Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 Luiza D. V. Torriani ATM 2024/2 A clínica ampliada é uma ferramenta teórica e pratica com finalidade de contribuir para uma abordagem clinica do adoecimento e do sofrimento, considerando a singularidade do sujeito e a complexidade do processo saúde/doença, permitindo o enfrentamento da fragmentação do conhecimento e das ações de saúde na busca do equilíbrio entre danos e benefícios gerados pelas práticas de saúde. a clinica ampliada nada mais é do que ver o indivíduo/paciente como um todo. Essa preza a construção ampliada do termo saúde/doença. As vezes a primeira queixa que a pessoa traz na consulta, nem é a queixa mais importante. Logo, é importante descobrir qual é o real problema desse indivíduo e ver ela como um todo, fazer um resgate de todos os âmbitos dessa pessoa (trabalho, vida financeira, amorosa, perdas, etc..). A clinica ampliada preconiza a compreensão ampla do processo saúde-doença, evitando que se privilegie excessivamente um conhecimento especifico; e possibilita que outros aspectos, não apensas o biológico, possam ser compreendidos e trabalhados pelos profissionais da saúde. Cada pessoa tem a sua especialização e isso é ótimo, o que não deve ocorrer é o restringimento do paciente a uma área e uma doença. Construir uma relação medico paciente que faça com que o ultimo nos conte de verdade o que está acontecendo. Eixos da clínica ampliada: Compreensão ampliada do processo saúde- doença: primeiro de tudo não se pode ver saúde somente como a ausência de doença, hoje se tem um conceito mais ampliado definido pela OMS que engloba um estado completo de bem-estar físico, mental e social. No entanto, esse também apresenta problemas, pois estar em um estado COMPLETO é algo muito inatingível e a ausência disso nem sempre quer dizer ausência de saúde. Todo esse estado do individuo está correlacionado com os determinantes sociais da saúde dos mesmos, esses estão diretamente ligados ao bem-estar ou não desse indivíduo. O processo saúde-doença traz uma ideia de que essas não são duas coisas antagônicas, uma pessoa não precisa obrigatoriamente ter um ou outro. Ampliação do objeto de trabalho do profissional da saúde: Evitar recomendações culpabilizantes – doença multifatorial não tem causa única → Ver o paciente como um todo, a maneira como a gente se comunica com ele é importante. Clinica ampliada recomenda que não apavoremos o paciente ‘’se não parar de fumar vai morrer’’ → evitar recomendações culpabilizantes (doença multifatorial não te, causa única). Negociar restrições sem rancor e levando em conta as preferencias do paciente → ‘’diabético não pode comer doce’’ a questão não é proibir, é diminuir (se possível, deixar pra comer doce só em festas, ocasiões especiais). 2 Luiza D. V. Torriani ATM 2024/2 Trabalhar com ofertas e não somente com restrições → atividade física (como encaixar na semana, onde pode fazer a atividade física, se tem dinheiro para academia, se não caminhadas ao parque, etc.). Individualizar o tratamento e elaborar um Projeto Terapêutico Singular. Valorizar a qualidade de vida do paciente. Evitar iniciar a consulta questionando comportamentos e medidas → primeiro cumprimentar, perguntar como está, pra depois ir para os exames com calma. Perguntar se o paciente entendeu o que foi dito → explicar de forma didática, pedir para repetir o que tem que fazer, explicar o porquê do exame, porque precisa tomar aquele remédio, perguntar se tem dúvida. Evitar dizer ‘’sempre’’ ou ‘’nunca’’ – trabalhar com o conceito de chances; na medicina nada é 100% de certeza. Evitar assustar o paciente. Lembrar que a doença não pode ser a única preocupação da vida do paciente. Atuar com o máximo de apoio e o mínimo de medicação. Suporte para profissionais da saúde e transformação dos meios e instrumentos de trabalho: Dispositivos de gestão – política de educação permanente em saúde (momentos que os profissionais de saúde se encontrem e trocarem ideias, um ajudar o outro, isso ajuda a equipe a trabalhar melhor juntos) • PS: 5 pacientes por hora; • Sobre o sistema de saúde mudar a maneira como o profissional de saúde é tratado. Construção compartilhada dos diagnósticos e planos terapêuticos: Projeto terapêutico singular (PTS): • O Projeto Terapêutico Singular é um conjunto de propostas de condutas terapêuticas articuladas, para um sujeito individual ou coletivo, resultado da discussão coletiva de uma equipe interdisciplinar, geralmente dedicado a situações mais complexas. No fundo, é uma variação da discussão de “caso clínico” • Os quatro movimentos do Projeto Terapêutico Compartilhada 1. Definir hipóteses diagnósticas: avaliação abrangente, conceito de vulnerabilidade (como a família se sustenta pelo agente social, fisioterapeuta viu que o paciente tem problema no joelho e a causa está cheia de degraus, medico ver que a diabete está descompensada, é um trabalho de equipe, cada profissão vai avaliar coisas diferentes desse paciente) 2. Definir metas: metas a curto, médio e longo prazo (meta de fazer atividade física, de compensar a diabetes, 3 Luiza D. V. Torriani ATM 2024/2 3. Divisão de responsabilidades: estabelecer profissional de referencia (‘’líder’’ do caso, não precisa ser sempre o médico, esse profissional é o contato que a família, pode ser qualquer um dos profissionais envolvidos do caso) 4. Reavaliação: reunir a equipe pra ver se o plano está dando certo. Trabalho em equipe na saúde: • Definição: o trabalho em equipe pode ser definido como um conjunto de pessoas com conhecimentos diversos, mas que se unem em prol de objetivos comuns, negociando e elaborando um plano de ação bem definido, trabalhando em consonância e com comprometimento mútuo, complementando o trabalho com suas habilidades variadas, aumentando a chance de êxito no resultado do trabalho empreendido. • O objetivo é juntar pessoas diferentes, com conhecimentos diferentes, pra fazer um trabalho que una saberes em prol do paciente. Núcleo profissional: é a profissão (nós: medicina) Campo: visão de equipe, todo mundo contribui naquilo que é comum (qual é a melhor maneira de conversar com um determinado paciente, por exemplo). Multidisciplinaridade: várias disciplinas, mais cada um no seu quadrado Interdisciplinaridade: várias disciplinas articuladas entre si Transdisciplinaridade: cria uma nova disciplina (bioquímica + química = bioquímica) Chefe x Líder: Chefe manda, dá as ordens aos outros Líder orienta, a pessoa que vai ajudar as pessoas da equipe, guiar qual é o melhor caminho ➔ Equipe que funciona de maneira interdisciplinar que tenha um líder de referência. 4 Luiza D. V. Torriani ATM 2024/2 Família: não precisa de laços sanguíneos. Família são os que convivem juntos, sentimento de pertencimento. Significa apoio, cuidado e proteção. É, ao mesmo tempo, uma fonte de modelos ‘’fruta não cai longe do pé’’ A definição de família, embora não exclusiva, é a de ser um grupo de pessoas que convivem, têm laços intensos de proximidade e compartilham o sentimento de identidade e pertencimento, que influenciarão, de alguma forma, suas vidas. A família representa a proteção, o apoio e também a fonte de modelos que direcionam a forma como cada um aprende a ser e a enfrentar as dificuldades do mundo. Tipos de família: → Nuclear: pai, mães e filhos. → Extensa: relações de consanguinidade (moram outros parentes – avôs, tio, cunhado). → Abrangente: não são parentes de sangue, mas habitam a mesma casa. Importância da família para a saúde: → A família pode significar proteção e apoio ou poderá ser o centro da doença ou conflito, dependendo da estrutura familiar, sua dinâmica de relaçãoe o período do ciclo familiar. → Uma suposição comum é que a vida familiar é feliz e harmoniosa, mas que este é um mito idealizado, já que as famílias estão constantemente lutando com os problemas da vida. → O que distingue uma família funcional não é a ausência de problemas, mas sim estrutura e funcionamento familiares funcionais. Família disfuncional: traz muitos problemas e prejuízos pros indivíduos, além de não ajudar o indiv. Quando está doente também cria situações que propiciam o desenvolvimento de doenças. Abuso físico, psicológico, moral, sexual, etc. Uma família funcional não significa família perfeita, que não há brigas nem conflitos Objetivos da abordagem familiar: usar o sistema de apoio e cuidado da família a favor do paciente. Entender como é a família do paciente ajuda a antecipar e reduzir os efeitos do estresse familiar e usar a família como recurso para cuidar das pessoas. Antecipar e reduzir os efeitos do estresse familiar e usar a família como recurso para cuidar das pessoas. Ciclo de vida: Ocorre alterações dentro da família, transição de fases familiar (é o momento propicio para conflitos e adoecimentos) e de papeis → O ciclo de vida familiar é uma sequência de transformações na história do desenvolvimento da família. → Cada família atravessa diferentes fases em suas vidas, e cada nova etapa é um desafio para que a família se organize e obtenha novamente o equilíbrio. → O momento de maior vulnerabilidade para o aparecimento de sintomas, em geral, coincide com os períodos de transição de uma fase a outra do ciclo de vida (crises esperadas) ou em crises familiares inesperadas. → Crise esperada: como a aborrecencia dos adolescentes. → Crises inesperadas do ciclo de vida familiar: quarentena, doenças, por exemplo. 5 Luiza D. V. Torriani ATM 2024/2 Crise esperada do ciclo de vida familiar: passagem de um estágio pra outro, momento de vulnerabilidade Ciclo de vida familiar nos países em desenvolvimento: mais curto e fases meio misturadas (não temos uma limitação, o que dificulta identificar as crises nos momentos de transição), principalmente na classe mais popular. São 3 fases: • Estágio da adolescência/adulto jovem solteiro: as fronteiras entre a adolescência e a idade adulta jovem são confusas, já que os adolescentes são responsáveis por si mesmos e utilizados como fonte de renda a partir dos 10 ou 11 anos de idade. • Estágio da família com filhos: começa sem que ocorra necessariamente o casamento, mas com a geração de filhos e a busca por formar um sistema conjugal, assumir papéis paternos e realinhamento dos relacionamentos com a família de origem. • Estágio tardio da vida familiar: ocorre com frequência uma composição familiar com três ou quatro gerações. Assim, há pouca probabilidade de haver “ninho vazio” (não saem de casa para ter os filhos, moram todos juntos, tem idoso, adulto, adolescente, criança, bebe, todos morando na mesma casa), e muitas vezes a base de sustentação familiar depende da aposentadoria de um dos avós, em geral a avó, que persiste com responsabilidades sobre a sobrevivência de todos Crises inesperadas da vida familiar: como a quarentena, mortes/adoecimentos (principalmente de crianças e adolescentes, quando não esperamos), divórcios, etc. Genograma: O genograma é uma ferramenta para descrever a história das pessoas e duas famílias. Funciona como um instrumento para mapear, amplia o conhecimento sobre sua a sua família e realizar intervenções pelos profissionais nos cuidados de saúde. Não existe um momento especifico da consulta de abordagem familiar para a realização do genograma e não é necessária a presença de todos os integrantes da família para que seja realizado. O desenho do genograma prove um resumo de uma grande quantidade de informações, que pode ser explorado na busca de conflitos e de recursos familiares, além de fornecer informações sobre os padrões de relacionamento em gerações anteriores, que geralmente indicam modelos implícitos de funcionamento familiar para a próxima geração. Nada mais é do que um mapeamento familiar, que se torna muito interessante não só na questão de doenças hereditárias, ele também oferece um padrão de comportamento, não só em relação a brigas e conflitos, mas também em relação a hábitos, vícios e comportamentos. → A construção do genograma deve ser composta por no mínimo três gerações de componentes familiares; → O desenho do genograma começa a partir da geração da pessoa que é considerada como pessoa índice, que é grifada com dupla linha ao redor de sua representação gráfica; → Homens são representados por quadrados, colocados à esquerda e mulheres, por círculos, à direita; → As pessoas que moram na mesma casa são envolvidas por uma linha tracejada; → Existe uma representação gráfica para expressar a composição estrutural, que presenta a arquitetura e a anatomia familiar, seus membros, idades, enfermidades ou fatores de risco, situação laboral, os vivos e os falecidos; → Uma outra representação gráfica para expressar o componente funcional, que contempla a informação obtida e mostra uma visão dinâmica, indicando as interações entre os membros da família. 6 Luiza D. V. Torriani ATM 2024/2 Genograma de 4 gerações, no qual Dona Maria é a paciente em questão, essa mora sozinha. Abordagens comunitárias: Comunidade: conjunto de pessoas com interesses mútuos que vivem no mesmo lugar e se organizam dentro de um conjunto de normas. Definições por limites geográficos, culturais, interesses coletivos, entre outros. EX: condomínios, universidades, entre outros. Importância da comunidade para a saúde: A comunidade em que a pessoa está inserida vai interferir diretamente nas questões de saúde, de hábito, de conhecimento. Em uma favela por exemplo, as casas são muito próximas umas das outras, sem tanta individualidade, muitas sem saneamento básico e eletricidade. Todos esses pontos e aspectos vão interferir diretamente na saúde das pessoas que lá vivem. Outro exemplo é a saúde da população rural, que mora mais longe de meios como hospitais e mais expostos a alguns fatores do que de outros. A comunidade em que o paciente está inserido interfere diretamente na sua saúde e na abordagem que o medico vai precisar fazer com o mesmo. Territorialização: → Definição do território; → Mapeamento e conhecimento do território; → Adscrição da clientela: conhecer as pessoas da comunidade, as famílias e relacionamentos; → Diagnostico comunitário: analisar os principais problemas de saúde dessa comunidade e qual a relação que esses problemas têm ou não com o ambiente dessa comunidade; → Inserção comunitária: equipe de saúde seja reconhecida como parte daquela comunidade. Dentro disso serão feitas abordagens comunitárias como: → Processo de territorialização; → Inserção comunitária; → Cuidado domiciliar; → Grupos de educação em saúde; → Promoção da saúde, terapias comunitárias, entre outros. Cuidado domiciliar: O domicilio é um cenário onde as relações sociais se evidenciam, e a percepção dessas relações traz elementos que podem fortalecer o potencial de saúde ou mesmo contribuir pra o processo de adoecimento. Objetivo: reconhecimento de fragilidades, riscos, potencialidades e possibilidades para a construção de ambientes mais saudáveis no espaço familiar proporcionando a integridade no cuidado. O cuidador normalmente acaba sendo sobrecarregado e tem demandas por conta desse trabalho excessivo. No que se refere à família, é importante saber que a doença inicialmente gera um movimento centrípeto, fazendo com que todos os componentes da família se organizem e contribuam com o cuidado. Com o prolongamento da situação, esse movimento da família passa aser centrifugo, com designação de um cuidador familiar ou contratado. São situações em que se tem a possibilidade de atender pessoas que não poderiam ir até o consultório médico, entender a realidade em que vivem, o porque o tratamento não está se adaptando ou de acordo com o contexto em que vive qual seria o melhor tratamento. É um trabalho individualizado que visa um melhor atendimento e bem-estar do paciente. 7 Luiza D. V. Torriani ATM 2024/2 Essa escala determina a ordem de visita que deve ser seguida. Iniciando pelas casas com a pontuação mais alta. Avaliação da sobrecarga dos cuidadores: Escala de ZARIT: 1. Sente que, por causa do tempo que utiliza com o doente já não tem tempo suficiente para você mesmo? 2. Sente-se estressado/angustiado por ter que cuidar do doente e ao mesmo tempo ser responsável por outras tarefas? 3. Acha que a situação atual afeta a sua relação com amigos ou outros elementos da família de uma forma negativa? 4. Sente-se exausto quando tem de estar junto do seu familiar/doente? 5. Sente que sua saúde tem sido afetada por ter que cuidar do doente? 6. Sente que tem perdido o controle da sua vida desde que a doença do seu familiar/doente se manifestou? 7. No geral, sente-se muito sobrecarregado por ter que cuidar do doente? A partir da avaliação, se for de moderada a grave a sobrecarga, deve ser feita uma intervenção e procura de melhora. Grupos de educação em saúde: → Benefícios: ajuda mútua e educação em saúde. → Planejamento: objetivos, temas, facilitador, público-alvo, técnicas, materiais, local, duração, características. → Recomendações: três a quinze pessoas, uma a três vezes por semana, com duração de 60, 90 ou 120 minutos. → Podem ser grupos abertos ou fechados, homogêneos ou heterogêneos. → Evitar: “palestra do doutor que vai ensinar como é o jeito certo”. 8 Luiza D. V. Torriani ATM 2024/2 Níveis de prevenção: Prevenção primaria: É o conjunto de atividades que visam evitar ou remover a exposição de um indivíduo ou de uma população a um fator de risco ou agente causal antes que se desenvolva um mecanismo patológico. (EX: imunização e diminuir a exposição do paciente a fatores de risco). Prevenção secundária: Ação para detectar doenças num estágio precoce / assintomático em pessoas ou populações, facilitando a cura, evitando consequências ou a disseminação da doença. (EX: screening / rastreamento). Prevenção terciaria: Conjunto de atividades que têm como finalidade reduzir os custos sociais e econômicos (complicações) dos estados de doença na população, por meio da reabilitação e reintegração precoce (EX: reabilitação cardíaca pós-IAM, evitar que novas complicações ocorram). Maioria das situações feitas na medicina, pessoas doentes que os médicos evitam que a doença progrida, piore, minimizar as sequelas e complicações da doença, fazer um tratamento. Prevenção quaternária: Ação para evitar sobrediagnóstico ou sobretratamento, evitando ação invasiva da medicina (iatrogenia – excesso de médicos, excesso de exames, de remédios) e oferecendo cuidados éticos e cientificamente embasados. Rastreamento: O rastreamento (ou screening) é a realização de testes diagnósticos em populações/pessoas assintomáticas, com o objetivo de diagnóstico precoce, tendo como objetivo último reduzir a morbimortalidade da doença rastreada. OBS: para rastreamento de etilismo se faz o questionário de CAGE. OBS: para rastreamento de tabagismo se faz o teste de Fagerstrom. 9 Luiza D. V. Torriani ATM 2024/2 Para que uma doença possa ser rastreada, deve cumprir os critérios de Frame e Carlson: → Causa comum de morbimortalidade; → Detectável e tratável em etapa pré- sintomática; → Os testes para diagnosticar devem ser efetivos e eficazes; → O tratamento precoce deve ser melhor que o tratamento na etapa sintomática ou de diagnóstico habitual; → O dano potencial da intervenção deve ser menor que o do tratamento não precoce. Prevenção quaternária: Conceito: Prevenção quaternária foi definida como a detecção de indivíduos em risco de tratamento excessivo, para protegê-los de novas intervenções médicas inapropriadas e sugerir-lhes alternativas eticamente aceitáveis. “Prevenção quaternária é a intervenção que evita ou atenua as consequências de atividades desnecessárias ou excessivas do sistema sanitário” (Jamoulle, 1986). “Proteger pacientes saudáveis de investigações, testes ou tratamentos desnecessários” (Jamoulle, 2003). “Resistência contínua frente ao intervencionismo medico, ante à medicalização da vida diária e sobre o abuso a respeito da definição de saúde, de fator de risco e enfermidade” (Gérvas, 2006). Medicalização: entende-se por medicalização o processo que transforma, artificialmente, questões não médicas em problemas médicos. Problemas de diferentes ordens são apresentados como “doenças”, “transtornos”, “distúrbios” que escamoteiam as grandes questões políticas, sociais, culturais, afetivas que afligem a vida das pessoas. É extremamente comum quando se fala principalmente em saúde mental, o limite do que é normal e o que é doença. EX: crianças agitadas naturalmente que possuem muita energia e professores ou até pais que dão remédios como se fosse um problema de ansiedade, déficit de atenção, entre outros. EX: fatores de riscos tratados como doença, muito visto na hipertensão arterial sistêmica, essa não é uma doença em si, é um fator de risco que aumenta a predisposição para doenças e complicações cardiovasculares, esse fator pode ser controlado com mudanças de hábitos, mas como muitas não fazem e muitos médicos não fazem um acompanhamento efetivo, se dão medicações para a diminuição da pressão. Disease mongering: o nome do fenômeno de convencer indivíduos saudáveis, ou com algum fator de risco, de que estão doentes, explorando os seus medos de poderem desenvolver doença, sugerindo posterior tratamento, através da mais variada propaganda, para obter lucro com a venda de algo, que as pessoas passam a acreditar necessitar. Overdiagnosis: nada mais é do que o excesso de diagnostico. A sobre utilização de procedimentos diagnósticos [overdiagnosis] ocorre quando é realizado um diagnóstico verdadeiro, porém desnecessário, com maior potencial de causar danos do que benefícios. consiste no diagnóstico de uma doença que nunca provocará sintomas ou a morte de um paciente. Constitui um problema de saúde pública, já que converte as pessoas em pacientes sem necessidade, e leva a que sejam feitos tratamentos sem qualquer benefício em termos de saúde. A sobre utilização de procedimentos diagnósticos [overdiagnosis] refere-se ao uso do exame em qualquer pessoa, independente de seus fatores de risco ou quadro clínico. EX: câncer de próstata, é um câncer com uma evolução muito lenta que na maioria das vezes nem chega a desencadear sintomas, muito menos risco de morte na pessoa, são casos em que pode ser algo que não interfira em nada na vida da pessoa, mas ao relatar o diagnostico aquilo toma uma proporção muito maior. Overtreatment: é o excesso de tratamento. Quando leva à adoção de terapias desnecessárias, surge a sobre utilização de procedimentos terapêuticos [overtreatment]. A prevenção quaternária tenta evitar esse excesso de diagnóstico e tratamento. 10 Luiza D. V. Torriani ATM 2024/2 → Nem sempre é melhor prevenir do que remediar; → Nem todo o medicamento deve ser para sempre; → Frequentemente teremos, em multimorbidade, efeitos iatrogênicos que precisam ser olhados e corrigidos; → A literatura hoje exige um olhar muito atento, pois há uma forte tendência a distorção – via patrocínio e divulgaçãoseletiva de informações. Câncer de próstata: Prevenção primaria para neoplasia de próstata: → Fatores de risco não modificáveis: idade, etnia e história familiar. → Fatores de risco modificáveis: dieta, gordura animal (aumento de risco), vegetais (brócolis, couve-flor diminuem o risco), tomate (controvérsia), soja (diminuição do risco), café (aparentemente diminui o risco), álcool, cigarro, obesidade, sedentarismo, inseticidas e conservantes e prostatite (inflamação da próstata, pode ser crônica ou de repetição – fator de risco bem importante para o aparecimento de células malignas) e DSTs. Prevenção terciaria para neoplasia de próstata: → Procure seu urologista e seu oncologista! → Inibidores da 5-alfa-redutase (finasterida); → Estatinas; → AAS; → Metformina; → Álcool; → Cigarro; → Obesidade e atividade física; → Vigilância ativa; → Quimioterapia, radioterapia e cirurgia oncológica. A prevenção secundaria e quaternária nos casos de câncer de próstata estão juntas: a prevenção secundaria é o rastreamento, que nada mais é do que o novembro azul, para fazer o exame como medida de prevenção, mas na verdade é o rastreamento e diagnostico precoce que ocorre, não é um exame preventivo. Estudos mostram que o diagnostico precoce desse tipo de câncer não influencia na diminuição da mortalidade masculina. Logo, procurara diagnóstico de câncer de próstata em homens assintomáticos, não trouxe a diminuição da mortalidade. 20 homens foram tratados sem necessidade e 160 foram expostos a uma biópsia desnecessária. Isso mostra que campanhas como novembro azul não tem tanta efetividade assim. 11 Luiza D. V. Torriani ATM 2024/2 “É uma arte importante administrar medicamentos de forma adequada, mas saber quando suspendê-los ou omiti-los por completo é uma arte maior e mais difícil de aprender” (Philippe Pinel). Polifarmácia: Conceito: o uso crônico de cinco ou mais medicamentos por um paciente ou o uso crônico de pelo menos um medicamento considerado inadequado. Prevalência no brasil: polifarmácia ocorre em 18% nos adultos, sendo maior em mulheres (20%), nos idosos entre 70 e 79 anos (22%), na região sul do país (25%) e nos pacientes com plano de saúde (22%) ou com hospitalizações no último ano (32%). Desencadeantes da polifarmácia: → Mudanças demográficas na maioria dos países desenvolvidos: aumento crescente da população idosa; → Metade das pessoas com mais de 65 anos e idade tem pelo menos três doenças crônicas coexistentes, e uma em cada cinco pessoas tem cinco ou mais doenças; → O número médio de medicamentos utilizados em idosos é sete; → Idosos experimentam reações adversas a medicamentos com frequência seis vezes maior que jovens; → O risco de reações adversas aumenta com o número de medicamentos utilizados (13% para dois medicamentos, 38% para quatro e 82% para sete ou mais medicamentos); → Pessoas jovens com múltiplas doenças também podem sofrer com os efeitos prejudiciais da polifarmácia; O modelo de cuidados que a medicina adota atualmente é muito pautado no imperativo terapêutico, esse modelo diz que a nossa missão quanto profissionais da saúde é diagnosticar a doença e oferecer um tratamento, nessa concepção de medicina, a maioria dos tratamentos propostos e receitados são medicamentosos. → Ao longo da vida, a medida que desenvolvem problemas e acumulam diagnósticos novos, mais e mais medicamentos são acrescentados; → Uso impensado de diretrizes clínicas múltiplas, feitas para doenças específicas, em um idoso com múltiplas comorbidades leva a polifarmácia e a suas consequências negativas (um idoso com três doenças e dois fatores de risco tem indicação, por diretrizes clínicas, de tomar 19 doses de 12 medicamentos diferentes, tomados 5 vezes ao dia, com 16 possibilidades diferentes de interações medicamentosas entre os medicamentos ou deles com outras doenças); → Fragmentação o cuidado – vai em diversos médicos e cada um receita diferentes medicamentos e esse paciente toma todos e acaba que nenhum médico avalia as interações medicamentosas e não aplicam uma interação do cuidado; → Metas de desempenho (quantidade de consultas por hora e um tempo determinado para cada consulta) nas políticas de saúde reforçam o imperativo terapêutico e aumentam a polifarmácia e a obsessão pela prevenção; → Obsessão com a prevenção, expansão das definições de doenças e extrapolamento de cálculos de risco para idosos (framingham) – ensaios clínicos randomizados geralmente excluem idosos e pessoas com múltiplas doenças, superestimando os benefícios do uso de medicamentos; → Prescrição em cascata. Prescrição em cascata: Prescrever um medicamento para tratar o efeito colateral de outro medicamento já em uso. Um exemplo muito frequente é quando um idoso vem referindo dor no joelho porque torceu, forçou, fez movimento brusco, então o medico prescreve um anti- inflamatório. No entanto, o medico esquece de escrever por quando tempo o paciente deve fazer uso desse (o uso crônico de anti-inflamatório não é recomendado para nenhuma idade e especialmente contraindicado para idosos), um efeito muito comum 12 Luiza D. V. Torriani ATM 2024/2 colateral do uso de anti-inflamatórios de maneira crônica é a azia, pirose, refluxo, gosto de metal na boca, logo esse paciente idoso volta a consulta referindo algum desses sintomas, ao invés do medico revisar o que esse paciente está tomando, ele dá o diagnostico de refluxo das secreções acidas ou pirose e prescreve omeprazol (prescreve um medicamento para controlar o efeito colateral de outro), esse paciente faz uso crônico de omeprazol por dois anos e volta ao medico referindo esquecimentos, o mesmo mais uma vez ao invés de rever o que esse paciente pode estar toando, faz outro diagnostico e prescreve remédio para o Alzheimer. O impacto da polifarmácia: → A polifarmácia causa aumento da mortalidade e está associada a uma pior qualidade de vida e a um aumento no número de hospitalizações, além de piora na mobilidade, cognição e nutrição, e maior risco de quedas. → Regimes complicados (muitos medicamentos em diversos horários do dia) de medicamentos reduzem a adesão, principalmente em idosos. → Não se sabe o quanto são reversíveis os efeitos negativos da polifarmácia com a redução da carga de medicamentos, por isso é muito importante exercitar a restrição ao prescrever medicamentos e também focar na suspensão adequada de medicamentos inapropriados durante a vida do paciente. → A polifarmácia é uma ameaça para a saúde das pessoas idosas, especialmente as com várias doenças (multimorbidade). É muito importante restringir e diminuir a polifarmácia, fazendo um controle rígido dos medicamentos e tempo realmente necessário que esse paciente precisa tomar. Consequências da polifarmácia: → Principais problemas da polifarmácia: reações adversas pelos medicamentos em si, pela interação medicamentosa ou pela interação entre o medicamento e outros problemas de saúde; confusão na administração de regimes terapêuticos complexos, e peso social e financeiro dos múltiplos medicamentos. → Reações adversas a medicamentos representam a quarta causa mais comum de morte hospitalar nos estados unidos. → Avanços no diagnóstico e no tratamento de doenças tem o efeito paradoxal de acrescentar carga extra no trabalho de ficar doente. Abordagens de manejo da polifarmácia: → Metade dos idosos expressa a vontade de reduzir o número de medicamentos de que faz uso; → Listas de medicamentos a serem evitados em idosos: critérios de beers, start/stopp; → Abordagem da clínica ampliada / medicina centrada na pessoa: pensar sobre e revisar as medicações usadas regularmente,sob o ponto de vista explícito de minimizar o número de medicamentos em uso, suspendendo o máximo que for possível e quando não for possível suspender, reduzir ao máximo a dose utilizada. Manejo da polifarmácia: 1. Não mais do que cinco fármacos a serem tomados por uma única pessoa é um bom objetivo. 2. Revisar regularmente pessoas que utiliza cinco ou mais fármacos para avaliar suspensão ou redução de dose. 3. Considerar o potencial de reações adversas para além das listas padronizadas. 4. Quando alcançar a expectativa de vida média, todos os fármacos preventivos devem ser reavaliados. 5. Quando houver dois ou mais problemas de saúde, tentar usar um medicamento que sirva para os dois propósitos. 6. Perguntar ao paciente se ele acredita que está apresentando algum efeito colateral pelos fármacos usados. 7. Sempre que um novo fármaco for prescrito, colocar um alerta para uma data de revisão no prontuário. 8. Antes de iniciar um medicamento potencialmente “adequado”, considerar a validade das evidências. 13 Luiza D. V. Torriani ATM 2024/2 9. Alguns medicamentos precisam ser priorizados, reconhecendo que o uso de todos os medicamentos potencialmente “úteis” é inapropriado. 10. Quando o problema estiver controlado, os fármacos devem ter sua dose reduzida de forma gradual até a dose mínima necessária para controle dos sintomas. 11. Quando houver a decisão de continuar um medicamento, considerar se uma redução de dose é adequada. Há uma boa razão para não tentar suspender esse medicamento? Qual é a expectativa de vida restante para esta pessoa? – pacientes que ainda possuem uma vida inteira pela frente, talvez necessitem de medicamentos preventivos. Quanto tempo irá demorar para o medicamento trazer benefícios? – medicamentos que demoram para mostrar efeito e é um paciente em fase terminal, não tem necessidade. Quais os objetivos dos cuidados desta pessoa? Qual seria um objetivo de tratamento apropriado? (paliativo, sintomático, prolongamento da vida). Desprescrição: Conceito: processo de retirada de um medicamento inadequado, supervisionado por um profissional da saúde, com o intuito de manejar a polifarmácia e melhorar os resultados em saúde. → Abordar os temores do paciente diante da retirada de um medicamento; → Fazer um plano de retirada gradual, com mudanças adaptadas ao ritmo e às necessidades do paciente; → Priorizar os medicamentos a serem desprescritos (não retirar mais que um medicamento em cada tentativa – se tirar mais do que um, caso o paciente apresente necessidade em voltar com algum, você não sabe qual gerou a necessidade); → Garantir o seguimento e a reavaliação frequentes para avaliar efeitos adversos da suspensão do medicamento, especialmente efeito rebote, e para verificar a adesão ao plano de deprescrição. Fases da desprescrição: Perguntas uteis para identificar os medicamentos que devem ser desprescritos: Processo da desprescrição: Possíveis complicações da desprescrição: Síndrome de retirada / abstinência: pode ocorrer na suspensão brusca de medicamentos que atuam no sistema nervoso central. EX: retirada abrupta de benzodiazepínicos pode causar confusão mental, alucinações e convulsões. 14 Luiza D. V. Torriani ATM 2024/2 Efeito rebote: reaparição dos sintomas em intensidade maior à apresentada previamente pelo paciente na suspensão brusca do medicamento. EX: azia rebote com a suspensão abrupta do omeprazol. Desmascaramento de interações medicamentosas: necessidade de alterar a dosagem de outros medicamentos após a desprescrição de um medicamento específico, devido a interações medicamentosas. EX: necessidade de diminuição da dose de anticoagulante (varfarina) após a suspensão do omeprazol, pois o omeprazol diminui o metabolismo da varfarina. Reaparição dos sintomas ou descompensação da doença: pouco frequente na desprescrição adequada de medicamentos inapropriados. Barreiras para a desprescrição: → Ênfase social na solução farmacológica dos problemas de saúde e pressão da indústria farmacêutica - pacientes superestimam os efeitos dos medicamentos e subestimam seus danos; → Fragmentação do cuidado e informações contraditórias; → Renovação indefinida de prescrições; → Falta de tempo na consulta, sobrecarga de trabalho e dificuldades no trabalho interdisciplinar em equipe; → Falta de treinamento médico; → Resistência dos médicos à desprescrição – inércia terapêutica; → Baixa aceitabilidade de medidas de tratamento não-farmacológicas; → Relação médico-paciente frágil e falta de confiança mútua; → Não envolver o paciente no processo de decisão; → Vivências e atitudes negativas do paciente, familiares e/ou cuidadores frente à desprescrição - principalmente medo de consequências negativas. “A qualidade dos cuidados de saúde, na próxima década, será determinada mais pelas decisões de não administrar ou de suspender medicamentos do que pela crença de que um bom cuidado envolve necessariamente o uso de um medicamento.” Iona Heath. Prescrição de um medicamento: → Erros de prescrição são a principal causa evitável de morbidade e mortalidade. → 70% das consultas geram prescrições de medicamentos; → 75% das prescrições são errôneas. → Erros na prescrição são a causa de 70% dos erros no uso das medicações. → A comunicação inadequada é um fator relevante que contribui para erros na prescrição. Fatores que influenciam a prescrição: → Exagerado número de apresentações comerciais, medicamentos e princípios ativos, que chegam a milhares, muito além dos preconizados como essenciais pela oms; → Propaganda intensa da indústria farmacêutica; → Inadequado ensino de terapêutica nas escolas médicas (muitas vezes o diagnóstico é mais enfatizado do que as habilidades terapêuticas); → Educação continuada deficiente; → Mecanismos insuficientes de controle da produção, comercialização, publicidade, prescrição e consumo de medicamentos; → Pressionados pelo grande número de atendimentos, médicos inadequadamente utilizam a prescrição como uma forma mais simples de encerrar uma consulta; → Prescrições inadequadas como resposta a pacientes difíceis (mães ansiosas, pacientes agressivos). Medicamentos de referência, genéricos e similares: Medicamentos genéricos são mais baratos que os medicamentos- referência (nome fantasia) e têm a mesma segurança e qualidade. Medicamentos similares (nome fantasia), apesar de mais baratos e de terem os mesmos princípios ativos que os medicamentos-referência, não apresentam garantia de segurança e qualidade. 15 Luiza D. V. Torriani ATM 2024/2 Perguntas recomendadas para a prescrição de medicamentos: É realmente necessária a utilização de um medicamento para modificar o curso clínico desse problema? Qual o medicamento mais indicado para essa situação? Há contraindicações do uso desse medicamento? Como deve ser administrado esse medicamento? O paciente faz uso de outros medicamentos? Quais os efeitos esperados com o uso desse medicamento? O medicamento pode ser utilizado para outros fins que não os da prescrição? Como guardar adequadamente esse medicamento? Adesão aos tratamentos: Conceito: o grau de seguimento do paciente às recomendações médicas. A não adesão ao tratamento pode ocorrer por omissão (não tomar um medicamento prescrito), consumo (tomar um medicamento não prescrito), posologia (tomar o medicamento em dose errada, de modo errado ou errar o intervalo entre as administrações). Estima-se que 30 a 50% dos medicamentos prescritos para condições crônicas não são utilizados conforme as recomendações recebidas. → Adesão a tratamentos de curta duração: 75% nos primeiros dias, porém somente 25% dospacientes completarão 10 dias de antibiótico para amigdalite bacteriana. → Adesão a tratamentos de longa duração: 50% para medicamentos anti-hipertensivos e 50% para tratamento não-farmacológico de diabetes. → A não-adesão de um paciente a um tratamento pode frustrar os objetivos do médico e do paciente em reduzir o sofrimento, prevenir morbidade, melhorar o funcionamento e aumentar a longevidade. → Se o médico desconhece a não-adesão do paciente, pode atribuir, equivocadamente, o resultado insuficiente a uma dosagem inadequada, à falha da terapêutica ou a diagnóstico incorreto, levando-o a trocar a medicação, aumentar a dosagem ou submeter o paciente a testes e procedimentos desnecessários. Fatores que levam à não adesão ao tratamento: Prevenção da não adesão: → Desenvolver uma boa relação médico- paciente; → Utilizar o esquema de tratamento mais simples possível; → Explicar para o paciente sobre o propósito, a duração e as metas do tratamento; → Instruções por escrito além da receita; → Educação em saúde sobre os possíveis efeitos colaterais dos medicamentos e o que fazer caso aconteçam, o custo aproximado dos medicamentos, alternativas terapêuticas e consequências da não-adesão; → Trabalhar a motivação do paciente através da entrevista motivacional; → Adequar o tratamento ao contexto do paciente. Diagnostico da não adesão: → A possibilidade de não-adesão deve ser considerada em todos os pacientes, devido à 16 Luiza D. V. Torriani ATM 2024/2 alta prevalência e a dificuldade dos médicos em predizê-la; → A ausência de efeitos terapêuticos ou de efeitos adversos esperados, bem como a presença de fatores de risco para a não-adesão devem levantar suspeitas; → Perguntar abertamente ao paciente, de forma abrangente e sem julgamentos, o que ele está fazendo para tratar seu problema, incluindo medidas não- farmacológicas e medicamentos que estão sendo utilizados, com frequência, doses e esquecimentos, e adesão no dia da consulta e no dia anterior; → Caso o paciente não consiga responder adequadamente, pedir para trazer todos os frascos e cartelas de medicamentos que tem em casa para a consulta. Tratamento da não adesão: → Melhorar a comunicação com os pacientes – antes do paciente sair da consulta, pedir que repita o que compreendeu sobre o diagnóstico e o tratamento; → O uso de materiais escritos em linguagem simples e/ou o uso de desenhos/símbolos (para paciente que não sabem ler ou têm dificuldade de compreensão); → Simplificação do esquema terapêutico; → Supervisão e/ou auxílio do cuidador/familiar para o tratamento; → Tratamento de condições psiquiátricas (como depressão e ansiedade) que diminuem a adesão; → Envolvimento do paciente nas tomadas de decisões terapêuticas; → Uso de entrevista motivacional e método clínico centrado na pessoa; → Busca ativa de pacientes que não comparecem à consulta; → Avaliar o uso de medicamentos parenterais de longa duração como alternativa terapêutica. 17 Luiza D. V. Torriani ATM 2024/2 O que é um paciente difícil? São indivíduos que não seguem as orientações dos médicos, que não aceitam estar doentes, que são poliqueixosos, que não aderem ao tratamento. Vem com ideias fixas e não aceitam que o medico traga informações diferentes das que ele quer ouvir. → Paciente com muitas queixas; → Um paciente com temperamento alterado; → Paciente com queixa inespecífica; → Seria um paciente que necessita de cuidados especiais, de uma tenção multidisciplinar cuidadosa, pois tem diversas questões a serem resolvidas. Um paciente difícil também necessita de cuidado domiciliar; → Um paciente não cooperativo, tanto no momento da consulta quanto no tratamento; → Paciente não colaborativo; → Casos complexos; → Aquele que possui mais de uma queixa por consulta ou que é um paciente poli farmácia ou que possui dificuldade em aderir ao tratamento; → Paciente que dificulta a anamnese, não responde o que é perguntado; → Paciente que não permite uma boa relação, com baixa tolerância e que não permite ao medico realizar seu trabalho com eficiência; → Paciente que busca ajuda medica, porém não quer escutar o que o médico fala (contraditório). Como lidar com pacientes difíceis? “Quanto menos uma pessoa aparenta “merecer” nossa empatia, tanto mais ela precisa dela. Este é justamente o desafio que se nos apresenta se queremos transformar nossos relacionamentos e o mundo” – Marshall Rosenberg. “Não existe paciente difícil, existe médico simples.” (Juan Gérvas). Aspectos que podem ser alvo de mudança, para adequar os modos de lidar com pessoas consideradas doentes difíceis: Ferramentas para abordagem de pacientes difíceis: → Procura por atendimento médico; → Atendimento ambulatorial do médico generalista; → Método Clínico Centrado na Pessoa; → Decisão Informada Compartilhada; → Entrevista Motivacional; → Abordagem da multimorbidade; → Abordagem de cenários específicos; → Clínica Ampliada; → Abordagem familiar; → Abordagem comunitária; → Prevenção Quaternária; → Desprescrição e adesão aos tratamentos.
Compartilhar