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Guia de Redução de Danos e saída de Medicamentos Psiquiátricos autonomia e saúde mental ao alcance de todos Sumário 1) Os princípios do guia.......................................................................................................................................6 2) Como funcionam os medicamentos psiquiátricos.........................................................................................18 3) Retirando a medicação gradualmente............................................................................................................34 4) Antes de você começar a parar.......................................................................................................................40 5) Parando: passo a passo...................................................................................................................................50 6) Reflexões finais...............................................................................................................................................57 Recuperação e Medicamentos 3 Nota do autor Este é um guia que eu gostaria de ter tido quando estava tomando medicamentos psiquiátricos. O Prozac me ajudou por um tempo, depois me fez maníaco e suicida. Fiquei doente por dias depois de sair de Zoloft, com quem teria que cuidar de mim me dizendo que eu estava fingindo. Enfermeiras que extraíam amostras de sangue para meus níveis de lítio nunca explicavam que era para verificar a toxicidade dos medicamentos no meu corpo, e me diziam que o Navane e outros anti- psicóticos que eu tomei para acalmar meus estados mentais eram necessários por causa da química cerebral defeituosa. Eu usei muitas drogas psiquiátricas diferentes ao longo de vários anos, mas os profissionais médicos que as prescreveram nunca me fizeram sentir empoderado ou informado. Eles não explicavam como os medicamentos funcionam, não discutiam honestamente os riscos envolvidos, não ofereciam alternativas ou me ajudavam a desistir quando eu queria parar de tomá-los. As informações que eu precisava estavam faltando Recuperação e Medicamentos 4 eram incompletas ou imprecisas. Quando eu finalmente comecei a aprender maneiras de melhorar sem medicação, não foi por causa do sistema de saúde mental. Parte de mim realmente não queria estar usando medicamentos psiquiátricos, mas outra parte de mim precisava desesperadamente de ajuda. Meu sofrimento era muito sério - tentativas múltiplas de suicídio, ouvir de vozes persecutórias, desconfiança extrema, experiências bizarras, esconder-me sozinho no meu apartamento; eu era incapaz de cuidar de mim mesmo. A terapia não funcionou e ninguém me ofereceu outras opções. Eu estava sob pressão para ver meus problemas como "biologicamente baseados" e "precisando" de medicação, em vez de considerar a medicação como uma opção entre muitas. Por um tempo, a medicação pareceu ser a minha única saída. Demorou anos para aprender que as respostas, e minha esperança de melhorar, estavam realmente dentro de mim. Quando finalmente saí dos hospitais, instalações residenciais e abrigos para sem-teto em que morei por quase um ano, comecei a fazer minhas próprias investigações. Comecei a julgar minhas opções com mais cuidado, não com base em autoridades mal informadas que me diziam o que fazer, mas em minha própria pesquisa e aprendizado. Esse processo me levou a fundar o Freedom Center, uma comunidade de apoio no oeste de Massachusetts que reúne pessoas que fazem perguntas semelhantes. Através do Freedom Center descobri que me foi negado um direito médico básico: consentimento informado, com informações precisas sobre meu diagnóstico e medicação. Eu aprendi que os maus-tratos como os que eu passei costumam acontecer normalmente na área saúde mental. Me deparei com pesquisas ignoradas pela grande mídia, incluindo estudos da organização britânica MIND e da British Psychological Society, que confirmaram minha experiência: a maioria dos profissionais não está informado sobre a saída de medicamentos e, muitas vezes, desencorajam os pacientes. O Freedom Center me levou a trabalhar com o Projeto Icarus e, juntas, essas comunidades de apoio mútuo ajudaram muitas pessoas a tomarem decisões mais sábias - se é para continuar com medicamentos quando são úteis ou explorar a possibilidade de sair quando não são. Recuperação e Medicamentos 5 Muitos de nós estão vivendo sem medicamentos psiquiátricos, aqueles que os médicos nos diziam que precisaríamos por toda a nossa vida, e apesar do diagnóstico de esquizofrenia, eu tenho estado livre há mais de 15 anos. - Will Hall Os princípios deste guia Capítulo 1 Escolha. Os medicamentos psiquiátricos afetam os aspectos mais íntimos da mente e da consciência. Temos o direito à autodeterminação: definir nossas experiências como quisermos, procurar profissionais em quem confiamos e descontinuar os tratamentos que não estão funcionando para nós. Não julgamos os outros por tomar ou não tomar medicamentos psiquiátricos: respeitamos a autonomia individual. Quando as pessoas têm dificuldade em se expressar ou serem compreendidas pelos outros, elas merecem acomodação, apoio à tomada de decisões e paciência dos defensores do cuidado, de acordo com o princípio de “primeiro não fazer mal” e a menor invasão possível. Ninguém deve ser forçado a tomar nada contra sua vontade. Informações. Empresas farmacêuticas, médicos e a mídia precisam fornecer informações precisas sobre os riscos dos medicamentos, a natureza do diagnóstico psiquiátrico, como os medicamentos funcionam, os tratamentos alternativos e como usar tais medicamentos. A ética médica exige que os profissionais entendam os tratamentos que prescrevem, protejam os pacientes de danos e promovam alternativas mais seguras. Recuperação e Medicamentos 7 Acesso. Quando escolhemos alternativas para medicamentos psiquiátricos e tratamentos convencionais, deve haver programas, opções acessíveis e cobertura de seguro disponível. Escolha sem acesso a opções não é uma escolha real. Os serviços controlados pela comunidade devem estar disponíveis para todos que precisam de ajuda para sair de drogas psiquiátricas ou lutar contra estados extremos de consciência. Pedimos a todos os profissionais de saúde que ofereçam serviços gratuitos e de baixo custo a alguns de seus clientes, e que todos os que têm privilégios econômicos e sociais trabalhem para ampliar o acesso a tratamentos alternativos a todos. Redução de danos para a saúde mental “A experiência de cada um é diferente, e como cada um de nós é único, é como se estivéssemos navegando por um labirinto, nos perdendo e encontrando nosso caminho novamente, criando nosso próprio mapa à medida que avançamos.” Abordagens absolutistas à educação sobre drogas e sexo ensinam abstinência, “apenas diga não” como um caminho para todos. Eles trabalham para algumas pessoas, mas não para a maioria, e se você não seguir o modelo, poderá acabar sendo julgado e não ajudado. A redução de danos é um movimento internacional na educação de saúde comunitária que reconhece que não existe uma solução única para cada pessoa, nenhum padrão universal de “sucesso” ou “fracasso”. É algo diferente, pragmático, não dogmático. Livrar-se do problema não é necessariamente o único caminho. Em vez disso, a redução de danos aceita a realidade das pessoas e as educa para fazer escolhas informadas e calcular as compensações que reduzem o risco e aumentam o bem-estar. As pessoas precisam de informações, opções, recursos e apoio para que possam avançar para uma vida mais saudável - no seu próprio ritmo e em seus próprios termos. A aplicação da filosofia de redução de danos à saúde mental é uma abordagem nova, mas crescente. Isso significa nem sempre tentar eliminar “sintomas”ou descontinuar todos os medicamentos. Ela reconhece que as pessoas já estão tomando medicamentos psiquiátricos, já tentando sair deles, e já vivendo com sintomas - e que nesta realidade complicada as pessoas precisam de ajuda verdadeira, não de julgamento. Recuperação e Medicamentos 8 Ela incentiva o equilíbrio entre os diferentes riscos envolvidos: os danos causados por estados extremos, bem como os danos causados por tratamentos como efeitos adversos de medicamentos, redução do poder de rótulos e hospitalização traumática. Tomar decisões de redução de danos significa observar honestamente todos os lados da equação: como as medicações podem ajudar a vida de uma pessoa que se sente fora de controle, como essas mesmas medicações podem ser arriscadas e o papel das opções e alternativas. Qualquer decisão se torna um processo de experimentação e aprendizado, incluindo aprender com seus próprios erros e mudar seus objetivos ao longo do caminho. A redução de danos aceita tudo isso, acreditando que a essência de qualquer vida saudável é a capacidade de ser fortalecido. Não há fórmula para sair de medicamentos psiquiátricos. O que existe e o que este guia apresenta é alguma experiência comum, pesquisa básica e informações importantes que podem potencialmente tornar o processo menos difícil. Muitas pessoas param com sucesso de tomar a medicação, com ou sem orientação, enquanto outras acham muito difícil. E muitas outras acabam ficando sem nunca explorar novas opções, por simplesmente não as conhecerem. Quando nos baseamos apenas em médicos, televisão e fontes tradicionais, pode parecer impossível imaginar lidar com nossos extremos emocionais sem medicamentos psiquiátricos. Talvez nunca tenhamos ouvido falar de alguém passando pelo que passamos sem medicamentos. As vezes as pessoas estão divididas entre os riscos de permanecer e os riscos de sair dessas medicações. Outras podem querer sair, mas não ser o momento certo, ou podem ter tentado no passado, sem o conhecimento de alternativas terapêuticas, e experimentado um retorno de sintomas assustadores, e decidiram voltar por agora. Na realidade, nossos caminhos para parar ou encontrar uma cura são únicos. Alguns de nós não precisam fazer mudanças de vida, deixando que o tempo e a paciência o façam. Outros podem precisar fazer grandes mudanças na nutrição, no que conhecem, no trabalho, na vida familiar ou nos relacionamentos. Recuperação e Medicamentos 9 Podemos precisar nos concentrar mais no autocuidado, na expressão, na arte e na criatividade; adotar outras abordagens como grupos de apoio em pares, terapia, fitoterapia, acupuntura ou homeopatia; ou encontrar novos interesses de vida, como ir à escola ou se conectar com a natureza. Podemos descobrir que o primeiro passo é ter um sono reparador; podemos precisar de mais estrutura para nos ajudar com a motivação; ou parar de tomar qualquer droga ou álcool; ou passar a falar com maior honestidade e vulnerabilidade sobre o que estamos passando. O processo pode parecer misterioso e arbitrário, e uma atitude de aceitação e paciência é vital. Aprender significa tentativa e erro. Olhando criticamente para a psiquiatria e os “transtornos mentais” Os médicos colocam as pessoas em medicações psiquiátricas em função de experiências rotuladas como “transtornos mentais”: extrema aflição emocional, sofrimento avassalador, mudanças bruscas de humor, crenças incomuns, comportamentos disruptivos e estados misteriosos de loucura. Atualmente, milhões de pessoas em todo o mundo, incluindo bebês e idosos, tomam medicamentos psiquiátricos quando diagnosticadas com algum tipo de transtorno: transtorno bipolar, esquizofrenia, psicose, depressão, ansiedade, déficit de atenção, estresse obsessivo-compulsivo ou pós-traumático. Os números sobem todos os dias. Para muitas pessoas, as medicações psiquiátricas são muito úteis. Colocar os freios em uma vida fora de controle, ser capaz de funcionar no trabalho, na escola e nos relacionamentos, adormecer e manter os limites emocionais pode ser um salva-vidas. A sensação de alívio revigora, e os medicamentos podem provocar emoções muito poderosas e até sentimentos de salvação. Ao mesmo tempo, a ajuda que as medicações psiquiátricas oferecem para essas muitas pessoas pode deixar pouco espaço para que enxerguemos outras realidades: outros experimentam essas medicações como negativas, prejudiciais e até mesmo como elementos criadores de riscos de vida. Como resultado, é raro na sociedade encontrar uma compreensão clara de como Recuperação e Medicamentos 11 e porque essas drogas funcionam, ou uma discussão honesta sobre riscos, alternativas e como se desfazer delas se as pessoas quiserem. Muitos médicos e anúncios de TV dizem às pessoas que a medicação psiquiátrica é necessária para uma doença biológica, assim como a insulina para o diabetes. Eles promovem a ideia de que essas drogas corrigiriam desequilíbrios químicos e tratariam anormalidades cerebrais. A verdade é diferente, no entanto. "Biologia" e "desequilíbrios químicos" tornaram-se insinuações simplistas para persuadir as pessoas a depositarem sua fé em médicos e soluções rápidas. Essas palavras são, na verdade, muito mais complicadas e pouco claras. Fatores biológicos (como nutrição, repouso e alergias alimentares) afetam tudo o que experimentamos. Dizer que algo tem uma causa biológica ou base biológica pode passar sempre uma mensagem de que a solução deve ser sempre médica e que “tratamentos” têm que incluir essas medicações. Uma vez que as pessoas tenham um diagnóstico e comecem a tomar medicação, é fácil pensar nos medicamentos como fisicamente necessários para a sobrevivência. Não só não existe uma ciência sólida por trás da visão dos transtornos mentais como os simples maus funcionamentos da biologia são “corrigidos” pelas medicações, porém, muitas pessoas com diagnósticos graves de esquizofrenia ou de transtorno bipolar se recuperam completamente sem medicação. As experiências que recebem distúrbios mentais rotulados não são “incuráveis” ou para sempre “ao longo da vida”, são mais misteriosas e imprevisíveis. Para algumas pessoas, as medicações psiquiátricas são ferramentas úteis que modificam a consciência de maneiras úteis, mas não são tratamentos médicos necessários para o problema. Uma vez que você reconhece isso, mais opções se tornam pensáveis. E os riscos potenciais dessas medicações ficam sob maior observação, dado que são muito graves - incluindo doenças crônicas, deficiência mental, dependência, piores sintomas psiquiátricos e até risco de morte prematura. Os medicamentos psiquiátricos se tornaram uma indústria multibilionária, como os grandes gastos petrolíferos e militares, e as empresas têm incentivo e meios para encobrir fatos sobre seus produtos. Se você olhar com mais atenção para a pesquisa e Recuperação e Medicamentos 12 examinar de perto as alegações do sistema de saúde mental, descobrirá um quadro muito diferente do que as empresas farmacêuticas e muitos médicos nos levam a acreditar. As empresas ativamente reprimem avaliações precisas dos riscos de medicamentos, enganam os pacientes sobre como as teorias são controversas, promovem uma falsa compreensão de como eles realmente funcionam, mantêm pesquisas sobre abordagens alternativas não financiadas e não publicadas e obscurecem o papel do trauma e da opressão no sofrimento mental. Em grande parte do sistema de saúde mental, escândalos estão crescendo e a fraude e a corrupção em torno de algumas medicações psiquiátricas estão atingindo proporções do setor de tabaco. Neste ambiente cultural complicado, as pessoas estão procurando informações precisas sobre possíveis riscos e benefícios para que possam tomar suas próprias decisões. Demasiadas vezes, as pessoas que precisamde ajuda para reduzir e abandonar estes medicamentos ficam sem apoio ou orientação. Às vezes eles são tratados como se o desejo de sair delas fosse, em si, um sinal de doença mental - e uma necessidade de mais medicamentos. Ao discutir "riscos" e "perigos", é importante entender que toda a vida envolve riscos: cada um de nós toma decisões todos os dias para assumir riscos aceitáveis, como dirigir um carro, trabalhar em um trabalho estressante ou beber álcool. Pode não ser possível prever exatamente como os riscos nos afetarão, ou evitar completamente os riscos, mas é importante saber o máximo possível sobre quais são os riscos. Observar os riscos do tratamento com medicações também significa encarar ou não os riscos de sofrimento emocional e assim tomar a melhor decisão para você. Talvez as drogas psiquiátricas sejam a melhor opção dadas suas circunstâncias e situação, ou talvez você queira tentar reduzir ou sair. Este guia não pretende persuadi-lo de uma forma ou de outra, mas sim ajudar a educá-lo sobre suas opções, se você decidir explorar os medicamentos. Baseamos este guia nas melhores informações disponíveis, incluindo excelentes fontes do Reino Unido, e trabalhamos com um grupo de consultores profissionais de saúde Recuperação e Medicamentos 13 , incluindo médicos psiquiatras, enfermeiros e outros profissionais, todos com experiência clínica ajudando pessoas a viverem sem medicações. Também utilizamos a sabedoria coletiva de uma rede internacional de conselheiros de grupos de ajuda mútua, aliados, colegas, ativistas e curadores que estão conectados com o Freedom Center e o Projeto Icarus, além de sites como o Beyond Meds. Encorajamos você a usar este guia não como o recurso definitivo, mas como um ponto de referência para iniciar sua própria pesquisa e aprendizado. E esperamos que você compartilhe o que aprendeu com outras pessoas. Declaração universal dos direitos e liberdades da mente 1) Que todos os seres humanos são criados diferentes. Que todo ser humano tem o direito de ser mentalmente livre e independente. 2) Que todo ser humano tem o direito de sentir, ver, ouvir, imaginar, acreditar ou experimentar qualquer coisa, de qualquer forma, a qualquer momento. 3) Que todo ser humano tem o direito de se comportar de qualquer maneira que não prejudique os outros ou não quebre as leis justas. 4) Que nenhum ser humano deve ser submetido, sem consentimento, ao encarceramento, restrição, punição ou intervenção psicológica ou médica na tentativa de controlar, reprimir ou alterar os pensamentos, sentimentos ou experiências do indivíduo. Quão difícil é sair dos medicamentos psiquiátricos? Ao trabalhar com centenas de pessoas ao longo de muitos anos, descobrimos que não há como prever como será o processo de saída. Não há realmente nenhuma maneira de saber com antecedência quem pode e quem não pode se dar bem sem as medicações psiquiátricas, quem pode se dar bem com menos comprimidos ou doses menores, ou quão difícil será. Vimos pessoas parando com sucesso depois de mais de 20 anos, pessoas que decidem continuar a recebê- las depois de apenas Recuperação e Medicamentos 15 um ano ou menos e pessoas que lutam com a retirada a longo prazo. Porque sair é potencialmente possível para qualquer um, a única maneira de realmente saber é tentar devagar e com cuidado, e ver como está indo, permanecendo aberto para permanecer. Todo mundo deveria ter a oportunidade de explorar isso. O estudo da MIND, a principal instituição de caridade em saúde mental no Reino Unido, confirma nossa experiência. A MIND descobriu que “o tempo de duração da medicação surgiu como o fator que mais claramente influenciou o sucesso ao sair. Quatro em cada cinco pessoas (81%) que estavam em uso de medicamentos por menos de seis meses conseguiram sair. Em contraste, menos da metade (44%) das pessoas que estavam em uso por mais de cinco anos tiveram sucesso. ”Enfrentar essas incógnitas significa permanecer flexível e aprender à medida que deixar de tomar a medicação completamente pode, ou não, ser o certo para você. Apesar da incerteza, todos podem se tornar mais fortes conforme a experiência.” A política da retirada De certa forma, a questão de abandonar os medicamentos psiquiátricos é profundamente política. Pessoas de todas as origens econômicas e educacionais reduzem com sucesso ou deixam de usá- las. No entanto, as vezes, o privilégio econômico pode determinar quem tem acesso a informações e educação, quem pode pagar tratamentos alternativos e quem tem a oportunidade de fazer mudanças na vida. Pessoas sem recursos são frequentemente as mais vulneráveis a abusos psiquiátricos e lesões em decorrência do uso de medicamentos. A saúde é um direito humano para todas as pessoas: precisamos de uma revisão completa do nosso “sistema de saúde mental” fracassado em favor de alternativas verdadeiramente eficazes e compassivas disponíveis para todos, independentemente da renda. Empurrar medicações arriscadas e caras como Recuperação e Medicamentos 16 a primeira e única linha de tratamento deve terminar; a prioridade deve ser a prevenção, o fornecimento de locais de refúgio seguros e tratamentos que não causam danos. Numerosos estudos, como os da Soteria House, na Califórnia, e os da abordagem Open Dialogue, na Finlândia, mostram que tratamentos não- medicamentosos e com baixo nível de drogas podem ser muito eficazes e ainda custariam menos do que o sistema atual. Em vez de encarar as experiências da loucura apenas como uma “incapacidade”, que pode ser um estigma estigmatizante, a sociedade deve incluir as necessidades de pessoas sensíveis, criativas, emocionalmente feridas e incomuns que fazem contribuições para a comunidade além dos padrões de competição, materialismo e individualismo. Para realmente ajudar as pessoas que são rotuladas mentalmente doentes, precisamos repensar o que é “normal”, da mesma forma que estamos repensando o que significa ser incapaz de ouvir, não ter visão, ou possuir uma mobilidade física limitada. O design universal e o acomodar daqueles que são diferentes acabam por beneficiar a todos. Precisamos desafiar o poder de todas as formas, e questionar a sabedoria de se adaptar a uma sociedade opressiva e insalubre, uma sociedade que em muitos aspectos é bastante louca. Um modelo social de inclusão significa aceitar as diferenças humanas e não mais tratar os impactos da pobreza e da opressão como problemas médicos. Nossas necessidades estão interligadas com as necessidades mais amplas de justiça social e sustentabilidade ecológica. Recuperação e Medicamentos 17 Como funcionam os medicamentos psiquiátricos Capítulo 2 A maioria das pessoas começa a tomar medicamentos psiquiátricos porque estão angustiadas e aflitas. Elas estariam experimentando estados avassaladores de sofrimento emocional, ou mesmo a pessoa estaria aflita com seu comportamento - ou alguma combinação de ambas. Há muitos rótulos para esses estados, como ansiedade, depressão, compulsão, mania, psicose, vozes e paranoia, e os rótulos mudam com o tempo. Os médicos dizem às pessoas que seu sofrimento emocional é devido a um distúrbio mental que tem uma base a bioquímica, que seu sofrimento é perigoso e deve ser interrompido (como medos de suicídio ou alegações de deterioração da doença) e que a medicação por meio de drogas psiquiátricas é necessária como tratamento. Os medicamentos psiquiátricos atuam no cérebro para alterar o humor e a consciência como qualquer outra substância psicoativa. Como muitas medicações podem embotar ou controlar os sintomas de sofrimento emocional - tranquilizando uma pessoa, acelerando-a, entorpecendo a sensibilidade ou induzindo-a a dormir - ela pode tirar vantagem dos estados extremos. Recuperação e Medicamentos19 Eles ajudam algumas pessoas a se sentirem mais capazes de viver suas vidas. É importante perceber, no entanto, que as medicações psiquiátricas não alteram as causas subjacentes do sofrimento emocional. Elas são mais bem entendidos como ferramentas ou mecanismos de enfrentamento que, às vezes, aliviam os sintomas e abrem o caminho para a mudança - mas com riscos significativos para quem os toma. Os medicamentos psiquiátricos realmente concertam sua química cerebral ou tratam seu problema? Dizem às pessoas que os transtornos mentais estão diretamente associados a uma química do cérebro “anormal”, que a doença é causada por “predisposições” genéticas e que as medicações psiquiátricas são necessárias para interromper um processo de doença e corrigir os desequilíbrios. No entanto, não é assim que os medicamentos funcionam e as teorias de doenças cerebrais não foram comprovadas pelos estudos como verdadeiras. Acreditar nessas afirmações pode reforçar a sensação de ser uma vítima indefesa da biologia e deixar as pessoas sentindo que não há opções além de medicamentos. Apesar de décadas de pesquisa dispendiosa, nenhum desequilíbrio químico, predisposições genéticas ou anomalias cerebrais causaram consistentemente um diagnóstico bipolar, de depressão ou de esquizofrenia. A mídia relata pesquisas “promissoras” que “precisam de mais estudos”, mas nada conclusivo foi encontrado. Testes físicos, como a tomografia cerebral ou a coleta de sangue, não são usados para um diagnóstico de bipolar, esquizofrênico ou depressivo e não podem revelar se seu cérebro está anormal. (Estados alterados com causas físicas claras, como, por exemplo, concussões, demência ou delírios por conta do álcool, são chamados de “psicose orgânica”.) Uma linha de base nunca foi estabelecida para o que constitui um cérebro “psicologicamente normal” para todas as pessoas. Três pessoas com o mesmo diagnóstico podem ter química cerebral muito diferente, e alguém com química cerebral semelhante pode não ter nenhum diagnóstico. Enquanto muitas pessoas enfrentam problemas físicos como a deficiência de vitaminas que um médico ou profissional holístico pode resolver, Recuperação e Medicamentos 20 isso pode também ajudar problemas emocionais - ou talvez não. A medicina não descobriu a biologia da doença mental da mesma maneira que a tuberculose, a síndrome de Down ou o diabetes. A angústia emocional e a loucura permanecem abertas à interpretação. E quanto a genética? Os diagnósticos mentais podem parecer "correr entre famílias", mas também elementos como o abuso infantil e a pobreza. Por causa do ambiente compartilhado, de expectativas e traumas intergeracionais, a história da família pode significar muitas coisas além de hereditariedade inescapável. Estudos afirmam que os gêmeos tendem a ter uma chance ligeiramente maior de ter o mesmo diagnóstico, mas essa pesquisa é muitas vezes falha e os resultados são exagerados. Os pais sabem que as crianças têm diferentes temperamentos, mesmo no nascimento, mas a experiência pré-natal tem influência. Traços individuais como sensibilidade e criatividade só se tornam loucura depois que fatores sociais muito complicados, como trauma e opressão, têm desempenhado um papel. Mesmo o sequenciamento do genoma humano não revelou nenhuma chave para a doença mental, e a ideia de "predisposição" genética permanece especulativa e não comprovada. Na verdade, quanto mais a neurociência descobre sobre genes, comportamento e o cérebro, mais complicada se torna a imagem. A epigenética mostra que, em vez de um "plano genético", o ambiente interage para ativar e desativar genes. Usar a ciência genética para simplificar demais a diversidade do comportamento humano é um retrocesso aos desacreditados conceitos de darwinismo social e eugenia. Ele retrata algumas pessoas como destinadas a serem inferiores, defeituosas e menos que totalmente humanas. Cada sentimento e pensamento existe de alguma forma no cérebro como uma expressão da biologia, mas a sociedade, a mente e o aprendizado intervêm para tornar impossível estabelecer qualquer relação causal. O estresse, por exemplo, está associado à química do cérebro, mas uma pessoa pode prosperar sob circunstâncias estressantes que são debilitantes para outra. A nova ciência da “neuroplasticidade” mostra que o cérebro está em constante crescimento e que a própria aprendizagem Recuperação e Medicamentos 21 pode mudar o cérebro: por exemplo, a psicoterapia pode reorganizar a estrutura cerebral e os pesquisadores descobriram que as regiões cerebrais associadas à memorização de mapas foram aumentadas nos taxistas de Londres. Se a aprendizagem pode afetar o cérebro de uma forma tão profunda, então não somos tão limitados pela biologia como se acreditava. A psiquiatria não pode reivindicar credibilidade sem resolver então o mistério da relação mente-corpo por trás da loucura. Sem respostas claras da ciência, o diagnóstico psiquiátrico não é, em última análise, uma declaração de fato, mas a opinião subjetiva de um médico sobre um paciente. O médico inevitavelmente confia em seus próprios preconceitos, suposições, medos e preconceitos. Os médicos muitas vezes discordam uns dos outros, as pessoas às vezes têm muitos diagnósticos diferentes ao longo do tempo, e a discriminação baseada em classe, raça e gênero é comum. A decisão de tomar medicamentos psiquiátricos deve basear-se na utilidade dos efeitos da medicação em relação aos riscos envolvidos, e não em qualquer crença falsa de que a pessoa “deve” estar na com a medicação por causa da biologia ou dos genes. Quem é o culpado? Você mesmo? Sua biologia? Ou nem um dos dois? Se a biologia e a química do cérebro não são “culpadas” pela ansiedade, vozes, sentimentos suicidas, mania ou outras aflições, isso significa que a culpa está em você? É culpa do seu cérebro ou sua culpa? Um diagnóstico psiquiátrico pode ser um grande alívio se a única outra opção for se culpar por ser preguiçoso, fraco ou falso. Quando você se sente impotente e as pessoas não levam a sério a sua dor, um médico dizendo que você tem um distúrbio mental pode estar “validando” sua situação. Escolher reduzir ou sair da medicação pode parecer uma mensagem errada, como se o seu sofrimento não fosse tão ruim e você realmente não precisasse de ajuda. E não ser capaz de sair também pode parecer vergonhoso, como se você tivesse que se esforçar mais e tudo dependesse de você. Isso é injusto, pensando que deixa muitas pessoas desamparadas e presas no sistema de saúde mental. Recuperação e Medicamentos 23 A publicidade farmacêutica ataca esse dilema: se a dor é realmente séria, ela precisa de medicação, se não, você está sozinho. Empoderamento significa pensar além de uma visão limitada e abraçar formas mais amplas de ver as coisas, ao contrário dessa lógica citada acima. Todo mundo precisa de apoio em algum momento da vida diante de diferentes sentimentos e situações da vida. Todos nós precisamos aprender a equilibrar a responsabilidade pessoal com a ajuda. Você não tem que culpar seu cérebro para se dar um pouco de compaixão. Porque a ciência médica não tem respostas, cabe a cada pessoa entender sua vida da maneira que faz mais sentido para ela. Os recursos neste guia podem abrir novas possibilidades. Por exemplo, a British Psychological Society, sugere que algumas pessoas podem ter maior vulnerabilidade ao estresse do que outras. O Hearing Voices Movement, nos encoraja a aceitar e aprender com experiências incomuns, em vez de apenas vê-las como sintomas sem sentido para nos livrarmos delas. Muitas experiências e estados alterados são possíveis em decorrência de traumas/abuso, despertar espiritual, sensibilidade, doença ambiental, dinâmica familiar, problemas de saúde holísticos, diferenças culturaisou o impacto da opressão. Algumas sociedades até aceitam como normais as mesmas experiências que outras sociedades chamam de anormais - como ouvir vozes. E se as pessoas perguntarem, você decide o que responder a elas ou não – como "sou um sobrevivente de trauma" ou "sou diferente da maioria das pessoas”. Conectar-se com outras pessoas que compartilham suas experiências, como grupos de apoio presenciais ou via internet, pode ser crucial também, à medida que você explora quem você é. Seu sofrimento é real, quer você decida tomar medicamentos ou não. Sentir-se impotente e precisar de ajuda não significa que você é uma pessoa quebrada ou que você é uma vítima passiva da biologia. Explicações como trauma, sensibilidade ou espiritualidade são tão válidas quanto qualquer outra. Todos merecem ajuda. Como a medicação psiquiátrica age no cérebro? Como qualquer substância que trabalha com a mente, as medicações psiquiátricas são psicoativas e alteram Recuperação e Medicamentos 24 o comportamento, afetando a química do cerebral. Sua utilidade e riscos vêm da alteração do cérebro / corpo e da alteração da consciência, incluindo expectativa e placebo. A teoria médica atual é que a maioria das drogas psiquiátricas modificam os níveis de substâncias químicas chamadas de neurotransmissores (anticonvulsivantes, antiepilépticos e estabilizadores de humor, como o lítio, que parecem funcionar alterando o fluxo sanguíneo e a atividade elétrica no cérebro em geral). Os neurotransmissores estão ligados ao humor, ao funcionamento mental e a todas as células do sistema nervoso, incluindo as células do cérebro, que usam neurotransmissores para se comunicarem entre si. Quando os níveis dos neurotransmissores mudam, as células “receptoras”, que recebem e regulam os neurotransmissores, tornam-se mais sensíveis e podem se modificar para um ajustamento. Antidepressivos, os ISRS (“inibidores seletivos da recaptação da serotonina”), por exemplo, aumentam o nível do neurotransmissor serotonina no cérebro e reduzem o número de receptores cerebrais de serotonina. Medicamentos antipsicóticos, como o Haldol, diminuem o nível de dopamina e aumentam o número de receptores de dopamina no cérebro. Esta ação sobre neurotransmissores e receptores é a mesma que para qualquer droga psicoativa. O álcool afeta os neurotransmissores, incluindo a dopamina e a serotonina, assim como a cocaína altera também os níveis de dopamina e serotonina, bem como os de noradrenalina e receptores. Enquanto essas mudanças em seu corpo ocorrem, sua consciência trabalha para interpretar e responder do seu próprio jeito. O álcool pode relaxar ou deixá-lo nervoso; os antidepressivos energizam algumas pessoas ou tornam os outros menos sensíveis. Por causa do efeito placebo e expectativa, todos são diferentes. Sua experiência de medicação pode não ser a mesma de outras pessoas e acabará por ser exclusivamente sua. Confie em si mesmo. Por que pessoas acham que os medicamentos psiquiátricos ajudam? Recuperação e Medicamentos 25 Diferentemente de seus riscos, os benefícios dos medicamentos psiquiátricos são amplamente promovidos. Os aspectos úteis desses medicamentos, no entanto, tendem a ser misturados com alegações enganosas. As informações abaixo são uma tentativa de eliminar qualquer confusão a esse respeito e descrever de maneira básica o que muitas pessoas consideram úteis sobre essas medicações. • A privação do sono é uma das maiores causas individuais de questões psicológicas sérias e contribui também para crises emocionais. O uso de medicamentos a curto prazo podem ajudar com o sono. • A medicação pode interromper e “colocar os freios” em um estado extremo de consciência difícil, tranquilizando um momento agudo de crise que parece fora de controle. • Muitas pessoas acham que os medicamentos as protegem de crises emocionais tão graves que ameaçam sua estabilidade e até mesmo suas vidas. Alguns relatam que os sintomas parecem mais manejáveis com medicamentos e os mantêm mais fundamentados na realidade comum. O uso contínuo às vezes pode prevenir ou aliviar episódios de mania ou depressão. • Interromper a crise e dormir um pouco pode reduzir o estresse e ajudar a cuidar melhor de si mesmo com alimentos, relacionamentos e outras questões básicas. Isso pode ser muito menos estressante do que uma crise constante, e pode lançar as bases para uma maior estabilidade e mudanças que poderiam ter sido mais difíceis de outra forma. • Às vezes, os medicamentos podem ajudá-lo a aparecer e funcionar no trabalho, na escola e na vida, o que é especialmente útil se você não puder fazer uma pausa ou mudar sua situação. O trabalho pode exigir que você se levante de manhã, se concentre e evite mudanças de humor, e os relacionamentos podem precisar de você mais estável emocionalmente. • A continuação de alguns medicamentos pode impedir os efeitos de abstinência de outros medicamentos. • Todas as drogas têm um efeito placebo poderoso: apenas acreditar que elas funcionam, mesmo inconscientemente, Recuperação e Medicamentos 26 pode fazê-las funcionar. Em ensaios clínicos, muitos medicamentos psiquiátricos têm pouca eficácia comprovada, tirando o placebo, devido a esse poderoso efeito mental. A mente desempenha um papel central em qualquer cura, e não há como determinar se a eficácia de um indivíduo vem do placebo ou da química das medicações. • As vezes as pessoas sentem-se melhor acreditando em uma explicação oficial clara de seu sofrimento, e quando seguem e obtêm apoio de um médico, membro da família ou outra figura de autoridade, as medicações tendem a funcionar melhor, quanto mais forte e mais próxima a relação com o prescritor. Fatos que talvez você não saiba sobre as medicações psiquiátricas Apesar do princípio médico do consentimento informado, os médicos deixam de fora informações importantes sobre os medicamentos que prescrevem. O que se segue é uma tentativa de incluir fatos menos conhecidos e fornecer uma imagem mais equilibrada. • Doses mais altas e uso prolongado de medicações psiquiátricas muitas vezes significam que as mudanças cerebrais podem ser mais profundas e duradouras. As medicações são, muitas vezes, mais difíceis de saírem e podem ter efeitos adversos nesse processo. No entanto, o cérebro humano é muito mais resistente do que se acreditava, e pode curar-se e reparar-se de maneira notável. • Os medicamentos neurolépticos ou tranquilizantes principais são considerados “antipsicóticos”, mas na verdade não têm como alvo a psicose ou qualquer sintoma específico ou transtorno mental. São tranquilizantes que diminuem o funcionamento do cérebro em geral para quem os toma. Muitas pessoas usando esses medicamentos relatam que seus sintomas psicóticos continuam, mas a reação emocional a eles é diminuída. • As primeiras drogas, como o Thorazine e o lítio, chegaram ao mercado antes que teorias de desequilíbrio químico fossem sugeridas, e não como resultado dessas teorias. Os médicos procuravam “balas mágicas” comparáveis aos antibióticos e viam os efeitos sedativos das substâncias químicas nos animais de laboratório. Recuperação e Medicamentos 28 • Os novos medicamentos antipsicóticos têm como alvo uma gama mais ampla de neurotransmissores, mas funcionam basicamente da mesma maneira que os medicamentos mais antigos. Os fabricantes comercializavam essas drogas (que são mais caras que as mais antigas) como melhores e mais eficazes, com menos efeitos colaterais, e eram saudadas como milagrosas. Mas isso foi exposto como falso, com algumas empresas encobrindo a extensão dos efeitos adversos, como diabetes e síndrome metabólica, levando a processos judiciais multibilionários. • Muitas vezes, as pessoas são informadas de que os efeitos adversos dos medicamentos sãodevidos a uma “reação alérgica” ou “sensibilidade à medicação”. Isso é enganoso: os efeitos das medicações psiquiátricas não funcionam da mesma forma que os alimentos ou as alergias ao pólen. • A dependência de benzodiazepínicos - Valium, Xanax, Ativan e Klonopin - é um enorme problema de saúde pública. A retirada pode ser muito difícil: os benzodiazepínicos são mais viciantes que a heroína. Usar por mais de 4-5 dias aumenta drasticamente os riscos. • Às vezes, as pessoas dizem que estão em uma “dose baixa”, embora ainda possam ter efeitos adversos poderosos. • As medicações psiquiátricas são amplamente utilizadas nas prisões para controlar os presos, cuidar de crianças e casas de repouso para controlar os idosos. • A medicação para dormir, como Ambien e Halcyon, embora às vezes seja útil a curto prazo, pode ser viciante, piorar o sono ao longo do tempo e causar blecautes perigosos e estados alterados de consciência. • Como eles funcionam como drogas recreativas, algumas medicações psiquiátricas são vendidas na rua para que pessoas possam ficar “chapadas”. Estimulantes como a Ritalina e sedativos como o Valium são largamente utilizados. Devido à sua fácil disponibilidade, o uso ilegal de drogas psiquiátricas é generalizado. • A “Guerra às Drogas” obscurece as semelhanças entre medicamentos psiquiátricos legais e drogas recreativas ilegais. Os antidepressivos, ISRS e ISRNs, Recuperação e Medicamentos 29 funcionam quimicamente de forma semelhante à cocaína oral administrada lentamente. A cocaína era, de fato, o primeiro remédio comercializado com fins antidepressivos para “sentir-se bem”, antes de ser declarada ilegal. A coca, base da cocaína, era até mesmo um ingrediente da Coca-Cola. Riscos à saúde causados por medicamentos psiquiátricos Tomar uma decisão sobre o consumo de drogas psiquiátricas significa avaliar, da melhor forma possível, os riscos e benefícios envolvidos, incluindo informações importantes, muitas vezes ausentes das contas principais. Alguns riscos podem valer a pena, outros riscos podem não valer a pena, mas todos os riscos devem ser levados em consideração, porque cada pessoa é diferente e os efeitos das medicações podem variar amplamente. • Algumas medicações psiquiátricas podem ser tóxicas e podem danificar o corpo. Algumas delas podem levar à obesidade, à alterações no nível glicêmico, ataque cardíaco súbito, insuficiência renal e colapso físico geral, quando em união a outros comportamentos da própria pessoa. Outros efeitos tóxicos são numerosos e incluem a interferência no ciclo menstrual, ameaças durante a gravidez e a amamentação, e a “síndrome serotoninérgica”, com risco de vida causado por antidepressivos isolados ou misturados álcool e drogas. • Alguns medicamentos psiquiátricos podem ferir o cérebro. A taxa de discinesia tardia, uma doença neurológica grave que pode desfigurar uma pessoa com tiques faciais e espasmos, é muito alta entre pacientes em vivência longa com medicações antipsicóticas/neurolépticas. Os antidepressivos também podem causar problemas de memória e maior suscetibilidade à novos quadros de depressão. • Estudos de eficácia e segurança de empresas farmacêuticas são amplamente corrompidos. Existem poucos estudos de longo prazo a respeito de como as medicações agem de fato. Tomar drogas psiquiátricas é, em muitos aspectos, uma experimentação em toda a sociedade, com pacientes como cobaias. • A mistura com álcool e outras drogas pode aumentar drasticamente os perigos. Recuperação e Medicamentos 30 • Os efeitos das drogas podem diminuir a qualidade de vida, incluindo sexualidade prejudicada, depressão, agitação e problemas gerais de saúde. • Alterações corporais induzidas por drogas, como inquietação, obesidade ou rigidez, podem afastá-lo dos outros e aumentar o isolamento. • Os medicamentos para TDAH, como Adderall e Ritalina, podem impedir o crescimento de crianças e apresentam outros perigos desconhecidos para o desenvolvimento cerebral e físico. Como todas as anfetaminas, elas são viciantes e podem causar psicoses e problemas cardíacos, incluindo morte súbita. Riscos à saúde mental causados por medicamentos psiquiátricos Os riscos para a saúde mental são alguns dos aspectos menos compreendidos dos medicamentos psiquiátricos e podem tornar as decisões sobre eles e o processo de abstinência muito complicados. Aqui estão algumas coisas que seu médico pode não ter lhe dito: • Medicamentos psiquiátricos podem, as vezes, piorar os sintomas psicóticos e aumentar a probabilidade de uma crise. As drogas podem alterar os receptores de neurotransmissores como a dopamina, tornando a pessoa “supersensível” à “recuperação” da psicose, bem como aumentando a sensibilidade às emoções e experiências em geral. Algumas pessoas relatam seus primeiros sintomas psicóticos ou sentimentos suicidas ocorrendo somente após o início da ingestão desses medicamentos. Alguns psiquiatras podem responder dando um diagnóstico mais severo e adicionando mais drogas em decorrência desses quadros. • Alguns medicamentos agora trazem avisos sobre o aumento do risco de suicídio, automutilação e comportamento violento. • Muitas pessoas experimentam mudanças negativas de personalidade com alguns tipos de medicações psiquiátricas, sentindo-se insensíveis e com menor capacidade de sentir emoções, sentindo-se grogues, ou mesmo com a capacidade criativa reduzida. • Alguns países, como Finlândia e Dinamarca, usando menos medicamentos em seus tratamentos, passaram a ter taxas de recuperação mais altas do que as de países usando níveis elevados Recuperação e Medicamentos 31 dessas mesmas medicações. • Medicamentos psiquiátricos podem interromper e prejudicar a capacidade natural da mente de regular e curar problemas emocionais. Muitas pessoas relatam ter que "reaprender" como lidar com emoções difíceis quando saem desse tipo de tratamento. Ser medicado demais pode tornar mais difícil lidar com os sentimentos por trás de sua aflição. • Algumas pessoas, mesmo tendo estado nos mais profundos estágios de sofrimento, dizem que ao terem passado por suas experiências, ao invés de reprimi-las, emergiram mais fortes no final de todo o processo. As vezes o “enlouquecer” pode ser a porta de entrada para uma grande transformação; uma positiva, grande e profunda. Outros riscos causados por medicamentos psiquiátricos Entender o processo de retirada dos medicamentos significa levar em conta muitos fatores diferentes que você pode não ter considerado antes: • Embora não seja amplamente divulgado, o apoio em grupo, tratamentos alternativos, terapia da fala, e até mesmo o efeito placebo, podem ser mais eficazes que medicamentos psiquiátricos, não portando sequer um risco. • O uso de medicamentos psiquiátricos geralmente significa renunciar ao controle dos julgamentos de um médico, que pode não tomar as melhores decisões por você. • Medicamentos podem ser caros, mantendo você preso em planos de trabalho e seguro. • A medicação, por vezes, acompanha um “diagnóstico de incapacidade” que pode ser útil por um tempo, mas também pode se tornar uma armadilha vitalícia. • O estigma, a discriminação e o preconceito podem ser devastadores e até criar uma profecia autorrealizável. Os rótulos diagnósticos não podem ser retirados do registro da maneira como as histórias criminosas podem. • Medicamentos psiquiátricos podem transmitir a falsa visão de que a experiência Recuperação e Medicamentos 33 “normal” é produtiva, feliz e bem ajustada o tempo todo, sem mudanças de humor, dias ruins ou emoções fortes. Isso encoraja um falso padrão do que é ser humano. • A medicação pode levar à observação de sentimentos normais como “sintomas” da doença a serem interrompidos, o que nega às pessoas o processo de trabalhare aprender com suas próprias emoções mais complexas • Consumir medicações psiquiátricas pode criar uma esperança passiva de cura “mágica” que pode podar o assumir da responsabilidade pessoal e comunitária pela mudança. Retirando a medicação Capítulo 3 Como os efeitos da retirada afetam o corpo, a mente e o cérebro Excluindo desta lista os placebos, todos os medicamentos psiquiátricos funcionam causando mudanças cerebrais orgânicas. É por isso que sair leva à tantas desistências: seu cérebro se acostuma a ter o remédio e tem dificuldade em se ajustar quando a droga é removida. Leva tempo para trazer a atividade de receptores e substâncias químicas de volta ao estado original anterior à introdução dos comprimidos. Diminuir a medicação lentamente e gradualmente é o melhor a se fazer, pois permite que o cérebro e a mente se acostumem a ficar sem ela. Sair rápido não costuma dar tempo suficiente para qualquer ajuste cerebral, e qualquer um pode acabar tendo sintomas intensos de abstinência. Quando alguém para com uma medicação psiquiátrica, efeitos colaterais como o aumento da ansiedade, pânico, insônia, sintomas de depressão e outros - tão dolorosos quanto estes - podem surgir ou retornar. Recuperação e Medicamentos 35 Por outro lado, estes sintomas de abstinência não necessariamente provam que este alguém precise retomar o uso de medicamentos psiquiátricos, assim como dores de cabeça após parar de beber café, não provam que alguém precise novamente de cafeína ou de outra substância semelhante. Significa apenas que aquele cérebro se acostumou àquele padrão de ingestão e funcionamento e agora têm dificuldades em se ajustar a uma dose menor. Os medicamentos psiquiátricos não são como a insulina para um diabético: elas são uma ferramenta ou simplesmente um mecanismo de enfrentamento. Entretanto, em casos de uso prolongado, podem levar anos para que seus efeitos desapareçam por completo. A boa notícia é que todos podem se curar: pesquisas sobre neuroplasticidade apontam que o cérebro está sempre mudando e se adaptando. Amizades e amor, juntamente com um bom estilo de vida, uma boa nutrição e uma perspectiva positiva de futuro, ajudam a nutrir o cérebro e corpo para que se recupere logo. Apesar disso, pessoas podem achar que parar completamente com esse uso não é o certo a fazer no momento em que se encontram. Elas podem se sentir melhor em permanecer com a medicação e, em vez disso, decidir apenas reduzir ou continuar com a mesma dosagem e concentrar-se em novas maneiras de melhorar suas vidas. E tudo bem com isso. O fundamental é seguir as próprias necessidades sem julgamentos ou culpa, e obter apoio para decisões diante de sentimentos de vergonha ou impotência perante os outros, perante a si mesmo ou perante a vida. Continuando com a medicação, mas reduzindo seus danos Você pode decidir que, dado o grau de crise que está enfrentando e os obstáculos para alternativas viáveis, você deseja continuar com a medicação psiquiátrica. Não se sinta julgado por tomar a melhor decisão possível. Você tem o direito de fazer o que funciona melhor para você e outras pessoas nunca saberão como é viver sua vida. Pode ainda ser uma boa ideia adotar uma abordagem de redução de danos. Recuperação e Medicamentos 36 Faça alterações para melhorar a qualidade de sua vida e minimizar os riscos associados aos medicamentos que você está tomando: • Não deixe tudo para a medicação. Tenha um interesse ativo em sua saúde geral, tratamentos alternativos e ferramentas de bem-estar. Encontrar novas fontes de autocuidado pode aliviar os efeitos adversos e, eventualmente, reduzir sua necessidade de medicação. • Obtenha cuidados médicos regulares e mantenha-se em comunicação sobre seus medicamentos. Obtenha suporte de amigos e familiares confiáveis. • Certifique-se de que tem as receitas e os suplementos necessários, porque as doses em falta podem adicionar stress ao seu corpo e cérebro. Se você errar uma dose, não dobre. • Cuidado com as interações medicamentosas. Aprenda os riscos da combinação com outros medicamentos e tome cuidado com a mistura com drogas recreativas ou álcool. Algumas ervas e outros suplementos podem ter reações adversas. Pesquise seus medicamentos. • Não confie apenas no seu médico para orientação. Aprenda por si mesmo e conecte-se com outras pessoas que tomaram os mesmos medicamentos que você. • Descubra o que você pode de uma variedade de fontes sobre seus medicamentos. Use nutrição, ervas e suplementos para reduzir os efeitos adversos. • Considere explorar a redução da dosagem do medicamento, mesmo que você não pretenda sair completamente. Lembre-se de que mesmo uma pequena redução na dosagem pode causar efeitos de abstinência. • Se você está iniciando um medicamento pela primeira vez, algumas pessoas relatam que uma dose extremamente pequena, muito menor do que a recomendada, às vezes pode ser eficaz, com menos riscos. • Tente reduzir o número de diferentes drogas que você toma para apenas o essencial, entendendo quais carregam os maiores riscos. Atenha-se ao uso temporário, se puder. • Faça um teste regularmente para monitorar reações a medicamentos e faça linhas de base para novos medicamentos. Os testes podem incluir: tireoide, eletrólitos, glicose, nível de lítio, densidade óssea, pressão arterial, fígado, ECG, rim, cognição, Recuperação e Medicamentos 38 prolactina e rastreamento de outros efeitos adversos. Use os melhores e mais sensíveis testes disponíveis para revelar problemas precocemente. • Os antipsicóticos permanecem no corpo, e algumas pesquisas sugerem que “feriados de drogas” de um dia ou dois podem aliviar a toxicidade. Lembre-se de que todos são diferentes. • Explore o relacionamento emocional com seus medicamentos. Faça um desenho, crie uma dramatização, dê aos medicamentos uma voz e uma mensagem e faça um diálogo. Você conhece a energia ou o estado que a droga lhe dá? Você consegue encontrar outras maneiras de alcançar esse estado de energia? Eu quero parar com minhas medicações psiquiátricas, mas meu médico não me deixa; o que devo fazer? Alguns psiquiatras têm uma atitude de controle e não apoiarão a decisão de parar por uma serie de motivos. Eles podem ter medo da hospitalização e do risco de suicídio por parte de seus pacientes; alguns se veem como guardiões, sentindo como se tudo o que acontece é de sua responsabilidade; e outros, por exemplo, nunca conheceram pessoas que se recuperaram com sucesso seguindo um caminho tão pessoal. Se o seu psiquiatra não apoiar os seus objetivos, peça-lhe que explique detalhadamente as suas razões. Considere o que ele diz cuidadosamente - se estiver fazendo sentido, você pode reavaliar seu plano. Você também pode querer que um amigo ou aliado o ajude a se expressar, especialmente alguém em posição de autoridade, como um membro da família, terapeuta ou profissional de saúde. Apresente sua perspectiva claramente. Explique que você entende os riscos e descreva como você está se preparando para fazer mudanças cuidadosamente com um bom plano. Dê a eles uma cópia deste guia e os instrua sobre a pesquisa por trás de sua decisão e as muitas pessoas que conseguem reduzir e abandonar seus medicamentos. Lembre o médico de que seu trabalho é ajudá-lo a se ajudar, não administrar sua vida por você e que os riscos são seus. Recuperação e Medicamentos 39 Em todas as áreas da medicina hoje os pacientes estão se tornando consumidores capacitados, por isso não desista! Talvez você precise informar seu médico de que está indo em frente com seu plano: às vezes eles cooperam mesmo que não aprovem. Se o seu médico ainda não der apoio, considere mudar para um novo. Você também pode confiar em um outro profissional da saúde, como enfermeira, naturopata ou acupunturista.As vezes, as pessoas até começam uma redução de medicação sem informar seu médico ou conselheiro. Isso não é o melhor, mas pode ser compreensível em muitas circunstâncias. Avalie os riscos de tal abordagem com cuidado. Antes de você começar a parar Capítulo 4 Todo mundo é diferente, e não há uma maneira padrão de se retirar de qualquer medicamento psiquiátrico. A seguir, uma abordagem geral, um passo a passo que muitas pessoas acharam útil. Destina-se a ser moldado para atender às suas necessidades. Seja observador: siga o que seu corpo e coração estão dizendo e procure o conselho de pessoas que se importam com você. Por fim, mantenha um registro de como você reduziu seus medicamentos e o que aconteceu, para que possa estudar as mudanças pelas quais está passando e ensinar a outras pessoas sua experiência. Obter informações sobre seus medicamentos e abstinência Prepare-se aprendendo tudo o que puder sobre a retirada de seu medicamento psiquiátrico. Leia a partir de fontes tradicionais, bem como fontes alternativas, reúna-se e discuta a redução com outras pessoas. Liste seus efeitos adversos e certifique-se de que você está fazendo os testes adequados. Recuperação e Medicamentos 41 Considere seu tempo Quando é um bom momento para começar a sair? Quando é um mau momento? Se você quiser reduzir a medicação, o tempo é muito importante. Geralmente, é melhor esperar até que você tenha o que precisa primeiro, em vez de começar a sair despreparado (embora às vezes as próprias drogas tornem isso difícil). Lembre-se, sair pode ser um processo de longo prazo, então você pode querer se preparar como se estivesse fazendo uma grande mudança na vida. Reduzir e sair dos medicamentos provavelmente não será uma solução em si, mas o começo de novos aprendizados e desafios. • Você tem estabilidade na sua casa, relacionamentos e horários? Seria melhor se concentrar nesses primeiro? • Você tem adiado grandes problemas ou problemas que precisam de atenção? Há coisas preocupantes que você deve priorizar? Resolver outros assuntos pode ajudar você a se sentir mais no controle. • Você percebe um agravamento dos efeitos das drogas, ou você esteve nas drogas por um longo tempo e se sentiu “preso”? Você está se sentindo mais estável e capaz de enfrentar emoções difíceis? Estes podem ser bons momentos para se preparar para reduzir e sair. • Faça uma lista dos estressores que levaram à crise no passado. Quantos estão presentes hoje? Você prevê algum no futuro? Dê a si mesmo tempo para resolver isso antes de iniciar uma redução. Cultive Suporte • Obtenha ajuda se puder. Desenvolva um relacionamento colaborativo com um médico se possível, discuta com amigos e familiares e obtenha apoio para desenvolver seu plano. Explique que fortes emoções podem surgir para você. Certifique-se de que eles saibam que a abstinência pode ser difícil, mas que os sintomas de abstinência não significam necessariamente "recaída" ou que você precisa voltar ao medicamento. Faça uma lista de pessoas para ligar e ficar com as coisas se ficarem difíceis. • Liste seus gatilhos e sinais de alerta. Como você sabe que você está indo em direção à crise, e o que você fará? Sono, isolamento, emoções fortes ou estados alterados podem mostrar que você precisa de cuidados extras e suporte de bem-estar. Recuperação e Medicamentos 42 • Obtenha uma avaliação abrangente da saúde por um profissional que possa avaliar detalhadamente o seu bem-estar e oferecer formas restaurativas e preventivas de melhorar sua saúde. Muitas pessoas com diagnósticos psiquiátricos possuem problemas de saúde física escondidos e nunca descobertos. • Preste muita atenção à sua saúde durante a retirada. Este é um processo de desintoxicação estressante. Fortaleça seu sistema imunológico com muito descanso, água fresca, alimentação saudável, exercícios, luz solar, visitas à natureza e conexões com sua comunidade. Obtenha práticas de bem-estar antes de começar. Explore sua atitude Acredite que você pode melhorar sua vida. Com a atitude certa, você será capaz de fazer mudanças positivas, se está saindo, reduzindo seus medicamentos ou aumentando seu bem-estar. Muitas pessoas, mesmo que tenham consumido altas doses de medicamentos psiquiátricos por décadas, saíram ou reduziram essas doses; ou melhoraram suas vidas de outras maneiras. Afirme que você pode ter maior controle sobre sua saúde e vida. Certifique-se de que as pessoas ao seu redor acreditam na sua capacidade de fazer mudanças. Lembre-se que apenas diminuir sua dose pode ser um grande passo, e pode ser o suficiente, então seja flexível! O importante é acreditar que você pode melhorar sua vida e se encarregar de suas escolhas e medicamentos. Prepare-se para sentir fortes emoções Quando você para de tomar medicamentos psiquiátricos, você pode ter que aprender novas maneiras de trabalhar com seus sentimentos e experiências. Você pode se tornar mais sensível e vulnerável por um tempo. Seja paciente consigo mesmo e faça o melhor que puder, com apoio. Lembre-se que a vida nos apresenta constantemente desafios: emoções fortes não são necessariamente sinais de crises ou sintomas que precisam de mais medicação. Não há problema em ter sentimentos negativos ou estados alterados de consciência. Recuperação e Medicamentos 43 As vezes eles podem ser parte da riqueza e da profundidade de quem você é. Converse com outras pessoas sobre o que você está passando, tente se conectar com as sensações do seu corpo e gradualmente desenvolva suas habilidades. Diga às pessoas perto de você o que dizer e o que ajuda. Planeje estratégias alternativas de enfrentamento Nem sempre é possível, mas, se possível, crie alternativas antes de começar a reduzir. Você tem confiado na medicação para lidar com algumas dificuldades e você pode precisar de novos mecanismos de enfrentamento. Existem muitas alternativas, como grupos de apoio, nutrição, saúde holística, exercício, terapia, espiritualidade e estar na natureza. Todo mundo é diferente, então levará algum tempo para descobrir o “remédio pessoal” que funciona para você. Você pode querer ganhar alguma confiança em suas novas ferramentas antes de empreender a retirada das drogas. Certifique-se de que seus ajudantes estejam cientes de suas alternativas e possam lembrá-lo de usá- las. Se você puder, tenha tempo suficiente para colocar as alternativas em primeiro lugar. Trabalhando com o Medo Muitas pessoas que pararam com os medicamentos psiquiátricos relatam que o medo é o maior obstáculo no início do processo. Você pode se preocupar em voltar para o hospital, perder o emprego, entrar em conflito com amigos e familiares, provocar estados alterados de consciência, enfrentar uma retirada difícil, desencadear sentimentos suicidas ou perder uma ferramenta usada para lidar com emoções e problemas subjacentes. E como pode haver riscos reais, algum medo faz sentido. Começar uma redução de medicação é como embarcar numa viagem ou jornada: o desconhecido pode ser uma possibilidade empolgante ou uma ameaça intimidante. É importante reconhecer que você pode ser uma pessoa muito diferente agora do que quando começou a usa-la. Você pode ter crescido, desenvolvido novas habilidades e obtido novos entendimentos. Você está lidando com as coisas de maneira diferente do que quando foi colocado pela primeira vez em medicação. Recuperação e Medicamentos 45 Estressores passados podem não estar mais presentes, e as circunstâncias de vida podem ter mudado. E quaisquer que sejam as dificuldades que você tenha, não necessariamente serão sintomas de um distúrbio ou sinais de que você precisa novamente de medicação. Pode ser útil listar seus medos e pedir a um amigo que o ajude a examinar o que é real e o que pode ser exagerado,assim como qualquer coisa sobre a qual você possa não ter pensado. Você pode ser realista sobre seus medos e honesto sobre as diferentes possibilidades? Que tipo de preparações você pode fazer? Quais recursos, ferramentas e suportes você tem? Você pode encontrar espaço para esperança - e transformação? O futuro não precisa necessariamente ser o mesmo que o passado: não deixe que um rótulo de "desordem" ou uma terrível previsão de um médico convencê-lo de que a mudança é impossível. Uso intermitente: tomando a medicação de tempos em tempos Algumas medicações levam tempo para acumular efeitos no corpo, mas outras - especialmente para ajudar com o sono e episódios de sofrimento - funcionam imediatamente. Pode ser sábio usá-los ocasionalmente para descansar, prevenir crises ou protegê-lo quando começar a extremos emocionais avassaladores. Seja flexível, mas cauteloso ao considerar o meio termo entre o uso diário e o uso intermitente conforme necessário. Muitas pessoas que se livram das medicações tomam- nas de novo depois de algum tempo, por exemplo, usando brevemente um antipsicótico ou um benzodiazepínico quando sentem a necessidade. Há, no entanto, pouca pesquisa sobre os possíveis riscos de sair e voltar ao uso de lítio, antidepressivos ou anticonvulsivantes. Quais alternativas existem ao uso de medicamentos psiquiátricos? • Amizades - com pessoas que acreditam em sua capacidade de empoderamento - podem Recuperação e Medicamentos 46 ser cruciais. Idealmente, essas pessoas devem ter visto você em seus “dias ruins”, pessoas com quem você pode ser honesto, estão lá quando você está com problemas e estão preparadas para as dificuldades que podem surgir da retirada. Ao mesmo tempo, eles devem ser amigos que conhecem os limites do que podem oferecer. • Considere sair de drogas recreativas e álcool. Muitas pessoas são mais sensíveis que outras, então o que afeta seus amigos de uma maneira pode afetá-lo mais fortemente. Abster-se de drogas e álcool pode melhorar sua saúde mental, e até mesmo drogas mais leves, como a cafeína, podem prejudicar a saúde, a estabilidade e o sono de algumas pessoas. Seja cauteloso em relação à maconha: para alguns, pode aliviar os sintomas de abstinência (especialmente o CBD), enquanto para outros pode contribuir para quadros depressivos ou de crise psicótica. • Descansar. Encontre maneiras de garantir uma rotina de sono saudável. As prescrições podem ser um bom backup se usadas com moderação, mas comece primeiro com exercícios; ervas como valeriana (ocasionalmente), lúpulo e calota craniana; homeopatia e acupuntura; suplementos incluindo melatonina, cálcio e magnésio; ou produtos sem receita. Abordar qualquer estresse ou conflito que contribua para a insônia, e considerar eliminar a cafeína vinda de café e refrigerantes. Mesmo que você tenha horas suficientes, dormir mais cedo do que 11 da noite é mais tranquilo. Deixe a área da sua cama em paz e dê-se um tempo de relaxamento antes de dormir, livre de computadores e estimulação. Tire cochilos se eles não interferirem no seu horário noturno e, se você não conseguir dormir, descansar tranquilamente enquanto acordado ainda pode ser benéfico. • Espere. As vezes o tempo está do seu lado, especialmente para a retirada, e seu processo de cura natural só precisa de paciência. • A nutrição pode desempenhar um papel enorme na estabilidade mental e na saúde geral. Explore a quais alimentos você pode ser alérgico, como aos que contém glúten, cafeína ou leite. Considere tomar suplementos para nutrir o cérebro e ajudar o corpo a se curar, como vitamina C, óleo de peixe, ácidos graxos essenciais, vitaminas D e B, aminoácidos e pró-bióticos para restaurar a digestão saudável. Coma muitos vegetais, proteínas, frutas frescas e Recuperação e Medicamentos 48 gorduras saturadas saudáveis; e tome cuidado com alimentos não saudáveis (experimente trocar alimentos que você almeja, mas que podem não fazer bem, por alternativas mais saudáveis). Algumas pessoas são afetadas por adoçantes artificiais, conservantes e outros produtos químicos em alimentos processados. Aprenda sobre o índice glicêmico alimentar se o seu nível de açúcar no sangue estiver instável. Se você toma ervas ou remédios para doenças físicas, consulte um fitoterapeuta sobre interações com suplementos, especialmente se estiver grávida ou amamentando. • Exercícios como caminhar, alongar, praticar esportes, nadar ou andar de bicicleta podem reduzir drasticamente a ansiedade e o estresse. O exercício também ajuda o corpo a se desintoxicar. Para algumas pessoas, a meditação também é muito útil para o estresse. • Beba muita água fresca ao longo do dia. A água é crucial para a capacidade de desintoxicação do organismo. Cada copo de bebida alcoólica, café, chá preto ou refrigerante, desidrata você e precisa ser substituído por uma quantidade igual de água. Se a sua água da torneira não for de boa qualidade, considere um filtro. Se você estiver superaquecido, suando ou ficando desidratado, certifique-se de repor os eletrólitos de sódio, açúcar e potássio. • Examine de perto os outros medicamentos que você está tomando para diagnósticos físicos. Alguns, como o esteroide, podem causar ansiedade, distúrbios do sono e quadros de psicose. • Os hormônios desempenham um grande papel na estabilidade emocional. Se o seu ciclo menstrual for irregular ou se você tiver fortes mudanças hormonais, procure ajuda de um profissional de saúde. • Alguns praticantes holísticos, como homeopatas, naturopatas, herboristas e acupunturistas, ajudaram pessoas a reduzirem suas dosagens medicamentosas. Eles podem fornecer alternativas poderosas e não tóxicas que podem ajudar com a ansiedade, insônia e outros sintomas. Tente fazer mudanças de estilo de vida recomendadas, como dieta e exercício. Se o dinheiro é um obstáculo, seja persistente. Recuperação e Medicamentos 49 Encontre a referência de alguém em quem você confia, porque alguns provedores alternativos não são confiáveis. Se você tomar ervas ou suplementos, verifique os efeitos colaterais ou interações medicamentosas (muitos médicos e fontes tradicionais exageram os riscos sobre ervas e suplementos). • Um grupo de apoio de colegas, terapeuta, trabalhadora do corpo ou curador de energia pode ser muito útil. Permita-se tempo para se estabelecer como um novo participante ou cliente. • Para muitas pessoas, a espiritualidade ajuda a suportar o sofrimento. Encontre uma prática que não exerça julgamentos e aceite você como você é. • Estar na natureza e em torno de plantas e animais pode ajudar você a centrar e lhe dar uma perspectiva maior da sua situação. • Arte, música, artesanato, dança e criatividade são maneiras poderosas de expressar o que é inacessível com palavras e descobrir o significado de sua provação. Até mesmo um esboço de giz de cera em um diário ou uma simples colagem com o tema “o que sinto agora?” pode ser muito útil; ouvir música pode ser uma terapia salvadora para muita gente também. • Considere encontrar redes de suporte on-line Parando: Passo a Passo Capítulo 5 Reduzindo a dosagem dos medicamentos com segurança A seguir, falamos de considerações gerais, e não de um padrão único que se ajusta a todos da mesma maneira. Cada um se adapta seguindo seu próprio tempo e suas próprias características: • Geralmente, é melhor ir devagar e parar gradualmente. Embora algumas pessoas possam sair com sucesso rapidamente ou de uma só vez, a retirada abrupta de medicamentos psiquiátricos pode desencadear diversos efeitos colaterais de abstinência, remontando situações do passado. • Comece com um medicamento. Escolha aquela que está lhe causando os piores efeitos negativos, a medicação que você sente ser a menos necessária, aque provavelmente será a mais fácil de parar. • Faça um plano e revise-o conforme necessário. Algumas pessoas podem ir mais devagar ou mais rápido, mas uma maneira de começar é 10% ou menos de redução da sua dose original a cada 2-3 semanas ou mais. Faça isso até chegar à metade da dose original e diminua 10% do novo nível. Recuperação e Medicamentos 51 Tome pílulas de tamanho diferente, use um cortador de pílulas (algumas pílulas não devem ser cortadas) ou um copo medidor para líquidos. Por exemplo, se você começou com 400 mg. diariamente, você pode reduzir a dose em 10 por cento (40 mg), para 360 mg. Após 2 semanas ou mais, se os sentimentos forem toleráveis, reduza os próximos 40 mg. A redução o levaria a 320 mg e assim por diante. Se você chegou a 200 mg e uma queda adicional de 40 mg foi muito difícil, você poderia reduzir 10 por cento de 200 mg. (20 mg), e depois descer para 180 mg e etc. Esta é apenas uma diretriz geral, no entanto, e muitas pessoas fazem as coisas de maneira diferente; considere começar com uma dose teste e revisar conforme necessário. • Se você está tomando uma medicação há muito tempo, você pode querer começar com uma redução ainda menor e ficar lá por um tempo. Seja flexível - sair completamente pode não ser o certo para você. • Após sua primeira redução, monitore os efeitos cuidadosamente. Fique em contato próximo com seu médico, um amigo, um grupo de apoio ou um conselheiro. Considere manter um diário de sua experiência, talvez com a ajuda de alguém. Lembre-se de que, se as coisas piorarem logo após a redução do medicamento, elas podem ser efeitos de abstinência e podem passar. • Especialmente com antidepressivos e benzodiazepínicos, as vezes você pode aliviar a abstinência ao mudar para uma dose equivalente de um medicamento similar com uma “meia-vida” mais longa. Permita-se ter tempo, pelo menos duas semanas, para ajustar a sua nova medicação, ou mais, se houverem dificuldades. • Se você precisar de doses muito pequenas ou irregulares, use farmácias compostas ou mude para a forma líquida e um copo medidor ou seringa para controlar a dosagem. Fale com seu farmacêutico. • Se você estiver tomando outros medicamentos para efeitos colaterais, permaneça neles até reduzir substancialmente seu medicamento e, em seguida, comece a reduzir gradualmente a medicação para efeitos colaterais. • Se você estiver tomando medicamentos “normais” junto com medicamentos psiquiátricos, as dosagens e os efeitos podem estar interagindo. Recuperação e Medicamentos 52 Pesquise sobre essa interação e sobre as medicações, seja especialmente cuidadoso e gradual e obtenha bons conselhos médicos. • As benzodiazepinas são altamente viciantes e, por vezes, as mais difíceis de parar de tomar, especialmente no final. A retirada abrupta é perigosa. Você pode querer faze-la lentamente. • É muito comum que as pessoas iniciem o processo de redução e percebam que estão indo rápido demais. Se a abstinência é insuportável, muito difícil ou continua por muito tempo, aumente a dose novamente. Dê a si mesmo duas semanas ou mais e tente novamente. Se você ainda tiver dificuldade, aumente a dose e, em seguida, reduza mais lentamente, ou apenas fique na dosagem em que você está. • Se você acabar em crise, a veja como um passo em um processo maior de aprendizado e descoberta, não como um fracasso. Se puder, retome a medicação mínima necessária para recuperar sua estabilidade, em vez de começar tudo de novo. Tenha em mente que seu obstáculo pode se encontrar na retirada da droga em si, não necessariamente nas emoções subjacentes ou estados extremos. • Lembre-se, você tem todo o direito de achar difícil parar completamente, então aceite isso como uma possibilidade e seja flexível com seus objetivos. Inclua outras maneiras de melhorar sua vida e bem- estar e espere para tentar novamente quando for a hora certa. Como isso você irá se sentir? Todo mundo é diferente, e é importante manter sua mente aberta para o que você vai experimentar. Você pode não sentir qualquer retirada, ou a retirada pode atingir você como uma tonelada de tijolos. Quarenta por cento das pessoas participantes do estudo realizado pela MIND com medicamentos e seus efeitos não relataram problemas significativos em suas retiradas. As vezes, porém, a abstinência pode ser tão severa que você pode precisar tentar voltar ao medicamento que utilizava ou mesmo aumentar sua dosagem. Parece que quanto maior tempo você está neles, maior a probabilidade de você ter uma retirada mais intensa. Ter saúde em geral, um bom apoio, ferramentas de enfrentamento e uma atitude amorosa positiva, podem torná-lo mais capaz de tolerar os efeitos da abstinência. Recuperação e Medicamentos 54 As mudanças químicas em seu cérebro ainda podem ser dramáticas e todos estão vulneráveis. Apoie a capacidade de cura natural do seu corpo e lembre-se de que o tempo está do seu lado em qualquer processo de desintoxicação. É fundamental preparar-se para possíveis problemas, incluindo meio de lidar com uma crise. Não espere o pior, esteja aberto ao que está acontecendo. Os efeitos de abstinência mais comuns são o aumento da ansiedade e uma maior dificuldade para dormir (insônia). Outros efeitos abrangem uma outra gama de fatores e podem incluir: sensações de mal estar, ataques de pânico, pensamentos intrusivos/obsessões, dores de cabeça, sintomas de depressão, tontura, fadiga, tremores, dificuldade respiratória, problemas de memória, movimentos involuntários, espasmos musculares e náuseas. A abstinência também pode desencadear crises, alterações de personalidade, compulsões, quadros de psicose, delírios e outros sintomas psiquiátricos, em casos mais graves. Os sintomas mais graves associados aos antidepressivos podem incluir agitação, “choques elétricos”, tendências suicidas e lesões autoprovocadas, como cortes e autoagressão. Muitas vezes as pessoas relatam os piores efeitos de retirada no final do processo, quando reduzem sua dosagem para quase zero. Seja criativo e flexível. Todos esses efeitos podem diminuir em alguns dias, semanas ou meses, por isso é importante ser o mais paciente possível. O ajuste emocional e desintoxicante pode durar meses ou até um ano, ou mais, à medida que você aprende a lidar com sentimentos e experiências que foram suprimidas pela medicação e à medida que seu cérebro e corpo se recuperam. Para muitas pessoas, a parte mais difícil é o pós retirada, quando se está fora das medicações e lutando com suas emoções e experiências, incluindo a desintoxicação e a cura a longo prazo. Recuperação e Medicamentos 55 Identificando uma abstinência, o retorno de emoções e novos desafios Nem todos os sintomas dolorosos quando se trata de medicamentos fazem parte da abstinência. Você pode experimentar, por exemplo, o retorno de emoções difíceis que a medicação estaria ajudando a suprimir até então, ou mesmo novas emoções. Mas os sintomas de abstinência tendem a começar logo após a redução das doses, e podem diminuir com o tempo à medida que o cérebro se ajusta. Não há uma maneira definitiva de distinguir entre eles, especialmente com o papel do efeito placebo e da expectativa. Se os sintomas são insuportáveis ou muito perturbadores, você pode estar indo rápido demais com a redução e considerar uma abordagem mais devagar pode ajudar. Olhando para o futuro O sofrimento pode colocar o diagnóstico e os medicamentos no centro de nossa identidade. Embora a atenção à saúde mental possa salvar vidas por algum tempo, chegamos a um ponto em que precisamos nos unir à comunidade maior e nos concentrar mais em nossos dons, talentos e contribuições positivas. Ao melhorar seu relacionamento com seus medicamentos, pergunte-se: como as dificuldades interromperam minha vida e o que eu quero