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1 Disciplina: Avaliação Educacional Autora: D.ra Jezuina Kohls Schwanz Revisão de Conteúdos: M.e Leandra Martins Designer Instrucional: Sérgio Antonio Zanvettor Júnior Revisão Ortográfica: Esp. Juliano de Paula Neitzki Ano: 2019 Copyright © - É expressamente proibida a reprodução do conteúdo deste material integral ou de suas páginas em qualquer meio de comunicação sem autorização escrita da equipe da Assessoria de Marketing da Faculdade UNINA. O não cumprimento destas solicitações poderá acarretar em cobrança de direitos autorais. 2 Jezuina Kohls Schwanz Avaliação educacional 1ª Edição 2019 Curitiba, PR Faculdade UNINA 3 Faculdade UNINA Rua Cláudio Chatagnier, 112 Curitiba – Paraná – 82520-590 Fone: (41) 3123-9000 Coordenador Técnico Editorial Marcelo Alvino da Silva Conselho Editorial D.r Alex de Britto Rodrigues / D.ra Diana Cristina de Abreu / D.r Eduardo Soncini Miranda / D.ra Gilian Cristina Barros / D.r João Paulo de Souza da Silva / D.ra Marli Pereira de Barros Dias / D.ra Rosi Terezinha Ferrarini Gevaerd / D.ra Wilma de Lara Bueno / D.ra Yara Rodrigues de La Iglesia Revisão de Conteúdos Leandra Martins Designer Instrucional Sérgio Antonio Zanvettor Júnior Revisão Ortográfica Juliano de Paula Neitzki Desenvolvimento Iconográfico Juliana Emy Akiyoshi Eleutério FICHA CATALOGRÁFICA SCHWANZ, Jezuina Kohls. Avaliação educacional / Jezuina Kohls Schwanz. – Curitiba: Faculdade UNINA, 2019. 93 p. ISBN: 978-65-86092-10-3 1. Avaliação. 2. Pedagogia Tradicional. 3. Taxonomia de Bloom. Material didático da disciplina de Avaliação Educacional – Faculdade UNINA, 2019. Natália Figueiredo Martins – CRB 9/1870 4 PALAVRA DA INSTITUIÇÃO Caro(a) aluno(a), Seja bem-vindo(a) à Faculdade UNINA! Nossa faculdade está localizada em Curitiba, na Rua Cláudio Chatagnier, n. 112, no Bairro Bacacheri, criada e credenciada pela Portaria n. 299 de 27 de dezembro 2012, oferece cursos de Graduação, Pós-Graduação e Extensão Universitária. A Faculdade assume o compromisso com seus alunos, professores e comunidade de estar sempre sintonizada no objetivo de participar do desenvolvimento do País e de formar não somente bons profissionais, mas também brasileiros conscientes de sua cidadania. Nossos cursos são desenvolvidos por uma equipe multidisciplinar comprometida com a qualidade do conteúdo oferecido, assim como com as ferramentas de aprendizagem: interatividades pedagógicas, avaliações, plantão de dúvidas via telefone, atendimento via internet, emprego de redes sociais e grupos de estudos, o que proporciona excelente integração entre professores e estudantes. Bons estudos e conte sempre conosco! Faculdade UNINA 5 Sumário Prefácio........................................................................................................ 08 Aula 1 – A avaliação do processo de ensino-aprendizagem ........................ 09 Apresentação da Aula 1 ............................................................................... 09 1.1 - Avaliação: natureza, concepções e procedimentos ...................... 09 1.2 - O que é avaliação? ....................................................................... 10 1.3 - Conceitos de avaliação ................................................................. 13 1.4 - A avaliação e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional 14 Conclusão da aula 1 .................................................................................... 17 Aula 2 – A Avaliação da aprendizagem ao longo da história ........................ 18 Apresentação da aula 2 ............................................................................... 18 2.1 - Breve história da avaliação educacional ....................................... 18 2.2 - Avaliação educacional no Brasil: breve histórico ........................... 22 2.3 - Avaliação educacional: contextos atuais ....................................... 25 Conclusão da aula 2 .................................................................................... 26 Aula 3 – Tipos de avaliação de aprendizagem ............................................. 27 Apresentação da aula 3 ............................................................................... 27 3.1 - Retomando a discussão sobre avaliação ..................................... 27 3.2 - A avaliação ao longo da história, avaliação tradicional ................ 28 3.3 - Avaliação Escolanovista ............................................................... 29 3.4 - Avaliação Tecnicista ..................................................................... 30 3.5 - Tipos de avaliação ........................................................................ 31 3.5.1 - Avaliação Diagnóstica ............................................................... 31 3.5.2 - Avaliação Formativa .................................................................. 34 3.5.3 - Mas o que é avaliação formativa emancipatória? ...................... 35 3.5.4 - Avaliação Somativa ................................................................... 36 Conclusão da aula 3 .................................................................................... 38 Aula 4 – Procedimentos e instrumentos técnico-metodológicos em educação ..................................................................................................... 39 Apresentação da aula 4 ............................................................................... 39 4.1 - Reflexões sobre os instrumentos avaliativos ................................ 39 4.2 - A pedagogia dos testes no Brasil .................................................. 41 4.3 - Provas dissertativas, objetivas ou orais ........................................ 42 4.4 - Trabalho em grupo ....................................................................... 42 4.5 - Relatório (individual ou em grupo) e ensaios ................................ 43 6 4.6 - Aula expositiva dialogada ............................................................. 44 4.7 - Seminário e portfólio ..................................................................... 44 4.8 - Autoavaliação ............................................................................... 46 4.9 - Discussão por meios informatizados: redes sociais, Blogs, Chats 46 Conclusão da aula 4 .................................................................................... 47 Aula 5 – Sistemas de avaliação da educação no Brasil ............................... 48 Apresentação da aula 5 ............................................................................... 48 5.1 - Para que avaliar a educação? ...................................................... 48 5.2 - Níveis sociológicos da avaliação .................................................. 49 5.3 - Avaliação institucional da escola .................................................. 50 5.4 - Abordagens teórico-metodológicas da autoavaliação da escola 53 5.5 - Como se dá o processo de autoavaliação da escola? ................... 54 Conclusão da aula 5 .................................................................................... 56 Aula 6 – Avaliações externas ou avaliações em larga escala ...................... 57 Apresentação da aula 6 ............................................................................... 57 6.1 - Avaliação em larga escala retrospectiva ....................................... 57 6.2 - O Sistema deAvaliação da Educação Básica (SAEB) .................. 59 6.3 - Participação do Brasil em sistemas internacionais de avaliação 51 6.4 - O Plano Nacional de Educação (PNE) .......................................... 64 Conclusão da aula 6 .................................................................................... 67 Aula 7 – O Exame Nacional do Ensino Médio - ENEM ................................. 68 Apresentação da aula 7 ............................................................................... 68 7.1 - Exame Nacional do Ensino Médio: contexto histórico ................... 68 7.2 - Das provas .................................................................................... 70 7.3 - Reestruturação necessária ........................................................... 73 7.4 - Os reflexos do ENEM na Educação Básica ................................... 76 Conclusão da aula 7 .................................................................................... 77 Aula 8- A avaliação como ferramenta para a melhoria da educação ............ 78 Apresentação da aula 8 ............................................................................... 78 8.1 - O diagnóstico não é garantia de uma educação de qualidade .... 78 8.2 - Mas afinal, em que estamos errando? .......................................... 80 8.3 - A influência da mídia e a divulgação dos resultados ..................... 81 8.4 - Qualidade educacional X resultados ............................................. 84 8.5 - Como mudar essa realidade? ....................................................... 86 8.6 - O papel do professor em meio às mudanças ................................ 87 Conclusão da aula 8 .................................................................................... 88 7 Índice Remissivo ......................................................................................... 89 Referências ................................................................................................. 92 8 Prefácio Estamos dando início à disciplina de Avaliação Educacional, na qual, por intermédio de nossos encontros virtuais, buscaremos estabelecer uma relação dialógica (com o texto), com a convicção de que a educação a distância tem se apresentado como uma modalidade de ensino capaz de levar uma educação de qualidade a um número cada vez maior de pessoas. Dessa forma, você terá, ao longo desta disciplina, contato com diferentes autores e conceitos a respeito da Avaliação Educacional. 9 Aula 1 – A avaliação do processo de ensino-aprendizagem Apresentação da aula 1 Olá, alunos! Esta é a nossa primeira aula da disciplina de Avaliação Educacional, em que vamos estudar o conceito de avaliação, como ela pode auxiliar nos processos de ensino e aprendizagem e quais são seus objetivos, nos ajudando a compreender sua importância na formação dos sujeitos e na prática dos professores, para que possam acompanhar os processos de construção do conhecimento dos seus educandos. Vamos lá! 1.1 Avaliação: natureza, concepções e procedimentos O ser humano está condenado a escolher. Nossa ação fundamenta-se em juízos de valor sobre o mundo que nos cerca: a natureza, a sociedade em que vivemos o futuro a ser vivido, as relações com as pessoas, as vivências. Assumimos posições. Aceitamos e lutamos por alguma coisa quando a avaliamos positivamente, assim como rejeitamos outra, quando atribuímos a ela um valor negativo. O ser humano é um ser que avalia. Em todos os instantes da sua vida (dos mais simples aos mais complexos) ele está tomando posição, manifestando-se como não neutro (LUCKESI, 2003, p.106). A avaliação educacional compõe uma parte importante dos processos de ensino-aprendizagem nos sistemas educacionais, já que ajuda na investigação dos aprendizados dos estudantes e também na prática do professor, que por meio dela pode realizar a análise do seu trabalho docente. É sobre a avaliação educacional que vamos estudar agora. Primeiro vamos discutir o que é avaliação e para que ela serve. Para isso, vamos pensar a partir de sua história e principais perspectivas dentro das correntes teóricas da educação. Depois, vamos estudar algumas concepções a partir dos conceitos mais utilizados pelos autores que estudam as práticas avaliativas e a educação. Em seguida, vamos analisar os procedimentos mais comuns que são utilizados para a realização da avaliação educacional. 10 1.2 O que é avaliação? Avaliação Fonte: https://colegioarquimedes.com.br/wp-content/uploads/2018/05/test-926x480.jpg Vamos começar a pensar sobre a avaliação educacional a partir da pergunta: o que é avaliação? A avaliação educacional é uma das partes que compõem processos de ensino-aprendizagem dos estudantes, já que é por intermédio dela que o professor pode realizar uma análise dos conteúdos, os quais ele trabalhou em sua disciplina. É uma das tarefas didáticas que se faz necessária e que é permanente para o trabalho do professor e também para o desenvolvimento do conhecimento dos estudantes. Sendo assim, é a partir das avaliações que os resultados podem ser medidos, comparados e recuperados no decorrer dos trabalhos durante a execução da matéria, em conjunto com professores e alunos, considerando-se quais são os objetivos propostos, os avanços, dificuldades e, dessa forma, orientar e organizar o trabalho para que se façam as correções necessárias. Existe uma forte concepção valorativa na palavra “avaliação” que determina toda ação do sistema educacional. Conforme Casali (2007, p.10), a avaliação: [...] de modo geral, como saber situar cotidianamente, em umacerta ordem hierárquica, o valor de algo enquanto meio (mediação) para a realização da vida do(s) sujeitos(s) em questão, no contexto dos valores culturais e, no limite, dos valores universais. Outra função importante da avaliação educacional é a de ajudar os professores nos processos de reflexão sobre a prática pedagógica. Segundo Tardif (2002), os professores, no exercício de suas funções e na prática de sua 11 profissão, desenvolvem saberes específicos baseados em seu trabalho cotidiano e no conhecimento de seu meio. As experiências proporcionam novos saberes à formação docente e os conhecimentos adquiridos nesse contexto são parâmetros para julgar sua formação. Os saberes constituem a cultura docente, pois poderão se transformar em estilo de ensino, até mesmo parte da personalidade profissional, e se manifestam por meio de um “saber fazer” e de um “saber ser”, pessoais e profissionais legitimados pelo trabalho cotidiano. Nesse sentido, a avaliação educacional entra como uma importante ferramenta para a formação dos professores, de suas práticas e como fundamental mecanismo de reflexão dos docentes sobre sua ação profissional, podendo fazer com que eles possam desenvolver suas ou outras habilidades que podem contribuir para uma melhoria do seu papel enquanto formador. Quando pensamos o que é avaliação, ainda realizamos a analogia com as provas, notas e reprovações dos alunos. Mas de onde vem a palavra avaliar? Vocabulário Avaliar: significa calcular ou determinar o valor, o preço ou o merecimento de; reconhecer a intensidade, a força de; fazer o cômputo de; calcular, computar, orçar; supor previamente; julgar segundo certas probabilidades; pressupor, presumir. A palavra “avaliar” tem sua origem no latim; com a junção de “a + valare” temos “avalere”, que significa "dar valor a". Já o conceito "avaliação" pode ter o significado de "atribuição de um valor ou qualidadea alguma coisa", podendo ter sentido de “posicionamento positivo ou negativo em relação ao objeto, ato ou curso de ação avaliado”. A seguir, podemos ver o que diz Libâneo (1994) a respeito da avaliação: [...] um componente do processo de ensino que visa, por meio da verificação e qualificação dos resultados obtidos, determinar a correspondência destes com os objetivos propostos e, daí, orientar a tomada de decisões em relação às atividades didáticas seguintes (LIBÂNEO, 1994, s/p). 12 Avaliar exige critérios estabelecidos e objetivos bem definidos, e dessa forma ela poderá ser direcionada para um processo ou um resultado de uma situação, atividade ou um dado específico, levando em consideração o contexto em que ela será realizada. É nesse sentido que a avaliação educacional deve estar inserida. A avaliação educacional exige um exercício de olhar o passado para compreender o presente, nesse sentido, conforme diz Luckesi (1995, p. 43): “enfim, terá de ser o instrumento do reconhecimento dos caminhos percorridos e da identificação dos caminhos a serem perseguidos”. Os professores precisam compreender que, como parte do processo de ensino-aprendizagem, a avaliação deve ser realizada continuamente, de maneira sistemática na escola, a fim de diagnosticar o nível de aprendizado dos discentes, como eles se relacionam com os conteúdos desenvolvidos que fazem parte dos currículos e das disciplinas, assim como a investigação, o questionamento e a busca das possíveis dificuldades que os educandos podem apresentar no decorrer das aulas. Nos processos de avaliação, podemos considerar que existem duas figuras principais: professores e estudantes. Os professores precisam identificar exatamente o que os alunos querem, colocando-se no lugar de parceria, abrindo possibilidade para que exista discussão dos critérios de avaliação coletivamente, o que pode fazer com que os resultados nos processos avaliativos sejam melhores, podendo fazer com que a aprendizagem seja realizada de maneira mais eficaz. Saiba mais Luckesi, em entrevista à Revista Nova Escola, em janeiro de 2009, lembra que a boa avaliação envolve três passos: saber o nível atual de desempenho do aluno (etapa também conhecida como diagnóstico); comparar essa informação com aquilo que é necessário ensinar no processo educativo (qualificação); tomar as decisões que possibilitem atingir os resultados esperados (planejar atividades, sequências didáticas ou projetos de ensino, com os respectivos instrumentos avaliativos para cada etapa). Disponível no link: https://nova escola.org.br/conteudo/356/a-avaliacao-deve-orientar-a-aprendizagem 13 1.3 Conceitos de Avaliação Agora que já falamos um pouco sobre o que é avaliação e para que ela deve servir, vamos conhecer alguns conceitos importantes dos principais estudiosos do tema. Para Pedro Demo (1999): Refletir é também avaliar, e avaliar é também planejar, estabelecer objetivos etc. Daí os critérios de avaliação, que condicionam seus resultados estejam sempre subordinados a finalidades e objetivos previamente estabelecidos para qualquer prática, seja ela educativa, social, política ou outra (DEMO, 1999, p.01). Já Libâneo (1994), nos diz que a avaliação é: Uma tarefa didática necessária e permanente do trabalho docente, que deve acompanhar passo a passo o processo de ensino-aprendizagem. Por meio dela, os resultados que vão sendo obtidos no decorrer do trabalho conjunto do professor e dos alunos são comparados com os objetivos propostos, a fim de constatar progressos, dificuldades, e reorientar o trabalho para as correções necessárias. A avaliação é uma reflexão sobre o nível de qualidade do trabalho escolar tanto do professor como dos alunos. Os dados coletados no decurso do processo de ensino, quantitativos ou qualitativos, são interpretados em relação a um padrão de desempenho e expressos em juízos de valor (muito bom, bom, satisfatório etc.) acerca do aproveitamento escolar. A avaliação é uma tarefa complexa que não se resume a realização de provas e atribuição de notas. A mensuração apenas proporciona dados que devem ser submetidos a uma apreciação qualitativa. A avaliação, assim, cumpre funções pedagógico-didáticas, de diagnóstico e de controle em relação às quais se recorrem a instrumentos de verificação do rendimento escolar (LIBÂNEO, 1994, p. 195). Conforme Sordi (1995), a avaliação deve ser dinâmica, fazendo com que o professor e estudante assumam seus papéis de maneira cooparticipativa, pelo diálogo e o respeito, estando ambos comprometidos com a construção dos conhecimentos e com a formação profissional de qualidade, sendo esse um ato político que expressa as concepções de homem-mundo-educação. Nesse sentido, Paulo Freire (2001, s/p) diz que: A avaliação é a mediação entre o ensino do professor e as aprendizagens do professor e as aprendizagens do aluno, é o fio da comunicação entre formas de ensinar e formas de aprender. É preciso considerar que os alunos aprendem diferentemente porque têm histórias de vida diferentes, são sujeitos históricos, e isso condiciona sua relação com o mundo e influencia sua forma de aprender. Avaliar, então é também buscar informações sobre o aluno, sua vida, sua comunidade, sua família, seus sonhos [...], é conhecer o sujeito e seu jeito de aprender. 14 Moacir Gadotti (1990) nos diz que a avaliação é essencial às práticas educacionais, sendo inerente e indissociável enquanto concebida como problematização, questionamento, reflexão, sobre a ação, fazendo-se necessária para que se possa refletir, questionar e transformar, ou apenas, formar o fazer pedagógico. Já Jussara Hoffmann (1993), nos mostra que as avaliações são ações provocativas do professor, desafiando o estudante a refletir sobre as suas experiências de vida, formulando e reformulando hipóteses, fazendo com que a partir desse processo ele seja direcionado para um saber enriquecido. O objetivo da avaliação deve principalmente alcançar uma aprendizagem que seja significativa para os estudantes e que seja capaz de promover seu desenvolvimento integral. A avaliação deve ser baseada em aspectos que ultrapassem os conceitos puramente científicos, fazendo com que a construção do conhecimento dos estudantes vá além de apenas uma classificação em categorias conceituais, buscando sempre pela qualidade de formação cidadã dos educandos. Sendo assim, as aprendizagens exigem uma permanente e sistemática reorientação das atividades docentes e de suas práticas avaliativas, buscando qualificar o processo, garantindo, para além de um padrão válido, um elemento que visa construir o conhecimento. Nesse sentido, Luckesi (1998) nos diz que: A avaliação só pode funcionar efetivamente em um trabalho educativo com estas características. Sem esta perspectiva dinâmica de aprendizagem para o desenvolvimento, a avaliação não terá espaço; terá espaço, sim, a verificação, desde que ela só dimensione o fenômeno sem encaminhar decisões. A avaliação implica a retomada do curso de ação, se ele não tiver sido satisfatório, ou a sua reorientação, caso esteja se desviando (LUCKESI, 1998, p.80). 1.4 A Avaliação e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional Já sabemos alguns dos principais conceitos de avaliação, agora vamos pensar o que a lei nos diz sobre como realizá-la. Para isso, vamos utilizar a Lei de Diretrizes de Bases da Educação Nacional, LDB 9394/96. Vale lembrar que a LDB é uma lei que determina as diretrizes que as escolas e a educação devem seguir para se orientar, sendo assim, ela é geral e não dá conta das diferentes realidades que encontramos nos sistemas 15 educacionais brasileiros, que são muito variados, de acordo com as regiões e os contextos sociais de cada uma delas. Dessa forma, a LBD trata as questões da educação de uma maneira ampla e queas peculiaridades e detalhamentos dos sistemas de ensino são objeto para a resolução de pareceres, decretos, portarias e resoluções, que dão orientação de maneira mais específica. Dito isso, a LBD traz uma discussão sobre o que é a avaliação. No Artigo 13, ela aponta: Os docentes incumbir-se-ão de: I – participar da elaboração da proposta pedagógica do estabelecimento de ensino; II – elaborar e cumprir plano de trabalho, segundo a proposta pedagógica do estabelecimento de ensino; III - zelar pela aprendizagem dos alunos; IV – estabelecer estratégias de recuperação para os alunos de menor rendimento; V – ministrar os dias letivos e horas-aula estabelecidos, além de participar integralmente dos períodos dedicados ao planejamento, à avaliação e ao desenvolvimento profissional; VI – colaborar com as atividades de articulação da escola com as famílias e a comunidade. (LDB, 9394/96). Das atribuições previstas aos professores, destacamos duas delas que são: III - zelar pela aprendizagem dos alunos e IV - estabelecer estratégias de recuperação para os entudantes com menos rendimento. Pensando a partir dessas atribuições, a Lei contribui para que possam existir novos olhares sobre os princípios e as maneiras de avaliar os processos de ensino e aprendizagem, o que se confirma no que está disposto no Artigo 24, que versa sobre a educação básica. No artigo 24, que dispõe sobre a educação básica nos níveis fundamentais e médio, temos as seguintes regras a respeito da classificação por séries ou etapa, que devem ser feitas mediante: II - A classificação em qualquer série ou etapa, exceto a primeira do ensino fundamental, pode ser feita: a) por promoção, para alunos que cursaram, com aproveitamento, a série ou fase anterior, na própria escola; b) por transferência, para candidatos procedentes de outras escolas; 16 c) independentemente de escolarização anterior, mediante avaliação feita pela escola, que defina o grau de desenvolvimento e experiência do candidato e permita sua inscrição na série ou etapa adequada, conforme regulamentação do respectivo sistema de ensino (LDB, 9394/96). Nos parágrafos III e IV, ainda a respeito das avaliações segue a resolução: III - nos estabelecimentos que adotam a progressão regular por série, o regimento escolar pode admitir formas de progressão parcial, desde que preservada a sequência do currículo, observadas as normas do respectivo sistema de ensino; IV - poderão organizar-se classes, ou turmas, com alunos de séries distintas, com níveis equivalentes de adiantamento na matéria, para o ensino de línguas estrangeiras, artes, ou outros componentes curriculares; (LDB, 9394/96). Conforme podemos observar, a LDB aponta alguns caminhos a serem seguidos por cada estabelecimento educacional, desde que sigam alguns critérios pré-estabelecidos na legislação. O Parágrafo V traz os critérios que devem ser observados para a verificação do rendimento escolar dos estudantes, são eles: a) avaliação contínua e cumulativa do desempenho do aluno, com prevalência dos aspectos qualitativos sobre os quantitativos e dos resultados ao longo do período sobre os de eventuais provas finais; b) possibilidade de aceleração de estudos para alunos com atraso escolar; c) possibilidade de avanço nos cursos e nas séries mediante verificação do aprendizado; d) aproveitamento de estudos concluídos com êxito; e) obrigatoriedade de estudos de recuperação, de preferência paralelos ao período letivo, para os casos de baixo rendimento escolar, a serem disciplinados pelas instituições de ensino em seus regimentos; (LDB, 9394/96). Pensando a partir das colocações da LDB, podemos considerar que a participação dos professores, de maneira efetiva, nas escolas, engloba a organização dos projetos escolares e também da organização da gestão da escola, como a participação na construção dos Projetos Políticos Pedagógicos, já que esse documento também vai prever as concepções de educação da 17 instituição, e assim qual a função que a avaliação deve cumprir. Nesse sentido, Luckesi nos diz que: A avaliação da aprendizagem escolar adquire seu sentido na medida em que se articula com um projeto pedagógico e com seu projeto de ensino. No caso que nos interessa, a avaliação subsidia decisões a respeito da aprendizagem dos educandos, tendo em vista garantir a qualidade do resultado que estamos construindo. Por isso, não pode ser estudada, definida e delineada sem um projeto que a articule (LUCKESI, 1998, p. 1). Luckesi (1998) aponta para um fator de extrema relevância quando o assunto é a avaliação da aprendizagem: que tipo de aprendizagem estamos buscando e o que queremos com a avaliação dos estudantes. Nesse sentido é de fundamental importância que essas questões sejam amplamente debatidas na construção do Projeto Político-Pedagógico de cada instituição, a fim de que todos possam colaborar para a construção do conhecimento. Reflita De acordo com o que estudamos até o final da primeira aula, qual seria um conceito de avaliação adequado em sua opinião? Mídias Para saber mais sobre avaliação da aprendizagem, sugiro o vídeo Cipriano Luckesi: Avaliação da aprendizagem escolar - componente do ato pedagógico, disponível no endereço: https://www.youtube.com/watch?v=RhkPt52tSUI Conclusão da aula 1 Chegamos ao final da nossa primeira aula e podemos perceber que existem várias perspectivas sobre a avaliação educacional. Cada autor elaborou um conceito sobre o que significa avaliação e como deve ser esse processo. Para os trabalhadores em educação, em especial os professores, é necessário saber qual o objetivo a ser atingido ao final da aprendizagem dos estudantes https://www.youtube.com/watch?v=RhkPt52tSUI 18 para poder saber como será realizada a avaliação, que será tanto dos seus estudantes, como também de sua própria prática. Atividade de aprendizagem Considerando nossos estudos a partir da aula 1, cite 3 objetivos que a avaliação da aprendizagem deve levar em conta. Justifique sua escolha. Aula 2 – A Avaliação da aprendizagem ao longo da história Apresentação da aula 2 Olá, aluno! Nesta aula, vamos estudar qual a história dos processos avaliativos na educação e como chegamos a alguns conceitos já estudados na primeira aula, ou seja, como eles se desenvolveram historicamente, acompanhando as transformações dos sistemas educacionais até a atualidade. 2.1 Breve história da avaliação educacional A nossa sociedade passou e ainda passa por muitas transformações. Nos modos de pensar, de conviver, de educar e também de avaliar. Desde o início dos tempos, em algumas sociedades ou tribos, os jovens, por exemplo, só passaram a ser considerados adultos depois de serem aprovados em alguma avaliação, teste ou prova sobre os seus conhecimentos, usos e costumes (SOEIRO; AVELINE, 1982). 19 Acertos e erros Fonte: https://petpedufba.files.wordpress.com/2015/11/216.jpg Chineses e gregos, há muitos anos, já estabeleciam critérios para escolher as pessoas que assumiriam determinados trabalhos ou papéis na sociedade. Na China, por exemplo, em função desses sistemas de seleção, qualquer cidadão poderia alcançar um posto de poder e destaque, isso em 360 antes de Cristo. Sócrates, na Grécia, dizia: “conhece-te a ti mesmo”, como requisito para se chegar à verdade. Já nas Universidades da Idade Média, o objetivo era formar professores, sendo assim, os estudantes precisavam ser aprovados em um exame para poder ensinar. E para serem doutores precisavam defender uma tese (SOEIRO; AVELINE, 1982). Esses aspectos avaliativos ainda hoje são observados em grande parte das Universidades espalhadas pelo mundo. As avaliações, como os exames escolares, da maneira que conhecemos nos dias de hoje, começaram a ser organizadas em meados doSéculo XVI. Já em meados do século XVII, os jesuítas escreveram um documento que foi chamado de Ratio atque Institutio Studiorum Societatis Jesu (Ordenamento e Institucionalização dos Estudos na Sociedade de Jesus). Tal documento foi publicado em 1599 e ficou conhecido por Ratio Studiorum. Ele orientava como as escolas jesuítas deveriam administrar suas práticas pedagógicas, e dentre 20 outras orientações instruía como os estudantes deveriam ser avaliados ao final de cada ano. De acordo com Luckesi (1998), esse documento descreve as normas de como devem ser realizadas as provas: Os alunos não poderão pedir ajuda aos seus colegas nem ao professor; Não poderão sentar-se juntos, para evitar cópia das respostas; A prova terá um tempo pré-estabelecido; Não será estendido esse tempo. Reflita Vocês não acham essas normas dos jesuítas parecidas com o que ainda vimos nas nossas escolas e universidades? Comenius, um bispo protestante no século XVII, publicou um livro chamado Didática Magna: tratado da arte Universal de ensinar tudo a todos. Na pedagogia de Comenius, ele insiste que a ação do professor deve ser o centro da educação, e o uso de exames deve ser um meio para estimular o aprendizado dos alunos, bem como sua produção intelectual. Na sua Didática Magna, argumentava que: [...] o aluno não deixaria de se preparar para exames finais do curso superior se soubesse que o exame para colação de grau seria pra valer. E que o medo é um excelente fator para manter a atenção dos alunos; então eles aprendiam facilmente, sem fadiga e em menos tempo. Nesse cenário, conforme Luckesi (1998), foi dado o início do uso da verificação das aprendizagens como recuso de castigos e medo para que os estudantes prestassem atenção aos ensinamentos em sala de aula. Também diz que as avaliações dos alunos e alunas são feitas por meio de provas, tanto escritas como orais, temas para casa, exercícios e que estes possuem uma cobrança excessiva e muitas vezes com punição como consequência. Geralmente valorizando a memorização, o que faz com que a aprendizagem se 21 torne superficial, com objetivo de ganhar nota valorizando a competição entre os estudantes, que são submetidos a um sistema de classificação. Nesse contexto histórico brevemente apresentado, podemos refletir que ao longo da história da educação, sempre que pensamos em avaliação da aprendizagem, ligamos esse ato ao da aprovação ou reprovação dos alunos e alunas. No século XVIII, as escolas modernas começam a tomar forma, a utilização de exames para a avaliação ficou associada a essa ideia acima, de controle, atribuição de notas e evidentemente aos resultados alcançados. No ano de 1934, Tyler foi o primeiro a utilizar o termo “avaliação educacional”, na mesma época em que a educação começou a formular objetivos que precisavam ser cumpridos e também verificados. Os testes de Tyler eram chamados de “avaliação da aprendizagem” e tinham por objetivo saber se os negros americanos apresentavam desempenho menor em função das deficiências da educação que recebiam. Assim, em 1965, a avaliação começa a fazer parte da metodologia de disciplinas, como a antropologia e a filosofia, utilizando abordagens qualitativas. Importante Existe uma diferença básica entre exame e avaliação da aprendizagem: o primeiro estava relacionado a todo o tipo de procedimento sistemático e avaliativo com o advento do período moderno. Já avaliação da aprendizagem surge nos anos 1930, utilizado por Ralph Tyler, um tecnicista, para explicar um cuidado necessário dos professores para com os alunos. Nesse mesmo ano, os Estados Unidos promulgaram a Lei sobre a Educação Primária e Secundária, em que a avaliação de programas especiais para alunos de origem familiar pobre e marginal passa a ser obrigatória, como propôs o senador Robert Kennedy. Pouco tempo depois, todos os programas educativos e sociais dos Estados Unidos adotaram as avaliações de maneira obrigatória. Na mesma época, o país passava pela chamada profissionalização, que se estendeu até o início da década de 80. Nesse contexto, diferentes autores 22 utilizaram vários enfoques para os sistemas avaliativos, valorizado os métodos qualitativos e indicando uma visão democrática das avaliações. De acordo com Dias (2002), os anos 80 do século XX trouxeram um novo rumo no campo da avaliação, principalmente nos Estados Unidos e Inglaterra. O neoliberalismo avança e as crises econômicas fazem os Estados tornarem-se controladores e fiscalizadores, tendo como consequências dessas transformações o papel fundamental das avaliações para que os governos implementassem uma cultura gerencialista e fiscalizadora. Nesse cenário, a educação precisa dar conta das exigências dos mercados e as universidades começam a ser cobradas como se fossem empresas ou outra organização competitiva. Este breve relato dos fatos históricos pode nos ajudar a compreender a origem das avaliações e suas transformações ao longo da história da educação, em que sua função vai se modificando conforme os objetivos educacionais mudam. A avaliação educacional é tema de estudo de vários autores na atualidade e que pretendem discutir, analisar, conhecer e sugerir mudanças nas práticas avaliativas. Jussara Hoffman, Cipriano Luckesi e José Carlos Libâneo estão entre os autores que podemos destacar. Já conhecemos seus conceitos na nossa primeira aula, e eles vão nos acompanhar nos nossos estudos sobre avaliação educacional. Agora que já sabemos um pouco dessa história, no próximo item iremos abordar como a avaliação tem se delineado no contexto brasileiro. 2.2 Avaliação educacional no Brasil: breve histórico Como já vimos anteriormente, os sistemas de avaliação não são procedimentos tão recentes na história. No Brasil, a chegada dos portugueses ao nosso país data de 1500, e os primeiros sinais de um sistema de avaliação da aprendizagem por aqui são a partir de 1549, com o ensino jesuítico, caracterizado pela postura tradicional, em que o professor era o único detentor do conhecimento. Ao chegarem ao Brasil, os Jesuítas começaram a educar os índios, fazendo com que eles participassem do processo de catequização, para que 23 assim o sentimento de educação fosse instalado na colônia. Conforme afirma Libâneo (1994), o ensino baseado nos princípios jesuítas tem: Os objetivos, explícitos ou implícitos, referem-se à formação de um aluno ideal desvinculado com a sua realidade concreta. O professor tende a encaixar o aluno em um modelo idealizado de homem que nada tem a ver com a vida presente e futura. A matéria de ensino é tratada separadamente, isto é, desvinculada dos interesses dos alunos e dos problemas reais da sociedade e da vida (LIBÂNEO, 1994, p. 64). Mesmo que o ensino jesuítico não tivesse um sistema avaliativo oficial, o ensino era focado em práticas de memorização em que os estudantes acabavam sendo obrigados a decorar os conteúdos, conforme Aranha (1989) nos mostra na citação a seguir: O ensino jesuítico possuía uma metodologia própria baseada em exercícios de fixação por meio de repetição, com objetivo de serem memorizados. Os melhores alunos auxiliavam os professores a tomar lições de cor dos outros, recolhendo exercícios e tomando nota dos erros dos outros e faltas diversas que eram chamadas de decuriões. As classes inferiores repetiam lições da semana todo sábado. Daí a expressão “sabatina” utilizada por muito tempo para indicar formas de avaliação (ARANHA, 1989, p. 51). Esse tipo de ensino permaneceu no Brasil por aproximadamente 200 anos, e até hoje ainda existem algumas escolas jesuítas que estão em funcionamento. A educação dos padres jesuítas e as formas como eles transmitiam o conhecimento influenciaram a constituição da nossa educação e os processos avaliativos.Pensando na avaliação das aprendizagens, o Brasil republicano trouxe uma forma mais sistêmica para o sistema educacional. Os alunos passaram a ser testados constantemente sobre seus aprendizados, por meio da realização de provas, tanto escritas como orais. Práticas e avaliações restringiam-se à aprovação e reprovação dos estudantes. Dessa maneira, a partir de 1904, a avaliação que já estava sendo organizada de uma forma mais sistemática passa a contar com um sistema de notas que iam de 0 a 5. Em 1920, com a primeira república, as discussões sobre as formas do ensino começaram a ser debatidas, já que a educação formal tradicional era destinada às elites. Anísio Teixeira, em 1932, começa a lutar por uma escola que fosse mais democrática e que contemplasse toda a população, ganhando força principalmente a partir do Manifesto Pioneiro, do qual foi um dos idealizadores. 24 A partir da década de 1930, pode-se estabelecer uma linha do tempo que demonstra como a avaliação educacional foi se modificando na educação brasileira. Segundo Albuquerque (2012), podemos dividir da seguinte forma: 1930: amplia-se a ideia de mensuração por meio de testes padronizados. Os conceitos de avaliação e mensuração estão intimamente ligados; 1940: impacto dos estudos de Tyler e Smith, que incluíam vários procedimentos de avaliação, tais como: testes, registros de comportamento e escalas; 1950/1960/1970: ampla divulgação da obra de Taylor. Incorporação da avaliação por objetivos. Concepções diagnósticas, formativas e somativas; 1980: processo de redemocratização do país à avaliação começa a romper com o positivismo e fundamenta-se em uma perspectiva crítica; 1990: aprofundamento dos estudos sobre currículos. As avaliações começam a ter um sentido de emancipação. Tendo como ponto de partida a linha do tempo proposta por Albuquerque (2012), temos a partir da década de 90 a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei 9394/96, que já vimos algumas orientações quanto às avaliações na nossa aula 1, que você pode retomar. Além da LDB 9394/96, os Parâmetros Curriculares Nacionais, PCNs (BRASIL, 1997) trazem uma perspectiva que pretende superar a visão tradicional de avaliação. Dessa forma, compreende-se avaliação como parte integrante e intrínseca dos processos educativos. Conforme os Parâmetros Curriculares Nacionais: [...] a avaliação das aprendizagens só poderá acontecer se forem relacionadas com as oportunidades oferecidas, isto é, analisando a adequação das situações didáticas propostas aos conhecimentos prévios dos alunos e aos desafios que estão em condições de enfrentar. (BRASIL, 1997). 25 Agora que já sabemos um pouco mais da história da avaliação e como ela foi se desenvolvendo e se transformando no mundo e no Brasil, vamos falar um pouco das atuais concepções de avaliação educacional. 2.3 Avaliação Educacional: contextos atuais Historicamente, percebemos que a avaliação é um fenômeno que vai assumindo diferentes objetivos e funções ao longo dos anos, porém o termo ainda vem sendo utilizado de maneira relacionada à prática tradicional de ensino. A relação com as provas, notas, aprovação, parecer, reprovação ainda é feita por muitos educadores, como nos diz Jussara Hoffmann (1994). Conforme já estudamos, a avaliação faz parte dos processos de ensino- aprendizagem e na atualidade ganham muito espaço, já que além das avaliações realizadas nas escolas, temos as avaliações nacionais e internacionais, que chamamos de avaliações de larga escala e que também vamos estudar mais adiante. A avaliação, de acordo com Luckesi (2002), deve ser assumida, preferencialmente, como um instrumento para mensurar a qualidade dos processos educativos em que seja possível perceber o desenvolvimento dos alunos e alunas, fazendo com que os professores possam perceber e acompanhar os estágios em que os estudantes se encontram, conseguindo estabelecer um vínculo entre sua prática, o ensino e a qualidade das suas abordagens didáticas em sala de aula. Atualmente os educadores estão mais receptivos a refletirem sobre suas práticas avaliativas e seus objetivos para avaliar seus estudantes, modificando sua percepção sobre o papel da avaliação e considerando os diferentes contextos dos quais participam e as diferentes realidades das quais seus alunos e alunas fazem parte. Mesmo assim, a avaliação ainda se configura como o meio de obter resultados, objetivo da aprendizagem escolar. Considerando nossos estudos até aqui, podemos dizer que, como nos mostra Perrenoud (1999), estamos em um momento de reestruturação interna das escolas e das suas práticas de avaliação, que devem ser realizadas de maneira contínua, formativa e pensadas para o desenvolvimento integral dos estudantes, superando as ideias de punição e castigo. 26 É importante que, a partir das avaliações, seja possível identificar as possíveis causas das dificuldades, para que com uma reflexão os processos de ensino-aprendizagem e das práticas adotadas se possa qualificar cada vez mais os processos educativos, já que a avaliação é um processo de aprendizagem, compreensão e troca de conhecimentos, e não de exclusão. Reflita Quais os desafios históricos que os processos de avaliação e as práticas profissionais dos professores precisam superar nos dias de hoje? Saiba mais A polêmica que envolve a avaliação educacional e escolar é discutida neste programa. Avaliar ou não avaliar? Quais são os objetivos da escola ao avaliar os alunos? Para entender essas questões, ouvimos pesquisadores e professores de escolas públicas de São Paulo. Disponível no link: https://www.youtube. com/watch?v=sJeGDLfv4LA Conclusão da aula 2 Chegamos ao final da nossa segunda aula e podemos concluir que os processos de avaliação educacional vêm se transformando ao longo da história da educação, sendo utilizados de acordo com os objetivos de cada momento histórico. Assim, desde a antiguidade, os processos de aprendizagem passam por instrumentos avaliativos, mesmo quando estes não eram sistematizados. Atualmente, existem diversas maneiras de se realizar a avaliação das aprendizagens, sendo que ainda precisamos superar algumas ideias tradicionais que utilizam os processos avaliativos como forma de punição e não como uma ferramenta de reflexão sobre a prática e a construção do conhecimento dos estudantes. Atividade de aprendizagem Considerando nossos estudos, qual é o papel da avaliação educacional atualmente? 27 Aula 3- Tipos de avaliação de aprendizagem Apresentação da aula 3 Olá, alunos! Nesta aula, falaremos dos Tipos de avaliação de aprendizagem, dentre eles, a avaliação diagnóstica, a formativa e a somativa. As inúmeras formas de avaliação escolar, da escola e do sistema de ensino, historicamente têm sido motivo de polêmica entre os educadores, educandos e gestores. O simples ato de pensarmos o aprendizado como sendo mensurável já é por si só controverso. Então, como avaliar, de acordo com um parâmetro único crianças e adultos com diferentes vivências e diferentes estágios de conhecimento? 3.1 Retomando a discussão sobre avaliação Conforme os conceitos trabalhados nas aulas anteriores, em que refletimos sobre a avaliação, bem como os teóricos que vêm discutindo esta temática, devemos lembrar que a avaliação constitui-se como um processo longo e amplo. Sob o ponto de vista prático, podemos destacar as vertentes que levam em conta os aspectos quantitativos e os que consideram os qualitativos. Para que o sistema avaliativo possua uma eficiência, devem ser considerados os dois princípios sem privilegiar nenhum. Para Luckesi, o sistema de ensino brasileiro está centrado nos princípios avaliativos voltados ao regime de provas e exames. As notas dos estudantes passam a ser imprescindíveis paracompor os índices e curvas estatísticas que estimulam o processo de “promoção” e não as séries de escolaridade. Vivemos no Brasil uma “Pedagogia do exame” que provoca consequências desastrosas; sob o ponto de vista pedagógico, pois não contribui para a melhoria do aprendizado; sob aspectos psicológicos ao estimular a constituição de estudantes submissos e consequências sociológicas por não estimular a reflexão dos estudantes (LUCKESI, 1998, p. 18). Segundo ele, para a elaboração de mecanismos avaliativos é preciso compreender o nível de desempenho dos estudantes, ou seja, perceber a sua 28 realidade e, a partir disso, construir relação com o que é realmente importante no processo educativo (LUCKESI, 1998, p. 23) Assim, é essencial que os critérios avaliativos estejam bem definidos, mas principalmente em consonância com o que é trabalhado e desenvolvido pelo professor ao longo do ano. Dessa forma, não faz sentido exigir do estudante técnicas e compreensões além do que foi experienciado por ele ao longo dos encontros. Entretanto, muitas vezes o educador solicita uma reflexão lógica, quando exercitou apenas a memorização. Para que haja a ponte entre memorização e reflexão, no processo de ensino-aprendizagem, é preciso assegurar a aprendizagem significativa, construindo uma conexão com o que o estudante já sabe. Essas pontes ligam os diferentes conhecimentos, montando uma estrutura cognitiva; esta cognição vai diferenciar o que é memorização mecânica do pensar crítico. Compreendemos que a avaliação deve alcançar uma aprendizagem que seja significativa para os alunos e capaz de promover o seu pleno desenvolvimento. Dessa forma, a avaliação deve ultrapassar os conceitos meramente científicos, mas manter-se preocupada com a formação como um todo, como uma estratégia que impulsione a formação para a cidadania. Sem esse propósito claro, a avaliação dará lugar a apenas uma verificação dos conteúdos, sem uma ponderação tanto por parte dos estudantes quanto do próprio fazer pedagógico. Entretanto, é bastante complicado fugir das armadilhas da avaliação classificatória que verifica a aprendizagem por meio das medidas, pois tem sido utilizada na maioria das instituições escolares. O grande problema instalado nessa perspectiva é considerar que os indivíduos adquirem conhecimento da mesma forma e do mesmo modo. 3.2 A avaliação ao longo da História, avaliação tradicional A definição pedagógica proposta pela escola tradicional tem suas origens na Idade Média. Entretanto foi a partir do século XIX até a década de 1930 que essa pedagogia se firmou no Brasil. Com fundamentação eclesiástica, caracterizava-se pela falta de criticidade e enfrentamento, com um sistema 29 educacional burocratizado e centrado em gestores com um poder inquestionável. Aqui, o professor cumpre um papel de detentor do conhecimento. O ensino prima por um saber fragmentado que valoriza a memorização e a repetição. Mesmo assim é importante salientar que até os dias atuais vemos resquícios dessa pedagogia tradicional nas diferentes escolas do país, sendo difícil afirmar que essa proposta tradicionalista tenha terminado realmente nos anos de 1930. A metodologia utilizada é a didático-dedutiva, que parte do geral para as particularidades. Inserida nessa perspectiva, a avaliação não está focada nos princípios formativos, mas ao contrário disso, está centrada em testes e exames classificatórios e excludentes. O estudante não questiona, apenas obedece às ordens. Tanto Saviani quanto Luckesi concordam que a avaliação tradicional está “centrada no intelecto na transmissão de conteúdo e na pessoa do professor” (SAVIANI apud LUCKESI, 1998, p. 30). 3.3 Avaliação escolanovista Nascida a partir dos anos de 1930 e centrada no Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, de 1932 (SAVIANI, 2013, p. 241-257), baseava-se nos princípios da Educação pragmática, centrada na solidariedade, serviço social e cooperação. A proposta do sistema educacional tinha três temas: a educação como essencialmente pública, escola laica, gratuidade e obrigatoriedade do ensino (SAVIANI, 2013, p. 249). A Escola Nova teria por base atividades espontâneas, “alegre(s) e fecunda(s), dirigida(s) à satisfação das necessidades do próprio indivíduo” (MANIFESTO, 1932). A centralidade está no sujeito, sendo ele o protagonista principal do processo de ensino-aprendizagem. Fortemente influenciados pela psicologia, defendiam que além de aprender é preciso aprender a aprender, nesse ponto cabe ao professor ser um provocador e estimulador nesse processo. A avaliação passa a ter natureza qualitativa, havendo a participação dos alunos e o seu crescimento subjetivo na construção da sua aprendizagem, a partir de processos avaliativos do conhecimento e experiência dos educandos. O fazer avaliativo é compreendido como uma etapa válida para o estudante e 30 deve ser apenas uma parcela do caminho da aprendizagem. Dessa forma, não se pode visar só aos aspectos intelectuais, mas, sim, às atitudes e à aquisição de habilidades. 3.4 Avaliação tecnicista A partir dos anos 1960 a 1970, cresce, no Brasil, a perspectiva tecnicista da pedagogia e com ela os sistemas avaliativos presentes nesse período. Vale lembrar que nesse momento histórico o país passava por uma Ditadura Militar e essa pedagogia integrava-se totalmente à perspectiva política repressora, por não valorizar a educação crítica. A avaliação tecnicista procurava medir a aprendizagem, tentando utilizar como parâmetro de análise os instrumentos de racionalidade propostos pelo Positivismo. Em consonância com essa perspectiva, as respostas de aprendizagem são sistematizadas a partir de dados. Neste período ditatorial, as escolas passaram por uma intensa reorganização, voltadas para a burocratização do ensino (SAVIANI, 2013). De acordo com Saviani: Se na pedagogia tradicional a iniciativa cabia ao professor, que era, ao mesmo tempo, sujeito do processo, o elemento decisivo e decisório; e se na pedagogia nova a iniciativa se desloca para o aluno, situando-se o nervo da ação educativa na relação professor-aluno, portanto, relação interpessoal e intersubjetiva: na pedagogia tecnicista o elemento principal passa a ser a organização racional dos meios, ocupando o professor e o aluno posição secundária, relegados que são a condição de executores de um processo cuja a concepção, planejamento, coordenação e controle ficam a cargo de especialistas supostamente habilitados, neutros, objetivos, imparciais (SAVIANI, 2013, p. 382). A concepção de avaliação tecnicista procurou ao longo da sua formação teórica a neutralidade da ciência. Conforme aponta Caldeira: A Pedagogia Tecnicista [...] sempre buscou adquirir o “status” de ciência, libertando-se da introspecção e fundamentando-se na lógica científica dominante que lhe garantisse a objetividade das ciências da natureza. Seu principal foco de preocupação são as mudanças comportamentais que possam ser cientificamente observadas, portanto, quantificadas (CALDEIRA, 2000, p. 53). 31 Entretanto, os críticos da metodologia avaliativa tecnicista alertaram que o processo avaliativo da aprendizagem não constitui-se como um fazer neutro, ou seja, o educador não está isento de intencionalidade e por conta disso está comprometido politicamente e epistemologicamente, tratando-se de uma atividade que envolve intencionalidade e ação. Não se trata de um procedimento meramente técnico. 3.5 Tipos de avaliação Neste item, iremos abordar diferentes tipos de avaliação, entre eles a avaliação diagnóstica, a avaliação somativa e a avaliação formativa, para que você possa conhecer e entender como esses diferentes tipos podem ter abordagens distintas no contexto educacional. 3.5.1 Avaliação diagnóstica As discussões sobresistema avaliativo na escola iniciaram nos Estados Unidos e foram influenciadas por diferentes teóricos como: Ralph Tyler, Popham, Bloom, Gronlund, Ebel e Ausubel. A maioria das pesquisas possui relação com os estudos e índices de reprovação, aprovação e evasão escolar. Influenciados pelas ciências exatas, essas análises tentavam criar critérios para classificar os estudantes com a menor margem de erro. O primeiro autor a defender o uso dos termos “avalição diagnóstica”, “formativa” e “somativa” foi Benjamin Bloom, que definiu a avaliação diagnóstica como um dos mais importantes marcadores da prática avaliativa. Em a Taxonomia dos Objetivos Educacionais, conhecida também como Taxonomia de Bloom, realizou um estudo desenvolvido por vários pesquisadores, os quais estabeleceram três domínios para a aprendizagem, sendo eles o cognitivo, o afetivo e o psicomotor. O que nos importa aqui está no domínio do cognitivo, é nessa área que se encontra, segundo o autor, o conhecimento, a compreensão e o pensar. É no cognitivo também que avaliação se situa como forma de julgar. Para Bloom, a avaliação percorre um processo contínuo capaz de verificar a eficácia dos 32 objetivos educacionais, tendo também a função de retroalimentação e diagnóstico (BLOOM apud SILVA, 1991). Luckesi discorda de Bloom, no sentido de que qualquer prática avaliativa pode ser considerada diagnóstica, sendo assim não se trata de limitá-la a apenas a uma etapa da avaliação. De acordo com esse autor, a prática avaliativa tem dois pontos básicos: Investigar sobre o desempenho de alguma coisa, projeto, instituição ou pessoa (o que está ocorrendo e as razões pelas quais o que está ocorrendo, está ocorrendo), atribuindo-lhe uma qualidade, e, em segundo lugar, proceder uma intervenção, tendo em vista o redirecionamento da ação, instituição ou pessoa (se necessário) e, consequentemente, a obtenção dos resultados colimados. Se efetivamente construímos os resultados, ao longo de nossa ação, eles sempre serão satisfatórios, na medida em que foram construídos. Assim sendo, os resultados a que chegamos pela nossa ação serão os "somativos" (para usar a linguagem de Bloom) e, consequentemente, base para uma nova ação (LUCKESI, 2005, s/p.). Os apontamentos de Luckesi sobre avaliação diagnóstica foram amplamente utilizados a partir dos anos 1980, período de redemocratização política no país. Estimulado pelo momento político do Brasil, o autor falou da avaliação diagnóstica como um processo sistemático e efetivamente democrático. Mas foi nos anos de 1990 que suas teorias foram relativizadas pelas teorias da Psicologia Cognitiva, Construtivistas da Aprendizagem (ALBUQUERQUE, 2009, p. 102) Para Kraemer, a avaliação diagnóstica consiste na averiguação dos conteúdos propostos de forma a mapear as dificuldades futuras do estudante, permitindo, dessa forma, resolver questões do presente. A avaliação diagnóstica pretende averiguar a posição do aluno face a novas aprendizagens que lhe vão ser propostas e a aprendizagens anteriores que servem de base àquelas, no sentido de obviar as dificuldades futuras e, em certos casos, de resolver situações presentes (KRAEMER, 2005, p. 7). Dessa forma, o papel da avaliação diagnóstica é identificar os conhecimentos que alicerçam a aprendizagem, propiciando assim assimilar conteúdos que serão partilhados durante o caminhar desse educando. Para que isso ocorra de forma a contribuir para a avaliação formativa, é preciso que essas duas etapas não estejam tão separadas, muito pelo contrário. 33 Conforme mencionado anteriormente, Luckesi salientou que não se trata de modelos avaliativos separados, já que a avaliação formativa não deixa de ser um diagnóstico da etapa de conhecimento em que se encontra o estudante. Sendo assim, quando a avaliação é conduzida pelos caminhos do diagnóstico formativo, são observados: Um estímulo ao crescimento e ao fortalecimento das dinâmicas do professor e do aluno; um processo na busca do equilíbrio sem censuras, repressões e punições; uma segurança na caminhada pedagógica; uma garantia dos interesses e do direito das pessoas e das instituições; um meio para superar limitações sem traumas; uma ajuda para o aluno saber tomar decisões, a aprender a aprender por causa da transitoriedade dos conhecimentos (MACHADO, 1995, p. 33). Para que haja um pleno desenvolvimento da aprendizagem, a avaliação diagnóstica deve promover uma reflexão com o objetivo de reformular o plano de ação dos educadores. Sendo assim, se torna essencial que a cada ciclo sejam realizadas análises, pois a variável “tempo” pode ser um fator decisivo e favorecer ou prejudicar o percurso formativo, caso não seja realizada uma ponderação constante, crítica e participativa. Reflita Como a avaliação diagnóstica ocorre nas escolas? Será que na prática se trata de um método utilizado pelos professores? A escola é um espaço burocrático e formal, com o intuito de desenvolver a formação integral do educando, conduzindo-o para um posicionamento crítico e emancipatório. Se partirmos do princípio que inserido nesse contexto a prática avaliativa está no centro da relação entre professor e aluno, na qual o poder do educador se estabelece, a dialética atrelada ao processo de aquisição de conhecimento dá lugar a uma relação assimétrica. Nesta mesma lógica é aplicada a avaliação diagnóstica, na qual ocorre a averiguação do conhecimento por parte do professor, que estabelece níveis e patamares ocupados por cada indivíduo, para que seja possível alcançar o nível seguinte. 34 O ritual avaliativo é carregado de um simbolismo que causa terror nos alunos e constitui-se como uma porta que levaria à felicidade da próxima etapa educativa. A grande armadilha da qual o professor deve escapar é a do “rótulo” que é atribuído a cada estudante, pois a cada diagnóstico são estabelecidos aqueles que devem passar para o próximo estágio e os que precisarão de mais tempo. Transcender a essa “rotulação” configura-se como um dos principais desafios almejados pelos educadores. 3.5.2 Avaliação formativa A avaliação formativa pode ser interpretada como um conjunto de práticas de avaliação contínua e objetiva necessárias ao desenvolvimento da aprendizagem. Diferentes autores têm dissertado sobre o que seria a avaliação formativa. No Brasil, essas divergências teóricas são levantadas principalmente pela utilização das Leis de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Tanto no texto da LDB, Lei n. 5.692/71 (BRASIL, 1971) quanto na Lei n. 9.394/96 (art. 23) pouco se alterou o pressuposto que define a avaliação formativa como uma “verificação do rendimento escolar” (BRASIL, 1996). No percurso dos anos 1980, houve uma preocupação sociocultural nos conceitos que fundamentavam a avaliação formativa, os quais levavam em consideração os aspectos sociais que influenciaram o rendimento do educando. Nesse período ganha espaço a avaliação qualitativa e formativa de crítica às metodologias de avaliação tecnicista. De acordo com Cardinet, Allal e Perrenoud, existe uma distância conceitual entre a avaliação tradicional e a que propõe uma orientação do aluno “quanto ao trabalho escolar, procurando localizar as suas dificuldades para o ajudar a descobrir os processos que lhe permitirão progredir na sua aprendizagem”. Nesse enfoque, a avaliação formativa está em oposição à somativa, a qual constrói apenas um “balanço parcial” (1986, p. 14). Nesse sentido: [...] avaliação formativa opõe-se à avaliação somativa que constitui um balanço parcial ou total de um conjunto de aprendizagens. A avaliação formativa se distingue ainda da avaliação de diagnóstico por uma conotação menos patológica, não considerando o aluno como um caso a tratar, considera os erros como normais e característicos de um 35 determinado nívelde desenvolvimento na aprendizagem (CARDINET, 1986, p.14). O autor salienta que o termo “diagnóstico” imprime uma carga patológica de modalidade avaliativa. Dessa forma, aquele que fosse identificado com uma dificuldade de aprendizagem receberia uma diferente abordagem no ciclo escolar. A caminhada formativa pressupõe uma evolução sistemática do educando. Na formativa, esse acompanhamento pedagógico seria constantemente. Deve-se levar em conta que a escolaridade dividida em ciclos é propícia, uma evolução contínua e progressiva. Nessa perspectiva, todos aqueles indivíduos que necessitam de um acompanhamento mais próximo recebem respaldo, pois nessa modalidade qualquer exclusão, classificação ou rejeição são execradas. Mas será que todos aprendem de forma igual? Nós sabemos que a perspectiva de uma sala de aula composta de um grupo homogêneo em que todos aprendem da mesma forma e no mesmo ritmo é deveras uma utopia. Nessa caminhada formativa, a autoavaliação da instituição e do educador é essencial, partindo do seu fazer até a análise do próprio projeto político- pedagógico da escola. 3.5.3 Mas o que é avaliação formativa emancipatória? Os primeiros teóricos a discutir sobre avaliação emancipatória foram Saul (1988), Hadji (2001) e Perrenoud (1999). Considerado como um rompimento para avaliação tradicional, a avaliação emancipatória foi cunhada primeiramente por Saul, que a definiu como um processo pelo qual uma dada realidade pode ser transformada. Segue uma proposta libertadora ao estimular o sujeito a construir a sua própria história e romper com o determinismo (SAUL, 1988, p.61). Entre seus principais objetivos, está tornar o sujeito autodeterminado; promover uma educação crítica que usa a avaliação como um mecanismo de transformação; o “processo pode permitir que o homem, por meio da consciência crítica, imprima uma direção às suas ações nos contextos em que se situa” (SAUL, 1988, p.61). 36 Os princípios teóricos que alicerçam a avaliação emancipatória são: Avaliação democrática; Crítica Institucional e criação coletiva; Pesquisa participante. Sendo assim, a avaliação se torna um espaço democrático, em que o estudante deve ser estimulado à reflexão, ação e transformação. Partindo de uma reflexão, imprime-se uma ação que resultará em transformação. Dessa forma, avaliar não é medir, é promover. 3.5.4 Avaliação somativa A avaliação somativa é um importante processo quando o educador deseja constatar o fracasso ou sucesso de um determinado projeto, entretanto, recomenda-se que a avaliação formativa esteja em primeiro lugar, já que suas informações são subsídios para reelaboração dos procedimentos pedagógicos. Ela vem de uma raiz tradicional, em que a proposta de educação está centrada no professor, com averiguação do desempenho do estudante, mirando sempre nos conteúdos e no planejamento de aula. Seus instrumentos avaliativos resumem-se a provas e testes de memorização. Para Kraemer (2006), a avaliação somativa descobre o nível de rendimento mostrado apenas no final de um ciclo de aprendizagem, ou seja, se trata de uma informação determinista. Conforme Miras e Solé: Determinar o grau de domínio do aluno em uma área de aprendizagem, o que permite outorgar uma qualificação que, por sua vez, pode ser utilizada como um sinal de credibilidade da aprendizagem realizada. Pode ser chamada também de função creditativa. Também tem o propósito de classificar os alunos ao final de um período de aprendizagem, de acordo com os níveis de aproveitamento (MIRAS, SOLÉ apud KRAEMER). Com relação à perspectiva somativa, Azzi ressalta que tem sido a mais utilizada nas escolas, pois é a que mais se adequa aos sistemas de educação no Brasil, por objetivar a classificação: 37 A avaliação que acontece ao final nos dá uma dimensão do significado e da relevância do trabalho realizado. Difundida nos meios educacionais com a denominação de somativa, é sempre associada à ideia de classificação, aprovação e reprovação. Tal associação tem sentido e não é errada em uma proposta que tenha esses objetivos. Em uma proposta que vise à inclusão do aluno, a avaliação final necessita ser redimensionada, sem perder seu caráter de seriedade e rigor (AZZI, 2001, p. 19). Azzi aponta, ainda, que a avaliação somativa, na maioria das vezes, está em oposição à continuada, já que a segunda abre mais espaço para a observação pedagógica mais focada no estudante, e não apenas nas metas. A educação contínua ainda possui a vantagem de respeitar o tempo do aluno, pois não existe um limite tão demarcado como no ano letivo. Em comparação, podemos dizer que a avaliação continuada trata o processo de aprendizagem com outro enfoque teórico e metodológico, respeitando as diferenças entre os tempos do transcurso cognitivo. A avaliação continuada permite que os procedimentos técnicos do professor realcem o perfil do educando, para que assim seja possível reformular o trabalho do professor. Vamos conhecer as diferentes abordagens sobre os tipos de avaliação? Autor Diagnostica(ar) Formativa/controlar Somativa/classificar Haidt 1995 (Bloom) Conhecer o aluno: bagagem cognitiva, habilidades; Identificar dificuldades de aprendizagem (causas). Verificar se os objetivos foram atingidos. Informar sobre progressos e dificuldades; Retroalimentação; Objetivo: aperfeiçoar o processo e dar condições de êxito. Promover o aluno: classifica segundo nível de aproveitamento; Caráter seletivo e competitivo. SanfAnna 1995 (Bloom) Determinar a presença ou ausência de conhecimentos, habilidades, pré- requisitos; Sondagem da situação do desenvolvimento do aluno. Ver o que aprendeu e o que não aprendeu; Objetivo: reajustar a ação. Localizar as deficiências na organização do ensino; Indicar como os alunos estão se modificando; Objetivo: tomar decisões. Classificar segundo nível de aproveitamento, segundo rendimento. 38 Lian Sousa in Souza 1993 (com base em vários autores, inclusive Bloom) Caracterizar o aluno quanto a interesses, necessidades e habilidades; Identificar causas das dificuldades de aprender; Objetivo: replanejar o trabalho Favorecer o desenvolvimento individual, estimular crescimento e capacidade de auto avaliar-se; Controlar a eficácia dos planos e eficiência dos métodos. Verificar alcance dos objetivos; Objetivo: tomada de decisões. Classificar o aluno de acordo com nível de aproveitamento (no final). Diniz 1982 (Bloom) Determinar as habilidades iniciais, requisitos prévios, caracterizar interesses, personalidade, atividades; Descobrir causas e deficiências da aprendizagem; Objetivo: tomar medidas terapêuticas. Avaliação sistemática para precisar o grau de domínio da aprendizagem; Feedback contínuo, alerta; Verificar falhas (sem notas); Recuperação imediata, imprescindível. Classificar o aluno segundo o nível de aprovação expresso em notas. Modalidade/função da avaliação Fonte: elaborado pelo autor (2019), adaptado pelo DI (2020). Saiba mais Para que você possa aprofundar seus conhecimentos na área de avaliação educacional, sugiro a leitura do livro de Cipriano Luckesi “Avaliação da Aprendizagem Escolar”. Boa leitura! Mídias O filme A Sociedade dos poetas mortos se passa em 1959, na escola preparatória Welton Academy, conhecida por seu método de ensino rigoroso e autoritário, que muda apenas com a presença do professor de Literatura Inglesa, Sr Keating. Nesse filme tente analisar os métodos avaliativos classificatórios presentes em uma escola tradicional com o Welton Academy. Disponível no link: https://www.youtube.com/watch?v=bOukvR5ZydQ Conclusão da aula 3 Ao longo desta aula, discutimos as diferentes abordagens apresentadas por distintos autores sobre avaliaçãodiagnóstica, formativa e somativa. Percebemos ao longo das nossas leituras o quanto é importante debatermos 39 sobre a avaliação, seu significado e o seu uso dentro do sistema de ensino. Sem uma avaliação de qualidade, centrada nos seus reais objetivos, não é possível analisar o quanto o educando progrediu ou regrediu durante o ciclo educacional. Atividade de aprendizagem A partir das leituras e do filme sugerido, disserte sobre o que você compreendeu a respeito dos diferentes tipos de avaliação. Aula 4 – Procedimentos e instrumentos técnico-metodológicos em educação Apresentação da aula 4 Olá, caro estudante! Nesta aula, falaremos sobre Procedimentos e instrumentos técnico-metodológicos em educação. Serão discutidos os instrumentos mais utilizados pelos educadores nas escolas. Discussões a respeito da avaliação escolar tornaram-se frequentes no cenário educacional, gerando polêmica entre professores, estudantes e gestores. Mas por que esse assunto preocupa tanto? A resposta a essa pergunta é simples: porque nunca se debateu tanto a respeito dos problemas educacionais, e a avaliação é um dos itens que mais preocupam os educadores. A partir do exposto, traremos distintas reflexões sobre os instrumentos avaliativos disponíveis, para que você, a partir desses referenciais, possa escolher aqueles que mais se enquadrem em sua futura prática. 4.1 Reflexões sobre os instrumentos avaliativos Agora que conhecemos alguns tipos de avaliação, vamos explorar os principais instrumentos avaliativos utilizados pelos professores. Para isso, 40 fizemos uma lista com sugestões e trouxemos as possibilidades de uso de cada um deles. Educação Fonte: http://mineiros.com/go/ensino-educacao/ Para pensar em um instrumento de avaliação que dê conta de compreender as etapas de produção do conhecimento, os professores precisam ter claros os objetivos, competências e habilidades que seus alunos precisam desenvolver. Dessa forma, como salienta Barbosa, é necessário saber qual concepção de educação o professor utiliza. Nesse sentido: É preciso ressaltar, no entanto, que a avaliação da aprendizagem precisa ser coerente com a forma de ensinar. Se a abordagem no ensino foi dentro dos princípios da construção do conhecimento, a avaliação da aprendizagem seguirá a mesma orientação (BARBOSA, 2011, p.164). Assim, para a prática é importante também que o professor conheça diferentes instrumentos de avaliação e que saiba as melhores formas de utilizá- los para alcançar os objetivos propostos, sendo assim, conforme diz Moretto: A aprendizagem é um processo interior ao aluno, do qual temos acesso por meio de indicadores externos; os indicadores (palavras, gestos, figuras, textos) são interpretados pelo professor e nem sempre a interpretação corresponde ao que o aluno pensa; o conhecimento é um conjunto de relações estabelecidas entre os componentes de um universo simbólico (MORETTO, 2002, p. 96). O professor tem um papel decisivo no processo de formação do indivíduo, dito isso, essas etapas de aprendizagem só terão sucesso se os recursos 41 didáticos forem utilizados de forma adequada. Para isso, é prudente que o educador não utilize apenas um instrumento de avaliação, mas uma variedade de técnicas, para que nem o estudante nem o educador sejam reféns de uma só metodologia. Sobre isso, Haydt (1988) salienta que quanto mais instrumentos avaliativos forem utilizados, mais válidos serão os dados. De acordo com Luckesi, os instrumentos de avaliação não devem ser elencados pelos educadores de forma aleatória e arbitrária, muito pelo contrário, devem ser minuciosamente escolhidos, para que: Sejam adequados ao tipo de conduta e de habilidade que estamos avaliando (informação, compreensão, análise, síntese, aplicação); Sejam adequados aos conteúdos essenciais planejados e, de fato, realizados no processo de ensino (o instrumento necessita cobrir todos os conteúdos que são considerados essenciais em uma determinada unidade de ensino-aprendizagem); Adequados na linguagem, na clareza e a precisão da comunicação (importa que o educador compreenda exatamente o que se está pedindo dele); Adequados ao processo de aprendizagem do educando (um instrumento não deve dificultar a aprendizagem do educando, mas, ao contrário, servir-lhe de reforço do que já aprendeu). Responder as perguntas significativas significa aprofundar as aprendizagens já realizadas (LUCKESI, 2000, p. 10). Sendo assim, é essencial que o educador saiba o que deseja mensurar com cada tipo de instrumento avaliativo, bem como que domine as ferramentas que serão utilizadas. Dito isso, o próximo item abordará a pedagogia dos testes utilizada no Brasil. 4.2 A pedagogia dos testes no Brasil Para que possamos entender os mecanismos que ainda hoje fundamentam os sistemas avaliativos baseados em provas e exames, é necessário compreender como isso ocorreu na História. Conforme já estudado anteriormente, na educação jesuítica, no Brasil, o ensino tinha como base teórica o Ratio Studiorum, o qual estabelecia como pilares da aprendizagem a preparação, aplicação, generalização, simbolização e abstração. A simbolização referia-se ao que foi apreendido pelo estudante em forma de memorização. O plano de conduta seguia uma rígida hierarquia institucional, estabelecendo “as regras da prova escrita e da atribuição de prêmios”. O processo educacional era fundado na exposição do conteúdo pelo professor e 42 não no diálogo. O sistema de repetição estava voltado para comunicação linguística e preparava o aluno para oralidade (SAVIANI, 2013, p. 55). O sistema de ensino, o qual exige o cumprimento de metas de aprovação, tem propiciado uma educação baseada em provas e exames dissertativos ou objetivos. Mesmo com o passar dos anos, a escola permanece voltada a uma metodologia tradicional, com avaliações pretensamente neutras, com ideias positivistas. Além disso, a valorização excessiva dos testes induz o estudante a memorizar, como um processo repetitivo e pouco crítico. O sistema de ensino passa a valorizar aspectos que são facilmente avaliáveis, como: de fórmulas, regras práticas, propriedades, nomes, datas, com o treino de exercícios diretos. Embora as provas e exames forneçam dados sobre o educando, é preciso relativizar essas informações, pois por conta de seus princípios metodológicos possuem limitações, já que não fornecem dados sobre o conjunto de aspectos necessários para o processo cognitivo da aprendizagem. 4.3 Provas dissertativas, objetivas ou orais No momento atual, o método de ensinar está centrado no ato de apreender, dessa forma, o educando precisa assimilar tanto o conteúdo quanto o processo, embora se deseje uma avaliação formativa que forneça dados mais profundos sobre a aprendizagem do aluno e não apenas notas e índices de aprovação. De acordo com Luckesi, “os pais das crianças e dos jovens, em geral, estão na expectativa das notas de seus filhos” (LUCKESI, 1998, p. 19). O importante é que sejam aprovados, não se trata de compreenderem os conteúdos, mas de vencerem uma etapa. Outro fator importante que precisa ser relativizado é a prova como um elemento de negociação e ameaça. Na pedagogia dos exames, os educandos estão constantemente na iminência de serem aprovados ou reprovados. 4.4 Trabalho em grupo As atividades em grupo vêm sendo uma estratégia muito utilizada pelos educadores, para dinamizar e para estimular a participação e cooperação dos 43 alunos no processo de aprendizagem. Este método tem a intenção de promover a interação entre os membros, beneficiando, com isso, a relação entre aprendizado e desenvolvimento. Trata-se da produção realizada em conjunto. Nesta forma avaliativa, o compartilhamento do conhecimento estimula
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