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ANAMNESE

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A Anamnese 
ASPECTOS GERAIS 
A palavra anamncse origina-sc de and = trazer de novo e mnesis 
= memória. Significa, portanto, trazer de volta à mente todos os fatos 
relacionados à doença c à pessoa doente. 
De início, deve ser ressaltado que a anamnese c a parte mais 
importante da medicina. Primeiro, porque ela é o núcleo em torno 
do qual se desenvolve a relação médico-paciente. Na qualidade da 
relação médico-paciente, por sua vez, é que vai apoiar-se a parte 
principal do trabalho do médico. Em segundo lugar, vai se tornando 
cada vez mais evidente que o processo tecnológico só será bem utili-
zado se for preservado o lado humano da medicina. Vê-se. portanto, 
que cabe à anamnese uma posição ímpar, insubstituível, na prática 
médica. Anamnese bem-feita acompanha-se de decisões diagnosticas 
e terapêuticas corretas. Anamnese malfeita desencadeia uma série 
de conseqüências negativas, e não adianta querer compensar as defi-
ciências ali originadas com a realização de exames complementares, 
por mais sofisticados que sejam. Aliás, isso só serve para piorar a 
situação, pois exames mal solicitados quase sempre desorientam 
o médico, ao invés de apontar-lhe o caminho certo. 
Revalorizara anamnese talvez seja o movimento mais importante 
no momento atual para que se possa recuperar o prestígio da profissão 
médica e melhorar a assistência aos pacientes. 
Acabou a ilusão de que o progresso tecnológico eliminaria a en-
trevista e transformaria a medicina em uma ciência "quase" exata. Já 
se pode concluir que urna das principais causas da perda de qualidade 
do trabalho médico foi justamente a redução do tempo dedicado à 
anamnese. Até o aproveitamento racional das avançadas técnicas cada 
vez depende mais da entrevista. A realização de muitos exames com-
plementares não resolveu o problema. Pelo contrário, agravou-o ao 
aumentar os custos, sem crescimento paralelo da eficiência. Escolher 
o(s) exame(s) adequado(s), entre tantos disponíveis, é fruto de um 
raciocínio crítico apoiado quase inteiramente na anamnese. 
A revalorização da anamnese é uma luta em dois campos: no curso 
de medicina, quando os estudantes estão moldando seu comporta-
mento, e junto às instituições, que passaram a dominar a prestação 
de assistência médica à população. 
O Quadro 4.1 resume os objetivos e as possibilidades principais 
da anamnese. 
Em essência, a anamnese é uma entrevista, e o instrumento de que 
nos valemos é a palavra falada. É óbvio que. em situações especiais 
(pacientes mudos, por exemplo), dados da anamnese podem ser 
colhidos por meio de gestos e da palavra escrita. 
Colocada em termos tão simples, poder-se-ia pensar que "fazer 
anamnese" é simplesmente igual a "conversar com o paciente". Entre 
uma coisa e outra vai uma distância enorme, basicamente porque o 
diálogo entre o médico e o paciente tem objetivo e finalidade prees-
tabelecidos, ou seja: a reconstituição dos fatos e dos acontecimentos 
direta ou indiretamente relacionados com uma situação anormal na 
vida do paciente. 
A anamnese pode ser conduzida de duas maneiras: 
Io. Deixando-se o paciente relatar livre e espontaneamente 
suas queixas sem qualquer interferência do médico, que se limita a 
ouvi-lo. Essa técnica é recomendada e seguida por muitos clínicos. 
O psicanalista se apóia integralmente nela e chega ao ponto de se 
colocar em uma posição em que não possa - c r ' :>i pelo paciente, 
para que sua presença não exerça qualquer influem:- inibidora ou 
coercitiva. 
2o. Da outra maneira, que pode denominar-se t. : . t ? ida. 
o médico, tendo na mente um esquema básico, condu. - - :revista 
de modo mais objetivo. O uso desta técnica exige espín: e - . : iado 
na sua execução, de modo a não se deixar levar por ;dv - - re-
cebidas. 
Qualquer que seja a técnica empregada, os dados coih-c -
que ser elaborados. Isto significa que uma boa anamnese é 
fica do relato feito pelo paciente depois de ter passado por i : -
análise crítica com o intuito de estabelecer o significado exat< da-
expressões usadas e a coerência das correlações estabelecidas. Fi-
que ter cuidado com as interpretações que os pacientes fazem de 
seus sintomas e dos tratamentos. 
A história clínica não é, portanto, o simples registro de uma 
conversa. E mais do que isto: é o resultado de uma conversação com 
um objetivo explícito, conduzida pelo examinador e cujo conteúdo 
foi elaborado criticamente por ele. Aí reside a diferença entre uma 
história feita por um iniciante e a obtida por um médico competente 
e experimentado. 
As primeiras tentativas são trabalhosas, longas e cansativas, 
e o resultado não passa de uma história complicada, incompleta 
e eivada de descrições inúteis, ao mesmo tempo que deixa de ter 
informações essenciais. 
Por tudo isso. pode-se afirmar que a anamnese é a parte mais 
difícil do método clínico. Seu aprendizado é lento, só conseguido 
depois de se realizarem várias dezenas de entrevistas. 
Muito mais fácil é aprender a manusear aparelhos, pois os 
aparelhos obedecem a esquemas rígidos, enquanto as pessoas têm 
individualidade, característica humana que exige do médico flexi-
bilidade na conduta e capacidade de adaptação. 
Para que se faça uma entrevista de boa qualidade, antes de mais 
nada o médico deve estar interessado no que o paciente tem a dizer. 
Ao mesmo tempo, é necessário demonstrar compreensão e desejo 
de ser útil àquela pessoa com a qual assume um compromisso tácito 
que não tem similar em nenhuma outra relação inter-humana. 
Não raramente, o paciente pode desencadear contra o médico 
uma reação de hostilidade, às vezes com raízes em problemas 
psicológicos soterrados no seu inconsciente. Nessas ocasiões. 
Q U A D R O 4 . 1 Possibilidades e Objetivos 
da Anamnese 
/. estabelecer condições para a relação médico-paciente; 
2. fazer a história clínica e conhecer os fatores pessoais, 
familiares e ambientais relacionados com o paciente: 
estabelecer os aspectos do exame físico que merecem mais 
investigação; 
4. definir a estratégia a ser seguida em cada paciente quanto 
aos exames complementares; 
5. escolher procedimento(s) terapêutico(s) mais adequado!si 
em função do(s) diagnóstico(s) e do conhecimento global do 
paciente. 
4 8 PARTE 1 SEMIOLOGIA GERAL 
exigem-se do examinador autocontrole, educação e domínio de 
suas reações. 
Pergunta-se freqüentemente quanto tempo deve-se dedicar à 
anamnese. Não sc pode. é óbvio, estabelecer limites rígidos. Os 
estudantes que estão fazendo sua iniciação clínica gastam horas 
para entrevistar um paciente, pois são obrigados a seguir roteiros 
longos, preestabelecidos. É necessário que seja assim, pois, nesta 
fase. precisam percorrer todo o caminho para conhecê-lo. 
Nas doenças agudas ou de início recente, em geral apresentando 
poucos sintomas, é perfeitamente possível conseguir uma história 
clínica de boa qualidade em IO minutos, enquanto nas doenças de 
longa duração, com sintomatologia variada, não se gastarão menos 
do que 30 a 60 minutos na anamnese. 
Em qualquer situação, aproveita-se. também, o momento em que 
está sendo executado o exame físico para novas indagações, muitas 
delas despertadas pela observ ação do paciente. 
A pressa é o defeito de técnica mais grosseiro (pie se pode cometer 
durante a obtenção da história. Tão grosseiro como se se quisesse 
obter em 2 minutos uma reação bioquímica que exige 2 horas para 
sc completar. 
O espírito preconcebido é outro erro técnico a ser evitado con-
tinuamente. porque pode ser uma tendência natural do examinador. 
Muitas vezes esta preconcepção é inconsciente, nascida de um 
especial interesse por uma determinada enfermidade. 
A falta de conhecimentos sobre os sintomas da doença limita de 
maneira extraordinária a possibilidade de se obter uma investigação 
anamnésica completa. Não se conhecendo um fenômeno, não se 
saberá que meios e modos serão mais úteis para que seja detectado 
c entendido. Por isso, costuma-se dizer que anamneses perfeitas só 
podem ser obtidas por médicos experientes. Mas histórias clínicasde boa qualidade são conseguidas pelos estudantes após treinamento 
supervisionado, não muito longo. 
A anamnese ainda é, na maioria dos pacientes, o fator isolado 
mais importante para se chegar a um diagnóstico. Nas ocasiões 
em que se puser em confronto a anamnese com um laudo radioló-
gico ou um resultado laboratorial duvidoso, o médico acertará mais 
vezes, pendendo no sentido indicado pela anamnese. Assim, se a 
história é de dispepsia nervosa associada a um quadro de ansiedade 
e o radiologista ou o endoscopista assinala a presença de incertos 
sinais de úlcera duodenal, o médico agirá, mais corretamente, contra-
indicando uma cirurgia "desejada" pelo paciente, que está ansioso por 
encontrar um recurso terapêutico que elimine seus padecimentos da 
maneira mais rápida possível. 
O valor prático da história clínica não se restringe à feitura do 
diagnóstico, que será sempre a preocupação principal do médico. 
Terapêutica sintomática só pode ser planejada com acerto e provei-
to se se partir do conhecimento detalhado dos sintomas relatados. 
Cada indivíduo personaliza de maneira própria seus padecimentos. 
Todo paciente apresenta particularidades que escapam a qualquer 
esquematização rígida. Idiossincrasias ou intolerâncias que a ana-
mnese traz à tona podem ser decisivas na escolha de um recurso 
terapêutico. Assim, o antibiograma poderá indicar que determinada 
substância é mais ativa contra um certo germe, porem, sc o paciente 
relatar intolerância àquele antibiótico, sua eficácia cientificamente 
preestabelecida perderá o significado. 
Há muitas doenças cujos diagnósticos são feitos quase exclusiva-
mente pela história. Exemplos: angina do peito, epilepsia, enxaqueca, 
neuralgia do trigêmeo. não se falando das afecções neuróticas e 
psiquiátricas, cujo diagnóstico apóia-se integralmente nos dados 
da anamnese. 
Certos pacientes têm tendência para tomar a condução do exa-
me clínico, respondendo apenas às perguntas que lhes interessam, 
questionando o médico, levantando questões a todo momento ou 
interpretando eles mesmos os sintomas, ao mesmo tempo que emi-
tem opiniões sobre exames a serem efetuados. Chegam a sugerir 
diagnósticos e tratamentos para seus próprios males. Muitos desses 
indivíduos são adeptos de leituras de divulgação científica e. na 
maior parte das vezes, são pessoas com distúrbios neuróticos. A 
primeira preocupação do médico será retomar a direção da entrevista 
de maneira habilidosa, preocupando-se em não assumir qualquer 
atitude hostil nascida da momentânea perda de sua posição de líder 
daquele colóquio. 
Muitas vezes alguns dados da anamnese ficam mais claros se 
voltarmos a eles durante o exame físico do paciente. Uma das princi-
pais características do método clínico é justamente sua flexibilidade. 
Contudo, na fase inicial do aprendizado é melhor procurar esgotar 
todas as questões durante a anamnese. 
Alguns fatos dos quais os médicos experientes nunca se es-
quecem devem ser fixados pelo estudante. 
1. É no primeiro contato que reside a melhor oportunidade 
para fundamentar uma boa relação entre o médico e o paciente. 
Perdida esta oportunidade, sempre existirá um hiato intranspo-
nível entre um e outro; cumprimente o paciente, perguntando 
logo o nome dele e dizendo-lhe o seu. Não use termos como 
"vovô", "vovó", "vozinho", "vozinha" para os idosos. (Ver 
Cap. 9 — Semiologia do Idoso.) Demonstre que você está atento 
ao que o paciente está falando. Procure identificar de pronto 
alguma condição especial — dor, sono, ansiedade, irritação, 
tristeza — para que você saiba a maneira como conduzirá a 
entrevista; 
2. Conhecer e compreender as condições culturais do paciente 
representa uma ajuda inestimável para reconhecer a doença e 
compreender o paciente; 
3. Perspicácia e tato são qualidades indispensáveis para a 
obtenção de dados sobre doenças estigmatizantes ou distúrbios 
que afetam a intimidade da pessoa; 
4. Ter sempre o cuidado de não sugestionar o paciente fazendo 
perguntas que nascem de idéias preconcebidas; 
5. O tempo reservado para a anamnese distingue o médico 
competente do incompetente; o último tende a transferir para 
os instrumentos e para o laboratório a responsabilidade do 
diagnóstico; 
6. Sintomas bem investigados e mais bem compreendidos 
abrem caminho para um exame físico objetivo. Isso poderia ser 
anunciado de uma outra maneira: só se acha o que se procura e 
só se procura o que se conhece; 
7. A causa mais freqüente de erro diagnóstico é uma história 
clínica mal colhida; 
8. Obtidas as queixas, estas devem ser elaboradas mental-
mente pelo médico, de modo a encontrar o desenrolar lógico 
dos acontecimentos; 
9. Os dados fornecidos pelos exames complementares nunca 
corrigem as falhas e as omissões cometidas na anamnese; 
10. Somente a anamnese permite ao médico uma visão de 
conjunto do paciente, indispensável para a prática de uma 
medicina humana. 
SEMIOTECNICA DA ANAMNESE 
A anamnese se inicia com perguntas do tipo: "O que o(a) 
senhoria) está sentindo?", "Qual é o seu problema?" 
Isto parece fácil, mas tão logo o estudante começa seu aprendi-
zado clínico, ele percebe que não é bem assim. Não basta pedir ao 
paciente que relate sua história e ir anotando. Muitos pacientes têm 
dificuldade para falar e precisam de incentivo. Outros — e isto é 
mais freqüente — têm mais interesse em narrar as circunstâncias e 
os acontecimentos paralelos do que relatar seus padecimentos. Aliás, 
o paciente não é obrigado a saber como deve revelar suas queixas. 
O médico é que precisa saber como obtê-las. 
O médico precisa estar imbuído da vontade de ajudar o paciente 
a relatar seus padecimentos. Para conseguir tal intento, Bates sugere 
que o examinador utilize uma ou mais das seguintes técnicas: faci-
litação, reflexão, esclarecimento, confrontação, interpretação e 
respostas empáticas. 
ANAMNESE 4 9 
O médico consegue Facilitar o relato do paciente através de sua 
postura, ações ou de palavras que o encorajem, mesmo sem especi-
ficar o tópico ou o problema que o incomoda. O gesto de balançar a 
cabeça levemente, por exemplo, pode significar para o paciente que 
ele está sendo compreendido. 
A reflexão é muito semelhante à facilitação e consiste basica-
mente na repetição das palavras que o médico considerar as mais 
significativas durante o relato do paciente. 
O esclarecimento é diferente da reflexão porque neste caso o 
médico procura definir dc maneira mais clara o que o paciente está 
relatando. Por exemplo, se o paciente se refere a tontura, o médico, 
por saber que este termo tem vários significados, procura esclarecer 
a qual deles o paciente se refere (Vertigens? Sensação desagradável 
na cabeça?). 
A confrontação consiste em mostrar ao paciente algo acerca de 
suas próprias palavras ou comportamento. Por exemplo, o paciente 
mostra-se tenso, ansioso e com medo, mas diz. ao médico que "está 
tudo bem". Aí, o médico pode confrontá-lo assim: "você diz que está 
tudo bem. mas por que está com lágrimas aos olhosT. Isso pode 
modificar inteiramente o relato do paciente. 
Na interpretação, o médico faz uma observação a partir do 
que vai notando no relato ou no comportamento do paciente. Por 
exemplo: "você parece preocupado com os laudos das radiografias 
que você me trouxe \ 
A resposta empática é a intervenção do médico mostrando "em-
patia", ou seja, compreensão e aceitação sobre alguma coisa expressa 
pelo paciente. A resposta empática pode ser por palavras, gestos 
ou atitudes. Colocar a mão sobre o braço do paciente, oferecer um 
lenço se ele estiver chorando ou apenas dizer a ele que compreende 
seu sofrimento. Mas é necessário cuidado com este tipo de procedi-
mento. A palavra ou gesto do médico pode desencadear uma reação 
inesperada ou até contrária por parte do paciente. 
A resposta do paciente quase sempre nos coloca diante de um 
sintoma. 
Antes dc mais nada, é preciso que se tenha entendido claramente 
o que ele quis expressar. A informação vem na linguagem comum, 
cabendo ao médico encontraro termo científico correspondente, ela-
borando mentalmente um esquema básico que permita uma correta 
indagação de cada sintoma. 
Após obter algumas informações do paciente, o examinador 
estará em condições de definir o sintoma-guia de sua história clíni-
ca. Designa-se como sintoma-guia o sintoma ou sinal que permite 
recompor a história da doença atual com mais facilidade e precisão. 
Exemplos: a febre na malária, a dor epigástrica na úlcera péptica, 
as convulsões na epilepsia, o edema na síndrome nefrótica, a diar-
réia na colite ulcerativa. O que não significa que haja sempre um 
único e constante sintoma-guia para cada enfermidade. O encontro 
de um sintoma-guia é útil para todo médico, mas para o iniciante 
adquire especial utilidade. Sem grandes conhecimentos médicos e 
sem experiência, acaba sendo a única maneira para ele reconstruir 
a história de uma doença. 
Sintoma-guia não é necessariamente o mais antigo, mas tal atributo 
deve ser sempre levado em conta. Não é obrigatório que seja a primeira 
queixa relatada pelo paciente; contudo, isto também não pode ser me-
nosprezado. Nem é. tampouco, de maneira sistemática, o sintoma mais 
realçado pelo paciente. Na verdade, não existe uma regra fixa para se 
determinar o sintoma-guia. Entre as muitas dificuldades existentes na 
realização da anamnese, uma delas é a fixação do sintoma-guia. Só a 
experiência, associada ao acúmulo de um acervo de conhecimentos, 
propicia condições ideais para superá-la. Como orientação geral, o 
estudante deve escolher como sintoma-guia a queixa de mais longa 
duração ou o sintoma mais salientado pelo paciente. 
O passo seguinte é determinar a época em que teve início aquele 
sintoma. A pergunta padrão pode ser: "Quando o senhor começou a 
sentir isso?1' Nem sempre o paciente consegue se lembrar de datas 
exatas, mas, dentro do razoável, é indispensável estabelecer a época 
provável do início do sintoma. Nas doenças de início recente, os 
acontecimentos a elas relacionados ainda estão vivos na memória e 
será fácil recordá-los. ordenando-os cronologicamente. Afecções de 
longa duração e de começo insidioso com múltiplas manifestações 
causam maior dificuldade. Nestes casos mais complexos é válido 
utilizar-se de certos artifícios, procurando relacionar o(s) sintoma(s) 
com eventos que não se esquecem (casamento, gravidez, mudanças, 
acidentes). Outras vezes, buscam-se referências em outros aconte-
cimentos. tais como férias e épocas de colheitas. 
O terceiro passo consiste cm investigar a maneira como evoluiu 
o sintoma. Muitas perguntas devem -er feitas e cada sintoma tem 
suas características semiológicas. Constrói-se uma história clínica 
através do modo como evoluem os sintomas. 
Concomitantemente com a análise da evolução do sintoma-guia, 
o examinador vai estabelecendo as correlações e as inter-relações 
com outras queixas. 
A análise do sintoma-guia e dos outros sintonia> termina com 
a obtenção de informações sobre como eles esião no presente 
momento. 
Visto em conjunto este esquema básico para a v nieeçào da 
anamnese, verifica-se que a meta almejada é obter uma hi>t oria 
que tenha início, meio e fim. Fica claro, também, que cada história 
clínica bem-feita tem um fio condutor que nada mais é do : 
sintoma-guia. Apesar das dificuldades iniciais, o estudante de1 e 
esforçar-se para fazer uma história que tenha o sintoma-guia c :r. 
espinha dorsal, enquanto os outros sintomas se articulam com ele 
para formar um conjunto compreensível e lógico. 
Adquirida esta visão geral da história clínica, pode-se propor um 
esquema que permita a análise de qualquer sintoma. 
ESQUEMA PARA ANÁLISE DE 
UM SINTOMA 
Os seguintes elementos compõem o esquema para análise de 
qualquer sintoma: 
• início; 
• duração; 
• características do sintoma na época em que teve início; 
• evolução; 
• relação com outras queixas; 
• situação do sintoma no momento atual. 
O início do sintoma deve ser caracterizado primeiro com relação 
à época, se possível registrando-se o dia, ou mês, ou o ano. O modo 
de início — gradativo ou súbito — também é importante. Deve-se 
indagar se houver fatores ou situações que funcionaram como causa 
desencadeante do sintoma. 
A duração ficará estabelecida conforme a época do início do 
sintoma. 
As características do sintoma na época em que teve início vão 
variar amplamente, na dependência do próprio sintoma, mas. de 
uma maneira geral, sempre se poderá definir a localização, a inten-
sidade e a relação da queixa com funções do organismo. Assim, se 
o paciente relatar dor no tórax, é lógico que se procure relacioná-la 
com a movimentação do tórax (função da coluna vertebral), com a 
respiração (função pulmonar), com o exercício (função cardíaca), 
com a deglutição (função esofágica). 
A evolução do sintoma baseia-se 110 seu comportamento ao 
longo dos dias, meses ou anos, dependendo de sua duração, e 
também no correr de um dia. registrando-se as modif icações 
ocorridas nas suas características (localização, intensidade, re-
lações com funções orgânicas, além de outras que são próprias 
de cada sintoma). Na evolução, tem importância a influência de 
tratamentos efetuados. 
A relação com outras queixas é procurada partindo-se dc pro-
babilidades mais freqüentes, quase sempre tendo em conta relações 
anatômicas ou funcionais. Por exemplo, se a queixa for dor torácica, 
deve-se procurar relacioná-la com tosse, dispnéia, palpitações e 
assim por diante. 
5 0 PARTE 1 SEMIOLOGIA GERAL 
A situação cio sintoma no momento atual encerra a análise da 
queixa, possibilitando uma visão de conjunto desde o seu início. 
À medida que se vão conhecendo as características semiológicas 
dos sintomas, este esquema vai sofrendo modificações e adaptações, 
mas será sempre útil na feitura de histórias clínicas. 
A ANAMNESE EM PEDIATRIA 
A particularidade mais marcante reside no fato de a obtenção de 
informações ser feita por intermédio da mãe ou de outro familiar. 
As vezes, o informante é a babá, um vizinho ou outra pessoa que 
convive com a criança. 
Os pais — ou os avós principalmente — gostam de "interpretar" 
as manifestações infantis ao invés de relatá-las objetivamente. É 
comum, por exemplo, quando o recém-nascido começa a chorar 
mais do que o habitual, a mãe ou a avó "deduzir" que o bebê está 
com dor de ouvido, isso baseado em indícios muito inseguros ou 
por mera suposição. 
Outra característica da anamnese pediátrica é que esta tem de ser 
totalmente dirigida, não havendo possibilidade de deixar a criança 
relatar espontaneamente suas queixas. 
Durante a entrevista, o examinador deve ter o cuidado de observar 
o comportamento da mãe. procurando compreender e surpreender 
seus traços psicológicos. O relacionamento com a mãe é parte inte-
grante do exame clínico da criança. 
A ANAMNESE EM PSIQUIATRIA 
A anamnese dos pacientes com distúrbios mentais apresenta 
muitas particularidades que precisam ser conhecidas pelos médicos, 
mesmo os que não se dedicam a este ramo da medicina (ver Exame 
Psiquiátrico, Caps. 172 a 176). 
ELEMENTOS COMPONENTES 
DA ANAMNESE 
A anamnese é classicamente desdobrada nas seguintes partes: 
• identificação 
• queixa principal 
• história da doença atual 
• doenças preexistentes e medicamentos em uso 
• interrogatório sintomatológico ou anamnese especial 
• antecedentes pessoais e familiares 
• hábitos de vida e condições socioeconómicas e culturais do pa-
ciente 
IDENTIFICAÇÃO. A identificação possui múltiplos interesses. O 
r : rreiro deles é de iniciar o relacionamento com o paciente. Saber o 
- r.e de uma pessoa é indispensável para que se comece um processo 
ie . municação em nível afetivo. 
- confecção de fichários e arquivos, que nenhum médico 
. - cão pode dispensar, os dados da identificação são funda-
mentais. 
-.ler: do interesse clínico, também do ponto de vista pericial. 
- . - ã u -trabalhista estes dados são de relevância para 
o médico. 
A - - c è feita a anamnese é sempre importante e, quando 
a s . _:. . r ja.s modificam-se com rapidez,convém acrescentar 
a hora. 
Sã br.-.. - - s egu in t e s elementos: 
• nome 
• idade 
• sexo 
• cor (raça) 
• estado civil 
• profissão 
• local de trabalho 
• naturalidade 
• residência 
• outros (filiação a órgãos de previdência, religião) 
Nome. E o primeiro dado da identificação. Nunca é demais 
criticar o hábito de designar o doente pelo número do leito ou pelo 
diagnóstico. "Paciente do leito 5" ou "Aquele caso de cirrose hepática 
da Enfermaria 7" são expressões que não devem ser usadas para 
caracterizar uma pessoa. 
Idade. Cada grupo etário tem sua própria patologia, e bastaria esta 
assertiva para tornar clara a importância da idade. A todo momento, 
o raciocínio diagnóstico se apóia neste dado e, quando se fala em 
"doenças próprias da infância", está se consagrando o significado 
do fator idade na nosologia humana. 
Sexo. Não se falando das diferenças fisiológicas, sempre impor-
tantes do ponto de vista clínico, há enfermidades que só ocorrem 
em determinado sexo. Exemplo clássico é a hemofilia, transmitida 
pelas mulheres, mas só aparecendo nas pessoas do sexo masculino. 
É óbvio que existe uma patologia específica para cada sexo no que 
se refere aos órgãos sexuais. As doenças endócrinas adquirem muitas 
particularidades em função deste fator. 
Cor (Raça). Embora não sejam coisas exatamente iguais, na 
prática elas se confundem. Em nosso país, onde existe uma intensa 
mistura de raças (Fig. 4.1), é preferível o registro da cor, usando-se 
a seguinte nomenclatura: 
• cor branca 
• cor parda 
• cor preta 
Uma nova maneira dc conhecer as características étnicas do povo 
brasileiro é pelo exame do DNA de grupos populacionais. Pena e 
colaboradores demonstraram pela análise do DNA de 200 homens 
c mulheres de "cor branca" de regiões e origens sociais diversas 
que apenas 39% tinham linhagem exclusivamente européia (raça 
branca), enquanto 33% possuíam herança genética indígena e 28% 
africana (raça negra). 
A influência da raça na patologia humana tem muitos exem-
plos. O mais conhecido é o da anemia falciforme, uma alteração 
sangüínea específica da raça negra, mas que ocorre também em 
pessoas de cor parda (mestiços). Outro exemplo é a hipertensão 
arterial, que mostra comportamento evolutivo diferente nos pa-
cientes de cor preta. Além de mais freqüente, a hipertensão arterial 
apresenta maior gravidade, com lesões renais mais intensas e 
maior incidência de acidente vascular cerebral. Do ponto de vista 
terapêutico apresentam menor resposta aos beta-bloqucadores e 
aos inibidores da ECA. 
Considerando o alto grau de miscigenação (Fig. 4.1), há ne-
cessidade de ampliar os estudos da influência racial nas doenças 
prevalentes em nosso país, inclusive nos indivíduos de cor parda. O 
primeiro passo é o registro correto da cor nos estudos epidemioló-
gicos e nos prontuários médicos. 
Estado Civil. Não são só os aspectos sociais referentes ao estado 
civil que podem ser úteis ao examinador. Aspectos médico-trabalhis-
tas e periciais podem estar envolvidos, e o conhecimento do estado 
civil passa a ser um dado de valor. 
Profissão. E um dado de crescente importância na prática médica, 
c sobre ele teceremos algumas considerações em conjunto com o 
item que se segue. 
Local de Trabalho. Este é o momento para o estudante tomar o 
primeiro contato com a Medicina do Trabalho ou Saúde Ocupacional. 
Este setor tem sido menosprezado no contexto da prática médica, com 
graves prejuízos para os doentes e para o país. Há. infelizmente, um 
preconceito contra esta atividade, e só as novas gerações dc médicos 
ANAMNESE 5 1 
1940 1950 1960 1980 1997 2000 
Fig. 4.1 População brasileira de acordo com a cor da pele. Os censos demográf icos dc 1940, 1950, 1960,1980 e 1997 mostram a importância 
da miscigenação no Brasil. Os brancos, que em 1940 representavam 64% da população, no censo de 1997 representavam 54,4%; enquan to 
isso os pardos passaram de 21 para 39,9% e os negros de 15 para 5,2%. No censo de 2000 os dados pouco se alteraram (IBGE, 2000). Estes 
fatos são mui to significativos do ponto de vista médico e precisam ser valorizados na identificação do paciente. 
poderão superá-lo, incorporando em suas atitudes os princípios da 
Medicina do Trabalho. 
Não basta registrar a ocupação atual. Faz-se necessário indagar 
sobre outras atividades já exercidas em épocas anteriores. Por isso. 
nos prontuários devem constar dois itens: profissão atual e ocupa-
ções anteriores. 
Em cortas ocasiões, existe uma relação direta entre o trabalho 
do indivíduo e a doença que lhe acometeu. Caem nesta categoria as 
chamadas doenças profissionais e os acidentes de trabalho. 
Exemplos: indivíduos que trabalham em pedreira ou minas podem 
sofrer uma doença pulmonar determinada pela presença de substân-
cias inaladas ao exercer sua profissão; chama-se pneumoconiose e é 
uma típica doença profissional. O indivíduo que sofre uma fratura ao 
cair de um andaime está sendo vítima de um acidente de trabalho. Em 
ambos os casos, ao lado dos aspectos clínicos e cirúrgicos, surgem 
questões de caráter pericial ou médico-trabalhista. 
Em outras situações, ainda que a ocupação não seja diretamente 
relacionada com a doença, o ambiente no qual o trabalho é executa-
do poderá envolver fatores que agravam uma afecção preexistente. 
Assim, são os locais empoeirados ou enfumaçados que agravam os 
padecimentos dos portadores de enfermidades broncopulmonares do 
tipo de asma brônquica, bronquite crônica e enfisema pulmonar. 
No capítulo das alergias, os dados relativos à ocupação adquirem 
relevo especial. Algumas delas chegam a merecer a designação de 
moléstias profissionais. 
Naturalidade. Local onde o paciente nasceu. 
Residência. Quanto a este item, anotam-se a residência atual e as 
anteriores. Neste local deve ser incluído o endereço do paciente. 
Ao estudar as disciplinas de Parasitologia e Microbiologia, pode-
se ver que as doenças infecciosas e parasitárias se distribuem pelo 
mundo em função de vários fatores, como climáticos, hidrográficos 
e altitude. Conhecer o local da residência é o primeiro passo neste 
terreno. 
Além do mais, deve ser lembrado de passagem que a população 
tem muita mobilidade e os movimentos migratórios influem de 
modo decisivo na epidemiologia de muitas doenças infecciosas e 
parasitárias. 
E na identificação do paciente e, mais especificamente, no registro 
de sua residência que estes dados emergem para uso clínico. 
Tais dados, quando analisados sistematicamente, constituem o 
que se denomina geografia médica ou nosogeografia. Todo médico 
cm seu trabalho cotidiano necessita de elementos de geografia médi-
ca. Mais do que isso, ele próprio, através de suas obser\ ações, pode 
fornecer subsídios que irão enriquecer o acervo do conhecimento 
desta especialidade. 
Citemos como exemplos a doença de Chagas, a esquistossomose, 
a malária e a hidatidose. A distribuição geográfica destas importantes 
endemias deve estar na mente de todos nós, pois a todo momento 
nos veremos diante de casos suspeitos. 
Outros Dados. Ainda na identificação é possível o registro de 
outros dados úteis, como, por exemplo, a filiação do paciente a insti-
tuições previdenciárias. Outras vezes, é indispensável a anotação do 
nome do responsável quando sc interna ou se vai submeter o paciente 
a uma intervenção que implica risco de vida. 
Tem importância saber a religião do paciente, pois algumas 
proíbem o uso de hemoderivados ou ingestão de determinados 
tipos de carne (suínos ou bovinos), além da tradição de jejum em 
certas datas. 
QUEIXA PRINCIPAL 
Em poucas palavras registra-se a queixa principal que levou o 
paciente a procurar o médico, repetindo se possível as expressões 
por ele utilizadas. 
Não aceitar, tanto quanto possível, "rótulos diagnósticos" referi-
dos à guisa de queixa principal. Assim, se o doente nos disser que seu 
problema é "pressão alta" ou "menopausa", procurar-se-á esclarecer 
o sintoma que ficou subentendido sob uma outra denominação. Nem 
sempre existe uma correspondênciaentre a nomenclatura leiga e o 
significado exato do termo "científico" usado pelo doente. Por isso, 
sempre se solicita a ele a tradução em linguagem corriqueira daquilo 
que sente. Algumas vezes é razoável o registro de um diagnóstico 
como queixa principal. 
É um verdadeiro risco tomar ao pé da letra os "diagnósticos" dos 
pacientes. Por comodidade, pressa ou ignorância, o médico pode ser 
induzido a aceitar, dando-lhes ares científicos, conclusões diagnos-
ticas feitas pelos pacientes ou seus familiares. As conseqüências de 
tal procedimento podem ser muito desagradáveis. Não são poucos 
os indivíduos que perderam a oportunidade de submeter-se a um 
tratamento cirúrgico com probabilidade dc cura para retirada de um 
câncer retal pelo lato de lerem sugerido ao médico c este ter accito 
5 2 PARTE 1 SEMIOLOGIA GERAL 
o diagnóstico de "hemorróidas". Que o paciente tenha esta suspeita 
após observar sangue junto com as tezes é perfeitamente compre-
ensível e aceitável. Imperdoável, sob qualquer pretexto, é o médico 
aceitar este "diagnóstico" sem ter realizado um exame anorretal 
que possibilitaria o reconhecimento da neoplasia causadora daquele 
sangramento. 
Quando o paciente chega ao médico encaminhado por outro cole-
ga ou instituição médica, no item correspondente à Queixa Principal 
registra-se de modo especial o motivo da consulta. Exemplo: um 
jovem teve vários surtos de moléstia reumática com ou sem seqüelas 
cardíacas, vai ser submetido a uma amigdaiectomia e é enviado ao 
clínico ou cardiologista para averiguação da existência de "atividade 
reumática" ou alteração cardiovascular que impeça a execução da 
operação proposta. Registra-se à guisa de queixa principal "Avaliação 
pré-operatória de amigdaiectomia. O paciente já teve vários surtos 
de moléstia reumática". 
HISTÓRIA DA DOENÇA ATUAL 
Tudo que foi dito, quando analisamos o método clínico e a 
anamnese, encontra sua melhor aplicação na feitura da história da 
doença atual (HDA). 
A I IDA. abreviatura já consagrada no linguajar médico, é a parte 
principal da anamnese e costuma ser a chave-mestra para se chegar 
ao diagnóstico. 
Algumas histórias são simples e curtas, constituídas de poucos 
sintomas, facilmente dispostos em ordem cronológica e cujas rela-
ções entre si aparecem sem dificuldade. Outras histórias são longas, 
complexas e compostas de inúmeros sintomas cujas inter-relações 
não são fáceis de encontrar. 
Para obter as histórias simples, não haverá dificuldade se o estu-
dante obedecer às normas fundamentais. As histórias complicadas 
são trabalhosas para todos, e. dentre as recomendações anteriormente 
citadas, desejamos relembrar algumas: (1) determine o sintoma-
guia: 2) marque a época de seu início: 3) use o sintoma-guia 
como fio condutor da história e estabeleça as relações das outras 
queixas com ele: 4) verifique se a história obtida tem começo, 
meio e fim. 
É preciso lembrar mais uma vez que a história da doença atual 
não é o registro puro e direto das informações dadas pelo doente. 
Todas estas informações necessitam ser "elaboradas" ou "digeridas" 
mentalmente pelo examinador, que as despoja dos seus elementos 
inúteis c as interpreta à luz dos conhecimentos médicos. 
As primeiras histórias são sempre cheias de omissões porque fal-
tam ao estudante conhecimentos sobre as doenças. Espera-se apenas 
que ele consiga delinear a espinha dorsal da história e que. com o 
passar do tempo, vá se tomando capaz de conseguir a reconstituição 
exata de uma história, por mais complexa que seja. 
DOENÇAS PREEXISTENTES E 
MEDICAMENTOS EM USO 
Tio logo se conclua a história da doença atual, devemos indagar 
- r»re doenças preexistentes e medicamentos em uso. 
A< doenças preexistentes constituem uma parte da anamnese que 
s e : r.runde com os antecedentes pessoais patológicos, momento 
r r _...c registramos as enfermidades e traumatismos já sofridos e 
- . realizadas pelo paciente. Como a própria denominação 
j . . . :..v : ndições são antecedentes, ou seja. ocorreram em 
ér* vu-
Ne>:= iie.T; — doenças preexistentes — interessa registrar a(s) 
-i £--ça' < pac ente apresenta no presente momento, mas que 
e •-.>:._ ..r:es d.; d ença atual que motivou a busca de assistência 
médica. 
H j^c ;—/.:> vezes são condições diretamente relacionadas 
entre > .. C n: .:d- . ntrar possíveis vínculos entre a doença atual 
e uma doença preexistente vai ser mais uma das primeiras tarefas 
do médico que cuida do paciente. 
Exemplo: um paciente relata dor precordial e outros sintomas que 
levantam a suspeita de infarto agudo do miocárdio. Em torno desta 
queixa vamos construir a história da doença atual da melhor maneira 
possível. Mas, ao indagar sobre a existência de alguma doença já 
diagnosticada, o paciente informa que é diabético e tem pressão alta. 
Aí. então, ficam caracterizadas duas enfermidades preexistentes: 
diabetes mellitus e hipertensão arterial. Agora, o contexto clínico 
do infarto do miocárdio ficará mais claro ao se reconhecerem as 
preexistentes. Com freqüência elas se inter-relacionam de tal modo 
que a conduta terapêutica vai depender de reconhecê-las. 
No entanto, nem sempre o paciente tem um diagnóstico cla-
ramente definido, apenas relata sintomas que podem indicar ou 
sugerir a presença de uma doença preexistente, até então por cie 
desconhecida. No caso citado anteriormente, ao invés de informar 
que é diabético, o paciente relata que. nos últimos meses, além de 
níveis elevados de pressão arterial, observou o aparecimento de 
polidipsia. poliúria e perda de peso. É claro que devemos investigar 
a possibilidade de diabetes. 
O uso de med icamen tos e/ou ou t ros t r a t a m e n t o s (dietas, 
fisioterapia etc.) também deve ser esclarecido pelo médico neste 
item da anamnese. O paciente costuma estabelecer um nexo entre 
uma doença preexistente e o uso de um ou mais medicamentos. 
Mas nem sempre é assim. O(s) medicamento(s) em uso pode(m) 
ser justificado(s) pelo paciente pela presença de sintomas não 
esclarecidos. Não é raro, inclusive, que seja automedicação. Dc 
qualquer modo é sempre importante anotar os medicamentos em 
uso pelo paciente. 
Cumpre ressaltar, a propósito, o elevado contingente de pacientes 
que procura assistência médica ou internação hospitalar em conse-
qüência de efeitos colaterais de medicamentos. Esta situação é muito 
freqüente em pacientes idosos. A iatrogenia constitui, inclusive, um 
dos gigantes da geriatria (ver Cap. 9 — Semiologia do Idoso). 
INTERROGATÓRIO SINTOMATOLÓGICO 
Esta parte da anamnese, chamada também anamnese especial 
ou revisão dos sistemas, constitui, na verdade, um complemento da 
história da doença atual. 
De um modo geral, uma HDA bem feita deixa pouca coisa para 
o interrogatório sintomatológico, que é, entretanto, elemento indis-
pensável no conjunto do exame clínico. Pode-se dizer mesmo que 
este só estará concluído quando um interrogatório sintomatológico, 
abrangendo todos os sistemas do organismo, tiver sido adequado c 
corretamente executado. 
A principal utilidade prática do interrogatório sintomatológi-
co reside no falo de permitir ao médico levantar possibilidades c 
reconhecer enfermidades que não guardam relação com o quadro 
sintomatológico registrado na HDA. Exemplo: o relato dc um pa-
ciente conduziu ao diagnóstico de úlcera péptica e. no interrogatório 
sintomatológico, houve referência a edema dos membros inferiores. 
Este sintoma pode despertar uma nova hipótese diagnostica que vai 
culminar no encontro de uma cirrose, por exemplo. 
Em outras ocasiões, é no interrogatório sintomatológico que 
nasce a suspeita diagnóstica mais importante. Essa possibilidade 
pode ser ilustrada com o caso de um paciente que procurou o médico 
concentrando a sua preocupação cm uma impotência sexual. Ao ser 
feita a revisão dos sistemas, vieram à tona os sintomas polidipsia, 
poliúria e emagrecimento, queixas às quais o paciente não havia 
dado a menor importância. No entanto, a partir delas o médico 
levantou a suspeita da enfermidadeprincipal daquele paciente — o 
diabetes mellitus. 
Além disso, é fato comum o paciente não relatar um ou outro 
sintoma durante a feitura da história da doença atual. Tais omissões 
não querem dizer, necessariamente, que tudo foi informado. Simples 
esquecimento ou medo inconsciente de determinados diagnósticos 
ANAMNESE 5 3 
podem levar o paciente a não se referir a padecimentos de valor 
crucial para se chegar a um diagnóstico. 
A única maneira de realizar uma boa anamnese especial, particu-
larmente nesta fase de iniciação clínica, c seguir um esquema rígido, 
constituído de um conjunto de perguntas que correspondem a todos os 
sintomas indicativos de alterações dos vários aparelhos do organismo. 
Mais ainda: para tirar o máximo proveito dos trabalhos, o estudante 
registrará os sintomas presentes e os negados pelo doente. 
Toda queixa será objeto de investigação dentro do esquema 
anteriormente proposto para análise de um sintoma. 
A simples citação de uma queixa tem algum valor, mas muito 
mais útil é o registro das suas características semiológicas funda-
mentais. 
Sistematização do Interrogatório 
Sintomatológico 
Não é fácil sintetizar o interrogatório sintomatológico quando se 
tem como permanente preocupação uma visão global do paciente. 
Sem dúvida, a melhor maneira é levando cm conta os segmentos do 
corpo. Mas os sistemas do organismo abrangem quase sempre mais 
de um segmento. A solução é conciliar as duas coisas, reunindo 
em cada segmento os órgãos de diferentes aparelhos quando isto 
for possível. Os sistemas que não se enquadram neste esquema são 
investigados em seqüência. 
No início do aprendizado clínico são muitas as dificuldades, 
desde a incompreensão dos termos usados pelos pacientes até 
a escassez de conhecimentos clínicos, além do longo tempo ne-
cessário para fazer o interrogatório sintomatológico. Mas é um 
exercício imprescindível no aprendizado do médico clínico. A 
medida que se adquire experiência pode-se simplificar ou adaptá-lo 
às circunstâncias em que o exame clínico é realizado. O domínio do 
método clínico exige um esforço especial nesta fase. Porém, a chave 
do problema está no exame do maior número possível de pacientes, 
seguindo-se a sistematização proposta a seguir. 
1. SINTOMAS GERAIS 
2. CABEÇA E PESCOÇO 
3. TÓRAX 
4. ABDOME 
5. SISTEMA GENÍTOURINÁRIO 
6. SISTEMA HEMOUNFOPOÍÉTICO 
7. SISTEMA ENDÓCRINO 
8. METABOLISMO 
9. COLUNA VERTEBRAL E EXTREMIDADES 
10. SISTEMA NERVOSO 
11. EXAME PSÍQUICO E AVALIAÇÃO DAS CONDIÇÕES 
EMOCIONAIS 
SINTOMAS GERAIS 
Febre. Sensação de aumento da temperatura corporal acompa-
nhado ou não de outros sintomas (cefaléia, calafrios, sede etc.). 
Astenia. Sensação de fraqueza. 
Alterações do peso. Aumento ou diminuição. Caracterizar em 
quanto tempo houve a alteração do peso. 
Sudorese. Eliminação abundante de suor. Generalizada ou pre-
dominante nas mãos e pés. 
Calafrios. Sensação momentânea de frio com ereção de pêlos e 
arrepiamento da pele. Relação com febre. 
Prurido. Sensação desagradável que provoca o desejo de coçar. 
Generalizado ou localizado (olhos, narinas, vulva, ânus). Acorda o 
paciente à noite ou não. 
Alterações do revestimento cutâneo. Áreas de hipo- ou anes-
tesia. Alterações da temperatura. Lesões cutâneas. 
Alterações do desenvolvimento físico. Nanismo, gigantismo, 
acromegalia, infantilismo, puberdade precoce, puberdade atrasada. 
CABEÇA E PESCOÇO 
CRÂNIO, FACE E PESCOÇO 
I)or. Localizar o mais corretamente possível a sensação dolorosa. A 
partir daí indaga-se sobre as outras características semiológicas da dor. 
Alterações dos cabelos e pêlos. Queda e modificações do^ 
cabelos. Surgimento de pêlos faciais cm mulheres. 
Alterações dos movimentos. Paralisias, tiques, movimentos 
involuntários. 
Alterações do pescoço. Dor, tumorações, alterações dos movi-
mentos, pulsações anormais. 
OLHOS 
Dor ocular e cefaléia. Bem localizada pelo paciente ou de loca-
lização imprecisa no globo ocular. 
Sensação de corpo estranho. Sensação desagradável quase 
sempre acompanhada de dor. 
Queimação ou ardência. Acompanhando ou não a sensação 
dolorosa. 
Lacrimejamento. Eliminação de lágrimas, independente do 
choro. 
Sensação de olho seco. Sensação de secura, como se o olho não 
tivesse lágrimas. 
Xantopsia, iantopsia e cloropsia. Visão amarelada, violeta e 
verde, respectivamente. 
Diminuição ou perda da visão. Uni- ou bilateral. Súbita ou 
gradual. Relação com a intensidade da iluminação. Visão noturna. 
Correção (parcial ou total) com óculos ou lentes de contato. 
Diplopia. Visão dupla. Constante ou intermitente. 
Fotofobia. Hipersensibilidade à luz. 
Nistagmo. Movimentos repetitivos rítmicos dos olhos. Tipo de 
nistagmo. 
Escotomas. Manchas ou pontos escuros no campo visual, des-
critas como manchas, moscas que voam diante dos olhos ou pontos 
luminosos. 
Secreção. Líquido purulento que recobre as estruturas externas 
do olho. 
Alucinações visuais. Sensação de luz. cores ou reproduções 
de objetos. 
OUVIDOS 
Dor. Localizada ou irradiada de outra região. 
Otorragia. Perda de sangue pelo canal auditivo. Relação com 
traumatismo. 
Acuidade auditiva. Perda parcial ou total da audição. Uni- ou 
bilateral. Início súbito ou progressivo. 
Zumbidos. Sensação subjetiva de diferentes tipos de ruídos (cam-
painha, grilos, apito, chiado, cachoeira, jato de vapor, zunido). 
Vertigem. Sensação dc estar girando em torno dos objetos 
(vertigem subjetiva) ou os objetos girando em torno de si (vertigem 
objetiva). 
NARIZ E CAVIDADES PAR AN AS A IS 
Dor. Localizada no nariz ou na face. Verificar todas as caracte-
rísticas semiológicas da dor. 
Espirros. Isolados ou em crises. Indagar em que condições 
ocorrem, procurando detectar locais ou substâncias relacionados 
com os espirros. 
Obstrução nasal. Rinorréia. Aspecto do corrimento (aquoso, 
purulento, sanguinolento); cheiro. 
Epistaxe. Hemorragia nasal. 
Dispnéia. Falta dc ar. 
Diminuição do olfato. Diminuição (hiposmia) ou abolição 
(anosmia). 
Aumento do olfato. Transitório ou permanente. 
Alterações do olfato. Percepção anormal de cheiros. 
Cacosmia. Consiste em sentir mau cheiro, sem razão para tal. 
Parosniia. Perversão do olfato. 
Alterações da fonação. Voz anasalada (rinolalia). 
CAVIDADE BUCAL E ANEXOS 
Alterações do apetite. Polifagia ou hiperorexia. Inapetência . 
anorexia. Perversão do apetite (geofagia ou outros tipos . 
5 4 PARTE 1 SEMIOLOGIA GERAL 
Sialose. Excessiva produção de secreção salivar. 
Halitose. Mau hálito. 
Dor. Dor de dente, nas glândulas salivares, na língua (glossalgia). 
na articulação temporomandibular. Trismo. 
FARINGE 
Dor de garganta. Espontânea ou provocada pela deglutição. 
Verificar todas as características semiológicas da dor. 
Dispnéia. Dificuldade para respirar relacionada com a faringe. 
Disfagia. Dificuldade de deglutir localizada na orofaringe (dis-
fagia alta). 
Tosse. Seca ou produtiva. 
Halitose. Mau hálito. 
Pigarro. Ato de raspar a garganta. 
LARINGE 
Dor. Espontânea ou à deglutição. Verificar as outras caracterís-
ticas semiológicas da dor. 
Dispnéia. Dificuldade para respirar. 
Alterações da voz. Disfonia. Afonia. Voz lenta e monótona. Voz 
fanhosa ou anasalada. 
Tosse. Seca ou produtiva. Tosse rouca. Tosse bitonal. 
Disfagia. Disfagia alta. 
TIREÓIDE E PAR ATI REÓ IDES 
Dor. Espontânea ou à deglutição. Verificar as outras caracterís-
ticas semiológicas. 
Outras alterações. Nódulo. Bócio. Rouquidão. Dispnéia. Dis-
fasia. 
VASOS E LINFONODOS 
Dor. Localização e outras características semiológicas. 
Adcnomegalias. Localização e outras características semiológicas. 
Pulsações e turgência jugular. 
TÓRAX 
PAREDE TORÁCICA 
Dor. Localização e demais características semiológicas, em 
particular a relação da dor com os movimentos do tórax. 
Alterações da fornia do tórax. Alterações localizadas da caixa 
torácica como um todo. 
Dispnéia. Relacionada com dor ou alterações da configuração 
do tórax. 
MAMAS 
Dor. Relação com a menstruação e outras características se-
miológicas.Nódulos. Localização e evolução. Modificações durante o ciclo 
menstrual. 
Secreção mamilar. Uni- ou bilateral, espontânea ou provocada; 
aspecto da secreção. 
TRAQUEIA. BRÔNQUIOS. PULMÕES E PLEURAS 
Dor. Localização e outras características semiológicas. 
Tosse. Seca ou com expectoração. Freqüência, intensidade, tona-
lidade. relação com o decúbito, período em que predomina. 
Expectoração. Volume, cor. odor. aspecto e consistência. Ti-
pos de expectoração: mucóide, serosa, purulenta, mucopurulenta, 
hemoptóica. 
Hemoptise. Eliminação de sangue pela boca. através da glote, 
proveniente dos brônquios ou pulmões. Obter os dados para dife-
renciar a hemoptise da epistaxe e da hematêmese. 
Yômica. Eliminação súbita através da glote de quantidade abun-
dante de pu> ou líquido de aspecto mucóide ou seroso. 
Dispnéia. Relação com esforço ou decúbito. Instalação súbita ou 
.ir^dativa Relação com tosse ou chieira. Tipo da dispnéia. 
Chieira. Ruído sibilante percebido pelo paciente durante a res-
piração. Relação com tosse e dispnéia. Uni- ou bilateral. Horário 
em que predomina. 
Cornagem. Ruído grave provocado pela passagem do ar pelas 
vias respiratória» altas reduzidas de calibre. 
DIAFRAGMA E MEDIASTINO 
Dor. Li vaüzaçã- e demais características semiológicas. 
Soluço. Contrações espasmódicas do diafragma, concomitantes 
com o fechamento da glote, acompanhadas de um ruído rouco. 
Isolados ou em crises. 
Dispnéia. Dificuldade respiratória. 
Sintomas de compressão. Relacionados com comprometimento 
do simpático, do nervo reeurrente, do frênico. das veias cavas, das 
vias respiratórias e do esôfago. 
CORAÇÃO E GRANDES VASOS 
Dor. Localização c outras características semiológicas. Dor is-
quêmica (angina do peito e infarto do miocárdio). Dor da pericardite. 
Dor de origem aórtica. Dor de origem psicogênica. 
Palpitações. Percepção incômoda dos batimentos cardíacos. Tipo 
de sensação, horário de aparecimento, modo de instalação e desapa-
recimento. Relação com esforço ou outros fatores desencadeantes. 
Dispnéia. Relação com esforço e decúbito. Dispnéia paroxística 
noturna. Dispnéia periódica ou de Cheynes-Stokes. 
Tosse e expectoração. Tosse scca ou produtiva. Relação com 
esforço c decúbito. Tipo de expectoração (serosa, serossanguino-
Icnta). 
Chieira. Relação com dispnéia e tosse. Horário em que predo-
mina. 
Hemoptise. Quantidade c características do sangue eliminado. 
Obter dados para diferenciar da epistaxe e da hematêmese. 
Desmaio. Perda súbita e transitória, parcial ou total, da cons-
ciência. Situação em que ocorreu. Duração. Manifestações que 
antecederam e que vieram depois do desmaio. 
Alterações do sono. Insónia. Sono inquieto. 
Cianose. Coloração azulada da pele. Época do aparecimento 
(desde o nascimento ou surgida tempos depois). Intensidade. Relação 
em choro e esforço. 
Edema. Época em que apareceu. Como evoluiu, região em que 
predomina. 
Astenia. Sensação de fraqueza. 
Posição de cócoras. O paciente fica agachado, apoiando as 
nádegas nos calcanhares. 
ESÔFAGO 
Disfagia. Dificuldade â deglutição. Disfagia alta (orofaríngea). 
Disfagia baixa (esofagiana). 
Odinofagia. Dor retroesternal durante a deglutição. 
Dor. Independente da deglutição. 
Pirose. Sensação de queimação retroesternal. Relação com a 
ingestão de alimentos ou medicamentos. Horário em que aparece. 
Regurgitação. Volta à cavidade bucal de alimento ou dc secreções 
contidas no esôfago ou no estômago. 
Eructação. Relação com a ingestão de alimentos ou com alte-
rações emocionais. 
Soluço. Horário em que aparece. Isolado ou em crise. Dura-
ção. 
Hematêmese. Vômito de sangue. Características do sangue 
eliminado. Diferenciar de epistaxe e de hemoptise. 
ABDOME 
O interrogatório sobre os sintomas das doenças abdominais 
inclui vários sistemas, mas. por comodidade, é melhor restringirmo-
nos aos órgãos do sistema digestivo. Os outros órgãos localizados 
no abdome devem ser analisados separadamente, reunindo-se o 
sistema urinário com os órgãos genitais, o sistema endócrino e o 
hemolinfopoiético. 
PAREDE ABDOMINAL 
Dor. Localização e outras características semiológicas. 
Alterações da forma e do volume. Crescimento do abdome. 
Hérnias. Tumorações. 
ESTÔMAGO 
Dor. Localização na região epigástrica. Outras características 
semiológicas. 
Náuseas e vômitos. Horário em que aparecem. Relação com a 
ingestão de alimentos. Aspecto dos vômitos. 
ANAMNESE 5 5 
Dispepsia. Conjunto de sintomas constituído de desconforto 
epigástrico, empanzinamento, sensação de distensão por gases, 
náuseas, intolerância a certos alimentos. 
Pirose. Sensação de queimação retroesternal. 
INTESTINO DELGADO 
Diarreia. Duração. Volume. Consistência, aspecto e cheiro das 
fezes. 
Esteatorréia. Aumento da quantidade de gorduras excretadas 
nas fezes. 
Dor. Localização, contínua ou em cólica. 
Distensão abdominal, flatulência e dispepsia. Relação com 
ingestão de alimentos. 
Hemorragia digestiva. Aspecto em borra de café (melena) ou 
sangue vivo (enterorragia). 
CÓLON. RETO E ÂNUS 
Dor. Localização abdominal ou perianal. Outras características 
semiológicas. Tenesmo. 
Diarréia. Diarréia baixa. Aguda ou crônica. Disenteria. 
Obstipação intestinal. Duração. Aspecto das fezes. 
Sangramento anal. Relação com a defecação. 
Prurido. Intensidade. Horário em que predomina. 
Distensão abdominal. Sensação de gases no abdome. 
Náuseas e vômitos. Aspecto do vômito. Vômitos fecalóides. 
FÍGADO E VIAS BILIARES 
Dor. Dor contínua ou cm cólica. Localização no hipocôndrio 
direito. Outras características semiológicas. 
Icterícia. Intensidade. Duração e evolução. Cor da urina e das 
fezes. Prurido. 
PÂNCREAS 
Dor. Localização (epigástrica) e demais características semio-
lógicas. 
Icterícia. Intensidade. Duração e evolução. Cor da urina e das 
fezes. Prurido. 
Diarréia e esteatorréia. Características das fezes. 
Náuseas e vômitos. Tipo de vômito. 
SISTEMA GENITOURINÁRIO 
RINS E VIAS URINÁRIAS 
Dor. Localização e demais características semiológicas. 
Alterações miccionais. Incontinência. Hesitação. Modificações 
do jato urinário, retenção urinária. 
Alterações do volume e do ritmo urinário. Oligúria. Anúria. 
Poliúria. Disúria. Noctúria. Urgência. Polaciúria. 
Alterações da cor da urina. Urina turva. Hematúria. Hemoglo-
binúria. Mioglobinúria. Porfirinúria. 
Alterações do cheiro da urina. Mau cheiro. 
Dor. Dor lombar e no flanco c demais características semiológi-
cas. Dor vesical. Estrangúria. Dor permeai. 
Edema. Localização. Intensidade. Duração. 
Febre. Calafrios associados. 
ÓRGÃOS GENITAIS MASCULINOS 
Lesões penianas. Úlceras, vesículas (herpes, sífilis, cancro 
mole). 
Nódulos nos testículos. Tumor, varicocele. 
Distúrbios miccionais. Ver rins e vias urinárias. 
Dor. Testicular. Pcrineal. Lombossacra. Características semio-
lógicas. 
Priapismo. Ereção persistente, dolorosa, sem desejo sexual. 
Hemospermia. Presença de sangue no esperma. 
Corrimento uretral. Aspecto da secreção. 
Disfunções sexuais. Impotência sexual. Ejaculação precoce. 
Ausência de ejaculação, anorgasmia, diminuição da libido, síndromes 
por deficiência de hormônios testiculares (síndrome dc Klinefelter, 
puberdade atrasada). 
ÓRGÃOS GENITAIS FEMININOS 
Ciclo menstrual. Data da primeira menstruação. Duração dos 
ciclos subseqüentes. 
Distúrbios menstruais. Polimenorréia. Oligomenorréia. Arncnor-
réia. Hipermenorréia. Hipomenorréia. Menorragia. Dismcnorréia. 
Tensão pré-menstrual. Cólicas. Outros sintomas. 
Hemorragias. Relação com o ciclo menstrual. 
Corrimento. Quantidade. Aspecto. Relação com as diferentes 
fases do ciclo menstrual. 
Prur ido. Localizado na vulva. 
Disfunções sexuais. Dispareunia. Frigidez. Diminuição da libido. 
Anorgasmia. 
Menopausa e climatério. Idade em que ocorreu a menopausa. 
Fogachos ou ondas de calor. Insónia. 
Alterações endócrinas. Amenorréia. Síndrome de Turner. 
SISTEMA HEMOLINFOPOIÉTICO 
Astenia. Instalação lenta ou progressiva. 
Hemorragias. Petéquias. Equimoses. Hematomas. Gengivorra-
gia. Hematúria.Hemorragia digestiva. 
Adenomegalias. Localizadas ou generalizadas. Sinais (logísticos. 
Fistulização. 
Febre. Tipo da curva térmica. 
Esplenomegalia e hepatomegalia. Época do aparecimento. 
Evolução. 
Dor. Orofaringe. Tórax. Abdome. Articulações. Ossos. 
Icterícia. Cor das fezes e da urina. 
Manifestações cutâneas. Petéquias. Equimoses. Palidez. Pruri-
do. Eriicmas. Pápulas. Herpes. 
Sintomas osteoarticulares. 
Sintomas cardiorrespiratórios. 
Sintomas gastrointestinais. 
Sintomas genitourinários. 
Sintomas neurológicos. 
SISTEMA ENDÓCRINO 
O interrogatório dos sintomas relacionados com as glândulas 
endócrinas abrange o organismo como um todo. desde os sintomas 
gerais até o exame psíquico, mas há interesse em caracterizar um 
grupo de manifestações clínicas diretamente relacionadas com cada 
glândula para desenvolver a capacidade de reconhecimento pelo 
clínico geral destas enfermidades. 
HIPOTALAMO E HIPÓFISE 
Alterações do desenvolvimento físico. Nanismo, gigantismo, 
acromegalia. 
Alterações do desenvolvimento sexual. Puberdade precoce. 
Puberdade atrasada. 
Outras alterações. G al ac torre ia. Síndromes poliúricas. Altera-
ções visuais. 
Tl RÓ IDE 
Alterações locais. Dor. Nódulo. Bócio. Rouquidão. Dispnéia. 
Disfagia. 
Manifestações de hiperfunçao. Hipersensibilidade ao calor. 
Aumento da sudorese. Perda de peso. Taquicardia. Tremor. Irritabi-
lidade. Insónia. Astenia. Diarréia. Exoftalmia. 
Manifestações de hipofunção. Hipersensibilidade ao frio. 
Diminuição da sudorese. Aumento do peso. Obstipação intestinal. 
Cansaço facial. Apatia. Sonolência. Alterações menstruais. Gine-
comastia. Unhas quebradiças. Pele seca. Rouquidão. Macroglossia. 
Bradicardia. 
PARATIRÓ1DES 
Manifestações de hiperfunçao. Emagrecimento. Astenia. Pares-
tesias. Cãibras. Dor nos ossos e articulações. Arritmias cardíacas. 
Alterações ósseas. Raquitismo. Osteomalacia. Tetania. 
Manifestações de hipofunção. Tetania. Convulsões. Queda 
de cabelos. Unhas frágeis e quebradiças. Dentes hipoplásicos. 
Catarata. 
SUPRA-RENAIS 
Manifestações por hiperprodução de glicocorticóides. Au-
mento de peso. Fácies de lua cheia. Acúmulo de gordura na face. 
5 6 PARTE 1 SEMIOLOGIA GERAL 
região cervical e dorso. Fraqueza muscular. Poliúria. Polidipsia. 
Irregularidade menstrual. Infertilidade. Hipertensão arterial. 
Manifestações por diminuição de glicocorticóides. Anorexia. 
Náuseas e vômitos. Astenia. Hipotensão arterial. Hipcrpigmentação 
da pele e das mucosas. 
Aumento de produção de mineralocorticóides. Hipertensão 
arterial. Astenia. Cãibras. Parestesias. 
Aumento da produção de esteróides sexuais. Pseudopuberdade 
precoce. Hirsutismo. Virilismo. 
Aumento de produção de catecolaminas. Crises de hipertensão 
arterial, cefaléia, palpitações, sudorese. 
GÔNADAS 
Alterações locais e em outras regiões corporais indicativas de 
anormalidades da função endócrina. 
METABOLISMO 
COLUNA VERTEBRAL E EXTREMIDADES 
Neste item. além do sistema locomotor serão analisados órgãos 
pertencentes a outros sistemas pela sua localização nas extremi-
dades. 
COLUNA VERTEBRAL 
Dor. Localização cervical, dorsal, lombossacra. Relação com os 
movimentos. Demais características semiológicas. 
Rigidez pós-repouso. Tempo dc duração após iniciar as ativi-
dades. 
OSSOS 
Dor. Localização e demais características semiológicas. 
Deformidades ósseas. Caroços. Arqueamento do osso. Rosário 
raquítico. 
ARTICULAÇÕES 
Dor. Localização e demais características semiológicas. 
Rigidez pós-repouso. Pela manhã. 
Sinais inflamatórios. Edema, calor, rubor e dor. 
Crepi tação articular. Localização. 
Manifestações sistêmicas. Febre. Astenia. Anorexia. Perda de 
peso. 
BURSAS F. TENDÕES 
Dor. Localização e demais características semiológicas. 
Limitação de movimento. Localização. Grau de limitação. 
MÚSCULOS 
Fraqueza muscular . Segmentar. Generalizada. Evolução no 
decorrer do dia. 
Dificuldade pa ra a n d a r ou para subir escadas. 
Atrofia muscular. Localização. 
Dor. Localização e demais características semiológicas; cãi-
bras. 
Espasmos musculares . Miotonia. Tétano. 
ARTÉRIAS 
Dor. Claudicação intermitente. Dor de repouso. 
Alterações da cor da pele. Palidez, cianose, rubor, fenômeno 
de Ravnaud. 
Alterações da t empera tu ra da pele. Frialdade localizada. 
Vlterações tróficas. Atrofia da pele, diminuição do tecido subeu-
tlneo. queda de pêlos, alterações ungueais. calosidades, ulcerações, 
edema. sufusões hemorrágicas, bolhas e gangrena. 
Edema, Localização. Duração c evolução. 
VELAS 
Dor. 7 r de dor. Fatores que a agravam ou aliviam. 
Edema. Localização. Duração e evolução. 
Xlterações tróficas. Hipcrpigmentação. celulite, eczema, úlceras, 
dermatofibrose. 
LINFÁTICOS 
Dor. L no trajeto do coletor linfático e/ou na área do 
linfonodo correspondente. 
Edema. i:>:^Ltçâo insidiosa. Lesões secundárias ao edema de 
longa duraçâ: tuueratose. lesões verrucosas. elefantíase). 
MICROCIRCULAÇÃO 
Alterações da coloração e da t e m p e r a t u r a da pele. Acro-
cianose. Livedo reticular. Fenômeno de Ravnaud. Eritromelalgia. 
Palidez. 
Alterações da sensibilidade. Sensação de dedo morto, hiperes-
tesia. dormências e formigamentos. 
SISTEMA NERVOSO 
Distúrbios da consciência. Obnubilação. Estado de coma. 
Dor de cabeça e na face. Localização e outras características 
semiológicas. 
Tontura e vertigem. Sensação de rotação (vertigem), sensação 
de iminente desmaio. Sensação dc desequilíbrio. Sensação desa-
gradável na cabeça. 
Convulsões. Localizadas ou generalizadas. Tônicas ou clônicas. 
Manifestações ocorridas antes (pródromos) e depois das convul-
sões. 
Ausências. Breves períodos de perda da consciência. 
Automatismos. Tipos. 
Amnésia. Perda da memória. Transitória ou permanente. Relação 
com traumatismo craniano e com ingestão de bebidas alcoólicas. 
Distúrbios visuais. Ambliopia. Amaurose. Hemianopsia. Di-
plopia. 
Distúrbios auditivos. Hipocusia. Acusia. Zumbidos. 
Distúrbios da marcha . Disbasia. 
Dis túrb ios da mot r i c idade voluntár ia e da sensibi l idade. 
Paresias. paralisias, parestesias. anestesias. 
Distúrbios esfineterianos. Bexiga neurogênica. Incontinência 
fecal. 
Distúrbios do sono. Insónia. Sonolência. Sonilóquio. Pesadelos. 
Terror noturno. Sonambulismo. Briquismo. Movimentos rítmicos da 
cabeça. Enurese noturna. 
Distúrbios das funções cerebrais superiores. Disfonia. Disar-
tria. Dislalia. Disritmolalia. Dislexia. Disgrafia. Afasia. Distúrbios 
das gnosias. Distúrbios das praxias (ver também Exame Psíquico). 
EXAME PSÍQUICO E AVALIAÇÃO DAS CONDIÇÕES 
EMOCIONAIS 
Consciência. Alterações quantitativas (normal, obnubilação, 
perda parcial ou total da consciência) e qualitativas. 
Atenção. Nível de atenção e outras alterações. 
Orientação. Orientação autopsíquica (capacidade dc uma pessoa 
saber quem ela é). orientação no tempo e no espaço. Dupla orienta-
ção, despersonalização, dupla personalidade, perda do sentimento 
de existência. 
Pensamento . Pensamento normal ou pensamento fantástico, 
pensamento maníaco, pensamento inibido, pensamento esquizo-
frênico, desagregação do pensamento, bloqueio do pensamento, 
ambivalência, perseveração. pensamentos subtraídos, sonorização 
do pensamento, pensamento incoerente, pensamento prolixo, pensa-
mento oligofrênico, pensamento demencial, idéias delirantes, fobias, 
obsessões, compulsões. 
Memória . Capacidade de recordar. Alterações da memória de 
fixação e de evocação. Memória recente e remota. Alterações qua-
litativas da memória. 
Inteligência. Capacidade de adaptar o pensamento às necessi-
dades do momento presente ou de adquirir novos conhecimentos. 
Déficit intelectual. 
Sensopercepção. Capacidade de uma pessoa apreender as im-
pressões sensoriais. Ilusões. Alucinações. 
Vontade. Disposição para agir a partir de uma escolha ou decisão. 
Perda da vontade. Negativismo. Atos impulsivos. 
Psicomotricidade. Expressão objetiva da vida psíquica nos ges-
tos e movimentos. Alterações da psicomotricidade. Estupor. 
Afetividade. Compreende um conjunto devivências incluindo 
sentimentos complexos. Humor ou estado de ânimo. Exaltação e de-
pressão do humor. (Ver Caps. 172 a 176 — Exame Psiquiátrico.) 
ANAMNESE 64 
ANTECEDENTES PESSOAIS 
E FAMILIARES 
A investigação dos antecedentes não pode ser esquematizada 
rigidamente. É possível e útil. entretanto, uma sistematização que 
sirva como roteiro e diretriz de trabalho. 
Antecedentes Pessoais. Nos indivíduos de baixa idade, a análise 
dos antecedentes pessoais costuma ser feita com mais facilidade do 
que em outras faixas etárias. 
Às vezes, uma hipótese diagnóstica leva o examinador a uma 
indagação mais minuciosa de algum aspecto da vida pregressa. 
Exemplo: ao encontrar-se uma cardiopatia congênita, investiga-se 
a possível ocorrência de rubéola na mãe durante o primeiro trimestre 
da gravidez. O interesse dessa indagação é por saber-se que esta virose 
costuma causar defeitos congênitos em elevada proporção dos casos. 
Passos a serem seguidos: 
• antecedentes fisiológicos 
• antecedentes patológicos 
ANTECEDENTES PESSOAIS FISIOLÓGICOS. Incluem os seguintes 
itens: 
Gestação e nascimento. Como decorreu a gravidez; uso de me-
dicamentos ou irradiações sofridas pela genitora: viroses contraídas 
durante a gestação, condições de parto (normal, fórceps, cesariana); 
estado da criança ao nascer, ordem do nascimento (se é primogênito, 
segundo filho etc.). 
Dentição. Informações sobre a primeira e a segunda dentição, 
registrando-se a época em que apareceu o primeiro dente. 
Engatinhar e andar. Anotando as idades em que estas atividades 
tiveram início. 
Fala. Quando começou a pronunciar as primeiras palavras. 
Desenvolvimento físico. Peso e tamanho ao nascer e posteriores 
medidas. Averiguar sobre o desenvolvimento comparativamente 
com os irmãos. 
Controle dos esfíncteres. 
Aproveitamento escolar. 
Puberdade. Época dc seu início. 
Menarca. Época do aparecimento. 
Características do ciclo menstrual. Duração do ciclo, duração 
e quantidade do fluxo menstrual. 
As perguntas relativas à prática sexual podem ser pertinentes ern 
vários momentos da anamnese. Muitas queixas estão relacionadas 
com a vida sexual do paciente. Exemplo: se uma mulher relata cor-
rimento, é conveniente di/er assim a ela: "Para descobrir a causa do 
corrimento preciso fazer algumas perguntas sobre sua vida sexual." 
ANTECEDENTES PESSOAIS PATOLÓGICOS. Por sua vez. compre-
endem os seguintes itens: 
Doenças sofridas pelo paciente. Começando-se pelas mais co-
muns na infância (sarampo, varicela, coqueluche, caxumba. moléstia 
reumática, amigdalites) e passando às da vida adulta (pneumonia, 
hepatite, malária, plcurite. tuberculose etc.). Pode ser que o paciente 
não saiba informar o diagnóstico, mas consegue sc lembrar dc um 
determinado sintoma ou sinal que teve importância para ele, como 
icterícia e febre prolongada. Faz-se então um retrospecto de todos 
os sistemas, dirigindo ao paciente perguntas relativas às doenças 
mais freqüentes de cada um. 
Alergia. Quando se se depara com um caso de doença alérgica, 
esta investigação passa a ter relevância especial, mas, independente 
disso, é possível e útil tomar conhecimento da existência de alergia 
a alimentos, drogas ou outras substâncias. Se o paciente já sofreu 
de afecções de fundo alérgico (eczema, urticária, asma), este fato 
merece registro. 
Cirurgias. Anotam-se as intervenções cirúrgicas, referindo-se 
os motivos que as determinaram. Havendo possibilidade, registrar 
a data, o tipo de cirurgia, o diagnóstico que a justificou e o nome do 
hospital onde foi realizada. 
Traumatismo. É necessário indagar sobre o acidente cm si e 
sobre as conseqüências deste. Em Medicina Trabalhista, este item 
é muito importante por causa das implicações periciais decorrentes 
dos acidentes de trabalho. 
A correlação entre um padecimento atual e um traumatismo ante-
rior pode ser sugerida pelo paciente sem muita consistência. Nestes 
casos, a investigação anamnésica necessita ser detalhada para que o 
examinador tire uma conclusão própria a respeito da existência ou 
não da correlação sugerida. 
Antecedentes Familiares. Os antecedentes começam com a 
menção ao estado de saúde (quando vivos) dos pais e irmãos do 
paciente. Se for casado, inclui-se o cônjuge e, se tiver filhos, estes 
são referidos. Se tiver algum doente na família, esclarecer a natureza 
da enfermidade. 
Em caso de falecimento, indagar a causa do óbito e a idade em 
que ocorreu. 
Pergunta-se sistematicamente sobre a existência de enxaqueca, 
diabetes, tuberculose, hipertensão arterial, câncer, doenças alérgicas, 
doença arterial coronariana (infarto agudo do miocárdio, angina do pei-
to). acidente vascular cerebral, dislipidemias, úlcera péptica, colelitíase 
e varizes, que são as doenças com caráter familiar mais comuns. 
Quando o paciente é portador de uma doença de caráter heredi-
tário (hemofilia, anemia falei forme, rins policísticos, erros metabó-
licos). toma-se imprescindível um levantamento genealógico mais 
rigoroso e. neste caso. recorre-se às técnicas de investigação genética 
(Cap. 10 —Anomalias Genéticas). 
HÁBITOS DE VIDA E CONDIÇÕES 
SOCIOECONÓMICAS E CULTURAIS 
DO PACIENTE 
A medicina está sc tomando cada vez mais uma ciência social, e 
o interesse do médico vai ultrapassando as fronteiras biológicas para 
atingir os aspectos sociais relacionados com o doente e com a doença. 
Este item, muito amplo e heterogêneo, está desdobrado nos 
seguintes: 
• alimentação 
• habitação 
• ocupação atual e ocupações anteriores 
• atividades físicas 
• hábitos 
• condições socioeconómicas 
• condições culturais 
• vida conjugal e ajustamento familiar 
Alimentação. No exame físico, serão estudados os parâmetros 
para avaliar o estado de nutrição do paciente. Todavia, os primeiros 
dados a serem obtidos são os hábitos alimentares do doente. 
Toma-se como referência o que seria a alimentação adequada para 
aquela pessoa em função da sua idade, sexo e trabalho desempenhado. 
Induz-se o paciente a discriminar sua alimentação habitual, espe-
cificando tanto quanto possível o tipo e a quantidade dos alimentos 
ingeridos. É o que se chama anamnese alimentar. 
Assim procedendo, o examinador poderá fazer uma avaliação 
quantitativa e qualitativa, ambas com interesse médico. 
Temos observado que o estudante encontra dificuldade cm 
anotar os dados obtidos. Com a finalidade de facilitar seu trabalho, 
sugerimos as seguintes expressões, nas quais seriam sintetizadas as 
conclusões mais freqüentes: 
• "alimentação quantitativa e qualitativamente adequada"; 
• "déficit calórico global"; 
• "insuficiente consumo de proteínas, com alimentação à base de 
carboidratos"; 
• "consumo de calorias acima das necessidades"; 
• "alimentação com alto teor de gorduras": 
• "reduzida ingestão de verduras e frutas": 
• "insuficiente consumo de proteínas sem aumento compen-...: -
ingestão de carboidratos"; 
5 8 PARTE 1 SEMIOLOGIA GERAL 
• "redução equilibrada na quantidade e na qualidade dos alimen-
tos"; 
• "reduzida ingestão dc çarboidratos"; 
• "reduzido consumo de gorduras"; 
• "alimentação puramente vegetariana": 
• "alimentação láctea exclusiva". 
Habitação. Importância considerável possui a habitação, princi-
palmente as da zona rural. listas, pela sua precariedade, comportam-
se como abrigos ideais para numerosos reservatórios e transmissores 
de doenças infecciosas e parasitárias. 
A habitação não pode ser vista como fato isolado, porquanto ela 
está inserida em um meio ecológico do qual faz parte. Não basta, 
portanto, analisar as condições da casa desconhecendo o meio am-
biente que a envolve. A casa de pau-a-pique tem importância porque 
os triatomíneos existentes na região encontram nela condições ideais 
para sua sobrevivência. 
Como exemplo eloqüente, poder-se-ia citar a doença de Chagas. 
Os triatomíneos (barbeiros) encontram na "cafua" ou "casa de pau-
a-pique". seu habita! ideal, o que faz desta parasitose importante 
endemia de muitas regiões brasileiras. 
A falta dc condições sanitáriasmínimas, tais como ausência dc fos-
sa c uso dc água dc poço ou ribeirão, características de milhões de casas 
brasileiras, propicia uma estreita correlação entre a elevada incidência 
de parasitoses intestinais e as péssimas condições habitacionais. 
Também, no que se refere à malária e à esquistossomose, encon-
tra-se este vínculo entre a doença e a habitação. 
Ocupação Atual e Ocupações Anteriores. Na identificação do 
paciente, abordamos este aspecto. Naquela ocasião, foi feito o regis-
tro puro e simples da profissão; aqui pretendemos ir mais adiante, 
obtendo informações sobre a natureza do trabalho desempenhado, 
com que substâncias entra cm contato, quais as características do 
meio ambiente e qual o grau de ajustamento ao trabalho. 
Desse modo, ver-se-á que os portadores de asma brônquica te-
rão sua doença agravada se trabalharem em ambiente enfumaçado 
ou empoeirado, ou se tiverem de manipular inseticidas, pêlos dc 
animais, penas de aves, plumas de algodão ou de lã, livros velhos e 
outros materiais reconhecidamente capazes de agir como antígenos 
ou irritantes das vias aéreas. 
Os dados relacionados com este item costumam ser chamados 
História Ocupacional, e voltamos a chamar a atenção para a crescente 
importância médica e social da Medicina do Trabalho. 
Atividades Físicas. Torna-se cada dia mais clara a relação entre 
algumas enfermidades e o tipo de vida levado pela pessoa, no que 
concerne à execução de exercícios físicos. 
Exemplos: a comum ocorrência dc lesões degenerativas da coluna 
vertebral nos trabalhadores braçais e a maior incidência de infarto 
do miocárdio entre as pessoas sedentárias. 
lais atividades dizem respeito ao trabalho e à prática de esportes 
e. para caracterizá-las, há que indagar sobre ambos. 
Uma classificação prática é a que se segue: 
• ^tssoas sedentárias 
•• as que exercem atividades físicas moderadas 
. : > que exercem atividades físicas intensas e constantes 
• que exercem atividades físicas ocasionais 
-ZDIOS. Alguns hábitos são ocultados pelos doentes e até pelos 
* ' - :.:r.-.:liares. A investigação deste item exige habilidade, 
.'. r perspicácia. Uma afirmativa ou uma negativa seca por 
- .:.te não significa necessariamente a verdade! Investi-
r . .. . --rente sobre tabagismo, alcoolismo e uso de drogas 
""-5-1 I v 0 O uso de tabaco, socialmente aprovado, não costuma 
re! - a e :e>. exceto quando tenha sido proibido de fumar 
- - _ a> escondidas. Os efeitos maléficos do tabaco não 
- I - - a: c ->>. A relação entre este e o câncer pulmonar é fato 
.nc :"e>r •.'< > . ao efeito nocivo da fumaça dc cigarro sobre 
a- - r.c- ruim nares (asma. bronquite e enfisema), não 
cabe mais dúvida. Uma relação entre tabaco, cardiopatia isquêmica 
e arteriopatia dos membros inferiores é indiscutível. 
Diante disso, nenhuma anamnese está completa se se esquecer 
de investigar este hábito, registrando-se seu tempo de duração, a 
natureza e a quantidade habitualmente usada. 
BEBIDAS ALCOÓLICAS. A ingestão de bebidas alcoólicas também 
é socialmente aceita, mas muitas vezes é omitida ou minimizada por 
parte dos doentes. Que o álcool tem efeitos deletérios graves sobre 
o fígado, cérebro, nervos, pâncreas e coração não mais se discute. É 
fato comprovado. O próprio etilismo, em si, uma doença de fundo 
psicossocial, deve ser colocado entre as enfermidades importantes 
e mais difundidas atualmente. 
Não deixar de perguntar sobre o tipo de bebida e a quantidade 
habitualmente ingerida. 
Avaliação d o Uso d e Bebidas Alcoólicas 
Para facilitar a avaliação do hábito de usar bebidas alcoólicas, 
pode-se lançar mão da seguinte esquematização: 
• pessoas abstêmias, isto é, não usam definitivamente qualquer tipo 
dc bebida alcoólica 
• uso ocasional, em quantidades moderadas 
• uso ocasional, em grande quantidade, chegando a estado de em-
briaguez 
• uso freqüente cm quantidade moderada 
• uso diário em pequena quantidade 
• uso diário em quantidade para determinar embriaguez 
• uso diário em quantidade exagerada, chegando o paciente a avan-
çado estado de embriaguez 
Esta graduação serve inclusive para avaliar o grau de dependência 
do paciente ao uso de álcool. 
Para reconhecimento dos pacientes que abusam de bebidas al-
coólicas está tornando-se bastante difundido o questionário CAGE 
(sigla cm inglês) constituído de quatro pontos a serem investiga-
dos: necessidade de diminuir (Cut down) o consumo de bebidas 
alcoólicas; sentir-se incomodado (A/inoyed) por críticas à bebida; 
sensação de culpa (Guilty) ao beber; necessidade de beber no início 
da manhã para "abrir os olhos" (Eye-opener), ou seja, para sentir-se 
em condições de trabalhar. 
Duas respostas positivas identificam 15% dos alcoólatras com 
uma especificidade de 95%. 
As drogas ilícitas incluem canabinóides (maconha), cocaína, an-
fetaminas com diferentes nomes que incluem substâncias similares, 
heroína, fenciclidina, além de outras. O uso de substâncias tóxicas di-
ferentes do álcool e da nicotina ocorre em escala crescente em todos os 
grupos socioeconómicos. Alguns sedativos e estimulantes, que fazem 
parte do receituário, são substâncias capazes de provocar dependência 
e podem merecer uma investigação ao se fazer a anamnese. 
A investigação clínica de um paciente que usa drogas ilícitas, 
ou mesmo bebidas alcoólicas, não c fácil. Há necessidade de tato e 
perspicácia, e o médico deve integrar informações vindas de todas 
as fontes disponíveis, principalmente de familiares. 
Condições Socioeconómicas. Os primeiros elementos estão con-
tidos na própria identificação do paciente. Outros vão sendo colhidos 
no correr da anamnese. Se houver necessidade de mais informações, 
indagar-se-á sobre rendimento mensal, situação profissional, se há 
dependência econômica de parentes ou instituição. 
A socialização da medicina é um fato que anda de par com estes 
aspectos socioeconómicos. Não só em relação ao paciente em sua 
condição individual, mas também quando se enfoca a medicina 
dentro de uma perspectiva social. 
Todo médico precisa conhecer as possibilidades econômicas de 
seu paciente, principalmente sua capacidade financeira para comprar 
medicamentos, É obrigação do médico compatibilizar sua prescrição 
aos rendimentos do paciente. A maior parte das doenças crônicas 
(hipertensão arterial, insuficiência coronária, dislipidemias, diabetes) 
exige uso contínuo de um ou mais medicamentos. Uma das mais 
ANAMNESE 64 
freqüentes causas de abandono do tratamento é a incapacidade de 
adquirir remédios ou alimentos especiais. 
Condições Culturais. Partir de algo simples como grau de esco-
laridade (alfabetizado ou não) é a maneira mais prática de abordar 
este aspecto da anamnese. Todavia, é o conjunto de dados vistos 
e ouvidos que permitirá uma avaliação. Para facilitar o registro, 
sugerimos três alternativas: 
• nível cultural baixo 
• nível cultural médio 
• nível cultural elevado 
Neste item, cabe incluir elementos sobre a vida religiosa do pa-
ciente. No mínimo, saber se tem ou não religião e qual o credo que 
professa. Este item pode ser exemplificado pelo fato de os seguidores 
da seita Testemunhas de Jeová não admitirem transfusão de sangue. 
Anotam-se. ainda, costumes de vida relacionados à raça ou ao 
grupo social ao qual pertence. 
Vida Conjugal e Ajustamento Familiar. Investiga-se o relaciona-
mento entre pais e filhos, entre irmãos e entre marido e mulher. 
Em várias ocasiões temos salientado as dificuldades da anamnese. 
Chegamos ao tópico onde esta dificuldade atinge o seu máximo. 
Inevitavelmente, o estudante encontrará dificuldade para andar neste 
terreno, pois os pacientes vêem nele um "aprendiz", adotando, em 
conseqüência, maior reserva a respeito de sua vida íntima e de suas 
relações familiares. 1 lá que reconhecer este obstáculo, mas preparan-
do-se desde já. intelectual e psicologicamente, para, em época opor-
tuna e nos momentos exatos, levar a anamnese até os mais recônditos 
e bem guardados escaninhos da vida pessoal e familiar do paciente.

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