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Espondilite Anquilosante As espondiloartropatias são caracterizadas por uma inflamação ao redor das ênteses (o local da inserção dos ligamentos, tendões, aponeuroses e cápsulas fibrosas articulares no osso) Definição “Espôndilo” significa vértebra e “anquilose” significa fusão. Assim, o termo espondilite anquilosante traduz inflamação + fusão vertebral. Entretanto, apesar de característica, a fusão da coluna vertebral surge apenas em estados avançados da doença. É uma doença inflamatória crônica que acomete basicamente as articulações do esqueleto axial, sendo a lesão da articulação sacroilíaca seu marco fundamental. As articulações sacroilíacas são sempre afetadas, e alguns autores costumam usar o termo sacroileíte sintomática como sinônimo de espondilite anquilosante. As articulações periféricas também podem ser afetadas, porém, com menor frequência. Epidemiologia Predominam em homens (3:1), com pico de incidência no início da vida adulta (média = 23 anos). Marcador presente 90% dos pcts, HLA-B27 na população, fato que demonstra a importância do fator genético. Patogênese A fisiopatologia da EA ainda não é clara. As espondiloartropatias são associadas às entesites, que se caracterizam como uma reação inflamatória crônica com erosão do osso adjacente, seguido de um processo de reparo tecidual. Com isso, há uma neofomação óssea – se transforma numa pretuberancia: sindesmófitos e cria pontes entre os corpos: evolução para anquilosite (ossificação das enteses). As articulações mais envolvidas são aquelas com característica ligamentar, como a do quadril e da coluna vertebral. A articulação mais precocemente envolvida é a sacroilíaca. Mas destaca-se também entesite da sínfise púbica, do calcâneo, da patela e da articulação manúbrio-esternal. Com o avançar da doença, a coluna se torna rígida pelo estabelecimento de pontes ósseas entre as vértebras (“coluna de bambu”) e a postura do paciente é uma cifose exagerada com perda da lordose lombar fisiológica. O envolvimento da coluna é ascendente, começando pelas articulações sacroilíacas → lombossacras → torácicas → cervicais. Postula-se que o contato com agentes ambientais (ex.: certos microrganismos) possa deflagrar um descontrole do sistea imunológico em indivíduos geneticamente predispostos – MAS NÃO SE SABE AO CERTO DE ONDE VEM O ESTÍMULO INFLAMATÓRIO. Outras anormalidades que podem ser encontradas na coluna são osteoporose difusa, aspecto “quadrado” das vértebras e destruição da interface entre os discos intervertebrais e o osso. Quadro clínico Lombalgia – pela sacroileíte tipicamente unilateral – pelo menos no início é o primeiro sintoma na maioria dos pacientes, e mostra normalmente as seguintes características: Idade de início < 40 anos Início insidioso e profunda Rigidez matinal Melhora com exercício Sem melhora com repouso Dor noturna mais intensa ao acordar Outra característica marcante é a presença de hipersensibilidade óssea (refletindo a existência de entesite/osteíte subjacente). Nos locais acometidos pelo processo inflamatório, a digitopressão costuma desencadear dor! Tal fenômeno é mais evidente nas junções costocondrais, apófises espinhosas das vértebras, cristas ilíacas, trocânteres maiores, tuberosidades isquiais e tibiais e nos calcâneos. Alguns pacientes, principalmente os mais idosos, podem apresentar um importante componente sistêmico, queixando-se prioritariamente de sintomas constitucionais inespecíficos (ex.: fadiga, anorexia, perda ponderal, febre baixa)... Movimentação limitada/redução da amplitude da coluna e restrição na expansão torácica: alterações posturais são acumuladas ao longo do tempo Artrite periférica: dor, rigidez e edema nas articulações periféricas Envolvimento da articulação temporomandibular Entesite Dactilite: caracteriza edema difuso de dedos Alguns pacientes referem uma dor que se confunde com a angina pectoris ou a síndrome de Tietze (costocondrite idiopática). O envolvimento da coluna cervical, com dor e rigidez, costuma ser tardio, levando anos para aparecer. Alguns pacientes apresentam episódios recorrentes de torcicolo. Outros evoluem com perda quase completa da extensão cervical, ficando muitas vezes impossibilitados de olhar para cima. Muitos pacientes, quando em posição ortostática e com os pés juntos, não mais conseguem encostar o occipto na parede (“teste occipto- parede”). Exame Físico O comprometimento das sacroilíacas pode ser evidenciado por manobras que tensionam essas articulações. Já a limitação da mobilidade lombar, por sua vez, pode ser avaliada pelo teste de Schöber. ➔ Em condições normais, deve haver aumento de 5 cm ou mais da distância na posição ereta. Aumentos inferiores a 4 cm indicam comprometimento funcional da coluna lombar. A medida da expansibilidade do tórax deve ser feita na altura do quarto espaço intercostal em homens e logo abaixo das mamas em mulheres, sendo a diferença entre a inspiração e expiração máximas. O valor normal é ≥ 5 cm. MANIFESTAÇÕES EXTRA-ARTICULARES 1- Oftalmológicas - Uveíte Anterior Aguda • Principalmente naqueles que têm o HLA-B27. Pode preceder a espondilite. • Não existe qualquer relação do quadro ocular com a gravidade da doença. • A uveíte é quase sempre unilateral e origina sintomas de dor, lacrimejamento excessivo, fotofobia e turvação da visão. Os episódios costumam ser autolimitados e recorrentes. • Em alguns casos, a uveíte pode abrir um quadro de EA, como manifestação única. Outras complicações possíveis são o glaucoma secundário e a catarata. 2- Pulmonares - Fibrose Bolhosa dos Lobos Superiores • Geralmente aparece após duas décadas de doença. Os pacientes podem se apresentar com tosse produtiva crônica e dispneia progressiva. A formação de cistos (fibrose bolhosa) e a subsequente invasão por Aspergillus podem resultar nos micetomas e justificar uma eventual hemoptise. • A ventilação pulmonar costuma ser bem mantida pelo diafragma, apesar da rigidez da parede torácica. 3- Cardíacas - Insuficiência Aórtica/ Distúrbios de Condução (BAVT) • As valvas aórticas encontram-se espessadas e com um certo grau de fibrose. A extensão do processo fibroso para o nódulo AV pode levar ao bloqueio AV completo (BAVT). 4- Renais – Amiloidose/ Nefropatia por IgA 5- Neurológicas - Deslocamentos e Fraturas da Coluna Cervical/ Síndrome da Cauda Equina • Os sintomas iniciais incluem perda sensorial nos dermátomos sacrais (“anestesia perineal em sela”), dor e fraqueza dos membros inferiores, com hiporreflexia e flacidez. Também faz parte do quadro a perda do tônus dos esfíncteres retal e urinário. O diagnóstico pode ser confirmado por TC ou RNM. 6- Intestinais - Doença Inflamatória Intestinal Complicações • Fraturas vertebrais Diagnostico 1) Radiografia simples (com sacroiliíte bilateral graus 2-4 ou unilateral graus 3 ou 4) ou ressonância magnética de articulações sacroilíacas (com edema de medula óssea). EXAMES RADIOLOGICOS • Radiografia das articulações sacroilíacas: é o local em que as alterações mais características da espondilite anquilosante aparecem, normalmente com ao menos 10 anos de doença. A partir deste exame, podemos classificar as alterações em: Grau 0: normal Grau 1: alterações suspeitas Grau 2: Anormalidades mínimas – pequenas áreas localizadas com erosões ou esclerose, sem alteração na espessura da articulação Grau 3: anormalidade inequívoca – sacroiliíte moderada a severa com um dos seguintes achados: erosões, evidência de esclerose, alargamento, estreitamento ou anquilose parcial Grau 4: anquilose total • RNM das articulações sacroilíacas: mais sensívelque a radiografia. Os principais achados são “edema na medula óssea”, um sinal hiperintenso nos ossos adjacentes as articulações sacroilíacas. • Radiografia da coluna Sindemosfitos bilaterais e simétricos Coluna em bambu Corpos vertebrais quadrados Esclerose subcondral • Ultrassonografia das enteses Diagnostico diferencial Espondiloartrites, hiperostose difusa esquelética idiopática, a síndrome SAPHO (Sinovite, Acne, Pustulose, Hiperostose e Osteomielite) e estados hiperostóticos como intoxicação pela vitamina A e fluorose. AR: (1) a infecção avançada pelo HIV pode desencadear uma forma grave de espondilite anquilosante (na AR, a depleção de linfócitos T CD4+ associada à SIDA costuma amenizar a artrite); (2) enquanto na AR ocorrem tipicamente erosões do osso articular, na EA ocorre estímulo para neoformação óssea nas áreas afetadas (ex.: sindesmófitos); (3) a histopatologia da sinóvia na EA mostra predomínio de neutrófilos, macrófagos e hipervascularização, enquanto na AR encontramos agregados linfoides, células dentríticas e hiperplasia das células de revestimento da sinóvia (linning cells); (4) não se observa aumento da citrulinização proteica no tecido articular de portadores de EA... Tratamento A resposta ao tratamento de EA axial ocorre quando há redução de, pelo menos, 50% ou de 2 pontos absolutos no BASDAI num período mínimo de 12 semanas. Tratamento não medicamentoso: Exercícios físicos: alongamento, educação postural – andar ereto, dormir em decúbito dorsal em colchão firme, atividades recreacionais ou hidroterapia. Terapia ocupacional, associações de pacientes e grupos de autoajuda também são úteis. Exercicios respiratórios visam a conservação ou aumento da expansibilidade torácica. Para se evitar complicações pulmonares, os pacientes não devem fumar, pois já possuem, em geral, uma expansibilidade torácica reduzida. Tratamento medicamentoso: O tratamento medicamentoso inclui anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs), sulfassalazina, metotrexato, glicocorticoides e agentes bloqueadores do fator de necrose tumoral alfa (anti-TNFs). ✓ AINES (Anti-Inflamórios Não Esteroidais): devem ser utilizados como primeira linha no tratamento de paciente sintomáticos. Sugere iniciar com indometacina (na dose de 75 a 150 mg/dia). Os Coxibs (inibido-res seletivos da COX-2 –) também podem ser utilizados com boa eficácia. Analgésicos como paracetamol ou opioides podem ser utilizados em pacientes que não obtêm melhora sintomática com o uso de AINE. ✓ Sulfassalazina: tem benefícios principalmente em pacientes com artrite periférica, na dose de 2-3 g/dia. ✓ Bloqueadores do TNF-alfa: são indicados para pacientes com doença ativa que não tiveram resposta com pelo menos dois AINES diferentes. Estas medicações melhoram os sintomas e a densidade mineral óssea, porém tem efeitos adversos: Os efeitos colaterais do uso dessas medicações são: infecções graves, incluindo a tuberculose disseminada; distúrbios hematológicos, como a pancitopenia; distúrbios dismielinizantes; piora da insuficiência cardíaca congestiva; aparecimento de autoanticorpos para LES, além de sintomas clínicos da doença; reações de hipersensibilidade nos locais de aplicação; e doença hepática grave Antes do início do tratamento, todos os pacientes devem realizar teste tuberculínico (PPD) e radiografia de tórax. Pacientes com PPD ≥ 5 mm devem receber profilaxia para tuberculose. A resposta da uveíte a esses agentes não é previsível. A infiltração articular com corticoesteroides parece ter bons resultados na artrite periférica e sacroiliíte refratária. Atenção: os glicocorticoides sistêmicos não devem ser prescritos, pois não melhoram os sintomas e podem piorar a osteoporose vertebral e justaarticular. Tratamento cirúrgico: Condutas cirúrgicas, como a osteotomia em cunha, podem estar indicadas em alguns casos e, para aqueles com artropatia destrutiva do quadril, a artroplastia total (prótese) é mandatória.
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