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76 Re vi sã o: A ba F az zi o - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 16 /0 8/ 20 16 Unidade II Unidade II 5 GERENCIAMENTO DE MUDANÇAS E CONFLITOS E A IMPORTÂNCIA DO TRABALHO EM EQUIPE NA ENFERMAGEM No mundo atual, vivemos momentos de muitas transformações, que afetam a vida das pessoas, os grupos sociais e profissionais, além das organizações de saúde. Muitas vezes, aparecem de forma imperceptível; em outras, ocorrem de maneira repentina e abrupta. Elas são inevitáveis e podem gerar conflitos. Para tanto, é fundamental que os enfermeiros conheçam as dimensões e os ciclos das mudanças e possam estar preparados para auxiliarem sua equipe nesse importante processo. 5.1 Mudanças Segundo Broca e Ferreira (2012), “mudança é sinônimo de transformação e implica rompimento de hábitos e costumes”. A mudança é a passagem de um estado para outro, de uma situação para outra, acarretando transformações e rupturas e, consequentemente, conflitos, dependendo de sua intensidade e força (CHIAVENATO, 2014). Elas podem ocorrer de forma lenta e gradativa ou de maneira abrupta, repentina e radical. Na primeira situação, as organizações e as pessoas se preparam e mudam o comportamento de forma gradativa; na segunda situação, não há tempo para esse preparo, e as pessoas necessitam se ajustar a elas, ocasionando, assim, sentimento de insegurança, revolta e conflitos. O mundo está em constante mudança, acarretando transformações nos ambientes organizacionais, no modo de vida das pessoas e nos usos e costumes, trazendo novas posturas, hábitos e comportamentos. Nas organizações de saúde, ela também ocorre e pode sofrer influências de fatores externos e internos. 5.1.1 Fatores que interferem na mudança Os fatores externos são representados pelo cenário político‑econômico, educacional e social no qual as organizações estão inseridas, e, portanto não são passíveis de controle. Exemplo: as mudanças na política externa e interna, nas legislações trabalhistas, financeiras, entre outras. A influência dos fatores externos implica mudanças dentro das organizações. Já os fatores internos, aqueles que ocorrem dentro da organização, são passíveis de controle e planejamento. São representados por mudanças na filosofia dos serviços, política de cargos e salários, além de novos modelos gerenciais. Exemplo: implantação de novos protocolos assistenciais, aquisição de novas tecnologias e tratamentos, entre outros (KURCGANT, 1991). 77 Re vi sã o: A ba F az zi o - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 16 /0 8/ 20 16 GERENCIAMENTO DE PESSOAS E SERVIÇOS NA ÁREA DA SAÚDE 5.1.2 Tipos e dimensões da mudança É importante ressaltar que as mudanças podem ocorrer em quatro dimensões da organização: estrutural; tecnológica; produtos ou serviços; e pessoas. Explicaremos cada uma delas de forma resumida e esquemática. • Mudanças estruturais: são as mudanças que ocorrem na estrutura da organização, ou seja, nos departamentos, nos serviços, nos setores, nos organogramas e nos níveis e linhas hierárquicas. As organizações de saúde podem alterar, reduzir seus níveis hierárquicos e fazer fusões com outras instituições. É o que está ocorrendo, atualmente, com vários hospitais. • Mudanças tecnológicas: são as mudanças na tecnologia, nos equipamentos, nos sistemas e nos processos de informação; isso implica e afeta os métodos de trabalho e os procedimentos assistenciais na enfermagem. • Mudanças nos produtos ou serviços: em decorrência das mudanças tecnológicas, há alterações no produto final e nos resultados dos serviços prestados. • Mudanças nas pessoas e na cultura da organização: são as mudanças comportamentais das pessoas e das equipes, que afetam suas expectativas, seus processos de comunicação e relacionamento interpessoal, e suas aspirações e condutas, prejudicando a cultura da empresa. A figura a seguir resume de forma esquemática os tipos de mudança: Desempenho organizacional melhorado Mudanças na tecnologia Novos equipamentos Novos processos de trabalho Redesenho do fluxo de trabalho Mudanças nos produtos/serviços Novos produtos Novos serviços Desenvolvimento de produtos Novos clientes Mudanças na cultura organizacional Novas atitudes, percepções, expectativas Nova mentalidade Novas habilidades e competências Novos resultados Mudanças na estrutura organizacional Redesenho da organização Mudança do formato do trabalho Nova configuração do negócio Figura 4 – Os tipos de mudança organizacional Como mencionado anteriormente, as mudanças podem acontecer em qualquer ambiente e causar impacto nas organizações e nas pessoas. Elas não ocorrem de forma isolada, mas de maneira sistemática, podendo afetar a organização e as pessoas. É preciso que as organizações se preparem para efetuar as mudanças, tornando o ambiente mais seguro e as pessoas mais participativas. 78 Re vi sã o: A ba F az zi o - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 16 /0 8/ 20 16 Unidade II Para que isso ocorra, é preciso traçar um planejamento, realizado em três etapas, propostas por Kurt Lewin – denominado de “mudança planejada” (CHIAVENATO, 2014). 1. Descongelamento do padrão atual de comportamento: os velhos hábitos, ideias e práticas devem ser “descongelados” ou abandonados e desaprendidos. Se isso não ocorrer, ou seja, se as pessoas envolvidas num processo não deixarem seus velhos hábitos e práticas, a tendência será voltar ao antigo, isto é, fazer da forma anterior. 2. Mudança: novas ideias e práticas são introduzidas, e as pessoas devem experimentar e exercitar. É importante ter um líder para conduzir, orientar e apoiar as pessoas e os grupos, despertando novos valores e comportamentos. Nessa etapa ocorrem dois processos: identificação e internalização. O primeiro significa que as pessoas ou os grupos precisam se “identificar” e desempenhar novos padrões de comportamento. Em seguida, passam para o processo de internalização, em que adotam novas práticas como parte de seu padrão normal de comportamento. 3. Recongelamento: é a terceira etapa do processo da mudança; ocorre quando as novas ideias e práticas são incorporadas de forma definitiva no comportamento e nas atitudes das pessoas e das equipes, ou seja, o que foi aprendido será integrado à prática diária das pessoas, que reconhecem a nova forma de executar seu trabalho. Os líderes ou agentes de mudança que acompanham as pessoas ou equipes precisam oferecer suporte e reforço positivo. Descongelamento Velhas ideias e práticas são derretidas, abandonadas e desaprendidas Mudança Novas ideias e práticas são exercitadas e aprendidas Identificação Internalização Suporte Reforço Recongelamento Novas ideias e práticas são incorporadas definitivamente ao comportamento Figura 5 – O processo de mudança de Kurt Lewin em três etapas Em todas as fases, é preciso ter líderes ou agentes, que possam orientar, acompanhar, corrigir e estimular para que as mudanças sejam alcançadas, aceitas e incorporadas nas atividades diárias das pessoas e das equipes. Cabe aos enfermeiros líderes essa função. Na Enfermagem, para que as mudanças tenham êxito, é importante ter programas de treinamento que envolvam todos os profissionais. Lewin também afirmou que o processo de mudanças se desenvolve em um campo de forças, as quais atuam em vários sentidos: as forças positivas dão apoio e suporte à mudança, e as forças negativas são de oposição, restringem e impedem as mudanças. Se a força positiva for maior que a negativa, a mudança acontecerá de forma efetiva, mas, se for ao contrário, a mudança será malsucedida e ela não ocorrerá. 79 Re vi sã o: A ba F az zi o - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 16 /0 8/ 20 16 GERENCIAMENTO DE PESSOAS E SERVIÇOS NA ÁREA DA SAÚDE É preciso que as forças de apoio e suporte aumentem para que as mudanças possam ocorrer. As forças positivas ou propulsoras podem ser representadas pelas necessidades dos clientes, aquisição de novastecnologias, mudanças e concorrência no mercado, exigências sociais, entre outras. As forças negativas, também denominadas de resistência ou oposição, podem ser representadas pelos hábitos e pela cultura das organizações conservadoras, pela acomodação das pessoas e dos colaboradores, entre outros. Quando há resistência para ocorrer as mudanças, as pessoas reagem e tornam‑se agressivas, apresentam medo de fatos e até de situações hipotéticas. Para vencer a resistência, é importante ouvir as pessoas a respeito de angústias, medos e inseguranças, dando suporte, orientações, informações precisas e treinamentos. 5.1.3 O processo de mudança e a Enfermagem Os enfermeiros são considerados líderes da equipe de enfermagem e estão envolvidos nos vários processos organizacionais. Devem compreender e estar preparados para que as mudanças sejam bem‑sucedidas, conduzir e orientar a equipe no processo da mudança planejada. Como mencionamos anteriormente, as organizações sofrem mudanças externas e internas, e os enfermeiros precisam estar atentos a elas para poderem acompanhar e propor melhorias no SE, além de identificar as inovações e as tendências para a melhoria da assistência relacionadas aos novos materiais, ao uso da tecnologia e aos modelos de gestão. Observação Os enfermeiros devem ser proativos e modelos no processo de mudança planejada, uma vez que são eles que impulsionam e direcionam a equipe de enfermagem. 5.2 Conflitos A palavra conflito remete a discórdia, dificuldades, desavenças, desarmonias, entre tantos outros sentimentos negativos e que afrontam a emoção das pessoas. As organizações de saúde são complexas e prestam serviço a pacientes, que geralmente estão num momento crítico da vida; por si só, isso já é um gerador de conflitos entre os pacientes, seus familiares e todas as pessoas e equipes envolvidas no atendimento e na prestação da assistência a esses pacientes. Mas, na maioria das empresas, acontecem conflitos que podem surgir de forma individual ou grupal. Para Lewis, há três categorias de conflito: intrapessoal, interpessoal e intergrupal (MARQUIS; HUSTON, 2015). 80 Re vi sã o: A ba F az zi o - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 16 /0 8/ 20 16 Unidade II O conflito intrapessoal, aquele que envolve questionamentos pessoais internos, ocorre entre duas ou mais pessoas cujos valores e opiniões são diferentes. Já o conflito intergrupal pode acontecer entre um ou mais grupos, setores ou até mesmo organizações. É importante entender como o conflito se manifesta, a começar pela sua divisão em cinco estágios (MARQUIS; HUSTON, 2015): • Primeiro estágio: conflito latente, ocorre mediante situações do trabalho, por exemplo: a falta de funcionários. • Segundo estágio: conflito percebido ou concretizado, costuma ser identificado pelo indivíduo e, muitas vezes, pode ser solucionado. • Terceiro estágio: conflito sentido, quando ele passa para a esfera emocional, gerando hostilidade, desconfiança, medo e agressividade. • Quarto estágio: conflito manifesto, quando é iniciada a ação, que pode ser retraimento, competição e até a busca de solução do conflito. • Quinto estágio ou final: consequência do conflito, pode ser mais intenso que no primeiro estágio, caso não tenha sido manejado de forma satisfatória. Os conflitos podem causar efeitos negativos relacionados: caso sejam encarados como algo destrutivo, se houver negligência, não haverá disposição para o enfrentamento da resolução ou abertura a uma “negociação”. Já os efeitos positivos são aqueles que estabelecem oportunidades de entendimento, diálogo, análise dos problemas, enfim, tornam o processo aberto à “negociação”. Existem muitas definições para a palavra ou o ato de negociar, mas de maneira geral é um processo em que ocorre a comunicação de forma bilateral e com o objetivo de se chegar a uma decisão em conjunto (CIAMPONE; KURCGANT, 2015). Os negociadores devem estar dispostos a negociar, ser proativos, ter a habilidade de se comunicar de forma adequada e clara, e ter conhecimento e domínio do que vão negociar. É importante também planejar a negociação, ou seja, ter claro qual é o problema a ser resolvido, identificar as causas, possíveis consequências e soluções, além de reconhecer quais são as pessoas envolvidas e que caminhos devem ser escolhidos para a solução. Esse é um método científico de “resolução de problemas”. Por fim, devem saber separar o problema e as pessoas, entender que a negociação é um processo “ganha‑ganha”, ou seja, buscar soluções e caminhos em que ambas as partes saiam ganhando. Não devem ter o espírito negativo ou ambicioso, isto é, somente uma parte deve “sair ganhando”. 81 Re vi sã o: A ba F az zi o - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 16 /0 8/ 20 16 GERENCIAMENTO DE PESSOAS E SERVIÇOS NA ÁREA DA SAÚDE 5.2.1 Os conflitos e a Enfermagem Como nos referimos anteriormente, as organizações de saúde são altamente complexas por serem prestadoras de serviços aos pacientes/clientes, cujo cenário é conflituoso pela demanda dos serviços e pelo estresse que se configura entre as pessoas e os profissionais. Nos serviços de enfermagem, é comum conviver com vários problemas, que geram conflitos advindos de vários fatores, entre eles: • Falta de funcionários e a sobrecarga de trabalho, gerando cansaço e estresse. • Alta demanda de informações que devem ser processadas de forma ágil e que podem levar a mal‑entendidos e falhas na comunicação, gerando conflitos. • Relacionamentos conflitantes entre profissionais, grupos e equipes causados por falta de diálogo, ordens que não são aceitas, competições etc. Há muitas causas que levam a conflitos entre as pessoas e a equipe de enfermagem, e os enfermeiros precisam reconhecê‑los antecipadamente e ter uma postura que favoreça o diálogo e a aproximação das pessoas, além de conciliar as habilidades técnicas e humanas e serem abertos à negociação. Saiba mais Para saber mais acerca de conflito, leia: GUERRA S. T., et al. O conflito no exercício gerencial do enfermeiro no âmbito hospitalar. Revista Latino‑Americana de Enfermagem, Ribeirão Preto, v. 19, n. 2, mar./abr. 2011. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/ rlae/v19n2/pt_19.pdf. Acesso em: 1º ago. 2016. CORRADI, E. M. et al. O gerenciamento de conflitos entre a equipe de enfermagem. Trabalho de Conclusão de Curso (Especialização em Gerenciamento dos Serviços de Enfermagem) – Pontifícia Universidade Católica do Paraná/PUC‑PR, 2006. Disponível em: <http://ojs.c3sl. ufpr.br/ojs/index.php/cogitare/article/viewFile/12480/8552>. Acesso em: 1º ago. 2016. 82 Re vi sã o: A ba F az zi o - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 16 /0 8/ 20 16 Unidade II 5.3 Trabalho em equipe O trabalho da enfermagem é uma atividade coletiva e compartilhada. A equipe é formada pelas categorias profissionais, entre elas: enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem. Todos têm suas atividades e responsabilidades definidas, porém estes devem estar devidamente articuladas, integradas e voltadas para atingir os mesmos objetivos. Além disso, devem propiciar um ambiente de confiança e respeito. 5.3.1 Importância e origem do trabalho em equipe Na Enfermagem está implícito que o trabalho, para ser desenvolvido com os pacientes/clientes, deve ser em conjunto com outras pessoas e profissionais. Não temos como desenvolvê‑lo sozinhos, uma vez que nos remete ao “trabalho coletivo” cujos profissionais estão envolvidos para o alcance de objetivos em comum. Como o tema trabalho em equipe é muito importante e instigante, para abordá‑lo, apresentaremos a origem dessa modalidade na saúde e na Enfermagem, bem como seus desdobramentos. Nos Estados Unidos, a partir da década de 1950, surgiu a proposta do trabalho em equipe por meio de estudos realizados por Eleanor Lambertsen, pela Universidade de Columbia, que tinha por objetivos organizar os Serviços de Enfermagem com base na utilização do pessoal de enfermagem com a máxima economiae eficácia, pois o país passava por problemas econômicos após a Segunda Guerra Mundial. A proposta de trabalho era centrada nas tarefas. No Brasil em 1966, por influência dos resultados desse trabalho, a Associação Brasileira de Enfermagem (Aben) publicou e divulgou o livro Equipe de Enfermagem: organização e funcionamento. Nessa época, a realidade brasileira também passava pela escassez de enfermeiros, e foi uma forma de estruturar e compor os serviços de enfermagem (PEDUZZI; CIAMPONE, 2015). O trabalho em equipe sofreu influência de várias teorias administrativas, mas a que deu início e ênfase a essa modalidade foi a Teoria das Relações Humanas, proposta por Elton Mayo (década de 1930), que valoriza o trabalho realizado por pessoas, uma vez que a ênfase está nas pessoas, nas suas relações e necessidades de prestígio, segurança e realização. Ao nos referimos ao trabalho na enfermagem com as suas origens, exigências e características, devemos nos remeter às responsabilidades, competências e dimensões do processo – estão envolvidas as atividades assistenciais e gerenciais. Nesse contexto, o trabalho é realizado por várias pessoas, ou seja, uma equipe de profissionais formada por enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem, conforme apresentado na Lei nº 7.498/86 (Lei do Exercício Profissional de Enfermagem). Os enfermeiros atuam em duas equipes distintas: equipe de enfermagem e equipe de saúde ou multiprofissional, formada por diversos profissionais, como médicos, nutricionistas, fisioterapeutas, psicólogos, assistentes sociais, farmacêuticos, entre outros. 83 Re vi sã o: A ba F az zi o - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 16 /0 8/ 20 16 GERENCIAMENTO DE PESSOAS E SERVIÇOS NA ÁREA DA SAÚDE 5.3.2 Definições e tipos de equipe Na literatura especializada são apresentados vários tipos de grupos e equipes, mas neste livro‑texto nos aprofundaremos em dois tipos: equipe integração e equipe agrupamento. A equipe integração destaca‑se pela articulação das atividades de trabalho e pela interação das pessoas. Já na equipe agrupamento o trabalho se caracteriza pela justaposição das ações e pelo agrupamento das pessoas (PEDUZZI; CIAMPONE, 2015). Na equipe agrupamento, como o próprio nome diz, a característica fundamental é que as pessoas estão agrupadas para a realização do trabalho, porém geralmente ocorre a divisão e as pessoas não trabalham de forma unida. Por sua vez, na equipe integração, as atividades do trabalho se evidenciam pela realização de ações bem‑articuladas e executadas por meio de uma intensa comunicação durante todo o processo do trabalho, realizado pelos profissionais para o alcance dos objetivos em comum. As principais características estão centradas, portanto, no modo como o trabalho é realizado e como se processa a interação das pessoas que fazem parte da equipe. 5.3.3 Características para o trabalho em equipe Há muitos fatores e características necessários para que um verdadeiro trabalho em equipe ocorra; apresentaremos alguns deles por considerarmos importantes. Um diferencial é a comunicação, já mencionada, que deve ser de mão dupla, ou seja, para haver uma comunicação efetiva o receptor precisa compreender a mensagem enviada pelo emissor. Esse processo, apesar de parecer simples, na prática pode conter falhas de entendimento, ou apresentar apenas o monólogo, também denominado de “mão única”; desta forma, não se caracteriza o trabalho em equipe integração (PEDUZZI; CIAMPONE, 2015). É preciso ressaltar que, além da comunicação, é necessário propiciar um ambiente onde os membros da equipe sintam‑se seguros e tenham a liberdade para expor suas opiniões e negociar, propondo novas ideias, melhorias e mudanças. O trabalho passa a ser dinâmico, envolvente, interessante, desafiador e, sobretudo, há efetiva interação dos membros da equipe. Um cuidado que devemos ter é em relação ao tamanho das equipes, pois não podem ser demasiadamente grandes. Quanto maior a equipe, mais as atividades poderão ficar dispersas, e o controle terá de ser maior, o que exigirá mais tempo para o trabalho. Atualmente, adotam‑se equipes menores para melhor execução do trabalho. É importante, para o desenvolvimento do trabalho, que a equipe esteja motivada e com sinergia, uma vez que a motivação é um fator essencial na vida profissional das pessoas. É preciso também que o trabalho em desenvolvimento tenha um significado, ou seja, qual é a “importância” que as pessoas atribuem ao seu trabalho. 84 Re vi sã o: A ba F az zi o - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 16 /0 8/ 20 16 Unidade II Para que se desenvolva um trabalho verdadeiramente em equipe, deve haver compromisso, comprometimento, respeito, responsabilidade e união entre as pessoas. Outra característica importante é que haja a coordenação/liderança das atividades por um componente da equipe, que pode ser alterado ao longo do processo. Desta forma, todos têm a competência e a responsabilidade de exercer essa importante função. Existindo um revezamento, a liderança é assumida alternadamente pelos componentes do grupo, pois todos estão aptos, preparados e não há sobrecarga de trabalho, propiciando respeito, confiança e amadurecimento da equipe. 5.3.4 O trabalho em equipe e as funções gerenciais dos enfermeiros Os enfermeiros, considerados líderes da equipe, são importantes para alavancar e direcionar o trabalho dos componentes da equipe, cabendo a eles várias funções que destacaremos a seguir: • Ser um líder democrático que estimule, inspire e direcione as condições para que exista um trabalho de equipe integração. • Construir um ambiente propício para a comunicação, o diálogo, as discussões, a negociação, além da integração e da interação das pessoas. • Estabelecer um planejamento junto à equipe, definindo: objetivos, metas, prazos, divisão e direcionamento de atividades e os resultados a serem alcançados. • Instituir um trabalho inovador, desafiador e estimulantre para a equipe. • Definir funções e responsabilidades entre os componentes da equipe. • Propiciar o revezamento de funções e responsabilidades em que todos possam participar. • Dar autonomia e favorecer um ambiente que gere confiança entre as pessoas. • Estar atento aos conflitos entre as pessoas. • Oferecer programas de treinamento para o desenvolvimento da equipe. • Valorizar, prestigiar e elogiar as competências individuais, bem como a conquista e o sucesso da equipe. • Reconhecer e reter os talentos da equipe e ter política de promoção. Esse é um assunto vasto e um dos mais importantes para os enfermeiros e sua equipe, pois a Enfermagem não trabalha de forma isolada, mas em equipe integrada. 85 Re vi sã o: A ba F az zi o - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 16 /0 8/ 20 16 GERENCIAMENTO DE PESSOAS E SERVIÇOS NA ÁREA DA SAÚDE Saiba mais Há muita literatura, estudos e interesse por pesquisas sobre esse assunto, que vem crescendo sistematicamente. Para mais informações, leia: ABREU, L. O. et al. O trabalho de equipe em Enfermagem: revisão sistemática da literatura. Revista Brasileira de Enfermagem, Brasília, v. 58, n. 2, mar./abr. 2005. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_ar ttext&pid=S0034‑71672005000200015>. Acesso em: 1º ago. 2016. 6 SUPERVISÃO EM ENFERMAGEM Uma das funções dos enfermeiros é a supervisão de todo o processo assistencial e gerencial do Serviço de Enfermagem. No passado, essa função estava voltada para a fiscalização da equipe, a fim de assegurar o cumprimento das ordens e dos regulamentos e, desta forma, imprimir as ideias e os conceitos da Teoria Científica de Taylor e da Teoria Clássica de Fayol. Atualmente, com a crescente complexidade das organizações, isso tem exigido mudança nessa visão. O enfoque da supervisão contemporânea passa a ser em um supervisor orientador, facilitador e educador dos processos assistenciais da equipe de enfermagem. Importante ressaltar que as ferramentas para uma adequada supervisãovão desde o planejamento das ações, os cronogramas, passando pelas avaliações e por um sistema eficiente, até os registros dessa importante função. 6.1 Definição, importância e principais funções A função supervisão é bem antiga; apareceu no início do século XX, na Teoria Científica de Taylor e, posteriormente, na Teoria Clássica de Fayol. A ideia central nessas duas teorias administrativas defendia que supervisionar era sinônimo de fiscalizar o trabalho de um grupo de operários. Ideias estas que transcorreram ao longo do tempo e influenciaram o modo de trabalho na enfermagem. Por muitos anos, a supervisão foi vista e desenvolvida na enfermagem nessa concepção, ou seja, fiscalizar, apontar os erros, acompanhar se algo foi ou não realizado, assegurar o cumprimento das ordens e garantir a produtividade. As mudanças mundiais nas esferas sociopolíticas e econômicas refletiram no mundo dos negócios e nas organizações e, consequentemente, nos modelos gerenciais. O enfoque e o modelo antigo de supervisão passam para modelos mais modernos, dando lugar a uma nova concepção dessa função. Nesse novo cenário, as empresas passaram a valorizar as funções administrativas, isto é, planejar, organizar, dirigir e avaliar, além do “homem na organização” como elemento fundamental para a realização e o desenvolvimento do trabalho. Dessa forma, foi preciso rever e transformar o papel da supervisão a fim de otimizar e valorizar essa função. Em decorrência dessas mudanças, a supervisão começou a preocupar‑se com o trabalho planejado, detalhado, aplicando técnicas mais atuais para liderar e envolver a equipe. O modelo antigo de supervisão 86 Re vi sã o: A ba F az zi o - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 16 /0 8/ 20 16 Unidade II que controlava de forma autoritária e centralizava as decisões deu lugar à supervisão descentralizada, preocupada em orientar e ser um facilitador no processo gerencial. O Ministério da Saúde define a função supervisão como um: processo educativo e contínuo que consiste fundamentalmente em motivar e orientar os supervisionados na execução das atividades com base em normas, para manter a qualidade dos serviços prestados (BRASIL, 1981, apud CUNHA, 2011, p. 118). Dessa forma, a supervisão passou por uma mudança de paradigma e, atualmente, é compreendida como uma atividade de organização e orientação contínua do trabalho, proporcionando maior desempenho das ações e envolvimento da equipe de trabalho. O objetivo principal da supervisão na enfermagem é acompanhar, dar suporte à assistência, estimular o desenvolvimento de um trabalho coeso e prover os recursos necessários para a prestação da assistência contínua, qualificada e segura, além de permitir um clima favorável à participação e à satisfação pessoal e profissional dos componentes da equipe. A supervisão faz parte das funções dos enfermeiros, que só poderão ser desenvolvidas sob a supervisão do enfermeiro, segundo a Lei do Exercício Profissional de Enfermagem, nº 7.498/86, nos artigos 10º e 11, relacionados ao técnico de enfermagem e ao auxiliar de enfermagem. 6.2 Principais funções da supervisão • Caracterizar a clientela/os pacientes segundo o perfil socioeconômico e suas necessidades assistenciais. • Elaborar, atualizar e fazer cumprir normas e rotinas de procedimentos, bem como protocolos assistenciais. • Adotar o modelo de assistência de enfermagem. • Planejar a assistência de enfermagem e identificar as necessidades assistenciais. • Prover e prever os recursos necessários para o desenvolvimento da assistência de enfermagem, entre eles: recursos humanos, materiais e equipamentos, recursos físicos e financeiros. • Realizar e prever o dimensionamento de pessoal e o escalonamento de profissionais para as necessidades da unidade e de cada plantão. • Identificar as necessidades de programas de treinamento e desenvolvimento de profissionais de enfermagem. • Avaliar os profissionais de enfermagem. 87 Re vi sã o: A ba F az zi o - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 16 /0 8/ 20 16 GERENCIAMENTO DE PESSOAS E SERVIÇOS NA ÁREA DA SAÚDE • Primar pela qualidade da assistência de enfermagem e de seus resultados. • Propor reuniões da equipe de enfermagem. • Manter sistemas de comunicação e informação eficazes entre a equipe de saúde e de enfermagem e os pacientes/clientes e familiares. • Participar de comissões e reuniões com enfermeiros e outros profissionais da equipe de saúde. • Proporcionar um ambiente adequado à equipe de enfermagem para a realização e o desenvolvimento das atividades assistenciais e profissionais. • Manter boa comunicação e bom relacionamento interpessoal e profissional entre as equipes de enfermagem, de saúde e demais departamentos da instituição. • Participar de comitês e pesquisas. • Estar atento a todas as mudanças e inovações que ocorrem no cenário da saúde a fim de proporcionar assistência qualificada e atualizada. • Outras atividades de acordo com a instituição, as exigências e as demandas do cargo. Como mencionado anteriormente, a supervisão faz parte do processo administrativo e gerencial dos enfermeiros e deve ser realizada seguindo um método de trabalho organizado e sistematizado, que utilize técnicas e instrumentos que possam auxiliar os enfermeiros nessa importante atividade. Segundo Cunha (2011), para o desenvolvimento das atividades da supervisão os enfermeiros podem utilizar algumas técnicas e instrumentos. Todas as atividades que fazem parte da supervisão devem ser desenvolvidas de forma sistemática e com a utilização de métodos que favoreçam esse processo. Os procedimentos mais utilizados são: observação das atividades desenvolvidas pelos profissionais e agentes envolvidos; análise de registros, relatórios, atas de reuniões e indicadores assistenciais; utilização de reuniões científicas para discussão de estudos de casos e discussões sobre novos métodos; e dinâmicas de grupo. Os instrumentos utilizados pela supervisão devem ser: prontuário do paciente; todos os documentos que integram a Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE) de cada paciente; planejamento da supervisão (diário, semanal, quinzenal, mensal, semestral e anual); cronogramas das atividades que seguem o planejamento (diário, semanal etc.); protocolos assistenciais; indicadores assistenciais; agenda de programas de treinamento e desenvolvimento de funcionários, entre outros instrumentos, de acordo com cada instituição de saúde. Por ser um processo administrativo, a supervisão deve ser planejada e segue as etapas para o seu desenvolvimento. 88 Re vi sã o: A ba F az zi o - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 16 /0 8/ 20 16 Unidade II Como apresentado anteriormente, todas as atividades administrativas passam pela primeira etapa, que é o planejamento das ações, para alcançar determinados objetivos. Na supervisão, os enfermeiros planejam todas as atividades e podem utilizar métodos que vão auxiliar nessa etapa. Inicialmente, os enfermeiros devem partir da análise de uma situação percebida que pode gerar ou não um problema ou uma situação que deve ser implantada ou aprimorada. Situações estas que podem ser resolvidas a curto, médio ou longo prazo, dependendo da urgência e da análise feita pelo supervisor. Ao coordenar e planejar as ações, os enfermeiros estabelecem os objetivos a serem alcançados, determinam o que deve ser realizado, quais pessoas estarão envolvidas, quem vai realizar e quando deverá ser feito. Sempre que possível, envolver as pessoas para que participem também do planejamento e possam emitir ideias e sugestões; isso permite a troca de opiniões e um ambiente mais democrático pelo qual fluem ideias e participação. O planejamento permite identificar as necessidades e os recursos essenciais, definir as prioridades, estabelecer metas, prazos e cronogramas de atividades, e quais as pessoas que deverão estar envolvidas e ser responsáveis pela execução das atividades. Ao planejar, devemos organizare determinar os recursos necessários, sejam eles humanos, materiais, de equipamentos ou financeiros. Os enfermeiros utilizam alguns instrumentos que vão auxiliá‑los no desenvolvimento das atividades, que podem ser o plano de supervisão ou os cronogramas. Estes são elaborados para um determinado período e dão a ideia de todas as atividades a serem executadas. É preciso prever o tempo para a execução, isto é, saber estimar o tempo que será gasto em cada atividade. Outra etapa da supervisão é a execução das atividades, que ocorre após o planejamento, a previsão e a provisão de todos os recursos. Como a própria palavra diz, é executar o que foi planejado, rever seus prazos e, por ser uma atividade realizada por pessoas e com pessoas, é preciso que os enfermeiros tenham a competência para se comunicar de forma adequada e clara, para que não ocorram mal‑entendidos e, sobretudo, promova um bom relacionamento interpessoal; isso o diferencia dos modelos antigos da supervisão autoritária. Após a execução das atividades de supervisão, os enfermeiros passam para a outra etapa, que é a avaliação do que foi planejado e dos resultados alcançados. É importante ressaltar que tal avaliação ocorre concomitantemente em todas as fases, a fim de averiguar se os recursos são suficientes e se todos entenderam o que deve ser realizado. Na etapa final, é importante avaliar a atividade de modo geral, ou seja, se os objetivos estabelecidos foram alcançados: em caso afirmativo, pode‑se passar para outra fase; em caso negativo, deve‑se rever o que dificultou ou impediu realizar. Portanto, essa é a fase de avaliar e corrigir o que deve ser realizado novamente, ou seja, replanejar as estratégias. Todas as etapas referidas devem fazer parte das atividades da supervisão, pois fornecem dados e subsídios para o aperfeiçoamento dessa importante função. 89 Re vi sã o: A ba F az zi o - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 16 /0 8/ 20 16 GERENCIAMENTO DE PESSOAS E SERVIÇOS NA ÁREA DA SAÚDE 6.3 Principais dificuldades da supervisão Devido às tensões e ao estresse gerados pelo tipo de trabalho na saúde, em especial na enfermagem, e também em decorrência de os enfermeiros estarem à frente dos processos gerenciais e assistenciais, a supervisão enfrenta algumas dificuldades nessa importante atividade, a saber: • Carência de política, estrutura e uma filosofia do SE que apoie a função gerencial e de supervisão dos enfermeiros. • Falta de planejamento das ações e dos recursos, o que leva ao uso de um método empírico, ao improviso, à perda de tempo, ao desgaste das pessoas e, muitas vezes, ao insucesso no alcance dos objetivos. • Escassez de profissionais de enfermagem, dimensionamento deficitário do quadro de pessoal na enfermagem, ausências e licenças, o que leva a prejuízos inestimáveis no planejamento assistencial e da supervisão. • Falta de recursos materiais e equipamentos: todas as atividades voltadas para a assistência precisam de materiais, medicamentos e equipamentos em quantidade e qualidade que possam oferecer assistência segura e ininterrupta, porém a sua ausência implicará prejuízos, muitas vezes, irreparáveis na assistência e no planejamento da supervisão. • Inadequação das áreas físicas: para o desenvolvimento da assistência e o fluxo de materiais e profissionais é necessário ter áreas bem‑dimensionadas e planejadas; quando inadequadas, poderão ocasionar improvisos, erros, injúrias na assistência, além de estresse ocupacional na equipe de enfermagem. • Despreparo da equipe de enfermagem: pode originar‑se do despreparo técnico, comportamental e gerencial, este, em especial, dos enfermeiros. 6.4 Principais resultados da supervisão Um trabalho desenvolvido de forma planejada, com responsabilidade e ética, leva a resultados positivos e satisfatórios para o desenvolvimento das atividades dos enfermeiros supervisores. Os principais resultados são: • Alcance dos objetivos propostos com maior agilidade, eficiência e eficácia. • Assistência aos pacientes/clientes de forma planejada, humanizada e segura, levando à satisfação destes e deseus familiares. • Ambiente adequado, diminuindo áreas de tensão e estresse nos profissionais. • Formação de equipes ou times motivados. 90 Re vi sã o: A ba F az zi o - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 16 /0 8/ 20 16 Unidade II • Desenvolvimento dos profissionais de enfermagem, colaborando com o seu crescimento pessoal e profissional, tornando‑os seguros no que fazem. • Reconhecimento profissional de todos os integrantes da equipe de enfermagem. Como já abordado, a supervisão sofreu mudanças ao longo do tempo, passando de fiscalizadora e autoritária para orientadora e facilitadora na condução dos processos e, em especial, na prestação da assistência de enfermagem. Destacamos a importância do planejamento das atividades e os resultados que uma supervisão pode trazer. Importante ressaltar que a supervisão em enfermagem não é uma função isolada, depende de múltiplos fatores abordados anteriormente, como a filosofia do SE e a importância de se estabelecer comunicação e relacionamento interpessoal eficaz, bem como proporcionar um ambiente adequado para atenuar ou reduzir o estresse e os riscos ocupacionais, entre outros fatores. 6.5 Treinamento e desenvolvimento dos profissionais de Enfermagem As instituições de saúde são organizações altamente complexas, pois o foco está no atendimento e na assistência aos pacientes com qualidade e segurança. Para uma assistência adequada e livre de qualquer erro, tornou‑se necessária a capacitação e o desenvolvimento dos profissionais de enfermagem. As organizações de saúde, em especial os Serviços de Educação Continuada na Enfermagem, são responsáveis pelos programas de treinamento e desenvolvimento da equipe de enfermagem. Programas estes que não se limitam ao treinamento técnico e comportamental, mas abrangem a valorização do capital humano, que é o incentivo dessas organizações. 6.5.1 Definição, finalidade e importância A educação tornou‑se imperativo na sociedade moderna. Hoje as pessoas buscam a formação para o seu desenvolvimento intelectual e para poderem se colocar no mercado de trabalho, porém os conhecimentos e as habilidades adquiridas não são estanques; elas precisam ser renovadas e atualizadas constantemente. De um lado, essa busca incessante deve partir dos próprios profissionais; de outro, é responsabilidade das empresas, que devem proporcionar programas educacionais para o desenvolvimento do seu quadro de colaboradores. Esse processo também passou por mudanças e teve a influência da Teoria Científica de Taylor, que prestigiava o treinamento apenas visando preparar os operários para determinadas funções, com o objetivo único e exclusivo do aumento da produção. Nos hospitais, por muitos anos, o treinamento também foi visto como um fator de capacitação dos funcionários para determinadas funções, com o intuito de reduzir erros e custos. No entanto, para abordarmos esse importante tema, precisamos compreender o significado da educação, do treinamento e do desenvolvimento profissional. 91 Re vi sã o: A ba F az zi o - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 16 /0 8/ 20 16 GERENCIAMENTO DE PESSOAS E SERVIÇOS NA ÁREA DA SAÚDE Para Chiavenato (2010), o ser humano, desde o nascimento até a morte, vive e interage com o meio ambiente, recebe informações e influências do ambiente social, normas e valores sociais e também exerce influência sobre o meio. Ele concebe as informações, as transforma, enriquece e modifica seu comportamento de acordo com seus valores pessoais. Assim, a educação pode ser desenvolvida de forma organizada e sistemática, como ocorre nas escolas e nas igrejas, ou de forma assistemática e sem um plano preestabelecido, como acontece nos lares e nos grupos sociais a que as pessoas pertencem. O termo educação tem uma dimensão muito ampla e compreende todas as formas pelas quais o indivíduo se prepara para a vida,como: social, religiosa, cultural, política, moral, profissional, entre outras. Podemos constatar que a educação se processa em vários cenários, inclusive nas organizações hospitalares, pois estas apresentam uma diversidade de ações profissionais com o objetivo de prestar assistência com qualidade e presteza, livre de erros, danos aos pacientes/clientes e riscos ocupacionais. Importante ressaltar que as organizações de saúde precisam ter políticas de recursos humanos claras de valorização do capital humano, tornando‑as possíveis na prática. Devem traçar diretrizes educacionais e investir no desenvolvimento de programas, uma vez que esse investimento será revertido para a própria instituição, com os resultados positivos assegurando uma prestação de serviço com qualidade e eficácia (CHIAVENATO, 2010). Como o tema é amplo, abordaremos a importância do treinamento e do desenvolvimento profissional no SE, que há muito tempo vem se preocupando com a capacitação da equipe devido à diversidade e à complexidade dos procedimentos de enfermagem e sua interação com os pacientes/clientes. É importante apresentarmos as diferenças entre treinamento e desenvolvimento profissional. As ações que capacitam e desenvolvem as pessoas para determinadas atividades e situações profissionais a curto prazo, com o objetivo de adquirir conhecimentos, habilidades e atitudes, bem como de desenvolver competências para determinadas funções, são classificadas como treinamento. Já o desenvolvimento profissional implica ações mais abrangentes, ou seja, ações planejadas que têm por objetivos ampliar, desenvolver e aperfeiçoar o profissional para o seu crescimento na carreira, de modo que seja realizado a médio e longo prazos, preparando‑o para assumir funções mais complexas e especializadas. O SE possui em sua estrutura o Serviço de Educação Continuada (SEC), responsável por vários processos voltados para o crescimento pessoal e profissional visando ao alcance dos objetivos institucionais e do SE. Serviço este que está preparado e engajado com os demais que compõem a estrutura da enfermagem a fim de propor, realizar e acompanhar todas as etapas educacionais. 92 Re vi sã o: A ba F az zi o - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 16 /0 8/ 20 16 Unidade II Lembrete O Serviço de Educação Continuada (SEC) deve ter estrutura adequada e recursos necessários para a execução de programas de treinamentos: salas com carteiras, mesas, lousa, equipamentos e recursos audiovisuais, além de manequins para a realização de procedimentos. 6.5.2 Etapas dos programas de treinamento Os programas de treinamento, para que tenham resultados positivos, devem ser planejados e envolvem um processo composto pelas seguintes etapas: • levantamento das necessidades; • desenvolvimento ou elaboração dos programas de treinamento; • implementação ou execução dos programas; • avaliação dos resultados. Para propor programas de treinamento e desenvolvimento, é fundamental conhecer quais são as necessidades de cada setor e as características das pessoas envolvidas, bem como fazer uma busca minuciosa de dados e um diagnóstico situacional, por isso a importância do levantamento das necessidades. As estratégias para realizar o diagnóstico situacional podem ser por análise de metas organizacionais, relatórios dos gerentes e coordenadores de enfermagem, indicadores assistenciais, reuniões com lideranças dos vários serviços, resultados de avaliações de desempenho, problemas que possam estar surgindo ou que se pretenda prevenir. Após o levantamento minucioso dos dados e o diagnóstico situacional, é importante estabelecer as prioridades, definir os objetivos e planejar as ações. O planejamento deve seguir todas as recomendações estudadas anteriormente. Apenas para relembrar, e de forma resumida, os pontos importantes do planejamento são: realizar o levantamento das necessidades ou o diagnóstico situacional, estabelecer os objetivos e os resultados que se quer alcançar, escolher as estratégias e o método para avaliar todo o processo, analisar os recursos disponíveis e necessários, sendo eles humanos, materiais, físicos e financeiros, ou seja, qual será o custo. Desenvolvimento ou elaboração dos programas é a fase posterior ao planejamento. É a construção do programa com os seguintes questionamentos: • Quem é o público‑alvo ou a quem se destina o programa de treinamento? 93 Re vi sã o: A ba F az zi o - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 16 /0 8/ 20 16 GERENCIAMENTO DE PESSOAS E SERVIÇOS NA ÁREA DA SAÚDE • Qual a sua justificativa? • Quais são os objetivos que se espera alcançar? • Qual a carga horária, o tempo de duração, os horários e o local/locais? • Quais as principais lideranças que estão envolvidas? • Quais são os recursos necessários: humanos (multiplicadores, professores, palestrantes, convidados), materiais (recursos audiovisuais, apostilas, materiais para demonstração, manequins etc.), equipamentos (equipamentos específicos, datashow, computador, entre outros), físico (ambiente/local) e custos do programa (planilhas orçamentárias). • Quais resultados o programa poderá trazer? • Quais são os conteúdos que devem ser desenvolvidos? • Quais os métodos de ensino (palestras, workshop, debates, cursos, entre outros) e avaliação (avaliações para mensurar o conhecimento: provas, debates e dinâmicas) serão utilizados? • Como será avaliado o processo? Importante considerarmos que, por se tratar de profissionais que estão no horário de trabalho, a escolha do método de ensino deve ser dinâmica e empregar metodologias mais ativas, que promovam reflexão e questionamentos, além de ser voltada para a andragogia. Observação Andragogia (do grego: andros = adulto e gogos = educar) significa “a arte e a ciência de ajudar adultos a aprender” (BELLAN, 2005). O educador alemão Alexander Kapp, em 1833, usou essa nomenclatura pela primeira vez para descrever elementos da teoria baseada em educação, de Platão. Ao elaborar o programa, este deve ser validado pelas principais lideranças e pessoas envolvidas para se certificarem de que tudo está de acordo com as propostas discutidas e voltadas para as necessidades. Em seguida, deverá ser encaminhado a instâncias superiores para análise e aprovação dos recursos necessários, dos custos e da liberação das verbas orçamentárias. Após a aprovação, é importante a divulgação dos programas para que o público‑alvo seja informado antecipadamente e possa participar. A etapa seguinte é a execução do programa de treinamento, que deve ter organização para que seja desenvolvido de acordo com o planejado, cheque o funcionamento 94 Re vi sã o: A ba F az zi o - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 16 /0 8/ 20 16 Unidade II de equipamentos, verifique se não falta nenhum recurso, e cumpra os horários para o início e o fim das aulas. Isso é importante, pois dá segurança e credibilidade aos participantes. Os locais para o desenvolvimento dos programas de treinamento podem ser as dependências do SEC, ou seja, as salas de aula, reunião e auditório. Porém, dependerá da estrutura da instituição, da disponibilidade de locais e recursos e também do tamanho dos grupos. Quando não há a disponibilidade dos recursos físicos citados, deverão ser adaptados em locais que ofereçam uma estrutura mínima; o importante é realizar os programas de treinamento com os recursos disponíveis. Os programas de treinamento devem ser no horário de trabalho dos colaboradores e contemplar todos os plantões, ou seja, plantão da manhã, da tarde e da noite. Em muitas empresas utilizar o ensino a distância por ser um excelente recurso, uma vez que se atinge um número maior de profissionais, os quais estipulam os horários para a realização. No entanto, são necessários investimento e estrutura propícia para essa modalidade. Deve ser estimulada a participação dos colaboradores de forma ativa para que se sintam bem, à vontade e motivados a aprenderem. Sempreque possível, realizar a avaliação da aprendizagem, que pode ser feita logo após as aulas, para verificar o que foi aprendido, de forma imediata ou mediata. Interessante que sejam registradas as intercorrências, se houver, bem como o número de participantes, as principais dúvidas e os resultados das avaliações. É preciso gerar relatórios dessas informações. A avaliação dos programas de treinamento tem de ser realizada frequentemente, pois é um excelente recurso e serve de base para futuros. Devem ser avaliados: se os objetivos do programa foram alcançados; quais foram os resultados das avaliações da aprendizagem, que podem ser aplicadas no decorrer ou no final dos programas de treinamento; e se houve mudança no comportamento dos colaboradores diante do que foi exposto nos programas, isto é, se houve a incorporação das novas propostas ou procedimentos. Essas avaliações também podem ser realizadas depois de certos períodos, ou seja, medindo resultados de indicadores, redução de taxas, como: infecções, erros, quedas, entre outros. Esses índices devem ser mensurados periodicamente, realizando os reforços de orientações sempre que necessário. Lembramos que, muitas vezes, há a resistência das pessoas em relação às mudanças, sendo necessário o manejo adequado da implantação de novas ideias e metodologias para o sucesso dos programas de treinamento. Segundo Peres et al. (2015), deve ser realizada a avaliação de custos, que respalda as ações dos enfermeiros do SEC. Normalmente, os administradores não aprovam certos programas devido aos custos, mas é importante documentar e – com todas as outras avaliações – apresentar os resultados de melhorias alcançadas, como diminuição de erros e iatrogenias, demonstrando que os programas de treinamento não devem ser vistos como gastos, mas como investimentos, com retornos positivos. Exemplo: diminuição de índices de erros, melhora na assistência, aumento da satisfação dos pacientes/clientes e profissionais. 95 Re vi sã o: A ba F az zi o - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 16 /0 8/ 20 16 GERENCIAMENTO DE PESSOAS E SERVIÇOS NA ÁREA DA SAÚDE Lembrete O SE deve promover programas de treinamentos para os seus profissionais, assim estará investindo no capital humano. 6.5.3 Tipos de programas de treinamento Os programas de treinamento podem ser divididos em: admissional ou de integração; e permanente ou de atualização. 6.5.3.1 Treinamento admissional ou de integração Tem por objetivo integrar o funcionário recém‑admitido ou aquele que foi promovido a outras funções ou cargos dentro da mesma instituição. A proposta é recepcionar e apresentar a organização de modo geral. O programa pode contemplar uma primeira parte, que é a apresentação da estrutura da organização: missão, valores, crenças, regimentos, estrutura organizacional, organogramas, filosofia do SE, normas, rotinas e protocolos assistenciais. A segunda parte é voltada para o treinamento teórico, pelo qual são apresentados os principais procedimentos de enfermagem, os materiais e equipamentos utilizados, os protocolos assistenciais, as normas, as rotinas e os sistemas de registros (impressos e informatizados). Já a terceira parte compreende o treinamento prático, ou seja, o desenvolvimento da prática assistencial pode ser realizado numa unidade‑piloto ou na própria unidade em que o funcionário vai trabalhar. Para essa fase, o funcionário precisa estar acompanhado por um enfermeiro que será seu “tutor”, isto é, o responsável direto por treinamento prático, orientações e acompanhamento durante o período de treinamento, além de participar das avaliações de desempenho. Os enfermeiros do SEC, geralmente, são os responsáveis pela primeira e pela segunda parte ou fase do treinamento admissional e ainda acompanham a terceira parte. São previstas a periodicidade dos treinamentos admissionais, de acordo com a contratação de funcionários no SE, e a carga horária – variável para cada instituição, serviço, categoria profissional e cargo que ocupará na instituição. 6.5.3.2 Treinamento permanente ou de atualização Destinado a todos os profissionais da equipe de enfermagem, tem por objetivos atualizá‑los, apresentar novos conceitos, procedimentos, equipamentos e materiais adquiridos para garantir, manter e aprimorar a qualidade assistencial. 96 Re vi sã o: A ba F az zi o - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 16 /0 8/ 20 16 Unidade II Os treinamentos de atualização são anuais ou semestrais e realizados conforme o planejamento do SEC. No entanto, se houver necessidades em situações não previstas, eles poderão ser antecipados. São voltados para os treinamentos técnicos que visam ao aperfeiçoamento dos procedimentos assistenciais, que, por sua vez, são voltados aos treinamentos comportamentais, ou seja, abordam a melhoria da comunicação e do relacionamento interpessoal para o atendimento mais eficaz dos pacientes/ clientes e familiares, além de uma ótima interação dos componentes da equipe de saúde e enfermagem. Os programas podem ser realizados com foco numa determinada categoria profissional – nível médio, técnicos e auxiliares de enfermagem, ou nos próprios enfermeiros. 6.5.4 Programas de desenvolvimento profissional As organizações de saúde realizam o planejamento estratégico, geralmente relacionado a ampliações, à construção de novos prédios e à aquisição de tecnologia, e o planejamento estratégico educacional. De acordo com o crescimento da instituição, haverá a necessidade de mais profissionais de enfermagem. É interessante fazer uma projeção de quantas e quais categorias profissionais serão necessárias. Havendo esse estudo, pode‑se investir nos funcionários existentes na instituição, proporcionando cursos de nível técnico, graduação e pós‑graduação de Enfermagem. As avaliações de desempenho revelam os profissionais que têm potencial e destacam os talentos que a instituição possui. Esses investimentos podem ser por meio de bolsas de estudos como forma de incentivo e retenção de talentos. Algumas organizações de saúde fazem parcerias com órgãos formadores, que oferecem cursos técnicos de enfermagem (de graduação ou de pós‑graduação); outras montam seus próprios cursos. Outras estratégias para o desenvolvimento profissional são a realização, a participação e o investimento em palestras, cursos e eventos científicos, como jornadas científicas, congressos, visitas técnicas e estágios. Caberá ao SEC realizar o planejamento para o desenvolvimento dessas estratégias mencionadas juntamente com os enfermeiros gestores e líderes. 6.5.5 Resultados dos programas de treinamento e desenvolvimento profissional São vários os resultados, mas podemos destacar os principais: • Capacita e desenvolve os profissionais de enfermagem, tornando‑os mais confiantes e preparados. • Reduz erros e iatrogenias. • Melhora a assistência de enfermagem prestada aos pacientes. 97 Re vi sã o: A ba F az zi o - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 16 /0 8/ 20 16 GERENCIAMENTO DE PESSOAS E SERVIÇOS NA ÁREA DA SAÚDE • Favorece a comunicação e o relacionamento interpessoal. • Proporciona maior satisfação e confiança dos serviços prestados aos pacientes/clientes e familiares. • Reconhece os integrantes da equipe de enfermagem por meio de maior participação e motivação. • Melhora a imagem das organizações de saúde e fideliza os clientes. Com os programas de treinamento organizados pelo SEC, os resultados vão além dos citados anteriormente, a saber: elaboração de manuais de orientação para pacientes/clientes, protocolos assistenciais, aumento da produção científica, elaboração e apresentação de trabalhos científicos e pesquisas em eventos científicos, capítulos de livros e livros científicos, premiações e reconhecimento da sociedade. 7 DIMENSIONAMENTO DE PESSOAL Esse tema tem merecido muita atenção dos enfermeiros e gestores dos serviços de saúde. É fato que o déficit de profissionais de enfermagem se dá em todos os âmbitos dasaúde devido a inúmeras situações, entre elas, desconhecimento de métodos e utilização de parâmetros empíricos. O Conselho Federal de Enfermagem (Cofen) propõe a Resolução nº 293/2004, que “estabelece parâmetros para o dimensionamento do quadro de profissionais de enfermagem nas unidades assistenciais das instituições de saúde e assemelhados”. Há muitos estudos e pesquisas que vêm contribuindo para o dimensionamento da equipe de enfermagem. 7.1 Definição e importância A prestação da assistência de enfermagem pressupõe que deve ser livre de qualquer dano aos pacientes, mas dependerá de vários fatores para que seja prestada assistência com qualidade, de excelência e segura. Neste livro‑texto foram apresentados os elementos essenciais para que isso possa ser alcançado e o papel fundamental dos enfermeiros nesse contexto. Um dos aspectos fundamentais para que a assistência de enfermagem possa transcorrer de forma adequada e segura é proporcionar um quantitativo de profissionais adequado, além de considerar a qualificação da equipe, ou seja, de acordo com as categorias previstas na Lei nº 7.498/86, entre elas: enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem. Segundo Kurcgant (1991), dimensionar o pessoal de enfermagem é a etapa inicial do processo de provimento de pessoal e tem por finalidade a previsão da quantidade de funcionários por categoria, requerida para atender, direta ou indiretamente, as necessidades de assistência de enfermagem para a clientela. Um dimensionamento inadequado de pessoal vai interferir diretamente na qualidade assistencial, podendo levar a erros (iatrogenias) e riscos ocupacionais da equipe de enfermagem, como acompanhamos diariamente. 98 Re vi sã o: A ba F az zi o - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 16 /0 8/ 20 16 Unidade II Vários estudos e pesquisas auxiliaram e embasaram o trabalho dos enfermeiros na realização do dimensionamento dos profissionais, adequando‑os ao SE competente. É importante ressaltar que devem ser considerados os estudos sobre o Sistema de Classificação de Pacientes (SCP) que, segundo Giovannetti (1979), é a identificação e a classificação de pacientes em grupos de cuidados ou categorias, além da quantificação dessas categorias como uma medida de esforços de enfermagem requerida. Sistema de Classificação de Pacientes (SCP) pode ser entendido como uma forma de determinar o grau de dependência de um paciente em relação à equipe de enfermagem, objetivando estabelecer o tempo despendido no cuidado direto e indireto, bem como o quantitativo de pessoal para atender às necessidades biopsicossocioespirituais do paciente” (GAIDZINSKI, 1994). Há muitos estudos que abordam sobre o SCP; dentre eles, Perroca e Gaidzinski (1996) construíram e validaram um instrumento de classificação de pacientes, com base nas NHB propostas por Wanda de Aguiar Horta. Saiba mais Leia o artigo científico das autoras Perroca e Gaidzinski, para a compreensão do SCP, com base nas Necessidades Humanas Básicas (NHB): PERROCA, M. G.; GAIDZINSKI, R. R. Sistema de classificação de pacientes: construção e validação de um instrumento. Revista da Escola de Enfermagem da USP, São Paulo, v. 32, n. 2, p. 153‑168, ago. 1996. É preciso a aplicação de um método seguro que permita direcionar, organizar e fundamentar o cálculo de profissionais de enfermagem, considerando tanto o número total de profissionais quanto a porcentagem por categorias profissionais conforme sua formação, ou seja, profissionais de nível superior (enfermeiros) e nível médio (técnicos e auxiliares de enfermagem). A Resolução Cofen nº 293/2004 “fixa e estabelece parâmetros para dimensionar o quadro de profissionais de enfermagem para as unidades assistenciais nas instituições de saúde e assemelhados”. Também recomenda o Sistema de Classificação de Pacientes (SCP), apresentado por Fugulin (2002), que propõe a classificação de acordo com o grau de dependência dos pacientes em relação à assistência de enfermagem. A seguir apresentamos o quadro que representa os tipos de cuidados e a descrição do paciente/cliente: 99 Re vi sã o: A ba F az zi o - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 16 /0 8/ 20 16 GERENCIAMENTO DE PESSOAS E SERVIÇOS NA ÁREA DA SAÚDE Quadro 3 – Tipos de cuidados e a descrição do paciente/cliente Tipo de cuidado Descrição do paciente/cliente Cuidados mínimos • Paciente estável sob os pontos de vista clínico e de enfermagem • Autossuficientes quanto ao atendimento das Necessidades Humanas Básicas (NHB) Cuidados intermediários • Paciente estável sob os pontos de vista clínico e de enfermagem • Requer avaliações médicas e de enfermagem • Com parcial dependência dos profissionais de enfermagem para o atendimento das NHB Cuidados semi‑intensivos • Paciente recuperável, sem risco iminente de vida, passível de instabilidade das funções vitais • Requer avaliações e assistências médica e de enfermagem permanentes e especializadas Cuidados de alta dependência • Paciente crônico, que requeira avaliações médicas e de enfermagem • Estável sob o ponto de vista clínico • Total dependência das ações de enfermagem quanto ao atendimento das NHB Cuidados intensivos • Paciente grave e recuperável • Com risco iminente de vida • Sujeito à instabilidade das funções vitais • Requer avaliações e assistências médica e de enfermagem permanentes e especializadas Fonte: Fugulin (2002). Conforme o quadro anterior, Fugulin (2002) apresenta os cinco tipos de cuidados: mínimos, intermediários, semi‑intensivos, de alta dependência e intensivos. Essa classificação leva em conta as características dos pacientes conforme a necessidade de avaliações médica e de enfermeiros, além de classificar de acordo com a dependência da enfermagem no atendimento das NHB. Foram realizados vários estudos sobre o tempo dispensado para os cuidados de enfermagem, o que é muito complexo, uma vez que ele pode diferir de uma instituição para outra. A Resolução Cofen nº 293/2004 indica os parâmetros das horas mínimas de assistência de enfermagem para cada tipo de cuidado, ou seja, para efeito de cálculo, devem ser consideradas como horas de enfermagem, por leito, nas 24 horas. Porém, não foram levadas em consideração as horas para os cuidados de alta dependência; essa Resolução recomenda que, para os pacientes crônicos com idade superior a 60 anos e sem acompanhante, deve ser considerado cuidado intermediário ou cuidado semi‑intensivo, havendo acréscimo de 0,5 hora de assistência ao tempo total para essas categorias de cuidado. Para berçário e unidade de internação em pediatria, caso não tenha acompanhante, a criança menor de 6 anos e o recém‑nascido devem ser classificados com necessidades de cuidados intermediários. 100 Re vi sã o: A ba F az zi o - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 16 /0 8/ 20 16 Unidade II Quadro 4 – Qualificação dos profissionais conforme categorias na Enfermagem Tipo de cuidado Horas de enf./24h Porcentagem de enfermeiros Porcentagem de téc./aux. de enfermagem Cuidados mínimos 3,8 horas 33% a 37% 67% a 63% Cuidados intermediários 5,6 horas 33% a 37% 67% a 63% Cuidados semi‑intensivos 9,4 horas 42% a 46% 58% a 54% Cuidados intensivos 17,9 horas 52% a 56% 48% a 44% 7.2 Aplicação do cálculo de profissionais de Enfermagem Para realizar o cálculo do dimensionamento de profissionais de enfermagem, são propostos alguns métodos. Assim, demostraremos a fórmula para o cálculo de pessoal de enfermagem, proposto por Fugulin (2002), também recomendado pela Resolução Cofen nº 293/2004. Os cálculos serão apresentados em duas etapas. A primeira etapa refere‑se ao quantitativo de profissionais de enfermagem nas 24 horas. A segunda etapa diz respeito à qualificação dos profissionais de enfermagem. 7.2.1 Primeira etapa – fórmula para o cálculo do quantitativo de profissionais de enfermagem Nº de leitos x Horas de enfermagem x Dias da semana ______________________________________________________+ ISTJornada de trabalho semanal • Número de leitos: quantidade de leitos que a unidade possui. • Horas de enfermagem: de acordo com o tipo de cuidados (mínimos, intermediários, semi‑intensivos e intensivos). • Dias da semana: sete dias semanais. • Jornada de trabalho semanal: número de horas de trabalho semanal. • Índice de Segurança Técnica (IST): deve ser igual ou superior a 15%. Importante entender para aplicar a fórmula: • Número de leitos: compreende o número total da unidade a ser estudada. • Horas de enfermagem: devem ser considerados o tipo de paciente e as horas correspondentes de enfermagem nas 24 horas. 101 Re vi sã o: A ba F az zi o - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 16 /0 8/ 20 16 GERENCIAMENTO DE PESSOAS E SERVIÇOS NA ÁREA DA SAÚDE • Dias da semana: refere‑se aos dias da semana = sete dias. • Jornada semanal de trabalho: corresponde às horas semanais trabalhadas de acordo com o contrato de trabalho. • IST: corresponde ao Índice de Segurança Técnica, mencionado na legislação, para as ausências previstas e não previstas de funcionários. Deve ser, no mínimo, de 15%. O resultado do cálculo da primeira etapa é considerado para as 24 horas do dia, e esse quantitativo deverá ser distribuído nos plantões da manhã, da tarde e da noite. 7.2.2 Segunda etapa – fórmula para o cálculo da qualificação dos profissionais de enfermagem Após realizar o cálculo do quantitativo de profissionais de enfermagem (primeira etapa), deverá ser calculada tanto a porcentagem que corresponde aos enfermeiros como a porcentagem que corresponde aos técnicos/auxiliares de enfermagem. De forma prática, após obter o cálculo do número total de funcionários de enfermagem, devem‑se calcular as porcentagens referentes aos enfermeiros e técnicos/auxiliares de enfermagem. Os profissionais, de acordo com as categorias, devem ser distribuídos nas 24 horas nos plantões da manhã, da tarde e da noite. 7.3 Outros fatores que devem ser considerados no dimensionamento de pessoal Importante ressaltar que os enfermeiros devem considerar, além dos cálculos apresentados, outros fatores importantes, dentre eles: • caracterização da clientela; • modelo gerencial; • métodos de trabalho; • perfil dos profissionais de enfermagem; • indicadores de avaliação de qualidade de assistência. 7.4 Principais resultados Os enfermeiros devem utilizar métodos seguros e atualizados para o dimensionamento de profissionais de enfermagem, além de analisar outros fatores que interferem na qualidade e na prestação da assistência de enfermagem. 102 Re vi sã o: A ba F az zi o - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 16 /0 8/ 20 16 Unidade II O dimensionamento de pessoal é um estudo muito importante que permite apresentar e negociar com outros dirigentes da instituição de forma científica e eficaz. Os enfermeiros devem avaliar constantemente os resultados assistenciais e aplicar outras ferramentas – apresentadas ao longo deste livro‑texto –, que os auxiliarão na tomada de decisão. Os principais resultados são direcionados à qualidade da assistência de enfermagem prestada aos pacientes/clientes; a toda a equipe de enfermagem, pois garante um quantitativo mínimo para prestar assistência nas 24 horas, diminuindo riscos ocupacionais; e, finalmente, às instituições de saúde, que ganham prestígio conforme os índices favoráveis de desempenho no trabalho realizado pelos componentes do SE. 7.5 Escala de pessoal dos profissionais de Enfermagem Segundo a Lei nº 7.498/86, cabe privativamente aos enfermeiros: “o planejamento e a programação das instituições e serviços de saúde, incluindo o planejamento, a organização, a coordenação, a execução, a programação e a avaliação dos serviços de enfermagem” (BRASIL, 1986). No planejamento, após a realização do dimensionamento de pessoal, caberá aos enfermeiros elaborar a escala de pessoal, ou seja, a previsão e a distribuição dos profissionais de enfermagem, de acordo com a categoria profissional nas 24 horas e nos setores que compõem o SE. As escalas podem ser anual ou de férias, mensal e diária. 7.5.1 Definição, importância e tipos de escala A Enfermagem é uma profissão que presta serviços ininterruptos, ou seja, 24 horas diárias. Para tanto, faz‑se necessária a distribuição dos profissionais com a finalidade de proporcionar assistência de enfermagem aos pacientes/clientes de forma segura e contínua. Após a realização do dimensionamento dos profissionais de enfermagem, os enfermeiros do SE devem realizar a distribuição dos colaboradores, que é feita mediante escalonamento mensal, anual ou diário. Compete aos enfermeiros a sua elaboração, de acordo com a Lei nº 7.498/86. A importância e as principais finalidades das escalas: • Assegurar assistência de enfermagem prestada com qualidade, de forma ininterrupta e segura. • Visualizar o grupo profissional, verificar presença e outras anotações. • Otimizar os recursos humanos disponíveis. • Equilibrar a distribuição de tarefas e atividades entre os componentes da equipe. • Documentar a jornada de trabalho e a execução das atividades assistenciais. 103 Re vi sã o: A ba F az zi o - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 16 /0 8/ 20 16 GERENCIAMENTO DE PESSOAS E SERVIÇOS NA ÁREA DA SAÚDE • Possibilitar o revezamento em feriados e domingos. • Fornecer dados aos diversos serviços da instituição, como: setor de Recursos Humanos, diversas unidades do SE, diretorias, entre outros. • Servir de documentação legal aos diversos órgãos competentes, por exemplo, o Coren. 7.5.1.1 Escala mensal A escala mensal, também conhecida por escala de pessoal ou de folgas, refere‑se à distribuição dos profissionais de enfermagem de uma unidade, durante todos os dias de um determinado mês, conforme plantões ou turnos de trabalho (manhã, tarde e noite). Na escala, são indicadas as folgas, as férias e as licenças de cada componente da equipe (MASSAROLO, 1991). É feito o planejamento do número suficiente de profissionais de cada categoria para a realização da assistência de enfermagem prestada durante as 24 horas. Como mencionado anteriormente, a responsabilidade pela elaboração é dos enfermeiros, porém poderá ser delegada ao técnico de enfermagem, sob supervisão dos enfermeiros. Pontos a serem considerados na escala mensal: • Conhecer as leis trabalhistas, ou seja, a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT): — Os funcionários podem trabalhar até 8 horas/dia, com jornada semanal de 44 horas/semana. — A jornada diária pode chegar, no máximo, a 10 horas/dia. — Ter, no mínimo, uma folga remunerada de 24 horas/semana de acordo com a sua jornada semanal, de preferência no domingo, exceto quando a atividade profissional exigir trabalho aos domingos; neste caso, deverá ter, no mínimo, um domingo a cada sete semanas. — Entre uma jornada e outra deve‑se ter um intervalo, no mínimo, de 11 horas consecutivas. — Incluir as folgas referentes aos feriados civis e religiosos, além dos domingos. — O trabalho noturno corresponde às horas trabalhadas no período das 22 horas até as 5 horas, portanto, 7 horas noturnas representam 8 horas diurnas. — A mulher que amamenta tem direito a dois descansos de meia hora cada até que seu filho complete seis meses de idade. — Para jornadas maiores de 6 horas/dia, é necessário 1 hora, no mínimo, e 2 horas, no máximo, de descanso para repouso ou alimentação. 104 Re vi sã o: A ba F az zi o - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 16 /0 8/ 20 16 Unidade II — Para jornadas maiores de 4 horas/dia e que não ultrapassem 6 horas/dia, é obrigatório um intervalo de 15 minutos. — Esses intervalos não são computados na jornada de trabalho. — Direitos de licenças: maternidade, paternidade, falecimento de entes familiares e médica. — A jornada semanal pode variar de acordo com o contrato: na enfermagem, por meio de acordo sindical, a maioria das jornadas é de 30 a 36 horas semanais (período diurno) e 12 x 36 horas (período noturno). • Conhecerregulamentos da instituição e contratos realizados: — Os enfermeiros devem conhecer os regulamentos, as normas disponíveis na instituição e os contratos de trabalho, que são assinados pelos colaboradores para a elaboração das escalas. Neles estão declaradas a jornada de trabalho semanal, que pode ser de 20, 30, 36, 40, 42 e 44 horas semanais. • Conhecer as características da clientela e o método assistencial: — Características socioeconômicas dos pacientes. — Necessidades assistenciais de acordo com os tipos de cuidados, apresentados anteriormente. — Formação e competências, bem como limitações dos funcionários da equipe de enfermagem. — Disponibilidade de colaboradores, ou seja, prever licenças e contratações a serem realizadas. — Métodos assistencial e de trabalho adotados nas unidades e no SE. • Cuidados na elaboração das escalas: — Envolver os profissionais e democratizar a elaboração das escalas: diária, mensal e anual, como forma de respeitar e humanizar esse processo. — Comunicar com antecedência as necessidades para as trocas em virtude de intercorrências e necessidades. — Dialogar e negociar, caso os funcionários desejem folgas no mesmo dia ou férias no mesmo mês. — Escalas devem estar em lugar visível e ao alcance de todos. — Distribuição das folgas equitativa e equilibrada, permitindo um número de funcionários adequado para garantir a assistência necessária nas 24 horas. 105 Re vi sã o: A ba F az zi o - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 16 /0 8/ 20 16 GERENCIAMENTO DE PESSOAS E SERVIÇOS NA ÁREA DA SAÚDE • Ausências previstas amparadas por lei (não se considera falta injustificada): — Um dia (a cada 12 meses de trabalho): em caso de doação voluntária de sangue, devidamente comprovada. — Licença‑nojo: falecimento de cônjuge, ascendentes, descendentes, irmão ou pessoa com comprovada relação de dependência: – servidores públicos: até 8 dias; – celetistas: 2 dias. — Até 2 dias, consecutivos ou não, para alistamento eleitoral nos termos da lei. — De 3 a 5 dias: licença‑gala (casamento). — Licença‑maternidade: – servidoras públicas: 180 dias; – celetistas: 120 a 180 dias. — Licença‑paternidade: – servidores públicos: de 5 a 20 dias; – celetistas: de 5 a 20 dias. — Licença‑saúde: – até 15 dias: em caso de doença devidamente comprovada, mediante atestado médico. – acima de 15 dias: encaminhamento ao INSS. – 15 dias: em caso de aborto legal. 7.5.1.2 Escala diária O objetivo é a distribuição dos pacientes entre os funcionários escalados em cada plantão, de modo que não sobrecarregue determinados funcionários. Essa divisão pode ser de acordo com os métodos e os modelos assistenciais apresentados: métodos funcional, integral e por trabalho em equipe. Essa escala deve ser realizada pelos enfermeiros, com a participação da equipe de enfermagem, de forma a democratizá‑la. 106 Re vi sã o: A ba F az zi o - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 16 /0 8/ 20 16 Unidade II 7.5.1.3 Escala anual ou de férias Todos os funcionários têm direito de ter férias de 30 dias, anualmente. Os enfermeiros devem conhecer a CLT e manter sistemas de controle, mas cabe ao Departamento de Recursos Humanos fornecer os dados para esse escalonamento. O objetivo é distribuir as férias dos colaboradores numa planilha para que todos os envolvidos possam acompanhar, possibilitando aos enfermeiros a organização e o planejamento do trabalho. É importante que os enfermeiros permitam a divulgação antecipada com a finalidade de os envolvidos planejarem sua vida pessoal, além de manterem reciprocidade na comunicação para eventuais alterações, intercorrências e necessidades dos colaboradores. Sobre escala de férias: • Deve ser justa, imparcial e distribuída racionalmente. • Sugerir que os funcionários coloquem suas preferências com a justificativa. • Verificar sempre o período das últimas férias gozadas. • Adaptar a escala de férias de acordo com a dinâmica da unidade. • Seguir a legislação. • A cada período de 12 meses de vigência de contrato de trabalho, o funcionário terá direito a férias de: — 30 dias (até 5 faltas); — 24 dias (de 6 a 14 faltas); — 18 dias (de 15 a 23 faltas); — 12 dias (de 24 a 32 faltas). As escalas diária, mensal e anual são realizadas pelos enfermeiros, que devem ancorar‑se na CLT e nos regulamentos institucionais, além de manter um processo dinâmico e democrático, tornando‑as uma atividade planejada a fim de garantir a continuidade da assistência e uma distribuição justa e equilibrada para a equipe de enfermagem. 107 Re vi sã o: A ba F az zi o - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 16 /0 8/ 20 16 GERENCIAMENTO DE PESSOAS E SERVIÇOS NA ÁREA DA SAÚDE 8 GERENCIAMENTO DE RECURSOS MATERIAIS, FÍSICOS E AMBIENTAIS – FUNÇÕES DOS ENFERMEIROS O gerenciamento dos recursos materiais é extremamente relevante para proporcionar uma assistência aos pacientes de forma segura e contínua, de maneira que não haja interrupções na qualidade. No entanto, é necessário o planejamento desses recursos, e compete aos enfermeiros essa importante função. A gestão de materiais vai muito além de prover, prever e organizar; é preciso avaliar a clientela à qual se destina a assistência, seu perfil, sua idade, a complexidade do tratamento e o uso de tecnologia. É preciso inovar e estar atualizado com o que há de melhor no mercado, avaliando também custos e benefícios. 8.1 Gerenciamento de recursos materiais Como nos referimos anteriormente, as mudanças ocorrem de forma acentuada no mundo, e isso afeta diretamente vários segmentos, entre eles, o da saúde. Do mesmo modo são as mudanças nos tratamentos, nos procedimentos invasivos e cirúrgicos e nos avanços tecnológicos que levam à necessidade da utilização de novos materiais e equipamentos para dar suporte à complexidade assistencial. A prestação da assistência aos pacientes está cada vez mais complexa, exigindo recursos humanos, financeiros e materiais adequados para suprir as condições impostas e as especificidades da assistência. Isso exige sistemas mais complexos e seguros das organizações de saúde para a administração de materiais. O gerenciamento dos recursos materiais nas instituições de saúde é complexo e requer sistemas seguros, que possibilitem, de um lado, acompanhar as inovações do mercado; de outro, garantir a assistência contínua, sem que sofra interrupções pela falta de algum material. Deve também proporcionar a assistência com qualidade e segura. A administração de recursos materiais tem sido uma preocupação nas instituições públicas e privadas de saúde devido aos seus altos custos, pois representa 75% do capital das organizações, daí a importância de administrá‑los e ter sistemas de controle dos custos eficazes (CASTILHO; LEITE, 1991). Vale ressaltar que para a prestação da assistência existe uma infinidade de materiais, diversidades e especificações. Assim, são verificadas quais suas finalidades, como são utilizados, se são descartáveis ou permanentes, quais os processos de desinfecção e esterilização, quais os tipos de embalagens e armazenamentos, qual é consumo, processos de compra, entre tantas outras exigências e especificações. Para tanto, são necessários serviços e profissionais especializados nesse tema. 8.1.1 Importância, finalidade e funções Como mencionado há pouco, os materiais representam 75% do capital das organizações e um custo na ordem de 30% a 45% das despesas das instituições de saúde, desta forma, é uma grande responsabilidade gerenciá‑los levando em consideração vários fatores inerentes à assistência dos pacientes (CASTILHO; LEITE, 1991). 108 Re vi sã o: A ba F az zi o - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 16 /0 8/ 20 16 Unidade II A responsabilidade pelo gerenciamento de materiais nas instituições hospitalares está vinculada à área administrativa, que implica serviços de compra e almoxarifado. Como esses departamentos são constituídos por pessoas não especializadas na área da saúde,
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