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Ana Maria Godoy Luci Carlos de Andrade A n a M ar ia G o d oy Lu ci C ar lo s d e A n d ra d e A Gestão Pedagógica, Planejamento e Avaliação EducacionalA G es tã o P ed ag óg ica , P la nej am ent o e A va lia çã o E du ca cio an al 1a Edição / Novembro/ 2012 Impressão em São Paulo - SP Ana Maria Godoy Luci Carlos de Andrade A Gestão Pedagógica, Planejamento e Avaliação Educacional Catalogação elaborada por Glaucy dos Santos Silva - CRB8/6353 A Gestão Pedagógica, Planejamento e Avaliação Educacional Coordenação Geral Nelson Boni Coordenação de Projetos Leandro Lousada Professores Responsáveis Ana Maria Godoy Luci Carlos de Andrade Projeto Gráfico, Capa e Diagramação Vitor Bioni Bertollini Revisão Ortográfica Vanessa Almeida Coordenadora Pedagógica de Cursos EaD Esp. Maria de Lourdes Araujo 1ª Edição: Novembro de 2012 Impressão em São Paulo/SP Copyright © EaD KnowHow 2012 Nenhuma parte dessa publicação pode ser reproduzida por qualquer meio sem a prévia autorização desta instituição. G588g Godoy, Ana Maria. A gestão pedagógica, planejamento e avaliação educacional / Ana Maria Godoy, Luci Carlos de Andrade. – São Paulo : Know How, 2012. 257 p. : 21 cm. Inclui bibliografia 1.Supervisão escolar. 2. Gestão pedagógica. 3. Avaliação- educacional. 4. Orientação escolar. I. Andrade, Luci Carlos de. II. Título CDD 371.2 Apresentação Caro Acadêmico, O material que ora lhe é apresentado foi preparado com muita dedicação para que da me- lhor maneira possível o conteúdo chegasse a suas mãos de forma clara e objetiva. Dúvidas deverão surgir a todo o instante e é importante que isto ocorra, pois somente a partir destas que se con- segue avançar. Sem dúvidas não há aprendizado e sem aprendizado não se constrói o conhecimento. Há um ditado chinês que diz que, “se dois ho- mens vêm andando por uma estrada, cada um carregando um pão, e, ao se encontrarem, eles trocam os pães, cada homem vai embora com um; porém, se dois homens vêm andando por uma estrada, cada um carregando uma idéia e, ao se encontrarem, eles trocam as idéias, cada ho- mem vai embora com duas”. Quem sabe é esse mesmo o sentido do nosso fazer: repartir idéias, para todos terem pão... (Cortella, 1998:159). A Educação, portanto, dada sua comple- xidade e crescente ampliação, já não é vista como responsabilidade exclusiva da escola. A própria sociedade, embora muitas vezes não tenha bem claro de que tipo de educação seus jovens neces- sitam, já não está mais indiferente ao que ocorre nos estabelecimentos de ensino. Não apenas exi- ge que a escola seja competente e demonstre ao público essa competência, com bons resultados de aprendizagem pelos seus alunos e bom uso de seus recursos, como também começa a se dispor a contribuir para a realização desse processo, as- sim como a decidir sobre os mesmos. PLANO DE ESTUDO CAPÍTULO I Plano Nacional de Educação - Objetivo e Prioridades CAPÍTULO II Aspectos históricos da teoria do Currículo CAPÍTULO III O Planejamento: Princípios CAPÍTULO IV As Competências para ensinar CAPÍTULO V A Supervisão Escolar e a Orientação Educacional CAPÍTULO VI O processo político pedagógico da educação BIBLIOGRAFIA GABARITO 227 253 259 195 173 119 43 11 9 Sumário 9 Ementa O trabalho pedagógico na escola: di- mensão política e técnica da educação infantil e do ensino fundamental; a relação entre o ensi- nar e o aprender; competências de ensinar (me- todologia do ensino e da aprendizagem); plano de ensino, plano de aula; avaliação, classificação e frequência, a recuperação paralela; a indisci- plina escolar; conselhos de classe. Articulação do trabalho pedagógico na escola; articulação dos processos indissociáveis de cuidar/educar; articulação do trabalho pedagógico entre pro- fessores, alunos, família e comunidade. Plano de Estudos 11 Caro Aluno, Seja bem-vindo Nesta primeira unidade, você verá o his- tórico, os objetivos, as metas e as prioridades da Educação Infantil, e do Ensino Fundamental, que estão presentes no Plano Nacional de Edu- cação. Estudaremos a importância do planeja- mento no cotidiano das pessoas, sua utilidade e a necessidade que o ser humano tem de or- ganizar suas atividades pessoais e profissionais como meta para a realização e eficiência na tra- jetória de vida.B Bons estudos! Plano Nacional de Educação - Objetivo e Prioridades UNIDADE I 13 1. Histórico Em 1932, um grupo de educadores lan- çou um manifesto ao povo e ao governo que fi- cou conhecido como “Manifesto dos Pioneiros da Educação”. Propunha a reconstrução educa- cional, “de grande alcance e de vastas propor- ções... um plano com sentido unitário e de bases científicas...”. O documento teve grande reper- cussão e motivou uma campanha que resultou na inclusão de um artigo específico na Constitui- ção Brasileira de 16 de julho de 1934. O art.150 declara ser competência da União “fixar o plano nacional de educação, compreensivo do ensino de todos os graus e ramos, comuns e especia- lizados; e coordenar e fiscalizar a sua execução, em todo o território do País”. Atribuía, em seu art.152, competência precípua ao Conselho Na- cional de Educação, organizado na forma da lei, a elaborar o plano para ser aprovado pelo Poder Legislativo, sugerindo ao Governo as medidas que julgasse necessárias para a melhor solução dos problemas educacionais, bem como a distri- buição adequada de fundos especiais. Todas as constituições posteriores, 14 com exceção da Carta de 37, incorporaram, implícita ou explicitamente, a ideia de um Pla- no Nacional de Educação. Havia subjacente, o consenso de que o plano devia ser fixado por lei. A ideia prosperou e nunca mais foi inteira- mente abandonada. O primeiro Plano Nacional de Educa- ção surgiu em 1962, elaborado já na vigência da primeira Lei de Diretrizes e Bases da educação Nacional, Lei nº 4.024, de 1961. Ele não foi pro- posto na forma de um projeto lei, mas apenas como uma iniciativa do Ministério da Educação e Cultura, iniciativa essa aprovada pelo então Conselho Federal de educação. Era basicamen- te um conjunto de metas quantitativas a serem alcançadas num prazo de oito anos. Em 1965, sofreu uma revisão quando foram introduzidas normas descentralizadas e estimuladoras da ela- boração de planos estaduais. Em 1966, uma nova revisão, que se chamou Plano Complementar de Educação, introduziu importantes alterações na distribuição dos recursos federais, beneficiando a implantação de ginásios orientados para o tra- balho e o atendimento de analfabetos com mais de dez anos. A ideia de uma lei ressurgiu em 1967, 15 novamente proposta pelo Ministério da Educa- ção e Cultura e discutida em quatro Encontros Nacionais de Planejamento, sem que a iniciativa chegasse a se concretizar. Com a Constituição Federal de 1988, cin- quenta anos após a primeira tentativa oficial, res- surgiu a ideia de um plano nacional de longo pra- zo, com força de lei, capaz de conferir estabilidade às iniciativas governamentais na área de educação. O art. 214 contempla esta obrigatoriedade. Por outro lado, a Lei nº 9.394, de 1996, que “estabelece as Diretrizes e Bases da Educa- ção Nacional”, determina nos artigos 9º e 87, respectivamente, que cabe à União, a elaboração do Plano, em colaboração com os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, e institui a Dé- cada da Educação. Estabelece ainda, que a União encaminhe o Plano ao Congresso Nacional, um ano após a publicação da citada lei, com dire- trizes e metas para os dez anos posteriores, em sintonia com a Declaração Mundial sobre Edu- cação para Todos. Em 10 de fevereiro de 1998, foi apre- sentado ao Plenário da Câmara dos Deputados o Projeto Lei nº 4.155 de 1998 que “aprova o Plano Nacional da Educação”. A construção 16 deste plano atendeuaos compromissos assumi- dos pelo Fórum Nacional em Defesa da Escola Pública, desde sua participação nos trabalhos da Assembleia Nacional Constituinte, consolidou os trabalhos do I e do II Congresso Nacional de Educação – CONED e sistematizou contri- buições advindas de diferentes segmentos da sociedade civil. Na justificação, destaca o Autor a importância desse documento-referência que “contempla dimensões e problemas sociais, cul- turais, políticos e educacionais brasileiros, emba- sado nas lutas e proposições daqueles que defen- dem uma sociedade mais justa e igualitária”. Em 11 de fevereiro de 1998, o Poder Executivo enviou ao Congresso Nacional a Mensagem 180/98, relativa ao projeto de lei que “Institui o Plano Nacional de Educação”. Ini- ciou sua tramitação na Câmara dos Deputados como Projeto de Lei nº4. 173, de 1998, apensado ao PL n.º 4.155/98, em 13 de março de 1998. Na Exposição de Motivos destaca o Ministro da Educação a concepção do Plano, que teve como eixos norteadores, do ponto de vista legal, a Constituição Federal de 1988, a Lei de Dire- trizes e Bases da Educação Nacional, de 1996, e a Emenda Constitucional nº 14,de 1995, que 17 instituiu o Fundo de Manutenção e Desenvol- vimento do Ensino Fundamental e de Valoriza- ção do Magistério. Considerou ainda realizações anteriores, principalmente o Plano Decenal de Educação para Todos, preparado de acordo com as recomendações da reunião organizada pela UNESCO e realizada em Jomtien, na Tailândia, em 1993. Além deste, os documentos resultan- tes de ampla mobilização regional e nacional que foram apresentados pelo Brasil nas conferências da UNESCO constituíram subsídios igualmente importantes para a preparação do documento. Várias entidades foram consultadas pelo MEC, destacando-se o Conselho Nacional de Secre- tários de Educação - CONSED e a União Na- cional dos Dirigentes Municipais de Educação – UNDIME. • Objetivos Em síntese, o Plano tem como objetivos: • A elevação global do nível de escolaridade da população; • A melhoria da qualidade do ensino em todos os níveis; • A redução das desigualdades sociais e regionais 18 no tocante ao acesso e à permanência, com su- cesso, na educação pública; A democratização da gestão do ensino pú- blico, nos estabelecimentos oficiais, obedecendo aos princípios da participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto pedagógico da escola e a participação das comunidades escolar e local em conselhos escolares ou equivalentes. • Prioridades - Garantia do ensino fundamental obrigatório de nove anos a todas as crianças de 6 a 14 anos, assegurando o seu ingresso e permanência na es- cola e a conclusão desse ensino; - Garantia de ensino fundamental a todos os que a ele não tiveram acesso na idade própria ou que não o concluíram; - Ampliação do atendimento nos demais níveis de ensino; - Valorização dos profissionais da educação; - Desenvolvimento de sistemas de informação e de avaliação em todos os níveis e modalidades de ensino. Este Plano Nacional de Educação defi- ne, por conseguinte: 19 • As diretrizes para a gestão e o financiamento da educação; • As diretrizes e metas para cada nível e modali- dade de ensino e • As diretrizes e metas para a formação e valo- rização do magistério e demais profissionais da educação, nos próximos dez anos. Tratando-se de metas gerais para o con- junto da Nação, será preciso, como desdobramen- to, adequação às especificidades locais e definição de estratégias adequadas, a cada circunstância, ela- boração de planos estaduais e municipais. EDUCAÇÃO INFANTIL Diagnóstico [...] No Brasil, a educação das crianças me- nores de sete anos tem uma história de cento e cinquenta anos. Seu crescimento, no entanto, deu-se principalmente a partir dos anos 70 deste século e foi mais acelerado até 1993. Em 1998, estava presente em 5.320 municípios, que corres- pondem a 96,6% do total. A mobilização de or- 20 ganizações da sociedade civil, decisões políticas e programas governamentais têm sido meios efi- cazes de expansão das matrículas e de aumento da consciência social sobre o direito, a importân- cia e a necessidade da educação infantil. [...] Por determinação da LDB, as creches atenderão crianças de zero a três anos, ficando a faixa de 4 a 5 para a pré-escola, e deverão ado- tar objetivos educacionais, transformando-se em instituições de educação, segundo as diretrizes curriculares nacionais emanadas do Conselho nacional de Educação. Essa determinação se- gue a melhor pedagogia, porque é nessa idade, precisamente, que os estímulos educativos têm maior poder de influência sobre a formação da personalidade e o desenvolvimento da criança. Trata-se de um tempo que não pode estar des- curado ou mal orientado. Esse é um dos temas importantes para o PNE. Objetivos e Metas 1. Ampliar a oferta de educação infantil de for- ma a atender, em cinco anos, a 30% da popula- ção de até 3 anos de idade e 60% da população 21 de 4 a 6 anos (ou 4 e 5 anos) e, até o final da década, alcançar a meta de 50% das crianças de 0 a 3 anos e 80% das de 4 e 5 anos. 2. Elaborar, no prazo de um ano, padrões mí- nimos de infraestrutura para o funcionamento adequado das instituições de educação infantil (creches e pré-escolas) públicas e privadas, que, respeitando as diversidades regionais, assegurem o atendimento das características das distintas faixas etárias e das necessidades do processo educativo quanto a: a) espaço interno, com iluminação, insola- ção, ventilação, visão para o espaço externo, rede elétrica e segurança, água potável, esgo- tamento sanitário; b) instalações sanitárias e para a higiene pes- soal das crianças; c) instalações para preparo e/ou serviço de alimentação; d) ambiente interno e externo para o de- senvolvimento das atividades, conforme as diretrizes curriculares e a metodologia da educação infantil, incluindo o repouso, a ex- pressão livre, o movimento e o brinquedo; e) mobiliários equipamentos e materiais pe- 22 dagógicos; f) adequação às características das crianças especiais. 3. A partir do segundo ano deste plano, somente autorizar construção e funcionamento de insti- tuições de educação infantil, públicas ou priva- das, que atendam aos requisitos de infraestrutu- ral definidos no item anterior. 4. Adaptar os prédios de educação infantil de sorte que, em cinco anos, todos, estejam confor- mes aos padrões mínimos de infraestrutura esta- belecidos [...]. ENSINO FUNDAMENTAL De acordo com a Constituição Brasileira, o ensino fundamental é obrigatório e gratuito. O art.208 preconiza a garantia de sua oferta, inclu- sive para todos os que a ele não tiveram acesso na idade própria. É básico na formação do ci- dadão, pois de acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, em seu art. 32, o pleno domínio da leitura, da escrita e do cálculo 23 constitui meios para o desenvolvimento da ca- pacidade de aprender e de se relacionar no meio social e político. É prioridade oferecê-lo a toda população brasileira. O art.208, 1º, da Constituição Fede- ral afirma: “O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito público subjetivo”, e seu não oferecimento pelo Poder Público ou sua oferta irregular implica responsabilidade da autorida- de competente. Existe hoje, no Brasil, um amplo con- senso sobre a situação e os problemas do ensino fundamental. As matrículas do ensino fundamental brasileiro superam a casa dos 35 milhões, número superior ao de crianças de 7 a 14 anos representado 116% dessa faixa etária. Isto significa que há muitas crianças matriculadas no ensino fundamental com idade acima de 14 anos. [...]. Diretrizes As diretrizes norteadoras da educação fundamental estão contidas na Constituição Fe- deral, na Lei de Diretrizes e Bases da Educação 24 Nacional e nas Diretrizes Curriculares para o en- sino fundamental. Nos cinco primeiros anos de vigência deste plano, o ensino fundamental deverá atingir a sua universalização,sob a responsabilidade do Poder Público, considerando a indissociabilidade entre acesso, permanência e qualidade da edu- cação escolar. O direito ao ensino fundamental não se refere apenas à matrícula, mas ao ensino de qualidade, até a conclusão. O atraso no percurso escolar resultan- te da repetência e da evasão sinaliza para a ne- cessidade de políticas educacionais destinadas à correção das distorções idade-série. A expressiva presença de jovens com mais de 14 anos no ensi- no fundamental demanda a criação de condições próprias para a aprendizagem dessa faixa etária, adequadas à sua maneira de usar o espaço, o tem- po, os recursos didáticos e às formas peculiares com que a juventude tem de conviver. A oferta qualitativa deverá, em decor- rência, regularizar os percursos escolares, permi- tindo que crianças e adolescentes permaneçam na escola o tempo necessário para concluir este nível de ensino, eliminando mais celeremente o analfabetismo e elevando gradativamente a es- 25 colaridade da população brasileira. A ampliação da jornada escolar para turno integral tem dado bons resultados. O atendimento em tempo in- tegral, oportunizando orientações no cumpri- mento dos deveres escolares, prática de esportes, desenvolvimento de atividades artísticas e ali- mentação adequada, no mínimo em duas refei- ções, é um avanço significativo para diminuir as desigualdades sociais e ampliar democraticamen- te as oportunidades de aprendizagem. O turno integral e as classes de acelera- ção são modalidades inovadoras na tentativa de solucionar a universalização do ensino e minimi- zar a repetência. A LDB, em seu art. 34, 2.º, preconiza a progressiva implantação do ensino de tempo integral, a critério dos sistemas de ensino, para os alunos do ensino fundamental. À medida que forem sendo implantadas as escolas de tempo integral, mudanças significativas deverão ocorrer quanto à expansão da rede física, atendimento diferenciado da alimentação escolar e disponibi- lidade de professores, considerando a especifici- dade de horários. Além do atendimento pedagógico, a es- cola tem responsabilidades sociais que extrapo- 26 lam o simples ensinar, especialmente para crian- ças carentes. Para garantir um melhor equilíbrio e desempenho dos seus alunos, faz-se necessá- rio ampliar o atendimento social, sobretudo nos Municípios de menor renda, com procedimentos como renda mínima associada à educação, alimen- tação escolar, livro didático e transporte escolar. A escola rural requer um tratamento di- ferenciado, pois a oferta de ensino fundamental precisa chegar a todos os recantos do País e a ampliação da oferta de quatro séries regulares em substituição às classes isoladas unidocentes é meta a ser perseguida, consideradas as peculiaridades regionais e a sazonalidade. Reforçando o projeto político-pedagógi- co da escola, como a própria expressão da or- ganização educativa da unidade escolar surge os conselhos escolares, que deverão orientar-se pelo princípio democrático da participação. A gestão da educação e a cobrança de resultados, tanto das metas como dos objetivos propostos neste plano, envolverão comunidade, alunos, pais, pro- fessores e demais trabalhadores da educação. A atualidade do currículo, valorizando um paradigma curricular que possibilite a inter- disciplinaridade, abre novas perspectivas no de- 27 senvolvimento de habilidades para dominar esse novo mundo que se desenha. As novas concep- ções pedagógicas, embasadas na ciência da edu- cação, sinalizaram a reforma curricular expres- sa nos Parâmetros Curriculares Nacionais, que surgiram como importante proposta e eficiente orientação para os professores. Os temas, disci- plinas tradicionais, propõem a inserção de temas transversais, como ética, meio ambiente, plurali- dade cultural, trabalho e consumo, entre outros. Esta estrutura curricular deverá estar sempre em consonância com as diretrizes emanadas do Conselho Nacional de Educação e dos conse- lhos de educação dos Estados e Municípios. Deve-se assegurar a melhoria da infraes- trutura física das escolas, generalizando inclusive as condições para a utilização das tecnologias em multimídia, contemplando-se desde a construção física, como adaptações adequadas aos portadores de necessidades especiais, até os espaços especia- lizados de atividades artístico-culturais, esportivas, recreativas e a adequação de equipamentos. É preciso avançar mais nos programas de formação e de qualificação de professores. A oferta de cursos para a habilitação de todos os profissionais deverá ser um compromisso efeti- 28 vo das instituições de educação superior e dos sistemas de ensino. E, finalmente, a consolidação e o aperfei- çoamento do censo escolar, assim como do Sis- tema Nacional de Avaliação da Educação Básica (SAEB), e a criação de sistemas complementares nos Estados e Municípios permitirão um per- manente acompanhamento da situação escolar do País, podendo dimensionar as necessidades e perspectivas do ensino médio e superior. Objetivos e Metas 1. Universalizar o atendimento de toda a clien- tela do ensino fundamental, no prazo de cinco anos a partir da data de aprovação deste plano, garantindo o acesso e a permanência de todas as crianças na escola, estabelecendo em regiões em que se demonstrarem necessários programas específicos, com a colaboração da União, dos Estados e dos Municípios. 2. Ampliar para nove anos a duração do ensino fundamental obrigatório com início aos seis anos de idade, à medida que for sendo universalizado 29 o atendimento na faixa de 7 a 14 anos. 3. Regularizar o fluxo escolar reduzindo em 50%, em cinco anos, as taxas de repetência e evasão, por meio de programas de aceleração da aprendizagem e de recuperação paralela ao lon- go do curso, garantindo efetiva aprendizagem. 4. Elaborar, no prazo de um ano, padrões mínimos nacionais de infraestrutura para o ensino funda- mental, compatíveis co0m o tamanho dos estabe- lecimentos e com as realidades regionais, incluindo: a) espaço, iluminação, insolação, ventilação, água potável, rede elétrica, segurança e tem- peratura ambiente; b) instalações sanitárias e para higiene; c) espaços para esporte, recreação, biblioteca e serviço de merenda escolar; d) adaptação dos edifícios escolares para o atendimento dos alunos portadores de neces- sidades especiais; e) atualização e ampliação do acervo das bi- bliotecas; f) mobiliários equipamentos do acervo das bibliotecas; g) telefone e serviço de reprodução de textos; 30 h) informática e equipamento multimídia para o ensino. 5. A partir do segundo ano da vigência deste pla- no, somente autorizar a construção e funciona- mento de escolas que atendam aos requisitos de infraestrutura definidos. 6. Assegurar que, em cinco anos, todas as esco- las atendam os itens de “a” a “d” e, em dez anos, a totalidade dos itens. 7. Estabelecer, em todos os sistemas de ensino e com o apoio da União e da comunidade escolar, programas para equipar todas as escolas, gradu- almente, com os equipamentos discriminados nos itens de “e” a “h”. 8. Assegurar que, em três anos, todas as e3sco- las tenham formulado seus projetos pedagógi- cos, com observância das Diretrizes Curricula- res para o ensino fundamental e dos Parâmetros Curriculares Nacionais. 9.Promover a participação da comunidade na gestão das escolas, universalizando, em dois 31 anos, a instituição de conselhos escolares ou ór- gãos equivalentes. 10. Integrar recursos do Poder Público des- tinado à política social, em ações conjuntas da União, dos estados e Municípios, para garantir entre outras metas, a Renda Mínima Associada a ações socioeducativas para as famílias com ca- rência econômica comprovada. 11. Manter e consolidar o programa de avalia- ção do livro didático criado pelo Ministério de educação, estabelecendo entre seus critérios a adequada abordagem das questões de gênero e etnia e a eliminação de textos discriminatórios ou que reproduzamestereótipos acerca do papel da mulher, do negro e do índio. 12. Elevar de quatro para cinco o número de livros didáticos oferecidos aos alunos das quatro séries iniciais do ensino fundamental, de forma a cobrir as áreas que compõem as Diretrizes Cur- riculares do ensino fundamental e os Parâmetros Curriculares Nacionais. 13. Ampliar progressivamente a oferta de livros 32 didáticos a todos os alunos das quatro séries fi- nais do ensino fundamental, com prioridade para as regiões nas quais o acesso dos alunos ao mate- rial escrito seja particularmente deficiente. 14. Prover de leitura, textos científicos, obras básicas de referência e livro didático-pedagógicos de apoio ao professor às escolas do ensino fundamental. 15. Transformar progressivamente as escolas unidocentes em escolas de mais de um profes- sor, levando em consideração as realidades e as necessidades pedagógicas e de aprendizagem dos alunos. 16. Associar as classes isoladas unidocentes re- manescentes a escolas de, pelo menos, quatro séries completas. 17. Prover de transporte escolar as zonas rurais, quando necessário, com colaboração financei- ra da União, Estados e Municípios, de forma a garantir a escolarização dos alunos e o acesso à escola por parte do professor. 18. Garantir, com a colaboração da União, Esta- 33 dos e Municípios, o provimento da alimentação escolar e o equilíbrio necessário garantindo os níveis calórico-proteicos por faixa etária. 19. Assegurar, dentro de três anos, que a carga horária semanal dos cursos diurnos compreenda, pelo menos, 20 horas semanais de efetivo traba- lho escolar. 20. Eliminar a existência, nas escolas, de mais de dois turnos diurnos e um turno noturno, sem prejuízo do atendimento da demanda. 21. Ampliar, progressivamente a jornada escolar visando expandir a escola de tempo integral, que abranja um período de pelo menos sete horas diárias, com previsão de professores e funcioná- rios em número suficiente. 22. Prover, nas escolas de tempo integral, preferen- cialmente para as crianças das famílias de menor ren- da, no mínimo duas refeições, apoio às tarefas esco- lares, a prática de esportes e atividades artísticas, nos moldes do Programa de Renda Mínima Associado a Ações Socioeducativas. 34 23. Estabelecer, em dois anos, a reorganização curricular dos cursos noturnos, de forma a ade- quá-los às características da clientela e promover a eliminação gradual da necessidade de sua oferta. 24. Articular as atuais funções de supervisão e inspeção no sistema de avaliação. 25. Prever formas mais flexíveis de organização es- colar para a zona rural, bem como a adequada for- mação profissional dos professores, considerando a especificidade do alunado e as exigências do meio. 26. Assegurar a elevação progressiva do nível de desempenho dos alunos mediante a implantação, em todos os sistemas de ensino, de um progra- ma de monitoramento que utilize os indicadores do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica e dos sistemas de avaliação dos Estados e Municípios que venham a ser desenvolvidos. [...] FORMAÇÃO DE PROFESSORES Na formação de professores, o Plano Nacional de Educação (PNE), apresenta como Diretrizes, para contemplar uma educação de 35 qualidade, aspectos que necessariamente passam pela adequada formação inicial e continuada de seus profissionais, sem a qual será difícil atingir uma melhor e adequada atividade pedagógica, junto aos alunos. As ideias colocadas no PNE são macros. Sendo o supervisor pedagógico o profissional com a supervisão, da Educação, necessariamen- te, precisa conhecer as diretrizes, para contribuir com a concretização e melhoria das políticas educacionais, podendo assim beneficiar o ensi- no com qualidade adequada, sendo que todos os profissionais da educação são os grandes respon- sáveis por esta tarefa. A seguir, veja comi o MEC (BRASIL/ MEC,2007) através da Secretaria de Educação Básica, apresenta as principais diretrizes que orientam a formação dos professores. Diretrizes A qualificação do pessoal docente se apresenta hoje como um dos maiores desafios para o Plano Nacional de educação, e o Poder Público precisa se dedicar prioritariamente à so- 36 lução deste problema. A implementação de po- líticas públicas de formação inicial e continuada dos profissionais da educação é uma condição e um meio para o avanço científico e tecnológico em nossa sociedade e, portanto, para o desen- volvimento do País, uma vez que a produção do conhecimento e a criação de novas tecnologias dependem do nível e da qualidade da formação das pessoas. A melhoria da qualidade do ensino, in- dispensável para assegurar à população brasileira o acesso pleno à cidadania e a inserção nas ati- vidades produtivas que permita a elevação cons- tante do nível de vida, constitui um compromis- so da Nação. Este compromisso, entretanto, não poderá ser cumprido sem a valorização do ma- gistério, uma vez que os docentes exercem um papel decisivo no processo educacional. A valorização do magistério implica, pelo menos, os seguintes requisitos. • Uma formação profissional que assegure o desenvolvimento da pessoa do educador en- quanto cidadão e profissional, o domínio dos conhecimentos objeto de trabalho com os alu- nos e dos métodos pedagógicos que promo- vam a aprendizagem; 37 • Um sistema de educação continuada que permita ao professor um crescimento cons- tante de seu domínio sobre a cultura letrada, dentro de uma visão crítica e da perspectiva de um novo humanismo; • Jornada de trabalho organizada de acordo com a jornada dos alunos, concentrada num único estabelecimento de ensino e que inclua o tempo necessário para as atividades comple- mentares ao trabalho em sala de aula; • Salário condigno, competitivo, no mercado de trabalho, com outras ocupações que reque- rem nível equivalente de formação; • Compromisso social e político do magistério. Os quatro primeiros precisam ser supri- dos pelo sistema de ensino. O quinto depende dos próprios professores: o compromisso com a aprendizagem dos alunos, o respeito a que têm direito como cidadãos em formação, interesse pelo trabalho e participação no trabalho de equi- pe, na escola. Assim, a valorização do magistério depende, pelo lado do Poder Público, da garantia de condições adequadas de formação, de traba- lho e de remuneração e, pelo lado dos profissio- nais do magistério, do bom desempenho na ati- 38 vidade. Dessa forma, há que se prever na carreira sistemas de ingresso, promoção e afastamentos periódicos para estudos que levem em conta as condições de trabalho e de formação continuada e a avaliação do desempenho dos professores. Na formação inicial é preciso superar a histórica dicotomia entre teoria e prática e o divórcio entre a formação pedagógica e a for- mação no campo dos conhecimentos específicos que serão trabalhados na sala de aula. A formação continuada assume particu- lar importância, em decorrência do avanço cien- tífico e tecnológico e de exigência de um nível de conhecimentos sempre mais amplos e profundos na sociedade moderna. Este Plano, portanto, de- verá dar especial atenção à formação permanen- te (em serviço) dos profissionais da educação. Quanto à remuneração, é indispensável que níveis mais elevados correspondam a exi- gências maiores de qualificação profissional e de desempenho. Os cursos de formação deverão obede- cer, em quaisquer de seus níveis e modalidades, aos seguintes princípios: a) Sólida formação teórica nos conteúdos es- 39 pecíficos a serem ensinados na educação Básica bem como nos conteúdos especificamente pe- dagógicos; b) Ampla formação cultural; c) Atividade docente como foco formativo; d) Contato com a realidade escolar desde o iní- cio até o final do curso, integrando a teoria à prática pedagógica; e) Pesquisa como princípio formativo; f) Domínio das novas tecnologias de comuni- cação e da informação e capacidade para inte- grá-las à prática do magistério; g) Análisedos temas atuais da sociedade, da cultura e da economia; h) Inclusão das questões relativas à educação dos alunos com necessidades especiais e das questões de gênero e de etnia nos programas de formação; i) Trabalho coletivo interdisciplinar; j) Vivência, durante o curso, de formas de ges- tão democrática do ensino; k) Desenvolvimento do compromisso social e político do magistério; e l) Conhecimento e aplicação das diretrizes cur- riculares nacionais dos níveis e modalidades da educação básica. 40 A formação inicial dos profissionais da educação básica deve ser responsabilidade prin- cipalmente das instituições de ensino superior, nos termos do art.62 da LDB, onde as funções de pesquisa, ensino e extensão e a relação en- tre teoria e prática podem garantir o patamar de qualidade social, política e pedagógica que se considera necessário. As instituições de forma- ção em nível médio (modalidade normal), que oferecem a formação admitida para atuação na educação infantil e nas séries do ensino funda- mental formam os profissionais. A formação continuada do magistério é parte essencial da estratégia de melhoria perma- nente da qualidade da educação, e visará à aber- tura de novos horizontes na atuação profissional. Quando feita na modalidade de educação a dis- tância, sua realização incluirá sempre uma parte presencial, constituída, entre outras formas, de encontros coletivos, organizados a partir das necessidades expressas pelos professores. Essa formação terá como finalidade a reflexão sobre a prática educacional e a busca de seu aperfeiço- amento técnico, ético e político. A formação continuada dos profissionais da educação pública deverá ser garantida pelas se- 41 cretarias estaduais e municipais de educação, cuja atuação incluirá a coordenação, o financiamento e a manutenção dos programas como ação per- manente e a busca de parceria com universidade e instituições de ensino superior. Aquela relativa aos professores que atuam na esfera privada será de responsabilidade das respectivas instituições. A educação não se reduz à sala de aula e se viabiliza pela ação articulada entre todos os agentes educativos - docentes, técnicos, funcio- nários administrativos e de apoio que atuam na escola. Por essa razão, a formação dos profissio- nais para as áreas técnicas e administrativas deve esmerar-se em oferecer a mesma qualidade dos cursos para o magistério. [...] 42 EXERCÍCIOS PROPOSTOS 1. Em 1988, a Constituinte acolheu a proposta de explicitar, na Constituição brasileira, o dispo- sitivo sobre o Plano Nacional de Educação de forma bem mais ampla do que nas Cartas Mag- nas anteriores. Pesquise o art.214 da Nova Cons- tituição e registre o que ela expressa. 43 Caro Aluno, Seja bem-vindo! Nesta unidade estudaremos o Currículo e a Avaliação, concepções, conceitos e paradig- mas na atualidade. Abordaremos o currículo e a avaliação no interior das propostas pedagógicas e diretrizes do MEC como instrumentos para novos modos de ensinar. Bons estudos! Teoria do Currículo UNIDADE II 45 2. Aspectos Históricos das Teorias do Currículo Uma teoria do currículo ou teoria curricu- lar é um conjunto de conhecimentos, estratégias e aplicações, mais ou menos sistematizadas em tor- no de determinadas propostas relacionadas, relati- vas ao processo pedagógico. A teoria do currículo é uma concepção em desenvolvimento, constitu- ída em função da interação dinâmica de aspectos históricos contextuais. Compreende um conjunto sistematizado e coerente de enunciados que facilitam a compre- ensão e a melhora da formação (ensino-aprendi- zagem), assim como a relação teoria- prática no que se refere aos fundamentos conceituais, estra- tégicos e aplicativos. A análise de sua história, do ponto de vista da evolução dos termos e das concepções e práti- cas, ao mesmo tempo em que indica uma tra- dição conservadora, sinaliza a possibilidade de transformação, por ser o currículo uma constru- 46 ção social, marcada por constante movimento de interesses e perspectivas, entre sujeitos históricos que, ao se apropriarem dessa história, podem im- primir nela outra marca e mudar seu rumo (Ga- dotti,1990). Antes de apresentar qualquer classifica- ção situada temporalmente, é preciso ressaltar que essas ideias não são consensuais, e a perio- dização é sempre aproximada. A indicação da época tem mais finalidade didática para indicar o contexto em que tais concepções foram pre- dominantes, embora não exclusivas. É sempre possível encontrar diferentes concepções coe- xistindo num contexto sócio-histórico e, assim, ainda hoje podemos possível encontrar projetos pedagógicos pautados numa teoria tradicional. Por outro lado, outros projetos são ainda predo- minantemente tecnicistas ou críticos enquanto se busca uma configuração pós-crítica. De qualquer forma é importante que na sua formação o professor conheça as diferentes classificações, tornando-se capaz de reconhecer os aspectos que configuram cada concepção curricular e saiba não só diferenciá-lo conceitual- 47 mente, mas fazer a transposição para a sua práti- ca docente. De outro modo, poderá equivocar-se ao elaborar e ao executar propostas pedagógicas em conflito conceitual, o que acarretará uma prá- tica confusa e não efetiva. A teorização do currículo pode ser agru- pada em dois segmentos, que são: teorias con- servadoras (até os anos 1960/70) e teorias trans- formadoras (dos anos 1960/70 até a presente data). Essa é uma distinção bastante genérica, pois abrangem em cada grupo concepções mui- to diversas. Dito de um modo muito superficial, as teorias do primeiro grupo têm em comum a visão da escola como mecanismo de adaptação do indivíduo às condições da sociedade, enquan- to as teorias do segundo grupo têm como fina- lidade para a escola a formação do sujeito capaz de compreender criticamente o contexto no qual está inserido, em um processo de transformação. Outra possibilidade distingue três perío- dos, quais sejam: teorias tradicionais – iniciado praticamente com o surgimento da escolariza- ção no Brasil, tendo predominado até os anos 1960/70; teorias críticas – dos anos 1960/70 até 1980/90 e as teorias pós-crítica - dos anos 1980/90 até a presente data. 48 No processo de elaboração do projeto pedagógico da escola, convém que a tarefa de reflexão seja iniciada pela tomada de decisão co- letiva acerca da teoria do currículo. Isso signifi- ca decidir sobre a concepção pedagógica que irá orientar o processo de ensino-aprendizagem. Essa decisão, a subsequente discussão e o estudo coletivo acerca de seus princípios, pressu- postos, estratégias ensino-aprendizagem e avalia- ção se constituem fator de extrema relevância, sen- do assim condição indispensável para que a ação pedagógica tenha unidade. Esses elementos per- mitem que todos os profissionais da educação, em exercício na escola, “falem a mesma linguagem”. Além disso, a clareza de concepção pe- dagógica e da linha teórica não só irá orientar o desenvolvimento de planos e projetos indivi- duais de cada um dos profissionais, bem como lhe permitir agir em prol do desenvolvimento das metas comuns estabelecidas no projeto da escola. Dá a cada profissional a consciência de que seu trabalho não é solitário, ainda que esteja em um setor ou sala de aula, mas que a ação pe- dagógica da escola só terá qualidade quando for resultado da ação conjunta. Cada integrante des- sa ação conjunta faz parte do “time” da escola, 49 que por sua vez, terá condições de se converter em uma comunidade crítica de aprendizagem. Tomada essa decisão, cabe refletir e defi- nir os fundamentos do currículo que permitirão o esboço da proposta curricular (sobre os fun- damentos epistemológico, sociopolítico, antro- pológico, psicológico e pedagógico). A proposta pedagógica, esboçada teoricamente e sistemati- zada no projeto pedagógico, adquire novas con- figurações na medida em que passa a ser ope- racionalizada. No desenvolvimento,portanto, do processo pedagógico é que o currículo irá se construir, tanto é que atualmente é muito apro- priada a utilização de sentenças como “constru- ção do currículo na ação”, que significa ir para além da intenção mediante ação. Na sequência, iremos refletir sobre as diferentes linhas teóricas aplicadas à prática pe- dagógica. Os diferentes pressupostos que a con- figuram são construídos culturalmente numa perspectiva histórica. 50 2.1. A TRAJETÓRIA DO CURRÍCULO: ASPECTOS DIDÁTICOS No decurso do processo histórico, os ele- mentos do currículo aplicados ao processo didá- tico sofreram influência de diferentes teorias ou paradigmas, modificando os conceitos de ensinar, aprender, método e avaliação diretamente implica- dos na operacionalização do processo formativo. Segundo Gimeno Sacristán (1995, p.236): Numa perspectiva histórica, o currículo com- preende conhecimentos, idéias, hábitos, valores, convicções, teorias, técnicas, recursos, artefatos, procedimentos, símbolos, competências, habili- dades etc. dispostos em conjuntos de matérias/ disciplinas escolares e respectivos programas, com indicação de atividades/experiências para sua consolidação e avaliação. Há quem o consi- dere mera transposição dos saberes/fazeres de referência para a sala de aula, mas é sabido que o modo como os elementos culturais são organiza- dos em situações escolares apresenta certa singu- laridade, que constitui um tipo peculiar de saber – o saber escolar. Na prática, o currículo tem se revelado uma espécie de reinvenção da cultura. 51 A concepção de ensinar desvela a percep- ção sobre o papel do professor, enquanto con- cepção de aprender indica o papel atribuído ao aluno em cada teoria curricular, o qual se concre- tiza numa forma específica de encaminhamento metodológico e avaliativo. A ação docente implica a mobilização do tripé professor - aluno - conhecimento, sendo que este se organiza em função da visão de homem e mundo na qual se apoia. Esses elementos se mo- dificam em virtude do contexto sócio-histórico e geográfico originando uma teoria pedagógica. Cada teoria ou paradigma possibilita a formação de um tipo de homem (aspecto antropológico) e um tipo de finalidade (aspecto teleológico). Toda construção humana tem uma inten- cionalidade e uma forma de fazer, logo, sendo o processo educativo sempre teológico, tem um fim a alcançar expresso na intencionalidade do pro- jeto institucional. Esta se constitui como “norte” que irá balizar os processos de planejamento, de- senvolvimento e aperfeiçoamento do conjunto de ações da instituição sistematizadas no projeto cur- ricular da escola. Eyng (2002 a, p.26) afirma que: 52 O currículo é o que determina o que se passa nas aulas entre os professores e os alunos , daí que se pode dizer numa acepção ampla, que é um instrumento potente para a transformação do ensino e um instrumento imediato, porque é um guia fecundo para o professor. Nessa perspectiva, Goodson destaca que o currículo não apenas representa como também faz, exercendo notável diferença sobre as pessoas. As instituições sociais processam conhecimen- tos, mas também – e em conexão com esses co- nhecimentos – pessoas. (...) Assim, é importante prestar atenção às formas pelas quais o processa- mento diferencial do conhecimento está vincu- lado ao processamento diferencial das pessoas. Diferentes currículos produzem diferentes pes- soas (SAVIANI, 2005, p.5). Devemos lembrar que cada teoria pos- sibilita a definição de uma antropologia e uma teleologia específica; da mesma forma, estas de- finem, ou melhor, orientam-se em um conceito 53 específico de conhecimento e, consequentemen- te, adotam uma concepção do que seja ensinar e aprender, das quais resulta uma metodologia. “As teorias de educação formam um todo organizado, com coe- rência interna; são lógicas; têm uma razão de ser em função da concepção de educação, de homem e de sociedade que as fundamenta”. Todo o processo pedagógico pauta-se em uma teoria, ainda que os sujeitos envolvi- dos na ação, em especial o professor, não sejam conscientes da teoria que lhes orienta. Ressaltamos que a metodologia adotada vincula-se estreitamente ao conceito do que seja ensinar e aprender. Normalmente, a associação dessa trilogia é denominada de processo ensino- -aprendizagem, na qual interagem o conteúdo cultural o professor e o aluno. A metodologia, no seu conjunto de pro- cedimentos didáticos, possibilita a configuração e a concretização das finalidades educativas, ou seja, a formação do homem que se espera. As- sim, há a associação dos seguintes elementos: te- oria, teologia, antropologia e metodologia, pro- curando-se uma concepção do que seja ensinar para formar o sujeito que aprende para/em um mundo determinado. A essa associação convém 54 acrescentar mais um elemento que lhe é decor- rente, a avaliação. A avaliação adotada revela uma concep- ção teórica que determina os procedimentos e os instrumentos utilizados e, sobretudo, como os resultados serão analisados. Apresenta ainda o que é valorizado ou não na formação do sujeito que aprende. Conforme já exposto, essas concepções têm sofrido muita variação, sobretudo em nossa história recente, nos últimos setenta anos, a partir da década de 1930, de forma que diversos para- digmas se misturam na prática pedagógica. Com intuito de distinguir os pressupostos adotados em cada teoria, passamos a apresentar os concei- tos de ensino, aprendizagem, método e avaliação em cada uma das principais correntes teóricas adotadas no decurso da história da educação no Brasil. Estes foram sistematicamente pesqui- sados em Mizukami (1986), Silva (1986), Faria (1987), Martins (1989, Libâneo (1990), obras nas quais esses elementos são minuciosamente estudados, em temas referentes à pedagogia tra- dicional, à pedagogia escolanovista, à pedagogia tecnicista e à pedagogia crítica. Os pressupostos relativos à pedagogia pós-crítica não estão ainda 55 consolidados e a própria denominação vai aqui apresentada sob grifo por essa razão. 2.2. ASPECTOS DIDÁTICOS NA CONFIGURAÇÃO DO CURRÍCULO TRADICIONAL Nessa concepção, o pensamento é tido como uma capacidade de cumular e arquivar in- formações, evidenciando-se o aspecto cumula- tivo do conhecimento. O sujeito é considerado mais educado quanto maior for o volume de in- formações que tenha armazenado. Podemos observar ainda que “há cons- tante preocupação em se conservar o produto obtido o mais próximo possível do desejado”. Portanto, não compete ao sujeito que aprende processar a informação, reconstruindo-a, mas simplesmente arquivá-la em sua mente. Podemos facilmente depreender dessa perspectiva quais são os conceitos de ensinar e aprender, bem como a orientação metodológica e a decorrente forma de avaliação que configu- ram um currículo tradicional em ação. ENSINAR é transmitir informações e 56 conhecimentos já sistematizados e acumulados pela humanidade, daí este tipo de ensino ser de- nominado de enciclopedista, pois a tarefa de en- sinar pode facilmente ser comparada à recitação de uma enciclopédia. O papel do professor pode ser resumi- do como “dar a lição” e “tomar a lição”, não se apresentando maiores preocupações em vincular as informações com o contexto social onde o su- jeito está. Toma-se este, por esse viés, o contexto como já previamente estabelecido e determina- do, cabendo ao sujeito absorver seus conteúdos, valores e adaptar-se a ele, vindo a desempenhar os papéis socialmente determinados. APRENDER consiste em adquirir in- formações que preparem o sujeito intelectual e moralmente para adaptar-se à sociedade. A aprendizagem valorizada “é a que pro- picia a formação de reações estereotipadas, de automatismos, denominados hábitos geralmente isolados uns dos outros e aplicáveis, quase sem- pre, somente às situações idênticas em que fo- ram adquiridos”. (Contreras 1994,p.32) que: O ponto fundamental desseprocesso será o pro- duto da aprendizagem. A reprodução dos con- 57 teúdos feita pelo aluno, de forma automática e sem variações, na maioria das vezes, é considera- da como um poderoso e suficiente indicador de que houve aprendizagem e de que, portanto, o produto está assegurado. 2.3 ASPECTOS DIDÁTICOS NA CONFIGURAÇÃO DO CURRÍCULO ESCOLANOVISTA O conhecimento é aqui considerado como uma construção contínua realizada pelo sujeito. Essa construção apresenta níveis de complexidade e profundidade diferentes em vir- tude do estágio de maturidade intelectual do in- divíduo. Essa posição e defendida pela corrente cognitivista (MIZUKAMI, 1961) ou progressi- vista (LIBÂNEO, 1990) da pedagogia dita nova, representada pelos epistemólogos genéticos, tendo em Piaget seu principal teórico. Nessa concepção teórica, o conhecimen- to humano advém da atividade do sujeito que o constrói. O processo de aquisição do conhecimen- to pelo aprendiz pode manter-se ao nível de hete- 58 roestruturação, a fase denominada por Piaget de exógena, na qual ocorreriam operações de pensa- mento de ordem inferior. A fase exógena constitui fase de constatação, observação, cópia e repetição. O desejável enquanto processo de co- nhecimentos é que esta ultrapasse a fase inicial procedendo-se a fase denominada, pelo mesmo autor, de endógena, na qual ocorreria a autoes- truturação do sujeito e a interestruturação do conhecimento, envolvendo mutualidade sujeito- -objeto. A fase endógena implica, pois, uma fase de compreensão, aplicação, ou seja, processa- mento. Nesta são desencadeadas operações de pensamento de ordem superior. No processo de conhecimento é mister que ocorram operações inferiores e superiores de pensamento, ou ainda, a indução e a dedução. ENSINAR essa teoria implica criar condições que priorizam as atividades do apren- diz, tendo em vista o desenvolvimento dos seus aspectos cognitivos e considerando-o inserido numa situação social. O ensino consiste essen- cialmente na organização de dados da experiên- cia e na elaboração de instrumentos e procedi- mentos de mediação sujeito-objeto, de forma a promover um nível desejado de aprendizagem. 59 “O ensino que seja compatível com a te- oria piagetiana tem de ser baseado no ensaio e no erro, na pesquisa, na investigação, na solução de problemas por parte do aluno, e não na apren- dizagem de fórmulas, nomenclaturas, definições etc.” O ensino de fatos deve ser substituído pelo ensino de relações – a ênfase dada ao produto passa a ser dada ao processo. O papel do professor implica uma ação sobre o meio, preparando-o dispondo as condi- ções em termos de materiais e procedimentos com o objetivo de provocar a ação de descoberta no aluno. Cabe ao professor a tarefa de respeitar seu aluno considerando “seus interesses e neces- sidades, expectativas e motivações. Dessa forma, o professor pode vincular de forma efetiva a realidade da universidade com a realidade social. Mizukami afirma que cabe ao professor evitar a rotina e a fixação de respostas e hábitos, devendo simplesmente propor pro- blemas aos alunos, sem lhes ensinar as soluções. Sua função consiste em provocar desequilíbrios, fazer desafios. Deve, ainda, orientar o aluno e conceder-lhe ampla margem de controle e auto- nomia, além de assumir o papel de investigador, pesquisador, orientador, coordenador, levando o 60 aluno a trabalhar o mais independente possível. APRENDER acarreta uma compreen- são da estrutura fundamental do conhecimen- to, ou seja, assimilação da essência do objeto. Aprender é ampliar as estruturas do próprio co- nhecimento ou, em outras palavras, implica assi- milar o objeto a esquemas mentais. Ressalta-se, portanto, a importância de que no processo de aprendizagem sejam apro- veitadas as experiências anteriores que o apren- diz já possua, ou seja, a sua estrutura cognitiva prévia, tendo em vista o processo de associação e acomodação na estruturação do conhecimento. A aprendizagem no sujeito confere di- namismo ao conhecimento individualmente es- truturado e reestruturado de forma contínua. Ao mesmo tempo em que não se aprende nada de absolutamente novo, o conhecimento nunca se mantém o mesmo, ocorrendo um processo de construção através de descobertas sucessivas. A partir dessa teoria, tomou-se como pressuposto básico o lema de que o papel do professor seria levar o aluno a ‘aprender à apren- der’; na prática, no entanto o que ocorreu foi uma ênfase demasiada aos procedimentos de ensino, como se tal aspecto em si garantisse o 61 desenvolvimento das operações de pensamento. Convém acrescentar à essa observação, o alerta de Gimeno Sacristán (1995, p.23) que: Finalmente, é necessário que se considere o ‘aprender a aprender’, divulgado como slogan, mas que necessita profunda compreensão da te- oria de conhecimento de Piaget. É importante se considerar que as crianças não aprendem a pensar, as crianças pensam. Quando pensam (...) desen- volvem mecanismos mais avançados de pensa- mento. Por essas razões, pode esperar-se que uma ênfase sistemática sobre o pensamento, durante o período prolongado, fará o seu impacto ao passo que a preocupação com o aprendizado ou estraté- gias do aprendizado pode deixar de mostrar efei- tos de transferência. O papel do aluno descrito pela corren- te cognitivista é essencialmente ativo, tendo a atividade uma forma de funcionamento do in- divíduo. Suas ações básicas, entre outras, devem consistir em: observar, experimentar, comparar, relacionar, analisar, justapor, compor, encaixar, levantar hipóteses, argumentar etc. Cabe-lhe, 62 pois, exercitar as operações de pensamento no processamento das informações quando da sua interação com o mundo. O método nessa teoria deve essencial- mente promover e valorizar atividades significa- tivas dos aprendizes. A atividade do aluno deve basicamente estar voltada à investigação, ao exercício das ope- rações de pensamento e, sobretudo à valorização do trabalho em equipe que favoreça a autonomia e a cooperação entre os indivíduos. 2.4 ASPECTOS DIDÁTICOS NA CONFIGURAÇÃO DO CURRÍCULO TECNICISTA Os pressupostos da teoria tecnicista con- sideram o conhecimento como resultado da ex- periência, caracterizando-se pelo primado do ob- jeto. Seu principal teórico, Skinner, preocupa-se com o controle do comportamento nos proces- sos de aprendizagem, entendendo-a como uma questão de controle de estímulos e respostas. Se- gundo Grundy (1987, p.5), citado por Gimeno Sacristán (1995, p.14): 63 A partir da década de 1970, multiplicam-se as me- didas relacionadas com a elaboração de currículos por especialistas e com a introdução de técnicos em Educação nas unidades escolares para orientar e supervisionar a implementação de guias curri- culares. Cria-se a habilitação Supervisão no curso de Pedagogia e são instalados os primeiros cursos de pós-graduação em Supervisão e Currículo nas principais universidades do país. Por esses pressupostos, orientam-se os conceitos de ensinar e aprender, bem como a orientação metodológica e decorrente forma de avaliação que configuram um currículo tecnicista em ação. O ENSINO nessa teoria deve inspirar- -se nos princípios da racionalidade, da eficiên- cia e da produtividade. “Ensinar consiste, assim num arranjo de contingências de reforço sob as quais o estudante aprende e é de responsabilida- de do professor assegurar a aquisição do com- portamento”. Ensinar consiste basicamente em modelagem de comportamentos considerados necessários ao aprendiz. Cabe ao professor a responsabilidade 64 em planejar e desenvolver o sistema de ensino aprendizagem, maximizando o desempenho de o aluno buscar a otimização de recursos como tempo, esforços e custos. Essa função, na prá- tica, passou a ser dos especialistas, enquanto o professor torna-se mero aplicador dos materiais instrucionais e agentes de controle do processo previamente planejado. APRENDER, segundo princípiosde- fendidos pelos behavioristas, implica a mudança relativamente permanente de um comportamen- to ou atividade intelectual, decorrente de uma prática reforçadora. Ao aprender o indivíduo estaria desenvolvendo destrezas e habilidades necessárias para a execução de tarefas específi- cas. APRENDER, portanto, nessa teoria, é uma questão de mudança de comportamento em fun- ção de objetivos instrucionais cuidadosamente definidos. Cabe ao aprendiz incorporar o con- trole das contingências de reforço. Libâneo destaca que: as teorias de aprendizagem que fundamentam a pedagogia tecnicista dizem que aprender é uma questão de modificação de desempenho. E que os componentes da aprendizagem – motivação, 65 retenção, transferência – decorrem da aplicação do comportamento operante. Segundo Skinner, o comportamento aprendido é uma resposta à estí- mulos externos, controlados por meio de reforços que ocorrem com a resposta ou após a mesma. A metodologia e decorrentes instrumen- tos instrucionais constituem preocupação cen- tral nessa abordagem. Conforme pode ser visto em Mizukami, é uma categoria bastante ampla nessa abordagem, pois aqui se incluem tanto a aplicação da tecnologia educacional e estratégias de ensino como formas de reforço no relacio- namento professor-aluno. Libâneo destaca ainda que os métodos de ensino consistem nos proce- dimentos e nas técnicas necessárias ao arranjo e ao controle das condições ambientais que asse- gurem a transmissão/recepção de informações. Martins afirma que há grande preocupação com a organização racional dos meios em função da eficiência do produto. O mesmo autor destaca ainda que o método procura atender aos princí- pios da individualização, adequando-se ao ritmo próprio de cada aluno. O assunto deve ser apre- sentado em pequenas porções, e a verificação 66 deve ser imediata, visando à ausência de erros. Com decorrência desses princípios, uma vez que o aluno progride em ritmo próprio, em pequenos passos, sem cometer erros, a avaliação “consiste, nesta abordagem, em se constatar se o aluno aprendeu e atingiu os objetivos propostos quando o programa foi conduzido até o final de forma adequada.” (La Torre 1993, p.144). 2.5. ASPECTOS DIDÁTICOS NA CONFIGURAÇÃO DO CURRÍCULO CRÍTICO Nessa concepção, ocorrem variações teóricas bastante significativas, observadas na educação brasileira, destacando-se a contribui- ção de Freire. Uma das obras referentes a esse tipo de aborda- gem, que enfatiza aspecto sócio-político – cultu- rais, mais significativos no contexto brasileiro, e igualmente uma das mais difundidas, é a de Paulo Freire, com a sua preocupação com a cultura po- pular. (Brasil, 2006). 67 Nesse contexto são adotados os pressu- postos que esboçam os conceitos de ensinar e aprender, bem como a orientação metodológica e a decorrente forma de avaliação que configu- ram um currículo em ação. APRENDER nessa perspectiva constitui ato de conscientização. Assim, “A elaboração e o desenvolvimento do conhecimento estão ligados ao processo de conscientização”. Aprender é um ato de conhecimento da realidade concreta, isto é, da situação real vivida pelo educando, e só tem sentido se resultar de uma aproximação crítica dessa realidade. O que é aprendido não decorre de imposição ou memo- rização, mas do nível crítico de conhecimento, ao qual se chega pelo processo de compreensão e reflexão crítica. A primeira vista, considerando-se a au- sência de métodos rígidos e a modificação subs- tancial do papel do professor, podemos ter a impressão de que o processo seja indisciplinado, bagunçado. Tal fato não ocorre, pois, na verdade, a disciplina não precisa ser mantida pelo profes- sor de forma artificial, mediante prêmios ou pu- nições como ocorre em outras teorias. A disciplina decorre da responsabilidade 68 coletivamente assumida. “Como garantia desse processo de autoaprimoramento e descoberta surge a disciplina, fator indispensável para o res- peito à autoridade de que o professor, os mode- los e o próprio saber se revestem nessa concep- ção educativa”. ENSINAR implica entabular o diálogo, provocar e mobilizar o aluno na sua fala com a realidade. É, ainda, caminhar junto no grupo de discussão, despertando uma nova relação com a experiência vivenciada. O professor não assume papel autoritário ou diretivo, contudo não se au- senta, “mas permanece vigilante para assegurar ao grupo um espaço humano para ‘dizer a sua palavra’, para se exprimir sem se neutralizar”. (Saviani 2003, p.35-36).. A metodologia dessa teoria privilegia o relacionamento professor-aluno, enfocando não indivíduos separados, mas o grupo. “No diálogo como modo básico, a relação é horizontal, onde educador e educandos se posicionam como su- jeitos do ato de conhecimento”. (Brasil, 1996). 69 2.6 ASPECTOS DIDÁTICOS NA CONFIGURAÇÃO DO CURRÍCULO PÓS-CRÍTICO OU INOVADOR Nas concepções anteriores ao modelo crítico, os elementos didáticos do currículo exer- cem um forte papel instrumental, perdurando até hoje o conceito, tanto entre os profissionais da educação como em senso comum. Tais pro- cedimentos vinculam o currículo à ideia de “gra- de curricular” como uma pauta para ser seguida e cumprida; a didática por sua vez estava ainda fortemente ligada a uma visão meramente pres- critiva e instrumental. Essas visões postulavam que a didática e o currículo apenas normatizam o fazer pedagógico sem considerar a reflexão e a dinâmica do processo em cada momento. No entendimento crítico atual, ao qual denominamos de pós-crítico, e também denomi- nado no campo da didática, com base na teoria da complexidade, de paradigma da complexida- de, dá-se uma nova configuração aos elementos do currículo e também ao se processo de gestão. É fundamental nessa perspectiva analisar a transformação de conceitos, papéis e ações e 70 suas decorrências na efetivação da finalidade for- mativa da escola. Com esses pressupostos, orien- tam-se os conceitos de ensinar e aprender, bem como a orientação metodológica e a decorrente forma de avaliação que configuram um currículo pós-crítico em ação. A questão central dessa concepção é a aprendizagem, e destaca o desenvolvimento pelo aprendiz em sua capacidade de aprender a aprender, ou seja, compreender como aprende e desenvolve estratégias capazes de aperfeiçoar sua condição de aprender. A aprendizagem, no aprender a aprender, irá pautar-se na integração dos seguin- tes princípios: aprendizagem consciente, apren- dizagem cooperativa, aprendizagem continuada, aprendizagem interdisciplinar, aprendizagem contextualizada, aprendizagem significativa e aprendizagem como síntese pessoal. A mudança nas concepções de gestão, aprendizagem e avaliação apontadas certamente modifica o papel do professor. Segundo Saviani (2005, p.2) que: Passa a se; provocar a construção individual e coletiva do conhecimento, mediante questio- 71 namento sistemático. (...) [E ainda] O papel do professor deixa de ser o de simplesmente dar res- postas, orientando pela certeza e passa a ser o de criar dúvidas, fazer perguntas levando o aluno a pensar e a perguntar-se. (Saviani, 2005 p.2). Para que o professor possa desempenhar de forma competente o papel que lhe é atribuído, precisa desenvolver novas habilidades, tais como: A gestão do processo formativo, atuação coletiva, reflexão crítica sobre sua ação docente, formação pessoal e profissional continuada, construção de referencial teórico-aplicativo próprio. No que se refere ao papel do aluno, este é desafiado a aprender a aprender, mas para isso precisa desenvolver, sobretudo, o conhecimento sobre si mesmo, o autoconhecimento, pois nessa concepção de acordo com Sole (1997, p.18) que: É importante que o aprendiz passe a refletir sis- temática e criticamente sobre o que, para que e como aprende, conhecendo suas características, suas peculiaridades e dificuldades no processo de aprender. ‘No tocante ao aprendiz,já estão longe as explicações que o inseriam em um plano 72 reativo, até passivo, diante do que lhe é oferecido como objeto de aprendizagem’. 2.7. CURRÍCULO: NOVOS PARADIGMAS Considerando o que pensa o MEC (Mi- nistério da Educação): A reflexão sobre o cur- rículo está instalada como tema central nos projetos político-pedagógicos das escolas e nas propostas dos sistemas de ensino, assim como nas pesquisas, na teoria pedagógica e na forma- ção inicial e permanente dos docentes. A ampliação da duração do ensino fun- damental, em que são discutidas questões de tempo-espaço, avaliação, metodologias, conteú- do, gestão, formação, torna-se necessária discus- sões sobre o currículo. (BRASIL, 2007). Pensamos que é oportuna uma reflexão sobre como era apresentado o currículo no con- texto de construção histórica, para poder anali- sar com ais clareza a sua trajetória e observar se houve avanços ou retrocessos. Moreira (1999) nos auxilia neste resgate histórico quando aponta que o currículo era vis- 73 to como uma atividade neutra, instrumento de racionalização da atividade educativa e controle do planejamento. Sendo que o currículo sempre foi alvo de todos os que buscavam entender e or- ganizar o processo educativo escolar, pois havia embutido nessas ações os interesses e ideologias da sociedade. Segundo Moreira, observamos que a par- tir do século XIX e no inicio do século XX, nos Estados Unidos, inicia um movimento maior em relação ao currículo por parte de um significati- vo número de educadores que começam a tratar mais sistematicamente dos problemas e questões curriculares, em que se busca uma série de estu- dos e iniciativas que, em curto espaço de tempo, configuraram o surgimento de um novo campo e uma nova roupagem para o currículo. Aponta um novo paradigma na medida em que surge a preocupação com os processos de racionalização, sistematização e controle da escola e do currículo. A escola é vista como sen- do capaz de desempenhar um papel relevante na educação, de forma a adaptar às transformações econômicas, sociais e culturais. Na escola, considerou-se o currículo como ins- 74 trumento por excelência do controle social que se pretendia estabelecer. Coube, assim, à esco- la, inculcar os valores, as condutas e os hábitos “adequados”. Viu-se como indispensável, em síntese, organizar o currículo e conferir-lhe ca- racterísticas de ordem, racionalidade e eficiência. (MOREIRA, 1999, p. 10) A tendência curricular dominante come- ça a ser criticada, uma vez que apresenta um ca- ráter instrumental, apolítico e ateórico. As acir- radas discussões influenciaram os estudos sobre currículo no Brasil, quando se percebe que o currículo não podia mais ser mais analisado fora de sua constituição social e histórica. O objetivo do estudo sobre o currículo devia ir além da sim- ples organização do conhecimento escolar. Para Moreira (1999) o currículo deve contemplar os interesses e necessidades do edu- cando. O currículo segundo Moreira (1999, p. 07) “é considerado um artefato social e cultu- ral”. Isso quer dizer, que o currículo transmite experiências individuais e interessadas, ele tem uma história, e na perspectiva do artefato induz a ideia de transformação. Atrelada à ideia de transformação social 75 e histórica na garantia de novas estratégias de en- sino, o currículo como campo de possibilidades do saber, torna-se também objeto de estudos e pesquisas para Diretrizes Curriculares do MEC que passam a considerá-lo como um novo rumo na educação no contexto atual que exige novos fazeres, novas estratégias de ensino, que preci- sam ser adequadas à nova sociedade. Conside- rando, portanto, o espírito da criança e do jovem essencialmente dinâmico, é necessário que a es- cola e os educadores ofereçam condições para realizar experiências. Moreira (1999, p. 106) ao apontar que “Os professores precisam encontrar meios de criar espaço para um mútuo engajamento das diferenças vividas. Um ambiente que não exija o silenciar de uma multiplicidade de vozes por um único discurso dominante”, sinaliza que a escola deve ser um lugar dotado de sentidos e significados, onde a criança e o educador possam construir um espaço cultural que expresse uma aprendizagem de forma lúdica, alegre e praze- rosa. O currículo, neste contexto, é um instru- mento que viabiliza os alicerces para uma nova prática pedagógica orientada e fundamentada na acepção do aluno como sujeito, e, portanto, 76 como construtor de sua própria história. Com essa preocupação, a abordagem curricular, como objeto de atenção do MEC. em cumprimento ao Artigo 210 da Constituição Federal de 1988, determina como dever do Es- tado para com a educação fixar “conteúdo míni- mos para o Ensino Fundamental, de maneira a assegurar a formação básica comum e respeito aos valores culturais e artísticos, nacionais e re- gionais”, foram elaborados e distribuídos pelo MEC, a partir de 1995, os Referenciais Curri- culares Nacionais para a Educação Infantil/ RCNEI, os Parâmetros Curriculares Nacionais/ PCN’s para o Ensino Fundamental, e os Refe- renciais Curriculares para o Ensino Médio. Pos- teriormente, o Conselho Nacional de Educação definiu as Diretrizes Curriculares para a Educa- ção Básica. (BRASIL, 2007). Os Referenciais Curriculares Nacionais para a Educação Infantil/RCNEI, bem como os Parâmetros Curriculares Nacionais (1997), con- tém proposta aberta, flexível e não obrigatória, que subsidia os sistemas educacionais, para a ela- boração e implementação de programas e currí- culos condizentes com suas realidades e singulari- dades. Pressupõe-se que os RCNEI/PCNs foram 77 assim elaborados com o propósito de contribuir para a construção de uma nova cultura na educa- ção para atender as peculiaridades, necessidades e características próprias do educando. Apesar do avanço das discussões que es- ses dApesar do avanço das discussões que esses documentos refletem e dos esforços dos profis- sionais da Educação, entre educadores, estudio- sos e pesquisadores, ainda há muito que se dis- cutir em currículo, na medida em que os desafios se apresentam com intensidade e a garantia da qualidade na Educação torna-se uma tarefa cada vez mais complexa. Rosemberg (1992) ilustra bem o momento em que vivemos: Precisamos abrir espaços para a possibilidade de novos valores, transformações e desenvolvimento de ações inovadoras que si- nalizem práticas coerentes, dinâmicas e criativas que atendam as reais necessidades da criança de hoje, desenvolvendo as habilidades e competên- cias propostas nas orientações curriculares. Pois, “a sociedade reconhece que esta fase da vida é riquíssima, riqueza que se expande se boas con- dições educacionais forem oferecidas. Esta so- ciedade, esta nova família, esta nova mãe, esta nova mulher, este novo filho, esta nova criança 78 precisam de uma instituição social que, fora do espaço doméstico, complemente e enriqueça o educar e o cuidar” (p. 02). Estas afirmações e determinações nos levam a considerar que é importante um referen- cial curricular, cujas orientações possam garantir uma sustentação para a formação das novas ge- rações, na garantia do bem estar da sociedade. “As teorias, diretrizes e práticas envolvidas na educação, não são técnicas. São intrinsecamente éticas e políticas, e em última análise envolvem escolhas profundamente pessoais em relação ao bem comum”. (APPLE, 2002, p. 41). Só através de estudos e pesquisas pode- mos verificar e validar a elaboração e propostas curriculares que direcionem as ações e práticas nas escolas q eu passem a constituir novos rumos no campo das políticas e das ações que contemplem a educação das crianças e dos jovens. No entanto, a realidade mostra deficiências e necessidades que ainda não alcançam o nível de qualidade na edu- cação. É necessária uma análise dos aspectos teó- ricos e práticos das proposições curriculares, cujo debate nacional aponta disparidadesentre o legal e o real. Porque a distancia entre o que se produz teoricamente sobre a escola brasileira e as nossas 79 redes escolares reais é ainda um problema grave, apontado por Kramer (1994). Todos os esforços devem reunir análise minuciosa dos componentes curriculares para a Educação Básica, para trazer dados significativos para a área, além de ampliar a compreensão em torno dos processos educativos, cujos elementos centrais estão expressos nos documentos nacio- nais. A proposta pedagógica traz no seu bojo, va- lores, concepções, sonhos, necessidades que evi- denciam marcas de uma determinada realidade e de suas peculiaridades e que devem ser atendidas tendo em vista a aprendizagem da criança ou do jovem na sua totalidade, de acordo com o que pensa Gimeno Sacristán (1998) estudioso e pes- quisador das questões curriculares. 2.8. CURRÍCULO: QUESTÕES ATUAIS Uma importante entrevista com a pro- fessora Jurema Ponce, concedida à Revista Nova Escola (Janeiro/2010), traz elementos importan- tes que complementam nossas discussões sobre o Currículo na atualidade: 80 Branca Jurema Ponce fala sobre planejamento de currículo A professora de pós-graduação em Educa- ção e Currículo afirma que um bom trabalho na escola só é possível com a formação de professores Formada em Filosofia pela Pontíficia Universi- dade Católica de São Paulo (PUC-SP), Branca Jurema Ponce escolheu a Educação como seu tema de pesquisa ao cursar o mestrado e o dou- torado. Especializou-se em Currículo e Políticas Públicas e hoje leciona na PUC, em São Paulo, com a preocupação permanente de deixar claro que não existem respostas prontas ou fórmulas mágicas para o planejamento de um currículo e a definição dos conteúdos programáticos que devem ser ensinados aos alunos. Adepta de uma linha de pensamento mais abrangente, ela tra- balha para apontar caminhos e direcionamentos que devem ser trilhados em busca de soluções con- temporâneas e adequadas à realidade das escolas brasileiras. Sua maneira de pensar a Educação engloba não só as unidades de ensino e o poder público, como se apenas essas duas instituições fossem responsáveis diretas pelo sucesso ou pelo fracasso do ensino, mas também todo o contexto 81 social em que estamos inseridos. E sua preocupa- ção maior é com a formação dos educadores, que coloca ao lado dos alunos como protagonistas no direcionamento e planejamento de um progra- ma educacional mais eficiente. Quais são as principais dificuldades no planeja- mento de um currículo que seja eficiente? Branca Jurema Ponce Uma questão importante é a própria compreensão do significado da pala- vra currículo. Na verdade, ele não é mais consi- derado apenas o documento de base no qual se pauta a Educação durante o ano letivo, mas é visto como um processo completo, que passa pela sala de aula e pela relação entre todos os envol- vidos: professor, aluno, gestor e família, tendo como resultado a aprendizagem. Há alternati- vas para diferentes necessidades, desde aqueles que são superdirecionados até outros que pautam apenas diretrizes curriculares e preveem espaço para a discussão no cotidiano dos professores. Há mecanismos para aferir a eficiência de um currículo? Branca Sim. O que ele traz de aprendizagem e não o que ele produz de números ou metas. Para 82 realizá-lo, é preciso traçar um diagnóstico da situ- ação da turma e só então desenvolver um cami- nho que seja capaz de envolver todos os sujeitos. Podemos fazer um documento primoroso do pon- to de vista lógico e redacional, mas que, quando posto em prática em classe, fracassa porque não tem relação com as características dos alunos e do professor. De acordo com o senso comum, os pro- blemas do processo de aprendizagem são de res- ponsabilidade de quem está na sala de aula. Ou- vimos muito frases do tipo: “O currículo é bom. O professor é que não sabe ensinar e o aluno é que é ruim”. Espera aí! Se você não previu no processo como são os estudantes e os educadores com quem vai lidar, é impossível fazer um bom documento. Ele não pode ser produzido fora da escola, por um especialista externo. É essencial que seja fruto de um trabalho coletivo da equipe escolar. No caso brasileiro, com diretrizes curriculares preestabelecidas, como incluir o direcionamen- to vindo da Secretaria no trabalho realizado em sala de aula? Branca Temos diretrizes norteadoras, mas temos também um instrumento que se chama projeto político pedagógico, que dá a cada escola a opor- 83 tunidade de decidir como quer se organizar. Cada equipe tem de desenvolver seu plano. É preciso se questionar “como nós, aqui, na escola, ou nós, aqui, nessa rede, vamos nos organizar para o nosso próximo ano letivo?”. Todos os en- volvidos no processo de ensino e aprendizagem devem tomar parte: os gestores, os professores e os alunos. Aí, sim, dá para tecer uma linha para o trabalho cotidiano. É certo que num país de dimensões continentais como o nosso os contrastes são imensos. Não dá para comparar, por exemplo, a realidade de um garoto de uma metrópole como São Paulo com a de outro que integra uma população ri- beirinha do Amazonas. Mas nosso sistema de ensino não se ressente da falta de um currículo mínimo nacional? Branca Em primeiro lugar, ninguém pode ter dúvida de que os dois garotos têm de saber ler e escrever. E na idade certa. Mas é claro que temos de nos basear na realidade de cada um. É impor- tante trabalhar as disciplinas do garoto do Ama- zonas, relacionando-as com os rios, a floresta e a fauna locais. Ou seja, de acordo com o universo dele, para evitar distorções. Fiquei sabendo que 84 uma cidade pequena do interior paulista adotou a Educação no Trânsito como disciplina. Só que lá quase não há trânsito. Soubemos então que o prefeito e o secretário de Educação estiveram em São Paulo, se impressionaram com a situação maluca das ruas da cidade e resolveram criar a disciplina. Acontece que, para isso, tiraram ho- ras do ensino de História, Geografia e Língua Portuguesa, que são muito mais relevantes. Te- mos de levar em consideração a realidade global ou local? A local é essencial como ponto de par- tida, mas nem por isso podemos abrir mão de aspectos globais importantes. Como combater a fragmentação do conhecimento? Branca Temos muitas iniciativas interessantes, bem-sucedidas, mas nossos currículos, em geral, ainda são disciplinares, divididos e fragmenta- dos. Precisamos, por exemplo, promover discus- sões de questões que permeiem várias disciplinas. Temos de trabalhar com as relações do conheci- mento, que não pode ser morto, enciclopédico e técnico. Não se trata de qualquer aprendizagem. O ensino deve promover a criança, emancipá- -la e fazer com que ela saiba refletir e discutir as questões de seu tempo. Precisamos de instrumen- 85 tos para nos sentir à vontade em nosso mundo. Temos de trabalhar as relações entre professores e alunos e entre os próprios professores. Em muitas escolas, há docentes que se reúnem em torno de uma mesma questão e fazem diferentes aborda- gens. Por exemplo, dengue e aquecimento global. Aí entra o trabalho dos professores de Ciências, de Geografia e de História. Todo mundo pode participar coletivamente e promover um conhe- cimento que não seja fragmentado, mas relacio- nado com as diferentes áreas. Qual a importância de os currículos respeitarem os critérios de continuidade e diversidade? Branca Temos na nossa linha de pesquisa como os currículos prescritos ou apostilados impactam a Educação. Há um número enorme de municípios do Brasil que, por falta de estrutura, têm compra- do materiais de empresas privadas. Esses materiais são alheios à rede, pois não consideram a formação de professores nem os conhecimentos anteriores dos alunos, muito menos a diversidade étnica e social locais. Em casos como esse, a implementação da proposta costuma ser problemática. Como falei an- teriormente, se não for levado em conta o público
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