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Material Didático Planejamento na Educação Infantil 2 UNIDADE 1 O que é planejamento? A organização do trabalho pedagógico Professora Aluah Bianchi Wojciechowski O que é planejar? O ato de planejar é inerente ao ser humano. Se pararmos para refletir, constataremos que o planejamento está presente no cotidiano das pessoas: o que vamos fazer no jantar hoje? Quais são os planos para o final de semana? Para onde vou viajar nas próximas férias? Quando terei o primeiro filho? Nosso dia a dia é feito de pequenos e grandes planos e para executá-los é necessário que haja reflexão do que se quer realmente atingir e que sejam traçados os caminhos possíveis para seguir. Sem planejamento prévio dificilmente chega-se ao objetivo. Na vida profissional do professor, o planejamento não é menos importante. Ao contrário de alguns temas educacionais que são alvo de numerosa pesquisa e grandes contribuições dos mais diversos autores, o tema Planejamento Escolar, não costuma ser tratado como prioridade, há pouca produção específica acerca do assunto que é bastante complexo e gera muitas controvérsias. Vasconcellos (2002, p.35) trata o conceito de planejar seguindo a definição: planejar é antecipar mentalmente uma ação a ser realizada e agir de acordo com o previsto; é buscar fazer algo incrível, essencialmente humano: o real ser comandado pelo ideal. Desta forma, é possível constatar que planejar possibilita que se chegue mais próximo de se concretizar o que se deseja, consegue-se interferir na realidade de uma forma intencional e elaborada. Professores, em geral, de qualquer nível de ensino, sentem dúvida em relação à verdadeira função do planejamento escolar e a forma como é colocado em ação. Muitas vezes o planejamento acaba se tornando mais um documento burocrático, o qual dá bastante trabalho ao professor e/ou à equipe que planeja e depois é abandonado em uma gaveta, sem ser seguido, acompanhado ou ao menos revisitado. Por isso, não há empenho por parte do professor ao elaborá-lo. Por que isso acontece? Muitas vezes o planejamento, isto é, a teoria elaborada e escrita para nortear o professor em seu trabalho, não vem ao encontro do que sua escola, sua sala de aula e seus alunos realmente necessitam. Há uma distância entre teoria e prática, e a falta de flexibilização do planejamento faz com que o professor se desmotive em utilizá-lo e não perceba sua real importância. Um dos grandes desafios da instituição ou do sujeito é justamente chegar a uma ação que seja eficaz, chegar a uma ação que seja eficaz, inovadora (tendo como referência um projeto de emancipação humana). Reiteramos: ações, práticas temos o tempo todo; o que nos interessa enquanto instituição é chegar a uma ação qualificada: ação transformadora. (Vasconcellos, 2002, p.43). Para chegar a essa ação transformadora, proposta por Vasconcellos (2002) tem-se que, primeiramente, pensar em mudar, sentir o desconforto com o tradicional, com o “de sempre” e agir em direção às modificações desejadas. Vincular a teoria à prática, pois não basta planejar, ou seja, teorizar, para acontecer, as ideias planejadas têm que interferir na realidade para se tornarem concretas. O planejamento só terá valor quando houver reflexão por parte do professor sobre o que realmente favorecerá a sua turma como um todo e cada um de seus alunos em suas singularidades. Ao elaborar o planejamento deve-se pensar em primeira instância sobre as observações já realizadas em sala e as metas em relação aos educandos. Assim, o processo de planejamento pode ser de grande valia, na medida em que busca ressignificar, orientar e dinamizar o trabalho (Vasconcellos, 2002, p.63). Dmytro Zinkevych/Shutterstock 3 Planejamento a longo, médio e curto prazo Toda escola deve ter seu projeto político-pedagógico, no qual devem constar os princípios valorizados pela escola, nortear o trabalho da equipe e colaborar para que os objetivos sejam atingidos, revelando assim suas principais intenções enquanto instituição. O Caderno Pedagógico elaborado pela Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro, intitulado Planejamento na Educação Infantil (Volume 1, 2011), relata que no projeto político-pedagógico devem constar os objetivos a longo, médio e curto prazo e são estes que irão fundamentar os planejamentos. Ainda de acordo com o Caderno Pedagógico citado, há questionamentos que podem auxiliar na elaboração do planejamento seguindo os três níveis- que serão abordados também em momento posterior- nos quais pode ser dividido: • Planejamento a longo prazo Quais são as nossas intenções relativas ao que esperamos disponibilizar para as crianças, ao longo da sua permanência na Educação Infantil? Qual é nossa meta e qual o currículo previsto no PPP? Como relacioná-los com as políticas nacionais e locais? • Planejamento a médio prazo Quais são as nossas intenções relativas à progressão das experiências que esperamos que as crianças obtenham ao longo da Educação Infantil? Qual a diferença e a relação entre o que oferecemos para as crianças nas suas diferentes idades ao longo do ano? • Planejamento a curto prazo Quais são as nossas intenções relativas ao cotidiano das crianças em nossa turma? O que observamos e registramos cotidianamente, de maneira a subsidiar o planejamento diário? Para que haja uma efetiva ação transformadora é necessário que os níveis de planejamento se encontrem e se complementem, a ideia é que ocorra uma interdependência entre os mesmos, tornando cíclico o processo. Espaço e tempo ao planejar O ato de planejar deverá considerar o espaço e o tempo em que ocorrerão as atividades, sendo estes dois critérios decisivos para uma prática assertiva e de qualidade. Segundo os Referenciais Curriculares Nacionais (1998, vol1, p.58): isso implica que, para cada trabalho realizado com as crianças, deve-se planejar a forma mais adequada de organizar o mobiliário dentro da sala, assim como introduzir materiais específicos para a montagem de ambientes novos, ligado aos projetos em curso. Na Educação Infantil pensar em espaço e tempo nos abre possibilidades, pois é uma fase em que a expressão por meio das diferentes linguagens e a criatividade devem fazer-se presentes. Além de garantir que os direitos das crianças sejam respeitados, pois o tempo para que a criança desenvolva-se de maneira global – sem valorizar apenas um aspecto e negligenciar outro – deve ser bem planejado: Para dispor de tais atividades no tempo é fundamental organizá-las tendo presentes as necessidades biológicas das crianças como as relacionadas ao repouso, à alimentação, à higiene, e à sua faixa etária; as necessidades psicológicas que se referem às diferenças individuais como, por exemplo, o tempo e o ritmo que cada uma necessita para realizar as tarefas propostas; as necessidades sociais e históricas que dizem respeito à cultura e ao estilo de vida, como as comemorações significativas para a comunidade onde se insere a escola e também as formas de organização institucional da escola infantil. (BARBOSA e HORN, 2001, p. 68) Na Educação Infantil, a aula é intitulada como prática educativa. A prática educativa quando bem planejada é condição essencial para que as aprendizagens possam ocorrer. O professor como sujeito ativo do processo deve estar preparado para modificações no tempo e no espaço em seu cotidiano, pois as variáveis são inúmeras ao longo do trabalho. Um planejamento flexível favorecerá a ação docente quando perceber que é necessário mudar o caminho traçado, improvisar, acrescentar ou modificar algo. A Secretaria Municipal da Educação de Curitiba, assim como a do Rio de Janeiro, mencionada anteriormente, também organizou um documento para tratar especificadamente deste assunto: Referenciais para estudo e planejamento na Educação Infantil: Planejamento e Avaliação. Nele se discorre a importância do planejar e afirma-se que o planejamento deve determinar o que se pretende alcançar, a que distância estamos daquilo que pretendemos alcançar, o que é necessário ser feito, para quem será feito e como será feito. Definições básicas queprecisam ser pensadas para ressignificar o ato educativo. (CURITIBA, 2010, p.08) A pesquisadora argentina Délia Lerner apontou três modalidades organizativas do trabalho didático e que devem permear o planejamento: sequências didáticas, projetos de trabalho e atividades permanentes, sobre os quais iremos discorrer nas próximas unidades de estudo. Reflexão Você está na primeira unidade de estudo desta disciplina e sabe que há muitas aprendizagens pela frente. Reflita e escreva numa folha todas as suas expectativas, dúvidas, curiosidades e outros pensamentos acerca dessa temática. Ao final dela, na nona unidade, reveja os pontos que irá escrever agora. Com certeza será uma ótima forma de ver o quanto você avançou e progrediu em seus conhecimentos, da mesma forma que poderá ver se restaram dúvidas e anseios que ainda não foram respondidos ou trabalhados aqui e que por ventura podem ser discutidos e pesquisados em outros momentos da sua jornada. 4 Sugestões Celso Vasconcellos, doutor em Educação, tão citado em nossa primeira unidade, fala sobre gestão de sala de aula e planejamento. Assista ao vídeo no Youtube: <https://www.youtube.com/watch?- v=2YVd6AmYUK0> Assista no Youtube a um vídeo esclarecedor sobre práticas de planejamento, intitulado Planejamento tim tim por tim tim, elaborado pelo MEC, disponível em: < https://www. youtube.com/watch?v=TLRvjNOx32A>. UNIDADE 2 Elaboração do planejamento: sequências didáticas Passa, tempo, TIC-TAC, TIC-TAC, passa, hora. Chega logo TIC-TAC, TIC-TAC, e vai-te embora. Vinicius de Moraes Ao elaborar o planejamento torna-se importante atentar-se ao tempo didático. Muitos professores queixam-se por falta de tempo, porém Lerner (2002) afirma que é necessária uma mudança qualitativa e não quantitativa do tempo didático. Para concretizar essa mudança, parece necessário- além de se atrever a romper com a correspondência linear entre parcelas de conhecimentos e parcelas de tempo- cumprir, pelo menos, com duas condições: manejar com flexibilidade a duração das situações didáticas e tornar possível a retomada dos próprios conteúdos em diferentes oportunidades e a partir de perspectivas diversas (LERNER, 2002, p.87). Partindo deste pressuposto, Lerner nos traz quatro modalidades organizativas para o currículo: projetos, atividades habituais (permanentes), sequência de atividades e atividades independentes. Os Referenciais Curriculares Nacionais (1998) trazem essas modalidades adaptadas para a Educação Infantil e não colocam como modalidade separada as atividades independentes, esta acaba por integrar-se às outras modalidades. Há a necessidade de integração: combinar as três modalidades de diferentes formas e perceber quais objetivos buscará atingir utilizando determinada prática. É preciso articular diferentes conteúdos a diferentes formas de construção de conhecimento, evitando assim fragmentar conteúdos ou descontextualizá-los. Sobre as sequências didáticas, assunto que abordaremos nesta unidade de ensino, Lerner (2002, p.89) afirma que devem acontecer: em uma duração limitada a algumas semanas de aula, o que permite realizarem-se várias delas no curso do ano letivo (...). No curso de cada sequência se incluem- como nos projetos- atividades coletivas, grupais e individuais. Os Referenciais para Estudo e Planejamento na Educação Infantil (Curitiba, 2010, p.19) trazem a importância do registro e da organização: as sequências devem ser citadas no planejamento anual e no roteiro semanal, e registradas (etapas de desenvolvimento) no planejamento diário. Existem características distintas para cada uma das modalidades, e um dos principais aspectos que caracteriza a sequência didática é que a sequência é um conjunto de atividades que apresenta ordem crescente de dificuldade sobre um tema em particular e que cada passo permite que o próximo seja realizado. Deve haver continuidade nas propostas, e isto é o que a difere de uma simples coleção de atividades, na qual são planejadas atividades soltas e desvinculadas sobre uma mesma temática. (LERNER, 2002). As sequências didáticas na Educação Infantil possibilitam um trabalho organizado que prioriza o “debruçar-se” em conceitos e saberes, pouco a pouco, degrau por degrau, as atividades são desenvolvidas a fim de construir e refletir profundamente sobre determinada ideia, de acordo com a curiosidade e motivação que desperta nos pequenos alunos. 2.1. Passos para se planejar uma sequência didática Para produzir uma sequência didática são necessários alguns passos, os quais abaixo serão abordados: • Passo 1. Análise Diagnóstica – É o momento de trazer à tona os conhecimentos prévios dos alunos, esta etapa pode ocorrer por meio de rodas de conversas, questionamentos e recursos audiovisuais como vídeos, músicas ou imagens. Estes conhecimentos serão utilizados para que se construa o novo conceito pretendido. • Passo 2. Retomada de Conceitos – No início de cada etapa, os conhecimentos já construídos nas etapas anteriores devem ser retomados e repensados, para que os alunos possam perceber a sequência lógica de ideias acerca do tema. • Passo 3. Desenvolvimento do Conceito Novo – O novo conceito deve ser construído a partir dos conhecimentos anteriores. O aluno será convidado a envolver-se, refletir, organizar e por último consolidar a nova aprendizagem. • Passo 4. Avaliação – Na Educação Infantil a avaliação deve ser formativa, isto é, deve-se levar em conta todo o processo. Ao final da sequência didática os alunos devem demonstrar que o novo conceito foi construído Essa avaliação deverá sempre conter mais de uma atividade, como: registros por meio de desenhos, tentativas de escrita, jogos, rodas de conversa, dramatizações, enquanto o professor escreve relatórios e observações sobre a trajetória de aprendizagem de cada um sempre levando em consideração cada criança em seu caráter singular e seu ritmo próprio de desenvolvimento. Cada um dos passos citados acima podem ser “desdobrados” em várias etapas, isso dependerá do tempo no qual o professor planeja desenvolver a sequência. 5 Na Educação Infantil, o professor, como não segue um currículo fechado ou uma ementa rígida, pode perceber, dentro de seu contexto de sala de aula, em quais conceitos e aprendizagens os alunos podem e precisam avançar e assim planejar o caminho de atividades para se chegar ao objetivo final dentro de um tema específico. Os Referenciais Curriculares Nacionais exemplificam: Por exemplo: se o objetivo é fazer com que as crianças avancem em relação à representação da figura humana por meio do desenho, pode-se planejar várias etapas de trabalho para ajudá-las a reelaborar e enriquecer seus conhecimentos prévios sobre esse assunto, como observação de pessoas, de desenhos ou pinturas de artistas e de fotografias; atividades de representação a partir destas observações; atividades de representação a partirde interferências previamente planejadas pelo educador etc. (BRASIL, p.56) Um olhar sob a prática: sequências didáticas Explicitaremos agora um exemplo prático de desenvolvimento de uma sequência didática publicado pela Revista Nova Escola1. Para que, desta forma, possamos trazer a teoria para mais perto da nossa prática. Sequência didática – formigas trabalhadoras Objetivos Conhecer a rotina de um formigueiro e sua organização social; Promover o contato com o procedimento científico por meio da pesquisa e da observação. Conteúdo Formigas- organização e divisão de tarefas. Tempo estimado Um mês. Material necessário Livros, jornais, revistas, fotografias, ilustrações e DVDs sobre formigas, agenda, três potes com tampas furadas com agulhas e duas mangueiras plásticas transparentes, algodão, água, açúcar, um formigueiro pequeno, folhas e flores. Desenvolvimento 1ª etapa: Visite um jardim para que os pequenos observem as formigas e contem o que sabem sobre elas. Outra opção é levar algumas para a sala, em potes com terra e tampas furadas (para permitir que os animais respirem). Com base 1 A revista Nova Escola é publicada mensalmente, desde o ano de 1986, pela Fundação Victor Civita,entidade mantida pelo grupo Abril. Atualmente, é a principal revista sobre educação em circulação no país. A revista virtual aborda assuntos relevantes para professores de todos os níveis de ensino e contém materiais que podem servir de referência e apoio para o planejamento do professor. Acesse: revistaescola. abril.com.br no que for dito, levante outras questões sobre a rotina desses animais. Use a agenda para registrar, a partir de então, as observações dos pequenos. 2ª etapa: Reorganize o formigueiro: com as mangueiras, conecte os potes entre si, em linha reta. No do centro, ponha o formigueiro. Reserve o da esquerda para as folhas e flores. Deixe o último vazio, pois será nele que as formigas vão depositar o lixo da colônia e as que morrerem. Proponha que as crianças pesquisem se as formigas realmente comem açúcar e onde conseguem os alimentos. Partindo das respostas delas, coloque o algodão umedecido com água e açúcar no pote da esquerda, junto com as folhas e as flores, que devem ser substituídas por novas semanalmente para não mofar. 3ª etapa: Ainda com os materiais ao alcance de todos, ajude a turma a organizar as informações reunidas até o momento. Peça que as crianças ditem para você textos sobre as descobertas e selecionem imagens a fim de organizar cartazes para expor na sala. Anote tudo na agenda, inclusive os comentários das crianças sobre o formigueiro. 4ª etapa: Conte a história A Cigarra e a Formiga. Converse sobre a divisão dos trabalhos apresentados no conto e estimule a turma a comparar com as informações pesquisadas: a rainha é a responsável pela reprodução, os soldados pela defesa da colônia e as operárias pela limpeza e busca de alimentos. Todas as formigas têm o mesmo trabalho da representada no conto? 5ª etapa: Organize uma visita a um centro de estudos sobre formigas para observar formigueiros maiores, de diferentes espécies, conversar com biólogos e aprender detalhes sobre o trabalho dos insetos sociais. 6ª etapa: Revise o conteúdo anotado na agenda para organizar outros cartazes. Se ainda existirem questões sem respostas, prossiga a pesquisa. Avaliação Avalie os conhecimentos que as crianças tinham a respeito do assunto antes e o que sabem agora, relendo as anotações da agenda e analisando a colaboração de cada uma na organização dos cartazes. Elas devem saber as funções ocupadas pelas formigas e as diferenças entre as apresentadas em livros infantis e as reais. E têm de ser capazes de comparar as operárias, os soldados e a rainha com a sociedade humana, ressaltando diferenças e semelhanças. Podemos concluir então, que a sequência didática é uma modalidade essencial para a construção de novos conceitos e que possibilita a reflexão e a organização do pensamento da criança em níveis cada vez mais elevados. Nas próximas unidades de estudo nos aprofundaremos nas outras duas modalidades explicitadas por Delia Lerner (2002): atividades permanentes e projetos de trabalho. 6 Reflexão Nesta unidade aprofundamos nossos estudos em uma das modalidades organizativas do currículo que é a sequência didática. Ao observar a sequência Formigas Trabalhadoras procure observar quais são as etapas que a constitui como tal e busque outro tema para planejar uma nova sequência didática. Lembre-se que primeiro você deve pensar no quê você quer que seus alunos avancem, quais são seus objetivos específicos, para depois escolher um tema que venha ao encontro das metas estabelecidas.
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