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ʕ ´•̥̥̥ ᴥ•̥̥̥`ʔ Brenda Bosquê Espondilite Anquilosante A espondilite anquilosante (EA) é uma desordem inflamatória, crônica, multissistêmica, que envolve primariamente as articulações sacroilíacas e o esqueleto axial. Esta doença pode evoluir para rigidez e limitação progressiva da coluna vertebral. Apesar de classicamente envolver a coluna, pode afetar quadris, ombros, articulações periféricas e até a articulação temporomandibular. Além disso, órgãos como os olhos, pulmões e coração também podem ser acometidos ● A EA envolve adultos jovens, com pico de incidência em homens dos 20 aos 30 anos, especialmente em portadores do antígeno HLA-B27, o que, no Brasil, representa cerca de 60% dos pacientes. É valido ressaltar que há maior prevalência em brancos (65%). É de 10 a 20 vezes mais comum em parentes de 1º grau com espondilite anquilosante que na população em geral. ✓ Espondilite anquilosante axial: tem envolvimento predominantemente axial e achados típicos de sacroileíte bilateral nos exames de imagem ✓ Espondilite anquilosante não radiológica: clinicamente semelhante à espondilite anquilosante axial, mas sem achados radiológicos típicos de sacroileíte nos exames de imagem ✓ Espondilite anquilosante periférica: espondilite anquilosante com comprometimento predominantemente periférico FISIOPATOLOGIA A fisiopatologia da EA ainda não é clara. As espondiloartropatias são associadas às entesites, que se caracterizam como uma reação inflamatória crônica com erosão do osso adjacente, seguido de um processo de reparo tecidual. Com isso, há uma neoformação óssea e evolução para anquilosite (ossificação das enteses). As articulações mais envolvidas são aquelas com característica ligamentar, como a do quadril e da coluna vertebral. A articulação mais precocemente envolvida é a sacroilíaca. Com o avançar da doença, a coluna se torna rígida pelo estabelecimento de pontes ósseas entre as vértebras (“coluna de bambu”) e a postura do paciente é uma cifose exagerada com perda da lordose lombar fisiológica. O envolvimento da coluna é ascendente, começando pelas articulações sacroilíacas → lombossacras → torácicas → cervicais. A artrite periférica da EA se diferencia da artrite reumatoide (AR) por não apresentar vilosidades sinoviais exuberantes. Além disso, erosões cartilaginosas centrais ocorrem frequentemente na EA, diferentemente da AR. MANIFESTAÇÕES: Lombalgia é o primeiro sintoma na maioria dos pacientes, e mostra normalmente as seguintes características: ✓ Idade de início < 40 anos ✓ Início insidioso ✓ Melhora com exercício ✓ Sem melhora com repouso ✓ Dor noturna mais intensa ao acordar ➔ CLÍNICA: LOMBALGIA + RIGIDEZ MATINAL ʕ ´•̥̥̥ ᴥ•̥̥̥`ʔ Brenda Bosquê • Melhora com atividade física • Posição do esquiador(coluna rígida –“em bambu”) • Uveíte anterior (manifestação extra-articular mais comum) • Teste de Schöber positivo Teste de Schober: O teste de Schober é uma técnica utilizada para avaliar a amplitude de movimento da coluna lombar, sendo útil no diagnóstico de doenças como a espondilite anquilosante. Durante o teste, o paciente é solicitado a flexionar o tronco e um marcador é utilizado para medir a distância entre dois pontos específicos da coluna lombar. A diferença entre a medida inicial e a medida final após a flexão é um indicador da elasticidade da coluna. Em condições normais, espera-se que haja um aumento na distância medida após a flexão. As manifestações extra-articulares incluem a uveíte aguda, insuficiência aórtica, distúrbios de condução cardíacos, fibrose de lobos pulmonares superiores, compressão nervosa ou neurite, nefropatia ou amiloidose renal secundária. O grau de fadiga é um dos parâmetros para avaliar a atividade da doença. DIAGNÓSTICO Deve-se suspeitar de espondilite anquilosante em pacientes, particularmente homens jovens, com dor lombar noturna mais rigidez matinal prolongada e cifose, diminuição da expansão torácica, tendinite calcânea ou patelar, ou uveíte anterior inexplicável. Parente de 1º grau com espondilite anquilosante deve aumentar as suspeitas. O diagnóstico é clínico e pode ser baseado nos critérios de classificação do grupo Assessment of Spondylo Arthritis international Society (ASAS) de 2009 (Tabela 1) em substituição aos antigos critérios de Nova York de 1984 (Tabela 2), entretanto estes não são imprescindíveis para o diagnóstico, devido a elevada complexidade e ao retardo no diagnóstico. Na prática médica a avaliação epidemiológica, clínica e o histórico familiar devem ser os primeiros dados a serem avaliados. ʕ ´•̥̥̥ ᴥ•̥̥̥`ʔ Brenda Bosquê EXAMES DE IMAGEM • Radiografia das articulações sacroilíacas: é o local em que as alterações mais características da espondilite anquilosante aparecem, normalmente com ao menos 10 anos de doença. A partir deste exame, podemos classificar as alterações em: ● Grau 0: normal ● Grau 1: alterações suspeitas ● Grau 2: Anormalidades mínimas – pequenas áreas localizadas com erosões ou esclerose, sem alteração na espessura da articulação ● Grau 3: anormalidade inequívoca – sacroiliíte moderada a severa com um dos seguintes achados: erosões, evidência de esclerose, alargamento, estreitamento ou anquilose parcial ● Grau 4: anquilose total • RNM das articulações sacroilíacas: mais sensível que a radiografia. Os principais achados são “edema na medula óssea”, um sinal hiperintenso nos ossos adjacentes as articulações sacroilíacas. • Radiografia da coluna • Ultrassonografia das enteses TRATAMENTO ● Tratamento não farmacológico: Seus dois princípios fundamentais são educação do paciente e realização de exercícios físicos. Os exercícios devem incluir alongamento, reeducação postural, atividades recreacionais,natação e/ou hidroterapia, evitando-se exercícios de alto impacto. Exercícios domiciliares são efetivos, mas fisioterapia individual ou em grupo parece ser mais efetiva. ● Tratamento farmacológico: Inclui anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs - terapia de primeira linha), sulfassalazina e metotrexato mais utilizados para doença com acometimento predominantemente periférico. Quando há o comprometimento axial, após o uso de AINEs, deve-se utilizar agentes bloqueadores do fator de necrose tumoral alfa (anti-TNFs). Exemplos: Ibuprofeno comprimidos revestidos de 200 mg, 300 mg e 600 mg; naproxeno comprimidos de 250 mg e 500 mg; sulfassalazina: comprimidos de 500 mg; metotrexato: comprimidos de 2,5 mg; adalimumabe, etanercepte, golimumabe, certolizumabe, infliximabe. A infiltração articular com corticosteróides parece ter bons resultados na artrite periférica e sacroiliíte refratária. Atenção: os glicocorticóides sistêmicos não devem ser prescritos, pois não melhoram os sintomas e podem piorar a osteoporose vertebral e justa articular. ● Tratamento cirúrgico: Condutas cirúrgicas, como a osteotomia em cunha, podem estar indicadas em alguns casos e, para aqueles com artropatia destrutiva do quadril, a artroplastia total (prótese) é mandatória.