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Serviço Social Contemporâneo ??????????? Serviço Social Contemporâneo Organizado por Universidade Luterana do Brasil Universidade Luterana do Brasil – ULBRA Canoas, RS 2016 Ângela Maria Pereira da Silva Arno Vorpagel Scheunemann Caroline Fernanda Santos da Silva Giovane Scherer Lourenço Brito Felin Lúcia Cristina Delgado Capitão Sílvia Regina Silveira Conselho Editorial EAD Andréa de Azevedo Eick Ângela da Rocha Rolla Astomiro Romais Claudiane Ramos Furtado Dóris Gedrat Honor de Almeida Neto Maria Cleidia Klein Oliveira Maria Lizete Schneider Luiz Carlos Specht Filho Vinicius Martins Flores Obra organizada pela Universidade Luterana do Brasil. Informamos que é de inteira responsabilidade dos autores a emissão de conceitos. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem prévia autorização da ULBRA. A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na Lei nº 9.610/98 e punido pelo Artigo 184 do Código Penal. ISBN: 978-85-5639-176-6 Dados técnicos do livro Diagramação: Samanta Feldens Gerhardt Revisão: Paula Fernanda Malaszkiewicz e Ane Sefrin Arduim Serviço Social Contemporâneo compreende movimentos sociais e Ter-ceiro Setor, residência multiprofissional em saúde, Responsabilidade Social, marketing social e balanço social como demandas para a assesso- ria e a consultoria em Serviço Social, bem como o planejamento e a gestão da carreira profissional. A abordagem dessas temáticas acontecerá ao longo de dez capítulos. O primeiro capítulo refletirá as metamorfoses no mundo do trabalho e o impacto no cotidiano dos assistentes sociais; o perfil do profissional no Serviço Social na atualidade; as competências e as exigências do assistente social do século XXI; a gestão da carreira profissional na perspectiva da educação continuada. O segundo capítulo se ocupará com os movimentos sociais e o Ter- ceiro Setor, destacando aspectos relacionados com a prática profissional do Serviço Social. Na primeira parte, discutirá os movimentos sociais na história recente da sociedade brasileira e, em seguida, os desafios impostos pelos novos movimentos sociais à prática profissional. Na segunda parte, refletirá sobre as organizações não governamentais, apresentando a defi- nição, alguns conceitos e as principais características. O Capítulo 3 focará o Serviço Social na educação, refletindo a conceituação, os fundamentos e a legislação. O Capítulo 4 abordará a Responsabilidade Social: histórico, conceitu- ação e gestão da Responsabilidade Social nas organizações e os desafios postos ao processo de trabalho do assistente social. Esta abordagem se dará sob os seguintes itens: surgimento e evolução da Responsabilidade Social; conceitos e consensos sobre a Responsabilidade Social; gestão da Responsabilidade Social nas organizações; Responsabilidade Social e Ser- Apresentação Apresentação v viço Social. O Capítulo 5 refletirá o Balanço Social, destacando o histórico e a contextualização do mesmo, bem como a sua constituição como de- manda emergente para o Serviço Social e orientações e modelos para sua elaboração. O Capítulo 6 se ocupará com uma demanda relativamente recente no Serviço Social: a residência multiprofissional em saúde. Para tanto, des- tacará a educação permanente na Saúde e no Serviço Social; a inserção do Serviço Social no Programa de Residência Multiprofissional em Saúde. O Capítulo 7 refletirá o Serviço Social no âmbito sociojurídico, que se apresenta como uma área de trabalho especializado nas manifestações da questão social. Como tal, apresenta diferentes espaços de trabalho para assistentes sociais. O Capítulo 8 refletirá a perícia social como especificidade do assistente social. Começará situando a perícia social e suas características e finalizará clarificando procedimentos para sistematização desta prática profissional. O Capítulo 9 terá como objeto o planejamento e a gestão da carreira profissional, abordando competência profissional, planejamento e gestão da carreira profissional e a gestão da vida pessoal. Por fim, o Capítulo 10 aborda o assessoramento no processo de transição de carreira como uma nova possibilidade de trabalho para o assistente social, conceitua a transição na trajetória de vida dos sujeitos e analisa possíveis estratégias de intervenção, com foco na mudança de carreira profissional, refletindo sobre programas de pré-aposentadoria.. Serviço Social Contemporâneo implica o acontecer simultâneo do devir histórico e do exercício profissional. Essa simultaneidade coloca o desafio de compreender os dados históricos na mesma velocidade em que os mes- mos acontecem e, ao mesmo tempo, “pensar” a intervenção. As reflexões que compõem este livro se constituem como referência qualificada para esta simultaneidade contemporânea da prática profissional. Arno Vorpagel Scheunemann Ângela Maria Pereira da Silva Mestre em Serviço Social. Especialista em Gestão do Capital Humano. Assistente social do Centro Jacobina – Atendimento e Apoio à Mulher e docente do curso de Serviço Social – Modalidade Educação a Distância na Universidade Luterana do Brasil. Arno Vorpagel Scheunemann Bacharel em Serviço Social (1994) e Teologia (1988). Doutor em Teo- logia Prática: aconselhamento (2000). Professor de graduação e de pós- -graduação em Serviço Social na ULBRA/ Canoas, RS. Coordenador do curso de Serviço Social EAD-ULBRA. Caroline Fernanda Santos da Silva Assistente social, mestre em Serviço Social e especialista em relações raciais e de gênero. Professora adjunta do curso de Serviço Social da Uni- versidade Luterana do Brasil – ULBRA Campus Canoas, RS. Giovane Scherer Doutor em Serviço Social. Professor de graduação e pós-graduação em Serviço Social na PUCRS. Sobre o Autor Sobre o Autor vii Lourenço Brito Felin Mestre em Serviço Social. Professor do curso de Serviço Social da UL- BRA. Lúcia Cristina Delgado Capitão Mestre em Serviço Social pela PUCRS. Professora do curso de Serviço Social da ULBRA. Sílvia Regina Silveira Assistente Social atuante na Política de Educação. Mestre em Serviço Social e Doutoranda do Programa de Pós Graduação em Serviço Social PUC/RS. 1 Transformações Societárias, Reestruturação Produtiva e a Emergência de Novas Competências, Espaços Ocupacionais e Relações de Trabalho ............................................................1 2 Movimentos Sociais e Terceiro Setor: Aspectos Relacionados com a Prática Profissional do Serviço Social .........................27 3 Serviço Social na Educação .................................................55 4 Responsabilidade Social: Histórico, Conceituação e Gestão da Responsabilidade Social nas Organizações e os Desafios Postos ao Processo de Trabalho do Assistente Social ............76 5 Balanço Social – Metodologia para sua Elaboração ...........101 6 Considerações sobre a inserção do serviço social nos programas de residência multiprofissional em saúde .........125 7 O Serviço Social no Âmbito Sociojurídico...........................147 8 Perícia Social como Especificidade do Serviço Social ..........166 9 Planejamento e Gestão da Carreira Profissional ................188 10 Transição de Carreiras: Uma Demanda para o Serviço Social ...................................................................219 Sumário Giovane Scherer1 Capítulo 1 Transformações Societárias, Reestruturação Produtiva e a Emergência de Novas Competências, Espaços Ocupacionais e Relações de Trabalho 1Doutor em Serviço Social. Professor de graduação e pós-graduação em Serviço Social na PUCRS. 2 Serviço Social Contemporâneo Introdução Quem sabe o que está buscando e aonde quer chegar, encontra o caminho certo e o jeito de caminhar. Thiago de Mello Para que se possa compreender a prática do assistente social na atualidade, faz-se necessário ampliar o olhar e buscar compreender os processos históricos de metamorfoses do mundo do trabalho, uma vez que este profissionalse encontra inserido na divisão social e técnica do trabalho e acaba sofrendo os impactos que vêm ocorrendo ao longo da história nas formas de organização da sociedade. As mudanças que ocorreram no palco da sociedade não são cristalizadas, mas estão acontecendo a cada dia no nosso meio, e nós estamos sendo constantemente afetados por elas; conforme afirma Bauman (2000), nosso tempo é um tempo líquido/fluido, que não tem uma dimensão espacial clara, isso é, somos constantemente “respingados” por gotas do passado, somos diretamente afetados pelas transformações de outrora. Com isso, é necessária uma releitura do terreno socio- histórico das formas de produção até os dias atuais, em que as metamorfoses no crivo do mundo do trabalho impactam diretamente os profissionais de Serviço Social. Dessa forma, o presente capítulo abordará os modelos de produção que regularam a economia, quais sejam, binômio Fordismo/ Taylorismo, o modelo japonês Toyotismo, e as repercussões para os assistentes sociais diante destas mudanças societárias. Neste contexto, será dada visibilidade à discussão referente Capítulo 1 Transformações Societárias, Reestruturação... 3 às formas de como o assistente social se posiciona frente a demandas complexificadas da atualidade, dando destaque para o perfil do profissional de Serviço Social no século XXI, bem como à importância da gestão da carreira do assistente social e do processo de educação continuada. 1 As metamorfoses no mundo do trabalho e o impacto para os profissionais de Serviço Social Nos últimos séculos, o mundo experimentou mudanças radicais que deram outra configuração nas relações econômicas, culturais e sociais. Estas transformações ocorreram principalmente após o século XVIII, quando entram em cena as grandes revoluções da humanidade – Revolução Francesa, Revolução Gloriosa e Revolução Industrial –, que representaram um marco na história da humanidade, pois passaram a instaurar o modo de produção capitalista, a qual afetaria a vida das pessoas de uma forma ampla e complexa. O sistema econômico, antes baseado na agricultura, foi substituído pela industrialização, que se baseia na produção em grande escala e na valorização do capital. Quem possui o capital se apropria dos meios de produção, o que significa que eles compram, com salários, a força de trabalho daqueles que passam a depender da venda de sua mão de obra. Inicialmente, nas grandes indústrias, o modelo de produção utilizado pelas empresas era o chamado binômio Fordismo/ Taylorismo, que, segundo Antunes (2000), vigorou na grande 4 Serviço Social Contemporâneo indústria durante praticamente todo o século XX. Este modelo caracteriza-se por elementos constitutivos básicos que eram dados pela produção em massa, com a fragmentação de funções, com uma separação entre elaboração e execução dentro do processo de trabalho, reduzindo a atividade do trabalho a uma ação mecânica e repetitiva. Nesse sentido, o Fordismo/Taylorismo se caracterizava como: (...) uma linha rígida de produção articulada com os diferentes trabalhos, tecendo vínculos entre ações individuais, as quais a esteira fazia as interligações, dando o ritmo e o tempo necessário para a realização das tarefas. Esse processo produtivo caracterizou-se, portanto, pela mescla de produção em série fordista com o cronômetro taylorista, além de uma vigência de uma separação nítida entre elaboração e execução. (...) “Suprindo” a dimensão intelectual do operário, que era transferida para as esferas da gerência científica. (ANTUNES, 1999, p. 37) Dessa forma, o Fordismo/Taylorismo realizava uma expropriação intensificada do operário-massa, destituindo-o de qualquer participação na organização do processo de trabalho, que se resumia a uma atividade repetitiva e desprovida de sentido (ANTUNES, 1999). O produto que era produzido pelo individuo não possuía a sua marca, a sua identidade, pois este era feito por várias mãos em uma produção em série com movimentos repetitivos, fechados dentro das indústrias. O Fordismo/Taylorismo transformou a produção industrial capitalista, sendo utilizado inicialmente pelas indústrias automotivas, mas paulatinamente se expandiu por todas as Capítulo 1 Transformações Societárias, Reestruturação... 5 indústrias nos países de viés capitalista. O capitalismo é um sistema que separa capital de trabalho e cujas relações são de dominação e exploração, portanto, o Fordismo/Taylorismo vem a consolidar de maneira global os mecanismos do sistema capitalista. (GUARESCHI, 2002). Porém, no final da década de 1960 e início dos anos de 1970, tal padrão produtivo começou a apresentar sinais de esgotamento. Isso porque o padrão de acumulação fordista/ taylorista de produção se depara com a incapacidade de responder à retração do consumo que se acentuava; esta retração já era uma resposta ao desemprego estrutural que se iniciava (ANTUNES, 1999). Como o binômio Fordismo/ Taylorismo não mais respondia às demandas do capital, era necessário pensar outra forma de lucratividade, de manter o sistema capitalista dirigindo o roteiro no cenário mundial e assim, nesse momento, entra em cena a reestruturação produtiva no mundo do trabalho como uma nova forma de organização industrial e de relacionamento entre o capital e o trabalho, chamado Toyotismo. Surge dessa forma, na década de 1970, o Toyotismo, também denominado como modelo japonês, que é caracterizado pela flexibilização tanto do aparato produtivo como dos trabalhadores, em que as regras da produção são voltadas e conduzidas diretamente pela demanda do mercado e não é mais pensada uma produção em série e de massa, pois o sistema toyotista visa atender demandas mais individualizadas do mercado consumidor, produzindo em menor tempo e com mais “qualidade”. No modelo de acumulação flexível toyotista há uma estrutura horizontalizada, ao contrário da verticalidade 6 Serviço Social Contemporâneo fordista, isto é, a empresa transfere a “terceiros” o que era antes produzido dentro do seu espaço produtivo (ANTUNES, 2000). Assim, com o esgotamento do binômio Fordismo/ Taylorismo, houve uma reestruturação produtiva para melhor atender aos interesses do capital. Neste contexto, com a ascensão do modelo japonês toyotista, um modelo mais flexível, o trabalhador teve que ser polivalente, isso é, saber manipular várias máquinas ao mesmo tempo. Para atuar no palco toyotista, o indivíduo deve ser mais qualificado, tendo conhecimento de todo o processo de produção, trabalhando em uma linha integrada dentro de uma equipe estruturada por meio do número mínimo de pessoas que devem trabalhar horas extras. Em suma, o modelo japonês chamado de Toyotismo organiza um discurso voltado à valorização do trabalho em equipe, de uma qualidade no e do trabalho, da multifuncionalidade, da flexibilização e da qualificação do trabalhador. Porém, esse modelo deixa oculta, segundo Mészáros (2005), a exploração, a intensificação e a precarização do trabalho, inerentes à busca desenfreada do lucro pelo sistema de metabolismo social do capital que, por não ter limites, configura-se como ontologicamente incontrolável. Segundo Maciel (2006), com exceção do emprego vitalício, o modelo japonês, com seu potencial universalizante, trouxe consequências negativas para o mundo do trabalho em escala ampliada, e está mais sintonizado com a lógica neoliberal que com uma concepção verdadeiramente social-democrata. Capítulo 1 Transformações Societárias, Reestruturação... 7 Dentre todas as transformações ocorridas no roteiro histórico desde a revolução industrial, a década que mais marcou sob o ponto de vista de perdas sociais foi a década de 1980. Segundo Hobsbawm (1994), esse período pós-guerra, de retração econômica, de inúmeras transformações mundiais com a queda do socialismo em países como a Alemanha e a União Soviética e da expansão do sistema toyotista, foi marcado pelo desencadeamento deinúmeras expressões da questão social, como o aumento significativo da pobreza e da miséria, do desemprego estrutural, entre outros, tanto em países subdesenvolvidos como nas grandes potências mundiais. Outra questão pertinente que nasceu nesse cenário, nas décadas de 1980/1990, foi o aumento significativo dos aparatos tecnológico, de robótica, de automação e de microeletrônica que invadem o universo fabril, o que demandou aos operários um aumento expressivo na sua qualificação. Com o aumento da tecnologia, houve a substituição da mão humana por máquinas na realização das produções dentro das empresas, o que acarretaria altos ganhos para quem possui os meios de produção, pois é possível produzir em maior escala com menor tempo e menor custo; por outro lado, houve uma considerável redução da mão de obra dentro das empresas, gerando um grande desemprego estrutural, que cresce de maneira global, em especial em países como o Brasil. Paralelo à tendência do desemprego estrutural, cresce em grande escala a questão da subproletarização do trabalho, que pode ser visualizado nas formas de trabalho temporário, precário, subcontratado, terceirizado, vinculado à economia informal, entre outras modalidades existentes. Em uma 8 Serviço Social Contemporâneo sociedade em que não se vive sem possuir capital, o individuo busca de várias maneiras sobreviver dentro de um sistema excludente, em que ele não tem mais utilidade, e vivencia- se, então, a precarização do mundo do trabalho (ANTUNES, 2000). A flexibilidade não afetou somente a produção das empresas, adequando as normas do mercado, mas também os direitos dos trabalhadores. Isso porque, para atender ao interesse do modo de produção capitalista, houve a flexibilização dos trabalhadores dentro das empresas, e estas, por sua vez, buscaram cada vez mais empregados qualificados e polivalentes, assim como a flexibilidade dos direitos dos indivíduos. A legislação e o direito trabalhista identificam com o objetivo de compensar o menor peso dos trabalhadores frente aos empregados no campo econômico, por meio de um ordenamento normativo que buscava proteger os primeiros e entregar ao Estado o papel de supervisor. A legislação trabalhista foi concebida doutrinalmente, dotada de um caráter universal. Isso levou à ideia de que a legislação fosse considerada fundamentalmente invariável, independente dos diferentes processos ou conjunturas econômicas e sociais. (TOKMAN et al., 1994, p. 21) Em um panorama de direitos flexíveis, em que a questão do subemprego aumenta significantemente a cada dia, na mesma proporção em que o desemprego estrutural avança, é cada vez maior o número de pessoas desprotegidas dos Capítulo 1 Transformações Societárias, Reestruturação... 9 direitos trabalhistas, sendo a violação dos direitos sociais uma expressão da Questão Social. Desse modo, a era da informação, da modernidade, da tecnologia, também se mostra como a era do desemprego, da negação de direitos, do aumento das expressões da Questão Social. Diante desse contexto, com o acirramento de novas e antigas expressões da Questão Social em um contexto mundial, cresce para o Serviço Social a demanda por um trabalho competente que dê conta da garantia dos direitos dos sujeitos que são afetados por tais expressões. Paralelo a isso, este profissional também é afetado por estas mudanças societárias e por todo o processo de reestruturação produtiva, uma vez que o assistente social é um profissional inscrito na divisão sociotécnica do trabalho e, portanto, não se encontra fora das relações em sociedade; está, assim como todos os profissionais, implicado por estas. (...) o debate atual volta-se às considerações das especificas condições e relações sociais por meio das quais se realiza o exercício profissional no mercado, o marco de uma organização coletiva do trabalho – e suas implicações, enquanto trabalho concreto e abstrato – no novo cenário nacional e internacional. (IAMAMOTO, 2008, p. 254) O que se põe em pauta a partir de agora é o perfil profissional demandado pelo mercado, isso porque as transformações societárias que se movimentam constituem um mercado de trabalho, como afirma Maciel (2006), desestruturado e diversificado, que incide no perfil profissional e nas respectivas demandas para as profissões em geral. 10 Serviço Social Contemporâneo Para tanto, trabalharemos a seguir com o perfil profissional do assistente social na atualidade, para que se possa ter visibilidade dos impactos afetos a esta profissão no que tange, para além das competências de um profissional, às exigências requisitadas pelo mercado e o diferencial deste profissional, em responder ao enfrentamento das expressões da questão social e o compromisso com a classe trabalhadora. 2 O perfil do profissional de Serviço Social na atualidade: as competências e as exigências do assistente social do século XXI A reestruturação produtiva traz significativos impactos nos diversos setores em que o profissional do Serviço Social está inserido, e com isso, segundo Maciel (2006), cabe às organizações da formação um esforço em captar essas alterações, se não quisermos correr o risco de que outros profissionais assumam o espaço socio-ocupacional do assistente social em função da sua competência e não, necessariamente, pela sua formação. Em um contexto de amplas transformações societárias, exige-se do profissional de Serviço Social um perfil diferenciado e atento para as novas demandas que surgem para a profissão diante deste contexto de mudanças societárias. Essas transformações, sejam de ordem política, econômica, social ou cultural, estão produzindo necessidades sociais que requerem novas demandas, isto é, novas requisições técnico- operativas à profissão. Dessa forma, o assistente social deve Capítulo 1 Transformações Societárias, Reestruturação... 11 estar atendo para este movimento do real, uma vez que captar tal movimento é imprescindível para que se percebam as suas repercussões na profissão e as alterações que estão processando em seu mercado de trabalho e na constituição da sua ação profissional (SERRA, 2000). Mais do que isso, o assistente social deve estar atento para novos espaços sócio-ocupacionais, onde poderá desenvolver sua prática profissional, como no Terceiro Setor, a questão ambiental, a assessoria e a consultoria em diversas áreas, entre outros. As novas demandas que vão surgindo nos setores de ocupação do assistente social devem ser descortinadas pelos profissionais, exigindo destes um perfil que dê conta das ações operacionais relacionadas ao cotidiano dos profissionais, do planejamento estratégico, das formas de gestão e, para isso, estarem em constante aprimoramento com sua formação, ou seja, almejarem pela educação continuada. Dessa forma, o Serviço Social deve transcender a prática rotineira desenvolvida em torno de velhos campos, incorporando para o seu espaço profissional o estudo e as novas respostas, tanto às demandas já existentes quanto, fundamentalmente, às demandas emergentes (MONTAÑO, 2007). Essas questões remetem ao exercício das competências teórico-metodológica, técnico-operativa e ético-política, que constituem a elaboração das propostas das intervenções dos profissionais e, dessa forma, apropriando- se da realidade através de uma postura investigativa com atenção nas demandas que emergem empiricamente nas intervenções com os sujeitos e na interdisciplinaridade, que também se apresenta como um desafio na constituição do perfil profissional na atualidade, ou seja, 12 Serviço Social Contemporâneo (...) um profissional culto e atento às possibilidades descortinadas pelo mundo contemporâneo, capaz de formular, avaliar e recriar propostas no nível das políticas sociais e da organização das forças da sociedade civil. Um profissional informado, crítico e propositivo, que aposte no protagonismo dos sujeitos sociais. Mas, também, um profissionalversado no instrumental técnico-operativo, capaz de realizar ações profissionais, nos níveis de assessoria, planejamento, negociação, pesquisa e ação direta, estimuladoras da participação dos usuários na formulação, gestão e avaliação de programas e serviços sociais de qualidade. (IAMAMOTO, 1999, p. 126) Dessa forma, é fundamental ao assistente social do século XXI uma postura crítica. O significado de “crítica” muitas vezes é utilizado no cotidiano como uma ação de julgar desfavoravelmente, censurar ou rechaçar algo: criticar algo, porém, no âmbito do projeto profissional do Serviço Social, diz respeito a buscar uma reflexão a partir do reflexo teórico apropriado da realidade sobre a estrutura e as dinâmicas sociais (KOIKE, 2009). Dessa forma, a reflexão crítica do profissional diz respeito ao processo de compreensão e questionamento do real, podendo realizar uma leitura destes movimentos de forma ampla e totalizante. Faz-se necessária a compreensão crítica do mundo contemporâneo, compreendendo o assistente social como um profissional inscrito na divisão sociotécnica do trabalho, devendo apreender na dinâmica da sociedade as novas expressões da questão social, mas também as formas pelas quais atua no movimento da realidade, passo a passo nessa Capítulo 1 Transformações Societárias, Reestruturação... 13 dinâmica. Contrário a isso, este profissional poderá estar fadado a uma intervenção arcaica e que esteja contribuindo para o acirramento da lógica que prevê o lucro, a benesse, a moralização do sujeito de per si, em vez de estarmos nos movimentando para defender os direitos dos sujeitos inseridos na sociedade. O mercado de trabalho, em função da reestruturação produtiva, movimenta-se para atender às necessidades do capital e, em vista disso, alargam-se as formas de exploração dos trabalhadores, esse mercado apresentando demandas ao profissional do Serviço Social. Segundo Iamamoto (1999), (...) têm sido exigidos requisitos que extrapolam o campo dos conhecimentos para abranger habilidades e qualidades pessoais – podem ser citadas: experiência, criatividade, desembaraço, versatilidade, iniciativa, liderança, capacidade de negociação e apresentação em público, fluência verbal, habilidade no relacionamento e capacidade de sintonizar-se com as rápidas mudanças no mundo dos negócios. Para tanto, é indispensável o conhecimento de línguas e da informática – e capacidade operativa no exercício das suas funções. (IAMAMOTO, 1999, p. 1244) As competências do profissional assistente social estão pautadas pela Lei de Regulamentação da profissão, em que se pode verificar que os elementos que constituem o eixo fundante da profissão nos permitem desenvolver um perfil profissional com requisitos que vão ao encontro das exigências do mercado de trabalho. O perfil profissional constitui-se além do projeto de formação profissional, na articulação entre a Lei 14 Serviço Social Contemporâneo de Regulamentação da Profissão e no Projeto Ético – Político da Profissão. Diante do atual cenário complexificado, fragmentado e heterogeneizado do mundo do trabalho, intensificado ainda mais no século XXI, o perfil de um profissional assistente social é de polivalência, com destaque para a constante leitura da conjuntura atual e sua movimentação, a compreensão dos processos sociais e para, além disso, ser um profissional crítico e propositivo. Não obstante, que este profissional tenha um compromisso e uma obrigação ético-políticos: estar ciente de todas as formas de violações de Direitos Humanos, sabendo exatamente por onde estas violações perpassam, o que exige que o assistente social assuma uma postura, uma opção ética e político-profissional e que, dentro desse campo de tensão, participe profissionalmente com claras perspectivas ideopoliticas e teórico-metodológicas (MONTAÑO, 2007). E, mais do que isso, (...) requisita um perfil profissional culto, crítico e capaz de formular, recriar e avaliar propostas que apontem para a progressiva democratização das relações sociais. Exigi- se, para tanto, compromisso ético-político com valores democráticos e competência teórico-metodológica na teoria crítica em sua lógica e explicação da vida social. (IAMAMOTO, 2007, p. 208) É necessário compreender que o tempo presente proporciona um acúmulo de saberes e informações no que tange à realidade social e à sua dinâmica, interferindo nos processos de trabalho dos assistentes sociais com certa relevância e indicando a Capítulo 1 Transformações Societárias, Reestruturação... 15 potencialidade da realização das intervenções, pois, uma vez que se tem certo acúmulo de conhecimentos, os profissionais podem estar apreendendo o que vem ocorrendo com a prática profissional e também no cotidiano, quando estão em contato com os segmentos populacionais aos quais atendem. 3 A caminhada para o além da universidade: gestão da carreira profissional e educação continuada Todas as mudanças societárias ocorridas nos últimos anos tiveram um impacto significativo para o Serviço Social, o que exige do profissional desta área um perfil diferenciado, com uma atenção crítica para novas e antigas demandas que surgem para a profissão, bem como uma clareza no Projeto Ético-político Profissional. Porém, não basta ter uma visão crítica da conjuntura em que está inserido: é necessário saber administrar a trajetória profissional em meio às mudanças do mundo do trabalho, uma vez que pensar a carreira profissional é pensar na dinâmica da história da vida das pessoas enquanto sujeitos de sua trajetória, e a compreensão deste processo e sua adequada condução são fundamentais para o bom desenvolvimento e o empenho da vida profissional (OLIVEIRA, 2000). A carreira profissional deve estar em consonância com a finalidade do projeto profissional e com a intencionalidade de um profissional, a saber, aonde este quer chegar. Todo e qualquer planejamento se torna fundamental para a materialização dos 16 Serviço Social Contemporâneo objetivos de cada profissional, que deve estar ligada à sua história de vida, sem se descolar dos grandes eixos da profissão, que é guiada por um projeto ético-político. Como um navio que se lança no mar, tem claro o objetivo da sua navegação e é guiado por uma bússola que não deixa o marinheiro se perder em tantos perigos do mar, o assistente social deve ter claro quais são os objetivos da sua carreira profissional, sendo guiado pelo seu Projeto Ético-político, para não se perder no grande mar da sociedade capitalista, que possui grandes armadilhas calcadas no individualismo corporativista e nos mecanismos de alienação no que tange ao mundo do trabalho. Gerenciar a carreira significa organizar, planejar, controlar e estabelecer metas, alvos e estratégias de desenvolvimento contínuo desta trajetória de vida profissional que está correlacionada à vida, a história e ao contexto sociovivencial de cada pessoa e de cada categoria profissional (OLIVEIRA, 2000). Na projeção da carreira profissional, é fundamental que o assistente social tenha clareza tanto dos diversos campos de atuação, bem como tenha um autoconhecimento, para que possa estabelecer metas possíveis de serem concretizadas e condizentes com os seus objetivos pessoais. Como refere o poeta Thiago de Mello na epígrafe que abre este capítulo, “Quem sabe o que está buscando e onde quer chegar, encontra o caminho certo e o jeito de caminhar”. Além de ter claro onde se quer chegar, é fundamental ao profissional desenvolver um processo de educação continuada. Esse processo pressupõe a aprendizagem no próprio local de trabalho, a troca de saberes, o trabalho coletivo, o respeito pelas diferenças e a efetivação de mudanças. Dessa forma, é Capítulo 1 Transformações Societárias, Reestruturação... 17 através do ângulo da educação no trabalho que se pretende descortinar as possibilidades existentes para poder contribuir com o desenvolvimentode competências teórico-metodológicas, técnico-operativas e ético-políticas, necessárias para o exercício da profissão na contemporaneidade (FERNANDES, 2007). Nesse sentido, o termo educação continuada não se refere exclusivamente à educação formal, que é apreendida dentro do âmbito acadêmico, mas pressupõe a reflexão crítica e a abordagem teórica do cotidiano profissional em uma perspectiva de constante atualização e capacitação dos profissionais em seu próprio ambiente de trabalho. A educação continuada é plausível e necessária a partir da lógica de que a realidade é uma constante e, da mesma forma, os estudos/ pesquisas realizados apresentam sempre novos significados para as expressões da dinâmica societal, e com a educação continuada é possível que o profissional esteja conectado com esses novos significados e fenômenos que emergem do âmbito social. Dessa forma, estudar e debruçar-se continuamente sobre os problemas de nossa época é reconhecer a complexa e dinâmica realidade com que o assistente social interage em seu cotidiano profissional (FERNANDES, 2007). O processo de educação continuada implica ao profissional a negação da utilização de mecanismos arcaicos no fazer profissional, ou que se constitui em discursos moralizantes, estigmatizantes e, com isso, continuam em uma relação de morosidade e benesse com a população que atende, com a instituição e contribuindo com a lógica capitalista. A educação continuada se constitui em uma ação de reflexão crítica permanente do cotidiano profissional, que terá impactos positivos na qualidade 18 Serviço Social Contemporâneo do serviço prestado ao cidadão, bem como terá reflexos na empregabilidade do assistente social. O conceito de empregabilidade diz respeito à capacidade de conquistar e manter um emprego, porém a empregabilidade do assistente social apresenta outras dimensões além da simples formulação de estratégias de qualificação para manter-se no emprego. A empregabilidade do assistente social se configura como uma empregabilidade cidadã, isto é, o assistente social deve buscar qualificar, gerenciar a sua carreira, prestar serviços de qualidade, estar comprometido com o seu trabalho, com valores e ações que garantam os direitos dos cidadãos, consigo mesmo e com a sociedade em que está inserido (OLIVEIRA, 2000). Dessa forma, a empregabilidade cidadã do assistente social está diretamente ligada ao projeto ético-político que norteia a categoria profissional, o qual tem como objetivo final a garantia dos Direitos Humanos de todos os sujeitos, e não somente a defesa de interesses pessoais, guiados pela lógica do mercado. Pensar a carreira profissional, tendo um direcionamento claro, em consonância com os objetivos pessoais, tendo presente um processo de educação continuada, sendo guiado pelo Projeto Ético-político do Serviço Social, é fundamental para construir a empregabilidade cidadã do assistente social e desenvolver um processo de sucesso que se desenvolve tanto na vida profissional quanto na vida pessoal de cada assistente social. Capítulo 1 Transformações Societárias, Reestruturação... 19 Recapitulando Todas as mudanças societárias ocorridas no mundo tiveram significativo impacto para o Serviço Social, o que demanda do profissional um olhar atento para novas e antigas requisições técnico-operativas no âmbito da sociedade. Mais do nunca, exige-se do profissional assistente social um perfil que seja crítico e atualizado, buscando a compreensão dos processos que são desenvolvidos no âmbito na sociedade capitalista. Ao refletir sobre as artimanhas do tempo atual, sobre o perfil profissional e demandas sociais, das exigências e competências para um e de um profissional, é necessário que tenhamos como ponto de partida uma projeção do caminho a ser percorrido na formação profissional para que possamos estar inteiramente comprometidos com uma transformação societária e, não obstante, respaldados pelo Projeto Ético- político com compromisso na qualidade dos serviços prestados à população e com o aprimoramento intelectual, na perspectiva da competência profissional. Isso nos remete a pôr em pauta o planejamento profissional, a saber, aonde se quer chegar, e cabe dentro disso enfatizar a importância da educação continuada na qualificação profissional. Torna-se fundamental, em um contexto de tantas alterações no mundo do trabalho e de aumento das expressões da Questão Social, uma leitura clara de conjuntura, bem como uma compreensão do Projeto Ético-político da categoria profissional, associada com proposições criativas que possam se constituir em formas de enfrentamento a tantas violações de direitos que os sujeitos vivenciam em seu cotidiano. Para tanto, 20 Serviço Social Contemporâneo faz-se necessário um trabalho profissional competente; porém, esta competência só poderá ser plenamente desenvolvida se a profissão e a carreira estiverem intimamente ligadas com os objetivos pessoais de cada sujeito, e isso remete à necessidade de pensar o gerenciamento da carreira profissional guiada pelos objetivos pessoais de cada indivíduo. Referência comentada No livro Natureza do Serviço Social: um ensaio sobre sua gênese, a “especificidade” e sua reprodução, Carlos Montaño trabalha concepções acerca da natureza e o processo de gênese e reprodução do Serviço Social. Tal obra desafia os profissionais a pensarem a categoria, a prática profissional e a produção do conhecimento na área, buscando compreender concepções acerca do Serviço Social, que muitas vezes se encontram enraizadas por percepções distorcidas formadas tanto no âmbito da sociedade quanto no seio da própria categoria profissional. Filmografia No filme Tempos Modernos, Charles Chaplin interpreta um operário de uma grande indústria automobilística na Inglaterra Capítulo 1 Transformações Societárias, Reestruturação... 21 pós-Revolução Industrial. Esta obra clássica do cinema mostra, através da ótica do trabalhador, as transformações societárias ocorridas naquele tempo e ressalta a organização fordista/ taylorista dentro das empresas e seu impacto para a classe trabalhadora. Referências ANTUNES, Ricardo. Adeus ao trabalho? Ensaio sobre as metamorfoses e a centralidade do mundo do trabalho. 7.ed. São Paulo: Cortez, 2000. ______. Os sentidos do trabalho: ensaio sobre a afirmação e a negação do trabalho. 6.ed. São Paulo: Boitempo Editorial, 1999. HOBSBAWM, Eric. Era dos Extremos: o breve século XX (1914-1991). São Paulo: Companhia das Letras, 1994. IAMAMOTO, Marilda V. Reforma do ensino superior e Serviço Social. Temporalis, nº 1, ano I, janeiro a junho de 2000. Brasília: ABEPSS, Valci, 2000. ______. O trabalho do assistente social frente às mudanças do padrão de acumulação e regulação social. In: Capacitação em Serviço Social e política social: Módulo 1: Crise contemporânea, questão social e Serviço Social. Brasília: CEAD, 1999. 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II – O assistente social trabalha com as inúmeras expressões da questão social e deve, em seu trabalho, estar imune a essas expressões para melhor desenvolver seu oficio. III – As mudanças que ocorreram na sociedade não são cristalizadas, estão acontecendo a cada dia no nosso meio, e todos os sujeitos são constantemente afetados por elas. a) Todas estão corretas. b) Somente I está correta. c) Somente I e II estão corretas. d) Somente I e III estão corretas. 24 Serviço Social Contemporâneo e) Somente II e III estão corretas. 2) Com base nas reflexões do Capítulo 1, analise as afirmações e marque a alternativa incorreta: a) As metamorfoses no crivo do mundo do trabalho impactam diretamente os profissionais de Serviço Social. b) Uma das grandes transformações ocorridas nos últimos séculos foi a instauração do Modo de Produção Capitalista. c) O modo de produção capitalista se baseia pela compra da força de trabalho, isto é: dá-se pela exploração do trabalho alheio. d) Apesar de grandes transformações no modelo econômico e na sua forma de gestão, tais mudanças não alteraram a dinâmica da vida social dos sujeitos. e) Houve diversas mudanças na gestão da forma de trabalho, especialmente pela instauração de modelos como o Fordismo/Toyotismo e Taylorismo. 3) Marque a alternativa que mais se relaciona com o modo de produção Fordismo/Taylorismo. a) Uma linha rígida de produção articulada com os diferentes trabalhos. b) Uma linha flexível com exploração das potencialidades subjetivas do trabalhador. Capítulo 1 Transformações Societárias, Reestruturação... 25 c) Uma linha alternativa de mudanças na ordem da produção de valores. d) Uma linha de benefícios para o trabalhador. e) Uma linha que possibilite a polivalência do trabalhador. 4) Marque a alternativa que mais se relaciona ao Toytismo: a) Trabalhador capacitado para exercer uma única função. b) Linha rígida de produção articulada com diferentes trabalhados . c) Flexibilização, tanto do aparato produtivo como dos trabalhadores. d) Regras da produção voltadas conduzidas diretamente pela oferta do mercado. e) Desenvolvimento de uma estrutura de produção verticalizada. 5) Acerca dos impactos das Transformações Societárias para o Serviço Social, analise as afirmativas e marque a alternativa correta: I – Em um contexto de amplas transformações societárias, exige-se do profissional de Serviço Social um perfil diferenciado e atento para as novas demandas que surgem para a profissão diante deste contexto de mudanças societárias. 26 Serviço Social Contemporâneo II – O Serviço Social deve transcender a prática rotineira desenvolvida em torno de velhos campos, incorporando para o seu espaço profissional o estudo e as novas respostas tanto às demandas já existentes quanto, fundamentalmente, às demandas emergentes. III – Mostra-se fundamental o exercício das competências teórico-metodológica, técnico-operativa e ético- política, que constituem a elaboração das propostas das intervenções dos profissionais e, dessa forma, apropriando-se da realidade por meio de uma postura investigativa. a) Todas estão corretas. b) Somente I está correta. c) Somente I e II estão corretas. d) Somente I e III estão corretas. e) Somente II e III estão corretas. Capítulo 2 Caroline Fernanda Santos da Silva1 Movimentos Sociais e Terceiro Setor: Aspectos Relacionados com a Prática Profissional do Serviço Social 1 Capítulo produzido por Caroline Fernanda Santos da Silva e Eliana Souza da Silva – e atualizado por Caroline Fernanda Santos da Silva – Assistente social, mestre em Serviço Social e especialista em relações raciais e de gênero. Professora adjunta do curso de Serviço Social da Universidade Luterana do Brasil – ULBRA Campus Canoas, RS. 28 Serviço Social Contemporâneo Introdução Pensar na relação entre o Serviço Social e os movimentos sociais exige um olhar atento à forma como esta profissão se constituiu, historicamente. Conforme sinaliza Faleiros (1997), o exercício de construir e reconstruir o objeto do Serviço Social só pode ser feito a partir de uma retrospectiva histórica. Dessa forma, embora se trate de um tema que se inscreve no campo do denominado “Serviço Social Contemporâneo”, a questão dos movimentos sociais tem suas raízes intimamente ligadas com um dos mais importantes marcos históricos da profissão: o Movimento de Reconceituação do Serviço Social. Assim, elucidar os principais aspectos dessa relação histórica e, ao mesmo tempo, contemporânea, constitui-se como um desafio, tendo em vista a vasta gama de informações que se somam com os novos contornos da sociedade atual. Dessa forma, buscaremos, neste capítulo, lançar algumas provocações para pensarmos no tema, sem pretender oferecer respostas finais às questões que nos movem. Na primeira parte do capítulo, discutiremos os movimentos sociais na história recente da sociedade brasileira e, em seguida, os desafios impostos pelos novos movimentos sociais à prática profissional. Em um segundo momento, refletimos sobre as organizações não governamentais, apresentando a definição, alguns conceitos e as principais características do Terceiro Setor. Capítulo 2 Movimentos sociais e terceiro setor: aspectos... 29 2.1 O Movimento de Reconceituação do Serviço Social e os movimentos sociais na história recente da sociedade brasileira A década de 1960 foi marcada por um momento de inquietações crescente experimentado em todo o mundo. Nesse cenário, o Serviço Social brasileiro e da América Latina questionam os métodos e teorias que embasam suas práticas, bem como suas filiações e concepções políticas e ideológicas. A convergência entre influências nacionais e internacionais, internas e externas à profissão, impulsionou o processo que ficou conhecido como Movimento de Reconceituação do Serviço Social (GÓIS, 2006). Deflagrado a partir da década de 1960, ele demarcou o momento em que a profissão passou a enfrentar um conjunto de desafios apresentados pela expansão da pobreza nos centros urbanos. Pinto (2003) pontua que nesse momento também houve a denúncia dos modelos de ação importados de outros países, decorrendo que a intervenção profissional não atendesse às necessidades da população usuária. Tais questões evidenciaram a incapacidade dos modelos assistenciais existentes, forçando o Serviço Social a uma revisão dos paradigmas. A partir desse momento, portanto, o Serviço Social passa por reformulações teóricas, metodológicas, ideológicas e profissionais, ocasionando uma mudança de paradigma com relação ao papel ocupado por este profissional na sociedade. 30 Serviço Social Contemporâneo Podemos observar, conforme sugere Faleiros (1997), que se antes do Movimento de Reconceituação, notadamente no período de 1930 a 1945, o perfil profissional do assistente social no Brasil era facilmente vinculado a uma perspectiva de conservação social e de manutenção da ordem – com o foco no indivíduo, buscando a mudança de comportamento por meio da moral e higiene –, após esse período evidencia-se a perspectiva de transformação social emsua prática. Sob a égide do desenvolvimentismo que vigorava no cenário brasileiro no período de 1950 e 1960, o assistente social passa a atuar junto ao desenvolvimento de comunidades, tendo como objeto a articulação e a harmonia social entre o Estado e a sociedade (FALEIROS, 1997). No bojo do Movimento de Reconceituação, cuja marca central foi a concomitância da crítica com a intervenção (FALEIROS, 1997), gesta-se um processo de aproximação e aliança entre os trabalhadores e os Assistentes Sociais. O resultado dessa relação evidencia-se especialmente a partir dos anos 1980, quando a profissão passa a exibir em suas práticas uma identidade com os movimentos sociais, contribuindo para organização e mobilização social. Nesse momento, os Assistentes Sociais se fizeram presen- tes em diversas frentes de fortalecimento do poder popular, inclusive no processo de mobilização ocasionado pela Consti- tuinte. Esse cenário político e social conduziu o Serviço Social a revisões curriculares que buscaram adequar a formação do Capítulo 2 Movimentos sociais e terceiro setor: aspectos... 31 assistente social aos novos tempos e às novas expectativas sociais.33 Percebe-se que o Serviço Social se modificou ao longo das décadas, chegando aos dias atuais como uma profissão voltada aos interesses das camadas populares e comprometida com uma prática de transformação social. O Código de Ética de 1993 declara em seus princípios a “opção por um projeto profissional vinculado ao processo de construção de uma nova ordem societária, sem dominação-exploração de classe, etnia e gênero”. Esses e outros aspectos sinalizam os principais aspectos em que se dão as relações entre o Serviço Social e os movimentos sociais. Mas que movimentos são esses? De que forma se apresentam na conjuntura atual da sociedade brasileira? Essas são as questões que nos movem no próximo item. 2.2 Desafios impostos pelos novos movimentos sociais à prática profissional Desvendar os desafios impostos ao Serviço Social nesse tempo atual requer capacidade para decifrar as novas mediações por meio das quais se expressa a questão social. Os anos de 1990 trouxeram uma série de mudanças à sociedade, sendo elas 3 A Proposta de Diretrizes Gerais para o Curso de Serviço Social foi produto de um amplo e sistemático debate realizado pelas Unidades de Ensino a partir de 1994, quando a XXVIII Convenção Nacional da Associação Brasileira de Ensino de Serviço Social – ABESS, ocorrida em Londrina/PR, em outubro de 1993, deliberou sobre os encaminhamentos da revisão do currículo mínimo vigente desde 1982 (LEI DE DIRETRIZES CURRICULARES). 32 Serviço Social Contemporâneo experimentadas sob dois aspectos principais: na forma como se estabelecem as relações de trabalho e nas novas relações estabelecidas entre Estado e sociedade civil. Uma das características marcantes dessa década foi a rees- truturação produtiva, que impôs novas demandas de flexibili- zação do trabalho, pulverizando a classe trabalhadora. Tal fe- nômeno modificou as relações no mundo do trabalho e foi um dos mais importantes pilares para o desmonte da sociedade salarial, que se caracterizava pelo binômio trabalho-proteção social (CASTEL, 1998). O enfraquecimento e o desmonte das mobilizações dos diferentes sindicatos foram dois dos sinais lançados por este fenômeno. A flexibilização nas relações de trabalho veio acompanhada de alguns outros elementos, que a tornaram ainda mais perversa, tais como: as práticas de terceirização, o discurso pela qualificação e polivalência que causa insegurança, a precarização das condições do trabalho e da saúde dos trabalhadores, dentre outras. Nesse cenário, as relações que se estabelecem entre Estado e sociedade também ganham novos contornos, ocasionando deslocamentos nos meios e recursos destinados à gestão social (SILVA, 2004). Analisando o atual contexto em que se desenvolvem as relações entre Estado e sociedade, Faleiros (2002) e Santos (1999) desenvolvem análises semelhantes e destacam o papel dos “novos movimentos sociais”, que exercitam novas práticas de mobilização social. Frente a essas mudanças, é fundamental observarmos concomitantemente dois aspectos – aquele que se refere à forma como os sujeitos sociais vivenciam tais modificações Capítulo 2 Movimentos sociais e terceiro setor: aspectos... 33 em sua subjetividade e a maneira como eles elaboram formas de resistência aos efeitos dessas questões. Uma das principais marcas dos novos movimentos sociais é a resistência plural (FALEIROS, 2002) e a crítica radical, afirmando uma identidade social opositora, ou seja: eles não mais são impulsionados somente pela relação de classes sociais, mas são permeados por diversos aspectos subjetivos, como as questões de gênero, raça, procedência regional, religiosa, dentre outros. As definições acerca dos “novos movimentos sociais” sinalizam seu caráter de denúncia de novas formas de opressão, estando diretamente relacionadas à busca por emancipação. Para Faleiros (2002), as apropriações da informação e conhecimento se tornam questões em disputa na relação capitalismo/sociedade/estado/democracia, e através dos novos movimentos sociais é evidenciada a possibilidade de aglutinação, crítica e construção de pensamento opositor dentro da democracia, que se aprofunda tanto sob o viés da crítica quanto da resistência. Contemporaneamente, o Serviço Social tem passado por novas modificações, que se dão a partir das transformações que alteram a economia, a política e a cultura na sociedade brasileira. Assim, Iamamoto (2001) ressalta a importância do conhecimento sobre as particularidades da questão social e dos sujeitos sociais envolvidos nesse processo por parte do profissional de Serviço Social: Uma hipótese de trabalho sobre o desenvolvimento do Serviço Social nos anos 1980 indica que a profissão teve os olhos mais voltados para o Estado e menos para a sociedade, mais para as políticas sociais e menos para 34 Serviço Social Contemporâneo os sujeitos com quem trabalha: o modo e condições de vida, a cultura, as condições de vida dos indivíduos sociais são pouco estudadas e conhecidas. (IAMAMOTO, 2001, p.75) A partir de tais questões, alguns desafios se tornam evidentes nesse processo: a relação do Serviço Social com os novos movimentos sociais exige que repensemos a relação entre sociedade, cultura, subjetividade, autonomia e identidade. Diversas têm sido as críticas com relação à institucionalização dos movimentos sociais, que sinalizam a perda do seu poder de mobilização e oposição, já que ao se transformarem em ONGs, recebem financiamentos dos governos em geral, comprometendo sua crítica política. Frente a isso, há, em contrapartida, o fato de que as ONGs têm feito a mediação das vozes dos oprimidos, possibilitando a manifestação e a criação de novas agendas públicas – estamos em fase de construção de uma nova gramática plural, conforme sinaliza Faleiros (2002), na qual nós somos desafiados, enquanto profissionais, a participar. 2.3 Refletindo sobre organizações não governamentais e Terceiro Setor O Terceiro Setor é uma temática atual e pertinente no contexto acadêmico, sua compreensão específica e atualizada leva ao entendimento e à busca da qualidade para os serviços prestados. O Terceiro Setor se configurou, no decorrer das duas últimas Capítulo 2 Movimentos sociais e terceiro setor: aspectos... 35 décadas, dentro de um contexto social, econômico e político marcado pela complexidade, incerteza, instabilidade e rápidas mudanças, em uma dimensão globalizada com um vasto desenvolvimento tecnológico e científico. Contrariamente, com muita pobreza e desigualdade social. Com o surgimento de certas organizações no interior da sociedade civil, caracterizadas pela promoção de ações de natureza privada com fins públicos, diferentes denominações passaram a ser dadas às mesmas. Alguns exemplos são: organizações voluntárias,organizações não governamentais (ONGs), organizações sem fins lucrativos, setor independente, Terceiro Setor. Para entender e identificar o Terceiro Setor, faz-se necessário esclarecer que aqueles que utilizam este termo consideram o Estado como o Primeiro Setor e o Mercado como o Segundo Setor, sendo o Terceiro Setor aquele que apresenta características de ambos. Portanto, genericamente, o Terceiro Setor é visto como derivado de uma conjugação entre as finalidades do Primeiro Setor e a metodologia do Segundo Setor, ou seja, composto por organizações que visam a benefícios coletivos (embora não sejam integrantes do governo) e de natureza privada (embora não objetivem auferir lucros). Alguns conceitos de Terceiro Setor são trabalhados por diferentes autores que têm se destacado enquanto estudiosos do assunto: “por Terceiro Setor entenda-se [...] a sociedade civil que se organiza e busca soluções próprias para suas necessidades e problemas, fora da lógica do Estado e do mercado” (RODRIGUES, 1998, p.31). 36 Serviço Social Contemporâneo [...] o Terceiro Setor é composto de organizações sem fins lucrativos, criadas e mantidas pela ênfase na participação voluntária, num âmbito não governamental, dando continuidade a práticas tradicionais de caridade, da filantropia e do mecenato e expandindo o seu sentido para outros domínios, graças, sobretudo, à incorporação do conceito de cidadania e de suas múltiplas manifestações na sociedade civil. (FERNANDES, 1997, p.27) Essas organizações não fazem parte do Estado, nem a ele estão vinculadas, mas se revestem de caráter público na medida em que se dedicam a causas e problemas sociais e em que, apesar de serem sociedades civis privadas, não têm como objetivo o lucro, e sim o atendimento das necessidades da sociedade. (TENÓRIO, 2001, p.7) Portanto, o Terceiro Setor é formado por instituições (associações ou fundações privadas) não governamentais, que expressam a sociedade civil organizada, com participação de voluntários, para atendimentos de interesse público em diferentes áreas e segmentos. Avança da perspectiva filantrópica e caritativa para uma atuação profissional e técnica, na qual os usuários são sujeitos de direitos, tendo em vista o alcance de um trabalho qualitativamente diferenciado daquele que sempre marcou a história dessas organizações: o assistencialismo e a filantropia (MORAES, 2010). Aqui cabe mencionar que o movimento do Terceiro Setor nasceu nos Estados Unidos com a doação de grandes fortunas para programas sociais e a fundação de institutos ligados a empresas que investiam neles parte do imposto de renda devido ao Estado. De forma diferente das instituições Capítulo 2 Movimentos sociais e terceiro setor: aspectos... 37 religiosas tradicionais de caridade, este movimento busca a profissionalização do seu processo de gestão, estabelecendo parcerias com vistas à consecução de resultados concretos de mudança social. É por esse contexto que os principais estudos acadêmicos ligados ao Terceiro Setor encontram-se nos cursos de administração (MORAES, 2010). Atualmente, segundo Moraes (2010), a concepção de não governamental e não lucrativa deixou de ser usada, pois conta- se com o estado na maioria das parcerias em que o lucro é desejado e buscado, embora a lei obrigue as organizações a reverterem o lucro em favor da própria instituição e não para a aquisição de patrimônio pessoal dos seus diretores. Nesse cenário, cabe citar Merege (2005, p.149), que afirma haver três grandes grupos de acadêmicos que discutem o conceito de Terceiro Setor. O grupo norte-americano considera o movimento como mais um setor dentro da sociedade capitalista. O europeu considera o Terceiro Setor como a área do social-ativismo, do cooperativismo e das sociedades de interesse mútuo, como parte de uma economia social. Trata-se de um setor estratégico para o processo de distribuição de renda na sociedade. Para o terceiro grupo, a área é de ativismo político, em que as pessoas podem tomar posições ideológicas, de ação política frente ao Estado e ao mercado. Para Peruzzo (2007), apesar da expressão “Terceiro Setor” ser usada quase naturalmente no dia a dia das organizações, no mundo acadêmico há a tendência de caracterizá-lo como 38 Serviço Social Contemporâneo um bloco homogêneo, mas há controvérsias sobre a imprecisão dos seus conceitos e sobre o real sentido da emergência deste segmento para a sociedade. Não será possível aprofundar tais questões neste texto, mas cumpre pelo menos esclarecer que as críticas se situam a partir de dois focos principais: Â a) diversidade de atores que compõem o Terceiro Setor, ou seja, de organizações formais às atividades informais e individuais, além de atores com diferentes objetivos e linhas político-ideológicas (desde empresas privadas e entidades filantrópicas até movimentos populares); Â b) do sentido do surgimento deste setor para a sociedade. O interesse em apenas “fazer o bem” é aparente, pois no fundo a estratégia é reduzir os compromissos do Estado de Bem-Estar Social (Welfare State), além de salvaguardar os interesses de classe quanto à reprodução da governabilidade capitalista e ao uso mercadológico por parte de grandes corporações. Porém, há que se dizer que historicamente o Estado entrou no atendimento ao bem-estar porque a prática capitalista se exime de pagar o “salário” necessário para a reprodução da força de trabalho (PERUZZO, 2007). Para Silva e Aguiar (2001), o espaço criado pelo Terceiro Setor se configura como aquele de iniciativas de participação cidadã. As ações que se constituem neste espaço são tipica- mente extensões da esfera pública, não executadas pelo Es- tado e caras demais para serem realizadas pelos mercados. Sendo assim, inicia o papel do cidadão que, agente ativo da sociedade civil, organiza de modo a catalisar trabalho volun- Capítulo 2 Movimentos sociais e terceiro setor: aspectos... 39 tário em substituição aos serviços oferecidos pelo Estado, via taxação compulsória, e a transformar em doação a busca por lucro do mercado. É importante explicar que “benefícios coletivos”, que compõem a caracterização do setor, não correspondem necessariamente a “benefícios públicos”. Muitas organizações do Terceiro Setor visam promover benefícios coletivos privados, ou seja, específicos a um determinado objetivo. Este caso corresponde ao de organizações visando ajuda mútua que pretendem defender interesses de um grupo restrito de pessoas, sem considerável alcance social. As organizações de caráter público, de outro lado, estão voltadas para o atendimento de interesses mais gerais da sociedade, produzindo bens ou serviços que tragam benefícios para a sociedade como um todo (SILVA; AGUIAR, 2001). O Terceiro Setor passa então a constituir um setor de lógicas diferentes dos demais. De acordo com Domènech (apud SEVIGNANI, 2007, p.21), para a sociedade atual, os valores que justificam o Terceiro Setor são menos emocionais e mais carregados de ideologia, “um guia das justificativas ideológicas mais importantes de qualquer organização [...] sendo que os valores das organizações não lucrativas são diferentes, em essência, dos valores de outras organizações presentes na sociedade”. A relação entre as organizações de Terceiro Setor e o mercado pode ser identificada, basicamente, segundo Montaño (2007), por um processo de complementaridade por meio do financiamento de projetos do Terceiro Setor pelo 40 Serviço Social Contemporâneo mercado. Essa relação muitas vezes acaba se tornando alvo de muita discussão e, até mesmo, do surgimento de linhas de reflexão convergentes em torno do assunto. Para alguns, o mercado deve estimular sim a execução de projetos por parte do Terceiro Setor e, para outros, o mercado deveria se afastar de vez para que as organizações de cunho civil não se vejam atreladas à vontade do mercado. Conforme Hudson (1999, p.6), “o aumento daintervenção do Estado nos assuntos sociais por meio do aumento das provisões sempre esteve em contínua definição de limites de atuação”. Segundo Gandolfi (2006, p.29), pode-se compreender Terceiro Setor como um setor que “possui forte orientação por valores, uma fronteira de atuação não claramente delimitada, um constante relacionamento com o Estado e uma demanda crescente de resultados”. A definição do papel desse setor permite compreender as transformações às quais estão sujeitas as sociedades globais: Entender o que são, de onde vem, o que querem, como cresceram e se multiplicaram, como atuam as organizações de cidadãos implica retomar os fios de uma história que combina valores e práticas ancestrais com fenômenos contemporâneos e, em boa medida, anunciadores de profundas mudanças no perfil das sociedades e da ordem internacional. (SEVIGNANI, 2007, p.33) Capítulo 2 Movimentos sociais e terceiro setor: aspectos... 41 Cardoso ressalta a importância do Terceiro Setor como meio de uma revolução nos papéis sociais tradicionais, afir- mando que seu conceito “descreve um espaço de participação e experimentação de novos modos de pensar e agir sobre a realidade social”. Sua afirmação tem o grande mérito de rom- per a dicotomia entre público e privado, na qual público era si- nônimo de estatal, e privado, de empresarial. “Estamos vendo o surgimento de uma esfera pública não estatal e de iniciativas privadas com sentido público. Isso enriquece e complexifica a dinâmica social” (apud SEVIGNANI, 2007, p.29). 2.4 As ONGs e o social Para Lopes (2004), as ONGs assistencialistas e desenvolvi- mentistas realizam uma variedade de ações profissionalizantes tradicionais e artesanais ou manuais, mas poucas delas pro- porcionam geração de recursos financeiros aos usuários; regu- larmente, estes não participam da gestão das ONGs ou, quan- do o fazem, estão limitados a um dos procedimentos, como planejamento, execução, acompanhamento ou avaliação de atividades; os trabalhos geralmente reproduzem estruturas di- ferenciadoras das relações sociais de gênero; a divulgação das ações das ONGs é realizada de forma restrita, direcionada a seus próprios usuários e participantes; a maioria das ONGs avalia seus trabalhos com reuniões; nenhuma organização pre- tende manter a sociedade do jeito que está, propondo ideali- zações de melhoria, porém justificadas pelas restrições que as próprias enfrentam na efetivação de suas atividades. 42 Serviço Social Contemporâneo 2.4.1 Definição, conceitos e características sobre Terceiro Setor As ONGs realizam atividades mínimas de manutenção, recorrentes a um modelo de atuação com a pobreza reproduzido desde os programas estatais. Assim, mais de 50% dos usuários atendidos nas ONGs estão na faixa de renda familiar de menos de 1 salário mínimo, enquanto os demais recebem de 1 a 6 salários mínimos. Aqui, surge uma hipótese interessante: a proximidade das faixas de renda dos usuários atendidos, abaixo e acima de 1 salário mínimo, pode significar que as organizações direcionam suas atividades predominantemente para os sujeitos que estão abaixo da linha da pobreza, mas também para aqueles que vivenciam o processo de empobrecimento ou precarização das condições de via. Os critérios para separar tais usuários por classes distintas estão sendo definidos pelos serviços ou atendimentos prestados aos mesmos pelas ONGs. Se a hipótese for verdadeira, os tipos de serviços ou atendimentos devem ser semelhantes, conforme as classes de renda se aproximem, frente a essa linha de corte (os extremos das faixas de renda atendidas). Caso se confirme tal hipótese, pode-se supor que as organizações estão se tornando a porta de entrada dos sujeitos que empobrecem aos serviços e bens públicos de manutenção de suas necessidades básicas, o que abre oportunidade para uma série de questionamentos derivados (LOPES, 2004). Se a presença difusa de diversos agentes coloca em cena necessidades e expectativas concretas definidas nos termos de “exercício de liberdade”, como as configuradas nas ONGs, em Capítulo 2 Movimentos sociais e terceiro setor: aspectos... 43 contrapartida provoca-se uma crise de regulação das “garantias formais que [...] constituem as pré-condições lógicas para a mudança efetiva das relações intersubjetivas” (LOPES, 2004, p.3). Dessa forma, reconhecendo o escopo restrito e focalizado dessa análise, é necessário inventariar os tipos de ONGs que emergem e suas articulações em torno de um projeto social para configurar o caráter instituinte de esfera pública que se forma entre as organizações e em suas relações com a sociedade civil e o Estado. 2.4.2 Atuação em ONGs Já para aqueles profissionais que pretendem atuar em organizações do Terceiro Setor, alguns requisitos são fundamentais. Dentre esses, destacam-se, conforme COSTA (2003): 1. Ter um conhecimento básico sobre o que é o Terceiro Setor e as instituições que o compõem, bem como, mais especificamente, sobre a instituição onde irá desenvolver a sua ação: histórico, objetivos, missão, recursos, proposta de trabalho, dificuldades, possibilidades, limites, público-alvo, etc.; 2. Ter a visão da totalidade institucional, conhecendo o am- biente interno e externo da organização e, principalmente, o papel que pretende cumprir naquele determinado mo- mento histórico e pelo qual deseja ser reconhecido; 3. Conhecer a legislação atual que fundamenta a política de atuação junto ao segmento atendido pela instituição. Isso 44 Serviço Social Contemporâneo significa buscar nas leis pertinentes à ação institucional respaldo legal para a um trabalho voltado para a garantia dos direitos da população atendida. A Constituição Federal de 1988, a Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS), o Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA, a Lei Orgânica da Saúde, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB etc., são exemplos do aparato legal que podem contribuir para garantir a ação do técnico, do Serviço Social ou de outras áreas, uma ação mais contextualizada, interdisciplinar e abrangente; 4. Ter a concepção clara de que população atendida pela instituição é constituída por sujeitos de direitos e não meros objetos da ação profissional; 5. Saber atuar em equipe, pois essa participação pressupõe o trabalho conjunto de pessoas que discutem e analisam situações e fatos concernentes ao âmbito de atuação, tomando decisões de encaminhamento e executando-as. Traz a ideia do trabalho coletivo, cujos membros partilham de uma visão claramente definida sobre os objetivos a serem alcançados, tendo em vista a totalidade institucional e a ação interdisciplinar; 6. Produzir respostas profissionais concretas e práticas para a problemática trabalhada pela instituição, a partir de uma postura reflexiva, crítica e construtiva. Exercer a práxis profissional com compromisso e responsabilidade, primando pela capacidade de denunciar situações que necessitam ser superadas, mas também anunciando as formas de fazê-lo. Capítulo 2 Movimentos sociais e terceiro setor: aspectos... 45 Mas, em se tratando da atuação específica do assistente social, acrescenta-se que este profissional necessita, além dos requisitos apontados, possuir uma sólida formação profissio- nal sobre: Â os determinantes da questão social brasileira e suas diferentes manifestações; Â as políticas sociais setoriais para o enfrentamento dessas manifestações; Â a relação Estado, mercado e Terceiro Setor, discernindo o papel e a função de cada um no contexto da formulação e execução dessas políticas; não esquecendo que cabe ao Estado o dever de prover políticas sociais adequadas e eficientes para o enfrentamento da questão social. O Terceiro Setor é parceiro do Estado e não o contrário (COSTA, 2003). Além disso, baseados na Lei de Regulamentação da Profissão de assistente social (Lei nº 8.6662, de 07/06/93), pode-se visualizar algumas atribuições específicasao assistente social que atua na área do Terceiro Setor, segundo Costa (2003): Â implantar, no âmbito institucional, a Política de Assistência Social, conforme as diretrizes da Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS/93) e Sistema Único da Assistência Social (SUAS/04), de acordo com a área e o segmento atendidos pela instituição; Â subsidiar e auxiliar a administração da instituição na elaboração, execução e avaliação do Plano Gestor Institucional, tendo como referência o processo do 46 Serviço Social Contemporâneo planejamento estratégico para organizações do Terceiro Setor; Â desenvolver pesquisas junto aos usuários da instituição, definindo o perfil social desta população, obtendo dados para a implantação de projetos sociais, interdisciplinares; Â identificar, continuamente, necessidades individuais e coletivas, apresentadas pelos segmentos que integram a instituição, na perspectiva do atendimento social e da garantia de seus direitos, implantando e administrando benefícios sociais; Â realizar seleção socioeconômica, quando for o caso, de usuários para as vagas disponíveis, a partir de critérios preestabelecidos, sem perder de vista o atendimento integral e de qualidade social e nem o direito de acesso universal ao atendimento; Â estender o atendimento social às famílias dos usuários da instituição, com projetos específicos e formulados a partir de diagnósticos preliminares; Â intensificar a relação instituição/família, objetivando uma ação integrada de parceria na busca de soluções dos problemas que se apresentarem; Â fornecer orientação social e fazer encaminhamentos da população usuária aos recursos da comunidade, integrando e utilizando-se da rede de serviços socioassistenciais; Capítulo 2 Movimentos sociais e terceiro setor: aspectos... 47 Â participar, coordenar e assessorar estudos e discussões de casos com a equipe técnica, relacionados à política de atendimento institucional e nos assuntos concernen- tes à política de Assistência Social; Â realizar perícia, laudos e pareceres técnicos relacionados à matéria específica da Assistência Social, no âmbito da instituição, quando solicitado. No interior das instituições do Terceiro Setor, a atuação do assistente social, sempre tendo como fim último o atendimento integral e de qualidade social, trabalhará no enfoque da garantia do direito de inclusão ao atendimento. Mas também priorizará ações que caracterizam o alcance dos objetivos, metas e diretrizes preconizados pelo planejamento estratégico institucional, para o qual deverá ter contribuição significativa. Gerir o social é sinônimo de sofisticação; precisa-se ser capaz de pensar em múltiplos cenários e estar sempre sintonizado aos apelos sociais, e os paradigmas não podem existir em uma organização do Terceiro Setor. Neste contexto de precarização das políticas sociais e assistenciais estatais, agora multifragmentadas, o Estado se apresenta como parceiro da sociedade nas práticas filantrópicas e caritativas. “É neste espaço que surgirá o que é chamado de ‘Terceiro Setor’, atendendo a população excluída ou parcialmente integrada. Isso se constitui como “uma luva” na mão do projeto neoliberal” (MONTAÑO, 2007, p.11). 48 Serviço Social Contemporâneo Referência comentada MONTAÑO, Carlos. Terceiro Setor e questão social: crítica ao padrão emergente de intervenção social. 4.ed. São Paulo: Cortez, 2007. Neste livro, o autor enfrenta teoricamente a questão das semelhanças e diferenças entre as concepções de “sociedade civil” e “Terceiro Setor”, discutindo o papel e as implicações políticas de tais atores sociais na arena do Estado brasileiro. Referências CASTEL, Robert. As metamorfoses da questão social. Petrópolis: Vozes, 1998. COSTA, Selma Frossard. O espaço contemporâneo de fortalecimento das organizações da sociedade civil, sem fins lucrativos: o Terceiro Setor em evidência. In: ______. 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