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12/04/18 ANESTESIA LOCAL E REGIONAL 1. INTRODUÇÃO E ANESTESIA LOCAL ❖ Anestesia locorregional: Proporcionam boas condições ao cirurgião (imobilidade, rela- xamento muscular, diminuição do sangramento peroperatório), além de conforto aos pacientes; pode ser utilizada isoladamente ou em conjunto com a anestesia geral A. ANESTÉSICOS LOCAIS ❖ Definição: medicações capazes de inibir de forma reversível a geração e condução do potencial de ação, bloqueando funções sensitiva, motora e autonômica de uma fibra nervosa ❖ Química: aminas terciárias ligadas a anel aromático por cadeia intermediária que pode ser ester ou amida • Classificação: aminoésteres (procaína, tetracaína e cloroprocaina) e aminoamidas (prilocaina, lidocaína, mepivacaina, bupivacaina, etidocaina, ropivacaina) ❖ Farmacodinâmica: • Ação: predominantemente bloqueio de canais de sódio da membrana celular neuronal, reduzindo amplitude e velocidade de despolarização da membrana → impede que seja alcançado limiar de excitabilidade → impede propagação do estímulo ▪ O comprometimento da função depende da dose, concentração e tipo de anestésico ❖ Farmacocinética: • Absorção sistêmica depende: dose total e local da aplicação, características físico-quimicas e associação com vasoconstrictor • Níveis plasmáticos alcançados são maiores para adm intercostal, caudal, peridural, plexo braquial (nessa ordem) • Fatores que favorecem a passagem de substâncias pelas membranas biológicas: grau de ionização, lipossolubilidade, ligação às proteínas e tamanho das moléculas ❖ Toxicidade: • Reações alérgicas: raras, incidem mais no grupo ester (devido ao PABA) • Comprometimento do aparelho cardiovascular: favorecida por hipóxia, hipercarbia, acidose e gestação – característico do uso de bupivacaina • Comprometimento do SNC: Doses menores levam o paciente a relatar parestesia perioral, gosto metálico na boca, zumbidos e escotomas visuais. Doses maiores podem acarretar tonteira, abalos musculares, convulsões localizadas e, em casos mais graves, convulsões generalizadas e coma OBS: Anestésicos comercializados na forma levogira são menos tóxicos que a mistura racêmica (ex: bupivacaina e ropivacaina) ❖ Propriedades: • Aromático: potência e lipossolubilidade, penetração maior • Cadeia intermediaria: duração e toxicidadede • Amina terciaria: relacionada com a latência e pka . ❖ Características clínicas e farmacodinâmicas: • Potência: força da ação, lipossolubilidade • Duração da ação: ligação ao canal de sódio proteico • Latência: (velocidade de ação) – tempo inverso ao grau de ionização; o AL se difunde em forma não- ionizada pelos tecidos e ionizada no canal de sódio BTCA | Mariana Gurgel 2 ❖ Manuseio clínico • Aminoéster ▪ Benzocaína – Quase insolúvel em água; uso tópico e orotraqual. ▪ Cocaina – Uso tópico e nasal para intubação, efeitos cardiovasculares e no SNC importantes ▪ Tetracaina – Bloqueio motor superior ao sensitivo, relato de alergias. ▪ Cloroprocaina – Latência e toxicidade baixas, relacionada a déficits neurológicos no meio intratecal • Aminoamidas ▪ Lidocaína – curta e média duração; superou os efeitos adversos dos ésteres, mas mantinha tempo de ação curto quando comparado às aminas ✓ Com ou sem conservante ✓ Bastante utilizado por via subaracnóidea, peridural, infiltração de campo em todas as técnicas de anestesia regional, associada ou não à epinefrina ✓ Apresentações: ISO,HIPER e HIPO em relação a baricidade do LCR. ✓ Concentração a 2%, ou seja 20mg/ml. ✓ Dose: 5mg/Kg s/ epinefrina ou 7mg/Kg a 10 mg/ Kg c/epinefrina ✓ Respeitar dose máxima de 400mg em adultos ✓ Uso em gel, pomadas, spray ▪ Bupivacaina – longa duração e que necessitem de analgesia pós; mas apresenta toxicidade, especialmente cardíaca ✓ Bloqueio motor prolongado, “FAST –IN – SLOW OUT” ✓ Hiperbárica para raquianestesia ✓ Latência e duração maiores ✓ Fórmula com excesso levogiro - Levobupivacaina. ✓ Não usada na forma de gel e sprays porque a latência é longa e ocorre risco de bsorção incorreta ✓ dosagem 2 a 5 mg/kg ▪ Ropivacaína – longa duração, menor toxicidade CV; potente ação vasoconstrictora (não desse ser associado a outros fármacos com esse efeito) ✓ Não usada como gel e spray devido ao risco de isquemia local ✓ Não pode ser usada na sub nem na raque (paraplegia), apenas na peridural ✓ Toxicidade baixa, sem prejuízo da qualidade do bloqueio ✓ Forma levógira, excesso do enantiômero S(-) ✓ Maior margem de segurança. B. ANESTESIA LOCAL ❖ Definição: adm de anestésico local no tecido subcutâneo adjacente à área a ser operada ❖ Indicação: analgesia para procedimentos cirúrgicos pequenos, associada ou não à sedação; pode ser usada para infiltração de ferida cirúrgica como componente de analgesia pós-operatória ❖ Contraindicações: recusa do paciente, enfermidades clínicas que tornem o paciente instável, infecção no local de punção e alergia ao anestésico local a ser utilizado ❖ Técnica: I. Preparação • Informar e ter consentimento do paciente; • Possibilidade de sedação ou não • Posicionamento do paciente para procedimento • Antissepsia local e uso de campo cirúrgico estéril II. Solução de anestésico local BTCA | Mariana Gurgel 3 • Escolha do agente baseando-se em: duração do procedimento, área a ser anestesias, necessidade de analgesia pos-operatória e experiência do médico ▪ Lidocaína – curta e média duração; superou os efeitos adversos dos ésteres, mas mantinha tempo de ação curto quando comparado às aminas ▪ Bupivacaina – longa duração e que necessitem de analgesia pós; mas apresenta toxicidade, especialmente cardíaca ▪ Ropivacaína – longa duração, menor toxicidade CV; potente ação vasoconstrictora (não desse ser associado a outros fármacos com esse efeito) • Vasoconstrictor: o mais utilizado em associação com anestésicos locais é adrenalina ➔ associação objetiva diminuir absorção sistêmica do anestésico local, aumento da duração e intensidade do bloqueio anestésico ▪ Sempre indicado em bloqueio intercostal, peridural, caudal e do plexo braquial → devido à alta absorção ▪ Contraindicado em localização terminal: provoca isquemia e necrose – dedos, punho, tornozelo, pênis ▪ Devem ser evitados em coronariopatas e cardiopatas graves III. Agulha – habitualmente as descartáveis hipodérmicas 13 x 4,5 mm ou 25 x 7 mm IV. Infiltração contínua: possibilidade para analgesia pós-operatória da ferida através de cateter no interior da incisão para uso de bomba elastomérica • Indicações: pequenas lesões de pele, TCSC e do conjuntivo, tumores do SC e biopsiasa, exérese de nódulos mamários, cantoplastia, lacerações de pele, infiltração de pontos gatilho e feridas cirúrgicas para analgesia V. Sedação: • Realizada com benzodiazepínicos, opioides, propofol ou alfa-agonitas • Sedação consciente ou níveis mais profundos exigem: oxigênio, aspirador, manutenção de vias aéreas, monitores, equipamentos e medicamentos para reanimação 2. BLOQUEIO DE NERVOS PERIFÉRICOS ❖ Definição: adm de solução de anestésico local na proximidade de um nervo, acarretando cessação da condução dos impulsos nervosos que por ele trafegam, propiciando anestesia e/ou bloqueio motor da área inervada por ele • Anestesia mais regionalizada, com menor impacto sistêmico • Pode ser usado em conjunto com anestesia geral para manejo da analgesia pós-operatória, diminuindo REMIT ❖ Técnica I. Preparação: igual ao da anestesia local II. Localização dos nervos: • referências anatômicas específicas • sinal de perda de resistência • pesquisa de parestesia • pesquisa de contração muscular (com estimulador de nervos periféricos) ▪ estimulador: aparelho que é conectado a uma agulha quetransmite corrente elétrica para proximidade do nervo, permitindo seu estimulo não doloroso, levando a contração muscular secundáriado seu ramo motor ▪ quanto menor a corrente eficaz para desencadear contração, mais próximo do nervo desejado III. solução de anestésico local • indicações: pertinente a cada nervo, considerando a área inervada e proposição cirúrgica BTCA | Mariana Gurgel 4 • contraindicações: ▪ absolutas: recusa do paciente, infecção do local de punção, alergia, coagulopatias ▪ relativas: lesão neurológica previa, sepse e uso de anticoagulantes ❖ Bloqueios comuns: • Nervos digitais – osteossintese, reparo de tendão, sutura, amputações • Membros superiores – fraturas, lesão de tensão, tumores, amputações • Membros inferiores – desbridamentos, suturas, osteossíntese, tumorações, amputações • N. frontal: cirurgia na região frontal da face • N. dorsal do pênis: postectomia • N. íleo inguinal: hérnia inguinal e orquidopexia • BLOQUEIO INTERCOSTAL: ▪ Indicação: procedimentos cirúrgicos sobre a parede torácica e mama, drenagem de tórax e analgesia pós-operatória ▪ Nervos intercostais: T1-T12, seguem junto ás artérias e veias intercostais no sulco inferior de cada arco costal ▪ Injeção de 3-5 ml de anestésico local com vasoconstrictor 3. BLOQUEIOS TRONCULARES ❖ Definição: bloqueio de um tronco nervoso proximal, de onde se originam os demais ramos nervosos do mesmo membro, pela adm de anestésico local ❖ Bloqueios de interesse: A. BLOQUEIO DO PLEXO BRAQUIAL • Origem: C5-T1 • Vias de bloqueio: interescalência, supraclavicular, infraclavicular e axilar B. BLOQUEIO DO PLEXO LOMBAR • Origem: L1-L4 • Situado no compartimento do psoas, entre o m. quadrado lombar e psoas maior • Vias: perivascular inguinal C. BLOQUEIO DO TRONCO LOMBOSSACRAL • via clássica posterior (bloqueio do N. ciático) 4. BLOQUEIOS PERIDURAL E SUBARACNÓIDEO ❖ Definição: adm de anestésico local nas proximidades da medula espinal e suas raízes nervosas, impedindo transmissão do impulso nervoso ❖ Anatomia das membranas meníngeas: • Meninges: (1) pia-máter, intimamente relacionada; (2) aracnóide, separada da pia-máter pelo liq́uido cefalorraquidiano que circunda o SNC (3) dura-máter, a mais externa das três membranas. Termina em cone, ao nível do corpo de L1 em adultos e de L3 em neonatos. O saco dural, que abriga a cauda eqüina, prolonga-se até S2 nos adultos e S4 no neonato. • Espaço peridural: espaço virtual situado entre a dura-máter e as estruturas que delimitam e fecham o canal vertebral: ligamentos vertebral posterior e amarelo, processos pediculares e lâminas • Planos a serem atravessados para atingir-se o espaço peridural são: pele, subcutâneo, ligamento supra-espinhoso, ligamento interespinhoso e ligamento amarelo (o mais resistente). BTCA | Mariana Gurgel 5 ▪ Para atingir o espaço subaracnóideo, prossegue-se atravessando a dura-máter e a aracnóidea, finalmente atingindo-se o liquor. ❖ Dermátomo: projeção cutânea correspondente a cada segmento medular ❖ Indicação: procedimentos abdominais do andar inferior e pelve, paredes torácicas e abdominal, mama e membros inferiores • Podem ser utilizados como técnica combinada em procedimentos torácicos ou no andar superior do abdome, como técnica anestésica predominante ou como analgesia pós-operatória ❖ Contraindicação: recusa do paciente, impossibilidade de colaboração, HIC A. BLOQUEIO PERIDURAL ❖ Introdução de agulha apropriada no espaço peridural em qualquer nível da coluna vertebral com objetivo anestésico, analgésico ou terapêutico ❖ Paciente pode estar em decúbito lateral ou sentado, curvado com flexão da coxa sobre abdome e levando o queixo ao esterno ❖ Modelos de agulha: • de Tuohy — bisel curvo que dificulta a perfuração inadvertida da dura-máter e facilita a passagem de cateter peridural; mais utilizada • de Crawford — bisel reto, oferecendo maior risco de perfuração da dura-máter; • de Hustead — bisel menos curvo do que o de Tuohy, apresentando caracteriśticas intermediárias entre as anteriores ❖ Anestésicos: utilizados de 10 a 30 ml de anestésico local (lidocaína, bupivacaińa, levobupivacaína ou ropivacaińa), em concentrações variadas, na dependência de objetivos (analgesia ou anestesia), locais de punção (torácico, lombar ou caudal), tamanho do paciente e tipo de operação ❖ Complicações: Injeção subaracnóidea acidental, sobredose de anestésico local, cefaléia pós-punção, injeção intravascular, hipotensão, bradicardia, naúseas e vômitos, injúria espinhal direta, reações de hipersensibilidade: p aminobenzóico amida: parabeno B. BLOQUEIO SUBARACNÓIDEO ❖ Bloqueio anestésico reversível da condução nervosa medular realizado a partir de punção no espaço subaracnóideo • Duração: 60 a 90 min, depende da massa anestésica BTCA | Mariana Gurgel 6 ❖ Indicações: ginecológicas, obstreticas, proctologicas, MI, urológicas, perineal • Controle da dor aguda e crônica • Anestesia combinada (geral+regional) ❖ Contraindicações: • Relativas: bacteremia, desordens psicológicas, infecção generalizada • Absolutas: recusa do paciente, infecção local, hipovolemia, distúrbio de coagulação, sangramento previsível alto, anormalidades anatômicas, distúrbios mentais descompensados; ❖ Efeitos colaterais: hipotensão arterial e bradicardia • Cefaleia após punção da dura-máter: era um dos efeitos colaterais mais prevalentes e acredita-se estar associado às agulhas de grosso calibre e de ponta romba ❖ Anestésicos: • Lidocaina 2% isobárica • Bupivacaina 0,5% Hiperbárica, associada a glicose ❖ Local de punção: • respeitar o término da medula (cerca de L1 no adulto) → optando-se por L2-L3, L3-L4, L4-L5 ou L5- S1 • Em crianças, só é seguro fazer abaixo de L3 • Espaço de L4: Linha de Touffier 5. PREPARO INDISPENSÁVEL PARA ANESTESIA ❖ Visita Pré-operatória, conhecimento prévio da condição clinica (CFM 1806) ❖ Consentimento informado ❖ Respeitar Contra-indicações e Jejum pré peratório nas eletivas ❖ Medicação pré-anestésica quando possível, alívio da ansiedade ❖ Preparação do material ❖ Fonte de oxigênio ❖ Aparato para ventilação com pressão positiva ❖ Laringoscópio e lâminas + Tubos endotraqueais + Guias, Bougie e cânulas ❖ Cateteres para venopunção ❖ Medicação vasopressora e anticolinérgica ❖ Drogas de ressuscitação Referências 1. MARQUES, R.G..Técnica Operatória e Cirurgia Experimental. Guanabara Koogan, 2005
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