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Gestão Socioambiental Prof. Dra. Cristine Santos de Souza da Silva O ambiente, a sociedade e as organizações Prof. Dra. Cristine Santos de Souza da Silva Capítulo 1 INTRODUÇÃO A preocupação com o meio ambiente remonta ao início do século XX. No entanto, foi apenas nas últimas três décadas que despertou a atenção da sociedade e dos governos para os problemas e impactos ambientais oriundos das atividades e organizações. As empresas e indústrias, consideradas símbolos de progresso e de grandeza passaram a ser vistas como as grandes vilãs. Todavia, mesmo sob esse estigma, a preocupação das empresas em buscar práticas ambientais sustentáveis é recente. Somente diante das pressões das políticas públicas e da sociedade é que as organizações passaram a se preocupar em transformar essas questões em práticas administrativas e operacionais. Atualmente, as organizações estão de alguma forma conseguindo dar respostas a muitos questionamentos da sociedade. Embora as ações empresariais ambientalmente responsáveis não sejam adotadas por parcelas significativas das organizações, aquelas que o fazem representam lideranças que vão se tornando referências em seus respectivos setores e constituindo-se em modelos para a adoção de padrões e patamares de excelência ambiental. Nesta parte da disciplina, trataremos a cultura consumista e exploratória de recursos naturais que vigora no comportamento da sociedade atual, mostrando a interface existente entre as organizações, a industrialização e o meio ambiente. Serão discutidos os principais problemas ambientais resultantes das atividades humanas e por fim, apresentadas as externalidades que deles resultam, demonstrando como as organizações têm agido para tentar resolvê-las. Bons estudos! O ambiente, a sociedade e as organizações Estudos reportam que há aproximadamente 8.000 anos atrás, as sociedades humanas viviam em constante movimento, caçando os animais selvagens, mudando de um lugar para outro em função das estações do ano, coletando frutos e grãos para sua alimentação (sociedades de caçadores e coletores de sementes). Com o passar do tempo, os homens aprenderam a domesticar os animais e a plantar sementes selecionadas, o que permitiu maiores e melhores colheitas ao longo do ano. A domesticação dos animais e o domínio da técnica de plantio provocaram uma revolução na história da humanidade - a Revolução Agrícola, que teve como consequência a fixação das pessoas e o surgimento das primeiras cidades. Com a concentração humana em locais específicos cresceu a necessidade de atendimento dessa população, e principalmente aumentou a ocupação dos espaços naturais. Surgiram novas necessidades, áreas naturais que detinham o material necessário para construção das cidades foram devastadas; cursos d’água foram desviados para atender às necessidades das concentrações humanas; florestas foram destruídas para atender à demanda de madeira para as habitações, entre outros prejuízos. Em outras palavras, iniciou-se um processo profundo de transformação da relação do homem com a natureza. Além disso, o surgimento das cidades e a urbanização tiveram como grande consequência o aprimoramento do conhecimento científico, dando espaço para o início de industrialização. A industrialização e o ambiente Foi no século XVIII, com a Revolução Industrial, na Inglaterra, que ocorreu a segunda Revolução Científica-Tecnológica. O surgimento da máquina a vapor deu ao homem uma nova perspectiva de produção, isto é, o que antes era feito de maneira artesanal, exigindo muito esforço físico e demora, passou a ser feito por máquinas, aumentando de forma exponencial a produtividade além da possibilidade de criação de novos produtos até então não imaginados. O advento da Revolução Industrial deixou para trás o modo de produção agrícola e manual, utilizando máquinas no auxílio das ações humanas e ampliando, dessa forma, a produção e os mercados. Com isso teve início o uso intensivo de recursos naturais. E, quanto maior o aperfeiçoamento dos processos, maior o consumo de recursos naturais, além de provocar mudanças de hábitos, impulsionando o crescimento demográfico. Os novos mecanismos e formas de produção que surgiram nessa época, acrescidos da exploração intensiva e sistemática dos recursos naturais trazidos pela Revolução Industrial, generalizaram-se e se espalharam de forma descontrolada, sem prever as consequências para o meio ambiente. Porém, os avanços econômicos e tecnológicos impulsionado pela revolução industrial não pararam naquele período da história. Sabe-se que até o presente a sociedade já vivenciou três revoluções industriais e há que sustente, que estamos neste momento experienciando a quarta revolução industrial. Os processos de industrialização aumentaram de forma espetacular, mas foram concebidos de forma irracional, tendo como resultado o grave problema ambiental que afeta todo o planeta nos dias de hoje. Em resumo, o surgimento da industrialização gerou vários problemas ambientais, tais como: • alta concentração populacional; • consumo excessivo de recursos naturais, sendo alguns não renováveis (petróleo e carvão mineral); • devastação das florestas, gerando extinção de várias espécies da flora e fauna; • contaminação do ar, do solo e das águas. Contudo, apesar de ter tido seu início há quase três séculos, o custo ambiental do desenvolvimento industrial passou a ser questionado somente nas duas últimas décadas do século XX, em função de acidentes e problemas relacionados a poluição, contaminação e muitos outros impactos ambientais que passaram a se tornar mais evidentes. No início da industrialização, os problemas ambientais eram de pequena expressão, pois as indústrias estavam mais espalhadas e sua escala de produção era reduzida. A industrialização era um símbolo de crescimento, de modernização e de riqueza. A fumaça de suas chaminés significava o progresso, portanto, as exigências ambientais eram mínimas. Com o crescimento desenfreado do consumismo, do capitalismo e das atividades industriais, houve uma alteração no nível de exigências da sociedade e, por conseguinte, dos governantes. A fumaça das chaminés passou a ser um símbolo de poluição. As organizações e os problemas ambientais Nos processos industriais, são utilizados recursos naturais que se encontram no meio ambiente e, devido à sua execução deficiente, além do bem de consumo, são produzidos resíduos de todo tipo, que contaminam o mesmo meio ambiente. Por causa disso, os protestos constantes da população contra os riscos de desastres ecológicos ou da deterioração da qualidade de vida obrigaram os governos a implantarem normas cada vez mais rígidas para a proteção e a conservação dos recursos naturais e o meio ambiente contra agentes poluentes. As organizações empresariais são as maiores causadoras dos problemas climáticos e da deterioração do meio ambiente e, como tais, precisam assumir a responsabilidade desses problemas, desde a degradação de áreas naturais, todos os tipos de poluição, destinação final dos resíduos e muitos outros. Entre os impactos ambientais associados às atividades industriais, veremos aqueles que mais se destacam por se tratarem de problemas globais, cujas as consequências afetam a sociedade como um todo. Efeito estufa e mudança climática A expressão efeito estufa refere-se a um fenômeno natural que significa o aumento de temperatura da atmosfera global. É um efeito ocasionado pela concentração de gases como dióxido de carbono (CO2) e o metano (CH4), entre outros, que formam uma camada na atmosfera capaz de reter as radiações infravermelhas (raios do sol) e, por consequência, gerar o aquecimento da crosta terrestre. Estudos demonstram que esse aquecimento tem causado eventos climáticos que desconfiguram as estações do ano e tem como consequência um impacto indireto que a própria mudança climática. Em condições normais, essa camada de gases permite que tenhamos uma temperatura média de 16º C,caso contrário a temperatura seria de 30º C negativos e a existência da vida seria praticamente impossível. O que vemos hoje é um aumento constante dessa camada protetora provocado, principalmente, pela queima de combustíveis fósseis, madeira, gás natural de motores, de usinas e indústrias, resultando na retenção maior de radiação. Os principais agentes causadores são as atividades humanas que se intensificaram nesse último século, principalmente pelo aumento efetivo da emissão do CO2 é ocasionado pela queima de combustíveis fósseis, principalmente pelos países desenvolvidos através das indústrias e veículos. No entanto, a emissão do dióxido de carbono nos países em desenvolvimento vem crescendo muito e esta contribuição vem principalmente do desmatamento e das alterações do uso do solo. Destruição da camada de ozônio O ozônio (O3) é um gás tóxico para plantas e animais, no entanto, na estratosfera, em uma faixa de 25 a 35 km da superfície terrestre, em uma camada de cerca de 15 km de espessura, ele funciona como um filtro receptando a radiação ultravioleta (UV), altamente nociva ao homem, emitida pelo sol. Porém, as atividades humanas e industriais liberam gases que levam a formação de verdadeiros buracos nessa camada protetora. O principal deles é o CFC (clorofluorcarbonos), formados por cloro, flúor e carbono. Mas também fazem parte da lista, os óxidos nítricos e nitrosos e o CO2, expelidos pelos veículos e pela queima de combustíveis fósseis, respectivamente. O aumento de radiação UV na atmosfera provocada pela destruição da camada de ozônio, reduz o processo de fotossíntese dos vegetais, prejudica as colheitas e destrói os fitoplâncton, ocasionando perturbações no equilíbrio dos ecossistemas aquáticos. No ser humano, aumenta a incidência de câncer de pele, de catarata e traz prejuízos para o sistema imunológico. Redução da disponibilidade hídrica A água cobre 71% da superfície da Terra e é fundamental para a existência da vida. Foi dela que todos os seres vivos surgiram, sendo impossível imaginar alguma forma de vida sem água. Praticamente 97,23% das águas do planeta são compostas de oceanos e mares, impróprias para o homem e todo o ecossistema terrestre, portanto, apenas 2,77% de água doce para ser compartilhada. Porém, 2,15%, mais de ¾ desta água é encontrada em forma de geleiras e calotas polares, restando apenas 0,62% de água disponível para o nosso consumo, quantidade encontrada nos lagos, rios, águas subterrâneas, na umidade do solo e a água que se encontra na atmosfera. Já existem problemas de estresse em ecossistemas devido à redução da disponibilidade hídrica. As atividades humanas e industriais descaracterizam e alteram as características físicas, químicas e biológicas da água, prejudicando seus usos atuais e comprometendo seu uso no futuro. Os principais poluentes das águas superficiais e subterrâneas provém de atividades bastantes diversas, como por exemplo: Oriundo dos vasos sanitários, ralos de banheiro, dos tanques de lavar roupa, das pias da cozinha. Nas cidades são gerados outros resíduos provenientes de outras atividades como: padaria, posto de combustível, restaurantes, açougues e outros. E, quando despejados em um rio, provocam na água alterações físicas, químicas e biológicas. Esgoto doméstico Efluentes industriais Sólidos em suspensão, metais pesados, compostos tóxicos, substâncias teratogênicas, microrganismos patogênicos, cancerígenos, entre outras. É importante salientar que podem ser encontradas em proporções diferentes, tanto qualitativas como quantitativas. Nas áreas agrícolas, encontramos os fertilizantes e os defensivos, e nas zonas urbanas, os resíduos urbanos, galhos, folhas, terra e areia. Ambos são arrastados pelas chuvas até os cursos d’água, poluindo e provocando o assoreamento dos rios. Drenagem de áreas agrícolas e urbanas Geração de Resíduos Sólidos Os resíduos sólidos, mais comumente denominados de lixo, correspondem a todo material proveniente das atividades diárias do homem e da sociedade. Eles podem ser encontrados nos estados sólido ou semissólido, e devem, sempre que houver viabilidade, ser reaproveitados, reutilizados ou reciclados para a fabricação de novos produtos. Todavia, na prática, a problemática ambiental gerada pelos resíduos sólios é de difícil solução. Principalmente quando se trata de países não desenvolvidos, é comum observarmos hábitos de disposição final inadequados de resíduos. Materiais sem utilidade se amontoam indiscriminada e desordenadamente, muitas vezes em locais indevidos como lotes baldios, margens de estradas, fundos de vale e margens de lagos e rios. A geração de resíduos está diretamente relacionada ao consumismo. Tudo que é fabricado ou consumido demanda recursos do planeta, por isso é preciso que se abandone a filosofia de comprar, jogar fora, comprar. A disposição indiscriminada de resíduos no solo promove, ao longo do tempo, a infiltração dos líquidos gerados na decomposição dos resíduos, aos quais se soma a fração das águas pluviais que se infiltram no solo e, nessa passagem, lixiviam esses resíduos, carreando substâncias para as camadas mais profundas e para os aquíferos subterrâneos, causando contaminação desses importantes mananciais de águas. Nos locais de disposição de resíduos orgânicos, ocorre também a geração de gás constituído, basicamente, de metano e gás carbônico, o qual limita o suprimento de oxigênio para as camadas superficiais do aterro, causando a morte da vegetação. A presença de metais nos resíduos aplicados no solo, quer na forma de despejos líquidos industriais, quer na forma de lodos, também pode inibir a reposição da vegetação. Essa situação torna-se mais grave quando tais aplicações são efetuadas em áreas agrícolas, já que alguns metais se mostram fitotóxicos e, dependendo do volume aplicado e do nível de metais resultante no solo, poderá ocorrer redução na produtividade agrícola. Além disso, certos metais podem acumular-se nas partes comestíveis das plantas, o que pode causar problemas, tornando esses alimentos impróprios para o consumo. Externalidades Ambientais O conceito de externalidades foi instituído por economistas neoclássicos, como Alfred Marshall, e refere-se aos fenômenos resultantes do impacto das ações de um agente econômico sobre o bem-estar de outros agentes econômicos que não estão diretamente relacionados a essa ação. Em outras palavras, chamamos de externalidade, quando o interesse da sociedade em relação a um resultado de mercado vai além do próprio mercado, ou seja, a externalidade existe quando o bem-estar de um indivíduo é afetado, não só pelas suas atividades de consumo como também pelas atividades de outros indivíduos. Nos processos industriais, são utilizados recursos naturais que se encontram no meio ambiente e, devido à sua execução deficiente, além do bem de consumo, são produzidos resíduos de todo tipo, que contaminam o mesmo meio ambiente. Em outras palavras, a empresa, que busca benefício privado através da exploração dos recursos naturais, bem comum de todos, e do descarte de seus resíduos pode causar um impacto no ambiente, atingindo o bem-estar de pessoas que nada têm a ver com o seu processo. O impacto ambiental, na visão econômica, é chamado de custos externos ou externalidade, pois não faz parte dos custos internos das empresas, já que estas não se consideram responsáveis pelo seu tratamento, passando a conta para sociedade geral, através contaminação do ar, do solo, dos lençóis d’água, da deterioração dos recursos naturais e do seu esgotamento. Esse conceito precisa ser mudado, pois, no momento em que as organizações assumem a conta sobre o impacto ambiental, elas irão em busca de processos mais eficientes e inovadores, pois sabem que o valor dos seus produtos será afetado diretamente, podendo inviabilizar seus negócios. Diante das externalidades, as organizações passaram a agir em três fases: controle ambiental nas saídas (controle da poluição ou tecnologias de fim-de-tubo), integraçãodo controle ambiental nas práticas e nos processos industriais (prevenção da poluição) e integração do controle ambiental na gestão administrativa (abordagem estratégica). Na primeira fase, a tecnologia implantada no final do processo produtivo irá somente conter a contaminação dentro das dependências da empresa, pois, uma vez criada, precisa ser tratada e/ou armazenada, passando a ser um passivo para a indústria que a gerou. E, por consequência, entrando nos custos que ela irá repassar ao mercado. A segunda fase é o controle ambiental integrado nas práticas e no processo produtivo, passando a ser uma função da produção, e não mais uma função de controle. Esse processo envolve a escolha de novas matérias-primas, de estudo e de desenvolvimento de novos processo e produtos, reaproveitando a energia, a reciclagem dos resíduos e a reintegração com o meio ambiente. Devido a exigências do mercado competitivo, algumas empresas resolveram integrar o controle ambiental em sua gestão administrativa. Nestes casos, a proteção ambiental passou a fazer parte da estrutura organizacional e do planejamento estratégico, gerando políticas, metas e planos de ação. As organizações estão cientes de que há vários benefícios aos que adotam atitudes de proteção ao meio ambiente, como por exemplo: a) menores gastos com matéria-prima, energia e disposição para os resíduos; b) redução ou eliminação de custos futuros decorrentes de processos de despoluição; c) menores complicações legais (eliminação das multas ambientais); d) menores custos operacionais e de manutenção; e) menores riscos, atuais e futuros, aos funcionários, público e meio ambiente e, consequentemente, menores despesas. Referências ANDRADE, Rui Otávio Bernardes; TACHIZAWA, Takeshi. Gestão socioambiental: estratégias na nova era da sustentabilidade. 2.ed. – Rio de Janeiro: Elsevier, 2012. BARBIERI, Jose Carlos. Gestão Ambiental Empresarial: Conceitos, modelos e instrumentos. Ed Saraiva. GOTTI, Isabella Alice; SOUZA Ana Cláudia Oliveira. Gestão ambiental. Londrina: Editora e Distribuidora Educacional S.A., 2017. LINS, Luiz dos Santos. Introdução à gestão ambiental empresarial: abordando economia, direito, contabilidade e auditoria. São Paulo: Atlas, 2015. PHILIPPI JR., Arlindo; ROMÉRO, Marcelo de Andrade; BRUNA, Gilda Collet. Curso de gestão ambiental. Barueri: Manole, 2004. SANTOS, Rozely Ferreira dos. Planejamento Ambiental: teoria e prática. São Paulo: Oficina de textos, 1ª Edição, 2007.
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