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Osteoartrit� (OA) Definiçã�: Doença inflamatória, com progressão na maioria das vezes lenta e persistente, afetando a articulação como um todo. Epidemiologi�: OA de mãos e joelhos é mais comum em mulheres do que em homens, enquanto OA de quadril é igualmente prevalente. As taxas de incidência de OA sintomática de mão, quadril e joelho aumentam rapidamente por volta dos 50 anos de idade e depois se estabilizam após os 70 anos. Fatore� d� risc�: A osteoartrite (OA) é uma interação complexa entre fatores mecânicos, celulares e biomecânicos que levam à patologia em estágio final. - Sexo - Genética - Lesão articular (ex.: lesão de LCA) - Fatores anatômicos (ex.: joelho em valgo) - Obesidade - Ocupação Fisiopatologi� Incluindo condrócitos, osso e sinóvia. A sinovite provoca a liberação de citocinas, alarminas, moléculas de padrões moleculares associados à lesão (DAMPs) e complemento, que ativam os condrócitos por meio de receptores de superfície celular. Os condrócitos produzem as moléculas da matriz (colágeno tipo 2, agrecano) e as enzimas responsáveis pela degradação da matriz (p. ex., ADAMTS-5 e metaloproteinases matriciais [MPMs]). Ocorre invasão do osso através da cartilagem calcificada, desencadeada pelo fator de crescimento do endotélio vascular (VEGF) e por outras moléculas. IL, interleucina; TGF, fator de crescimento transformador; TNF, fator de necrose tumoral. Constituição normal da cartilagem articular (A). Na osteoartrite, a matriz sofre uma degradação, com perda de proteoglicanos e colágeno, acarretando uma hidratação da cartilagem. Paralelamente, existem ativação e proliferação dos condrócitos, síntese aumentada de colágeno e proteoglicanos para recuperar a matriz degradada (B). Na osteoartrite avançada, ocorre uma falência geral dos mecanismos compensatórios. Há uma depleção das macromoléculas e perda de água da matriz, bem como apoptose condrocitária (C). Classificaçã� Classificamos a osteoartrose como primária ou idiopática (de causa desconhecida) – que possui alguns padrões articulares clássicos (ver adiante) e representa o grupo mais frequente – e secundária, causada por trauma, malformações anatômicas, doenças congênitas (ex.: Legg-Perthes), osteonecrose, endocrinopatias (hipotireoidismo, acromegalia) e distúrbios metabólicos (ex.: hemocromatose, doença de Wilson). CRISTOVÃO JÚNIOR | REUMATOLOGIA | MEDICINA Manifestaçõe� clínica� Dor (principal sintoma): A dor na OA é pior com o uso da articulação (dor relacionada ao uso) e aliviada pelo repouso. Limitação do movimento: A amplitude de movimento reduzida (igual para movimento ativo e passivo) resulta principalmente de osteófitos marginais e espessamento capsular, mas a hiperplasia sinovial e o derrame também podem contribuir. Rigidez: De curta duração (<30 minutos) e relacionado ao início da manhã ou inatividade. Articulações mais acometidas Joelhos: Piora à flexão, como ao subir e descer escadas, e, nos casos mais graves, limitações à amplitude completa de flexão e extensão do movimento. Crepitação articular é um importante sinal, pois está quase sempre presente. Edema com derrame articular pode ocorrer. Mãos: Nas mãos, as articulações mais afetadas são, em ordem de frequência, as interfalângicas distais (IFD), a primeira carpometacarpal ou rizartrose e as interfalângicas proximais (IFP). Em muitos pacientes, verifica-se alargamento de consistência rígida nas regiões dorsolateral e dorsomedial das articulações IFD e IFP, denominadas nódulos de Heberden e Bouchard, respectivamente. Essa forma de doença é também chamada OA nodal. Sua distribuição é, via de regra, poliarticular e simétrica. Os nódulos representam proliferação osteocartilaginosa e constituem uma das manifestações mais comuns e características da OA idiopática. Entre os pacientes com nódulos interfalângicos, destaca-se um subgrupo que apresenta a doença com um comportamento mais agressivo, cursando com maior destruição da cartilagem e do osso subcondral, este último podendo apresentar múltiplos cistos e erosões ósseas. Esse tipo é a OA nodal erosiva, caracterizada por diversos autores como uma forma distinta de OA. A rizartrose engloba o envolvimento do trapézio com o primeiro metacarpal e, em menor frequência, o trapézio com o escafoide. Ela está particularmente relacionada ao uso do polegar, no seu movimento de pinça, principalmente se houver aplicação de força excessiva. A formação de osteófitos no local acarreta o aspecto de “mão quadrada”. Quadril: O quadril é uma articulação frequentemente comprometida e, em muitos casos, a doença evolui para a incapacidade total com indicação cirúrgica (substituição por prótese ortopédica). É mais frequente em homens e pode ser uni ou bilateral. O envolvimento bilateral é o mais frequente, porém, mesmo quando unilateral do ponto de vista clínico, ambos os quadris podem estar comprometidos. Coluna: Na coluna, a dor se apresenta bastante correlacionada aos movimentos e às posturas, isto é, tem caráter mecânico, e melhora com o repouso e durante o sono. A radiografia simples da coluna normalmente mostra a presença de osteófitos nas articulações que estão sob forças de compressão. Quando existe um desalinhamento lateral da coluna, isso significa a presença de osteófitos na face convexa. A dor à flexão geralmente indica um comprometimento dos discos intervertebrais, e a dor à extensão, o envolvimento das articulações interapofisárias. Diagn�stic� A osteoartrite (OA) pode ser diagnosticada sem o uso de radiografia e/ou exames laboratoriais na presença de sinais e sintomas típicos na faixa etária de risco. Diagnóstico clínico — A OA da articulação periférica pode ser diagnosticada com confiança apenas por motivos clínicos se os seguintes estiverem presentes: ● Dor articular persistente relacionada ao uso em uma ou poucas articulações ● Idade ≥45 anos ● Rigidez matinal <30 minutos CRISTOVÃO JÚNIOR | REUMATOLOGIA | MEDICINA Tal abordagem para um diagnóstico clínico é apoiada pelo fato de que alterações estruturais avaliadas radiograficamente podem estar presentes na ausência de sintomas e vice-versa. Exames de imagem e laboratoriais apropriados devem ser realizados em: ● Indivíduos mais jovens com sintomas/sinais articulares de OA. ● Presença de sintomas e sinais atípicos, como local incomum de envolvimento, sintomas e sinais de inflamação articular, dor acentuada em repouso e/ou noturna e dor rapidamente progressiva. ● Presença de perda de peso ou sintomas constitucionais. ● Aqueles com dor no joelho e verdadeiro "bloqueio", o que sugere desarranjo mecânico adicional. Testes laboratoriais adicionais podem incluir: uma velocidade de hemossedimentação (VHS), proteína C reativa (PCR), fator reumatóide (FR) e antipeptídeo citrulinado cíclico (CCP). O exame radiográfico pode ser usado para apoiar o diagnóstico de OA, mas não é um exame de rotina a ser considerado como meio de explicar os sintomas clínicos. O exame radiográfico pode ter um papel na definição do prognóstico de pacientes com OA sintomática. De acordo com a radiografia, podemos classificar o grau da Osteoartrite, utilizando o sistema de classificação de gravidade da OA de Kellgren e Lawrence: Grau 0 Sem estreitamento do espaço articular ou osteófito (ou seja, normal). Grau 1 Estreitamento duvidoso do espaço articular, possíveis osteófitos. Grau 2 Osteófitos definitivos, possível estreitamento do espaço articular. Grau 3 Osteófitos moderados, estreitamento do espaço articular definido, alguma esclerose, possível deformidade da extremidade óssea. Grau 4 Grandes osteófitos, estreitamento acentuado do espaço articular, esclerose grave, deformidade definitiva da extremidade óssea. Tratament� Recomendação geral: Combinação de medidas não farmacológicas e farmacológicas sob orientação médica, educação do paciente e estímulo à atividade física regular. Medidas não farmacológicas 1. Estimular exercícios aeróbicos e de reforço muscular. 2. Evitar atividades de sobrecarga às juntas durante tarefas diárias. 3. Estimular uso de órteses (joelheiras, palmilhas,bengalas, andadores), sob prescrição médica. 4. Orientação médica à dieta, com atenção a comorbidades. 5. Meios físicos locais, conforme preferência do paciente (calor ou gelo). Atualmente, as Medidas Farmacológicas na OA visam exclusivamente o controle dos sintomas (especialmente a dor), já que não atuam no processo patológico básico e não retardam a progressão da doença. Estão indicadas na OA com sintomatologia grave, ou nos casos refratários à terapia não farmacológica. Medidas farmacológicas Analgésicos/anti-inflamatórios tópicos – uso isolado ou combinado com meios físicos locais (p. ex.: diclofenaco sódico, cetoprofeno). Paracetamol (2 g/d); isolado ou associado a anti-inflamatório não esteroidal (AINE) com inibidor de bomba de prótons; naproxeno (1 g/d), celecoxibe (200 mg/d) ou ibuprofeno (2,4 g/d) são os AINE com menor risco cardiovascular. Codeína ou tramadol associados a paracetamol, por menor tempo possível, na falha ou contraindicação absoluta a AINE. Corticosteróides (CO) – injeção intra-articular nos casos refratários a AINE. Não deve-se usar rotineiramente, devido à curta duração de seus efeitos (ou seja, aproximadamente quatro semanas) e à evidência de que pode ter efeitos deletérios sobre a cartilagem hialina e pode acelerar a progressão da OA. Ácido hialurônico – injeção intra-articular. A maioria das evidências demonstra apenas uma pequena superioridade sobre o placebo intra-articular. Duloxetina (30 a 60 mg/d) – como adjuvante na dor refratária. Não recomenda-se suplementos nutricionais rotineiramente como glucosamina, condroitina, vitamina D, diacereína, insaponificáveis de soja de abacate (ASU) e óleo de peixe devido à falta de evidências claras que demonstrem um benefício clinicamente importante desses suplementos. Tratamento cirúrgico: Cogitado quando o tratamento conservador se mostra ineficaz, a cirurgia pode ser indicada em pacientes com dor prolongada ou permanente ou naqueles que começam a desenvolver deformidades fixas ou perda da função articular e não tiveram resposta satisfatória diante de um tratamento otimizado durante 3 a 6 meses. Os procedimentos variam de acordo com a articulação acometida e o grau de lesão, mas é sempre importante levar em conta as expectativas do paciente, que pode estar desejando obter resultados inatingíveis. As osteotomias visam a corrigir o desalinhamento articular e evitar a concentração de carga. As artroplastias totais devem ser reservadas para estágios mais avançados da doença e pacientes mais idosos, tendo em vista a durabilidade das próteses, e as artrodeses só devem ser cogitadas em casos excepcionais. Complicações pós-cirurgia: Rigidez, TVP (devido a imobilização), TEP, infecção do sítio cirúrgico, fratura. CRISTOVÃO JÚNIOR | REUMATOLOGIA | MEDICINA Lúpu� Eritemat�� Sistêmic� (LES) Definiçã� O lúpus eritematoso sistêmico (LES) é uma doença inflamatória crônica, autoimune, de etiologia pouco conhecida, decorrente de um desequilíbrio do sistema imunológico e produção de autoanticorpos. Epidemiologi� - Afeta mais o sexo feminino. - Idade média entre 16 e 55 anos (idade fértil). - Mais comum na etnia negra. Etiologi� Doença multifatorial que envolve fatores genéticos, hormonais, imunológicos e ambientais. Fatores ambientais: - Luz ultravioleta - Hormônios sexuais (ex.: estrogênio aumenta a atv. de cél. B) - Medicamentos (ex.: LES farmacoinduzido) - Tabagismo - Agentes microbiológicos (ex.: vírus Epstein-Barr) - Exposição à sílica Fisiopatologi� A patogênese está relacionada em grande parte à produção de quantidades aumentadas e formas imunogênicas de ácidos nucleicos e outros autoantígenos, os quais direcionam a ativação autoimune-indutora da imunidade inata, dos autoanticorpos e das células T. Interações entre genes, ambiente e alterações epigenéticas levam à intensificação da autofagia, à apresentação de Ag, à netose de neutrófilos, à formação de autoanticorpos com plasmócitos aumentados e à produção de células T efetoras patogênicas em subpopulações de células TH1, TH17 e TFH, com redes regulatórias inefetivas. Interações gene-ambiente resultam em respostas imunes geradoras de autoanticorpos patogênicos e imunocomplexos que se depositam nos tecidos, ativam o complemento, induzem a liberação de citocinas e quimiocinas, causando inflamação, e, com o passar do tempo, acarretam danos irreversíveis em órgãos. Autoanticorp�� d� LES Manifestaçõe� clínica� Sintomas constitucionais: Febre, fadiga e perda de peso. Envolvimento mucocutâneo A lesão mais comum é uma erupção facial que caracteriza o lúpus cutâneo agudo (também conhecido como "asa de borboleta") que se apresenta como eritema em uma distribuição malar sobre as bochechas e nariz (mas poupando o sulco nasolabial) que aparece após a exposição solar. Muitos pacientes desenvolvem úlceras orais e/ou nasais, que geralmente são indolores em contraste com as bolhas de cancro herpético. As úlceras nasais podem levar à perfuração do septo nasal. No lúpus cutâneo subagudo as lesões cutâneas são do tipo eritematodescamativas difusas, não ulcerativas, predominando em membros superiores e parte superior do tronco. A face geralmente é poupada. CRISTOVÃO JÚNIOR | REUMATOLOGIA | MEDICINA A principal lesão cutânea crônica do LES é o lúpus discóide, que pode tanto ocorrer na ausência de quaisquer manifestações sistêmicas, quanto aparecer como parte de um quadro de lúpus sistêmico clássico. A alopecia não cicatricial também é observada em muitos pacientes com LES em algum momento durante o curso da doença. A alopecia cicatricial pode ocorrer em pacientes com lúpus eritematoso discóide. Artrite e artralgias: A artrite, com inflamação demonstrável, ocorre em 65 a 70 % dos pacientes e tende a ser migratória, poliarticular e simétrica. A artrite é moderadamente dolorosa, geralmente não causa erosão e raramente se deforma. O padrão deformante, porém não erosivo, é conhecido como artropatia de Jaccoud. Envolvimento cardíaco e manifestações vasculares A pericardite com ou sem derrame é a manifestação cardíaca mais comum. A endocardite verrucosa (Libman-Sacks) geralmente é clinicamente silenciosa, mas pode produzir insuficiência valvar e servir como fonte de êmbolos. A miocardite é incomum, mas pode ser grave. Pacientes com LES também têm um risco aumentado de doença arterial coronariana. Fenômeno de Raynaud: É caracterizado por palidez acral intermitente seguida de cianose e eritrodermia. Vasculite: A vasculite cutânea de pequenos vasos pode se manifestar como púrpura palpável, petéquias, lesões papulonodulares, livedo reticular, paniculite, hemorragias em estilhaços e ulcerações superficiais. Doença tromboembólica: Mais comum no contexto de anticorpos antifosfolípidos. Envolvimento renal: Várias formas de glomerulonefrite. A apresentação clínica da nefrite lúpica é altamente variável, desde hematúria e/ou proteinúria assintomática até síndrome nefrótica e glomerulonefrite rapidamente progressiva com perda da função renal. Envolvimento gastrointestinal: A maioria dos sintomas gastrointestinais são causados por reações adversas a medicamentos e infecções virais ou bacterianas. As anormalidades gastrointestinais relacionadas ao LES podem envolver quase qualquer órgão ao longo do trato gastrointestinal e incluem esofagite, pseudo-obstrução intestinal, enteropatia perdedora de proteínas, hepatite lúpica, pancreatite aguda, vasculite ou isquemia mesentérica e peritonite. Envolvimento pulmonar: Pleurite (com ou sem derrame), pneumonite, doença pulmonar intersticial, hipertensão pulmonar, síndrome do pulmão encolhido e hemorragia alveolar. Envolvimento neurológico e neuropsiquiátrico: Acidente vascular cerebral, convulsões, disfunção cognitiva, delírio, psicose e/ou neuropatias periféricas. Outros problemas menos comuns são distúrbios do movimento, neuropatias cranianas, mielite e meningite. Anormalidades hematológicas: A anemia de doença crônica (também chamada de anemia de inflamação e anemia de inflamação crônica) é o tipo mais comum de anemia entre pacientes com LES.A leucopenia é comum em pacientes com LES, ocorrendo em aproximadamente 50% dos pacientes. A leucopenia pode ser devida a linfopenia e/ou neutropenia secundária e geralmente se correlaciona com doença clinicamente ativa. A neutropenia também pode resultar de toxicidade devido a medicamentos imunossupressores. A linfonodomegalia geralmente ocorre em associação com o LES ativo e geralmente envolve as regiões cervical, axilar e inguinal. A esplenomegalia também pode ser observada em pacientes com LES, particularmente com doença ativa. Envolvimento oftalmológico: A ceratoconjuntivite seca é a manifestação mais comum como resultado da síndrome de Sjögren secundária. A segunda condição patológica mais comum é a vasculopatia retiniana na forma de manchas algodonosas. Outras manifestações oftalmológicas menos comuns do LES incluem neuropatia óptica, coroidopatia, episclerite, esclerite e uveíte anterior (irite, iridociclite). Diagn�stic� Critérios 2012: O paciente deverá preencher pelo menos 4 critérios (incluindo 1 clínico e 1 imunológico) ou ter nefrite lúpica comprovada por biópsia renal com presença de FAN positivo ou anti-DNA nativo positivo. CRISTOVÃO JÚNIOR | REUMATOLOGIA | MEDICINA LES � gravide� O LES é uma doença que acomete preferencialmente mulheres em idade fértil, sem alterar a chance de engravidar. Portanto, torna-se um fato relativamente comum o encontro de lúpicas grávidas. A princípio, devemos considerar a gestação de uma lúpica como gravidez de alto risco, devido ao aumento da incidência de complicações tanto para a mãe como para o feto ou recém-nascido. O que se sabe é que as lúpicas com doença ativa, especialmente quando possuem comprometimento renal e/ou hipertensão arterial, estão sob risco de piora dos sintomas e da disfunção renal. Por isso, recomenda-se que as mulheres com LES só devam engravidar após um período de pelo menos seis meses de remissão da doença. Aquelas que apresentam nefrite lúpica devem ser desaconselhadas a engravidar. Diagn�stic� Diferencia� Infecções: Citomegalovírus (CMV), Epstein-Barr (EBV), parvovírus B19, HIV, hepatite B e hepatite C, além de bacterianas como endocardite, tuberculose, sífilis e hanseníase. Doenças autoimunes: AR – particularmente na fase inicial dos quadros articulares (verificar positividade de antiCCP, fator reumatoide e raio X de mãos); doença mista do tecido conectivo – por possuir manifestações que se sobrepõem ao LES (considerar títulos elevados de anti-RNP); síndrome de Sjögren – quando manifestações extraglandulares podem ser observadas no LES (verificar presença de xeroftalmia e xerostomia, além de positividade de anti-Ro e anti-La); vasculites sistêmicas primárias, doença de Behçet, doenças inflamatórias intestinais, dermatomiosite/polimiosite. Outras doenças hematológicas: doenças linfoproliferativas, púrpura trombocitopênica imunológica (PTI), púrpura trombocitopênica trombótica (PTT), doença de Kikuchi e esclerose múltipla, entre outras. Tratament� Medidas terapêuticas não medicamentosas devem ser enfatizadas para a melhora dos distúrbios imunológicos da doença, redução de comorbidades e mortalidade. A dieta deve ser idealmente saudável e ajustada individualmente. Recomenda-se atividade física regular por conta de seus benefícios imunológicos e melhora da qualidade de vida (redução da fadiga e risco cardiovascular, e proteção da massa óssea). O tratamento medicamentoso requer a definição de que os sintomas apresentados são exclusivos da doença e não de complicações associadas, tais como infecções. A forma “leve” incluiria sintomas constitucionais, articulares, lesões mucocutâneas e pleurite sem acometimentos sistêmicos que determinem risco à vida. O LES moderado englobaria casos de gravidade “intermediária” como miosite, pericardite e trombocitopenia, enquanto que a doença grave incluiria situações de risco à vida ou que determinem lesões permanentes de órgãos, tais como manifestações neurológicas, psiquiátricas, anemia hemolítica, nefrite proliferativa, miocardite, pneumonite, vasculite necrosante, pancreatite e outras. Para quadros “leves” e/ou moderados: Hidroxicloroquina (até 400 mg/dia ou 5 mg/kg/dia) ou cloroquina (250-500 mg/dia) + Prednisona (doses entre 0,125 a 0,5 mg/kg/dia, com redução subsequente após 2 a 3 semanas para a menor dose possível). Como a hidroxicloroquina e cloroquina levam em média 6-12 semanas para fazer efeitos, o uso de corticóide associado se faz necessário. Sobre a hidroxicloroquina: O mecanismo é pouco compreendido, e parece envolver “imunomodulação”. O exame oftalmológico inicial, e depois anual (trimestral se for usada a cloroquina, que é mais tóxica que a hidroxicloroquina), deve ser realizado, uma vez que a toxicidade retiniana é dependente da dose cumulativa. Os antimaláricos ajudam a reduzir os índices de recidiva, e permitem “poupar corticoides”, além de terem efeito antitrombótico e hipolipemiante, o que ajuda a reduzir o risco cardiovascular. É importante lembrar que, sempre que um paciente for candidato à pulsoterapia com metilprednisolona, existe risco de estrongiloidíase disseminada (ou síndrome da hiperinfecção) em pacientes previamente infestados pelo parasita intestinal S. stercoralis, o que é relativamente comum em nosso meio. Alguns autores recomendam o tratamento empírico para a estrongiloidíase em todos os candidatos à imunossupressão com corticoide, independente da coleta de exame de fezes! A ivermectina mostrou em um estudo comparativo resultados superiores ao tiabendazol, sendo prescrita na dose de 200 mcg/kg durante dois dias consecutivos. O tiabendazol pode ser utilizado na dose de 25 mg/kg (dose máxima diária de 3 g), divididas em três tomadas por três dias. Para a síndrome de hiperinfecção, o tratamento deve ser estendido por 7-10 dias, ou até a negativação das amostras fecais. Se necessário, a Hidroxicloroquina + prednisona pode ser associada ao metotrexato (MTX), leflunomida (LFN) e azatioprina (AZA). Para os casos refratários, outros agentes imunossupressores e/ou imunomoduladores podem ser indicados, como o uso de micofenolato de mofetila (MMF) ou sódico (MS), a ciclofosfamida (CFM), dapsona e a talidomida, esta última restrita às lesões cutâneas refratárias por conta dos efeitos adversos como teratogenicidade e neuropatia axonal periférica. Em quadros graves que apresentam risco à vida: Pulsoterapia com metilprednisolona 500 mg IV por 3 dias + CFM mensal (6 a 12 meses) ou MMF 3g/dia. Manutenção: 3 a 5 anos Micofenolato ou azatioprina. Progn�stic� O prognóstico de pacientes com LES melhorou muito nas últimas décadas, uma vez que a sobrevida de 5 anos que era de 50% na década de 50 passou para 95% nos dias atuais, em centros de referência em países desenvolvidos. É reconhecido que diversos fatores demográficos, socioeconômicos e CRISTOVÃO JÚNIOR | REUMATOLOGIA | MEDICINA relacionados à doença estão associados ao prognóstico destes pacientes. Osteopor�� Histologi� �sse� Fisiologi� �sse� Pode-se dividir a remodelação óssea em 5 fases: Ativação: Um sinal é recebido para que determinado sítio ósseo seja remodelado. Acredita-se que os osteócitos sejam os regentes do processo de remodelação e responsáveis por essa ativação. Reabsorção: PTH: Paratormônio. RANK: Receptor ativador do fator nuclear κB RANKL: Ligante do receptor ativador do fator nuclear κB M-CSF: Fator estimulador de colônia de macrófagos OPG: Osteoprotegerina Reversão: Há um sinal para finalizar a reabsorção e começar a formação de osso novo. Os mecanismos moleculares que regulam a reversão ainda não são bem compreendidos. Formação: Osteoblastos recobrem a cavidade reabsorvida e iniciam a produção de colágeno e demais proteínas da matriz óssea, criando o osso novo. Mineralização: A partir de um ambiente mineral propício, com adequada disponibilidade de cálcio e fosfato, há deposição de cristais de hidroxiapatita na matriz colágena, conferindo rigidez ao osso. A reabsorção óssea é um processo mais rápido que a formação óssea – enquanto a reabsorção dura de 2 a 3 semanas,a formação e mineralização duram de 2 a 3 meses. Definiçã� A osteoporose é uma doença osteometabólica caracterizada pela redução da densidade e qualidade do osso, que tem como o principal desfecho clínico a ocorrência de fraturas por baixo impacto, principalmente no quadril, na coluna e no antebraço. Classificaçã� A osteoporose pode ser classificada em primária, quando decorre dos efeitos da menopausa ou do envelhecimento, e em secundária, quando decorre de uma doença de base ou medicação. As principais causas secundárias: • Hipogonadismo • Síndrome de Cushing • Hiperparatireoidismo • Hipertireoidismo • Doença celíaca/síndrome de má absorção • Medicações: glicocorticoide, anticonvulsivantes, lítio • Doença pulmonar obstrutiva crônica • Doença neurológica crônica • Artrite reumatoide • AIDS/HIV • Osteogênese imperfeita • Homocistinúria • Síndrome de Marfan CRISTOVÃO JÚNIOR | REUMATOLOGIA | MEDICINA Fatore� d� risc� Modificáveis: - Etilismo (> ou igual a 3 doses/dia) - Tabagismo atual - Baixo índice de massa corpórea - Má nutrição - Deficiência de vitamina D - Desordens alimentares - Baixa ingesta de cálcio na dieta - Quedas frequentes Não modificáveis: - Idade - Sexo feminino - Raça - História familiar de osteoporose - Menopausa precoce ou hipogonadismo masculino - História de quedas - História familiar de fratura de quadril - Osteoporose secundária - Baixo índice de massa corpórea Fisiopatologi� Na osteoporose, o processo de reabsorção óssea se sobrepõe ao processo de formação de novo osso, o que torna a estrutura óssea frágil e suscetível a fraturas. Dentre as principais associações com os fatores de risco, pode-se citar: Pós-menopausa ou menopausa precoce (estrogênio estimula osteoblasto a secretar osteoprotegerina), hiperparatireoidismo (PTH age em conjunto com a vitamina D estimulando a expressão de RANKL) e glicocorticóides. Quadr� clínic� A osteoporose é uma doença de evolução clínica silenciosa, na qual os sintomas só aparecem após a ocorrência de uma fratura. No entanto, a maioria das fraturas cursa de forma assintomática e muitas vezes acabam sendo um achado incidental em radiografias de tórax e abdômen. A fratura vertebral é a manifestação clínica mais comum da osteoporose. Embora a maioria seja assintomática, as que promovem quadro de dor, também cursam com redução na altura do paciente e cifose. A fratura de quadril também é bastante comum na osteoporose e, em geral, decorre de queda, podendo estar localizada em região de colo ou região transtrocantérica. A fratura do rádio distal (fraturas de Colles) é mais comum em mulheres logo após a menopausa, geralmente, decorrente de queda sobre a mão. Diagn�stic� Densitometria óssea (DMO): A DMO é um exame radiográfico que tem como objetivo avaliar a densidade mineral óssea. Indicações para DMO, segundo a Associação Brasileira de Avaliação Óssea e Osteometabolismo (ABRASSO): • Mulheres com idade ≥ 65 anos e homens com idade ≥ 70 anos. • Adultos com antecedente de fratura por fragilidade, condição clínica ou uso de medicamentos associados à baixa massa óssea ou perda óssea . • Indivíduos em tratamento para osteoporose, para monitoramento de sua eficácia. • Mulheres na pós-menopausa ou na transição menopausal e homens acima de 50 anos, com fatores de risco. • Indivíduos para os quais são consideradas intervenções farmacológicas para osteoporose. • Indivíduos que não estejam sob tratamento, porém nos quais a identificação de perda de massa óssea possa determinar a indicação do tratamento. Para o diagnóstico de osteoporose em pacientes adultos, as posições oficiais da ABRASSO recomendam a densitometria dos sítios esqueléticos da coluna lombar (região de interesse: L1-L4) e fêmur proximal (regiões de interesse: colo femoral e fêmur total), podendo ser complementada com a medida do antebraço distal (região de interesse: rádio 33%, também designada rádio 1/3). T-SCORE em Desvio-padrão (DP): Os limiares de escore T não devem ser aplicados a medições obtidas em mulheres na pré-menopausa ou em homens com idade inferior a 50 anos. Nessas situações, o escore Z correspondente deve ser relatado e não pode ser usado isoladamente para diagnosticar a osteoporose. A classificação diagnóstica para esses pacientes deve ser: um escore Z igual ou inferior a -2,0 DP é definido como “abaixo da faixa esperada para a idade”, e um escore Z acima de -2,0 DP deve ser classificado como “dentro dos limites esperados para a idade”. A principal limitação à avaliação pela densidade óssea é que a maior parte das fraturas ocorre em indivíduos com escore T que não preenche critérios para osteoporose (< -2,5 DP). Assim, a densitometria óssea acaba tendo baixa sensibilidade quando utilizada isoladamente. Com o auxílio do FRAX pode-se ter uma melhor acurácia clínica do paciente, com os possíveis riscos futuros para fratura. O FRAX é um algoritmo que usa uma combinação de fatores de risco associados ou não à densidade óssea do colo do fêmur e fornece a probabilidade de fraturas maiores (fêmur, fratura vertebral clínica, úmero ou punho) ou, simplesmente, fratura de fêmur, em homens e mulheres, nos próximos 10 anos. Indicações para rastreamento de fratura (por RX): • Mulheres acima de 70 anos e homens acima de 80 anos com escore T ≤ 1,0. CRISTOVÃO JÚNIOR | REUMATOLOGIA | MEDICINA • Mulheres na pós-menopausa e homens acima de 50 anos com fatores de risco específicos. - Redução da estatura de 4 cm ou mais desde o pico de altura. - Redução da estatura de 2 cm ou mais desde o início do acompanhamento clínico. - Uso crônico de corticoide. - Antecedente de fratura por trauma de baixa energia. Classificação de fratura vertebral por análise semiquantitativa de Genant: Solicita-se exames laboratoriais para identificar causas secundárias, excluir outros diagnósticos e determinar se há contraindicações ao tratamento. Tratament� Não farmacológico - Orientar dieta com alimentos fontes de cálcio e vitamina D. - Orientar banhos de sol (fonte importante de vitamina D). - Orientar a cessação do tabagismo, se presente. - Limitar o consumo de álcool. - Prevenção de quedas. - Recomendar exercícios físicos de baixo impacto, levando-se em consideração o condicionamento físico e risco de fratura do paciente. - Suplementação de Cálcio e Vitamina D, se necessário. Farmacológico Bifosfonatos: Induzem a apoptose de osteoclastos. Bifosfonatos são contraindicados durante a gravidez e a lactação. Denosumabe (60 mg SC a cada 6 meses): Anticorpo monoclonal contra RANKL. O denosumabe pode ser utilizado em pacientes com disfunção renal, uma vez que não há metabolização do medicamento pelos rins, e em metástases ósseas. Se o denosumabe for suspenso, um bisfosfonato (preferencialmente alendronato) deve ser prescrito, devido ao risco elevado de fratura vertebral com a suspensão da mesma. Raloxifeno: Esta medicação liga-se ao receptor estrogênico com alta afinidade e exerce tanto efeito agonista (metabolismos lipídico e ósseo) quanto antagonista (mama) em relação aos estrógenos, de maneira tecido-específica. Terapia hormonal (TH): Normalmente consiste em estrógeno e progesterona em mulheres na pós-menopausa com o útero, e só estrógeno em mulheres histerectomizadas. Teriparatida (PTH 1-34 recombinante humano): A secreção contínua de paratormônio (PTH) leva a uma resposta catabólica no esqueleto, o que é demonstrado pelo modelo de hiperparatireoidismo primário grave. No entanto, se o paratormônio é administrado em dose baixa e de modo intermitente, observa-se uma propriedade anabólica, principalmente em osso trabecular. Artrit� Reumatóid� (AR) Definiçã� Doença inflamatória sistêmica, autoimune, crônica e progressiva que acomete, preferencialmente, pequenas articulações, podendo acarretar destruição óssea e cartilaginosa. Epidemiologi� - Mais frequente na faixa etária entre 30 e 50 anos. - 2x mais comum em mulheres do que em homens. - A prevalência aumenta com a idade. - Após os 65 anos a diferença de incidência entre os sexos diminui. Fatore� d� risc� - Genética: HLA-DRB1 e PTPN22.- Tabagismo. - Etilismo. - Sedentarismo. - Obesidade. CRISTOVÃO JÚNIOR | REUMATOLOGIA | MEDICINA - Fatores hormonais e reprodutivos. - Patógenos na cavidade oral: P. gingivalis. - Disbiose (quebra da tolerância imunológica). - Vírus: Chikungunya, Parvovírus B19, Hepatite B e C, rubéola. - Exposição a inalantes, por exemplo a sílica. - Fatores psicológicos (ex.: estresse pós-traumático). ACPA: anticorpos contra proteínas/peptídeos citrulinados; CXCL8: quimiocina C-X-C motif chemokine ligand 8; IL: interleucina; MMP: metaloproteinases; NET: armadilhas extracelulares dos neutrófilos; TNF: fator de necrose tumoral. Classificaçã� Fisiopatologi� Quadr� clínic� Dor, edema e rigidez articular (com limitação de movimento). Sintomas constitucionais: Fadiga, perda de peso, astenia, febre e mialgia. Articulações mais envolvidas: Mãos: Acomete, principalmente, as metacarpofalangeanas (MCF) e as interfalangeanas proximais (IFP), poupando as interfalangeanas distais (IFD). Com a progressão da doença, a frouxidão das articulações MCF dá origem ao desvio ulnar dos dedos. Além disso, podem surgir deformidades como o “pescoço de cisne” (hiperextensão da IFP e flexão da IFD) e o “dedo em botoeira” (hiperflexão da IFP e extensão da IFD). Deformidade em “pescoço de cisne”. Deformidade em “botoeira”. Desvio ulnar. Punhos: Dificuldade na flexão e extensão do punho. O acometimento do punho juntamente com as MCF pode levar a deformidade em “dorso de camelo”. Além disso, o espessamento da sinóvia pode levar a compressão do nervo mediano contra o ligamento transverso do carpo, caracterizando a “síndrome do túnel do carpo”, doença que cursa com parestesia do polegar, segundo e terceiro dedos, e metade radial do quarto dedo. Os sintomas da síndrome podem ser precipitados pelas manobras de tinel e phalen. CRISTOVÃO JÚNIOR | REUMATOLOGIA | MEDICINA Deformidade em “dorso de camelo”. Cotovelos: Dificuldade em realizar o movimento de extensão do antebraço, permanecendo o paciente em flexão do cotovelo (posição antálgica). Mais raramente, pode haver encarceramento dos nervos ulnar e radial, determinando mononeuropatias periféricas de tipo “compressivo” (ex.: ulnar = “mão em garra”; radial = “mão caída”). Ombros: Tende a ser acometido tardiamente. Cursa com dor, limitação, podendo apresentar grandes cistos sinoviais. Joelhos: São frequentemente comprometidos na AR e leva a dificuldade em realizar a flexão do joelho. O derrame articular pode ser comum e percebido pela compressão da patela com o paciente em decúbito dorsal (sinal da tecla). A membrana sinovial edemaciada pode invadir os planos musculares da panturrilha, o que caracteriza o cisto de baker. Tal achado pode ser confundido com TVP, sendo o USG-doppler um ótima opção para descartar o segundo. Pés e tornozelos: O envolvimento do pé, em especial das metatarsofalangeanas (MTF) é comum no início da doença. O quinto MTF é mais comumente acometido, e o edema dessa articulação pode ser facilmente observado no exame físico. Quadris: Acometimento comum, cursa com dor e limitação à movimentação do quadril. Coluna cervical: Atlanto-axial (C1-C2). Os sintomas mais comuns são dor e rigidez no pescoço. Na ocorrência de subluxação da articulação, ocorre compressão da medula espinal, o que leva a quadro clínico mais grave. Articulação temporomandibular: Frequente. Pode cursar com cefaleia, dor referida no ouvido e dificuldade de mastigação. Articulação cricoaritenóidea: Rara. Pode cursar com dor local, disfonia e dor à deglutição. Articulação esternoclavicular: Quando acometida, cursa com dor e edema. Manifestações extra-articulares: Cutâneas: Nódulos subcutâneos: Surgem, comumente, nas regiões extensoras de cotovelos, mãos, pés e calcâneo. Podem surgir, também, em localizações internas, a exemplo da pleura. Púrpura palpável, úlcera isquêmica e equimoses são menos frequentes. Oculares: Episclerite, Esclerite -> Escleromalácia perfurante. Pulmonares: Pleurite, Derrame Pleural, Nódulos subcutâneos, Fibrose intersticial difusa, Bronquiolite Obliterante com Organização Pneumônica (condição rara), Síndrome de Caplan (Nódulos subcutâneos + Pneumoconiose) Cardíacas: Pericardite, miosite, endocardite. Acometimento da aorta, com aortite envolvendo segmentos da aorta, aneurismas e insuficiência aórtica por dilatação do anel valvar. Gastrointestinais: Ex.: Vasculite -> isquemia mesentérica. Renais: Glomerulonefrite mesangial. Hematológicas: Anemia hipocrômica e microcítica com ferritina sérica reduzida (fisiopatologia incerta). Neurológicas: Mielopatia cervical, neuropatias compressivas periféricas (túnel do carpo, canal de Guyon, túnel do tarso). Psiquiátricas: Depressão. Osteometabólicas: Osteopenia e osteoporose. Diagn�stic� Exames complementares: Laboratoriais: - VHS, PCR, FR e Anti-CCP. Imagem: - Rx: Nas fases iniciais, observam-se tumefação de partes moles e osteopenia periarticular. Na evolução, erosões ósseas marginais e redução do espaço articular (degradação da cartilagem) podem ocorrer e são associadas com o desenvolvimento de deformidades e perda funcional.(1) a estimar a extensão da doença; (2) a monitorar o efeito do tratamento; e (3) a avaliar a necessidade de cirurgia em casos selecionados. - Ultrassom com doppler: Importante para o diagnóstico quanto para o monitoramento da atividade inflamatória da doença e dos sinais de dano articular. - RMN: Método muito sensível para demonstrar alterações sugestivas de AR, como edema ósseo, tenossinovite, erosões e dano da cartilagem. Critérios diagnósticos Pontuação maior ou igual a 6 é necessária para que o paciente receba o diagnóstico de AR. Consideram-se, para fins de classificação, como pequenas articulações as MCF, IFP, MTF (2º a 5º), primeira interfalangeana e punhos, e como grandes articulações ombros, cotovelos, quadril, joelhos, tornozelos. Articulações adicionais: temporomandibular, esternoclavicular, acromioclavicular, entre outras, podem ser contadas, na avaliação de “mais de 10 articulações”, desde que uma pequena articulação (ao menos) esteja acometida. Tratament� O tratamento da AR deve incluir a educação dos pacientes e familiares sobre a doença, o uso de medicamentos específicos, terapias físicas (fisioterapia, terapia ocupacional) e, quando necessário, infiltrações intra-articulares e procedimentos cirúrgicos. O uso de medicamentos modificadores do curso da CRISTOVÃO JÚNIOR | REUMATOLOGIA | MEDICINA doença (MMCD) deve ser prescrito o mais precocemente possível, logo que estabelecido o diagnóstico. Medicamentos modificadores do curso da doença (MMCDs): Metotrexate (MTX). Principais efeitos adversos: estomatite (mucosite), intolerância gastrointestinal, hepatotoxicidade (incluindo fibrose hepática), nefrotoxicidade (em altas doses), pneumonite por hipersensibilidade e mielotoxicidade. Aumenta o risco para infecções por herpes-zóster. O MTX é contraindicado na gravidez (teratogênico). Hemograma, hepatograma e função renal devem ser monitorados a cada 2-3 meses. Posologia: 7,5 mg/semana com incrementos semanais de 2,5 mg, caso não haja resposta após quatro semanas. A dose máxima é de 25 mg por semana. Leflunomida (LFN). Principais efeitos adversos: Diarréia, alopécia, leucopenia, hepatotoxicidade, HAS e neuropatia periférica. Assim como no caso do MTX, antes de se iniciar o tratamento é recomendável avaliar a presença de infecção por HBV e HCV, além de solicitar hemograma, hepatograma e função renal. O monitoramento laboratorial também é feito a cada 2-3 meses. Posologia: 10-20 mg/dia VO. Hidroxicloroquina e cloroquina. Sulfassalazina (SSZ). Os efeitos adversos mais comuns são: hipersensibilidade à sulfa, cefaleia e intolerância gastrointestinal. O hemograma deve ser monitorado a cada 2-4 semanas, nos primeiros três meses de tratamento, devendo ser revisto a cada três meses daí em diante. Posologia: 0,5-3 g/dia (dividida em duas tomadas), pela via oral. MMCDs Biológicas: - Anti-TNF. O grande efeito adverso dos agentes anti-TNF-alfa é o surgimento de infecções oportunistas, com destaque para infecçõesfúngicas invasivas e, principalmente, reativação da tuberculose latente. Em vista desta última possibilidade, é mandatório submeter o paciente à prova tuberculínica (antigo “PPD”) antes de começar o tratamento. Diante de uma PT > 5 mm devemos: (1) investigar a presença de TB “ativa”; (2) tratar a TB ativa se for o caso; (3) em pacientes sem indícios de TB ativa, tratar a ILTB (Infecção Latente por Tuberculose) com isoniazida por seis meses. Tratamento cirúrgico: Em portadores de AR avançada, que apresentam dor articular intratável ou deformidades incapacitantes, a cirurgia pode trazer grandes benefícios. A sinovectomia e a tenossinovectomia, com ressecção de proeminências ósseas potencialmente lesivas aos tendões, são indicadas com o intuito de aliviar a dor articular intratável nas articulações do punho, cotovelo e metacarpofalangeanas. A artrodese (fusão articular) é indicada para corrigir a subluxação atlantoaxial grave, bem como para aliviar a dor e/ou proporcionar estabilidade em articulações como punho, metatarsofalangianas, talocrural e talocalcaneonavicular. Progn�stic� Os principais fatores de pior prognóstico são: (1) mais de 20 articulações acometidas; (2) aumento importante da VHS; (3) erosões ósseas na radiografia; (4) presença de nódulos reumatoides; (5) altos títulos de FR e anti-CCP; (6) inflamação persistente; (7) idade avançada no início da doença; e (8) presença de alelos do HLA que contêm o “epítopo compartilhado” (principalmente no gene HLA-DRB1). A esperança de vida tende a se reduzir em 3-7 anos na vigência de AR, e a principal causa de morte, atualmente, são as doenças cardiovasculares Espondiloartrite� (Epa�) Definiçã� Grupo de doenças inflamatórias que apresentam características clínicas comuns, como comprometimento inflamatório axial (espondilite e sacroiliíte), artrite periférica oligoarticular, dactilite, entesite e manifestações extra-articulares (uveíte, doença inflamatória intestinal e psoríase). Classificaçã� - Predominantemente Axial: - Espondilite axial -> Fase inicial -> Sem alterações no RX simples de sacroilíacas (Espondilite não radiográfica). - Espondilite radiográfica ou Espondilite anquilosante -> Presença de alterações no RX simples de sacroilíacas. - Predominantemente Periféricas: - Artrite psoriática - Artrite reativa (ARe) - Artrite enteropática -> DII - Artrite indiferenciada -> Em geral progride para ARe Fisiopatologi� - Etiologia não totalmente compreendida. - Associação de fatores genéticos, ambientais e imunológicos. CRISTOVÃO JÚNIOR | REUMATOLOGIA | MEDICINA Manifestaçõe� clínica� - Principais: sacroileíte, entesite e sinovite, associadas ou não à espondilite/espondilodiscite. - Axiais: Dor lombar inflamatória é o sintoma mais frequente. A rigidez matinal é outra característica importante, podendo durar até 3 horas. - Periféricas: Principais locais de entesite. Sistêmicas: Uveíte anterior, psoríase, DII. Exames complementares: - RX - RX normal + forte suspeita clínica -> RM - Laboratório: PCR + VHS; HLA-B27 1. Espondilit� Anquil�ant� (EA) Definiçã� “Espôndilo” significa vértebra e “anquilose” significa fusão. Assim, o termo espondilite anquilosante traduz inflamação + fusão vertebral. Entretanto, apesar dessa característica, a fusão da coluna vertebral surge apenas em estados avançados da doença. Acomete a articulação de forma simétrica. Epidemiologi� - Homens (3:1 mulher); - Idade inferior a 40 anos; - Mais frequente na população caucasiana; Critéri�� d� NY modificad�� (1994) Manifestaçõe� extr�-a�ticulare� - Uveíte anterior aguda; - Fibrose bolhosa dos lobos superiores; - Insuficiência aórtica; - Distúrbios de condução cardíaca; - Amiloidose; - Nefropatia por IgA; - Deslocamento e fraturas de coluna cervical; - DII; Avaliaçã� clínic� d� capacidad� funciona� Teste de Schober: Com o paciente de pé marca-se a apófise espinhosa da 5ª vértebra lombar e traça-se outra marca horizontal 10 cm acima dela. Solicita-se então que o paciente faça uma flexão da coluna. Em condições normais, as duas marcas devem ficar a mais de 15 cm de distância (aumento de 5 cm ou mais da distância na posição ereta). Aumentos inferiores a 4 cm indicam comprometimento funcional da coluna lombar. Flexão lombar lateral; Rotação cervical; Distância tragus-parede: Distância intermaleolar; Tratament� Não medicamentoso: - Fisioterapia; - Exercícios físicos regulares; - Cessar tabagismo, se presente; Medicamentoso: AINES (1º linha) SSZ 2 a 3g/dia -> Predominante axial. Podendo associar AINE + SSZ, se necessário MTX 15 mg/sem -> Predominantemente periférico. Podendo associar AINE + MTX, se necessário. Anti-TNF (infliximabe, etanercepte, adalimumabe ou golimumabe) estão indicados diante de doença ativa e grave, além de falha terapêutica com o uso de pelo menos dois AINE ou, no caso de artrite periférica, falha com sulfassalazina (ou CRISTOVÃO JÚNIOR | REUMATOLOGIA | MEDICINA metotrexato). Os inibidores de IL-17 (IL-17i), secuquinumabe e exizequizumabe, podem ser utilizados quando da falha de um anti-TNF ou ainda como primeira opção em caso de contraindicação ou intolerância ao uso dos anti-TNFs. 2. Artrit� psoriásic� Definiçã� Condição inflamatória crônica sistêmica e recorrente caracterizada por hiperplasia da epiderme e estimulação imune inapropriada, decorrente de fatores ambientais e genéticos ainda não totalmente determinados, que atinge a pele, mucosas, fâneros e articulações, podendo se acompanhar de síndrome metabólica, depressão, ansiedade e outros comemorativos sistêmicos. As lesões cutâneas características são placas eritematosas, descamativas, bem delimitadas, pruriginosas em ⅔ dos pacientes, localizadas na face extensora dos membros, no tronco, nas nádegas e no couro cabeludo. Epidemiologi� - Mais comum na raça branca. - Homens e mulheres são igualmente acometidos. - Pode surgir em qualquer época da vida, em especial entre os 20 e 30 anos e entre os 50 e 60 anos de idade. Aproximadamente 10 a 30% dos pacientes desenvolvem artrite psoriásica (APs), e esta pode ocorrer em qualquer das formas clínicas de psoríase (placas, invertida, pustulosa, eritrodérmica e, muito raramente, gutata). A idade de início da APs é em torno dos 40 anos, mas as formas graves podem ter início precoce. Fatore� preditiv�� par� � surgiment� da� manifestaçõe� a�ticulare�: - Duração da doença (média de 11 anos); - Envolvimento cutâneo extenso; - Comprometimento do couro cabeludo; - Comprometimento do sulco interglúteo e das regiões perianais; - Comprometimento ungueal; - História familial para APs; - Uso de corticosteróides (CE); - Fatores ambientais: traumas físicos, infecções (HIV, hepatite C) e obesidade; Psoríase em placas (lesões eritematoescamosas) na face extensora dos membros inferiores. Psoríase periungueal (lesões eritematoescamosas) e ungueal (onicólise, ceratose subungueal e manchas de óleo). Quadr� clínic� - Artrite oligoarticular assimétrica. - Poliartrite simétrica. - Artrite com envolvimento predominante das IFD. - Artrite mutilante. - Doença axial predominante. Dactilite, também chamada de “dedo em salsicha”, pode ocorrer em mãos e pés e se caracteriza pelo edema difuso de toda a extensão do dedo. Encurtamento do terceiro quirodáctilo – telescopagem digital (Artrite mutilante). Diagn�stic� Tratament� Artrite periférica: AINE + infiltração de corticosteróides (se necessário). MTX 15 a 25 mg/sem ou LFN 20 mg/dia (Em caso de falha, contraindicação de AINES ou artrite moderada/grave). Anti-TNF ou IL-17i ou inibidores IL-12/IL-23 (IL-12/IL-23i) (Se presentes fatores de mau prognóstico e/ou a doença permanecer ativa com o esquema anterior). Doença axial: AINE. CRISTOVÃO JÚNIOR | REUMATOLOGIA | MEDICINA Anti-TNF ou IL-17i ou IL-12/IL-23i (formas moderada/grave). Entesites e dactilites: AINE, se contraindicado utilizar MTX ou LFN, ou Anti-TNF ou IL-17i ou IL-12/IL-23i. 3. Artrit� Reativ� (AR�) Etiopatogeni� Infecção prévia urogenital e intestinal. Principais agentes: Chlamydia trachomatis e pneumoniae, Campylobacter jejuni, fetuse lari, Clostridium difficile, Salmonella typhimurium e enteritidis, Shigella flexneri e sonnei e Yersinia enterocolitica. Sistema imune inato ineficaz no reconhecimento de patógenos ou de células infectadas. Baixa resposta Th1 e TLR-4. Produção de anticorpos contra proteínas de estresse. Manifestaçõe� clínica� Sintomas surgem de 1 a 4 semanas após o evento infeccioso. Sintomas gerais inespecíficos: mal-estar, febre baixa e fadiga. Manifestações musculoesqueléticas: - Oligoartrite, periférica e assimétrica (mais comum). - Acomete mais comumente MMII. - Entesite de predomínio no MMII (tendão do calcâneo). - Dactilite. Manifestações mucocutâneas: - Ceratodermia blenorrágica ou pustulose palmoplantar. - Balanite circinada. - Úlceras orais indolores e autolimitadas. - Alterações ungueais similares a lesões psoriásicas. Manifestações genitourinárias: Uretrite (caracterizada por queimação ao urinar, associada a secreção mucóide discreta). Manifestações oculares: Conjuntivite, episclerite, ceratite e úlcera de córnea. Acometimento cardíaco, como distúrbios de condução e insuficiência aórtica. Glomerulonefrites e nefropatias IgA relacionadas, embora raras, também podem ocorrer. Diagn�stic� - Clínico. - Laboratorial: Hemograma, PCR e VHS. Tratament� AINE (dose plena) - 1º escolha. CO intra-articular (tendinite e entesite). Antibiótico para pacientes em vigência de infecção. SSZ 500 mg até 3g/dia (para pacientes que não responderam aos tratamentos anteriores). Anti-TNF (pacientes que não responderam a AINE + CO intra-articular + SSZ). CRISTOVÃO JÚNIOR | REUMATOLOGIA | MEDICINA
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