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Sobre Comportamento e Cognição (Vol 22)

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Sobre
■' •>
Comportamento 
e Cognição
Reflexões epístemológícas e conceituais 
Considerações metodológicas 
Relatos de pesquisa
Volume 22
Organizado por W ander C. M . Pereira da Silva
ESETec
Editores Associados 
2008
Copyright© desta edição:
ESETec Editores Associados, Santo André, 2008. 
Todos os direitos reservados
Silva, W. C. M. P.
Sobre Comportamento e Cognição: - Org. Wander C. M. Pereira da Silva 1â ed. 
Santo André, SP: ESETec Editores Associados, 2008. v.22
228p. 23cm
1. Psicologia do Comportamento e Cognição
2. Behaviorismo
3. Análise do Comportamento
CDD 155.2 
CDU 159.9.019.4
ESETec Editores Associados
Diagramação e arte: Ana Carolina Grassi Leonardi
Solicitação de exemplares: comercial@esetec.com.br 
Santo André-SP 
Tel. (11) 4438 6866/ 4990 5683 
www.esetec.com.br
mailto:comercial@esetec.com.br
http://www.esetec.com.br
Sumário
Apresentação 7
Psicologia Comportamental Evolutiva: fundamentos e reflexões 11
Wander C. M. Pereira da Silva
Reducionismo biológico: uma proposta biológica ou psicológica? 21
Carolina Laurenti
Algumas observações sobre o tratamento behaviorista radical dos eventos 
privados 29
Alexandre Dittrich
O materialismo-com-mente de Clark Hull (1884-1952) 35
Carolina Laurenti
Hermenêutica comportamental 45
Diemerson Saquetto, Elizeu Borloti
Noções elementares da formação de classes de estímulos equivalentes 55
Gerson Yukio Tomanari ■ *
Dilema do prisioneiro: possibilidades de estudo do autocontrole e coo­
peração na análise do comportamento. 63
Pedro Bordini Faleiros, Maria Martha Costa Hübner
Variáveis biológicas: análises (im)prescindíveis 75
Fábio Henrique Baia, Juliano Setsuo Violin Kanamota, André Amaral Bravin
Pensando o amor na Análise do Comportamento 93
Tiago Carlos Zortea, Gleison Pessoa Machado, Elizeu Borloti
O uso de diagrama na analise funcional do comportamento - um recurso 
para a formação do psicólogo clinico 113
Suzane Schmidlin Lõhr
5
Gabriel
Realce
Compreensão e Utilidade de Textos da Análise do Comportamento 119
Sandra Regina Gimeniz-Paschoal, Tânia Moron Saes Braga, Maria de Lourdes Morales
'• Horiguela.
Discutindo o levantamento de dados via metodologia observacional 123
Graziela Freire Vieira, lima A. Goulart de Souza Britto
Generalização de habilidades sociais: uma revisão das pesquisas da área 133
Fernanda Nogueira Gôngora Facco, Maura Glória de Freitas
Odontopediatria e Comportamento: Dados Empíricos de uma Década de 
Investigação 141
Maria Luiza Marinho-Casanova, Olívia Justen Brandenburg, Priscila Tiemi Kuniyochi, 
Sabrina Borges Serafim
Aprendizagem relacional e emergência de relações numéricas e sintáticas 155
Grauben José Alves de Assis, Ana Letícia Moraes Nunes
Análise correlacionai entre contagem e equiparação de conjuntos 185
Paulo Sérgio Teixeira do Prado
Relatos de graduandos de Terapia Ocupacional sobre o ensino de Análise 
do Comportamento 201
Regina Keiko Kato Miura
Diferentes Intensidades de Ansiedade Relatadas por Estudantes do Ensino 
Fundamental II, em Situações Típicas de Estudo da Matemática 213
João dos Santos Carmo, Rosana Mendes Éleres de Figueiredo, Melissa Fecury No­
gueira, Lívia de Oliveira Cunha, Paula Valéria Souza de Araújo, Marillac Cunha Ferranti
6
Apresentação
Os textos que compõem os volumes 21 e 22 da coleção Sobre Comportamen­
to e Cognição" representam uma amostra qualitativa dos trabalhos apresentados no 
XVI Encontro da Associação Brasileira de Psicoterapia e Medicina Comportamental, 
ABPMC, realizado em Brasília, em 2007.
Oferecemos, nesses dois volumes, ao leitor, um conjunto de textos contem­
plando análises teóricas e conceituais sobre temas diversos ligados à Ciência do 
Comportamento e trabalhos de pesquisa que fornecem um breve panorama da produ­
ção nacional na área. O volume 21 tem foco na análise comportamental aplicada (clíni­
ca, educação, fenômenos culturais, saúde e esportes) enquanto o volume 22 apresen­
ta algumas reflexões epistemológicas e conceituais em Behaviorismo e Análise do 
Comportamento e os artigos direcionados a considerações metodológicas e relatos 
de pesquisa.
Agradecemos, mais uma vez, a todos aqueles que acreditaram no papel 
divulgador dessa coleção e colaboraram para sua publicação, enviando seus textos.
Reflexões epístemológicas e
conceituais 
considerações metodológicas 
e relatos de pesquisa
Capítulo 1
Psicologia Comportamental Evolutiva: 
fundamentos e reflexões
Wander C. M . Pereira da Silva 
Instituto Brasileiro de Mercados de Capitais, Ibmec/DF 
Fundação Universa, FUNIVERSA/DF
Considerações Iniciais
Ao longo dos últimos séculos a diversidade de seres vivos e a variabilidade 
existente entre os membros da mesma espécie se tornaram temas importantes para a 
humanidade. Inicialmente, o conhecimento sobre o assunto esteve excessivamente 
apoiado em pressupostos religiosos e só recentemente a ciência produziu um conjunto 
de evidências capazes de re-direcionar o debate em torno destas questões. Talvez por 
isso, a explicação científica sobre a origem das espécies, e as leis naturais que governam 
esse fenômeno, ainda não foi completamente apropriada por muitos profissionais. 
Pessoas cultas, de boa formação educacional, ainda se perguntam sobre quando e 
como o homem foi “criado” sem se dar conta que este tipo de questão só faz sentido 
para a demarcação criacionista, já que para a vertente evolucionista o homem não foi 
criado, foi “selecionado”. Na verdade, entender como ocorreu essa seleção, quais os 
mecanismos naturais envolvidos e sobre o que esses mecanismos atuaram e atuam, 
são temas mais centrais para o conhecimento científico.
Em termos históricos até meados do século XVIII as hipóteses de geração 
espontânea e o criacionismo divino, chamadas também de fíxistas, eram aceitas sem 
muitos questionamentos, e consideravam que as espécies, uma vez surgidas, se 
mantinham inalteradas ao longo do tempo (Futuyama, 1992; Leakey, 1982). No entanto, 
na segunda metade do século XVIII, diversos achados da paleontologia, geologia e 
sistemática, tomaram insustentável a hipótese de que os seres vivos foram criados em 
um único momento e a partir daí permaneceram inalterados. As evidências científicas 
eram tão convincentes que já no século XIX as discussões se concentravam em tomo 
das hipóteses evolucionistas, conhecidas à época como transformacionistas, que 
consideram que as espécies atuais resultam de lentas e sucessivas transformações 
sofridas por espécies existentes no passado.
Em tomo dessas evidências um conjunto de pequenas teorias tentava explicar 
a transformação das espécies. Por exemplo, a hipótese Erros de Pierre Maupertuis; de 
variações geográficas de Georges Leclerc, Conde de Buffon; a hipótese catastrofista de 
Cuvier, dentre outras. Porém, essas “teorias” tendiam à tentativa de conciliar-se com as
Sobre Comportamento e Cognição 11
explicações bíblicas. Sobre este fato Leakey (1982) comenta que “na verdade, o modo 
mais comum de reconciliar o Gênesis com a geologia era supor que a história bíblica 
referia-se apenas à criação final dos animais e plantas atuais, incluindo, naturalmente, 
o próprio homem” (p. 14) e que a referência às épocas mais remotas “não diziam 
respeito às necessidades espirituais do homem” (p. 14).
O presente trabalho tem por objetivo de um lado, mostrar que a psicologia atual 
faz uso, de modo predominante, do criacionismo para explicar os fenômenos 
comportamentais e, de outro apresentar os fundamentos de uma perspectiva 
comportamental evolucionista para estes mesmos fenômenos.
A evolução das espécies
No século XIX Jean Baptiste de Monet - Cavaleiro de Lamarck (1744-1829) 
rompe definitivamente com a noção de espécies fixas e imutáveis e elabora a primeira 
explicação coerente acerca dos mecanismos de evolução dos seres vivos. Influenciado 
por Erasmus Darwin (1731- 1802), que afirmava que a variação do ambiente provoca 
uma resposta do organismo (estrutura de um órgão), suas idéias se apoiavam em dois 
princípios fundamentais: (1) lei do usoe do desuso; (2) e a lei da herança dos caracteres 
adquiridos. O primeiro diz respeito às modificações que os seres vivos têm de desenvolver 
de maneira a conseguirem se adaptar a determinado ambiente. O segundo, é que 
essas modificações são transmitidas para as gerações seguintes (Futuyama, 1992). 
As idéias de Lamarck permanecem ainda hoje como uma forma usual, embora 
equivocada, de compreender a evolução
Um problema da “teoria” lamarckiana consiste em aceitar que os caracteres 
são transmitidos diretamente de uma geração à outra. Sabe-se que modificações 
anatômicas ou morfológicas, adquiridas ao longo da existência de um ser vivo não 
passam para as gerações seguintes de forma direta. Em outras palavras, quando um 
trabalhador adquire um bíceps mais forte por uso desse músculo, isso não fará seus 
descendentes terem o braço mais musculoso.
Outro grande problema é a aceitação de que as espécies se transformam em 
função das necessidades demandadas pelo ambiente. Entende-se hoje que não é a 
necessidade que provoca a transformação. Os seres vivos não se alteram para evoluir, 
o que acontece é que aquelas características, dentre diversas outras, que se mostram 
importantes para a sobrevivência são selecionadas pela natureza.
Essa noção de evolução, assim como um mecanismo evolutivo bem 
fundamentado cientificamente, só veio a ser explicitada com a publicação de A origem 
das espécies em 1859, de autoria de Charles Darwin. As evidências coletadas 
sistematicamente ao longo da viagem que ele realizou no Beagie, produziram um 
conjunto dados importante para sustentar sua explicação para a origem e evolução das 
espécies. O seu método era empírico, sem ser experimental, dando origem a uma 
prática que foi seguida pelos futuros etologistas.
A teoria da seleção natural de Darwin (1859/1979/19821) - originalmente 
denominada de “descendência com modificação”— pode ser assim resumida:
( 1) as espécies são caracterizadas por uma variabilidade “natural” de 
características;
(2) cada população tem tendência para crescer exponencialmente, se o meio o 
permitir, levando à superprodução de descendentes, o meio não suporta tantos
' A primeira data se refere à primeira publicação do livro de Darwin. A segunda à edição inglesa de onde foi traduzido para o português, 
Indicado pela terceira data.
12 Wander C. M . Pereira da Silva
descendentes logo se desencadeia uma [uta pela sobrevivência entre os membros 
dessa população;
(3) indivíduos com características que lhes confiram uma vantagem competitiva 
num dado meio e tempo são mantidos por seleção natural e produzem mais descendente 
(sucesso reprodutivo ou reprodução diferencial), os restantes são eliminados.
O mecanismo de evolução das populações é a Seleção Natural que atua sobre 
a variação.
Para Darwin a variação ocorre ao acaso nos membros da espécie, sem qualquer 
orientação evolutiva, enquanto a seleção muda a população conferindo maior êxito 
reprodutivo às variações vantajosas. A seleção natural é definida como um conjunto de 
forças ambientais que atuam nas populações, tanto no sentido positivo (sobrevivência 
diferencial e capacidade reprodutora diferencial), como no sentido negativo (mortalidade 
diferencial).
No entanto, Darwin tinha pouco a dizer sobre a variação individual ou como ela 
é capaz de afetar o fundo genético de uma dada população. Esta questão só foi possível 
de ser tratada com mais cientificidade após os trabalhos de Gregor Mendel (1822-1884) 
sobre os mecanismos de transmissão genética em ervilhas (Freire-Maia, 1995).
A genética evoluiu e a biologia atual aceita que para ocorrer a seleção natural é 
necessário que haja variabilidade ao nível genético de cada espécie, e esta se dá por 
processos de mutação - fator mais importante - ou devido a recombinações genéticas 
de correntes de outros fatores, incluso aí as patrocinadas pelo homem. Portanto, as 
variações individuais presentes dentro da mesma espécie estão intimamente ligadas 
às transformações ocorridas ao nível da genética. Sempre que ocorre a introdução, ou 
a saída, de genes em um fundo genético de uma espécie, a conseqüência inevitável é 
a evolução.
Criacionismo na psicologia
Atualmente, com alguns casos pontuais de discordância, como é o caso do 
bioquímico Michal Behe (1997), a teoria da evolução das espécies por seleção natural 
é aceita, na comunidade científica do mundo inteiro, e se constitui a “pedra fundamental” 
da moderna biologia (Leakey, 1982). No campo de conhecimento da psicologia, por 
outro lado, não seria uma grande imprudência afirmar que prevalece majoritariamente 
a noção criacionista e de geração espontânea do comportamento, tal como ocorria com 
a biologia pré-darwiniana. Inclusive, a psicologia de hoje ainda vive na “era das escolas” 
psicológicas, onde se misturam explicações científicas e não científicas dentro do mesmo 
campo de conhecimento. Via de regra as escolas de psicologia possuem cada uma o 
seu próprio estatuto epistemológico e metodológico, o que, de um lado inviabiliza o 
debate entre elas, e de outro a própria crítica e validade daquilo que elas defendem.
Nessas escolas de psicologia, que se pode chamar de criacionistas, defende- 
se abertamente que construtos hipotéticos e metafísicos (como as estruturas psíquicas, 
cognitivas e mentais) são responsáveis pela conduta das pessoas, ou ainda, que uma 
dada ação ou característica comportamental podem surgir “espontaneamente” na vida 
de alguém. Assim, mesmo a psicologia possuindo longa tradição em abordar o 
desenvolvimento do organismo, diz pouco sobre os mecanismos de seleção do 
comportamento.
Considerando, por exemplo, o que tem sido dito sobre dois comportamentos 
extremos como o psicótico e o criativo, pode-se concluir que muitos psicólogos (auto-
Sobre Comportamento e Cognição 13
intitulados especialistas no assunto) ainda concordam com a idéia de que um indivíduo 
pode "se tornar" um psicótico de uma hora para outra, que “de repente” pode vir a ser 
acometido de uma “loucura” (transtorno mental, como se usa hoje) e passar a fazer 
coisas psicóticas. Já em relação ao comportamento criativo é comum afirmarem que é 
uma coisa que “vem de dentro”, ou que é gerado espontaneamente por uma “mente 
criativa”. Ou seja, a psicologia criacionista beira o senso comum quando se posiciona 
dessa forma.
Essas idéias, tão difundidas na cultura acadêmica, afetam o comportamento 
inclusive dos behavioristas. A noção de que o comportamento psicótico seria estranho 
aos processos normais da vida de uma pessoa era tão forte que até meados dos anos 
setenta não se supunha que pudesse ser alvo de psicoterapia comportamental (Bellack, 
1986). Em 1972, Skinner defendeu a tese de que o comportamento psicótico possuía 
causas normais como qualquer outro comportamento. A partir dessa premissa alguns 
outros trabalhos foram importantes para demonstrar que fatores ambientais tinham 
influencia sobre o quadro psicótico (por exemplo, Layng e Andronis, 1984).
Quanto à criatividade, existem psicólogos muito bem intencionados pesquisando 
os comportamentos criativos, mas o tomam descontinuados de todos os acontecimentos 
prévios da vida do organismo. Estes relutam em examinar as condições normais de 
variação e seleção ligadas ao comportamento criativo, como comprovam diversos trabalhos 
experimentais (por exemplo, Neuringer, 1991; Machado, 1997; dentre outros).
Na psicologia de hoje também existem abordagens que se auto-intitulam 
evolucionistas, e que tentam estabelecer um elo direto entre processos evolutivos e 
processos psicológicos (mentais/cognitivos) sem se preocupar em analisar o 
comportamento em si mesmo como passível de evolução e seleção. Consideram que 
a mente2, mesmo não possuindo qualquer atributo físico, é produto da evolução natural 
e que esta uma vez “selecionada” passou a determinar (criar) os comportamentos 
complexos do ser humano. Por essa lógica o comportamento não evolui e muito menos 
é selecionado por condições ambientais: são criados pela mente ou cognição.Como foi afirmado no inicio do texto, na segunda metade do século XVIII, na 
Biologia, não se discutia mais se os organismos evoluíam, mas como e porque isso 
acontecia. No que se refere à psicologia, em pleno século XXI, ainda vigora o “grande” 
debate sobre como a mente, o self, e o inconsciente ou algo equivalente, causam o 
comportamento. A pauta de questões sérias em debates sérios é dada pela tentativa de 
elucidação da origem da “mente” (psicótica, criativa e etc). Talvez a “psicologia das 
escolas” se beneficie dessa discussão ad nauseum, mas é mister avançar no sentido 
de romper com essa influencia criacionista na psicologia para que se possa esboçar 
uma compreensão mais apropriada sobre o comportamento.
A evolução do comportamento
A análise do comportamento defende uma adesão quase completa às 
propostas do evolucionismo biológico. Segundo entende Baum (1999, p. 69) “Os 
psicólogos que hoje ignoram a teoria da evolução correm o risco de ficar à margem da 
tendência atual do desenvolvimento científico”. Mas, quais são as reais implicações de 
aderir ao modelo evolucionista? Nos próximos parágrafos se fará uma pequena reflexão 
sobre o assunto.
Para Skinner (1981) a seleção por conseqüências é um processo básico que 
governa a evolução da espécie, do individuo e da cultura. No modelo darwinista a seleção
1 Neste ponto, há grande confusão entre mente e cérebro. Uma hora reduz-se a mente ao próprio cérebro, outra se atribui a existência da 
mente ao fu ncfenamento do cérebro.
14 Wander C. M . Pereira da Silva
natural atua, em um longo tempo, sobre as características biológicas particulares de uma 
espécie. No modelo skinneriano o processo de seleção por conseqüências continua a 
atuar, em um tempo mais curto, sobre características do comportamento do indivíduo 
dentre uma ampla faixa de variabilidade e, também sobre as práticas de uma cultura.
Skinner (op. cit.) afirma que, primitivamente, o comportamento evoluiu a partir 
de um conjunto de funções biológicas adaptativas das espécies. Defende que o 
comportamento, em um mundo remoto e relativamente estável, poderia ser no máximo 
parte da capacidade genética das espécies, como a digestão, a respiração ou qualquer 
outra função biológica. Neste cenário primitivo, a seleção natural atuou sobre respostas 
sensíveis a certos estímulos específicos que contribuíram enormemente para a 
adaptação a novos ambientes. Esses novos ambientes não podiam variar muito em 
relação àqueles em que as respostas sensíveis aos estímulos foram selecionadas, 
pois, em um ambiente muito variável, aquelas respostas controladas por estímulos 
antecedentes, como os reflexos incondicionados e os padrões fixos não eram efetivas. 
Contudo, não se pôde garantir que as mudanças no ambiente permanecessem estáveis, 
daí que novas respostas deveriam ser “aprendidas’7selecionadas. O passo seguinte 
pode ter sido a flexibilização da resposta reflexa: por meio de emparelhamento, a 
mesma resposta poderia ficar sob controle de novos estímulos.
Ainda assim, isso não era suficiente para um processo rápido de adaptação do 
organismo às variações do ambiente, pois a resposta permanecia sob controle de 
estímulos anteriores. Era necessária uma ruptura com as condições antecedentes que 
controlavam de forma rígida as respostas. Lentamente evoluiu a característica operante 
das respostas. Aqueles organismos que apresentavam respostas sensíveis a eventos 
conseqüentes foram selecionados.
A pressuposição de Skinner parece ser que esse tipo de relação Organismo- 
Ambiente que é chamado de comportamento seria parte da evolução de dois processos 
através dos quais os organismos individuais se adaptaram a novos ambientes: (1) 
condicionamento respondente: relações preparadas em ambientes estáveis poderiam 
servir de base para novas relações e, (2) condicionamento operante: Suscetibilidade de 
certas respostas a acontecimentos subseqüentes.
Ainda, em relação ao condicionamento operante, ele parece ter evoluído em 
paralelo com dois outros produtos das mesmas contingências de seleção natural: (1) a 
suscetibilidade das respostas a certos tipos de conseqüências e (2) uma fonte de 
comportamentos menos comprometidos com estímulos específicos. Para Skinner 
(1981) eventos como comida, inicialmente, não possuíam valor reforçador, e os membros 
de uma espécie comiam certos alimentos por causa de seu valor para a sobrevivência 
(função nutritiva). Mas, através da evolução de suscetibilidades especiais, a comida se 
tomou reforçadora, e a obtenção de comida, como conseqüência reforçadora, produziu 
novas formas de comportamentos, inclusive não alimentares. Ainda segundo Skinner 
(op. cit.) o comportamento condicionado dessa forma não é necessariamente adaptativo, 
no sentido biológico do termo; pois, de um lado, alimentos que não são saudáveis 
podem vir a ser consumidos, e de outro, comportamentos nocivos podem ficar sob 
controle do reforçador comida. A “vantagem" seletiva é a de que os membros de uma 
espécie podem adquirir comportamentos novos sob controle destes reforçadores, para 
o enfrentamento de um ambiente instável onde os padrões reflexos e fixos não se 
mostram úteis.
O condicionamento operante propicia que o indivíduo possa romper com a 
dependência de processos exclusivamente biológicos e inaugura um segundo nível de 
evolução: a evolução do comportamento.
Sobre Comportamento e Cognição 15
A espécie humana presumivelmente se tornou muito mais social quando sua 
musculatura vocal também passou a ser controlada por condicionamento operante. O 
comportamento verbal aumentou significantemente a importância de um terceiro tipo 
de seleção por conseqüências: a evolução da cultura.
O processo presumivelmente começou no nível individual, e as vantagens que 
se mostraram úteis para a sobrevivência do grupo foram selecionadas. Uma cultura 
evolui quando as práticas originárias desta forma contribuem para o sucesso do grupo 
praticante em resolver seus problemas. É o efeito no grupo, e não as conseqüências 
reforçadoras para os membros individualmente, que é responsável pela evolução da 
cultura.
Deduz-se daí que o comportamento evolui a partir de três níveis de seleção que 
se inter-cruzam e se complementam:
1) A seleção natural - responsável não só pela evolução da espécie e consequentemente 
pelos padrões fixos e reflexos típicos dela, mas também pela suscetibilidade ao 
emparelhamento de estímulos antecedentes e a sensibilidade a certas conseqüências 
de reforçamento.
2) Contingências de reforçamento individual - responsável pela evolução do repertório 
de comportamentos dos membros da espécie.
3) Contingências sociais/verbais - responsável pela evolução de práticas Gulturais, 
processos através dos quais os indivíduos tiram proveito de comportamentos já 
adquiridos por outros.
No primeiro nível de seleção, o surgimento e a estabilização de certas 
características evolutivas em uma dada espécie levam em conta três aspectos: (1) As 
características de uma espécie devem variar ao longo do tempo, (2) As diferentes 
variações devem tender a se reproduzir (estabilização do fundo genético) e, (3) algumas 
variações devem ser mais bem sucedidas que outras (sucesso reprodutivo). De modo 
análogo, no segundo nível de seleção, para haver evolução e a manutenção de certas 
características do repertório de comportamento de um individuo, é necessário: (1) 
variabilidade, (2) tendência à repetição e, (3) o reforçamento diferencial deve atuar sobre 
um conjunto dessas pequenas variações.
Uma pergunta comum de alunos iniciantes em Análise Experimental do 
Comportamento (AEC) é “de onde vem a primeira resposta a ser modelada em um rato 
no condicionamento da resposta de pressão à barra?" O chavão é afirmar que o rato 
emite a resposta em decorrência da necessidade de beber água, comer e explorar o 
ambiente. Mas, em termos evolutivos, o rato não “cria” nenhuma resposta nova para 
fazer frente a suas necessidades, quaisquer que sejam elas. A primeira resposta a ser 
selecionada já estavalá no seu repertório, ou seja, fazia parte de seu “patrimônio” 
comportamental e foi também selecionada durante a história de evolução de sua espécie. 
O processo de modelagem se dá a partir das respostas espécie-específicas do animal, 
selecionadas em um nível anterior de evolução (filogênese). Portanto, se pode afirmar 
que a resposta de pressão à barra evoluiu de outras respostas anteriores. A dificuldade 
em compreender essa explicação pode residir em dois fatos: 1) a noção de causalidade 
linear e espaço dependente, e 2) ao fato de que o conceito de adaptação é 
freqüentemente entendido como um ato de vontade do individuo. No senso comum se 
diz que o aluno muda para se adaptar ao estilo do professor; a namorada ao do 
namorado; o empregado ao do patrão e assim por diante, conclusão óbvia: o rato muda 
para atender às suas necessidades. Na própria Biologia existem equívocos quanto à 
compreensão do conceito de adaptação (Alcântara, 2007).
1 ó W ander C. M . Pereira da Silva
Fundamentos de Psicologia Comportamental Evolutiva
Lê-se com freqüência em jornais e revistas afirmações médicas de que quando 
expostas aos antibióticos, as bactérias adquirem resistência a ele. Tornam-se 
resistentes. Ou seja, que mudam a sua forma em resposta a um estímulo. Essa linha 
de pensamento está resumida assim: Bactéria » Ação do antibiótico »N ova Bactéria 
(resistente). Essa explicação está transversalizada por noções simplistas e criacionistas, 
porém de grande difusão na cultura, por isso é tão aceita.
Os mecanismos que permitiriam a uma bactéria adaptar-se, no sentido de 
mudar a si mesmo de forma individual, seriam muito complexos e altamente improváveis. 
Um antibiótico é uma substância química que interage, por exemplo, com um receptor 
protéico da membrana e que provoca uma reação adversa que mata a bactéria. Nessa 
linha, a bactéria, não sendo ela previamente resistente, teria que desenvolver (e 
rapidamente, o antibiótico já está agindo) um mecanismo que a permitisse resistir ao 
antibiótico. E como seria esse mecanismo? A proteína de membrana que interage com 
o antibiótico teria que ser alterada na região onde ocorre a interação. Então, pelo menos 
um aminoácido teria que ser trocado. Para trocar-se um aminoácido, tem que se alterar 
um gene. E essa alteração teria que ser específica, trocando exatamente uma trinca de 
bases por outra, de modo que na tradução se produza uma nova proteína adaptada para 
não interagir com o antibiótico e, assim, conferir resistência à bactéria Isso parece um 
tanto quanto “forçado". A bactéria teria que saber que aquela alteração no DNA produziria 
uma proteína com a diferença necessária para resistir ao antibiótico, e faria isso em 
questão de segundos (Alcântara, 2007).
Considerando que a bactéria não adquire resistência em minutos para resistir 
ao antibiótico. Então como ocorre esse processo? Bactéria, tais como quaisquer tipos 
de ser vivos, têm semelhanças entre si, mas, também, têm diferenças. Ao se administrar 
um antibiótico, algumas, talvez poucas, serão resistentes. A maioria talvez não, e então 
morrerão. Se apenas as resistentes sobreviveram, ao se reproduzirem a nova geração 
herdará essa capacidade. Então, a nova população será resistente. Diz-se então, que 
essa população adaptou-se. Mas não houve nenhuma alteração nos indivíduos, em 
cada bactéria. Essa abordagem pode ser visualizada da seguinte forma: População de 
Bactérias (W, X, Y, Z) » Ação do antibiótico » Seleção de nova população de Bactérias 
(Z) (Alcântara, 2007).
Analisando as duas explicações se vê que na primeira a bactéria fica diferente 
para sobreviver; para manter a sua vida individual. E o estímulo ambiental seria um 
gerador de uma variação genética específica. Isso não ocorre. Na segunda, algumas 
bactérias sobrevivem porque são diferentes. E o estímulo ambiental seria um agente de 
seleção. Não provoca nenhum tipo de alteração em um organismo, mas na população, 
que será diferente na próxima geração.
No exemplo acima esses fenômenos têm nome: a ação do antibiótico é a 
SELEÇÃO NATURAL; a existência de bactérias da mesma espécie com características 
diferentes chama-se VARIAÇÃO, e o fato de, posteriormente a ação do ambiente, termos 
duas gerações com características diferentes chama-se EVOLUÇÃO. Os seres vivos 
não têm as suas estruturas e/ou realizam as suas ações fisiológicas, bioquímicas ou 
evolutivas para manterem-se vivos. Mantêm-se vivos porque possuem as estruturas 
que têm e/ou porque realizam as suas ações (Alcântara, 2007).
Quando se aplica esse raciocínio da biologia sobre o segundo e o terceiro nível 
de seleção por conseqüências proposto por Skinner, altera-se completamente a lógica 
criacionista e de geração espontânea presentes no senso comum e na psicologia. Os
Sobre Comportamento e Cognição 17
indivíduos não mudam seus comportamentos, e a sociedade não muda suas práticas 
culturais, para sobreviver, apenas apresentam suas variações naturais que são 
selecionadas pelas contingências de reforçamento diferencial em vigor, programadas 
ou não. Desta forma, um comportamento ou uma prática cultural nunca surgem do 
nada, evoluem a partir de outros pré-existentes. Aceito essa premissa evolutiva, cabe 
discutir e compreender quais mecanismos e processos comportamentais e culturais, 
além daqueles determinados biologicamente, estão envolvidos.
Deve-se considerar também que existem algumas diferenças sutis entre a 
evolução das espécies, do comportamento e da cultura. Na vida de um indivíduo o 
tempo para a seleção e as mudanças no ambiente são bem mais rápidas do que na 
evolução das espécies. Isto produz grande diferença no modo como o modelo de 
seleção por conseqüências atua sobre um e outro nível. Por exemplo, no que se refere 
ao aspecto sobrevivência, as contingências de reforçamento operante estão vagamente 
relacionadas ao processo de evolução da espécie e mais fortemente envolvidas com o 
processo de evolução dos comportamentos do próprio indivíduo. É por isso que é 
indicado o emprego dos termos adequado e inadequado como substitutos de adaptado 
ou não-adaptado. No nível de evolução comportamental a ocorrência de um operante 
não pode ser medida em relação à sobrevivência a espécie, conseqüentemente, o uso 
do conceito de “adaptado” ou não “adaptado" não se aplica. Um operante tem como 
referência um conjunto de fatores como a biologia, o contexto, a história de reforçamento 
e a cultura, envolvidos na vida do individuo, e as contingências de reforçamento e punição 
só podem ser entendidas quando se leva em conta esse conjunto de fatores.
Diferentemente de outras espécies, a espécie humana evoluiu, 
necessariamente, de forma social (especialmente em função da aquisição do 
comportamento verbal, possibilitado pelo controle operante sobre a musculatura vocal). 
Por essa razão, e em tese, uma criança, que ainda não desenvolveu todas as funções 
comportamentais, possui maior sensibilidade a reforços ligados exclusivamente a 
sobrevivência do que um adulto. Na medida em que aumentam as interações com o 
meio social os reforços sociais ganham força e a maior parte dos comportamentos do 
adulto passam a ficar sob controle de contingências sociais e não biológicas. 
Contingências complexas construídas no nível cultural passam a ter maior influencia na 
vida do individuo do que aquelas essencialmente ligadas a sua sobrevivência. Como 
afirma Wiazbort (2005, p. 296) “As forças seletivas que fizeram o Homo sapiens emergir, 
e nos fazem o que somos hoje, foram enormemente modificadas pelo advento das 
formas humanas sociais, culturais, filosóficas, artísticas, científicas, tecnológicas, 
políticas de lidar com o meio ambiente", talvez por isso a cultura se depare com a 
ocorrência de comportamentos que contrariam a lógica biológica da evolução, como os 
autodestrutivos. Porém, como contraponto a isso, se pode afirmar que o nível cultural de 
evolução é mais sensível e contribui mais fortemente à sobrevivência da espécie que o 
individual, gerando certoequilíbrio evolutivo.
Reflexões Finais
Em um texto de 1974 Skinner afirma que “O que é bom para espécie é aquilo 
que lhe ajuda a sobrevivência. O que é bom para o indivíduo é aquilo que lhe promove o 
bem-estar. O que é bom para a cultura é aquilo que lhe permite solucionar seus 
problemas” (p. 176). Dessas afirmações conclui-se que o ambiente atua como 
selecionador dos comportamentos dos indivíduos por que estes lhe promovem o bem- 
estar, Mas como o ambiente “sabe” que o comportamento selecionado promoverá o 
bem-estar do individuo? Obviamente, não sabe e, provavelmente, não é por esta razão
18 W ander C. M . Pereira da Silva
(ou pelo menos não deveria ser) que se afirma que o ambiente seleciona 
comportamentos. Na evolução das espécies, embora se considere que as variações 
nas populações ocorrem por acaso, a seleção não o é. Ela é tratada como um processo 
de “escolha” dos mais adaptados, para a manutenção da vida. O máximo que se pode 
afirmar em relação ao que orienta a seleção de comportamentos no nível individual é 
que a sua adequação diante de um conjunto de fatores (biologia, contexto, história de 
reforçamento e cultura) é mais relevante e a sobrevivência da espécie exerce um papel 
secundário.
Mesmo na biologia, a noção de mais adaptado é considerada relativa (uma 
característica pode ser desfavorável, mas ter pouco significado no conjunto de muitas 
outras características favoráveis que constituem o genoma do indivíduo) e, temporal 
(uma característica favorável num dado momento pode ser altamente desfavorável no 
outro), no nível individual, as noções de relativa e temporal também são importantes 
para a compreensão do processo de “adaptação”.
Finalmente, uma psicologia comportamental evolutiva realizaria seus objetivos 
de estudo através da compreensão e controle dos mecanismos que regulam as 
variações, a seleção e a manutenção do comportamento do indivíduo. Seu objeto de 
estudo não é o comportamento em si, mas as contingências evolutivas responsáveis 
pela variação e seleção dos comportamentos. Com isso abre-se a possibilidade de um 
olhar mais amplo sobre os processos comportamentais complexos que vem sendo 
abordados de forma insatisfatória pelas teorias psicológicas e parte da Análise do 
Comportamento.
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Sobre Comportamento e Cognição 1 9
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História, Ciências, Saúde Manguinhos, v. 12, n. 2, p. 293-318, maio-ago.
20 W ander C. M . Pereira da Silva
Capítulo 2
Reducíonismo biológico: uma proposta 
biológica ou psicológica?
Carolina Laurentí* 
UFSCar
A questão gera l que no rte ia esse texto é se o reducíon ism o b io lóg ico consis te 
em um a proposta b io lóg ica ou ps ico lóg ica? A pergunta tem fundam ento . De um lado, a 
h is tó ria da P sico log ia m ostra que a lgum as p ropostas ps ico lóg icas tinham a fin idades 
e le tivas com program as reducion is tas de ciência, notadam ente , os de cunho b io lóg ico. 
É o caso , po r exem p lo , da p s ico log ia de T itch e n e r (1 9 0 9 /1996 ), em que o s is te m a 
n e rvo s o e x p lic a v a , em ú lt im a a n á lis e , os p ro c e s s o s c o n s c ie n te s ; e d a p s ic o lo g ia 
e s tím u lo -re s p o s ta de W a tso n , na qua l o c o m p o rta m e n to acabou s e n d o re d u z id o a 
a tiv idades de m úsculos e g lându las (1924/1930). P or outro lado, a B io log ia vem ganhando 
no to riedade no con tex to das c iênc ias e da filoso fia da ciência , não só em deco rrênc ia 
dos supostos avanços da neuroc iênc ia e da genôm ica , m as, p rinc ipa lm en te , porque, 
para a lguns h is to riadores e filóso fos da ciência, a B io log ia vem se anunc iando com o o 
novo pa rad igm a de c iênc ia , luga r antes ocupado pe la fís ica (M ayr, 1997/2008, p. 09; 
Rosa, 2005, pp. 23-24).
N ã o o b s ta n te , e s s e d e s e n v o lv im e n to da B io lo g ia v e m a c o m p a n h a d o 
necessariam ente de um a proposta reducionista b io lóg ica? O objetivo, aqui, é exam inar 
a lguns encam inham entos dados pela Biologia à proposta reducionista de c iência nesse 
seu “m e lho r m om ento” de suposto avanço e proem inência nas c iências. Com isso, espera- 
se m ostra r a possib ilidade do estabe lec im ento de um d iá logo v irtuoso en tre B io log ia e 
P s ico log ia , que se assen ta em bases d ife ren tes da p roposta reducion is ta de c iênc ia . 
Para desenvo lve r esse assun to , apresenta rem os, em um p rim e iro m om ento , a lgum as 
expressões da crítica do reducíonism o por parte de a lgum as teorias biológicas. Em segundo 
lugar, d iscutirem os, brevem ente, a lgum as conseqüências dessa crítica para as re lações 
entre B io log ia e Psicologia, em especial, para a A ná lise do Com portam ento.
O e s ta tu to da e xp lic aç ã o red u c io n is ta na te o ria b io ló g ica
U m a d a s p rin c ip a is c a ra c te rís t ic a s d o re d u c ío n ism o é a firm a çã o de que a 
d issecação de um s is tem a com p lexo em term os de suas partes constitu in tes o fe rece rá 
um a e x p lic a ç ã o c o m p le ta do s is te m a (M ayr, 2 0 0 4 /2 0 0 5 ). Na B io lo g ia , p ro p o s ta s 
re d u c io n is ta s a p a re ce m da se g u in te m ane ira : nenhum s is te m a b io ló g ic o c o m p le x o
* Trabalho financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) por meio de bolsa de doutorado. E-mall: 
carolinapsicologia@hotmail.com
Sobre Comportamento e Cognição 21
mailto:carolinapsicologia@hotmail.com
pode ser entendido completamente até que tenha sido analisado em seus componentes 
mais elementares; e esse processo deve se dar até à especificação dos componentes 
e processos puramente físico-quimicos (Mayr, p. 88).
Mas não só isso: o reducíonismo afirma que o sistema complexo não tem 
propriedades novas, ou seja, ele é simplesmente a soma de seus elementos constituintes. 
Com efeito, os elementos são mais fundamentais que o próprio fenômeno. Dito de outro 
modo, a tese reducionista afirma que o todo só pode ser compreendido pela identificação 
de suas partes: o todo não é nada mais do que a soma das partes. Um exemplo de 
proposta reducionista na Biologiafoi a tentativa, atualmente considerada fracassada, de 
reduzir todos os ramos da Biologia à biologia molecular (Mayr, 2004/2005, p. 86).
Longe de compactuar com o reducíonismo, que se destacou como uma tese 
robusta na filosofia da ciência, especialmente das décadas de 50 e 60 do século XX, a 
Biologia parece estar mais afinada com tendências pós-reducionistas ou pós-empiristas 
de ciência. De um lado, a Biologia tem se empenhado em uma crítica mordaz ao conceito 
de redução, mais especificamente, ao seu correlato contemporâneo, a noção de 
determinismo genético (Mayr, 2004/2005; Lewontin, 1998/2002). Por outro lado, as 
tendências anti-reducionistas da Biologia podem ser realçadas nas tentativas de 
redefinição de seus conceitos mais caros. Para estudar a dinâmica da vida, a Biologia 
está voltando os olhos para a relação indissociável entre organismo e ambiente, e 
redefinindo conceitos como os de desenvolvimento, gene e adaptação à luz dessa 
perspectiva relacional (Lewontin).
Critica à noção de determinismo genético
Examinemos, inicialmente, o primeiro aspecto: a crítica da Biologia ao conceito 
de determinismo genético. Em linhas gerais, a noção de determinismo genético consiste 
na idéia de que o genoma (o conjunto dos genes de uma espécie) é a causa primordial 
de todas as características do ser vivo (Lewontin, 1998/2002). Há várias nuances dessa 
idéia geral, que vão desde afirmações mais radicais, até versões mais mitigadas do 
conceito. Como exemplo das primeiras, temos afirmações do tipo: seres humanos não 
são mais do que instâncias do genoma; os genes fornecem informação suficiente para 
a criação do exemplar da espécie humana (Leite, 2007). Uma feição mais suavizada da 
idéia de determinismo genético encontra-se em discursos que não atribuem mais aos 
genes a causa exclusiva de doenças ou características. Fala-se tão somente que os 
genes influenciam esses fatores, dando espaço para um papel complementar do 
ambiente, que teria a função de simplesmente desencadear as pré-formadas 
potencialidades genéticas.
Já nesse momento é possível perceber a feição reducionista da noção de 
determinismo genético: os genes (partes isoladas do sistema) seriam capazes de 
explicar completamente as características humanas. Em outros termos, o conhecimento 
completo da seqüência do genoma humano nos ofereceria uma explicação causal 
completa da diversidade humana (Leite, 2007; Lewontin, 1998/2002).
A crítica à noção de determinismo genético vem de várias frentes dentro da 
própria Biologia, especialmente, de um conjunto de biólogos cujas críticas deram origem 
a uma perspectiva teórica chamada de teoria de sistemas desenvotvimentais (Leite, 
2007, p. 102). Na verdade, trata-se de uma perspectiva teórica que se originou de embates 
sobre a sociobiologia, e tem como um de seus principais representantes o biólogo 
Richard Lewontin (1929-). E é com base nesse sistema teórico que apresentaremos 
algumas críticas à noção de determinismo genético.
22 Carolina Laurentí
Podemos criticar o 'determinismo genético’ de, pelo menos, três perspectivas: 
conceituai, empírica e social. Do ponto de vista conceituai, o ‘determinismo genético’ 
não tem se mostrado como uma ferramenta heurística adequada para compreendermos 
a complexidade de processos biológicos. O conceito de determinismo genético nos 
inspira a tratar as relações entre o organismo e seu meio de um ponto de vista linear e 
unilateral, com uma ênfase demasiada no papel dos genes, desconsiderando as 
interações fundamentais entre o organismo e ambiente. Nessa linha de raciocínio, o 
organismo é visto como o produto exclusivo de forças internas determinadas pelos 
genes. Segundo Lewontin (1998/2002), a noção de determinismo genético é 
biologicamente errada, pois “as relações entre genes, organismos e ambientes são 
relações recíprocas nas quais os três elementos atuam como causas e efeitos” (p. 
105). Nesse sentido, organismos não são meros produtos dos seus genes, mas um 
complexo que se constitui na interação entre genes, ambientes e.o próprio organismo: 
“tanto os genes como o ambiente são causas dos organismos, os quais, por sua vez, 
são causas dos ambientes, de maneira que os genes, pela mediação dos organismos, 
tornam-se causas dos ambientes” (Lewontin). Com efeito, a noção de determinismo 
genético mostra-se bastante limitada para descrever essas múltiplas relações.
Tem-se constatado também que pesquisas encorajadas pelo conceito de 
determinismo genético têm produzido parcos resultados empíricos. Um caso 
paradigmático é o Projeto Genoma Humano (PGH). Leite (2007, p. 80) mostra a tensão 
e as discrepâncias existentes entre promessas do PGH e os resultados obtidos com a 
catalogação de basicamente 99% da seqüência genoma humano, anunciada em 21 de 
outubro de 2004. Uma das promessas do projeto genoma era que a revelação do Livro 
da Vida, uma das metáforas religiosas para se referir ao genoma, operaria uma 
verdadeira revolução na biomedicina. As informações estruturais sobre o genoma 
poderiam ser aplicadas na descrição de doenças, possibilitando o desenvolvimento de 
novas abordagens terapêuticas, como a elaboração de medicamentos feitos com 
precisão molecular, ajustados às características genéticas básicas do paciente. 
Contudo, a informação obtida com a soletração do genoma não se reverteu em grandes 
aplicações para a saúde. Até o presente momento, o sistema tecnológico da genômica 
tem somente dois grandes exemplos de medicamentos desenvolvidos com base nas 
informações obtidas do seqüenciamento dos genes (Gleevec e Iressa), ambos drogas 
anticancer (Leite).
Essa ênfase exacerbada em um dos termos da relação também tem 
conseqüências sociais danosas. A noção de determinismo genético admite que as 
ações humanas são conseqüências inexoráveis das propriedades bioquímicas das 
células que, por sua vez, são determinadas pelos genes. Assim, os deterministas 
genéticos sustentam que o comportamento humano é fixado pelos genes. Como 
conseqüência disso, fenómenos de natureza social, como as diferenças entre indivíduos, 
grupos étnicos, raças, no que ser refere a status, riqueza e poder são entendidos como 
o resultado de diferenças na capacidade e temperamento fixadas pelos genes (Leite,
2007). Nesse sentido, a crítica à noção de determinismo genético pretende denunciar a 
camuflagem de causas sociais sob a roupagem de causas naturais. Uma camuflagem 
que, em última análise, acaba condicionando a mudança ou transformação da realidade 
social à modificação genética.
Essas críticas mostram que o determinismo genético, além de se mostrar 
como uma ferramenta conceituai pobre do ponto de vista heurístico, parece produzir 
resultados empíricos insatisfatórios, bem como conseqüências sociais funestas. Em 
vista dessas considerações, Lewontin (1998/2002) conclui que uma Biologia ancorada
Sobre Comportamento e C ognição 23
na visão do detenninismo genético é uma má Biologia. Uma constatação que pode ser 
resumida no seguinte aforismo de Alexander Pope (citado por Lewontin): “Buscar a vida 
na dissecação é perdê-la no momento da ação” (p. 76).
A crítica ao reducionismo e suas conseqüências conceituais na 
Biologia
Além da critica ao conceito de determinismo genético, a tendência pós- 
reducionista da Biologia pode ainda ser realçada quando examinamos algumas 
redefinições de conceitos e noções que são elementares à Biologia. A título de exemplo, 
mencionaremos apenas três conceitos, a saber: desenvolvimento, gene, e adaptação.
Atualmente, tem-se criticado na Biologia uma visão de desenvolvimento como 
o processo de desdobrar ou desenrolar algo que já está presente e, em certo sentido, 
pré-formado (Lewontin, 1998/2002). Nessa linha de raciocínio, o ambiente é apenas o 
cenário que oferece as condições propícias para que genes e organeias celulares se 
expressem. A crítica da Biologia atual parece anacrônica, pois a Biologia pré-moderna 
do século XVIII foi palco de uma luta entre duas teorias de desenvolvimento: a pré- 
formacionistae a epigenética. A primeira afirma que o adulto já estava contido, formado 
em miniatura no espermatozóide, e o desenvolvimento era o crescimento e a 
consolidação desse ser em miniatura. Já na teoria epigenética, o organismo ainda não 
estava formado no ovo fertilizado, e era produto de profundas modificações que ocorriam 
durante o processo de formação do embrião. Engana-se quem pensa que a teoria 
epigenética triunfou. Para alguns biólogos, como Lewontin, vemos hoje uma atualização 
da concepção pré-formacionista de desenvolvimento na noção de gene como informação.
A metáfora do gene como informação sugere que o gene contém toda a 
informação necessária para especificar o organismo completo. Essa idéia pode ser 
vislumbrada no fluxo causal linear e unilateral que vai do gene/proteína/característica 
fenotípica. Mas essa visão unilateral de gene foi esfacelada por achados empíricos que 
constataram, por exemplo, que o número de proteínas é maior que o número de genes 
especificadores (120.000 proteínas para 20.000 genes) (Leite, 2007). Admite-se, pois, 
que a função das proteínas é influenciada por um conjunto de fatores (eventos e sinais 
citoplasmáticos, extranucleares) que são independentes do DNA, dando abertura para 
a participação do ambiente na constituição das características do organismo.
Embora não haja uma definição alternativa de desenvolvimento e gene que seja 
inequívoca, outras metáforas são propostas pelos biólogos para entender esses 
fenômenos. Lewontin (1998/2002), por exemplo, defende uma teoria variacional da 
mudança para explicar o desenvolvimento1, e outros biólogos tentam propor uma definição 
de gene como processo e não como uma coisa - “conceito processual-molecular de 
gene” (Leite, 2007, p. 128). A crítica à concepção pré-formacionista de desenvolvimento 
atualizada na crítica à noção de gene como informação sugere que a Biologia não atribui 
uma importância demasiada aos genes em detrimento do ambiente, que é visto como 
um mero cenário, ou como o disparador de processos já pré-formados no organismo.
Contudo, esse posicionamento não nos deve levar a concluir que a Biologia dá 
maior ênfase ao papel do ambiente em detrimento do organismo, e mesmo dos genes.
’ O modelo variacional da mudança entende que os indivíduos se modificam porque existe variação entre eles, e algumas dessas variantes 
produzem mais descendentes do que outras. Isso é diferente da explicação da mudança conforme a teoria transform acionai, em que os indivíduos 
se modificam porque cada um deles passa por desenvolvimentos paralelos durante a vida. Um exemplo simples pode ilustrar a diferença entre essas 
conoepções de desenvolvimento. Segundo a teoria transformacional, alguns insetos são mais resistentes aos inseticidas do que outros porque 
ganharam resistência durante a vida mediante a exposição gradual a esses produtos. Já segundo a teoria variacional, os insetos mais resistentes 
são aqueles que apresentaram variações que foram mais favoráveis à sobrevivêndadianteda exposição aos inseticidas do que aqueles que não 
dispunham de tais variantes (Lewontin, 1998/2002).
24 Carolina Laurenti
Isso se revela na crítica da Biologia à noção de adaptação darwiniana. Lewontin (1998/ 
2002) admite que a noção de adaptação de Darwin, entendida como o processo de 
adequação do organismo ao ambiente, foi um passo revolucionário na Biologia. Na 
concepção pré-moderna da natureza, não havia uma demarcação clara entre processos 
externos e internos, vivo e morto, animado e inanimado. Com a noção de adaptação, 
Darwin operou uma separação nítida entre o interno e o externo: o intemo se referia aos 
processos internos que geravam o organismo, e o externo consistia nos diferentes 
ambientes, aos quais o organismo deve se adaptar. A despeito de sua importância para 
a Biologia, a idéia de adaptação darwiniana sugere uma concepção de organismo e 
ambiente como independentes entre si (Lewontin). A adaptação é o processo pelo qual 
um objeto se torna apto a satisfazer uma demanda pré-existente. Nessa acepção, o 
organismo é entendido como o produto passivo, que se constitui em resposta às 
exigências do ambiente.
Para Lewontin (1998/2002), contudo, uma metáfora mais adequada para 
expressar o processo de evolução não é a de adaptação, mas a de construção: "assim 
como não pode haver organismo sem ambiente, não pode haver ambiente sem 
organismo” (p. 53). Para ele, organismos participam da construção de seu próprio 
ambiente, que deixa de ser tratado como condições físicas meramente dadas, para se 
restringir aquelas “eleitas” e modificadas pelo organismo. O biólogo afirma que 
deslizamentos de gelo, depósitos de cinza vulcânica e fontes de água não são 
ambientes. São condições físicas das quais ambientes podem ser construídos:
Um ambiente é algo que envolve ou cerca, mas, para que haja envolvimento, é 
preciso que haja algo no centro para ser envolvido. O ambiente de um organismo 
é a penumbra de condições externas que para ele são relevantes em face das 
interações efetivas que mantém com aqueles aspectos do mundo exterior (Lewontin, 
1998/2002, p. 54).
Desse modo, a definição de ambiente é relacional, já que o ambiente se define 
como aquelas condições que são especificadas nas interações com o organismo2. 
Como se vê, a crítica ao papel exclusivo do gene na determinação do organismo não 
acarreta, necessariamente, na defesa irrestrita da ação do ambiente.
Em suma: com a crítica ao determinismo genético, e a noção de gene como 
informação, a Biologia não dá uma ênfase demasiada ao papel do organismo, 
especificamente ao gene, em detrimento do ambiente. Com a crítica à noção de 
adaptação darwiniana, a Biologia também não compactua com uma concepção de 
ambiente independente do organismo e do gene. O que se reclama agora na Biologia 
é uma interpretação relacional da dinâmica entre gene, organismo e ambiente - uma 
concepção que se mostra incompatível tanto com o reducionismo biológico, quanto 
com um reducionismo de qualquer outra natureza.
Crítica ao reducionismo biológico: A possibilidade de um diálogo 
virtuoso entre Biologia e Psicologia
Ao examinar como algumas tendências no interior Biologia explicam seu objeto, 
criticando o reducionismo biológico e buscando definições relacionais de seus
2 Cabe destacar, que os genes também pa rticipam da construção do a m b ie n te do organismo já que eles estabelecem como os estlm uk>s externos 
do ambiente afetarão o organismo: “Os fenômenos externos comuns do mundo físico e biótico passam por um filtro transformador criado pela 
biologia específica de cada espécie [os genes], e é o resultado dessa transformação que atinge o organismo e é relevante para ele (Lewontin, 
1998/2002, p. 69).
Sobre Comportamento e Cognição 25
fenômenos, percebemos que Biologia está mais afinada com tendências não- 
reducionistas de ciência. Em vista dessas considerações, podemos responder a 
pergunta que norteou esse texto: o reducionismo biológico não parece ser uma proposta 
proveniente da Biologia - pelo menos de algumas propostas teóricas advindas dessa 
disciplina científica.
Agora, quais são as conseqüências da crítica ao reducionismo biológico para a 
relação entre Biologia e Psicologia? Em primeiro lugar, podemos dizer que a Biologia 
parece chamar a atenção da Psicologia para aquilo que ela tem de mais caro: o 
comportamento, isto é, a relação entre organismo e ambiente (Todorov, 1989). A ênfase 
dada pela Biologia não parece incidir nem no ambiente nem no organismo ou gene, 
mas ha relação entre eles. Ora, isso nos leva a indagar: como a Psicologia tem explicado 
o comportamento (as interações entre organismo e ambiente, ou entre indivíduo e seu 
mundo)? A ênfase tem sido dada no ambiente em detrimento do indivíduo, culminando 
em um ambientalismo? Ou a ênfase tem recaído no indivíduo, podendo acarretar em 
concepções estritamente individualistas ou mentalistas do fenômeno psicológico? Ou 
ainda: a Psicologia tem enfatizado o organismo em detrimento do ambiente?Sobre esse último ponto, podemos dizer, de imediato, que psicologias inspiradas 
em um pensamento reducionista biológico, que tentam explicar o comportamento 
reduzindo-o aos seus componentes biológicos, parecem estar em descompasso com 
a tendência anti-reducionista e com a perspectiva relacional do intercâmbio entre 
organismo e ambiente defendida atualmente por algumas vertentes da Biologia. Nessa 
linha de raciocínio, o reducionismo biológico parece ser mais uma proposta defendida 
por algumas abordagens psicológicas do que por algumas tendências biológicas.
Por outro lado, a perspectiva não-reducionista e relacionai da Biologia não 
parece ser incompatível com a noção de comportamento defendida pela Análise do 
Comportamento inspirada na filosofia do Behaviorismo Radical. Tal como Mayr (1997/
2008) defendeu a autonomia dos fenômenos biológicos em relação à física e à química, 
Skinner (1989) sustentou a autonomia do comportamento em relação à fisiologia e às 
ciências do cérebro. A radicalidade do behaviorismo de Skinner parece residir justamente 
aí: na defesa do comportamento como objeto de estudo em si mesmo. Isto é, o 
comportamento apresenta características próprias, que não podem ser explicadas 
recorrendo unicamente a seus estados fisiológicos subjacentes: “Não acredito que eu 
tenha cunhado a expressão Behaviorismo Radicat, mas quando me perguntaram sobre 
o que queria dizer com ela, seu sempre dizia: ‘É a filosofia de uma ciência do 
comportamento tratado como objeto de estudo em si mesmo, separado das explicações 
internas, mental ou fisiológica’" (Skinner, p. 122).
Além do mais, a definição skinneriana de comportamento também é relacional: 
o comportamento é entendido como a relação mútua entre ação e conseqüências da 
ação (Skinner, 1957, p. 01). É, portanto, a partir de uma perspectiva relacional que a 
Análise do Comportamento explica as relações entre indivíduo e ambiente (Tourinho, 
2006, p. 03). Isso significa que a interpretação dos fenômenos psicológicos não privilegia 
nem indivíduo nem ambiente, mas a relação entre eles.
Vale destacar ainda, que tal relacionismo não se expressa apenas do nível 
epistemológico, mas também no nível ontológico de análise: “O comportamento é 
explicado na sua relação com conseqüências seletivas, naturais, reforçadoras e 
culturais. É a realidade, mas não é a realidade como coisa física; é, isto sim, a realidade 
como relação. Trata-se, enfim, de um relacionismo ou de uma metafísica relacionista” 
(Ábib, 2004, p. 57). A metafísica do relacionismo é perfeitamente compatível com o 
estudo do comportamento em si mesmo, já que o que explica o comportamento não é
26 Carolina Laurenti
a realidade mental ou fisiológica, mas é a relação inextricável do comportamento com 
suas conseqüências seletivas (Abib).
Nesse sentido, podemos dizer que a rejeição do paradigma da redução e o 
reconhecimento da autonomia de domínios científicos como a Análise do 
Comportamento e a Biologia não significam, em absoluto, que essas disciplinas 
científicas não possam se comunicar. Longe disso, esse exame mostra a possibilidade 
de as relações entre Biologia e Psicologia serem encaminhadas sem pressupor um 
programa reducionista de ciência. (Na verdade, é no contexto de uma filosofia anti- 
reducionista de ciência que podemos fa lar de uma relação genuinamente 
transdisciplinar entre domínios científicos.)
A crítica da Biologia à redução dos fenômenos biológicos à física, bem como a 
crítica skinneriana da redução do comportamento à fisiologia e à neurociência mostra 
afinidades entre Biologia e Análise do Comportamento do ponto de vista da filosofia da 
ciência, inserindo essas disciplinas científicas em uma tendência pós-reducionista de 
ciência. Além do mais, a perspectiva relacional defendida pela Análise do Comportamento 
e pela Biologia sugere que é exatamente no nível das relações entre organismo e 
ambiente que se pode estabelecer um diálogo virtuoso entre de Análise do 
Comportamento e Biologia.
Nesse caso, a tentativa de entender o papel dos genes no contexto das 
interações entre organismo e ambiente, e os avanços na Biologia nessa área, não 
deveriam ser vistos como algo ameaçador. Pelo contrário, eles podem lançar luz sobre 
vários fenômenos psicológicos, não com o objetivo de substituí-los e, em última análise, 
de eliminá-los, mas de esclarecer como os processos biológicos participam dos 
fenômenos psicológicos, ressaltando ainda mais a complexidade do objeto de estudo 
da Psicologia. E é por meio da noção de comportamento, contextualizada em uma 
metafísica relacional, que a Análise do Comportamento pode transgredir a fronteira com 
a Biologia estabelecendo um diálogo prolífico com essa disciplina.
Referências
Abib, J. A. D. (2004). O que é comportamentalismo? Em M. Z. S. Brandão, F. C. S. Conte, F. S. 
Brandão, U. K. Ingberman, V. L. M. da Silva, S. M. Oliani (Orgs.), Sobre comportamento e cognição 
(Vol. 13, pp. 52-61). Santo André: ESETec.
Leite, M. (2007). Promessas do genoma. São Paulo: Editora UNESP.
Lewontin, R. (2002). A tripla hélice: Gene, organismo e ambiente (J. Viegas Filho, Trad.). São 
Paulo: Companhia das Letras. (Trabalho original publicado em 1998)
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publicado em 2004)
Mayr, E. (2008). Isto é biologia: A ciência do mundo vivo (C. Angelo, Trad.). São Paulo: Companhia 
das Letras. (Trabalho original publicado em 1997)
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São Paulo: Paz e Terra.
Skinner, B. F. (1957). Verbal behavior. New Jersey: Prentice-Hall.
Skinner, B. F. (1989). Recent issues in the analysis of behavior. Ohio: Merrill Publishing Company
Sobre Comportamento e Cognição 27
Titchener, E. B. (1996). A text-book of psychology (A. U. Sobral & M. S. Gonçalves, Trads.). Em D. P. 
Schultz & S. E. Schultz (Orgs.), História da psicologia moderna (pp. 112-119). São Paulo: Cultrix. 
(Trabalho original publicado em 1909)
Todorov, J. C. (1989). A psicologia como o estudo de interações. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 5, 
347-356.
Tourinho, E. Z. (2006). Relações comportamentais como objeto da psicologia: Algumas implicações. 
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Watson, J. B. (1930). Behaviorism. Phoenix Books: The University of Chicago Press. (Trabalho 
original publicado em 1924)
28 Carolina Laurenti
Capítulo 3
Algumas observações sobre o 
tratamento behaviorista radical 
dos eventos privados
Alexandre Díttrich* 
UFPR
Este texto tem objetivos modestos. Partiremos de alguns pressupostos 
aparentemente consensuais entre os behavioristas radicais sobre o estudo de eventos 
privados, e a partir deles teceremos algumas considerações sobre este problema. 
Nem os pressupostos, nem as considerações pretendem-se exaustivos. O tema tem 
sido explorado com freqüência por behavioristas radicais, e certamente não faremos 
justiça à totalidade dessas contribuições. Não obstante, tentaremos esclarecer ou 
destacar alguns aspectos do problema que talvez não sejam imediatamente óbvios.
Historicamente, a ampla utilização da introspecção enquanto método nos 
primórdios da psicologia acadêmica constitui um marco significativo para a compreensão 
do tema. Entre o final do século 19 e as primeiras décadas do século 20, parte importante 
da definição da identidade de um psicólogo enquanto pesquisador consistia em saber 
sua posição em relação à introspecção: se a utilizava, em que medida, de que modo, para 
o estudo de quais problemas, etc.1 No texto que é considerado por muitos uma peça 
definidora da filosofia behaviorista radical, Skinner (1945/1984) trata o problema da 
introspecção de uma perspectiva absolutamente original, apresentando uma proposta 
que foi (e continua sendo) pouco compreendida: introspectar é comportar-se. E mais: 
relatar o que se observa introspectivamente também é comportar-se. As conseqüências 
dessa "virada” na forma de compreender o problema da introspecçãosão tão amplas que 
é impossível listá-las todas. Eis algumas: (1) a introspecção passa de método a objeto de 
estudo da psicologia; (2) a psicologia se vê diante da oportunidade de se propor, em 
sentido amplo, como uma epistemologia empírica2; (3) o vocabulário mental/subjetivo 
passa a ser tratado como uma construção dependente da história e das culturas.
O último problema é o que mais nos interessa aqui. Temos, ao que parece, 
uma tendência de tratar o vocabulário mental/subjetivo como algo dado, natural,
* Contato com o autor: aledittrich@ufpr.br
' Provavelmente, tais perguntas continuam sendo hoje tão importantes quanto foram à época.
2 Leia-se Skinner: “... uma análise cientifica do comportamento tem gerado uma espécie de epistemologia emptrica. O objeto de uma ciência do 
comportamento inclui o comportamento de cientistas e outros oonhecedores. As técnicas disponíveis a tal ciência dão a uma teoria empírica do 
conhecimento certas vantagens sobre teorias derivadas da filosofia e da lógica. O problema da privacidade pode ser abordado em uma nova direção 
aocomeçarcom o comportamento ao invés da experiência imediata" (1963/1969, p. 228). A proposta de uma epistemologia empírica dá margem 
a vários problemas e questionamentos, parte dos quais buscamos analisarem Díttrich (2004).
Sobre Comportamento e Cognição 29
mailto:aledittrich@ufpr.br
intrinsecamente correto. A primeira e mais óbvia implicação do tratamento típico do 
behaviorismo radical ao problema dos eventos privados é esta: não nascemos com um 
vocabulário inato, “pronto”, para falar sobre eventos privados (nem sobre eventos públicos, 
a propósito). Portanto, tivemos que aprendê-lo de alguma forma. Isso implica o contato 
com uma comunidade verbal que já utilizava este vocabulário antes de nascermos (do 
contrário, de onde viria o vocabulário?). Diferentes comunidades verbais demandam 
diferentes graus de introspecção de seus membros, e certamente ensinam vocabulários 
mentais/subjetivos variados.
É impossível compreender cientificamente os eventos privados observando ou 
descrevendo apenas os próprios eventos privados, pois eles não existem à parte de 
relações comportamentais - antes, fazem parte delas. Essas relações são histórica e 
culturalmente mutáveis, assim como os nomes que damos a elas.3 Não existe um padrão 
de nomeação de eventos privados que seja "padrão” para toda a humanidade, que descreva 
o mundo interno dos seres humanos de forma universalmente válida - e, portanto, não 
existem descrições mais ou menos fidedignas de eventos privados.4 5 Dito de outra forma: 
não há um jeito "certo” ou “errado” de nomear eventos privados. Em contextos terapêuticos, 
pode-se falar em uma nomeação mais ou menos “apropriada” de sentimentos, por 
exemplo, dado um conjunto mais ou menos amplo de dados empíricos - mas, como 
aponta Guilhardi (2004), o termo escolhido será “arbitrário, convencionado pela comunidade 
verbal ... Mesmo assim, o nome do sentimento (ansiedade, angústia, fobia etc.) não 
acrescenta nenhuma informação adicional que possa ajudar no processo terapêutico. 
Talvez a função de usar tais palavras seja a de facilitar a comunicação entre terapeuta- 
cliente (desde que fique claro para ambos o que elas descrevem)...” (p. 239).
Ainda que não exista um vocabulário mental/subjetivo “correto”, é possível 
analisar a evolução histórica deste vocabulário, e afirmar com alguma segurança que, 
se ele não é universal, a forma de aprendê-lo é. Não é por outro motivo que Skinner 
(1989) demonstra um interesse especial pela etimologia - a ciência que estuda, em 
termos históricos, a origem das palavras: “A etimologia é a arqueologia do pensamento”, 
afirma ele (p. 13). Seu estudo da etimologia do vocabulário mental/subjetivo o leva a 
concluir (1) que as palavras utilizadas para descrever sentimentos "quase sempre provém 
da palavra que designa a causa da condição sentida”, e (2) que as palavras utilizadas 
para descrever “estados da mente ou processos cognitivos ... quase sempre começam 
como referências ou a algum aspecto do comportamento, ou ao setting no qual o 
comportamento ocorre” (p. 13).
Isso evidencia, novamente, que o vocabulário mental/subjetivo não é controlado 
apenas por eventos privados, mas também por eventos públicos. Mais exatamente: ele 
é controlado por contingências de reforço que seguramente envolvem variáveis públicas, 
e que provavelmente envolvem, pelo menos em alguns momentos, também variáveis 
privadas. Há aqui uma curiosa inversão de perspectiva: variáveis púbticas são 
absolutamente necessárias para explicar instâncias particulares de uso do vocabulário 
mental/subjetivo - variáveis privadas, nem sempre.
Expliquemos tal ponto mais detalhadamente. Já apontamos o sentido mais 
evidente em que se dá essa dependência do vocabulário mental/subjetivo em relação a 
variáveis públicas: há uma comunidade verbal que ensina este vocabulário. Como ela 
faz isso? Skinner aponta, em seu texto de 1945, as “quatro maneiras pelas quais a
3 O trabalho de Tourinho (2006) ilustra esse ponto com muita propriedade.
4 A ignorância em relação a tais fatos provavelmente ajuda a explicar porque um projeto de psicologia cientifica como o estrutuialismo de E. B. 
Titchener (1898) não obteve sucesso. Sua proposta de uma taxonomia exaustiva dos "elementos da experiência consciente" soa hoje quase ingênua, 
mas consumiu os esforços de pesquisa de miiitos psicólogos por pelo menos duas décadas.
6 Cabe sempre lembrar que Isso se aplica também a eventos públicos, embora nosso interesse no momento dlredone o texto para o tratamento dos 
eventos privados. A própria privacidade dos eventos privados cria problemas especiais, mas o radocfnio se aplica igualmente a eventos públicos.
30 Alexandre Díttrich
comunidade verbal, sem acesso a um estímulo privado, pode gerar comportamento 
verbal em resposta a ele” (1945/1984, p. 549).6 Todas elas apontam para a seguinte 
conclusão: as comunidades verbais ensinam vocabulários mentais/subjetivos com base 
na observação de relações comportamentais públicas - isto é, interações entre o 
comportamento público do sujeito a ser ensinado e as variáveis públicas que o cercam. 
Isso não significa que as relações comportamentais das quais participa o sujeito a ser 
ensinado envolvem apenas variáveis públicas, mas que a comunidade que ensina o 
vocabulário mental/subjetivo está necessariamente limitada à observação de variáveis 
públicas. A comunidade que nos ensina a dizer, por exemplo, que estamos tristes, ou 
alegres, ou irritados, etc., nos ensina a dizer isso (1) porque observa certas características 
de nosso comportamento tipicamente classificadas como “tristeza", “alegria” ou “irritação” 
e/ou (2) porque nos observa em certa situação que, naquela comunidade, é tipicamente 
classificada como alegre, triste ou irritante. Pode ocorrer (mas não necessariamente) 
que o sujeito a ser ensinado esteja, simultaneamente a tais eventos publicamente 
observáveis, experimentando certos estados corporais especialmente conspícuos7, que 
ele aprende a chamar de “tristeza”, “alegria” ou “irritação". Tanto a situação quanto o 
estado corporal podem, portanto, adquirir a função de estímulos discriminativos que 
aumentem a probabilidade de emissão de uma descrição como “estou triste”. 
Teoricamente, isso faz com que seja possível, posteriormente, relatar um sentimento 
diante da mera presença de um estado corporal semelhante: sentimentos são mais 
“salientes” para quem os sente do que as variáveis públicas a eles relacionadas, como 
afirma Skinner (1972/1978a, p. 51; 1978b, p. 85). A situação inversa, porém, também é 
plausível: uma pessoa que se diz triste, alegre ou irritada pode estar sob controle tão- 
somente (ou predominantemente) da situação pela qual passa ou passou, sem que 
haja estados corporais especialmente conspícuos acompanhando a situação. Assim, 
uma pessoa que diz “estou triste" pode estar sob controle de uma situação que aprendeu 
a chamar de triste, mesmo que não esteja, necessariamente,sentindo um estado 
corporal que aprendeu a chamar de tristeza. Neste caso, o termo mental/subjetivo pode 
estar exclusivamente sob controle de variáveis públicas, embora aparentemente 
descreva uma condição privada. Mesmo que estados corporais estejam presentes, 
porém, as variáveis públicas podem ainda ser importantes no controle do vocabulário 
mental/subjetivo. Se a ocorrência de eventos privados depende necessariamente da 
ocorrência de eventos públicos, isso é facilmente compreensível. Além disso, o controle 
por variáveis públicas é mais facilmente estabelecido do que o controle por variáveis 
privadas - pois, lembremos, a comunidade que estabelece tal controle conta somente 
com a evidência das variáveis públicas; a ocorrência concomitante de variáveis privadas 
é apenas uma suposição. Estados corporais especialmente conspícuos podem estar 
presentes ou ausentes - e se presentes, podem apresentar variações de qualidade e 
intensidade indistinguíveis para a comunidade verbal. Portanto, variáveis públicas 
provavelmente exercem um controle mais preciso do que as privadas sobre o vocabulário 
mental/subjetivo. Uma pessoa que descreve sentimentos está, em última análise, 
descrevendo elementos de contingências de reforço ou punição - e está, inclusive, 
descrevendo a si própria (suas respostas públicas e/ou privadas) como parte delas. 
Contudo, a participação de estados corporais nesse controle talvez seja menos freqüente 
do que costumamos pensar. A pessoa que afirmar estar “se sentindo triste” pode estar 
“sentindo” apenas uma “situação triste”, sem sentir um estado corporal de “tristeza”.8
6 Não as repetiremos, pois são bem conhecidas pelos analistas do comportamento.
' "Especialmente conspícuos” é importante, se considerarmos que, estritamente falando, todos estamos "experimentando estados corporais" 
durante todo o tempo.
' Cabe lembrarque um estado corporal, por si só, é um fenómeno que pouco interessa ao analista do comportamento. Ele interessa na medida 
em que partidpa de relações comportamentais, e estas “não são públicas ou privadas; estímulos e respostas é que podem ter esse status 
(Tourinho, 2007, p. 5).
Sobre Comportamento e Cognição 31
Iniciamos nosso texto recuperando a importância histórica da introspecção 
enquanto método de pesquisa na psicologia, e afirmando que, na proposta de Skinner, 
a introspecção passa de método a objeto (como já apontava Matos, 1999). É possível, 
porém, sustentar uma afirmação mais ampla, e talvez mais ousada: para o próprio 
Skinner, a introspecção foi não apenas objeto, mas também método - ainda que em 
sentido restrito. Ao falar sobre eventos privados, Skinner não está falando sobre 
fenômenos que não pode observar: ele pode observá-los em si mesmo. Na verdade, se 
Skinner não observasse seus próprios eventos privados, toda a sua interpretação sobre 
tais eventos provavelmente seria impossível - visto que, nestas condições, Skinner não 
teria acesso a nenhum mundo privado, e não poderia, portanto, ter qualquer conhecimento 
dos estímulos que controlam respostas verbais como “pensar” e “sentir", por exemplo.9 
Mas se a introspecção foi subsídio necessário para que Skinner apresentasse sua 
interpretação comportamental da privacidade, deve-se destacar, por outro lado, que ela 
foi um dos subsídios para tanto, não o único. Sua importância, nesse sentido, não deve 
ser exagerada. A interpretação proposta por Skinner é uma extensão, para o campo das 
relações comportamentais que envolvem eventos privados, de princípios fundamentados 
no estudo sistemático de relações comportamentais que envolvem eventos públicos.
Alguém poderia afirmar, talvez em tom crítico, que mesmo as referências 
genéricas de Skinner a pensamentos e sentimentos são necessariamente "subjetivas”, 
culturalmente construídas, típicas das comunidades verbais que ensinaram o próprio 
Skinner a descrever seu “mundo intérno”. Certamente o são - mas isso se aplica a 
qualquer forma de descrição, seja de eventos públicos ou privados. O erro está em 
insistir na busca por uma linguagem neutra, que descreva o que os eventos privados 
“realmente são”: “Uma ciência independente da subjetividade seria uma ciência 
independente de comunidades verbais” (Skinner, 1974, p. 221). As limitações impostas 
a Skinner são as mesmas impostas a qualquer pessoa que se proponha a estudar 
eventos privados - psicólogo ou não, behaviorista radical ou não.
Referências
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comportamento: Positivismo lógico, operacionismo e behaviorismo radical. Psicologia: Teoria e 
Pesquisa.
Dittrich, A. (2004). Behaviorismo radical, ética e política: Aspectos teóricos do compromisso 
social. Tese de doutorado, Universidade Federal de São Carlos. Disponível na Biblioteca Digital de 
Teses e Dissertações do IBICT/MCT, no World Wide Web: http://www.bdtd.ufscar.br/tde_busca/ 
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Guilhardi, H. J. (2004). Considerações sobre o papel do terapeuta ao lidar com os sentimentos do 
cliente. Em M. Z. S. Brandão, F. C. S. Conte, F. S. Brandão, Y. K. Ingberman, V. L. M. Silva & S. M. Oliani 
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verbais e o comportamento do terapeuta (pp. 229-249). Santo André, SP: ESETec.
Matos, M. A. (1999). Introspecção: Método ou objeto de estudo para a análise do comportamento? 
Em R. A. Banaco (Org.), Sobre comportamento e cognição : Aspectos teóricos, metodológicos e de 
formação em análise do comportamento e terapia cognitivista (pp. 189-198). Santo André, SP: 
ARBytes.
Skinner, B.F. (1969). Behaviorism at fifty. Em B.F. Skinner, Contingencies of reinforcement A theoretical 
analysis (pp. 221-268). New York: Appleton-Century-Crofts. (Trabalho original publicado em 1963).
"Abordamos este problema com mais profundidade em Dittrich (no prelo).
32 Alexandre Díttrich
http://www.bdtd.ufscar.br/tde_busca/
Skinner, B.F. (1974). About behaviorism. New York: Alfred A. Knopf.
Skinner, B.F. (1978a). Humanism and behaviorism. Em B.F. Skinner, Reflections on behaviorism and 
society (pp. 48-55). Englewood Cliffs, N.J.: Prentice-Hall. (Trabalho original publicado em 1972)
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Skinner, B. F. (1984). The operational analysis of psychological terms. The Behavioral and Brain 
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Retirado em 15 de junho de 2008, de http://psychclassics.yorku.ca/Titchener/structuralism.htm
Tourinho, E. Z. (2006). Subjetividade e relações comportamentais. Tese de professor titular 
apresentada ao Departamento de Psicologia Experimental da Universidade Federal do Pará, Belém, 
PA.
Tourinho, E. Z. (2007). Conceitos científicos e “eventos privados” como resposta verbal. Interação 
em Psicologia, 11, 1-9.
Sobre Comportamento e Cognição 33
http://psychclassics.yorku.ca/Titchener/structuralism.htm
Capítulo 4
O materialismo-com-mente de Clark 
Hull (1884-1952)
Carolína Laurenti* 
UFSCar
Alguns livros de história da Psicologia apontam no final da década de 1950 a 
ocorrência de uma revolução cognitiva que teria superado o Behaviorismo como escola 
psicológica vigente. Essa revolução teria sido responsável pela mudança de ênfase da 
psicologia científica, que passou a se interessar pelo estudo dos processos cognitivos 
superiores (inteligência, pensamento, linguagem, consciência, memória) (Gazzaniga & 
Heatherton, 2003/2005, p. 55). Dessa forma, na raiz da chamada revolução cognitiva 
estaria a tese de que o Behaviorismo ignorava ou não era capaz de lidar com a cognição.

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