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1 
 
 
 
SUMÁRIO 
Sumário ..................................................................................................................... 1 
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 2 
2 ARTETERAPIA ................................................................................................... 3 
2.1 HISTÓRICO DA ARTETERAPIA .................................................................. 6 
2.2 PRESSUPOSTOS FUNDAMENTAIS NA ARTETERAPIA ......................... 11 
2.3 AS ARTES QUE SÃO UTILIZADAS NA TERAPIA PSICOLÓGICA ........... 13 
3 ARTETERAPIA: CRIATIVIDADE, ARTE E SAÚDE MENTAL COM 
PACIENTE ADICTOS .................................................................................................... 17 
3.1 METODOLOGIA USADA EM SESSÕES DE ARTERAPIA APLICADAS AOS 
DEPENDENTES QUÍMICOS JOVENS .......................................................................... 18 
3.2 RESULTADOS E DISCUSSÃO .................................................................. 19 
4 A ARTETERAPIA NO TRATAMENTO DOS USUÁRIOS DE UM CENTRO DE 
ATENÇÃO PSICOSSOCIAL .............................................................................................. 24 
4.1 OS SENTIMENTOS PROPORCIONADOS PELA ARTETERAPIA ............ 26 
4.2 A IMPORTÂNCIA DAS RELAÇÕES PESSOAIS NO GRUPO DE 
ARTETERAPIA .............................................................................................................. 27 
4.3 ARTETERAPIA NO ENFRENTAMENTO DO CÂNCER ............................. 29 
6 A ARTETERAPIA NO TRATAMENTO DO TRANSTORNO DO ESPECTRO 
AUTISTA (TEA) ................................................................................................................. 45 
7 BIBLIOGRAFIA ................................................................................................. 49 
 
 
 
 
 
 
2 
 
 
1 INTRODUÇÃO 
Prezado aluno! 
O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante ao da 
sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno se 
levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta , para 
que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça 
a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, 
é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao 
protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil. 
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa 
disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das 
avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que lhe 
convier para isso. 
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida e 
prazos definidos para as atividades. 
 
Bons estudos! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
3 
 
 
2 ARTETERAPIA 
Arteterapia é uma área de atuação profissional que utiliza recursos artísticos com 
finalidade terapêutica (CARVALHO, 1995, p;23, apud REIS, 2013, p. 143). Na definição da 
Associação Brasileira de Arteterapia¹, “é um modo de trabalhar utilizando a linguagem 
artística como base da comunicação cliente profissional. Sua essência é a criação estética 
e a elaboração artística em prol da saúde”. Conforme delimita a Associação, a arteterapia 
é uma especialização destinada a profissionais com graduação na área da saúde, como 
Psicologia, Enfermagem e Fisioterapia, embora se reconheça sua utilização por pessoas 
formadas nas áreas das artes e da educação, desde que sem o enfoque clínico. 
 
Fonte: institutopsicologiaemfoco.com.br/2016/11/11/saude-mental-e-arte/ 
A arteterapia usa a atividade artística como instrumento de intervenção profissional 
para a promoção da saúde e a qualidade de vida, abrangendo hoje as mais diversas 
linguagens: 
 Plástica: que são os desenhos, as esculturas; 
 Sonora: através de música, instrumentos; 
 Literária: escrita criativa, poesias, utilização de contos, mitos: 
 Dramática: ligada a expressão cénica, teatral, porém diferente do teatro 
convencional; 
 
 
4 
 
 
 Corporal: pode acontecer desde um relaxamento, técnicas de respiração, 
como também trabalhos envolvendo a dança, dança expressiva, criativa. 
Lembrando que todas essas linguagens, são linguagens onde não é enfatizado a 
questão estética. 
Técnicas expressivas: 
 Desenho; 
 Pintura; 
 Modelagem: pode acontecer com argila, que é um excelente material de 
trabalho, mas também pode ser usado massinha de modelagem com os 
pequenos, com biscuit; 
 Música; 
 Poesia; 
 Dramatização e dança. 
 
Tendo em vista a formação do profissional e o público com o qual trabalha, a 
arteterapia encontra diferentes aplicações: na avaliação, prevenção, tratamento e 
reabilitação voltados para a saúde, como instrumento pedagógico na educação e como 
meio para o desenvolvimento (inter) pessoal através da criatividade em contextos grupais. 
 Desse modo, os campos de atuação da arteterapia tem se ampliado, abrangendo 
além do contexto clínico, com uma aplicação bem expressiva, o educacional, com os 
projetos de arte-educação, com um enfoque no trabalho de habilidades sociais diante da 
arteterapia, o campo comunitário, outro enfoque é o hospitalar, que ocorre com pacientes 
já internados em quadro crônico, pacientes que estão entre um tratamento e outro e o 
organizacional. ((REIS, 2014) 
No entanto, o desenvolvimento da arteterapia como área específica de trabalho deu-
se na Psicologia, ligado primordialmente à questão da saúde mental, como veremos 
adiante. 
Importante se faz refletir sobre a arte como uma ferramenta de trabalho do psicólogo, 
contextualizando historicamente a arteterapia, discutindo os pressupostos fundamentais 
que sustentam esta prática e apresentando suas principais abordagens teóricas. Este 
 
 
5 
 
 
trabalho vem contribuir no sentido de mostrar um panorama geral acerca da arteterapia, 
que permitirá a estudantes e a psicólogos conhecer uma especialização de que ainda pouco 
se fala nos cursos de graduação universitários, avançando ao refletir sobre a própria 
contribuição da arte na atuação do psicólogo, seja na clínica, seja em outros contextos, 
como um meio para trabalharmos com a (inter) subjetividade em uma concepção estética 
do humano. 
Hoje a arteterapia não está mais restrita aos consultórios, revelando-se um valioso 
instrumento para intervenções também nas áreas da Psicologia social, escolar, 
organizacional, da saúde e hospitalar. O que se quer mostrar aqui é que a arte é um 
poderoso canal de expressão da subjetividade humana, que permite ao psicólogo e a seu 
cliente, seja ele um indivíduo, seja um grupo, acessar conteúdos emocionais e retrabalhá-
los através da própria atividade artística. 
Uma grande diversidade de temas, desde traumas e conflitos emocionais, aspectos 
das relações interpessoais em um grupo, expectativas profissionais, gênero e sexualidade, 
identidade pessoal e coletiva, entre outros, podem ser abordados pelo psicólogo através da 
arte. Ela é uma ferramenta que amplia as possibilidades de expressão, indo além da 
abordagem tradicional, que é baseada na linguagem verbal. 
 A mediação da arte na comunicação apresenta algumas vantagens, entre as quais 
a expressão mais direta do universo emocional, pois não passa pelo crivo da racionalização 
que acompanha o discurso verbal. Além disso, com a atividade artística, facilitamos o 
contato do sujeito com suas questões por um viés criativo, e não apenas dando forma a 
determinado conteúdo subjetivo, mas também podendo reconfigurá-lo em novos sentidos. 
O modo como esse processo acontece encontra diferentes explicações em função 
da perspectiva teórica considerada, como será analisado adiante, mas a ideia central é 
essa: a atividade criadora comoum instrumento e a arte como um caminho de 
transformação subjetiva. Como método de trabalho do psicólogo, a arteterapia poderá ser 
adaptada a diferentes objetivos, bem como sustentada sobre diferentes abordagens 
teóricas, cabendo ao psicólogo a escolha da linha com que mais se identifique. Neste artigo, 
serão enfocadas as abordagens consideradas principais e que foram as primeiras a marcar 
presença no desenvolvimento da arteterapia: psicanálise, junguiana, gestalt. Embora cada 
uma delas tenha seu modo próprio de trabalhar com o fazer criativo, todas reconhecem que 
a arte promove o autoconhecimento e potencializa a criatividade, habilidades essenciais ao 
 
 
6 
 
 
desenvolvimento, tanto de um indivíduo como de um grupo com quem o psicólogo esteja 
trabalhando. 
 
2.1 HISTÓRICO DA ARTETERAPIA 
Entre os anos 20-30, as teorias de Freud e Jung trouxeram as bases para o 
desenvolvimento inicial da arteterapia como campo específico de atuação, segundo 
descrevem Carvalho e Andrade (1995, apud REIS, 2014, p; 144). Os autores relembram 
que Freud, ao analisar algumas obras de arte (por exemplo, o Moisés, de Michelangelo), 
observou que elas expressavam manifestações inconscientes do artista, considerando-as 
uma forma de comunicação simbólica, com função catártica. A ideia freudiana de que o 
inconsciente se expressa por imagens, tais como as originadas no sonho, levou à 
compreensão das imagens criadas na arte como uma via de acesso privilegiada ao 
inconsciente, pois elas escapariam mais facilmente da censura do que as palavras. Apesar 
desse grande achado, o próprio Freud não chegou a utilizar a arte como parte do processo 
psicoterapêutico. 
Jung (1875-1961, apud, REIS, 2014, p. 145), ilustre discípulo de Freud, com quem 
posteriormente rompeu ao desenvolver sua própria teoria, a Psicologia analítica, foi quem 
propriamente começou a usar a linguagem artística associada à psicoterapia. 
Diferentemente de Freud, que considerava a arte uma forma de sublimação das pulsões, 
Jung considerava a criatividade artística uma função psíquica natural e estruturante, cuja 
capacidade de cura estava em dar forma, em transformar conteúdos inconscientes em 
imagens simbólicas (SILVEIRA, 2001, apud REIS, p 145). Ele sugeria aos seus pacientes 
que desenhassem ou pintassem livremente seus sonhos, sentimentos, situações 
conflitivas, etc., analisando as imagens criadas por eles como uma simbolização do 
inconsciente individual e coletivo (ANDRADE, 2000, apud REIS, p. 145). Jung utilizava o 
desenho livre para facilitar a interação verbal com o paciente e porque acreditava na 
possibilidade de o homem organizar seu caos interior utilizando-se da arte (ANDRADE, 
2000, p.52, apud REIS, p 145). 
Partindo dessas duas vertentes teóricas, o uso da arte como instrumento terapêutico 
foi progressivamente ganhando espaço. A educadora norte-americana Margareth 
Naumburg (1890-1983) pode ser considerada a fundadora da arteterapia, pois foi a primeira 
 
 
7 
 
 
a sistematizá-la, em 1941 (ANDRADE, 1995, 2000, apud REIS, p 145). Seu trabalho é 
denominado Arteterapia de Orientação Dinâmica, e foi desenvolvido com base na teoria 
psicanalítica (Naumburg, 1966). Nessa perspectiva, as técnicas de arteterapia visam a 
facilitar a projeção de conflitos inconscientes em representações pictóricas, sendo esse 
material submetido à interpretação seguindo o modelo teórico proposto por Freud. 
No Brasil, a história da arteterapia nasce na primeira metade do século passado 
entrelaçada com a psiquiatria e influenciada tanto pela vertente psicanalítica quanto pela 
junguiana. Estas encontram-se representadas respectivamente nas figuras de Osório 
Cesar (1895-1979, apud REIS, p 145) e Nise da Silveira (1905-1999, apud REIS, p 145), 
psiquiatras precursores no trabalho com arte junto a pacientes em instituições de saúde 
mental. Ambos contribuíram para o desenvolvimento de uma outra abordagem frente à 
loucura, contrapondo aos métodos agressivos de contenção vigentes na época 
(eletrochoque, isolamento) à possibilidade de expressão da loucura e de sua eventual cura 
através da arte. Conforme relata Silveira, nesse caminho alternativo, construiu-se um 
tratamento mais humano, com inegáveis efeitos terapêuticos na reabilitação dos pacientes, 
que promovia a recuperação do indivíduo para a comunidade em nível até mesmo superior 
àquele em que se encontrava antes da experiência psicótica (2001, p.19, apud REIS, p 
145). 
Em 1923, Osório Cesar já era estudante interno no Hospital Psiquiátrico de Juqueri, 
localizado em Franco da Rocha, região metropolitana de São Paulo, e, a partir de 1925, aí 
trabalhou como médico ao longo de 40 anos (ANDRIOLO, 2003, apud REIS, p 145). Já em 
1925, cria a Escola Livre de Artes Plásticas do Juqueri, e, em 1948, é o organizador da 1ª 
Exposição de Arte do Hospital do Juqueri, no Museu de Arte de São Paulo. Sobre seu 
trabalho de arte com psicóticos, o Dr. Osório publica, em 1929, sua obra principal, A 
Expressão Artística nos Alienados, na qual apresenta seu método de classificação e de 
análise de obras de arte de pacientes psiquiátricos. Andriolo (2003, apud REIS, p 145) 
considera a importância do pensamento de Osório Cesar, localizando-o no início da 
formação do campo da Psicologia da arte no Brasil, onde sua obra representaria um 
exemplo consistente de leitura freudiana de arte, embora hoje passível de crítica pelo 
reducionismo da obra artística a uma psicologia individual e patologizante, em detrimento 
dos seus aspectos históricos e sociais. 
 
 
8 
 
 
No que tange à história da arteterapia, Carvalho e Andrade destacam o papel de 
Osório Cesar pela contribuição que trouxe no plano teórico, ao articular os conceitos 
freudianos à análise da arte, considerando-o o precursor no Brasil da análise da expressão 
psicopatológica de doentes mentais. Na perspectiva psicanalítica clássica, Osório Cesar 
analisa a simbologia sexual presente nas produções artísticas de seus pacientes, 
compreendendo a obra de arte como uma representação dos desejos pessoais do autor, 
disfarçados nos elementos simbólicos presentes nas imagens (CESAR, 1944, apud REIS, 
p 146). Devemos levar em conta ainda a relevância do trabalho de Osório Cesar para a 
valorização da arteterapia, pois ele realizou mais de 50 exposições divulgando a expressão 
artística de doentes mentais, procurando, com isso, afirmar a dignidade humana dessas 
pessoas (ANDRADE, 2000, apud REIS, p 146). Em termos da prática, de acordo com 
Carvalho e Andrade, o seu método era baseado na espontaneidade e na crença de que o 
fazer arte já propiciava a cura por si', por ser um veículo de acesso ao conhecimento do 
mundo interior (1995, p.34, apud REIS, p 146). 
A psiquiatra Nise da Silveira trabalhava no Centro Psiquiátrico D. Pedro II, em 
Engenho de Dentro, Rio de Janeiro 
Em 1946, assumiu a Seção de Terapêutica Ocupacional, onde os pacientes realizam 
variadas atividades expressivas (sobretudo pintura e modelagem), dando-lhe uma nova 
orientação, pois, para ela, a terapia com arte não deveria ter a finalidade de distrair, mas 
de contribuir efetivamente para a cura dos pacientes. Em 1952, ela criou, na mesma 
instituição, o Museu de Imagens do Inconsciente, composto pelo acervo crescente das 
obras produzidas pelos internos, que conta com mais de 300.000 documentos plásticos, 
entre telas, papéis e esculturas. Desse modo, constituiu um rico campo de pesquisa, em 
que a prática realizada na Seção de Terapêutica Ocupacional era respaldada pelo estudo 
do valor terapêutico da atividade criadora, a partir da investigação das imagens arquivadas 
no Museu de Imagens do Inconsciente. Essa trajetória é narrada por ela no livro O Mundo 
Das Imagens, no qual explica seu método e traz diversos exemplos de análise de obras de 
arte no processo psicoterapêutico de pacientes, em uma leitura junguiana. 
Embora seja considerada uma pioneira na históriada arteterapia no Brasil 
(CARVALHO & ANDRADE, 1995; ANDRADE, 2000, apud REIS, 2014, p 146), Nise da 
Silveira não aceitava essa denominação ao seu trabalho, preferindo designá-lo terapêutica 
ocupacional. Ela considerava que a palavra arte trazia uma conotação de valor, de 
 
 
9 
 
 
qualidade estética, que não tinha em vista ao utilizar a atividade expressiva com seus 
pacientes (SILVEIRA, 2001, apud REIS, p 146). Apesar disso, críticos de arte como Mário 
Pedrosa e outros que passaram a frequentar o Museu de Imagens do Inconsciente 
reconheceram ali verdadeiras obras de arte, como analisa Frayze-Pereira (2003, apud 
REIS, p 146). Outros aspectos a embasar a crítica de Nise da Silveira à arteterapia é que 
esta, se caracteriza pela intervenção do terapeuta, enquanto, na prática adotada em 
Engenho de Dentro, as atividades realizadas pelos pacientes eram absolutamente livres, 
suas criações davam-se espontaneamente a partir do material disponibilizado nos ateliers, 
sendo apenas acompanhadas por uma monitora, mas não dirigidas por ela. Nisso 
encontramos uma distinção não somente metodológica, mas também teórica, pois Nise da 
Silveira, junguiana, refere-se especificamente à arteterapia desenvolvida por Margaret 
Naumburg, psicanalítica, na qual o paciente é dinamicamente orientado, a partir da relação 
transferencial, a descobrir a significação de suas criações, um processo de interpretação 
que não ocorria na abordagem proposta por Nise da Silveira. 
Para ela, a função terapêutica da arte era permitir a expressão de vivências não 
verbalizáveis por aqueles que se encontravam imersos no inconsciente, ou seja, em um 
mundo fora do alcance da elaboração racional, cabendo ao terapeuta a tarefa de 
estabelecer conexões entre imagens que emergem do inconsciente e a situação emocional 
vivida pelo indivíduo. Nessa tarefa, apoiava-se sobretudo na psicologia analítica de Jung, 
de onde derivou uma das mais importantes abordagens em arteterapia, de cujos conceitos 
principais iremos tratar adiante. Para Nise da Silveira, as produções artísticas não somente 
trazem elementos esclarecedores acerca do processo psicótico (sobretudo quando as 
obras de um mesmo autor são examinadas em série, revelando temas recorrentes) mas 
também trazem um valor terapêutico em si mesmas, pois davam forma a emoções 
tumultuosas, despotencializando-as, e objetivavam forças auto curativas que se moviam 
em direção à consciência, isto é, à realidade. Para os pacientes, a atividade criadora 
permitia não somente dar uma forma ao seu tumulto emocional, mas também transformá-
lo por meio dessa expressão. 
Nise da Silveira destaca que a eficiência do tratamento através de atividades 
expressivas se revelou na diminuição da porcentagem de recaídas na condição psicótica e 
de reinternações de pacientes beneficiados por esse trabalho em Engenho de Dentro, 
especialmente quando os egressos continuaram com algum acompanhamento. Este foi 
 
 
10 
 
 
viabilizado por ela com a criação da Casa das Palmeiras, em 1956, instituição pioneira no 
atendimento de pacientes em regime de portas-abertas. 
 
 
Fonte: hubspot.com 
O trabalho de Nise da Silveira inaugurou um novo olhar acerca da relação entre arte 
e loucura. Conforme analisa Frayze-Pereira, o Museu de Imagens do Inconsciente se 
constituiu, desde sua origem, como um núcleo de pesquisa da esquizofrenia (2003, p.198, 
apud REIS, 2014, p 147). No entanto, mais do que somente dar acesso à interioridade dos 
esquizofrênicos e levar as suas obras ao conhecimento do grande público, o autor destaca 
a importância do Museu na formação de um novo campo de sentidos, que abre a passagem 
entre o hospício e o mundo das imagens, campo que articula Psicologia, arte e política 
numa trama cultural. Nesse campo, a arte não só é instrumento de transformação da 
realidade interna do esquizofrênico como também de sua realidade externa, à medida que 
sua expressão ganha o espaço do Museu: na moldura de uma exposição legitimada pela 
cultura, a expressão marginal' certamente ganha o selo de obra de arte'. O marginal, o 
louco, o psiquiatrizado, torna-se artista e aos olhos do espectador, gênio' (2003, p.204, 
apud REIS, 2014, p 147). 
Embora os psiquiatras Osório César e Nise da Silveira sejam pioneiros no trabalho 
com terapias expressivas no Brasil, o desenvolvimento da arteterapia e sua sistematização 
no campo específico da Psicologia se deram posteriormente. 
 
 
11 
 
 
Conforme descreve Andrade (2000, apud REIS, 2014, p 147), na construção desse 
campo, destaca-se Maria Margarida M. J. de Carvalho, que, em 1980, implantou o primeiro 
Curso de Arteterapia no Instituto Sedes Sapientae, em São Paulo. Ela é psicóloga clínica, 
foi professora do Instituto de Psicologia da USP e coordenadora, em 1995, do livro A Arte 
Cura? Recursos Artísticos em Psicoterapia. Outro marco destacado por Andrade foi a 
criação, em 1982, da Clínica Pomar, no Rio de Janeiro, coordenada por Ângela Philippini, 
onde se oferece curso de formação em arteterapia de orientação junguiana. Já em 1990, 
outra abordagem entra no cenário da arteterapia brasileira, ao ser implantada uma 
especialização em arteterapia gestáltica por Selma Ciornai, no Sedes Sapientae. Desde 
então, a arteterapia vem crescendo cada vez mais, ganhando outros espaços além da 
clínica e também outras molduras teóricas, como a rogeriana, a antroposófica e a 
transpessoal, entre outras. 
 
2.2 PRESSUPOSTOS FUNDAMENTAIS NA ARTETERAPIA 
Embora possa ser desenvolvida a partir de diferentes referenciais teóricos, a 
arteterapia se define em todos eles por um ponto em comum: o uso da arte como meio à 
expressão da subjetividade. Sua noção central é que a linguagem artística reflete (em 
muitos casos melhor do que a verbal) nossas experiências interiores, proporcionando uma 
ampliação da consciência acerca dos fenômenos subjetivos (Ciornai, 1995, apud REIS, 
2014, p 147). Liomar Quinto Andrade, que é psicólogo clínico e autor do livro Terapias 
Expressivas, publicação oriunda de sua tese de doutorado pela USP, define que a 
expressividade ou a arte se torna um instrumento de trabalho quando combinada a um 
objetivo educacional ou terapêutico, apresentando como pressupostos fundamentais da 
arteterapia: 
a) a expressão artística revela a interioridade do homem, fala do modo de ser e 
visão de cada um e seu mundo. Esse ato revela um suposto sentido, e cada 
teoria e método em arte- terapia e terapia expressiva se apodera desse ato 
diferentemente 
b) por intermédio desse fazer arte', expressar-se, o terapeuta pode estabelecer 
um contato com o cliente possibilitando a este último o autoconhecimento, a 
 
 
12 
 
 
resolução de conflitos pessoais e de relacionamento e o desenvolvimento geral 
da personalidade (Andrade, 2000, p.18 apud REIS, 2014, p 148). 
 O autor do trabalho, Raphael Domingues (1912-1979, apud REIS, 2014, p 148), foi 
um dos pacientes-artistas de Engenho de Dentro que participaram de importantes 
exposições, dentre as quais uma realizada em 1949, no Museu de Arte Moderna de São 
Paulo, cuja repercussão na imprensa e no meio artístico é examinada por Dionísio (2001, 
apud REIS, 2014, p 148). O autor lembra que, nessa ocasião, o crítico de arte Mário 
Pedrosa cria o termo arte virgem para designar os trabalhos dos nove participantes, então 
pacientes da Dra. Nise da Silveira. Entre eles, Raphael e Emygdio de Barros (1895-1986, 
apud REIS, 2014, p 148) são hoje vistos como grandes artistas esquizofrênicos. 
À parte a discussão sobre a qualidade artística ou não dos trabalhos produzidos em 
arteterapia, o importante para o psicólogo é que a atividade expressiva se torne um 
instrumento à expressão e à reflexão dos sujeitos. Como atividade terapêutica, o que aqui 
se pretende não é propriamente fazer arte, mas sim, exercitar a criatividade, proporcionar 
que no fazer criativo se produzam outros modos de objetivação e de subjetivação. Dessemodo, ela pode ser utilizada como recurso no contexto da clínica, da educação, da 
comunidade, da saúde pública, das empresas, em intervenções na área de dificuldades 
físicas, cognitivas, emocionais e sociais junto a indivíduos, famílias, grupos sociais e 
equipes de trabalho. Uma característica comum às terapias com arte é que, por meio da 
vivência expressiva, o sujeito pode dar-se conta do que de fato sente e, durante esse 
processo, pode verdadeiramente fazer algo que assim o represente e a ele faça sentido 
(ANDRADE, 2000, p.33, apud REIS, 2014, p 148. 
Portanto, na arteterapia, o fazer artístico se constitui como mediação no processo de 
autoconhecimento e de (re) significação do sujeito acerca de si próprio e de sua relação 
com o mundo. 
Outro ponto compartilhado entre as diferentes abordagens é o reconhecimento da 
função terapêutica inerente à própria atividade artística e diretamente ligada à criatividade. 
Para Ostrower, criar é, basicamente, formar. É poder dar uma forma a algo novo, é tanto 
estruturar quanto comunicar-se, é integrar significados e é transmiti-los. Assim, o sentido 
da arte como ferramenta para o psicólogo não se restringe à sua função meramente 
expressiva, mas amplia-se pelo poder transformador da arte como ação criadora. E aqui 
compreendo arte como um processo de formatividade, ideia desenvolvida pelo filósofo 
 
 
13 
 
 
italiano Luigi Pareyson (1918-1991, apud REIS, 2014, p 149), que definiu a atividade 
artística como um formar, cujo resultado é um ser, uma forma inteiramente nova, pois a arte 
é um tal fazer que, enquanto faz, inventa o por fazer e o modo de fazer. 
Na perspectiva histórico-cultural em Psicologia, a atividade criadora é compreendida 
como um processo no qual o sujeito reorganiza diversos elementos de sua experiência, 
combinando-os de modo diferenciado e, com isso, produzindo o novo (Vygotski, 1990, apud 
REIS, 2014, p 149). Nessa atividade, ele parte do que está dado, do que é conhecido, 
reconfigurando-o em uma nova forma a partir da imaginação, o que culmina na objetivação 
do produto da imaginação, a qual, ao materializar-se na realidade, traz consigo uma nova 
força, que se distingue por seu poder transformador frente à realidade da qual partiu. 
Vygostki, na obra Psicologia da Arte, salienta a função transformadora dessa atividade, que 
extrai da vida o seu material, produzindo algo acima desse material, pois a arte está para a 
vida como o vinho para a uva (1998, p.307, apud REIS, 2014, p 149). Embora esse não 
seja um autor de referência na arteterapia, a ideia de que o fazer criativo é transformador 
perpassa esse campo. 
Na visão de Ciornai, o propósito fundamental da arteterapia é resgatar a criatividade 
na vida, ou seja, contribuir para que o sujeito aprenda a lidar criativamente com os limites 
que a vida lhe impõe (1995, p.59), transformando-se assim em artista da própria vida. Isso 
é possível porque a arte nos abre a uma realidade alternativa (1995, p.61, apud REIS, 2014, 
p 149), na qual o homem pode perceber, figurar e reconfigurar suas relações consigo, com 
os outros e com o mundo. Portanto, no trabalho do psicólogo mediado pelo fazer artístico, 
destaco como princípios fundamentais a concepção da arte como atividade expressiva e 
criativa: não se trata apenas da expressão da subjetividade, da objetivação de emoções, 
sentimentos e pensamentos em uma forma artística (desenho, pintura, modelagem, etc.), 
mas especialmente da sua transmutação pela arte, da sua reconfiguração em novas formas 
e em outros sentidos, em um processo no qual, ao criar na arte, o sujeito se recria na vida. 
2.3 AS ARTES QUE SÃO UTILIZADAS NA TERAPIA PSICOLÓGICA 
As artes visuais são as utilizadas na terapia. Falamos de pintura, barro, colagem, 
artes cênicas como a atuação, contos, teatro da lembrança, jogos de função, marionetes. 
Com a música se utiliza o ritmo, sons, voz, instrumentos, e na escrita podem ser utilizados 
 
 
14 
 
 
diferentes gêneros. A arteterapia é uma forma de dizer a verdade brincando com o 
simbólico. As experiências na criação podem representar atos de agressividade, 
abandonos, perdas, sentimentos, e o fazem de forma indireta, sem uma intencionalidade 
(BASSOLS, 2006, p 20). 
 
Fonte: amenteemaravilhosa.com.br/arteterapia-definicao-beneficios/ 
No trabalho teatral, dramático ou com palhaços, o paciente fala dele por meio do 
personagem. É a arte da ação através do personagem de ficção, um processo de criação 
individual e/ou coletivo que se situa entre dois mundos: a realidade e a ficção. Nas 
produções de barro se estabelece um diálogo com a matéria, trata-se de favorecer o 
reencontro da pessoa com a matéria e acompanhá-la no percurso que vai do barro até a si 
mesma. 
 
 
15 
 
 
 
Fonte: websta.org/tag/terapiadoriso 
Na pintura, se dá um primeiro passo de desbloqueio, deixando-se levar pelas 
imagens que venham, os traços, as formas, as cores, buscando que a mão fuja da censura 
do olho, como uma desinibição, para organizar, em um segundo momento, e pouco a pouco 
ir adentrando no mais profundo da pessoa. 
 
Fonte: .iped.com.br/materias/educacao-e-pedagogia/arteterapeuta.html 
Na dança existe um início, um momento de conscientização do próprio movimento, 
no sentido de escutá-lo e se escutar através desse dinamismo, permitindo, posteriormente, 
https://www.websta.org/tag/terapiadoriso
https://www.iped.com.br/materias/educacao-e-pedagogia/arteterapeuta.html
 
 
16 
 
 
uma aproximação para si mesmo e facilitando a comunicação com o outro. No trabalho de 
voz busca-se e utiliza-se a voz natural, desbloqueia-se a respiração; se cria e se transforma 
a partir de improvisações, combinando diversas qualidades de sons. 
Fonte:www.mediacionartistica.org 
 
Por outro lado, a escrita possibilita novas formas para jogar com a imaginação a 
partir das próprias experiências e vivências. Aparecem situações e companheiros 
imaginários, itinerários diversos, até chegar à recreação de relatos e contos na ficção. 
 “A finalidade da arte é dar corpo à essência secreta das coisas, não é o copiar de 
sua aparência.” 
– Aristóteles – 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
17 
 
 
3 ARTETERAPIA: CRIATIVIDADE, ARTE E SAÚDE MENTAL COM PACIENTE 
ADICTOS 
 
Fonte: www.researchgate.net 
 
A Arteterapia, aplicada ao dependente químico e de acordo com os novos 
paradigmas de atenção em saúde mental, é um processo terapêutico predominantemente 
não-verbal, por meio das artes plásticas, que acolhe o ser humano com toda sua 
diversidade, complexidade, dinamicidade e o auxilia a encontrar novos “sentidos” para sua 
vida, objetivando a reinserção e inclusão social. 
A Arteterapia também procura respeitar os diversos aspectos dos usuários, como os 
afetivos, culturais, cognitivos, motores, sociais entre outros, aspectos tão importantes na 
saúde mental (VALLADARES et al, 2008 p.05). Presume-se, então, que a análise dos 
conteúdos das produções simbólicas: cores, profundidade, criatividade etc apresenta o 
registro dos momentos de suas vidas. 
 
 
 
18 
 
 
3.1 METODOLOGIA USADA EM SESSÕES DE ARTERAPIA APLICADAS AOS 
DEPENDENTES QUÍMICOS JOVENS 
 Atividades de Arteterapia, realizada com um total de 98 usuários jovens de ambos 
os sexos de um Hospital Psiquiátrico de Goiânia/GO. 
Compuseram o estudo 32 intervenções breves de Arteterapia realizadas duas vezes 
por semana, no período matutino, em ambiente inicialmente fechado e posteriormente 
descontraído e junto à natureza, com participação média de 15 usuários por sessão, em 
sua maioria de pessoas do sexo masculino. O período total abrangeu os meses de agosto 
a dezembro de 2007. 
O grupo foi formado por pessoas aquiescentes ao processo, sendo o mesmo rotativo, 
pois a clientela era livre para entrar e sair do grupo e das sessões quando quisesse. 
Os pacientes apresentaram oscilação no diagnóstico clínico (OMS, 2003, apud 
VALLADARES et al, 2008 p.06). Os transtornos mentais decorrentesdo uso abusivo de 
Substâncias Psicoativas variaram entre as drogas: álcool, opióides, canabinóides, 
sedativos ou hipnóticos, cocaína, estimulantes, alucinógenos, tabaco, solventes voláteis. 
Os usuários se encontravam em fase de desintoxicação das substâncias psicoativas e 
estavam internados na Ala de Dependentes Químicos de um Hospital Psiquiátrico particular 
de Goiânia/GO. 
O tratamento preconizado nesta Instituição aos dependentes químicos era de 28 dias 
de internação, atendimento por uma equipe multiprofissional e atividades terapêuticas 
diversas, além do acompanhamento familiar. 
Os objetivos das intervenções de Arteterapia foram facilitar a expressão da 
subjetividade dos participantes e auxiliar, tanto na auto expressão, quanto na elaboração 
de conteúdos internos, alívio de tensões, angústias, medos, expectativas e ansiedades, 
bem como favorecer a integração do grupo. Permitir, ainda, que o criador pudesse 
expressar seus sentimentos, adquirir consciência dos mesmos e, em seguida, melhorar a 
ativação e a estruturação do processo de seu desenvolvimento interno. 
Foram feitas 6 atividades diferentes entre os grupos, das quais citaremos 3 
experiências com os internos; 
 
 
 
19 
 
 
3.2 RESULTADOS E DISCUSSÃO 
SÉRIE MANDALAS 
 
Objetivos: A mandala tem uma dupla finalidade, o de conservar a ordem psíquica, 
se ela já existe; ou de restabelecê-la, se desapareceu. Nesse último caso, incentiva a 
criação do ser humano (JUNG, 2005, apud VALLADARES et al, 2008 p.07). 
Atividades desenvolvidas: Tipologia de Jung: quatro funções – quatro elementos da 
Arteterapia (terra, fogo, ar e água). Utilizou-se dos seguintes materiais: terra - colagem com 
areia e pedras coloridas sobre mandala de papel. Fogo - velas e giz de cera derretidos 
sobre mandala de papel. Ar – materiais gráficos coloridos (desenho) sobre modelos 
diversos de mandala já pré-riscadas sobre papel. Água - pintura sobre CD. 
Desenvolvimento: Elemento Ar (Desenho) – Função Pensamento. 
Elemento Terra (Areia e pedras) – Função Sensação. 
Elemento Água (Pintura) – Função Sentimento. 
Elemento Fogo (Giz e vela)– Função Intuição. 
Comentários/Análise: O desenho (Ar) permitiu o distanciamento emocional, 
trabalhou a racionalidade, ajudou a organizar os fatos e as ideias. O ar é o símbolo da 
liberdade, da expansão, da comunicação e da criação (CHEVALIER & GHEERBRANT, 
2003; CIRLOT, 2005; FINCHER, 1991; LEXIKON, 1994, apud VALLADARES et al, 2008 
p.07). 
Os mesmos autores acima citados afirmam, que a terra é firme, próximo à realidade, 
é um símbolo ligado às raízes e às bases da humanidade. Possibilitou ajuda na 
estruturação psíquica, permitiu percepções de sensações/fenômenos e favoreceu a 
imaginação criativa. A terra é o símbolo da origem da vida, que sustenta, nutri e acolhe o 
ser. (et al, 2008 p.07). 
A água trouxe flexibilidade, abertura e envolvimento. Símbolo que trouxe a 
expansão, a fluidez, o frescor e o relaxamento. Facilitou a concretização de imagens 
psíquicas internas. A água é fonte de vida, centro de regenerecência e meio de purificação 
(CHEVALIER & GHEERBRANT, 2003; CIRLOT, 2005; FINCHER, 1991; LEXIKON, 1994, 
apud VALLADARES et al, 2008 p.07). 
 
 
20 
 
 
O fogo permite entrar em contato mais rápido com a luz porque faz iluminar aspectos 
negativos, sombrios etc. O fogo trouxe uma energia intensa e por meio dele, os jovens 
drogadictos perceberam um sentido no que estavam fazendo. O fogo é um símbolo 
purificador, regenerador e transformador (CHEVALIER & GHEERBRANT, 2003; CIRLOT, 
2005; FINCHER, 1991; LEXIKON, 1994, apud VALLADARES et al, 2008 p.08). 
Esta série Mandalas possibilitou que se estimulassem as funções psíquicas menos 
desenvolvidas, iluminando aspectos sombrios da psique. A utilização dos quatro elementos 
na Arteterapia exerce a finalidade de revitalizar áreas desusadas, núcleos bloqueados, 
recupera a possibilidade de fluxo da energia psíquica (PHILIPPINI, 2005, apud 
VALLADARES et al, 2008 p.08). 
 
SÉRIE CORPO 
Objetivos: Resgatar a identidade do dependente químico e preencher o vazio. “O 
fato é que o auto-retrato pode ser distorcido da realidade, porque muitas vezes tal imagem 
associa-se a aspectos idealizados ou patológicos que geralmente refletem dificuldades 
profundas com o próprio corpo” (VALLADARES & CARVALHO, 2005b, p.40, apud 
VALLADARES et al, 2008 p.08). 
Atividades desenvolvidas: Representação do próprio rosto com técnicas de desenho 
e pintura em papel. 
Representação do corpo inteiro com técnicas de colagem utilizando-se de pedaços 
de papéis, pedras coloridas ou pingos de velas em papel e tecidos. 
Representação de personagens com técnica de pintura num mural coletivo. 
Desenvolvimento: Representação do próprio rosto – trabalho individual. 
Representação do corpo inteiro – trabalho em grupo. 
Representação de vários personagens – personagens confeccionados no início 
individualmente, mas dentro de uma composição coletiva. 
Comentários/Análise: 
A representação do próprio rosto possibilitou “expressar o mundo interno” dos 
usuários. A ação criativa revelou a riqueza inconsciente dos dependentes químicos. 
A representação do corpo inteiro foi um trabalho de juntar fragmentos (pedaços de 
papel, pingos de velas ou pedras coloridas). Representou simbolicamente a construção ou 
reintegração das personalidades fragmentadas e em desordem dos adictos. 
 
 
21 
 
 
Com a representação de vários personagens permitiu-se estabelecer uma ponte 
entre o intrapsíquico e o extra psíquico, possibilitou-se a percepção de si mesmo e analisar 
a troca com o outro e a integração do grupo. 
 
SÉRIE CONSTRUÇÃO 
Objetivos: A construção resgata a edificação, a estruturação, a organização e a 
elaboração da matéria e ao mesmo tempo, simbolicamente, incitam o indivíduo a construir 
sua vida pessoal (VALLADARES & NOVATO, 2001, apud VALLADARES et al, 2008 p.12). 
Atividades desenvolvidas: Construção de uma cidade com sucata. 
Desenvolvimento: Cada usuário deveria construir sua própria casa e algum elemento 
coletivo da cidade de forma individual. Depois coletivamente deveriam montar a cidade com 
os elementos já confeccionados e criar novos elementos, pessoas e ambientes. 
Comentários/Análise: 
O exercício possibilitou ao jovem dependente químico construir e transformar na 
ação criativa, pois a Arteterapia é um processo alquímico e não é só uma catarse. 
A simbologia que mais esteve presente nos trabalhos foram: 
- Flôr: “Símbolo da natureza efêmera da vida e da beleza, e da eterna renovação da 
vida. É uma imagem do “Centro” e, portanto, uma imagem arquetípica da alma. As flores 
anunciam a primavera, que revela a aceleração do ciclo de evolução pessoal. Assinalam o 
cumprimento de uma meta ou tarefa que exigiu muita dedicação” (CHEVALIER & 
GHEERBRANT, 2003; CIRLOT, 2005; FINCHER, 1991; LEXIKON, 1994, apud 
VALLADARES et al, 2008 p.12). 
- Sol: “É representado frequentemente como personificação da luz e, por 
conseguinte, ao mesmo tempo, da inteligência cósmica suprema, do calor, do fogo e do 
princípio vital. Imagem simbólica da ressurreição e, de modo geral, de cada novo começo” 
(CHEVALIER & GHEERBRANT, 2003; CIRLOT, 2005; FINCHER, 1991; LEXIKON, 1994, 
apud VALLADARES et al, 2008 p.13). 
- Pássaros: são símbolos antigos da alma humana, do elemento ar e do processo 
de transformação. Os pássaros voando para cima podem representar idéias sendo 
divulgadas ou trazidas à luz” (CHEVALIER & GHEERBRANT, 2003; CIRLOT, 2005; 
FINCHER, 1991; LEXIKON, 1994, apud VALLADARES ET AL, 2008 p.13). 
 
 
22 
 
 
- O número Dois: “O dois indica tensão, separação e conflito. Ele é uma ligação 
saudável que anuncia o retorno da harmonia” (CHEVALIER & GHEERBRANT, 2003; 
CIRLOT, 2005; FINCHER, 1991; LEXIKON, 1994, apud VALLADARES et al, 2008 p.13). 
As atividades mais prazerosas para os usuários, segundo relato verbal deles foram: 
- Mandalas com velas: o fogo purifica e regenera. Mensageiroentre o mundo dos 
vivos e dos mortos. A vela é o símbolo da luz, da alma individualizada e da relação entre o 
espírito e a matéria (CHEVALIER & GHEERBRANT, 2003; CIRLOT, 2005; FINCHER, 1991; 
JUNG, 2005; LEXIKON, 1994, apud VALLADARES et al, 2008 p.13). 
- Construção da cidade: A pessoa com a vivência de construção e de transformação 
sente-se apta e segura a dar forma, direção e movimento à sua própria vida, o que se 
constitui não só num processo externo, mas também interno do indivíduo (SAAD, 1998, 
apud VALLADARES et al, 2008 p.13). 
Ao criar e transformar materiais expressivos, os usuários puderam vivenciar 
sensações, ideias, sonhos, desejos, expectativas, fantasias relacionando-se de uma outra 
forma com o material e, consequentemente, a atividade pode despertar neles a 
identificação de sentimentos, atitudes e dificuldades que até então não eram expressos 
nem modificados, porque a comunicação não-verbal fala por si só, sem necessariamente 
ter que ser expresso de maneira verbal. 
As sessões de Arteterapia facilitaram a expressão da subjetividade dos participantes 
e auxiliaram, sobremaneira, tanto no auto expressão, como na elaboração de conteúdo 
internos e alívio de tensões. Permitiram, ainda, que o criador pudesse expressar seus 
sentimentos, adquirir consciência dos mesmos e, em seguida, melhorassem a ativação e a 
estruturação do processo de seu desenvolvimento interno. 
Aspectos da persona dos usuários puderam ser vistos em trabalhos feitos durante 
as sessões de Arteterapia, quando eles criaram personagens fictícios ou não e ao narrar 
suas histórias, o que permitiu a eles entrar em contato com os aspectos psíquicos para 
serem compreendidos e transformados. 
A sombra é representada pelos sentimentos negativos, como raiva, frustração e 
inveja, que se acumulam no inconsciente e não são facilmente expostos pelas pessoas em 
geral. Sentimento de revolta, medo e raiva experenciados pelos usuários, muitas vezes não 
podem ser aceitos pela sociedade e expressos por eles, e se acumulam como sombras no 
seu inconsciente. Oferecer oportunidades para que estes símbolos (sombras) venham à 
 
 
23 
 
 
tona por meio dos trabalhos plásticos, de maneira lúdica e que não ameace a estrutura 
psíquica juvenil, favorece a sua elaboração. 
A sombra normalmente está implícita e presente, ao mesmo tempo, em qualquer 
trabalho artístico, o que sugere dizer que os dependentes químicos tenham projetado em 
seus personagens e histórias aspectos sombrios da sua personalidade e relacionados com 
seu momento de vida atual. 
Na dinâmica do processo arteterapêutico, quando as imagens internas são 
projetadas, elaboradas e transformadas do material plástico ao produto expressivo final, é 
como se as pessoas externassem simbolicamente parte de si, e, ao mesmo tempo, 
levassem as imagens e os conteúdos trabalhados “para dentro” novamente, mas desta vez 
decodificados e ressignificados (VASCONCELLOS & GIGLIO, 2006, apud VALLADARES 
et al, 2008 p.14). 
 A Arteterapia trabalha com símbolos, que são imagens arquetípicas e apresentam 
características individuais e coletivas simultâneas. Os dependentes químicos, ao trazerem 
as imagens e os símbolos para o plano material, trouxeram também conteúdos de sua 
história pessoal inseridos na história coletiva da humanidade (inconsciente coletivo); assim, 
as significações encontradas nas culturas, nos mitos e nas religiões, simultaneamente, 
faziam ligação com a história de vida dos usuários, que expuseram cores, formas e 
símbolos representativos do seu mundo subjetivo, com significados especiais para eles 
naquele momento de vida, elementos que também os ligam aos significados que estes 
foram tendo para a humanidade ao longo dos tempos. 
As imagens dos usuários ao serem projetadas nas produções plásticas, mostraram 
suas histórias de vida e o momento existencial deles, sinais sugestivos ou não de fragilidade 
emocional como: suas angústias, medos, objetivos, metas e planos futuros. 
Concluindo, trabalhar a Arteterapia com dependentes químicos permite a troca com 
o outro que possui características semelhantes às suas e ainda, favorece o compartilhar de 
dificuldades e anseios relacionados à própria dependência, podendo os personagens 
expressar e lidar de uma forma mais natural com a doença. 
Este trabalho pode trazer contribuições importantes para a área de saúde mental, 
pois a Arteterapia é uma prática acessível ao tratamento de dependentes químicos e pode 
ser um suporte importante para esta clientela, cujos resultados vêm sendo satisfatórios. É 
importante também apontar que este estudo poderá ser utilizado em contextos de 
 
 
24 
 
 
Arteterapia clínica ou institucional, tendo em vista o valor e a eficácia do trabalho 
arteterapêutico aqui demonstrados. 
A saúde mental vem ampliando seus conhecimentos e utilizando-se de novas 
práticas na assistência a seus usuários, assim, o investimento no trabalho e em práticas 
complementares e criativas, com jovens dependentes químicos, é fator importante no novo 
cenário da atenção em saúde mental. 
Este tipo de atendimento, no qual se incluem as sessões de Arteterapia, permite que 
se valorize o potencial existente em cada ser humano, objetivando melhorar sua saúde e 
qualidade de vida. 
 
4 A ARTETERAPIA NO TRATAMENTO DOS USUÁRIOS DE UM CENTRO DE 
ATENÇÃO PSICOSSOCIAL 
 
 Como o objetivo de conhecer os benefícios da arteterapia no tratamento dos usuários 
de um Centro de Atenção Psicossocial, uma equipe de cinco profissionais da área da 
saúde, desenvolveram um estudo de abordagem qualitativa, descritiva e exploratória, 
utilizando grupo focal para a coleta das informações. O período de realização foi de abril a 
maio de 2015. Realizou-se este estudo com dois grupos distintos de arteterapia com 
finalidade de saber o que melhorou na vida deles após estas oficinas de arteterapia, 
conforme veremos a seguir. 
A pesquisa caracteriza-se como abordagem qualitativa, descritiva e exploratória. 
Nessa perspectiva, trabalhar a pesquisa de forma qualitativa é buscar aprofundar os 
interesses e significados de um grupo específico. Assim, Minayo (2013, p.22, apud FACCO, 
S.C.M., et al 2016, p 48) afirma que realizar uma pesquisa qualitativa significa “trabalhar 
com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que 
corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos 
que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis”. 
Os sujeitos envolvidos foram os participantes do grupo de arteterapia desta 
instituição, perfazendo um total de 27 pessoas. Para a coleta dos dados utilizou-se da 
metodologia do Grupo Focal. Nesse sentido, Sampieri (2013, p.432, apud FACCO, S.C.M., 
et al 2016, p. 48), afirma que “Um método de coleta de dados que tem se tornado cada dia 
 
 
25 
 
 
mais popular são os grupos focais em que os participantes conversam sobre um ou vários 
temas em um ambiente tranquilo e informal”. 
Para a execução dos grupos focais foram organizados dois grupos, onde o primeiro 
totalizou 20 e o segundo 7 pessoas. Nos grupos foram identificados vários transtornos 
mentais, como por exemplo: esquizofrenia, psicose, retardo mental, bipolaridade e a 
depressão. A primeira etapa da análise consistiu-se em transcrever as falas dos 
participantes do grupo focal, A teoria de análise do discurso traz uma contribuição 
fundamental para a análise do material qualitativo, sobretudo numa situação em que ás 
análises positivas dos conteúdos das falas (MINAYO, 2013, apud FACCO, S.C.M., et al 
2016, p. 49). 
Assim, seguem algumas etapas de análise referenciadas por Minayo (2013, apud 
FACCO, S.C.M., et al 2016, p. 49): exaustividade, que representa a leitura aprofundada do 
material adquirido na coleta dos dados, buscando na análise a contemplação dos aspectos 
levantados no roteiro; representatividade, que contém as características essências do 
universo pretendido;homogeneidade, que obedece critérios precisos de escolha quanto 
aos temas tratados, e as técnicas empregadas aos atributos dos interlocutores; pertinência, 
aos documentos analisados para que fossem adequados para dar respostas ao objetivo do 
trabalho. A segunda etapa consistiu na exploração do material em uma operação 
classificatória que visa a alcançar o núcleo de compreensão do texto; para isso foi buscado 
encontrar categorias que são expressões, palavras significativas em função das quais o 
conteúdo de uma fala foi organizado. A categorização consisti em um processo de redução 
do texto nas palavras e expressões significativas em função das quais o conteúdo de uma 
fala será organizado. No qual foi escolhido as regras de contagem por meio de codificações 
e índices qualitativos (MINAYO, 2013, apud FACCO, S.C.M., et al 2016, p. 49). 
Seguindo esta ideia, a autora já mencionada, refere que a terceira etapa corresponde 
a classificação e a agregação dos dados, escolhendo as categorias teóricas, empíricas e 
responsáveis pela especificação do tema. Deste estudo surgiram três categorias. 
A proposta de pesquisa só foi desenvolvida a partir da aprovação do Comitê de Ética 
em Pesquisa – CEP da Universidade de Cruz Alta - UNICRUZ, o qual foi aprovado sob o 
Certificado de Apresentação para Apreciação Ética – CAAE número 
43558015.0.0000.5322. Solicitado autorização para a instituição sobre o interesse a 
pesquisa através de uma Carta de Apresentação à Instituição, após a autorização da 
 
 
26 
 
 
mesma, foi divulgada a pesquisa ao grupo estudado, havendo a autorização, foi preenchido 
o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido em duas vias. 
A partir da análise dos resultados, emergiram três categorias: a arteterapia como 
promotora de mudanças no habito de vida; os sentimentos proporcionados pela arteterapia; 
a importância das relações pessoais no grupo de arteterapia 
 
4.1 OS SENTIMENTOS PROPORCIONADOS PELA ARTETERAPIA 
 
 No que diz respeito aos sentimentos, podemos perceber que o grupo de arteterapia 
teve grande importância no que diz respeito ao bem-estar e autoestima do indivíduo. A 
participação no grupo promove sentimentos admiráveis na vida dos usuários, como ser um 
indivíduo único e importante, considerando estes aspectos nas mais diversas realidade, 
culturas e crenças. 
Segundo Potter (2013, apud FACCO, S.C.M., et al 2016, p. 51), em tempos 
modernos, a saúde era considerada como apenas a ausência de doenças, pelos indivíduos 
e sociedades. Esta percepção ignorava os estados profundos de saúde, desconsiderando 
em muitos momentos, a saúde mental dos indivíduos. 
A maneira como nos sentimos a respeito de nós mesmos é algo fundamental, pois 
esse sentimento afeta todas as nossas relações. Assim nossas ações e reações respondem 
de acordo com o que ou quem pensamos ser. A autoestima é um conceito positivo que o 
indivíduo tem em relação a si mesmo de estar em paz e sintonia com o seu eu e estar 
realizando as atividades que deseja continuar realizando (WOSIACK, 2011, apud FACCO, 
S.C.M., et al 2016, p. 51). 
Segundo Werneck (2010, apud FACCO, S.C.M., et al 2016, p. 51), não há empecilho 
que uma pessoa que se aprecie tenha a humildade de perder que ainda menos sabe, do 
que na realidade sabe. Nada impede que essa pessoa, peça ajuda espiritual e psicológica. 
A autoestima não é uma incubadora de orgulho, pelo contrário, permite ser realidade de 
maneira positiva, onde devemos adiar a satisfação e conviver com as frustrações. 
Aliada a essas percepções, constatasse que a arteterapia pode beneficiar as 
pessoas no resgate da autoestima e da autoconfiança, para o melhor enfrentamento e 
 
 
27 
 
 
resolução de conflitos, melhorando consideravelmente a sua qualidade de vida, como 
também, suas relações pessoais. 
 
4.2 A IMPORTÂNCIA DAS RELAÇÕES PESSOAIS NO GRUPO DE ARTETERAPIA 
 
Nesta terceira categoria, assuntos referentes às relações pessoais emergiram a 
partir da questão: Qual o ponto positivo do grupo de arteterapia? 
 
“O ponto positivo é que o pessoal vai ajudando, todo mundo se ajuda né (...)” (J) 
 
“As vezes eu estou parado com o desenho e vem alguém e pergunta se quer 
alguma ajuda para fazer alguma coisa, não falo nada, mas fica na cabeça né? (...). 
Fica na cabeça (...) Sinal que o pessoal ta querendo ajudar uns aos outros. ” (J) 
 
“Fica junto com os amigos.” (PAM) 
 
Os amigos são bem legal, respeita todo mundo, respeito (...)” (PAM). 
 
A partir das falas acima, observa-se o grupo de arteterapia como um mediador de 
criação de vínculos entre usuários e colaboradores, desenvolvendo assim, um ambiente 
propicio e agradável de interação. Notou-se também o laço afetivo interligado ao grupo de 
arteterapia, por ser satisfatório o resultado de desenvolvimento das atividades propostas 
no grupo e de extrema importância significativa para todos os usuários participantes. 
Segundo Ciornai (2004, apud FACCO, S.C.M., ET AL 2016, p. 52), quando se faz 
arte com consciência, percebem-se muitas alternativas, percebem-se a cada momento 
alterações concretas no trabalho em que se esta elaborando. Dialoga com possibilidades 
transformando, se alterando, se interligando, para formar um todo harmonioso. Ou seja, 
exercita-se o diálogo com transformação, a arteterapia nos exercita na expressão das 
emoções, libertando-nos para novos sentimentos e sensações, proporcionando conforto e 
bem-estar interno. 
 Pode-se perceber que a arteterapia tem uma importante influência na mudança de 
hábitos, possibilitando qualidade de vida dos sujeitos envolvidos. 
 
 
28 
 
 
Considerando este trabalho, podemos destacar algumas dificuldades em sua 
realização, como a produção e publicação escassa de estudos relacionados à temática da 
arteterapia, tanto desenvolvida em CAPS quanto em outros espaços. Essa limitação, assim 
como, o desenvolvimento deste estudo, sugere novas pesquisas relacionadas a essa 
temática, as quais favoreçam a promoção da saúde aos diversos sujeitos. Além do CAPS, 
outras pesquisas semelhantes a esta podem ser desenvolvidas em lugares como clinicas, 
com pacientes de todas as faixas etárias, em hospitais, instituições de longa permanência, 
com abordagens de temáticas características dos lugares e usuários, levando em 
consideração sempre a problemática da patologia, com o intuito de promoção e prevenção 
do bem-estar do paciente, ajudando na melhora do usuário e sua recuperação tanto física 
como mental. 
Tendo em vista todos os aspectos abordados neste estudo, sabemos que a mudança 
de hábitos e atitudes é algo que requer algum tempo, isto por questões culturais e 
emocionais, interferindo no tratamento da saúde mental de cada indivíduo. Nessa 
perspectiva, foi de suma importância os relatos dos usuários, os quais participam da oficina 
de arteterapia a mais de dois anos. Esse tempo permite identificar a evolução do tratamento 
de cada caso clínico, assim como, as relações à ele vinculadas. 
Em relação a arteterapia como método de terapia para ajudar os usuários do CAPS, 
o mesmo possibilita a superação de tensões, estresse e conflitos internos, a medida que 
os usuários participaram, cada um no seu tempo de melhora dependendo de seu 
diagnóstico e evolução em particular. 
Diante do conjunto de evidencias geradas no presente estudo, é de grande 
necessidade a arteterapia como método terapêutico na saúde mental dos usuários do 
CAPS, amenizando as tensões e provendo bem-estar do usuário, destacando a importância 
da inserção do profissional enfermeiro nestes espaços de cuidado, fortalecendo a 
promoção, prevenção e reabilitação da saúde dos indivíduos e da coletividade. Além do 
CAPS a arteterapia pode ser desenvolvida em outros espaços, com outros públicos, como 
acima no texto citado pois ela perpassa o significado da arte como ator principal, ela traz a 
promoção da saúde em meio a esses sentidos. 
 
 
 
29 
 
 
4.3 ARTETERAPIA NO ENFRENTAMENTODO CÂNCER 
 
A arteterapia é o uso terapêutico da atividade artística no contexto da relação 
profissional, com pessoas acometidas por doenças, traumas ou que buscam pelo 
desenvolvimento pessoal. O desenvolvimento da arte e a reflexão sobre os processos e 
trabalhos artísticos resultantes estimulam as pessoas a ampliar o conhecimento de si e dos 
outros; aumentar a autoestima; lidar melhor com sintomas físicos e psíquicos, estresses e 
experiências traumáticas; desenvolver habilidades físicas, cognitivas e emocionais e 
desfrutar do momento proporcionado pelo fazer artístico (A. A. A, 2013, apud D’ALENCAR, 
2014, p 3) 
Na arteterapia, verifica-se a adoção do trabalho em grupo devido à possibilidade de 
crescimento individual e coletivo. Desta forma, o processo terapêutico grupal permite que 
os sujeitos despertem para assuntos desconhecidos e/ou inconscientes, discutam, reflitam 
e transfiram para a vida, conhecimentos que os auxiliarão a serem agentes de sua própria 
saúde, durante ou após o período de terapia (SOUZA, 2011, apud D’ALENCAR, 2014, p 3). 
O trabalho de grupo é um conceito geral que se refere ao que acontece dentro deste, 
durante a vida de cada indivíduo que busca constantemente preservar sua identidade. 
Contudo, não inclui apenas o conteúdo do que é dito ou feito, mas também a maneira pela 
qual os membros interagem entre si e sua relação com o líder. A vantagem primordial na 
composição grupal é o fato de que uma variedade de pessoas com problemas ou objetivos 
semelhantes está trabalhando no apoio mútuo e no compartilhar de experiências comuns. 
Estas, dentro de um ajuntamento tem, frequentemente, valor terapêutico, pois as relações 
vivenciadas, de alguma forma, afetam a individualidade de cada um (CARDOSO, 2011, 
apud D’ALENCAR, 2014, p 3). 
Habitualmente, no ambiente hospitalar, as terapias convencionais têm como intuito 
assistir à doença, não abrangendo o cuidado holístico à pessoa doente. No entanto, é 
sabido que o princípio fundamental da formação do enfermeiro é centrado no cuidado 
individualizado ao ser humano, no atendimento às necessidades biopsicossociais e não 
apenas no corpo doente, contrapondo ao modelo biomédico, no qual o diagnóstico é mais 
valorizado do que a pessoa. Em outras palavras, o enfermeiro necessita se envolver 
emocionalmente com o paciente e seus acompanhantes, sejam eles familiares ou não, com 
 
 
30 
 
 
o intuito de manter uma relação autêntica. Visto que este envolvimento é vital na relação 
terapêutica, uma vez que promove empatia e permite que o profissional conheça melhor o 
paciente e atenda as suas necessidades, sem prejudicar sua atuação em determinados 
momentos, para o desenvolvimento da relação terapêutica (COSTA ET AL, 2005, apud 
D’ALENCAR, 2014, p 3). 
Sendo assim, o cuidado humanizado potencializa as relações humanas para a 
promoção de sentimentos de prazer, confiança e respeito mútuo. Restabelecendo assim, o 
desejo de viver e cuidar de si mesmo. Durante o processo de ensino-aprendizagem na 
formação acadêmica, observaram-se, inúmeras vezes, pacientes em ambientes 
hospitalares com pouca ou nenhuma perspectiva de desenvolver atividade artística ou 
lúdica. 
Sentimento de tristeza perpassam o cotidiano destes, por diversos motivos, como a 
ociosidade e a adaptação em um lugar estranho ao seu habitat natural, no qual os vínculos 
afetivos e familiares são rompidos e suas barreiras de proteção são expostas ao processo 
de adoecimento e morte. Assim, o tempo ocioso gera angústia, temor, baixa autoestima e 
pouca socialização, em virtude da permanência em posição deitada, além do silêncio 
(BARBOSA et al, 2007, apud D’ALENCAR, 2014, p 3). 
Em face dessa problemática, pacientes em situação de doença oncológica e dos 
seus acompanhantes, durante a internação hospitalar, motivou o grupo Projeto Integrado 
de Pesquisa e Extensão em Perda, Luto e Separação - PLUS+ a realizar essa intervenção, 
utilizando como estratégia, na condução de grupos, a arteterapia. Com o intuito de reduzir 
a ociosidade, criar laços de integração e interação entre as pessoas, nas unidades de 
internação e tornar o hospital um ambiente menos insalubre, de melhor convivência e 
harmonia. 
O PLUS+ foi criado em 2000 e está ligado ao Departamento de Enfermagem e à Pró-
Reitoria de Extensão da Universidade Federal do Ceará, composto por acadêmicos de 
Enfermagem, Medicina e Psicologia. Tendo como objetivo maior, a difusão de temas 
relacionados à tanatologia, através do desenvolvimento da pesquisa-ação, de relatos de 
experiência, psicooncologia, terapias do luto e suicídio, para pessoas com câncer e seus 
acompanhantes. Nos treze anos de existência, esse projeto já realizou diversas atividades, 
como cursos, eventos, pesquisas e publicações, atingindo um público-alvo de 
aproximadamente mil e duzentos indivíduos. 
 
 
31 
 
 
Diante dessas considerações, é conduzido a reflexão contida neste artigo que 
objetiva relatar a experiência por meio das atividades de arteterapia com um grupo de 
pacientes e seus acompanhantes em um hospital universitário 
Dessa maneira, acredita-se que a utilização da arteterapia possibilite mudança de 
paradigma, no que diz respeito à promoção da saúde em ambientes hospitalares. Neste 
sentido, este estudo torna-se relevante e pode se constitui uma contribuição importante 
para a Enfermagem, em sua prática de cuidados aos pacientes oncológicos, pois ainda é 
escassa a realização de atividades com abordagem com arte-terapia nesta área. É 
evidenciado que na jornada laboral hospitalar traz consigo momentos de desgaste para os 
profissionais de saúde, em que muitas vezes, subestima-se a capacidade de coparticipação 
do paciente na melhoria da sua saúde. Deste modo, enfatiza-se que a promoção da saúde, 
por meio de atividades lúdicas, torna-se possível dentro do ambiente hospitalar (SOUZA ET 
AL, 2007, apud D’ALENCAR, 2014, p 3). 
 
METODOLOGIA 
 
Trata-se de um relato de experiência, com o uso da arteterapia, realizado no setor 
de oncologia de um hospital universitário, na cidade de Fortaleza – Ceará, desenvolvido 
durante o período de setembro de 2010 a fevereiro de 2011. Para participar do estudo era 
necessário que os participantes e acompanhantes que se encontrassem no setor de 
oncologia estivessem ativos, lúcidos e aceitassem envolver-se com as atividades. 
Excluíram-se os acamados e os em isolamento, devido à baixa imunidade durante o 
tratamento de quimioterapia. Ao total tivemos 49 participantes neste estudo. Os encontros 
grupais com atividades de arteterapia foram conduzidos por acadêmicas de graduação do 
curso de Enfermagem da Universidade Federal do Ceará (UFC), orientados por professores 
enfermeiros e terapeutas especialistas em arteterapia e massoterapia. Sendo realizados 
semanalmente, com duração média de uma hora, divididos em três fases, a primeira 
iniciava-se com a apresentação dos facilitadores e dos participantes; a segunda consistia 
na explicação e realização da arteterapia proposta; e a terceira vislumbrou a avaliação, 
quando os membros relataram seus sentimentos diante das atividades. 
O processo grupal foi registrado em diário de campo, como instrumento de coleta 
das informações relatadas pelos participantes. Para alcançar os objetivos de cada atividade 
 
 
32 
 
 
(aumentar a autoestima, facilitar o autoconhecimento e relaxar), utilizaram-se métodos da 
arteterapia, como: pintura, recorte, desenho, colagem, visualização criativa, técnica do 
espelho, cromoterapia, argiloterapia, meditação e massoterapia. 
A análise dos dados se deu com a criação de quadros, compostos pelo número de 
participantes, gênero representados simbolicamente, objetivo a ser alcançado, método da 
arteterapia utilizado e resultados encontrados. A discussão foi realizada com base em 
estudos pertinentes à temática. 
Já as questões éticas foram fundamentadas na Resolução 196/96, do Conselho 
Nacional de Saúde(M.S. et al, apud D’ALENCAR, 2014, p 5), sendo o estudo aprovado 
pelo Comitê de Ética de Pesquisa, sob o protocolo nº 019.04.09. 
Os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Todos 
tiveram garantia do sigilo e anonimato, e também foi assegurado que a qualquer momento 
poderiam não participar das atividades de arteterapia, sem prejuízo de qualquer natureza 
ao tratamento. 
 
RESULTADOS 
 
O estudo teve início com a inserção das acadêmicas de enfermagem no campo 
hospitalar. O setor de oncologia do hospital era divido em dois ambientes: um era composto 
por quatro enfermarias, cada uma com dois ou três leitos, iluminado e agradável e o outro 
por três enfermarias isoladas com ar condicionado, não permitida à entrada de 
acompanhantes e o mínimo possível de fluxo de pessoas, pois os pacientes estavam em 
tratamento quimioterápico, com baixa imunidade e requisição de cuidados específicos. As 
atividades foram realizadas apenas nas quatro enfermarias em que se podiam transitar 
facilmente e teve a participação de 49 pessoas, entre pacientes e acompanhantes. 
Os profissionais do setor mostraram-se acolhedores e atenciosos em apresentar a 
unidade e os pacientes. Em nenhum momento do desenvolvimento da arteterapia foi 
questionado o diagnóstico do participante, pois esse não era o foco do estudo. 
Após a primeira atividade grupal, a equipe de coordenadoras percebeu que se teria 
um longo caminho a percorrer, mas com a certeza de que cada momento se tornaria 
gratificante para o crescimento profissional e pessoal. Diante do conhecimento do local e 
 
 
33 
 
 
das impressões obtidas, foram desenvolvidas atividades que envolvessem o 
autoconhecimento, a autoestima e o relaxamento. 
Atividades de arteterapia para o estímulo ao Autoconhecimento, foi desenvolvida 
com 16 participantes entre homens e mulheres, com objetivos de possibilitar interação entre 
coordenadores e participantes, resgatar pensamentos sobre quem é, resgatar fatos em 
fases da vida, resgatar suas características. 
 
 
Fonte: www.eusemfronteiras.com.br 
Os métodos usados, foram recorte, colagem, desenhos. Foram elaboraram crachás 
com recortes relacionados ao que gostavam de fazer: maquiar, lavar roupas, cozinhar, 
costurar, fotografar, ensinar os alunos, cuidar de bebês e idosos; 
Desenharam pássaros, representando pensamentos de paz; pessoa alegre por se 
enxergar como ser humano extrovertido, feliz e que ajuda os outros. Uma não quis participar 
da atividade por não se lembrar do que gostava de fazer. 
Na infância, brincar de bonecas e comer chocolate. Na adolescência, sair, conversar 
com amigos e namorar. Na fase adulta, casamento, ter filhos, a saída com amigos, voltar a 
estudar, trabalhar muito, comprar um carro e viver bem com o marido. Na velhice, uma 
idosa relembrou o nascimento da neta. 
Recortaram figuras de animais relacionados à personalidade de cada participante. 
Borboleta: por gostar de liberdade, de ser livre para voar pelos caminhos da vida. Peixe: 
 
 
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por gostar muito de água. Leão: pela força e conseguir tudo o que deseja. Cachorro: pela 
inteligência. 
Com o primeiro grupo, observou- se que os objetivos foram alcançados quando 
possibilitaram a interação, valorização e elevação do autoconhecimento entre 
coordenadores, participantes e seus acompanhantes nas enfermarias. Foram resgatados 
pensamentos sobre a realidade vivida, e os relatos mostraram que foram trazidos da 
memória fatos ocorridos em cada fase da vida. 
Vamos citar a experiência feita com um segundo grupo, que teve como objetivo, 
resgatar momentos positivos, de felicidades, resgatar o futuro após a alta hospitalar, 
aspectos interessantes da vida e o desejo de cada um. 
O método usado foi, pintura terapêutica, visualização criativa e a técnica do espelho. 
Os resultados foram momentos de alegria, como colher e plantar na roça, cuidar do 
gado, estar com o filho. Uma participante não conseguiu relatar em nenhum momento 
alegre. Referiram relaxamento e grande prazer ao realizar a atividade. 
 Visualizaram a felicidade em momentos marcantes, como estar com a família, cuidar 
dos netos, estar num sítio, ter saúde, estar fora do hospital e sentir que não tem mais 
câncer. 
Relataram também a vontade de ir à igreja, amar o marido, conversar muito com as 
pessoas que ama, ouvir música, voltar ao lar, servir a Deus e ser feliz. 
Refletiram o quanto são importantes. Sentiram-se surpresos e emocionados. 
Perceberam que deveriam cuidar mais de si e valorizar mais o seu potencial. 
Relembraram momentos da vida cotidiana, como ter uma boa higiene (tomar banho, 
escovar os dentes, pentear o cabelo), pois gostavam de estar limpos mesmo no hospital. 
E teve ainda quem falou do seu desejo de ter a carteira de habilitação, uma casa 
com um grande quintal, trabalhar com turismo, voltar à faculdade, uma casa para abrigar 
20 animais. 
Com os resultados do segundo grupo, mostra que a elevação da autoestima foi um 
dos fatores que mais se destacou nas atividades propostas, por se registrar o resgate de 
momentos positivos e de felicidade, além de desejos para o futuro. 
Também houve estímulo para que essas pessoas pudessem estar em contato com 
sua vida durante seu adoecimento, buscando encontrar alguns aspectos importantes que 
pudessem resgatar planos futuros. 
 
 
35 
 
 
Com isso, foi desenvolvido um estudo com o objetivo de relatar a experiência de 
atividades de arteterapia com um grupo de pacientes e seus acompanhantes em um 
hospital universitário. Relato de experiência realizado em Fortaleza - CE, no período de 
setembro de 2010 a fevereiro de 2011. Participaram dos encontros grupais 49 pessoas que, 
utilizando os métodos da arteterapia, realizaram diversas atividades, tais como: pintura, 
recorte, desenho, colagem, visualização criativa e cromoterapia. No momento destinado às 
avaliações, os participantes descreveram que a intervenção permitia dialogar tanto o 
processo da vida quanto o enfrentamento do câncer. 
Observou-se com os relatos dos participantes e acompanhantes, que o uso da 
arteterapia, no ambiente hospitalar, propiciou resgate de aspectos saudáveis, como: reviver 
as lembranças do passado de modo mais harmônico, dar significado positivo ao 
adoecimento, relembrar as fases de vida, entre outros. É possível afirmar que com a 
elaboração e planejamento de sessões grupais dentro de enfermarias no hospital pode-se 
atender a um número maior de pessoas facilitando interações e integração de pacientes e 
acompanhantes em situação de doença grave como o câncer. A experiência da prática da 
arteterapia fez com que pudesse ser evidenciado com esse método de condução simples 
e de baixo custo como: pintura, recorte, desenho, colagem, visualização criativa, 
cromoterapia, argiloterapia, relaxamento, meditação e massoterapia com materiais 
recicláveis pode trazer referências positivas para a vida das pessoas que estão submetidas 
a condição de doença oncológica e seus acompanhantes em um hospital. Também 
proporciona autoconhecimento, resgate da autoestima e sensação de bem-estar. 
Ocupando horas que são consideradas ociosas, em que não há atividades a serem 
realizadas, foi propiciado benefícios como alegria, visão de futuro e desejo de mudanças a 
indivíduos adoecidos fisicamente que, muitas vezes, se encontravam com prognóstico 
desfavorável. Considera-se que esse trabalho foi de grande relevância por ser um relato de 
experiência, no qual a arteterapia está em destaque, como método que pode auxiliar na 
melhoria da qualidade de vida de pacientes com doença oncológica e acompanhantes nos 
hospitais. Podendo ainda ser incluído como estratégia no planejamento da assistência de 
enfermagem, pois demonstra que o uso dessa técnica facilita o diálogo entre paciente e 
acompanhante, no enfrentamento da patologia. 
 Observou-se com os relatos dos participantes e acompanhantes, que o uso da 
arteterapia,no ambiente hospitalar, propiciou resgate de aspectos saudáveis, como: reviver 
 
 
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as lembranças do passado de modo mais harmônico, dar significado positivo ao 
adoecimento, relembrar as fases de vida, entre outros. 
É possível afirmar que com a elaboração e planejamento de sessões grupais dentro 
de enfermarias no hospital pode-se atender a um número maior de pessoas facilitando 
interações e integração de pacientes e acompanhantes em situação de doença grave como 
o câncer. 
A experiência da prática da arteterapia fez com que pudesse ser evidenciado com 
esse método de condução simples e de baixo custo como: pintura, recorte, desenho, 
colagem, visualização criativa, cromoterapia, argiloterapia, relaxamento, meditação e 
Massoterapia com materiais recicláveis pode trazer referências positivas para a vida das 
pessoas que estão submetidas a condição de doença oncológica e seus acompanhantes 
em um hospital. Também proporciona autoconhecimento, resgate da autoestima e 
sensação de bem-estar. Ocupando horas que são consideradas ociosas, em que não há 
atividades a serem realizadas, foi propiciado benefícios como alegria, visão de futuro e 
desejo de mudanças a indivíduos adoecidos fisicamente que, muitas vezes, se 
encontravam com prognóstico desfavorável. 
Considera-se que esse trabalho foi de grande relevância por ser um relato de 
experiência, no qual a arteterapia está em destaque, como método que pode auxiliar na 
melhoria da qualidade de vida de pacientes com doença oncológica e acompanhantes nos 
hospitais. 
Podendo ainda ser incluído como estratégia no planejamento da assistência de 
enfermagem, pois demonstra que o uso dessa técnica facilita o diálogo entre paciente e 
acompanhante, no enfrentamento da patologia. 
 
5 CULTURA DE PAZ E ARTETERAPIA 
 
 
 
37 
 
 
 
Fonte: www.faculdadefutura.com.br 
 
5.1. PROGRAMAS DE CULTURA DE PAZ E COMPETÊNCIA SOCIOEMOCIONAL 
 
Auxiliar adolescentes a enfrentar riscos, implica em implantar programas de "Cultura 
de Paz", entendida como: 
 
... conjunto de valores, atitudes e comportamentos que traduzem o respeito à vida, à pessoa 
humana, à sua dignidade e a todos os direitos do homem, bem como rejeição da violência 
sob todas as formas e o comprometimento com os princípios de liberdade, justiça, 
solidariedade, tolerância, direitos do homem e compreensão tanto entre as pessoas, quanto 
entre os grupos e indivíduos. (Unesco, 1989, p. 53, apud NORGREN, 2011). 
 
As intervenções em Cultura de Paz podem ser muitas: mediação ou condução 
positiva de conflitos; desenvolvimento de tolerância ou de competências sociais e 
emocionais. Neste artigo, enfocaremos programas de desenvolvimento de competências 
socioemocionais, pois há relação significativa entre competência social, acadêmica e 
qualidade de vida. Elas podem ser implementadas pela aprendizagem socioemocional, que 
se refere à característica ou habilidadede interação e adaptação, desenvolvida por meio da 
aquisição de conhecimentos, atitudes e habilidades, sentimentos e comportamentos (ZINS 
& ELIAS, 2006; ET AL, apud NORGREN, 2011). 
Esse aprendizado deve ser abordado em uma perspectiva de risco e resiliência, pois 
funciona como mecanismo de proteção para os indivíduos. O grupo de amigos ajuda os 
jovens a aprender a se relacionar em sociedade, a adaptar suas necessidades e desejos 
 
 
38 
 
 
aos dos outros, a perceber quando é possível ceder e quando deve se permanecer firme; 
permite desenvolver a sociabilidade e a intimidade, adquirir senso de afiliação, de 
identidade, habilidades de liderança, comunicação e cooperação. Jovens que aprendem a 
lidar precocemente com situações difíceis, estão mais aptos a transpor esse aprendizado 
para outras situações de sua vida, favorecendo o desenvolvimento de um processo de 
resiliência (MASTEN & COATSWORTH,1998, ET AL, apud NORGREN, 2011). 
Realizar programas de aprendizagem socioemocional requer atuar em: 
autoconhecimento; tomada de decisão responsável; habilidades de relacionamento; 
consciência social; auto regulação (DURLAK & WEISSBERG, 2007, apud NORGREN, 
2011). É necessário promover padrões adequados de comunicação; favorecer padrões de 
apego seguro; desenvolver a criatividade (como busca de alternativa para as dificuldades 
e os problemas vivenciados); desenvolver a competência social e emocional; ajudar a 
promover melhoria de qualidade de vida e da funcionalidade da família, propiciando coesão, 
consenso e flexibilidade entre seus membros (COWAN et al, 1996, apud NORGREN, 2011). 
 
5.2 PROGRAMA DE INTERVENÇÃO REALIZADO 
 
No doutorado (NORGREN, 2009), realiza um programa de intervenção primária 
utilizando arteterapia com o objetivo de facilitar a transição da 4ª para a 5ª série do Ensino 
Fundamental e desenvolver competências sociais. Foi realizado com 75 alunos da rede 
pública, com idades entre 9 e 15 anos. 
A metodologia utilizada foi a pesquisa-intervenção na clínica-social. Foram 18 
encontros com atividades de arteterapia e dinâmicas diversas. Os temas trabalhados foram: 
mudança e crescimento; autoconhecimento (reconhecer e aprender a lidar com os 
sentimentos; conscientizar-se a respeito das capacidades, habilidades e competências); 
relacionamentos interpessoais (família, colegas e professores; empatia e padrões de 
comunicação efetiva; favorecer o convívio e a valorização da diversidade); técnicas de 
resolução de problemas e conflitos; mudança de escola (expectativas e receios); 
criatividade, como busca de alternativa para as dificuldades e os problemas vivenciados e 
para possibilitar "insights" sobre o processo vivenciado. 
Após a mudança escolar, os alunos foram avaliados em relação a: desempenho 
escolar, taxa de absenteísmo, avaliação sociométrica, rede de apoio, percepção da escola 
 
 
39 
 
 
e da mudança; avaliação dos professores e pais. Alguns enfrentaram problemas sérios 
entre o término e avaliação do programa: separação de pais; abandono paterno; 
diagnóstico de doença crônica; morte de familiares (primo, avô). Nas entrevistas realizadas, 
comentaram que os conteúdos aprendidos auxiliaram a lidar com tais eventos. Os dados 
obtidos comprovaram a eficácia da intervenção, pois a maioria dos alunos teve 
desempenho melhor que o apresentado no ano anterior. Confirmou-se, assim, a hipótese 
de que a intervenção contribuiu para adaptação dos alunos em curto prazo, mostrando-se 
efetiva no desenvolvimento de habilidades socioemocionais. 
Para lidar com a violência, enquanto educadores e profissionais de saúde, temos 
que favorecer a permanência dos alunos na escola e o convívio social; a ocorrência de 
relacionamentos interpessoais positivos e a construção do seu projeto de vida, auxiliando-
os a dar voz a seus anseios, enfrentar seus problemas e lidar exigências e desafios 
acadêmicos. 
Programas de promoção de saúde e cultura de paz são alternativas viáveis e 
eficazes para isso. Ajudam jovens a lidar com sua vulnerabilidade, a enfrentar situações de 
risco e problemas do dia-a-dia; bem como, promover fatores de proteção e futuros 
processos de resiliência. 
 
5.3 ARTETERAPIA COMO DISPOSITIVO TERAPÊUTICO EM SAÚDE MENTAL 
 
 A arteterapia é um dispositivo terapêutico que absorve saberes das diversas áreas 
do conhecimento, constituindo-se como uma prática transdisciplinar, visando a resgatar o 
homem em sua integralidade através de processos de autoconhecimento e transformação 
(PHILIPPINI,2004, apud COQUEIRO.2010, p.860). A Associação Brasileira de Arteterapia 
a define como um modo de trabalhar utilizando a linguagem artística como base da 
comunicação cliente-profissional. Sua essência seria a criação estética e a elaboração 
artística em prol da saúde (A.B.A, 2009, apud COQUEIRO.2010, p.860). 
 Como campo específico do conhecimento, a arteterapia firma-se nos Estados 
Unidos da América, em 1940, com o trabalho de Margareth Nauberg, conhecida como a 
“mãe” da arteterapia por estabeleceras fundamentações teóricas para seu 
desenvolvimento, além de demarcá-la como área do saber (CIOMAR, 2004, apud 
COQUEIRO.2010, p.860). 
 
 
40 
 
 
A arteterapia recebeu influência de áreas do conhecimento como a Psicanálise 
Freudiana, que, no início do século XX, interessou-se pela arte como meio de manifestação 
do inconsciente através de imagens. Sigmund Freud observou que o artista pode simbolizar 
concretamente o inconsciente em sua produção, retratando conteúdo do psiquismo. Acerca 
disso, menciona-se seus estudos realizados sobre as obras de autores consagrados como 
Leonardo da Vince e Michelangelo (FREUD,1970, apud COQUEIRO.2010, p.860). 
A Psiquiatria Junguiana, na década de 1920, apropria- se da expressão artística 
como parte do processo psicoterápico. Para Jung imagens representam a simbolização do 
inconsciente individual e, muitas vezes, do inconsciente coletivo (JUNG, 1991, apud 
COQUEIRO.2010, p.860). 
No Brasil, dois psiquiatras se destacam por suas contribuições na fundamentação 
teórica da arteterapia: Osório César, em 1923, e Nise da Silveira, em 1946. Osório César 
trabalhou com arte no hospital do Juqueri, em São Paulo, sob a influência da Psicanálise, 
enquanto Nise da Silveira desenvolveu um trabalho no Centro Psiquiátrico Dom Pedro II, 
no Rio de Janeiro sob a influência junguiana, procurando compreender as imagens 
produzidas pelos pacientes (FERRAZ,1998, apud COQUEIRO.2010, p.860). 
A arteterapia é um “processo predominantemente não verbal, por meio das artes 
plásticas e da dramatização, que acolhe o ser humano com toda sua complexidade e 
dinamicidade. (...) procura aceitar os diversos aspectos dos pacientes, como os afetivos, 
culturais, cognitivos, motores, sociais entre outros, tão importantes na saúde mental” 
(VALLADARES,2008, apud COQUEIRO.2010, p.860). 
É dentro dessa perspectiva inovadora que os CAPS de Fortaleza, através do Projeto 
Arte e Saúde, integrante da política de saúde mental desse Município, vêm desenvolvendo 
um trabalho articulado à arte na saúde mental, visando a viabilizar e dinamizar os processos 
em grupos terapêuticos nos CAPS, utilizando as variadas expressões artísticas, sendo 
executado por artistas, arteterapeutas, arte-educadores e profissionais de saúde mental 
com formação em arteterapia. 
No CAPS/ UFC essas experiências tiveram início em junho de 2007, com a formação 
inicial de dois grupos. Oito meses depois, existiam oito grupos em funcionamento, 
utilizando-se das mais variadas linguagens artísticas. A arte está presente nos diversos 
CAPS de Fortaleza no Projeto Arte e Saúde, com a criação dos grupos de arteterapia. O 
 
 
41 
 
 
projeto recebe assessoria e supervisão sistemática do Instituto Aquilae, especializado na 
formação de profissionais em arteterapia. 
 
RELATO DE UMA EXPERIÊNCIA: GRUPO AMIGOS DA ARTE 
 
 Em fevereiro de 2008, teve início o grupo de arteterapia intitulado Amigos da Arte. O 
nome, escolhido pelos participantes, engloba em seu significado a construção dos laços 
afetivos com base no fazer artístico. Inicialmente, o grupo teve a composição de 15 
membros, homens e mulheres, com idades de 20 a 54 anos. Atualmente, possui 13 
participantes. 
O contrato terapêutico inicialmente pactuado foi de oito meses, tendo sido 
prorrogado de setembro de 2008 para fevereiro de 2009. A alteração no calendário deu-se 
em função dos resultados alcançados terem apresentado empiricamente um nível 
satisfatório quanto à estabilidade psíquica dos participantes, além da necessidade surgida 
em função de prepará-los individualmente (cada um a seu tempo) a aceitar a alta 
terapêutica, uma vez que expressam afeição especial a esse modelo de terapia. 
Embora não tenha havido critérios rígidos para o ingresso nesse grupo terapêutico, 
procurou-se priorizar as pessoas que expressassem interesse pela arte. Outro fator 
prioritário diz respeito aos diagnósticos de transtornos mentais graves, como esquizofrenia, 
transtorno afetivo bipolar e alguns casos de depressão. 
A participação se dava na medida em que essas pessoas apresentassem condições 
mínimas de frequentar as sessões. Ressalta-se que a prioridade dada às pessoas com 
interesse e afinidade com o fazer criativo e a arte não constituiu necessariamente um 
critério para inclusão ou exclusão no grupo, mas se apresentou como aspecto facilitador do 
processo. Não significa dar ênfase às técnicas e aos aspectos estéticos, ao contrário: as 
nossas intenções vão ao encontro dos processos criativos e da livre expressão. A arte é 
então percebida como instrumento de enriquecimento dos sujeitos, valorização de 
expressão e descoberta de potencialidades singulares. A experiência tem mostrado que o 
desejo e a admiração pelo fazer artístico são fundamentais na inserção no grupo: há casos 
em que a pessoa, por mais que seja estimulada, não demonstra interesse em participar 
desse tipo de atividade. Desse modo, respeita-se o desejo do usuário naquele momento, 
para que em outra ocasião possa ser feita nova abordagem. 
 
 
42 
 
 
O grupo tem encontros semanais às sextas-feiras, das 8h30 horas às 11 horas, tendo 
como facilitadores um artista com formação em artes plásticas, uma assistente social com 
formação em arteterapia e uma enfermeira que desenvolve um trabalho voltado à 
composição de músicas educativas com temas da área de saúde. 
É um grupo do tipo semiaberto marcado pela rotatividade relativa, na qual os 
participantes se ausentam por algum período e posteriormente retornam. Segundo relatos 
dos familiares, tais ausências apontam para alguns motivos, como doença na família, 
acúmulo de atividades domésticas e, em alguns casos menos frequentes, de novos 
episódios da doença. Cabe notar a existência de uma espécie de “apego especial” dos 
usuários a esse tipo de grupo – que a nosso ver poderia, em alguma medida, justificar o 
retorno às sessões. 
As atividades são realizadas em espaço destinado especificamente a esse fim, a 
partir da adaptação de uma das salas do CAPS que ficou conhecida como ateliê, local onde 
ficam disponíveis os diversos materiais utilizados nos encontros: tintas, telas para pintura, 
papel, giz de cera, argila, pincéis, tecido, material reciclável, dentre outros. 
 
Fonte: www.alinebarcelos.com.br 
 
Os trabalhos realizados pelos participantes em cada sessão ficam expostos para 
secagem, dando ao local um aspecto visual de efusão de cores. Posteriormente, os 
criadores podem levar suas obras para casa. 
http://Fonte:%20www.alinebarcelos.com.br/
 
 
43 
 
 
Os primeiros encontros foram basicamente de apresentações e discussão das 
expectativas do grupo, com a realização de várias vivências distribuídas ao longo das 
sessões iniciais para integrar e, simultaneamente, quebrar resistências. Nesses encontros 
iniciais, assim como nos posteriores, utilizamos equipamento de som, cadeiras, mesas e 
colchonetes, dispostos em posição circular para simbolizar uma situação de gestalt fechada 
(CASTILHO, 1994, apud COQUEIRO.2010, p.861). 
Durante as sessões, utilizamos duas técnicas distintas, a depender do 
comportamento dos participantes no momento, ou seja: se a maioria apresenta certo grau 
de agitação, utilizamos a técnica de relaxamento com músicas instrumentais, objetivando 
reduzir o nível de tensão e angústia, permitindo que as emoções fluam mais intensamente 
e a sessão passe a ser um momento de profundo contato com os sentimentos 
(MATEUS,1997, MC.CLELLAN, apud COQUEIRO.2010, p.861). 
Por outro lado, se as reações dos indivíduos apresentam rebaixamento do humor, 
empregamos técnicas de expressão corporal através de jogos coletivos, movimento 
corporal com música, visando a melhorar os potenciais emocionais de modo lúdico. Em 
cada um desses momentos são desenvolvidas ações que têm por fim trabalhar as 
capacidades de se expressar dos participantes tanto no que se refere ao corpo quanto ao 
intelecto, não apenas em relação ao grupo, mastambém em relação à descoberta de si, 
sendo o indivíduo conduzido a ser autor de sua descoberta (MATEUS,1997, KUNZ, 2004, 
apud COQUEIRO.2010, p.861). 
Assim sendo, iniciamos as atividades com exercícios de relaxamento ou expressão 
corporal. Em seguida, abre-se espaço para que os participantes possam falar como se 
sentem, dando a oportunidade de refletir sobre suas emoções. A partir daí, conforme a 
profundidade e a amplitude dos relatos, os facilitadores propõem algum tipo de técnica 
adequada à situação presente, utilizando a expressão artística. Desse modo, trabalham-se 
no grupo as dificuldades emergentes. 
Na arteterapia, várias modalidades expressivas com propriedades terapêuticas 
inerentes e específicas são trabalhadas. Fica a cargo do arte terapeuta criar um repertório 
de informações relativo a cada modalidade, adequando-as às necessidades do usuário a 
ser atendido (PHILIPPINI,2004, apud COQUEIRO.2010, p.861). 
 O grupo Amigos da Arte já executou, até o momento, várias propostas, ou seja, 
criação de trabalhos desde pintura em tela, técnicas de pinturas em tecido, monotipia 
 
 
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(técnica de impressão com uso de tinta) e até elaboração de escultura em argila, pintura e 
colagem sobre telha, técnicas de pintura sobre gesso. São produzidos também objetos a 
partir de material reciclável, como garrafas PET ou canos de papelão. 
Ao final de todo o fazer criativo, os participantes são estimulados a observar seus 
trabalhos, refletindo sobre seus significados, percebendo o processo desde o primeiro 
momento da representação artística. Acerca disso, tem-se a utilização de material reciclável 
como expressão em arteterapia, que resgata a edificação, a estruturação, a organização e 
a elaboração da matéria, estimulando a pessoa a construir de modo pessoal e, 
simultaneamente, a criar uma consciência socioambiental. Dessa forma, buscamos 
possibilitar ao grupo, através do estímulo individual e/ou coletivo, a criatividade e a 
expressão artística, dando ênfase ao processo de criação, à medida que o participante é 
levado à reflexão e à busca de significados inferidos ou atribuídos ao que ele produziu. 
A arteterapia vem ganhando espaço cada vez maior na área da saúde e, sobretudo, 
no campo da saúde mental. O trabalho desenvolvido junto aos usuários do CAPS Geral da 
Secretaria Executiva Regional III/ UFC. Apresenta-se como uma das ferramentas 
fundamentais que vêm colaborando para amenizar os efeitos negativos da doença mental. 
É central a promoção do bem-estar da pessoa com sofrimento psíquico, uma vez que a 
arteterapia propicia mudanças nos campos afetivo, interpessoal e relacional, melhorando o 
equilíbrio emocional ao término de cada sessão. 
Observa-se que a arteterapia tem possibilitado aos usuários a vivência de suas 
dificuldades, conflitos, medos e angústias de um modo menos sofrido. Configura-se como 
um eficaz meio para canalizar, de maneira positiva, as variáveis do adoecimento mental em 
si, assim como os conflitos pessoais e com familiares. Nota-se que há uma minimização 
dos fatores negativos de ordem afetiva e emocional que naturalmente surgem com a 
doença, tais como: angústia, estresse, medo, agressividade, isolamento social, apatia, 
entre outros. 
Tendo em vista nossas recentes experiências com a utilização de recursos artísticos 
como dispositivo terapêutico na saúde mental no referido CAPS SER III/ UFC, percebemos 
empiricamente que a arteterapia, em qualquer das linguagens artísticas aplicadas, tem se 
configurado importante instrumento para ajudar grupos de pessoas com transtornos 
mentais, trazendo consigo visíveis resultados em espaço de tempo relativamente curto. 
 
 
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O grupo Amigos da Arte pode ser percebido como espaço em constante processo 
de construção e reconstrução da integração, socialização, liberdade de experimentação do 
fazer e expressão artística de seus participantes, tendo como objetivo fundamental 
minimizar o sofrimento mental, tornando possível o direito de achar o seu elo e o caminho 
para vida, mesmo que fora do padrão normal socialmente aceito (MUNARI, 2004, apud 
COQUEIRO.2010, p.861). 
Consideramos que, mediante a interpretação e a reflexão das vivências na relação 
terapêutica, a pessoa vai se apropriando dos seus próprios conteúdos, conhecendo a si 
mesma e se tornando assim sujeito ativo do processo terapêutico. Parece razoável pensar 
nossa experiência com o grupo de arteterapia no CAPS supracitado e seus 
desdobramentos como salutar, na medida em que observamos os resultados. Dessa forma, 
consideramos a necessidade da ampliação do projeto Arte e Saúde a partir da criação de 
novos grupos terapêuticos que percebem na arte um instrumento importante na busca do 
bem-estar da pessoa em sofrimento mental e de promoção da saúde em geral. 
Face a um contexto dessa natureza e com base nestas reflexões, esperamos 
sensibilizar e estimular outros profissionais da área de saúde mental e artistas de modo 
geral a vivenciar essas gratificantes experiências. 
 
6 A ARTETERAPIA NO TRATAMENTO DO TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA 
(TEA) 
Em 1911, o termo “autismo” foi primeiramente usado por Bleuler para designar crianças 
que, aparentemente, haviam perdido o contato com a realidade resultando em grande 
dificuldade ou incapacidade de comunicação. (PEREIRA, et al, 2008, apud GATTINO, 
2009) 
Oliveira e Oliveira, (2016, p.1), desenvolvem uma pesquisa para estudar a eficácia e os 
benefícios da arteterapia no tratamento do Transtorno do Espectro Autista (TEA), e explorar 
como esse recurso está inserido na atuação do psicólogo. 
Para Valladares e Silva, (apud OLIVEIRA; OLIVEIRA, 2016, p 1), a arteterapia contribui 
significativamente na humanização nos cuidados à saúde, é um processo natural no qual o 
indivíduo comunica o que sente, pensa e a maneira como vivência e percebe o mundo, 
 
 
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processo que ocorrerá de acordo com o seu desenvolvimento emocional, mental, psíquico 
e perceptual. 
Segundo Marinho e Merkle, (apud OLIVEIRA; OLIVEIRA, 2016) são chamadas autistas 
as crianças que tem inadaptação para estabelecer relações normais com o outro, um atraso 
na aquisição da linguagem, apresentam igualmente estereótipos gestuais, uma 
necessidade de manter imutável seu ambiente material, ainda que deem provas de uma 
memória frequentemente notável. 
De acordo com Valladares e Silva (apud OLIVEIRA; OLIVEIRA, 2016), ainda do autor 
acima, a arteterapia possibilita oferecer uma assistência globalizada, favorecendo um 
ambiente facilitador e propício ao seu comportamento e desenvolvimento, buscando 
sempre barrar a estagnação de estímulos, pois esta pode prejudicar estruturalmente todo 
seu processo de desenvolvimento normal, acredita-se que a ampliação dos espaços da 
arteterapia poderá facilitar a expressão das crianças, estimulando o desenvolvimento de 
suas potencialidades expressivas. 
A arteterapia, que utiliza a arte no auxílio ao tratamento psicológico, é um dispositivo 
terapêutico que absorve saberes das diversas áreas do conhecimento, constituindo-se 
como uma prática transdisciplinar, visando a resgatar o homem em sua integralidade 
através de processos de autoconhecimento e transformação. 
Tommasi (apud OLIVEIRA; OLIVEIRA, 2016), diz que a arteterapia estimula a 
imaginação, libera as manifestações de símbolos, trabalha a afetividade, a expressão 
criativa. Trabalha com o ser humano em sua totalidade. 
 Segundo a autora, a arteterapia tem várias raízes, com sustentação na arte e na 
psicologia, e aprofunda ainda mais nessas raízes. A psicologia, por exemplo, surgiu da 
filosofia, que por sua vez, surgiu da mitologia. Na pré-história o ser humano já se 
expressava artisticamente. O porque ainda é uma incógnita, poderia ser um meio de 
comunicação, rituais, forma de expressar sua realidade, seus medos, etc. 
 Não sabemos ao certo o porquê, mas uma coisa é certa, já estava desenvolvendo 
ciência. Passados ostempos, ele vai pensar em sua natureza, o que é o ser humano, como 
ele se desenvolve, como se diferencia e, ao fazer isso ele está fazendo filosofia, o que é a 
base da psicologia e das demais ciências, como a medicina e a engenharia. 
Ao fim do século XIX e início do século XX a atividade artística é levada para os lugares 
dos cuidados psiquiátricos. A “arteterapia” científica aparece realmente no século XX, 
 
 
47 
 
 
seguida pela musicoterapia. Nos anos de 1960, reconhece-se a verdadeira arteterapia 
como domínio totalmente à parte e relacionado a todo conjunto das técnicas artísticas 
(FORESTIER, apud OLIVEIRA; OLIVEIRA, 2016, p 2). 
Os estudos de Jung influenciaram amplamente o campo da arteterapia, trazendo à tona 
discussões sobre importância do mundo imagético na compreensão do psiquismo e, 
consequentemente, valorizando a análise das imagens simbólicas projetadas nas 
produções artísticas dos pacientes dentro do enquadre psicoterapêutico. 
No Brasil, podemos citar o trabalho de Nise da Silveira como percursora deste trabalho 
no país. A médica Nise da Silveira enfrentou a psiquiatria da época, ano de 1940. Ela foi 
contra a eletrochoques, lobotomia e criou uma ala no Centro Psiquiátrico Nacional, onde 
iniciou seu trabalho destinado aos doentes mentais através da arte. 
A reforma da psiquiatria levou a uma ressignificação de saberes e práticas na saúde 
mental, o que foi possível pela substituição do paradigma manicomial, marcado pela 
exclusão social e olhar simplista e hegemônico biopatológico da psiquiatria, por novas 
formas de cuidado 
Surge então a arteterapia como um novo campo a ser explorado, dentro de uma 
multidimensionalidade e interdimensionalidade existentes em todas as áreas de 
conhecimento. 
A arte tem um papel importante no campo de conhecimento rico em símbolos e 
significados, que proporciona a eclosão de uma linguagem não verbal, possibilitando a 
comunicação por meios pouco explorados, buscando promover o desenvolvimento de 
habilidades individuais, integração grupal e formação humana. 
Importante frisar o fato de que ao lidarmos com pessoas portadoras de necessidades 
especiais, devemos estar abertos ao novo. 
Concluímos então que, conforme cita Karvonen e Stoxen (2003, apud OLIVEIRA et al, 
2016), o maior problema de pessoas com necessidades especiais são os comportamentos 
problemas, e por isso é muito importante uma intervenção abrangente, que foca o 
desenvolvimento de habilidades funcionais e não apenas na redução de comportamentos 
indesejáveis, a intervenção e estratégias deverá ser de acordo com os princípios de 
planejamento centrado na pessoa e na sua capacidade de fazer escolhas, isso permite que 
o indivíduo expresse suas decisões e escolhas de forma adequada ao invés de um 
comportamento problema. Isto se dá através da análise funcional e implantação de 
 
 
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intervenções abrangentes. A inclusão é um processo que ocorre continuamente pela vida 
inteira da pessoa com necessidades especiais e o principal objetivo é promover uma vida 
com dignidade e qualidade. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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7 BIBLIOGRAFIA 
BASSOLS, M. (2006). Arteterapia e artigos de educação artística para inclusão social 
Vol.1, p 19-25 
COQUEIRO, N.F. et al, 2010, Arteterapia como dispositivo terapêutico em saúde 
mental, Acta Paul Enferm 2010;23(6):859-62 
D’ALENCAR, ÉR, ET AL 2013. Revista da Rede de Enfermagem do Nordeste, vol. 14, 
núm. 6, 2013, pp. 1241-1248, Fortaleza 
FACCO, S. C. M., et al. Revista Espaço Ciência & Saúde, v. 4, 2016, p. 45-54. 
GATTINO, Gustavo Schulz. A Influência no Tratamento Musicoterapêutico Na 
Comunicação de Crianças Com Transtornos do Espectro Autista, Porto Alegre, 2009 
 
NORGREN, M.B.D, 2011, Construção Psicopedagógica. vol.19 no.18 São Paulo 2011 
REIS, A.C; Arteterapia: a Arte como Instrumento no Trabalho do Psicológico. 
Psicologia Ciência e Profissão, 2014, 34 (1), 142-157. 
VALLADARES, A. C. A. ET AL. “Arteterapia: criatividade, arte e saúde mental com 
pacientes adictos”. In: JORNADA GOIANA DE ARTETERAPIA, 2, 2008, Goiânia. 
OLIVEIRA, Marcela Aparecida Eustáquio de; OLIVEIRA, Roselle Fernandes Torres de. VII 
de Iniciação Científica da FEPI. A ARTETERAPIA NO TRATAMENTO DO TRANSTORNO 
DO ESPECTRO AUTISTA (TEA), Itajuba, 2016.

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