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Atividade Extra Disciplina (N1) – Resenha sobre as Bases Teóricas e Filosóficas da Gestalt-Terapia Esta resenha tem como objetivo recapitular e articular as bases filosóficas (humanismo, fenomenologia, existencialismo e existencialismo dialógico) e teóricas (Psicologia da Gestalt, Teoria de Campo e Teoria Organísmica) da Gestalt-terapia com a prática psicoterápica. Ao longo do tempo, a Gestalt-terapia foi influenciada, tanto direta como indiretamente, por várias metodologias, teorias e filosofias. Esta abordagem tem como base três teorias: a Psicologia da Gestalt de Wertheimer, Köhler e Koffka, a Teoria Organísmica Holística de Goldstein e Smuts, e a Teoria de Campo de Lewin (Andrade, 2007). Suas duas filosofias são o humanismo e o existencialismo, e como metodologia a fenomenologia na prática clínica. Estas serão abordadas ao longo do texto. Psicologia da Gestalt A psicologia da Gestalt surge por volta de 1910 em contraposição ao manifesto Behaviorista americano. Gestalt não tem uma tradução literal, mas está ligada ao contexto de “percepção” e/ou “forma”. Ao se falar de percepção e, sobretudo, de aprendizagem e solução de problemas é dar um passo na compreensão de qualquer forma de psicoterapia como um processo que envolva ambas as situações. De fato, Perls foi buscar na Psicologia da Gestalt sua proposta de aprendizagem e solução de problemas no que elas podem ajudar o cliente a aprender a solucionar seus problemas em um nível amplo, como seja o existencial (Ribeiro, 1985). A fenomenologia teve participação para a formação da psicologia da Gestalt, metodologicamente, já que oferece a descrição da experiência imediata e como a mesma ocorre. Pois, afinal, a experiência não é reduzida a partes, mas sim mantida como um fenômeno revelado. A psicologia é vista pela psicologia da Gestalt como o estudo da experiência imediata do organismo total. E um dos seus principais objetivos é a elaboração de leis e princípios sobre sua percepção. Como por exemplo: o todo-parte (relação fundamental para compreensão da psicologia da Gestalt – a percepção ocorre como um todo antes de ser dividida em partes), a lei de proximidade (elementos próximos no tempo e espaço tendem a ser percebidos juntos); de similaridade (elementos semelhantes tendem a ser percebidos como pertencentes à mesma estrutura); e de pregnância (refere-se ao princípio do fechamento ou de equilíbrio, ou seja, as figuras são vistas de um modo tão bom quanto forem possíveis as condições do estímulo). Além disso, a Psicologia da Gestalt teve alguns de seus princípios utilizados na Gestalt-terapia, como é o caso do princípio do aqui-agora - o qual segundo Ribeiro (1985), significa uma proposta de responsabilidade com a realidade circundante, ou seja, o presente é responsável por ele mesmo, ele se auto explica e auto revelando-se, de figura-fundo (busca de entendimento de uma figura que surgiu a partir de um fundo, o qual lhe dá sustento e sentido), e da lei de pregnância. Teoria Organísmica Holística Esta teoria vê o sujeito como um todo unificado, um campo integrado e não um ser dividido em sentimentos, sensações, emoções, etc, pois Smuts (citado por Andrade, 2007) defende que o universo é uma grande totalidade, no qual suas partes estão intrinsecamente conectadas umas às outras. Tenta-se reduzir a divisão do indivíduo, como foi proposto por Descartes o dualismo mente-corpo, e a atomização da mente do indivíduo por Wundt. A diferença entre a Teoria Organísmica e a Psicologia da Gestalt está na preocupação com o todo da percepção, pois a teoria organísmica acredita no todo do organismo (corpo e mente), então é necessário conhecer as leis que regem o organismo por inteiro, não somente as leis de sua percepção. Mas um ponto em comum que estas abordagens têm é o princípio de auto realização, princípio este que incentiva o cliente a projetar seus sonhos, buscar suas realizações e autogerir-se. Ribeiro (1985) afirma que o homem possui um impulso dominante de auto regulação, pelo qual é permanentemente motivado. Ele está permanentemente à procura de atualizar suas potencialidades. Este impulso dá duração e unidade à sua vida, como pessoa. Teoria de Campo O idealizador dessa teoria foi Kurt Lewin. Na teoria de campo, o comportamento, portanto, é função do campo, que está em constante mudança. Uma pessoa é um universo fechado, em um universo mais amplo. Decorrem, então, duas propriedades: a) diferenciação, que define a separação do mundo por meio de um limite contínuo - ou diferencia pessoa (P) de qualquer outra coisa (Não-Pessoa ou N-P; e b) relação parte-todo, que remete a inclusão da pessoa em um universo mais amplo (Andrade, 2007). Esta teoria é estrutural e tem como seus principais conceitos: Pessoa (P), Meio (M) e Espaço Vital (V). Sendo que o espaço vital seria onde ocorrem os comportamentos e que estão em função do campo. Esquematicamente a teoria poderia ser resumida em: V=P+M. Enquanto o indivíduo pode se individualizar-se, em um universo fechado, pode também é possível “comunizar-se”, fazer parte de algo mais amplo. Existencialismo A ‘existência’ que aqui está implicada é o homem, que se torna o centro de atenção, encarado como um ser concreto nas suas circunstâncias, no seu viver, nas suas aspirações totais. Centrado nos problemas do homem, o existencialismo penetra nos seus pensamentos concretos, nas suas angústias e preocupações, nas suas emoções interiores, nas suas ânsias e satisfações. (Ribeiro, 1985). A filosofia existencialista é dinâmica e na perspectiva heideggeriana não é individualista. Para esta filosofia o homem não é um sujeito pré-determinado, mas um sujeito singular, responsável, livre, repleto de possibilidades e que se constitui por meio de suas escolhas. Para definir- se como homem deve usar da sua liberdade ao escolher e se responsabilizar por sua escolha, além disso, o homem não pode fugir sua responsabilidade de escolha já que não pode “não escolher”. Esta filosofia ficou conhecida pela influência de Sartre em 1945. Em relação ao existencialismo dialógico de Buber, afirma-se que para se alcançar a plenitude da existência, o homem deve engajar-se em um diálogo com o outro, fazendo assim a proposta de uma filosofia baseada nos conceitos de “eu-tu” (relação de abertura para existência de homem como ser no mundo, como um ser de relações a partir do diálogo) e “eu-isso” (uma relação objetificada, na qual o sujeito fica à parte da sua realidade). Humanismo O humanismo posiciona o homem em primeiro plano, se refere ao movimento de espírito representado pelos renascentistas no século XVI, em oposição ao teocentrismo, rompe com a forte influência religiosa da Idade Média, sendo assim uma ressignificação do humano que valorizam sua dignidade e liberdade, considerando a totalidade do ser humano (Amatuzzi, 2008). Assim que o homem passa a ser o centro do universo, o humanismo filosófico designa uma concepção do mundo e da existência, tendo o homem como seu centro. Não por acaso,mas sim por poder, por exemplo, para o homem há a possiblidade de conhecer a si mesmo, seus limites, seu próprio poder, de realizar-se, de agir sobre as coisas. E além disso, um ponto importante nessa filosofia é que só o homem existe, as coisas somente são (Ribeiro, 1985). Esta filosofia prega a paz, a tolerância, a concórdia e levanta a bandeira de uma nova humanidade, unida pelo amor e reciprocidade, acima das diferenças de línguas, raças e credos (Andrade, 2007). O humanismo, etimologicamente, é tudo aquilo que se volta para o humano, que é relativo ao homem e que o define como o senhor criador do próprio ser, à medida que o humano, através de sua história, gera sua própria natureza (Japiassu & Marcondes, 2006 como citado em Andrade, 2007). A Gestalt-terapia deve ser considerada como agregada à escola da Psicologia humanística, o que significa que contém e promove a ideia do homem como centro, como valor positivo, como capaz de autogerir-se e regular-se (Ribeiro, 1985 como citado em Andrade, 2007). Fenomenologia A fenomenologia é filosofia, é metodologia, está implicada com uma forma peculiar de se enxergar o mundo. Husserl definiu a fenomenologia como "a ciência descritiva das essências da consciência e seus atos", "uma vez que a correlação sujeito-objeto só se dá na intuição originária da consciência". Esta filosofia tem o objetivo de atingir a totalidade da essência do sujeito. A fenomenologia, aplicada à psicologia, pode ser entendida como uma atitude que abre um leque de possibilidades para se distanciar-se do fato e encontrar com o fenômeno, o qual para Forghieri (2004) é revelado a partir da redução fenomenológica, a qual reside em um retorno à experiência vivida, para sobre ela refletir profundamente, almejando chegar na essência do fenômeno. O fenômeno revela-se à consciência à medida que o terapeuta se encontra em uma atitude de observador atento à realidade que se mostra, sem a priori sobre o fato; o contrário se dá quando existem preconceitos, que embaçam uma percepção do fenômeno em si. Na prática clínica, para encontra-se com o cliente, é feita a redução fenomenológica, processo no qual “suspende-se todo o conhecimento e toda a expectativa em relação a natureza do fenômeno, o que dificulta possíveis direcionamentos terapêuticos, conscientes ou não, tanto que por um momento o terapeuta deve reter seu saber acumulado” (Petrelli, 2004b como citado em Andrade, 2007). A partir das informações acima, pudemos sumarizar e refletir sobre o básico das filosofias e das bases teóricas que compõem a Gestalt-terapia, a qual é um dos focos de nossa disciplina. Referências Bibliográficas Amatuzzi, M. (2008). Capitulo I Humanismo e Psicologia. Por uma Psicologia mais Humana. São Paulo: Alinea. Andrade, C. (2007). A vivência do cliente no processo psicoterapêutico: um estudo fenomenológico na Gestalt-terapia. Dissertação de mestrado, não publicada. UCG, Goiânia. Petrelli, R. (2004). Fenomenologia: teoria, método e prática. Goiânia: UCG Ribeiro, J. P. (1985). Gestalt-Terapia: Refazendo Um Caminho. Rio de Janeiro: Summus.
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