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Sobre ■' •> Comportamento e Cognição Reflexões epístemológícas e conceituais Considerações metodológicas Relatos de pesquisa Volume 22 Organizado por W ander C. M . Pereira da Silva ESETec Editores Associados 2008 Copyright© desta edição: ESETec Editores Associados, Santo André, 2008. Todos os direitos reservados Silva, W. C. M. P. Sobre Comportamento e Cognição: - Org. Wander C. M. Pereira da Silva 1â ed. Santo André, SP: ESETec Editores Associados, 2008. v.22 228p. 23cm 1. Psicologia do Comportamento e Cognição 2. Behaviorismo 3. Análise do Comportamento CDD 155.2 CDU 159.9.019.4 ESETec Editores Associados Diagramação e arte: Ana Carolina Grassi Leonardi Solicitação de exemplares: comercial@esetec.com.br Santo André-SP Tel. (11) 4438 6866/ 4990 5683 www.esetec.com.br mailto:comercial@esetec.com.br http://www.esetec.com.br Sumário Apresentação 7 Psicologia Comportamental Evolutiva: fundamentos e reflexões 11 Wander C. M. Pereira da Silva Reducionismo biológico: uma proposta biológica ou psicológica? 21 Carolina Laurenti Algumas observações sobre o tratamento behaviorista radical dos eventos privados 29 Alexandre Dittrich O materialismo-com-mente de Clark Hull (1884-1952) 35 Carolina Laurenti Hermenêutica comportamental 45 Diemerson Saquetto, Elizeu Borloti Noções elementares da formação de classes de estímulos equivalentes 55 Gerson Yukio Tomanari ■ * Dilema do prisioneiro: possibilidades de estudo do autocontrole e coo peração na análise do comportamento. 63 Pedro Bordini Faleiros, Maria Martha Costa Hübner Variáveis biológicas: análises (im)prescindíveis 75 Fábio Henrique Baia, Juliano Setsuo Violin Kanamota, André Amaral Bravin Pensando o amor na Análise do Comportamento 93 Tiago Carlos Zortea, Gleison Pessoa Machado, Elizeu Borloti O uso de diagrama na analise funcional do comportamento - um recurso para a formação do psicólogo clinico 113 Suzane Schmidlin Lõhr 5 Gabriel Realce Compreensão e Utilidade de Textos da Análise do Comportamento 119 Sandra Regina Gimeniz-Paschoal, Tânia Moron Saes Braga, Maria de Lourdes Morales '• Horiguela. Discutindo o levantamento de dados via metodologia observacional 123 Graziela Freire Vieira, lima A. Goulart de Souza Britto Generalização de habilidades sociais: uma revisão das pesquisas da área 133 Fernanda Nogueira Gôngora Facco, Maura Glória de Freitas Odontopediatria e Comportamento: Dados Empíricos de uma Década de Investigação 141 Maria Luiza Marinho-Casanova, Olívia Justen Brandenburg, Priscila Tiemi Kuniyochi, Sabrina Borges Serafim Aprendizagem relacional e emergência de relações numéricas e sintáticas 155 Grauben José Alves de Assis, Ana Letícia Moraes Nunes Análise correlacionai entre contagem e equiparação de conjuntos 185 Paulo Sérgio Teixeira do Prado Relatos de graduandos de Terapia Ocupacional sobre o ensino de Análise do Comportamento 201 Regina Keiko Kato Miura Diferentes Intensidades de Ansiedade Relatadas por Estudantes do Ensino Fundamental II, em Situações Típicas de Estudo da Matemática 213 João dos Santos Carmo, Rosana Mendes Éleres de Figueiredo, Melissa Fecury No gueira, Lívia de Oliveira Cunha, Paula Valéria Souza de Araújo, Marillac Cunha Ferranti 6 Apresentação Os textos que compõem os volumes 21 e 22 da coleção Sobre Comportamen to e Cognição" representam uma amostra qualitativa dos trabalhos apresentados no XVI Encontro da Associação Brasileira de Psicoterapia e Medicina Comportamental, ABPMC, realizado em Brasília, em 2007. Oferecemos, nesses dois volumes, ao leitor, um conjunto de textos contem plando análises teóricas e conceituais sobre temas diversos ligados à Ciência do Comportamento e trabalhos de pesquisa que fornecem um breve panorama da produ ção nacional na área. O volume 21 tem foco na análise comportamental aplicada (clíni ca, educação, fenômenos culturais, saúde e esportes) enquanto o volume 22 apresen ta algumas reflexões epistemológicas e conceituais em Behaviorismo e Análise do Comportamento e os artigos direcionados a considerações metodológicas e relatos de pesquisa. Agradecemos, mais uma vez, a todos aqueles que acreditaram no papel divulgador dessa coleção e colaboraram para sua publicação, enviando seus textos. Reflexões epístemológicas e conceituais considerações metodológicas e relatos de pesquisa Capítulo 1 Psicologia Comportamental Evolutiva: fundamentos e reflexões Wander C. M . Pereira da Silva Instituto Brasileiro de Mercados de Capitais, Ibmec/DF Fundação Universa, FUNIVERSA/DF Considerações Iniciais Ao longo dos últimos séculos a diversidade de seres vivos e a variabilidade existente entre os membros da mesma espécie se tornaram temas importantes para a humanidade. Inicialmente, o conhecimento sobre o assunto esteve excessivamente apoiado em pressupostos religiosos e só recentemente a ciência produziu um conjunto de evidências capazes de re-direcionar o debate em torno destas questões. Talvez por isso, a explicação científica sobre a origem das espécies, e as leis naturais que governam esse fenômeno, ainda não foi completamente apropriada por muitos profissionais. Pessoas cultas, de boa formação educacional, ainda se perguntam sobre quando e como o homem foi “criado” sem se dar conta que este tipo de questão só faz sentido para a demarcação criacionista, já que para a vertente evolucionista o homem não foi criado, foi “selecionado”. Na verdade, entender como ocorreu essa seleção, quais os mecanismos naturais envolvidos e sobre o que esses mecanismos atuaram e atuam, são temas mais centrais para o conhecimento científico. Em termos históricos até meados do século XVIII as hipóteses de geração espontânea e o criacionismo divino, chamadas também de fíxistas, eram aceitas sem muitos questionamentos, e consideravam que as espécies, uma vez surgidas, se mantinham inalteradas ao longo do tempo (Futuyama, 1992; Leakey, 1982). No entanto, na segunda metade do século XVIII, diversos achados da paleontologia, geologia e sistemática, tomaram insustentável a hipótese de que os seres vivos foram criados em um único momento e a partir daí permaneceram inalterados. As evidências científicas eram tão convincentes que já no século XIX as discussões se concentravam em tomo das hipóteses evolucionistas, conhecidas à época como transformacionistas, que consideram que as espécies atuais resultam de lentas e sucessivas transformações sofridas por espécies existentes no passado. Em tomo dessas evidências um conjunto de pequenas teorias tentava explicar a transformação das espécies. Por exemplo, a hipótese Erros de Pierre Maupertuis; de variações geográficas de Georges Leclerc, Conde de Buffon; a hipótese catastrofista de Cuvier, dentre outras. Porém, essas “teorias” tendiam à tentativa de conciliar-se com as Sobre Comportamento e Cognição 11 explicações bíblicas. Sobre este fato Leakey (1982) comenta que “na verdade, o modo mais comum de reconciliar o Gênesis com a geologia era supor que a história bíblica referia-se apenas à criação final dos animais e plantas atuais, incluindo, naturalmente, o próprio homem” (p. 14) e que a referência às épocas mais remotas “não diziam respeito às necessidades espirituais do homem” (p. 14). O presente trabalho tem por objetivo de um lado, mostrar que a psicologia atual faz uso, de modo predominante, do criacionismo para explicar os fenômenos comportamentais e, de outro apresentar os fundamentos de uma perspectiva comportamental evolucionista para estes mesmos fenômenos. A evolução das espécies No século XIX Jean Baptiste de Monet - Cavaleiro de Lamarck (1744-1829) rompe definitivamente com a noção de espécies fixas e imutáveis e elabora a primeira explicação coerente acerca dos mecanismos de evolução dos seres vivos. Influenciado por Erasmus Darwin (1731- 1802), que afirmava que a variação do ambiente provoca uma resposta do organismo (estrutura de um órgão), suas idéias se apoiavam em dois princípios fundamentais: (1) lei do usoe do desuso; (2) e a lei da herança dos caracteres adquiridos. O primeiro diz respeito às modificações que os seres vivos têm de desenvolver de maneira a conseguirem se adaptar a determinado ambiente. O segundo, é que essas modificações são transmitidas para as gerações seguintes (Futuyama, 1992). As idéias de Lamarck permanecem ainda hoje como uma forma usual, embora equivocada, de compreender a evolução Um problema da “teoria” lamarckiana consiste em aceitar que os caracteres são transmitidos diretamente de uma geração à outra. Sabe-se que modificações anatômicas ou morfológicas, adquiridas ao longo da existência de um ser vivo não passam para as gerações seguintes de forma direta. Em outras palavras, quando um trabalhador adquire um bíceps mais forte por uso desse músculo, isso não fará seus descendentes terem o braço mais musculoso. Outro grande problema é a aceitação de que as espécies se transformam em função das necessidades demandadas pelo ambiente. Entende-se hoje que não é a necessidade que provoca a transformação. Os seres vivos não se alteram para evoluir, o que acontece é que aquelas características, dentre diversas outras, que se mostram importantes para a sobrevivência são selecionadas pela natureza. Essa noção de evolução, assim como um mecanismo evolutivo bem fundamentado cientificamente, só veio a ser explicitada com a publicação de A origem das espécies em 1859, de autoria de Charles Darwin. As evidências coletadas sistematicamente ao longo da viagem que ele realizou no Beagie, produziram um conjunto dados importante para sustentar sua explicação para a origem e evolução das espécies. O seu método era empírico, sem ser experimental, dando origem a uma prática que foi seguida pelos futuros etologistas. A teoria da seleção natural de Darwin (1859/1979/19821) - originalmente denominada de “descendência com modificação”— pode ser assim resumida: ( 1) as espécies são caracterizadas por uma variabilidade “natural” de características; (2) cada população tem tendência para crescer exponencialmente, se o meio o permitir, levando à superprodução de descendentes, o meio não suporta tantos ' A primeira data se refere à primeira publicação do livro de Darwin. A segunda à edição inglesa de onde foi traduzido para o português, Indicado pela terceira data. 12 Wander C. M . Pereira da Silva descendentes logo se desencadeia uma [uta pela sobrevivência entre os membros dessa população; (3) indivíduos com características que lhes confiram uma vantagem competitiva num dado meio e tempo são mantidos por seleção natural e produzem mais descendente (sucesso reprodutivo ou reprodução diferencial), os restantes são eliminados. O mecanismo de evolução das populações é a Seleção Natural que atua sobre a variação. Para Darwin a variação ocorre ao acaso nos membros da espécie, sem qualquer orientação evolutiva, enquanto a seleção muda a população conferindo maior êxito reprodutivo às variações vantajosas. A seleção natural é definida como um conjunto de forças ambientais que atuam nas populações, tanto no sentido positivo (sobrevivência diferencial e capacidade reprodutora diferencial), como no sentido negativo (mortalidade diferencial). No entanto, Darwin tinha pouco a dizer sobre a variação individual ou como ela é capaz de afetar o fundo genético de uma dada população. Esta questão só foi possível de ser tratada com mais cientificidade após os trabalhos de Gregor Mendel (1822-1884) sobre os mecanismos de transmissão genética em ervilhas (Freire-Maia, 1995). A genética evoluiu e a biologia atual aceita que para ocorrer a seleção natural é necessário que haja variabilidade ao nível genético de cada espécie, e esta se dá por processos de mutação - fator mais importante - ou devido a recombinações genéticas de correntes de outros fatores, incluso aí as patrocinadas pelo homem. Portanto, as variações individuais presentes dentro da mesma espécie estão intimamente ligadas às transformações ocorridas ao nível da genética. Sempre que ocorre a introdução, ou a saída, de genes em um fundo genético de uma espécie, a conseqüência inevitável é a evolução. Criacionismo na psicologia Atualmente, com alguns casos pontuais de discordância, como é o caso do bioquímico Michal Behe (1997), a teoria da evolução das espécies por seleção natural é aceita, na comunidade científica do mundo inteiro, e se constitui a “pedra fundamental” da moderna biologia (Leakey, 1982). No campo de conhecimento da psicologia, por outro lado, não seria uma grande imprudência afirmar que prevalece majoritariamente a noção criacionista e de geração espontânea do comportamento, tal como ocorria com a biologia pré-darwiniana. Inclusive, a psicologia de hoje ainda vive na “era das escolas” psicológicas, onde se misturam explicações científicas e não científicas dentro do mesmo campo de conhecimento. Via de regra as escolas de psicologia possuem cada uma o seu próprio estatuto epistemológico e metodológico, o que, de um lado inviabiliza o debate entre elas, e de outro a própria crítica e validade daquilo que elas defendem. Nessas escolas de psicologia, que se pode chamar de criacionistas, defende- se abertamente que construtos hipotéticos e metafísicos (como as estruturas psíquicas, cognitivas e mentais) são responsáveis pela conduta das pessoas, ou ainda, que uma dada ação ou característica comportamental podem surgir “espontaneamente” na vida de alguém. Assim, mesmo a psicologia possuindo longa tradição em abordar o desenvolvimento do organismo, diz pouco sobre os mecanismos de seleção do comportamento. Considerando, por exemplo, o que tem sido dito sobre dois comportamentos extremos como o psicótico e o criativo, pode-se concluir que muitos psicólogos (auto- Sobre Comportamento e Cognição 13 intitulados especialistas no assunto) ainda concordam com a idéia de que um indivíduo pode "se tornar" um psicótico de uma hora para outra, que “de repente” pode vir a ser acometido de uma “loucura” (transtorno mental, como se usa hoje) e passar a fazer coisas psicóticas. Já em relação ao comportamento criativo é comum afirmarem que é uma coisa que “vem de dentro”, ou que é gerado espontaneamente por uma “mente criativa”. Ou seja, a psicologia criacionista beira o senso comum quando se posiciona dessa forma. Essas idéias, tão difundidas na cultura acadêmica, afetam o comportamento inclusive dos behavioristas. A noção de que o comportamento psicótico seria estranho aos processos normais da vida de uma pessoa era tão forte que até meados dos anos setenta não se supunha que pudesse ser alvo de psicoterapia comportamental (Bellack, 1986). Em 1972, Skinner defendeu a tese de que o comportamento psicótico possuía causas normais como qualquer outro comportamento. A partir dessa premissa alguns outros trabalhos foram importantes para demonstrar que fatores ambientais tinham influencia sobre o quadro psicótico (por exemplo, Layng e Andronis, 1984). Quanto à criatividade, existem psicólogos muito bem intencionados pesquisando os comportamentos criativos, mas o tomam descontinuados de todos os acontecimentos prévios da vida do organismo. Estes relutam em examinar as condições normais de variação e seleção ligadas ao comportamento criativo, como comprovam diversos trabalhos experimentais (por exemplo, Neuringer, 1991; Machado, 1997; dentre outros). Na psicologia de hoje também existem abordagens que se auto-intitulam evolucionistas, e que tentam estabelecer um elo direto entre processos evolutivos e processos psicológicos (mentais/cognitivos) sem se preocupar em analisar o comportamento em si mesmo como passível de evolução e seleção. Consideram que a mente2, mesmo não possuindo qualquer atributo físico, é produto da evolução natural e que esta uma vez “selecionada” passou a determinar (criar) os comportamentos complexos do ser humano. Por essa lógica o comportamento não evolui e muito menos é selecionado por condições ambientais: são criados pela mente ou cognição.Como foi afirmado no inicio do texto, na segunda metade do século XVIII, na Biologia, não se discutia mais se os organismos evoluíam, mas como e porque isso acontecia. No que se refere à psicologia, em pleno século XXI, ainda vigora o “grande” debate sobre como a mente, o self, e o inconsciente ou algo equivalente, causam o comportamento. A pauta de questões sérias em debates sérios é dada pela tentativa de elucidação da origem da “mente” (psicótica, criativa e etc). Talvez a “psicologia das escolas” se beneficie dessa discussão ad nauseum, mas é mister avançar no sentido de romper com essa influencia criacionista na psicologia para que se possa esboçar uma compreensão mais apropriada sobre o comportamento. A evolução do comportamento A análise do comportamento defende uma adesão quase completa às propostas do evolucionismo biológico. Segundo entende Baum (1999, p. 69) “Os psicólogos que hoje ignoram a teoria da evolução correm o risco de ficar à margem da tendência atual do desenvolvimento científico”. Mas, quais são as reais implicações de aderir ao modelo evolucionista? Nos próximos parágrafos se fará uma pequena reflexão sobre o assunto. Para Skinner (1981) a seleção por conseqüências é um processo básico que governa a evolução da espécie, do individuo e da cultura. No modelo darwinista a seleção 1 Neste ponto, há grande confusão entre mente e cérebro. Uma hora reduz-se a mente ao próprio cérebro, outra se atribui a existência da mente ao fu ncfenamento do cérebro. 14 Wander C. M . Pereira da Silva natural atua, em um longo tempo, sobre as características biológicas particulares de uma espécie. No modelo skinneriano o processo de seleção por conseqüências continua a atuar, em um tempo mais curto, sobre características do comportamento do indivíduo dentre uma ampla faixa de variabilidade e, também sobre as práticas de uma cultura. Skinner (op. cit.) afirma que, primitivamente, o comportamento evoluiu a partir de um conjunto de funções biológicas adaptativas das espécies. Defende que o comportamento, em um mundo remoto e relativamente estável, poderia ser no máximo parte da capacidade genética das espécies, como a digestão, a respiração ou qualquer outra função biológica. Neste cenário primitivo, a seleção natural atuou sobre respostas sensíveis a certos estímulos específicos que contribuíram enormemente para a adaptação a novos ambientes. Esses novos ambientes não podiam variar muito em relação àqueles em que as respostas sensíveis aos estímulos foram selecionadas, pois, em um ambiente muito variável, aquelas respostas controladas por estímulos antecedentes, como os reflexos incondicionados e os padrões fixos não eram efetivas. Contudo, não se pôde garantir que as mudanças no ambiente permanecessem estáveis, daí que novas respostas deveriam ser “aprendidas’7selecionadas. O passo seguinte pode ter sido a flexibilização da resposta reflexa: por meio de emparelhamento, a mesma resposta poderia ficar sob controle de novos estímulos. Ainda assim, isso não era suficiente para um processo rápido de adaptação do organismo às variações do ambiente, pois a resposta permanecia sob controle de estímulos anteriores. Era necessária uma ruptura com as condições antecedentes que controlavam de forma rígida as respostas. Lentamente evoluiu a característica operante das respostas. Aqueles organismos que apresentavam respostas sensíveis a eventos conseqüentes foram selecionados. A pressuposição de Skinner parece ser que esse tipo de relação Organismo- Ambiente que é chamado de comportamento seria parte da evolução de dois processos através dos quais os organismos individuais se adaptaram a novos ambientes: (1) condicionamento respondente: relações preparadas em ambientes estáveis poderiam servir de base para novas relações e, (2) condicionamento operante: Suscetibilidade de certas respostas a acontecimentos subseqüentes. Ainda, em relação ao condicionamento operante, ele parece ter evoluído em paralelo com dois outros produtos das mesmas contingências de seleção natural: (1) a suscetibilidade das respostas a certos tipos de conseqüências e (2) uma fonte de comportamentos menos comprometidos com estímulos específicos. Para Skinner (1981) eventos como comida, inicialmente, não possuíam valor reforçador, e os membros de uma espécie comiam certos alimentos por causa de seu valor para a sobrevivência (função nutritiva). Mas, através da evolução de suscetibilidades especiais, a comida se tomou reforçadora, e a obtenção de comida, como conseqüência reforçadora, produziu novas formas de comportamentos, inclusive não alimentares. Ainda segundo Skinner (op. cit.) o comportamento condicionado dessa forma não é necessariamente adaptativo, no sentido biológico do termo; pois, de um lado, alimentos que não são saudáveis podem vir a ser consumidos, e de outro, comportamentos nocivos podem ficar sob controle do reforçador comida. A “vantagem" seletiva é a de que os membros de uma espécie podem adquirir comportamentos novos sob controle destes reforçadores, para o enfrentamento de um ambiente instável onde os padrões reflexos e fixos não se mostram úteis. O condicionamento operante propicia que o indivíduo possa romper com a dependência de processos exclusivamente biológicos e inaugura um segundo nível de evolução: a evolução do comportamento. Sobre Comportamento e Cognição 15 A espécie humana presumivelmente se tornou muito mais social quando sua musculatura vocal também passou a ser controlada por condicionamento operante. O comportamento verbal aumentou significantemente a importância de um terceiro tipo de seleção por conseqüências: a evolução da cultura. O processo presumivelmente começou no nível individual, e as vantagens que se mostraram úteis para a sobrevivência do grupo foram selecionadas. Uma cultura evolui quando as práticas originárias desta forma contribuem para o sucesso do grupo praticante em resolver seus problemas. É o efeito no grupo, e não as conseqüências reforçadoras para os membros individualmente, que é responsável pela evolução da cultura. Deduz-se daí que o comportamento evolui a partir de três níveis de seleção que se inter-cruzam e se complementam: 1) A seleção natural - responsável não só pela evolução da espécie e consequentemente pelos padrões fixos e reflexos típicos dela, mas também pela suscetibilidade ao emparelhamento de estímulos antecedentes e a sensibilidade a certas conseqüências de reforçamento. 2) Contingências de reforçamento individual - responsável pela evolução do repertório de comportamentos dos membros da espécie. 3) Contingências sociais/verbais - responsável pela evolução de práticas Gulturais, processos através dos quais os indivíduos tiram proveito de comportamentos já adquiridos por outros. No primeiro nível de seleção, o surgimento e a estabilização de certas características evolutivas em uma dada espécie levam em conta três aspectos: (1) As características de uma espécie devem variar ao longo do tempo, (2) As diferentes variações devem tender a se reproduzir (estabilização do fundo genético) e, (3) algumas variações devem ser mais bem sucedidas que outras (sucesso reprodutivo). De modo análogo, no segundo nível de seleção, para haver evolução e a manutenção de certas características do repertório de comportamento de um individuo, é necessário: (1) variabilidade, (2) tendência à repetição e, (3) o reforçamento diferencial deve atuar sobre um conjunto dessas pequenas variações. Uma pergunta comum de alunos iniciantes em Análise Experimental do Comportamento (AEC) é “de onde vem a primeira resposta a ser modelada em um rato no condicionamento da resposta de pressão à barra?" O chavão é afirmar que o rato emite a resposta em decorrência da necessidade de beber água, comer e explorar o ambiente. Mas, em termos evolutivos, o rato não “cria” nenhuma resposta nova para fazer frente a suas necessidades, quaisquer que sejam elas. A primeira resposta a ser selecionada já estavalá no seu repertório, ou seja, fazia parte de seu “patrimônio” comportamental e foi também selecionada durante a história de evolução de sua espécie. O processo de modelagem se dá a partir das respostas espécie-específicas do animal, selecionadas em um nível anterior de evolução (filogênese). Portanto, se pode afirmar que a resposta de pressão à barra evoluiu de outras respostas anteriores. A dificuldade em compreender essa explicação pode residir em dois fatos: 1) a noção de causalidade linear e espaço dependente, e 2) ao fato de que o conceito de adaptação é freqüentemente entendido como um ato de vontade do individuo. No senso comum se diz que o aluno muda para se adaptar ao estilo do professor; a namorada ao do namorado; o empregado ao do patrão e assim por diante, conclusão óbvia: o rato muda para atender às suas necessidades. Na própria Biologia existem equívocos quanto à compreensão do conceito de adaptação (Alcântara, 2007). 1 ó W ander C. M . Pereira da Silva Fundamentos de Psicologia Comportamental Evolutiva Lê-se com freqüência em jornais e revistas afirmações médicas de que quando expostas aos antibióticos, as bactérias adquirem resistência a ele. Tornam-se resistentes. Ou seja, que mudam a sua forma em resposta a um estímulo. Essa linha de pensamento está resumida assim: Bactéria » Ação do antibiótico »N ova Bactéria (resistente). Essa explicação está transversalizada por noções simplistas e criacionistas, porém de grande difusão na cultura, por isso é tão aceita. Os mecanismos que permitiriam a uma bactéria adaptar-se, no sentido de mudar a si mesmo de forma individual, seriam muito complexos e altamente improváveis. Um antibiótico é uma substância química que interage, por exemplo, com um receptor protéico da membrana e que provoca uma reação adversa que mata a bactéria. Nessa linha, a bactéria, não sendo ela previamente resistente, teria que desenvolver (e rapidamente, o antibiótico já está agindo) um mecanismo que a permitisse resistir ao antibiótico. E como seria esse mecanismo? A proteína de membrana que interage com o antibiótico teria que ser alterada na região onde ocorre a interação. Então, pelo menos um aminoácido teria que ser trocado. Para trocar-se um aminoácido, tem que se alterar um gene. E essa alteração teria que ser específica, trocando exatamente uma trinca de bases por outra, de modo que na tradução se produza uma nova proteína adaptada para não interagir com o antibiótico e, assim, conferir resistência à bactéria Isso parece um tanto quanto “forçado". A bactéria teria que saber que aquela alteração no DNA produziria uma proteína com a diferença necessária para resistir ao antibiótico, e faria isso em questão de segundos (Alcântara, 2007). Considerando que a bactéria não adquire resistência em minutos para resistir ao antibiótico. Então como ocorre esse processo? Bactéria, tais como quaisquer tipos de ser vivos, têm semelhanças entre si, mas, também, têm diferenças. Ao se administrar um antibiótico, algumas, talvez poucas, serão resistentes. A maioria talvez não, e então morrerão. Se apenas as resistentes sobreviveram, ao se reproduzirem a nova geração herdará essa capacidade. Então, a nova população será resistente. Diz-se então, que essa população adaptou-se. Mas não houve nenhuma alteração nos indivíduos, em cada bactéria. Essa abordagem pode ser visualizada da seguinte forma: População de Bactérias (W, X, Y, Z) » Ação do antibiótico » Seleção de nova população de Bactérias (Z) (Alcântara, 2007). Analisando as duas explicações se vê que na primeira a bactéria fica diferente para sobreviver; para manter a sua vida individual. E o estímulo ambiental seria um gerador de uma variação genética específica. Isso não ocorre. Na segunda, algumas bactérias sobrevivem porque são diferentes. E o estímulo ambiental seria um agente de seleção. Não provoca nenhum tipo de alteração em um organismo, mas na população, que será diferente na próxima geração. No exemplo acima esses fenômenos têm nome: a ação do antibiótico é a SELEÇÃO NATURAL; a existência de bactérias da mesma espécie com características diferentes chama-se VARIAÇÃO, e o fato de, posteriormente a ação do ambiente, termos duas gerações com características diferentes chama-se EVOLUÇÃO. Os seres vivos não têm as suas estruturas e/ou realizam as suas ações fisiológicas, bioquímicas ou evolutivas para manterem-se vivos. Mantêm-se vivos porque possuem as estruturas que têm e/ou porque realizam as suas ações (Alcântara, 2007). Quando se aplica esse raciocínio da biologia sobre o segundo e o terceiro nível de seleção por conseqüências proposto por Skinner, altera-se completamente a lógica criacionista e de geração espontânea presentes no senso comum e na psicologia. Os Sobre Comportamento e Cognição 17 indivíduos não mudam seus comportamentos, e a sociedade não muda suas práticas culturais, para sobreviver, apenas apresentam suas variações naturais que são selecionadas pelas contingências de reforçamento diferencial em vigor, programadas ou não. Desta forma, um comportamento ou uma prática cultural nunca surgem do nada, evoluem a partir de outros pré-existentes. Aceito essa premissa evolutiva, cabe discutir e compreender quais mecanismos e processos comportamentais e culturais, além daqueles determinados biologicamente, estão envolvidos. Deve-se considerar também que existem algumas diferenças sutis entre a evolução das espécies, do comportamento e da cultura. Na vida de um indivíduo o tempo para a seleção e as mudanças no ambiente são bem mais rápidas do que na evolução das espécies. Isto produz grande diferença no modo como o modelo de seleção por conseqüências atua sobre um e outro nível. Por exemplo, no que se refere ao aspecto sobrevivência, as contingências de reforçamento operante estão vagamente relacionadas ao processo de evolução da espécie e mais fortemente envolvidas com o processo de evolução dos comportamentos do próprio indivíduo. É por isso que é indicado o emprego dos termos adequado e inadequado como substitutos de adaptado ou não-adaptado. No nível de evolução comportamental a ocorrência de um operante não pode ser medida em relação à sobrevivência a espécie, conseqüentemente, o uso do conceito de “adaptado” ou não “adaptado" não se aplica. Um operante tem como referência um conjunto de fatores como a biologia, o contexto, a história de reforçamento e a cultura, envolvidos na vida do individuo, e as contingências de reforçamento e punição só podem ser entendidas quando se leva em conta esse conjunto de fatores. Diferentemente de outras espécies, a espécie humana evoluiu, necessariamente, de forma social (especialmente em função da aquisição do comportamento verbal, possibilitado pelo controle operante sobre a musculatura vocal). Por essa razão, e em tese, uma criança, que ainda não desenvolveu todas as funções comportamentais, possui maior sensibilidade a reforços ligados exclusivamente a sobrevivência do que um adulto. Na medida em que aumentam as interações com o meio social os reforços sociais ganham força e a maior parte dos comportamentos do adulto passam a ficar sob controle de contingências sociais e não biológicas. Contingências complexas construídas no nível cultural passam a ter maior influencia na vida do individuo do que aquelas essencialmente ligadas a sua sobrevivência. Como afirma Wiazbort (2005, p. 296) “As forças seletivas que fizeram o Homo sapiens emergir, e nos fazem o que somos hoje, foram enormemente modificadas pelo advento das formas humanas sociais, culturais, filosóficas, artísticas, científicas, tecnológicas, políticas de lidar com o meio ambiente", talvez por isso a cultura se depare com a ocorrência de comportamentos que contrariam a lógica biológica da evolução, como os autodestrutivos. Porém, como contraponto a isso, se pode afirmar que o nível cultural de evolução é mais sensível e contribui mais fortemente à sobrevivência da espécie que o individual, gerando certoequilíbrio evolutivo. Reflexões Finais Em um texto de 1974 Skinner afirma que “O que é bom para espécie é aquilo que lhe ajuda a sobrevivência. O que é bom para o indivíduo é aquilo que lhe promove o bem-estar. O que é bom para a cultura é aquilo que lhe permite solucionar seus problemas” (p. 176). Dessas afirmações conclui-se que o ambiente atua como selecionador dos comportamentos dos indivíduos por que estes lhe promovem o bem- estar, Mas como o ambiente “sabe” que o comportamento selecionado promoverá o bem-estar do individuo? Obviamente, não sabe e, provavelmente, não é por esta razão 18 W ander C. M . Pereira da Silva (ou pelo menos não deveria ser) que se afirma que o ambiente seleciona comportamentos. Na evolução das espécies, embora se considere que as variações nas populações ocorrem por acaso, a seleção não o é. Ela é tratada como um processo de “escolha” dos mais adaptados, para a manutenção da vida. O máximo que se pode afirmar em relação ao que orienta a seleção de comportamentos no nível individual é que a sua adequação diante de um conjunto de fatores (biologia, contexto, história de reforçamento e cultura) é mais relevante e a sobrevivência da espécie exerce um papel secundário. Mesmo na biologia, a noção de mais adaptado é considerada relativa (uma característica pode ser desfavorável, mas ter pouco significado no conjunto de muitas outras características favoráveis que constituem o genoma do indivíduo) e, temporal (uma característica favorável num dado momento pode ser altamente desfavorável no outro), no nível individual, as noções de relativa e temporal também são importantes para a compreensão do processo de “adaptação”. Finalmente, uma psicologia comportamental evolutiva realizaria seus objetivos de estudo através da compreensão e controle dos mecanismos que regulam as variações, a seleção e a manutenção do comportamento do indivíduo. Seu objeto de estudo não é o comportamento em si, mas as contingências evolutivas responsáveis pela variação e seleção dos comportamentos. Com isso abre-se a possibilidade de um olhar mais amplo sobre os processos comportamentais complexos que vem sendo abordados de forma insatisfatória pelas teorias psicológicas e parte da Análise do Comportamento. Referências Alcântara, M. (2007). A manutenção da vida (no prelo). Baum, W. M. (1999). Compreender o behaviorísmo: ciência, comportamento e cultura. Porto Alegre: Editora Artes Médicas Sul Ltda. Behe, M. (1997). A caixa-preta de Darwin. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Bellack.A. S. (1986). Schizophrenia: Behavior therapy’s forgotten child. Behavior Therapy, 17 199- 214. Darwin, C. (1982). A origem das espécies: ilustrada, trad. 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De um lado, a h is tó ria da P sico log ia m ostra que a lgum as p ropostas ps ico lóg icas tinham a fin idades e le tivas com program as reducion is tas de ciência, notadam ente , os de cunho b io lóg ico. É o caso , po r exem p lo , da p s ico log ia de T itch e n e r (1 9 0 9 /1996 ), em que o s is te m a n e rvo s o e x p lic a v a , em ú lt im a a n á lis e , os p ro c e s s o s c o n s c ie n te s ; e d a p s ic o lo g ia e s tím u lo -re s p o s ta de W a tso n , na qua l o c o m p o rta m e n to acabou s e n d o re d u z id o a a tiv idades de m úsculos e g lându las (1924/1930). P or outro lado, a B io log ia vem ganhando no to riedade no con tex to das c iênc ias e da filoso fia da ciência , não só em deco rrênc ia dos supostos avanços da neuroc iênc ia e da genôm ica , m as, p rinc ipa lm en te , porque, para a lguns h is to riadores e filóso fos da ciência, a B io log ia vem se anunc iando com o o novo pa rad igm a de c iênc ia , luga r antes ocupado pe la fís ica (M ayr, 1997/2008, p. 09; Rosa, 2005, pp. 23-24). N ã o o b s ta n te , e s s e d e s e n v o lv im e n to da B io lo g ia v e m a c o m p a n h a d o necessariam ente de um a proposta reducionista b io lóg ica? O objetivo, aqui, é exam inar a lguns encam inham entos dados pela Biologia à proposta reducionista de c iência nesse seu “m e lho r m om ento” de suposto avanço e proem inência nas c iências. Com isso, espera- se m ostra r a possib ilidade do estabe lec im ento de um d iá logo v irtuoso en tre B io log ia e P s ico log ia , que se assen ta em bases d ife ren tes da p roposta reducion is ta de c iênc ia . Para desenvo lve r esse assun to , apresenta rem os, em um p rim e iro m om ento , a lgum as expressões da crítica do reducíonism o por parte de a lgum as teorias biológicas. Em segundo lugar, d iscutirem os, brevem ente, a lgum as conseqüências dessa crítica para as re lações entre B io log ia e Psicologia, em especial, para a A ná lise do Com portam ento. O e s ta tu to da e xp lic aç ã o red u c io n is ta na te o ria b io ló g ica U m a d a s p rin c ip a is c a ra c te rís t ic a s d o re d u c ío n ism o é a firm a çã o de que a d issecação de um s is tem a com p lexo em term os de suas partes constitu in tes o fe rece rá um a e x p lic a ç ã o c o m p le ta do s is te m a (M ayr, 2 0 0 4 /2 0 0 5 ). Na B io lo g ia , p ro p o s ta s re d u c io n is ta s a p a re ce m da se g u in te m ane ira : nenhum s is te m a b io ló g ic o c o m p le x o * Trabalho financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) por meio de bolsa de doutorado. E-mall: carolinapsicologia@hotmail.com Sobre Comportamento e Cognição 21 mailto:carolinapsicologia@hotmail.com pode ser entendido completamente até que tenha sido analisado em seus componentes mais elementares; e esse processo deve se dar até à especificação dos componentes e processos puramente físico-quimicos (Mayr, p. 88). Mas não só isso: o reducíonismo afirma que o sistema complexo não tem propriedades novas, ou seja, ele é simplesmente a soma de seus elementos constituintes. Com efeito, os elementos são mais fundamentais que o próprio fenômeno. Dito de outro modo, a tese reducionista afirma que o todo só pode ser compreendido pela identificação de suas partes: o todo não é nada mais do que a soma das partes. Um exemplo de proposta reducionista na Biologiafoi a tentativa, atualmente considerada fracassada, de reduzir todos os ramos da Biologia à biologia molecular (Mayr, 2004/2005, p. 86). Longe de compactuar com o reducíonismo, que se destacou como uma tese robusta na filosofia da ciência, especialmente das décadas de 50 e 60 do século XX, a Biologia parece estar mais afinada com tendências pós-reducionistas ou pós-empiristas de ciência. De um lado, a Biologia tem se empenhado em uma crítica mordaz ao conceito de redução, mais especificamente, ao seu correlato contemporâneo, a noção de determinismo genético (Mayr, 2004/2005; Lewontin, 1998/2002). Por outro lado, as tendências anti-reducionistas da Biologia podem ser realçadas nas tentativas de redefinição de seus conceitos mais caros. Para estudar a dinâmica da vida, a Biologia está voltando os olhos para a relação indissociável entre organismo e ambiente, e redefinindo conceitos como os de desenvolvimento, gene e adaptação à luz dessa perspectiva relacional (Lewontin). Critica à noção de determinismo genético Examinemos, inicialmente, o primeiro aspecto: a crítica da Biologia ao conceito de determinismo genético. Em linhas gerais, a noção de determinismo genético consiste na idéia de que o genoma (o conjunto dos genes de uma espécie) é a causa primordial de todas as características do ser vivo (Lewontin, 1998/2002). Há várias nuances dessa idéia geral, que vão desde afirmações mais radicais, até versões mais mitigadas do conceito. Como exemplo das primeiras, temos afirmações do tipo: seres humanos não são mais do que instâncias do genoma; os genes fornecem informação suficiente para a criação do exemplar da espécie humana (Leite, 2007). Uma feição mais suavizada da idéia de determinismo genético encontra-se em discursos que não atribuem mais aos genes a causa exclusiva de doenças ou características. Fala-se tão somente que os genes influenciam esses fatores, dando espaço para um papel complementar do ambiente, que teria a função de simplesmente desencadear as pré-formadas potencialidades genéticas. Já nesse momento é possível perceber a feição reducionista da noção de determinismo genético: os genes (partes isoladas do sistema) seriam capazes de explicar completamente as características humanas. Em outros termos, o conhecimento completo da seqüência do genoma humano nos ofereceria uma explicação causal completa da diversidade humana (Leite, 2007; Lewontin, 1998/2002). A crítica à noção de determinismo genético vem de várias frentes dentro da própria Biologia, especialmente, de um conjunto de biólogos cujas críticas deram origem a uma perspectiva teórica chamada de teoria de sistemas desenvotvimentais (Leite, 2007, p. 102). Na verdade, trata-se de uma perspectiva teórica que se originou de embates sobre a sociobiologia, e tem como um de seus principais representantes o biólogo Richard Lewontin (1929-). E é com base nesse sistema teórico que apresentaremos algumas críticas à noção de determinismo genético. 22 Carolina Laurentí Podemos criticar o 'determinismo genético’ de, pelo menos, três perspectivas: conceituai, empírica e social. Do ponto de vista conceituai, o ‘determinismo genético’ não tem se mostrado como uma ferramenta heurística adequada para compreendermos a complexidade de processos biológicos. O conceito de determinismo genético nos inspira a tratar as relações entre o organismo e seu meio de um ponto de vista linear e unilateral, com uma ênfase demasiada no papel dos genes, desconsiderando as interações fundamentais entre o organismo e ambiente. Nessa linha de raciocínio, o organismo é visto como o produto exclusivo de forças internas determinadas pelos genes. Segundo Lewontin (1998/2002), a noção de determinismo genético é biologicamente errada, pois “as relações entre genes, organismos e ambientes são relações recíprocas nas quais os três elementos atuam como causas e efeitos” (p. 105). Nesse sentido, organismos não são meros produtos dos seus genes, mas um complexo que se constitui na interação entre genes, ambientes e.o próprio organismo: “tanto os genes como o ambiente são causas dos organismos, os quais, por sua vez, são causas dos ambientes, de maneira que os genes, pela mediação dos organismos, tornam-se causas dos ambientes” (Lewontin). Com efeito, a noção de determinismo genético mostra-se bastante limitada para descrever essas múltiplas relações. Tem-se constatado também que pesquisas encorajadas pelo conceito de determinismo genético têm produzido parcos resultados empíricos. Um caso paradigmático é o Projeto Genoma Humano (PGH). Leite (2007, p. 80) mostra a tensão e as discrepâncias existentes entre promessas do PGH e os resultados obtidos com a catalogação de basicamente 99% da seqüência genoma humano, anunciada em 21 de outubro de 2004. Uma das promessas do projeto genoma era que a revelação do Livro da Vida, uma das metáforas religiosas para se referir ao genoma, operaria uma verdadeira revolução na biomedicina. As informações estruturais sobre o genoma poderiam ser aplicadas na descrição de doenças, possibilitando o desenvolvimento de novas abordagens terapêuticas, como a elaboração de medicamentos feitos com precisão molecular, ajustados às características genéticas básicas do paciente. Contudo, a informação obtida com a soletração do genoma não se reverteu em grandes aplicações para a saúde. Até o presente momento, o sistema tecnológico da genômica tem somente dois grandes exemplos de medicamentos desenvolvidos com base nas informações obtidas do seqüenciamento dos genes (Gleevec e Iressa), ambos drogas anticancer (Leite). Essa ênfase exacerbada em um dos termos da relação também tem conseqüências sociais danosas. A noção de determinismo genético admite que as ações humanas são conseqüências inexoráveis das propriedades bioquímicas das células que, por sua vez, são determinadas pelos genes. Assim, os deterministas genéticos sustentam que o comportamento humano é fixado pelos genes. Como conseqüência disso, fenómenos de natureza social, como as diferenças entre indivíduos, grupos étnicos, raças, no que ser refere a status, riqueza e poder são entendidos como o resultado de diferenças na capacidade e temperamento fixadas pelos genes (Leite, 2007). Nesse sentido, a crítica à noção de determinismo genético pretende denunciar a camuflagem de causas sociais sob a roupagem de causas naturais. Uma camuflagem que, em última análise, acaba condicionando a mudança ou transformação da realidade social à modificação genética. Essas críticas mostram que o determinismo genético, além de se mostrar como uma ferramenta conceituai pobre do ponto de vista heurístico, parece produzir resultados empíricos insatisfatórios, bem como conseqüências sociais funestas. Em vista dessas considerações, Lewontin (1998/2002) conclui que uma Biologia ancorada Sobre Comportamento e C ognição 23 na visão do detenninismo genético é uma má Biologia. Uma constatação que pode ser resumida no seguinte aforismo de Alexander Pope (citado por Lewontin): “Buscar a vida na dissecação é perdê-la no momento da ação” (p. 76). A crítica ao reducionismo e suas conseqüências conceituais na Biologia Além da critica ao conceito de determinismo genético, a tendência pós- reducionista da Biologia pode ainda ser realçada quando examinamos algumas redefinições de conceitos e noções que são elementares à Biologia. A título de exemplo, mencionaremos apenas três conceitos, a saber: desenvolvimento, gene, e adaptação. Atualmente, tem-se criticado na Biologia uma visão de desenvolvimento como o processo de desdobrar ou desenrolar algo que já está presente e, em certo sentido, pré-formado (Lewontin, 1998/2002). Nessa linha de raciocínio, o ambiente é apenas o cenário que oferece as condições propícias para que genes e organeias celulares se expressem. A crítica da Biologia atual parece anacrônica, pois a Biologia pré-moderna do século XVIII foi palco de uma luta entre duas teorias de desenvolvimento: a pré- formacionistae a epigenética. A primeira afirma que o adulto já estava contido, formado em miniatura no espermatozóide, e o desenvolvimento era o crescimento e a consolidação desse ser em miniatura. Já na teoria epigenética, o organismo ainda não estava formado no ovo fertilizado, e era produto de profundas modificações que ocorriam durante o processo de formação do embrião. Engana-se quem pensa que a teoria epigenética triunfou. Para alguns biólogos, como Lewontin, vemos hoje uma atualização da concepção pré-formacionista de desenvolvimento na noção de gene como informação. A metáfora do gene como informação sugere que o gene contém toda a informação necessária para especificar o organismo completo. Essa idéia pode ser vislumbrada no fluxo causal linear e unilateral que vai do gene/proteína/característica fenotípica. Mas essa visão unilateral de gene foi esfacelada por achados empíricos que constataram, por exemplo, que o número de proteínas é maior que o número de genes especificadores (120.000 proteínas para 20.000 genes) (Leite, 2007). Admite-se, pois, que a função das proteínas é influenciada por um conjunto de fatores (eventos e sinais citoplasmáticos, extranucleares) que são independentes do DNA, dando abertura para a participação do ambiente na constituição das características do organismo. Embora não haja uma definição alternativa de desenvolvimento e gene que seja inequívoca, outras metáforas são propostas pelos biólogos para entender esses fenômenos. Lewontin (1998/2002), por exemplo, defende uma teoria variacional da mudança para explicar o desenvolvimento1, e outros biólogos tentam propor uma definição de gene como processo e não como uma coisa - “conceito processual-molecular de gene” (Leite, 2007, p. 128). A crítica à concepção pré-formacionista de desenvolvimento atualizada na crítica à noção de gene como informação sugere que a Biologia não atribui uma importância demasiada aos genes em detrimento do ambiente, que é visto como um mero cenário, ou como o disparador de processos já pré-formados no organismo. Contudo, esse posicionamento não nos deve levar a concluir que a Biologia dá maior ênfase ao papel do ambiente em detrimento do organismo, e mesmo dos genes. ’ O modelo variacional da mudança entende que os indivíduos se modificam porque existe variação entre eles, e algumas dessas variantes produzem mais descendentes do que outras. Isso é diferente da explicação da mudança conforme a teoria transform acionai, em que os indivíduos se modificam porque cada um deles passa por desenvolvimentos paralelos durante a vida. Um exemplo simples pode ilustrar a diferença entre essas conoepções de desenvolvimento. Segundo a teoria transformacional, alguns insetos são mais resistentes aos inseticidas do que outros porque ganharam resistência durante a vida mediante a exposição gradual a esses produtos. Já segundo a teoria variacional, os insetos mais resistentes são aqueles que apresentaram variações que foram mais favoráveis à sobrevivêndadianteda exposição aos inseticidas do que aqueles que não dispunham de tais variantes (Lewontin, 1998/2002). 24 Carolina Laurenti Isso se revela na crítica da Biologia à noção de adaptação darwiniana. Lewontin (1998/ 2002) admite que a noção de adaptação de Darwin, entendida como o processo de adequação do organismo ao ambiente, foi um passo revolucionário na Biologia. Na concepção pré-moderna da natureza, não havia uma demarcação clara entre processos externos e internos, vivo e morto, animado e inanimado. Com a noção de adaptação, Darwin operou uma separação nítida entre o interno e o externo: o intemo se referia aos processos internos que geravam o organismo, e o externo consistia nos diferentes ambientes, aos quais o organismo deve se adaptar. A despeito de sua importância para a Biologia, a idéia de adaptação darwiniana sugere uma concepção de organismo e ambiente como independentes entre si (Lewontin). A adaptação é o processo pelo qual um objeto se torna apto a satisfazer uma demanda pré-existente. Nessa acepção, o organismo é entendido como o produto passivo, que se constitui em resposta às exigências do ambiente. Para Lewontin (1998/2002), contudo, uma metáfora mais adequada para expressar o processo de evolução não é a de adaptação, mas a de construção: "assim como não pode haver organismo sem ambiente, não pode haver ambiente sem organismo” (p. 53). Para ele, organismos participam da construção de seu próprio ambiente, que deixa de ser tratado como condições físicas meramente dadas, para se restringir aquelas “eleitas” e modificadas pelo organismo. O biólogo afirma que deslizamentos de gelo, depósitos de cinza vulcânica e fontes de água não são ambientes. São condições físicas das quais ambientes podem ser construídos: Um ambiente é algo que envolve ou cerca, mas, para que haja envolvimento, é preciso que haja algo no centro para ser envolvido. O ambiente de um organismo é a penumbra de condições externas que para ele são relevantes em face das interações efetivas que mantém com aqueles aspectos do mundo exterior (Lewontin, 1998/2002, p. 54). Desse modo, a definição de ambiente é relacional, já que o ambiente se define como aquelas condições que são especificadas nas interações com o organismo2. Como se vê, a crítica ao papel exclusivo do gene na determinação do organismo não acarreta, necessariamente, na defesa irrestrita da ação do ambiente. Em suma: com a crítica ao determinismo genético, e a noção de gene como informação, a Biologia não dá uma ênfase demasiada ao papel do organismo, especificamente ao gene, em detrimento do ambiente. Com a crítica à noção de adaptação darwiniana, a Biologia também não compactua com uma concepção de ambiente independente do organismo e do gene. O que se reclama agora na Biologia é uma interpretação relacional da dinâmica entre gene, organismo e ambiente - uma concepção que se mostra incompatível tanto com o reducionismo biológico, quanto com um reducionismo de qualquer outra natureza. Crítica ao reducionismo biológico: A possibilidade de um diálogo virtuoso entre Biologia e Psicologia Ao examinar como algumas tendências no interior Biologia explicam seu objeto, criticando o reducionismo biológico e buscando definições relacionais de seus 2 Cabe destacar, que os genes também pa rticipam da construção do a m b ie n te do organismo já que eles estabelecem como os estlm uk>s externos do ambiente afetarão o organismo: “Os fenômenos externos comuns do mundo físico e biótico passam por um filtro transformador criado pela biologia específica de cada espécie [os genes], e é o resultado dessa transformação que atinge o organismo e é relevante para ele (Lewontin, 1998/2002, p. 69). Sobre Comportamento e Cognição 25 fenômenos, percebemos que Biologia está mais afinada com tendências não- reducionistas de ciência. Em vista dessas considerações, podemos responder a pergunta que norteou esse texto: o reducionismo biológico não parece ser uma proposta proveniente da Biologia - pelo menos de algumas propostas teóricas advindas dessa disciplina científica. Agora, quais são as conseqüências da crítica ao reducionismo biológico para a relação entre Biologia e Psicologia? Em primeiro lugar, podemos dizer que a Biologia parece chamar a atenção da Psicologia para aquilo que ela tem de mais caro: o comportamento, isto é, a relação entre organismo e ambiente (Todorov, 1989). A ênfase dada pela Biologia não parece incidir nem no ambiente nem no organismo ou gene, mas ha relação entre eles. Ora, isso nos leva a indagar: como a Psicologia tem explicado o comportamento (as interações entre organismo e ambiente, ou entre indivíduo e seu mundo)? A ênfase tem sido dada no ambiente em detrimento do indivíduo, culminando em um ambientalismo? Ou a ênfase tem recaído no indivíduo, podendo acarretar em concepções estritamente individualistas ou mentalistas do fenômeno psicológico? Ou ainda: a Psicologia tem enfatizado o organismo em detrimento do ambiente?Sobre esse último ponto, podemos dizer, de imediato, que psicologias inspiradas em um pensamento reducionista biológico, que tentam explicar o comportamento reduzindo-o aos seus componentes biológicos, parecem estar em descompasso com a tendência anti-reducionista e com a perspectiva relacional do intercâmbio entre organismo e ambiente defendida atualmente por algumas vertentes da Biologia. Nessa linha de raciocínio, o reducionismo biológico parece ser mais uma proposta defendida por algumas abordagens psicológicas do que por algumas tendências biológicas. Por outro lado, a perspectiva não-reducionista e relacionai da Biologia não parece ser incompatível com a noção de comportamento defendida pela Análise do Comportamento inspirada na filosofia do Behaviorismo Radical. Tal como Mayr (1997/ 2008) defendeu a autonomia dos fenômenos biológicos em relação à física e à química, Skinner (1989) sustentou a autonomia do comportamento em relação à fisiologia e às ciências do cérebro. A radicalidade do behaviorismo de Skinner parece residir justamente aí: na defesa do comportamento como objeto de estudo em si mesmo. Isto é, o comportamento apresenta características próprias, que não podem ser explicadas recorrendo unicamente a seus estados fisiológicos subjacentes: “Não acredito que eu tenha cunhado a expressão Behaviorismo Radicat, mas quando me perguntaram sobre o que queria dizer com ela, seu sempre dizia: ‘É a filosofia de uma ciência do comportamento tratado como objeto de estudo em si mesmo, separado das explicações internas, mental ou fisiológica’" (Skinner, p. 122). Além do mais, a definição skinneriana de comportamento também é relacional: o comportamento é entendido como a relação mútua entre ação e conseqüências da ação (Skinner, 1957, p. 01). É, portanto, a partir de uma perspectiva relacional que a Análise do Comportamento explica as relações entre indivíduo e ambiente (Tourinho, 2006, p. 03). Isso significa que a interpretação dos fenômenos psicológicos não privilegia nem indivíduo nem ambiente, mas a relação entre eles. Vale destacar ainda, que tal relacionismo não se expressa apenas do nível epistemológico, mas também no nível ontológico de análise: “O comportamento é explicado na sua relação com conseqüências seletivas, naturais, reforçadoras e culturais. É a realidade, mas não é a realidade como coisa física; é, isto sim, a realidade como relação. Trata-se, enfim, de um relacionismo ou de uma metafísica relacionista” (Ábib, 2004, p. 57). A metafísica do relacionismo é perfeitamente compatível com o estudo do comportamento em si mesmo, já que o que explica o comportamento não é 26 Carolina Laurenti a realidade mental ou fisiológica, mas é a relação inextricável do comportamento com suas conseqüências seletivas (Abib). Nesse sentido, podemos dizer que a rejeição do paradigma da redução e o reconhecimento da autonomia de domínios científicos como a Análise do Comportamento e a Biologia não significam, em absoluto, que essas disciplinas científicas não possam se comunicar. Longe disso, esse exame mostra a possibilidade de as relações entre Biologia e Psicologia serem encaminhadas sem pressupor um programa reducionista de ciência. (Na verdade, é no contexto de uma filosofia anti- reducionista de ciência que podemos fa lar de uma relação genuinamente transdisciplinar entre domínios científicos.) A crítica da Biologia à redução dos fenômenos biológicos à física, bem como a crítica skinneriana da redução do comportamento à fisiologia e à neurociência mostra afinidades entre Biologia e Análise do Comportamento do ponto de vista da filosofia da ciência, inserindo essas disciplinas científicas em uma tendência pós-reducionista de ciência. Além do mais, a perspectiva relacional defendida pela Análise do Comportamento e pela Biologia sugere que é exatamente no nível das relações entre organismo e ambiente que se pode estabelecer um diálogo virtuoso entre de Análise do Comportamento e Biologia. Nesse caso, a tentativa de entender o papel dos genes no contexto das interações entre organismo e ambiente, e os avanços na Biologia nessa área, não deveriam ser vistos como algo ameaçador. Pelo contrário, eles podem lançar luz sobre vários fenômenos psicológicos, não com o objetivo de substituí-los e, em última análise, de eliminá-los, mas de esclarecer como os processos biológicos participam dos fenômenos psicológicos, ressaltando ainda mais a complexidade do objeto de estudo da Psicologia. E é por meio da noção de comportamento, contextualizada em uma metafísica relacional, que a Análise do Comportamento pode transgredir a fronteira com a Biologia estabelecendo um diálogo prolífico com essa disciplina. Referências Abib, J. A. 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Partiremos de alguns pressupostos aparentemente consensuais entre os behavioristas radicais sobre o estudo de eventos privados, e a partir deles teceremos algumas considerações sobre este problema. Nem os pressupostos, nem as considerações pretendem-se exaustivos. O tema tem sido explorado com freqüência por behavioristas radicais, e certamente não faremos justiça à totalidade dessas contribuições. Não obstante, tentaremos esclarecer ou destacar alguns aspectos do problema que talvez não sejam imediatamente óbvios. Historicamente, a ampla utilização da introspecção enquanto método nos primórdios da psicologia acadêmica constitui um marco significativo para a compreensão do tema. Entre o final do século 19 e as primeiras décadas do século 20, parte importante da definição da identidade de um psicólogo enquanto pesquisador consistia em saber sua posição em relação à introspecção: se a utilizava, em que medida, de que modo, para o estudo de quais problemas, etc.1 No texto que é considerado por muitos uma peça definidora da filosofia behaviorista radical, Skinner (1945/1984) trata o problema da introspecção de uma perspectiva absolutamente original, apresentando uma proposta que foi (e continua sendo) pouco compreendida: introspectar é comportar-se. E mais: relatar o que se observa introspectivamente também é comportar-se. As conseqüências dessa "virada” na forma de compreender o problema da introspecçãosão tão amplas que é impossível listá-las todas. Eis algumas: (1) a introspecção passa de método a objeto de estudo da psicologia; (2) a psicologia se vê diante da oportunidade de se propor, em sentido amplo, como uma epistemologia empírica2; (3) o vocabulário mental/subjetivo passa a ser tratado como uma construção dependente da história e das culturas. O último problema é o que mais nos interessa aqui. Temos, ao que parece, uma tendência de tratar o vocabulário mental/subjetivo como algo dado, natural, * Contato com o autor: aledittrich@ufpr.br ' Provavelmente, tais perguntas continuam sendo hoje tão importantes quanto foram à época. 2 Leia-se Skinner: “... uma análise cientifica do comportamento tem gerado uma espécie de epistemologia emptrica. O objeto de uma ciência do comportamento inclui o comportamento de cientistas e outros oonhecedores. As técnicas disponíveis a tal ciência dão a uma teoria empírica do conhecimento certas vantagens sobre teorias derivadas da filosofia e da lógica. O problema da privacidade pode ser abordado em uma nova direção aocomeçarcom o comportamento ao invés da experiência imediata" (1963/1969, p. 228). A proposta de uma epistemologia empírica dá margem a vários problemas e questionamentos, parte dos quais buscamos analisarem Díttrich (2004). Sobre Comportamento e Cognição 29 mailto:aledittrich@ufpr.br intrinsecamente correto. A primeira e mais óbvia implicação do tratamento típico do behaviorismo radical ao problema dos eventos privados é esta: não nascemos com um vocabulário inato, “pronto”, para falar sobre eventos privados (nem sobre eventos públicos, a propósito). Portanto, tivemos que aprendê-lo de alguma forma. Isso implica o contato com uma comunidade verbal que já utilizava este vocabulário antes de nascermos (do contrário, de onde viria o vocabulário?). Diferentes comunidades verbais demandam diferentes graus de introspecção de seus membros, e certamente ensinam vocabulários mentais/subjetivos variados. É impossível compreender cientificamente os eventos privados observando ou descrevendo apenas os próprios eventos privados, pois eles não existem à parte de relações comportamentais - antes, fazem parte delas. Essas relações são histórica e culturalmente mutáveis, assim como os nomes que damos a elas.3 Não existe um padrão de nomeação de eventos privados que seja "padrão” para toda a humanidade, que descreva o mundo interno dos seres humanos de forma universalmente válida - e, portanto, não existem descrições mais ou menos fidedignas de eventos privados.4 5 Dito de outra forma: não há um jeito "certo” ou “errado” de nomear eventos privados. Em contextos terapêuticos, pode-se falar em uma nomeação mais ou menos “apropriada” de sentimentos, por exemplo, dado um conjunto mais ou menos amplo de dados empíricos - mas, como aponta Guilhardi (2004), o termo escolhido será “arbitrário, convencionado pela comunidade verbal ... Mesmo assim, o nome do sentimento (ansiedade, angústia, fobia etc.) não acrescenta nenhuma informação adicional que possa ajudar no processo terapêutico. Talvez a função de usar tais palavras seja a de facilitar a comunicação entre terapeuta- cliente (desde que fique claro para ambos o que elas descrevem)...” (p. 239). Ainda que não exista um vocabulário mental/subjetivo “correto”, é possível analisar a evolução histórica deste vocabulário, e afirmar com alguma segurança que, se ele não é universal, a forma de aprendê-lo é. Não é por outro motivo que Skinner (1989) demonstra um interesse especial pela etimologia - a ciência que estuda, em termos históricos, a origem das palavras: “A etimologia é a arqueologia do pensamento”, afirma ele (p. 13). Seu estudo da etimologia do vocabulário mental/subjetivo o leva a concluir (1) que as palavras utilizadas para descrever sentimentos "quase sempre provém da palavra que designa a causa da condição sentida”, e (2) que as palavras utilizadas para descrever “estados da mente ou processos cognitivos ... quase sempre começam como referências ou a algum aspecto do comportamento, ou ao setting no qual o comportamento ocorre” (p. 13). Isso evidencia, novamente, que o vocabulário mental/subjetivo não é controlado apenas por eventos privados, mas também por eventos públicos. Mais exatamente: ele é controlado por contingências de reforço que seguramente envolvem variáveis públicas, e que provavelmente envolvem, pelo menos em alguns momentos, também variáveis privadas. Há aqui uma curiosa inversão de perspectiva: variáveis púbticas são absolutamente necessárias para explicar instâncias particulares de uso do vocabulário mental/subjetivo - variáveis privadas, nem sempre. Expliquemos tal ponto mais detalhadamente. Já apontamos o sentido mais evidente em que se dá essa dependência do vocabulário mental/subjetivo em relação a variáveis públicas: há uma comunidade verbal que ensina este vocabulário. Como ela faz isso? Skinner aponta, em seu texto de 1945, as “quatro maneiras pelas quais a 3 O trabalho de Tourinho (2006) ilustra esse ponto com muita propriedade. 4 A ignorância em relação a tais fatos provavelmente ajuda a explicar porque um projeto de psicologia cientifica como o estrutuialismo de E. B. Titchener (1898) não obteve sucesso. Sua proposta de uma taxonomia exaustiva dos "elementos da experiência consciente" soa hoje quase ingênua, mas consumiu os esforços de pesquisa de miiitos psicólogos por pelo menos duas décadas. 6 Cabe sempre lembrar que Isso se aplica também a eventos públicos, embora nosso interesse no momento dlredone o texto para o tratamento dos eventos privados. A própria privacidade dos eventos privados cria problemas especiais, mas o radocfnio se aplica igualmente a eventos públicos. 30 Alexandre Díttrich comunidade verbal, sem acesso a um estímulo privado, pode gerar comportamento verbal em resposta a ele” (1945/1984, p. 549).6 Todas elas apontam para a seguinte conclusão: as comunidades verbais ensinam vocabulários mentais/subjetivos com base na observação de relações comportamentais públicas - isto é, interações entre o comportamento público do sujeito a ser ensinado e as variáveis públicas que o cercam. Isso não significa que as relações comportamentais das quais participa o sujeito a ser ensinado envolvem apenas variáveis públicas, mas que a comunidade que ensina o vocabulário mental/subjetivo está necessariamente limitada à observação de variáveis públicas. A comunidade que nos ensina a dizer, por exemplo, que estamos tristes, ou alegres, ou irritados, etc., nos ensina a dizer isso (1) porque observa certas características de nosso comportamento tipicamente classificadas como “tristeza", “alegria” ou “irritação” e/ou (2) porque nos observa em certa situação que, naquela comunidade, é tipicamente classificada como alegre, triste ou irritante. Pode ocorrer (mas não necessariamente) que o sujeito a ser ensinado esteja, simultaneamente a tais eventos publicamente observáveis, experimentando certos estados corporais especialmente conspícuos7, que ele aprende a chamar de “tristeza”, “alegria” ou “irritação". Tanto a situação quanto o estado corporal podem, portanto, adquirir a função de estímulos discriminativos que aumentem a probabilidade de emissão de uma descrição como “estou triste”. Teoricamente, isso faz com que seja possível, posteriormente, relatar um sentimento diante da mera presença de um estado corporal semelhante: sentimentos são mais “salientes” para quem os sente do que as variáveis públicas a eles relacionadas, como afirma Skinner (1972/1978a, p. 51; 1978b, p. 85). A situação inversa, porém, também é plausível: uma pessoa que se diz triste, alegre ou irritada pode estar sob controle tão- somente (ou predominantemente) da situação pela qual passa ou passou, sem que haja estados corporais especialmente conspícuos acompanhando a situação. Assim, uma pessoa que diz “estou triste" pode estar sob controle de uma situação que aprendeu a chamar de triste, mesmo que não esteja, necessariamente,sentindo um estado corporal que aprendeu a chamar de tristeza. Neste caso, o termo mental/subjetivo pode estar exclusivamente sob controle de variáveis públicas, embora aparentemente descreva uma condição privada. Mesmo que estados corporais estejam presentes, porém, as variáveis públicas podem ainda ser importantes no controle do vocabulário mental/subjetivo. Se a ocorrência de eventos privados depende necessariamente da ocorrência de eventos públicos, isso é facilmente compreensível. Além disso, o controle por variáveis públicas é mais facilmente estabelecido do que o controle por variáveis privadas - pois, lembremos, a comunidade que estabelece tal controle conta somente com a evidência das variáveis públicas; a ocorrência concomitante de variáveis privadas é apenas uma suposição. Estados corporais especialmente conspícuos podem estar presentes ou ausentes - e se presentes, podem apresentar variações de qualidade e intensidade indistinguíveis para a comunidade verbal. Portanto, variáveis públicas provavelmente exercem um controle mais preciso do que as privadas sobre o vocabulário mental/subjetivo. Uma pessoa que descreve sentimentos está, em última análise, descrevendo elementos de contingências de reforço ou punição - e está, inclusive, descrevendo a si própria (suas respostas públicas e/ou privadas) como parte delas. Contudo, a participação de estados corporais nesse controle talvez seja menos freqüente do que costumamos pensar. A pessoa que afirmar estar “se sentindo triste” pode estar “sentindo” apenas uma “situação triste”, sem sentir um estado corporal de “tristeza”.8 6 Não as repetiremos, pois são bem conhecidas pelos analistas do comportamento. ' "Especialmente conspícuos” é importante, se considerarmos que, estritamente falando, todos estamos "experimentando estados corporais" durante todo o tempo. ' Cabe lembrarque um estado corporal, por si só, é um fenómeno que pouco interessa ao analista do comportamento. Ele interessa na medida em que partidpa de relações comportamentais, e estas “não são públicas ou privadas; estímulos e respostas é que podem ter esse status (Tourinho, 2007, p. 5). Sobre Comportamento e Cognição 31 Iniciamos nosso texto recuperando a importância histórica da introspecção enquanto método de pesquisa na psicologia, e afirmando que, na proposta de Skinner, a introspecção passa de método a objeto (como já apontava Matos, 1999). É possível, porém, sustentar uma afirmação mais ampla, e talvez mais ousada: para o próprio Skinner, a introspecção foi não apenas objeto, mas também método - ainda que em sentido restrito. Ao falar sobre eventos privados, Skinner não está falando sobre fenômenos que não pode observar: ele pode observá-los em si mesmo. Na verdade, se Skinner não observasse seus próprios eventos privados, toda a sua interpretação sobre tais eventos provavelmente seria impossível - visto que, nestas condições, Skinner não teria acesso a nenhum mundo privado, e não poderia, portanto, ter qualquer conhecimento dos estímulos que controlam respostas verbais como “pensar” e “sentir", por exemplo.9 Mas se a introspecção foi subsídio necessário para que Skinner apresentasse sua interpretação comportamental da privacidade, deve-se destacar, por outro lado, que ela foi um dos subsídios para tanto, não o único. Sua importância, nesse sentido, não deve ser exagerada. A interpretação proposta por Skinner é uma extensão, para o campo das relações comportamentais que envolvem eventos privados, de princípios fundamentados no estudo sistemático de relações comportamentais que envolvem eventos públicos. Alguém poderia afirmar, talvez em tom crítico, que mesmo as referências genéricas de Skinner a pensamentos e sentimentos são necessariamente "subjetivas”, culturalmente construídas, típicas das comunidades verbais que ensinaram o próprio Skinner a descrever seu “mundo intérno”. Certamente o são - mas isso se aplica a qualquer forma de descrição, seja de eventos públicos ou privados. O erro está em insistir na busca por uma linguagem neutra, que descreva o que os eventos privados “realmente são”: “Uma ciência independente da subjetividade seria uma ciência independente de comunidades verbais” (Skinner, 1974, p. 221). As limitações impostas a Skinner são as mesmas impostas a qualquer pessoa que se proponha a estudar eventos privados - psicólogo ou não, behaviorista radical ou não. Referências Díttrich, A. (no prelo). Sobre a observação enquanto procedimento metodológico na análise do comportamento: Positivismo lógico, operacionismo e behaviorismo radical. Psicologia: Teoria e Pesquisa. Dittrich, A. (2004). Behaviorismo radical, ética e política: Aspectos teóricos do compromisso social. Tese de doutorado, Universidade Federal de São Carlos. Disponível na Biblioteca Digital de Teses e Dissertações do IBICT/MCT, no World Wide Web: http://www.bdtd.ufscar.br/tde_busca/ arquivo.php?codArquivo=122 \ • Guilhardi, H. J. (2004). Considerações sobre o papel do terapeuta ao lidar com os sentimentos do cliente. Em M. Z. S. Brandão, F. C. S. Conte, F. S. Brandão, Y. K. Ingberman, V. L. M. Silva & S. M. Oliani (Orgs.), Sobre comportamento e cognição: Contingências e metacontingências: contextos sócio- verbais e o comportamento do terapeuta (pp. 229-249). Santo André, SP: ESETec. Matos, M. A. (1999). Introspecção: Método ou objeto de estudo para a análise do comportamento? Em R. A. Banaco (Org.), Sobre comportamento e cognição : Aspectos teóricos, metodológicos e de formação em análise do comportamento e terapia cognitivista (pp. 189-198). Santo André, SP: ARBytes. Skinner, B.F. (1969). Behaviorism at fifty. Em B.F. Skinner, Contingencies of reinforcement A theoretical analysis (pp. 221-268). New York: Appleton-Century-Crofts. (Trabalho original publicado em 1963). "Abordamos este problema com mais profundidade em Dittrich (no prelo). 32 Alexandre Díttrich http://www.bdtd.ufscar.br/tde_busca/ Skinner, B.F. (1974). About behaviorism. New York: Alfred A. Knopf. Skinner, B.F. (1978a). Humanism and behaviorism. Em B.F. Skinner, Reflections on behaviorism and society (pp. 48-55). Englewood Cliffs, N.J.: Prentice-Hall. (Trabalho original publicado em 1972) Skinner, B.F. (1978b). Can we profit from our discovery of behavioral science? Em B.F. Skinner, Reflections on behaviorism and society (pp. 83-96). Englewood Cliffs, N.J.: Prentice-Hall. Skinner, B. F. (1984). The operational analysis of psychological terms. The Behavioral and Brain Sciences, 7, 547-553. (Trabalho original publicado em 1945) Skinner, B.F. (1989). The origins of cognitive thought. Em B.F. Skinner, Recent issues in the analysis of behavior (pp. 13-25). Columbus, OH: Merrill. Titchener, E. B. (1898). The postulates of structural psychology. Philosophical Review, 7, 449-465. Retirado em 15 de junho de 2008, de http://psychclassics.yorku.ca/Titchener/structuralism.htm Tourinho, E. Z. (2006). Subjetividade e relações comportamentais. Tese de professor titular apresentada ao Departamento de Psicologia Experimental da Universidade Federal do Pará, Belém, PA. Tourinho, E. Z. (2007). Conceitos científicos e “eventos privados” como resposta verbal. Interação em Psicologia, 11, 1-9. Sobre Comportamento e Cognição 33 http://psychclassics.yorku.ca/Titchener/structuralism.htm Capítulo 4 O materialismo-com-mente de Clark Hull (1884-1952) Carolína Laurenti* UFSCar Alguns livros de história da Psicologia apontam no final da década de 1950 a ocorrência de uma revolução cognitiva que teria superado o Behaviorismo como escola psicológica vigente. Essa revolução teria sido responsável pela mudança de ênfase da psicologia científica, que passou a se interessar pelo estudo dos processos cognitivos superiores (inteligência, pensamento, linguagem, consciência, memória) (Gazzaniga & Heatherton, 2003/2005, p. 55). Dessa forma, na raiz da chamada revolução cognitiva estaria a tese de que o Behaviorismo ignorava ou não era capaz de lidar com a cognição.
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