvolverem projetos para redução da pobreza e atendimento de áreas prioritárias.
Esse processo também foi influenciado pela adoção de uma nova postura do governo brasileiro, com a descentralização de ações sociais e econômicas. Essas ações foram confiadas às ONGs, com a transferência de recursos financeiros, resultando em um cenário novo para elas. Além de atuação política, essas organizações devem apresentar capacidade de gestão e de sistematização de resultados, de forma a mostrar e comprovar o alcance de metas prometidas e pactuadas.
Novas Funções das ONGs
Agora, já não são mais organizações apenas políticas; precisam atuar como atores econômicos e devem posicionar-se como tais. Nas últimas décadas, uma série incontável de políticas sociais e de desenvolvimento tem sido criada pelo governo brasileiro em todas as áreas e, em quase sua totalidade, existe a previsão de participação de ONGs na sua execução. São ações que vão desde a promoção e defesa de direitos sociais e proteção ambiental, até medidas de desenvolvimento econômico baseadas nas políticas de agricultura familiar e de economia solidária.
Isso tem exigido das ONGs conhecimento, estrutura e capacidade de gestão para atender as exigências de cada programa de forma eficiente. É preciso habilidade de planejar e de executar políticas e de coordenar o uso eficiente do investimento (recursos recebidos), para gerar externalidades positivas, ou seja, retorno social e econômico sobre o investimento (CARVALHO, 2011).
Do ponto de vista teórico, a gestão de uma ONG pode não apresentar diferenças em relação a uma empresa privada. Ambas possuem características e alguns problemas semelhantes quanto à busca por qualificação profissional e pela construção de metodologias para garantir a eficiência e o alcance de resultados. No entanto, a gestão das ONGs vai além dos quatro pilares básicos da administração: planejamento, organização, direção e controle (TENÓRIO, 2000).
Essas organizações estão envoltas em um ambiente de natureza econômica, política e social que demanda muito além do desenvolvimento e da entrega de um produto ou serviço. Exige-se a capacidade de equacionar todos estes aspectos para a promoção de bem-estar social a partir de ações que propiciem o desenvolvimento econômico e social. Embora guardem semelhanças entre si quanto às áreas em que atuam e militam e à forma como participam e ocupam os espaços democráticos, é notória a existência de fatores que distinguem empresas de ONGs no aspecto econômico. Assim como as organizações privadas, existem ONGs com estruturas grandes, que desenvolvem projetos extensos, possuem quadros técnicos qualificados, acessam volumes elevados de recursos públicos e privados, têm visibilidade das ações, integram redes de empresas e universidades e atendem/beneficiamgrandes contingentes.
Outras ONGs não alcançaram nível aceitável de desenvolvimento e permaneceram pequenas por décadas, sem acesso a recursos, com estruturas precárias, sem quadros técnicos qualificados, sem visibilidade e com baixa capacidade de atendimento/benefício de um número significativo de pessoas. Ainda que tenham contado com financiamentos de recursos públicos e privados recebidos para implementação de políticas públicas. Mas para a maioria delas, não tiveram desempenho satisfatório para gerar os resultados esperados e contribuir para o desenvolvimento econômico, social e ambiental, ou seja, o desenvolvimento sustentável.
Gestão Social e Novo Papel das ONGs
Percebida no Brasil como um fenômeno recente, a gestão social surgiu a partir das mudanças econômicas e administrativas ocorridas na década de 1990. Essas mudanças alteraram o papel das ONGs, deslocando-as da posição basicamente política e de interlocutoras da sociedade, para a de “parceiras do Estado” na execução das políticas públicas. 
Neste cenário, o caráter político dá lugar ao técnico/burocrático, jurídico, econômico e administrativo, exigindo uma práxis próxima da gestão corporativa e do modelo gerencialista proposto na reforma do Estado, com o desafio da eficiência sem a perda do caráter político. Os agrupamentos de pessoas de boa vontade, o caráter filantrópico, a carência do público já não são argumentos suficientes para convencer financiadores. As ferramentas da gestão corporativa e a burocracia do Estado se misturam e criam um ambiente que militantes históricos jamais enfrentaram. O desafio posto é a adoção de procedimentos técnico-administrativos, capacidade de execução e de geração de resultados, que incluem os econômicos, e a contribuição para a redução da pobreza.
Segundo Drucker (1998), as organizações sem fins lucrativos têm um papel importante na transformação da sociedade e dos indivíduos, pois contribuem para o equilíbrio econômico e social das nações e oportunizam acesso a bens e serviços aos desprovidos. Porém, elas precisam ser eficientes, inovadoras e competentes.
Para Hudson (1999), embora o mundo reconheça a importância das ONGs, o maior desafio a elas imposto é o da gestão sem recursos, em decorrência do não domínio das receitas para desenvolver projetos e para sua manutenção. Elas são (com raras exceções) dependentes de fontes externas, o que as deixa vulneráveis quanto à sua sustentabilidade, exigindo habilidade na captação de recursos.
Para Tenório (1998), a institucionalização do terceiro setor é fundamental no cenário social, político e econômico atual, no qual os dois primeiros setores - o público e o privado - cresceram em desarmonia com os anseios da sociedade. O recente enfraquecimento do setor público, com a proposta em curso do “Estado mínimo”, demanda da sociedade civil ações na busca do equilíbrio social. Porém, ao passo que as ONGs ganham importância, suas necessidades financeiras se ampliam, e os recursos a elas disponibilizados se tornam escassos. Ao se traçar um panorama da gestão das ONGs, percebem-se lacunas conceituais. Porém, para Tenório (2000), a utilização de um ferramental básico com as principais funções administrativas é relevante. Estabelecer métodos que considerem os aspectos internos, as políticas, os planos e rotinas pode ser um ponto de partida para o pensamento, a discussão e a elaboração de modelos para o setor que possam evoluir para o atendimento pleno de suas especificidades.
Esta ONG foi criada em 1986 e tem como missão defender o que resta da mata atlântica, conservando os patrimônios naturais, histórico, também para ajudar os animais selvagens, dessas regiões, buscando um desenvolvimento sustentável. É uma ONG privada, sem vínculos partidários ou religiosos e sem fins lucrativos. A atuação da S.O.S Mata Atlântica é alertar, informar, educar, mobilizar e capacitar para o exercício da cidadania. Recebe financiamento de diversas e grandes empresas privadas nas mais diferentes áreas de atuação como bancos, indústrias automotivas, alimentícias, de produtos de higiene pessoal, e através de pessoas que se filiam à causa.
Seu objetivo é defender os remanescentes da Mata Atlântica, valorizar as identidades física e cultural das comunidades humanas que os habitam e conservar os riquíssimos patrimônios natural, histórico e cultural dessas regiões, buscando o seu desenvolvimento sustentado. Atento à necessidade de preservar e manter o equilíbrio ambiental para o futuro, em 2007 a Schincariol inaugurou, em parceria com a Fundação SOS Mata Atlântica, o Centro de Experimentos Florestais SOS Mata Atlântica - Grupo Schincariol, em Itu (SP).
Instalado em uma antiga fazenda de café, o projeto tem como objetivo principal recompor a vegetação de Mata Atlântica a partir da restauração de áreas degradadas. Dos 526 hectares de terras cedidas em comodato por 20 anos à Fundação SOS Mata Atlântica, 384 são usados para plantio. Desde 2008, a parceria já viabilizou a restauração de 392 hectares, dos quais 261 foram na área do próprio Centro de Experimentos Florestais SOS Mata Atlântica. O Centro visa restaurar áreas degradadas através do plantio com espécies características do bioma da região, cambará, cabreúva, timburi, pau-marfim, ipê- verde e cedro-rosa, entre outras. Em 2010, o viveiro produziu 400 mil mudas de 84 espécies nativas.
A equipe técnica do viveiro também foi responsável pelo desenvolvimento de mais 217 mil mudas, recebidas de outros viveiros em diferentes fases de crescimento. O projeto, cuja duração prevista é de cinco anos, fará a restauração completa da propriedade, que em seguida será transformada em uma Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN).
AULA 9 – APLICAÇÃO DA GESTÃO SOCIAL NA GESTÃO PUBLICA E PRIVADA
Quando um grande produtor de soja nos afirma que é capaz de suprir as nossas necessidades agrícolas em geral, visualiza dezenas de milhares de hectares de plantações numa ponta e consumidores felizes na outra. 
Em outra visão, esta opção representa êxodo rural, famílias sem emprego penduradas nas periferias urbanas, gigantescos custos humanos e enormes custos financeiros em termos de segurança, saúde e outros, além de um fluxo de renda insuficiente para consumir o produto. Existe outra opção que é, por exemplo, o da criação de cinturões verdes em torno das regiões urbanas. 
Quem já viajou pela Europa, irá se lembrar das milhares de pequenas unidades agrícolas em torno das cidades, assegurando abastecimento em produtos hortícolas, promovendo o lazer divertido e produtivo de fim de semana, contribuindo para absorver a mão de obra, abrindo oportunidades de terceira idade e assim por diante. Pode-se elencar centenas de opções deste tipo, entre a produtividade da macroempresa e o bem-estar social. Não há dúvida que, na ponta do lápis, mil hectares de tomate permitirão uma produção a custo unitário mais baixo. É a lógica microeconômica.
No entanto, se somarmos os custos do êxodo rural, do desemprego, da criminalidade, da poluição química, dos desequilíbrios políticos gerados pela presença dos megaempreendimentos, não há dúvida que a sociedade como um todo terá uma produtividade menor.
Em outros termos, a melhor produtividade social não é a que resulta da simples maximização da soma das produtividades microeconômicas.
Não se trata de qualquer intenção de construir refinamentos teóricos. Milhares de empresas poluem os rios. Os empresários e os seus economistas explicam que jogar os dejetos no rio é mais barato, que os ambientalistas são uns exagerados, que a produtividade e competitividade é mais importante, pois assegura mais empregos, e em última instância mais bem-   -estar via salários. No entanto, o dinheiro economizado pelas empresas, ao não se equiparem para a proteção do meio ambiente, resulta em rios poluídos. Estes por sua vez geram doenças e enormes gastos em saúde curativa, ocorrendo a perda de lazer e prejuízo de outras atividades como pesca ou turismo. Pagando com os nossos impostos, as prefeituras terão de proceder à recuperação da água poluída, com custos

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