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MONOGRAFIA FINAL

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64
ESCOLA JUDICIÁRIA ELEITORAL PAULISTA
TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL DE SÃO PAULO
			
ANA PAULA DE OLIVEIRA
A AÇÃO DE IMPUGNAÇÃO DE MANDATO ELETIVO COMO GARANTIA DO PRINCÍPIO DA SOBERANIA POPULAR
SÃO PAULO
2017
ANA PAULA DE OLIVEIRA
A AÇÃO DE IMPUGNAÇÃO DE MANDATO ELETIVO COMO GARANTIA DO PRINCÍPIO DA SOBERANIA POPULAR
Monografia apresentada à Escola Judiciária Eleitoral Paulista, como exigência parcial para aprovação no 3º Curso de Pós-Graduação ‘Lato Sensu’ - Especialização em Direito Eleitoral e Processual Eleitoral.
Orientador: Dr. Francisco Carlos Inouye Shintate
SÃO PAULO
2017
ANA PAULA DE OLIVEIRA
A AÇÃO DE IMPUGNAÇÃO DE MANDATO ELETIVO COMO GARANTIA DO PRINCÍPIO DA SOBERANIA POPULAR
Monografia apresentada à Escola Judiciária Eleitoral Paulista, como exigência parcial para aprovação no 3º Curso de Pós-Graduação ‘Lato Sensu’ - Especialização em Direito Eleitoral e Processual Eleitoral.
Orientador: Dr. Francisco Carlos Inouye Shintate
Aprovado em: ___/____/____
Banca examinadora:
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“Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.”
(CF/88, art. 1°, parágrafo único)
RESUMO
O presente trabalho tem por objetivo abordar os principais aspectos processuais da Ação de Impugnação de Mandato Eletivo, conferindo-lhe efetividade como um instrumento constitucional criado para a concretização dos ideais democráticos, à medida que visa combater as ilicitudes que maculam a vontade do eleitor, garantindo assim a soberania popular. Ressalte-se, que uma democracia verdadeira, autêntica e real exige a efetiva participação popular nas decisões governamentais, mesmo sendo necessário que os mecanismos constituídos com essa finalidade sejam adequados para garantir tal representatividade. Para assegurar que a vontade popular prevaleça e a igualdade entre os candidatos nos pleitos eleitorais seja mantida, o legislador constitucional introduziu na Constituição Federal de 1988, no artigo 14, parágrafos 10 e 11, a Ação de Impugnação de Mandato Eletivo. A AIME, assim como é chamada essa ação, ocupa um lugar de destaque, não só pela sua natureza constitucional, mas, também, pelo fato de ter surgido como instrumento destinado a coibir condutas que, ao longo de nossa história política, mancharam o exercício do sufrágio. Ela discute a legitimidade da conquista das urnas, não está pautada na honestidade ou não do candidato. Visa garantir a livre manifestação do voto do eleitor, combatendo a prática de atos lesivos ao regime democrático, assegurando o direito à livre manifestação popular. Há que se ressaltar o aspecto da importância social dessa ação à medida que atua para a manutenção do estado democrático de direito, garantindo que a vontade popular prevaleça. O conteúdo do trabalho foi distribuído em uma rápida abordagem sobre a Ação de Impugnação de Mandato Eletivo, desde sua origem e evolução, tratando da natureza jurídica, os legitimados para sua propositura, os dispositivos e requisitos constitucionais de seu procedimento e os efeitos da sentença. Seguido por um breve panorama geral do regime democrático brasileiro, apontando as ilicitudes que podem interferir na escolha do povo, dentre elas o abuso de poder econômico, corrupção e fraude. Foram abordadas também algumas considerações acerca da soberania popular, pois o mandato eletivo nada mais é do que a representação da vontade do povo. Por fim foram tecidas considerações com a intenção de demonstrar a efetividade da Ação de Impugnação de Mandato Eletivo, no combate às ilicitudes que maculam a vontade do eleitor, de forma a diplomar apenas os candidatos merecedores do seu mandato.
Palavras-chave: Ação de Impugnação de Mandato Eletivo. Soberania Popular. Garantia Constitucional.
ABSTRACT
The purpose of this paper is to address the main procedural aspects of the Electoral Mandatory Impact Action, granting it effectiveness as a constitutional instrument created to achieve democratic ideals, as it seeks to combat illicities that undermine the will of the elector, thus popular sovereignty. It should be stressed that a true, authentic and real democracy requires effective popular participation in governmental decisions, even though it is necessary that the mechanisms set up for this purpose be adequate to guarantee such representativeness. In order to ensure that popular will prevails and equality between candidates in elections is maintained, the constitutional legislator introduced in the Federal Constitution of 1988, in article 14, paragraphs 10 and 11, the Action of Challenging Elective Mandate. AIME, as this action is called, occupies a prominent place, not only because of its constitutional nature, but also because it has emerged as an instrument designed to curb conduct that, throughout our political history, has tarnished the exercise of suffrage. It discusses the legitimacy of winning the polls, is not based on honesty or not on the candidate. It aims to guarantee the free expression of the voter's vote, fighting the practice of acts harmful to the democratic regime, ensuring the right to free popular demonstration. It is necessary to emphasize the aspect of the social importance of this action as it acts to maintain the democratic state of law, ensuring that the popular will prevails. The content of the work was distributed in a quick approach on the Action of Challenging Elective Mandate, since its origin and evolution, dealing with the legal nature, the legitimated ones for its proposition, the constitutional devices and requirements of its procedure and the effects of the sentence. Followed by a brief overview of the Brazilian democratic regime, pointing out the illicit acts that can interfere in the choice of the people, among them abuse of economic power, corruption and fraud. Some considerations about popular sovereignty were also addressed, since the elective mandate is nothing more than the representation of the will of the people. Finally, considerations were made with the intention of demonstrating the effectiveness of the Action to Challenge Mandatory Election, in combating illicities that tarnish the will of the elector, in order to diploma only those candidates deserving of their mandate.
Keywords: Elective Mandate Challenging Action. Popular Sovereignty. Constitutional Guarantee.
	
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
AIJE – Ação de Investigação Judicial Eleitoral
AIME – Ação de Impugnação de Mandato Eletivo
AIRC – Ação de Impugnação de Registro de Candidatura
	
ART. – Artigo
CE – Código Eleitoral 
CF/88 – Constituição da República Federativa do Brasil 1988
CPC – Código de Processo Civil
LC – Lei Complementar
LE – Lei das Eleições
PGE – Procurador Geral Eleitoral
RCED – Recurso Contra Expedição Diploma
RESP – Recurso Especial
TRE – Tribunal Regional Eleitoral
TSE – Tribunal Superior Eleitoral
SUMÁRIO
1.	INTRODUÇÃO	9
2. A AÇÃO DE IMPUGNAÇÃO DE MANDATO ELETIVO	13
2.1 Histórico Evolutivo	14
2.2 Natureza Jurídica	19
2.3 Conceito	21
2.4 Objetivo	22
2.5 Legitimidade	23
2.5.1 Legitimidade Ativa	24
2.5.2 Legitimidade Passiva	26
2.6 Procedimento	27
2.7 Efeitos da Sentença	33
3.	PANORAMA GERAL DO REGIME DEMOCRÁTICO BRASILEIRO	38
3.1 Ilicitudes que comprometem o pleito eleitoral	41
3.2 Abuso do Poder Econômico	43
3.3 Corrupção	48
3.4 Fraude	50
4. PRINCÍPIO DA SOBERANIA POPULAR	54
4.1 Eficácia da Ação de Impugnação de Mandato Eletivo	58
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS	60
 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS	63
	
1. INTRODUÇÃO
Em uma sociedade democrática, onde a representatividade provém do povo e é exercida em seu nome, através de agentes políticos escolhidos pelo voto popular, livre e direto, é necessário que o processo eleitoral esteja alheio aos vícios que possam contaminar de alguma forma o resultado daescolha desses agentes.
A Constituição Federal ressalta o alcance da vontade popular “Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos, ou diretamente, nos termos desta Constituição[footnoteRef:1].” [1: BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil, 1988, art. 1°, parágrafo único.
] 
Nas palavras de José Jairo Gomes[footnoteRef:2], “a soberania popular se revela no poder incontrastável de decidir. É ela que confere legitimidade ao exercício do poder estatal. Tal legitimidade só é alcançada pelo consenso expresso na escolha feita nas urnas.” [2: GOMES, José Jairo. Direito eleitoral. 12. ed. São Paulo: Atlas, 2016, p. 71.
] 
Dessa forma, verifica-se que o povo por meio das eleições se vincula a uma política governamental consentindo-a e legitimando-a, exercendo a sua vontade que jamais poderá ser corrompida.
Segundo o ensinamento de José Afonso da Silva[footnoteRef:3]: [3: SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 25. ed. rev. e atual. nos termos da Reforma Constitucional, até a Emenda Constitucional n. 48, de 10.08.2005. São Paulo: Malheiros, 2005, p. 138.] 
[...] eleger significa expressar preferência entre alternativas, realizar um ato formal de decisão política. Realmente, nas democracias de partido e sufrágio universal, as eleições tendem a ultrapassar a pura função designatória, para se transformarem num instrumento, pelo qual o povo adere a uma política governamental e confere seu consentimento, e, por consequência, legitimidade, às autoridades governamentais. Ela é, assim, o modo pelo qual o povo, nas democracias representativas, participa na formação da vontade do governo e no processo político.
A soberania, a cidadania e o pluralismo político destacam-se entre os fundamentos da República Federativa do Brasil que se constitui em um Estado Democrático de Direito, cuja legitimidade é conquistada principalmente através de um processo eleitoral pautado na lisura.
Marcos Ramayana[footnoteRef:4] sustenta que o princípio da lisura das eleições encontra “alicerce jurídico-constitucional” no preceito, indicando que sua observância preserva a intangibilidade dos votos e a igualdade de todos os candidatos perante a lei eleitoral e na propaganda política eleitoral. [4: RAMAYANA, Marcos. Direito eleitoral. 8. ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2008, p. 35.
] 
A lisura do pleito eleitoral para o nosso regime democrático é fundamental e a inibição para que as práticas abusivas não corrompam o processo eleitoral brasileiro devem ser combatidas pelo ordenamento jurídico.
Porque quando as eleições são maculadas por interferência de algum mecanismo como o abuso do poder econômico, corrupção ou fraude haverá ofensa ao princípio da soberania popular.
Com o objetivo de assegurar que a vontade popular prevaleça e a igualdade entre os candidatos nos pleitos eleitorais seja mantida, o legislador constitucional instituiu a Ação de Impugnação de Mandato Eletivo.
Consagrada no capítulo IV (Dos Direitos Políticos), no artigo 14, parágrafos 10 e 11, da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988[footnoteRef:5], vejamos: [5: BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil, 1988, art. 14, §§ 10 e 11.] 
Art. 14. A soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos, e, nos termos da lei, mediante:
§ 10. O mandato eletivo poderá ser impugnado ante a Justiça Eleitoral no prazo de quinze dias contados da diplomação, instruída a ação com provas de abuso do poder econômico, corrupção ou fraude.
§ 11. A ação de impugnação de mandato tramitará em segredo de justiça, respondendo o autor, na forma da lei, se temerária ou de manifesta má-fé.
A possibilidade de impugnação, na hipótese do mandato eletivo ter sido obtido com a utilização de abuso do poder econômico, corrupção ou fraude, por parte do agente político eleito, tutela à verdadeira expressão da soberania popular no processo de escolha dos agentes políticos dos Poderes Executivo e Legislativo.
A Ação de Impugnação de Mandato Eletivo discute a legitimidade da conquista das urnas, não está pautada na honestidade ou não do candidato. Visa garantir a livre manifestação do voto do eleitor, combatendo a prática de atos lesivos ao regime democrático, assegurando o direito à livre manifestação popular. 
A AIME, assim como é chamada essa ação, ocupa um lugar de destaque, não só pela sua natureza constitucional, mas, também, pelo fato de ter surgido como instrumento destinado a coibir condutas que, ao longo de nossa história política, prejudicaram o exercício do sufrágio. 
Contudo, mesmo possuindo tamanha importância, essa ação permanece sem regulamentação infraconstitucional desde a promulgação da Constituição Federal, ficando carente de um disciplinamento legal próprio para a orientação dos julgadores na análise de casos concretos que são submetidos ao crivo da Justiça Eleitoral. 
Não resta dúvida que essa falta de regulamentação causa infortúnios, que colocam em risco a efetividade desse instrumento, gerando dúvidas e questionamentos sobre o alcance das normas e das decisões judiciais referentes à matéria.
O trabalho abordará como tema a Ação de Impugnação de Mandato Eletivo como garantia do princípio da soberania popular, analisando os principais aspectos processuais conferindo-lhe efetividade para a concretização dos ideais democráticos à medida que visa combater as ilicitudes que interferem na vontade do eleitor, garantindo o exercício da cidadania.
O principal enfoque será dado para a utilização da ação como um instrumento constitucional criado para desconstituir o mandato político, conquistado no pleito de forma ilícita, através da utilização de alguns artifícios tais como abuso do poder econômico, corrupção e fraude.
A confiabilidade no processo de escolha dos candidatos torna-se fator determinante na manutenção da paz social, tornando de extrema relevância o estudo dos mecanismos legais capazes de evitar a contaminação da vontade popular por práticas abusivas.
Nesse sentido, a problemática é questionar a eficácia desse mecanismo constitucional, estará a Ação de Impugnação de Mandato Eletivo apta a impedir o desenvolvimento da ilicitude eleitoral, que compromete a legitimidade das eleições, a soberania popular e a democracia.
A relevância do tema mostra-se de suma importância na seara do Direito Eleitoral, tendo em vista que busca tutelar a verdadeira vontade popular exercida durante o pleito de forma a diplomar somente os candidatos que conseguiram seu mandato de forma legítima.
A presente monografia está estruturada em três capítulos, inicialmente realiza-se uma abordagem da Ação de Impugnação de Mandato Eletivo, desde sua origem e evolução, tratando da natureza jurídica, os legitimados para sua propositura, os dispositivos e requisitos constitucionais de seu procedimento e os efeitos da sentença.
Em seguida é traçado um panorama geral do regime democrático brasileiro, apontando as ilicitudes que podem interferir na escolha do povo, dentre elas o abuso do poder econômico, corrupção e fraude.
Posteriormente, abordam-se algumas considerações acerca da soberania popular, pois o mandato eletivo nada mais é do que uma representação da vontade do povo. Analisa-se ainda, a eficácia da Ação de Impugnação de Mandato Eletivo como instrumento constitucional contra as irregularidades do processo democrático.
Por fim, são tecidas considerações com a intenção de demonstrar a efetividade da ação no combate às ilicitudes que manipulam a vontade do eleitor, de forma a diplomar apenas os candidatos merecedores do seu mandato.
2. A AÇÃO DE IMPUGNAÇÃO DE MANDATO ELETIVO
Nesse capítulo abordar-se-á as principais características da Ação de Impugnação de Mandato Eletivo, analisando a origem da ação no ordenamento jurídico e a sua evolução legislativa.
Serão atribuídos o conceito e os objetivos, bem como a sua natureza jurídica, e ainda quem são os legitimados ativos para a sua propositura e as partes quedeverão figurar no polo passivo da ação.
 Igualmente serão verificados os dispositivos e requisitos constitucionais do seu procedimento, tais como o rito a ser seguido, o prazo para a sua interposição e os efeitos decorrentes da sentença.
 Nesse contexto será demonstrado os principais aspectos processuais da Ação de Impugnação de Mandato Eletivo, a fim de verificar a sua importância como instrumento constitucional, criado para o combate das ilicitudes que comprometem a normalidade e legitimidade dos pleitos eleitorais.
A AIME, atualmente está prevista na Constituição Federal no artigo 14, parágrafos 10 e 11[footnoteRef:6], ocupando um lugar de destaque, não só pela sua natureza constitucional, mas, pelo fato de ter surgido como instrumento destinado a coibir condutas que interferem na vontade do eleitor, acarretando o comprometimento da soberania popular: [6: BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil, 1988, art. 14, §§ 10 e 11.] 
Art. 14. A soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos, e, nos termos da lei, mediante:
§ 10. O mandato eletivo poderá ser impugnado ante a Justiça Eleitoral no prazo de quinze dias contados da diplomação, instruída a ação com provas de abuso do poder econômico, corrupção ou fraude.
§ 11. A ação de impugnação de mandato tramitará em segredo de justiça, respondendo o autor, na forma da lei, se temerária ou de manifesta má-fé.
2.1	Histórico Evolutivo
A origem da Ação de Impugnação de Mandato Eletivo é fruto de um processo evolutivo, após ter sido inserida no ordenamento jurídico, foi ganhando contornos ao longo dos anos e se consagrou na Constituição Federal de 1988.
As primeiras sementes da AIME, já podiam ser encontradas na Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil, de 24 de fevereiro de 1891[footnoteRef:7], a qual previa em seus artigos 23 e 24 e no parágrafo único deste, a possibilidade de perda do mandato, como podemos observar: [7: BRASIL. Constituição (1891). Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil: texto constitucional promulgado em 24 de fevereiro de 1891. DF: Senado, 1891, arts. 23 e 24 e parágrafo único.
 ] 
Art. 23 – Nenhum membro do Congresso, desde que tenha sido eleito, poderá celebrar contratos com o Poder Executivo nem dele receber comissões ou empregos remunerados. (...)
Art. 24 – O deputado ou Senador não pode também ser Presidente ou fazer parte de Diretorias de bancos, companhias ou empresas que gozem favores do Governo federal definidos em lei. 
Parágrafo único – A inobservância dos preceitos contidos neste artigo e no antecedente importa em perda do mandato.
Denota-se que a preocupação com a conquista legítima do mandato eletivo, sempre esteve presente entre os legisladores, podendo ser identificada no primeiro Código Eleitoral Brasileiro, Decreto nº 21.076, de 24 de fevereiro de 1932[footnoteRef:8], no seu artigo 97, que determinava que a votação fosse nula quando houvesse fraudes que alterassem o resultado final do pleito. [8: BRASIL. Código (1932). Código Eleitoral. Decreto nº 21.076. Instituído em 24 de fevereiro de 1932, art. 97.] 
Art. 97. Será nula a votação:
1) realizada perante Mesa Receptora constituída por modo diferente do prescrito neste Código;
2) realizada em dia, hora ou lugar diverso do legalmente designado;
3) feita mediante listas de eleitores falsas ou fraudulentas;
4) quando a urna não houver sido remetida em tempo, salvo força maior, ao Tribunal Regional, ou não tiver sido acompanhada dos documentos do ato eleitoral, ou quando o número das sobrecartas autenticadas nela existentes for superior ao número de votantes consignado na ata;
5) quando se provar que foi recusada, sem fundamento legal, aos candidatos, a seus fiscais, ou a delegados de partidos, a assistência aos atos eleitorais e sua fiscalização;
6) quando se provar violação do sigilo absoluto do voto;
7) quando se provar coação, ou fraude, que altere o resultado final do pleito. 
Parágrafo único. Si a nulidade atingir a mais de metade dos votos de uma região eleitoral, julgar-se-ão prejudicadas as demais votações, e mandar-se-á fazer nova eleição. 
Posteriormente, a Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil, promulgada em 16 de julho de 1934[footnoteRef:9], também incluiu a possibilidade de perda do mandato, no artigo 33, § 5º, vejamos: [9: BRASIL. Constituição (1934). Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil: texto constitucional promulgado em 16 de julho de 1934. DF: Senado, art. 33 § 5º.
] 
Art. 33 – (...) § 5º A infração deste artigo e seu § 1º importa na perda do mandato, decretada pelo Tribunal Superior de Justiça Eleitoral, mediante provocação do Presidente da Câmara dos Deputados, de Deputados ou de eleitores, garantindo-se plena defesa ao interessado.
Igualmente a Lei nº. 48, de 04 de maio de 1935, considerada o segundo Código Eleitoral, em seu artigo 160, previa a nulidade da votação, quando realizada em folhas de votação falsas ou fraudulentas, quando a ata de encerramento não estivesse assinada ou ainda quando fosse provado a coação ou fraude.
Da mesma forma tanto o Decreto-Lei nº. 7.586, de 28 de maio de 1945, que restabeleceu a Justiça Eleitoral após a sua extinção pela Constituição de 1937, no artigo 104, como a Lei nº. 1.164, de 24 de julho de 1950, nos artigos 124 e 153 trouxeram regras com o mesmo teor.
Há que se destacar que o Código Eleitoral[footnoteRef:10] vigente, na redação original do artigo 222 e parágrafos, também se preocupou com a possibilidade de coibir os abusos que pudessem interferir na vontade popular manifestada através do voto. [10: BRASIL. Código (1965). Código Eleitoral. Instituído em 19 de julho de 1965.] 
Sobre o assunto o Ministro Sepúlveda Pertence expos[footnoteRef:11]: [11: PERTENCE, José Paulo Sepúlveda: A ação de impugnação de mandato eletivo. Anais do II encontro Nacional de Procuradores Regionais Eleitorais. Brasília, imprensa nacional, 1993, p. 160.] 
“[...] creio que a origem mais remota desses dispositivos legais que iriam desembocar no instituto constitucional da Ação de Impugnação de Mandato Eletivo há de ser buscada nos parágrafos originais do artigo 222 do Código Eleitoral. Ali se previa, com efeito, um verdadeiro processo paralelo ao desenvolvimento do processo eleitoral, declaratório de nulidade de votação ou anulatório de votação.” 
Contudo, esses dispositivos não tiveram utilização pratica, pois apesar de criarem um procedimento de apuração das irregularidades na conquista do mandato, um ano após a sua publicação foram revogados pela Lei nº 4.961, de 04 de maio de 1966, passando a vigorar com a seguinte redação:
“Art. 222. É também anulável a votação, quando viciada de falsidade, fraude, coação, uso de meios de que trata o art. 237, ou emprego de processo de propaganda ou captação de sufrágios vedado por lei.”
Em que pese o artigo 262 do Código Eleitoral, trouxesse um outro mecanismo com possibilidade de se contestar a legitimidade do mandato, o Recurso Contra Expedição de Diplomação, quase não era utilizado, pois exigia a prova pré-constituída, e no ordenamento jurídico não havia um modo efetivo para a sua elaboração.
Sobre a interferência do poder econômico e o desvio ou abuso do poder de autoridade, em desfavor da liberdade do voto, o primeiro esboço surgiu no artigo 237 do Código Eleitoral.
237. A interferência do poder econômico e o desvio ou abuso do poder de autoridade, em desfavor da liberdade do voto, serão coibidos e punidos.
§ 1º O eleitor é parte legítima para denunciar os culpados e promover-lhes a responsabilidade, e a nenhum servidor público. Inclusive de autarquia, de entidade paraestatal e de sociedade de economia mista, será lícito negar ou retardar ato de ofício tendente a esse fim.
§ 2º Qualquer eleitor ou partido político poderá se dirigir ao Corregedor Geral ou Regional, relatando fatos e indicando provas, e pedir abertura de investigaçãopara apurar uso indevido do poder econômico, desvio ou abuso do poder de autoridade, em benefício de candidato ou de partido político.
§ 3º O Corregedor, verificada a seriedade da denúncia procederá ou mandará proceder a investigações, regendo-se estas, no que lhes for aplicável, pela Lei nº 1.579 de 18 de março de 1952.
Entretanto, uma desvantagem desse dispositivo era o fato do prazo ser de três dias, ocasionando falta de tempo hábil para a interposição do recurso, tornando escassa a sua utilização.
 
Todavia a Ação de Impugnação de Mandato Eletivo foi efetivamente introduzida no direito brasileiro pela Lei nº 7.493, de 17 de junho de 1986[footnoteRef:12], a qual dispunha no artigo 23: [12: BRASIL. Lei nº 7.493, de 17 de junho de 1986.
] 
Art. 23. A diplomação não impede a perda do mandato, pela Justiça Eleitoral, em caso de sentença julgada, quando se comprovar que foi obtido por meio de abuso do poder político ou econômico.
Para os doutrinadores do direito eleitoral, a referida lei serviu como gênese da AIME, apesar de existirem tanto nos Códigos Eleitorais anteriores, como em diversos outros diplomas, outras previsões que visavam o combate das irregularidades cometidas no pleito eleitoral.
Por outro lado, através da Emenda Constitucional n.º 26, em 27 de novembro de 1985, o então presidente José Sarney convocou os integrantes da Câmara dos Deputados e do Senado Federal para se reunirem em Assembleia Nacional Constituinte, com o intuito de regulamentar a realização das eleições em 1988, a Assembleia Constituinte, em suma, era composta por membros do Poder Legislativo que editaram a Lei n.º 7.664/1988. 
A Lei nº 7.664, de 29 de junho de 1988[footnoteRef:13], no seu artigo 24, trouxe ampliações para a Ação de Impugnação de Mandato Eletivo incluindo as hipóteses de cabimento e a adoção da medida de tramitação da ação em segredo de justiça. [13: BRASIL. Lei nº 7.664, de 29 de junho de 1988.
] 
Art. 24. O mandato eletivo poderá ser impugnado ante à Justiça Eleitoral após a diplomação, instruída a ação com provas conclusivas de abuso do poder econômico, corrupção ou fraude e transgressões eleitorais.
Parágrafo único. A ação de impugnação de mandato tramitará em segredo de justiça, respondendo o autor, na forma da lei, se temerária ou de manifesta má-fé.
A referida lei foi editada pelos membros que compunham a Assembleia Nacional Constituinte, eles estavam reunidos para a elaboração da Constituição naquele ano, por isso era esperado que a mesma fosse incluída na Carta Magna.
 Com base nessa intenção foram realizadas muitas discussões antes de se decidir pela inclusão ou não da ação na Constituição Federal. Um dos questionamentos era se a ação revocatória seria tratada como um instrumento de participação popular direta, tal como o referendo, o plebiscito e a iniciativa popular. 
Alguns dos constituintes eram contrários ao tratamento da ação como um instrumento de participação popular, pois entendiam que qualquer insatisfação do eleitor, levaria o representante a perda do mandato. Por fim, a opção foi por excluir a ação do rol de instrumentos de participação direta do cidadão.
Ocorreram muitas discussões também em relação ao prazo para propositura, existiam várias propostas para a possibilidade de impugnação, quais sejam, que o prazo fosse durante todo o período do mandato, por dois anos ou por seis meses.
 Inicialmente a votação foi favorável ao prazo de dois anos, porém quando apresentada a proposta de seis meses esta foi aprovada por unanimidade, mas, ainda sob o argumento de que o prazo ainda era muito extenso, defendeu-se que não fosse tão longo. 
 Assim, após a realização dos debates pelos constituintes, a Ação de Impugnação de Mandato Eletivo foi incorporada à Constituição Federal de 1988, no capítulo de direitos políticos, no artigo 14, parágrafos 10 e 11, ficando consignado o prazo de quinze dias para a sua propositura, a contar da data de diplomação, nessa oportunidade não foram determinados quem seriam os legitimados, tão pouco qual seria o rito de tramitação.
Constata-se que a Ação de Impugnação de Mandato Eletivo foi sendo moldada através de diversos dispositivos que trataram do tema, e após uma série de debates entre os membros da Assembleia Nacional Constituinte passou a vigorar com a seguinte redação:
Art.14. A soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos, e, nos termos da lei, mediante: 
§10. O mandato eletivo poderá ser impugnado ante a Justiça Eleitoral no prazo de quinze dias contados da diplomação, instruída a ação com provas de abuso do poder econômico, corrupção ou fraude.
§11. A ação de impugnação de mandato tramitará em segredo de justiça, respondendo o autor, na forma da lei, se temerária ou de manifesta má-fé.
Destarte, essa ação não configura uma inovação trazida pela Carta Magna, conclui-se que as fontes materiais que culminaram na elaboração da Ação de Impugnação de Mandato Eletivo decorreram da tentativa de fazer com que o exercício democrático ultrapassasse o voto concretizando-se de forma direta, exigindo dos candidatos comprometimento com os eleitores. 
	
	2.2	Natureza Jurídica	
	
A Ação de Impugnação de Mandato Eletivo tem amparo constitucional e pode ser classificada quanto a sua natureza jurídica como uma ação pública, de caráter civil e eleitoral, tendo em vista que o seu objeto é de interesse coletivo. 
Marcos Ramayana[footnoteRef:14] considera que a AIME se identifica como uma ação civil pública, existindo como semelhança entre elas o interesse jurídico tutelado. [14: RAMAYANA, Marcos. Direito eleitoral. 8. ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2008, p. 491.] 
Identifica-se essa ação como ação civil pública à proteção de interesses difusos, porque o bem público tutelado subsume-se na normalidade e legitimidade das eleições (art. 14, § 9º, da CF), bem como no interesse público de lisura eleitoral (art. 23, in fine, da Lei Complementar nº 64/90).
O caráter eleitoral dessa ação decorre por se tratar de um instrumento cujo objeto funda-se em matéria puramente eleitoral, envolvendo direitos políticos, normalidade e legitimidade das eleições, a soberania popular e o combate de ilícitos que maculam o exercício da democracia.
O ensinamento de Fichtner,[footnoteRef:15] resume as características da natureza jurídica da AIME: [15: FICHTNER, José Antônio. Impugnação de mandato eletivo. Rio de Janeiro: Renovar, 1998, p. 35/36.
] 
É importante, ainda sob o ângulo da natureza da Ação de Impugnação de Mandato Eletivo, restar claro que a demanda impugnatória ostenta a natureza de ação pública constitucional, de natureza civil, não estando condicionada à apuração de crime eleitoral, na forma da jurisprudência autorizada do Tribunal Superior Eleitoral, Acórdão nº 12.286, relator Ministro Torquato Jardim, in verbis: “Na verdade, a Ação de Impugnação do Mandato Eletivo, prevista no art. 14, § 10 da Constituição Federal, não pode de forma alguma estar condicionada à apuração do crime eleitoral. O que cumpre verificar em cada caso é a existência de fraude, corrupção ou abuso do poder econômico e o consequente comprometimento da legalidade ou lisura das eleições.
Verifica-se que a Ação de Impugnação de Mandato Eletivo, não se reveste de caráter criminal, pois os seus propósitos são constitucionais eleitorais, não estando sujeita à apuração de crime eleitoral para configurar as suas hipóteses de cabimento.
Grande parte da doutrina considera ainda, a AIME um tipo de ação pública, com índole constitucional eleitoral, de natureza desconstitutiva, pois visa garantir a legitimidade das eleições destinando-se à defesa do interesse público, respeitando à vontade política da nação, a qual deve ser preservada de qualquer vício.
A natureza desconstitutiva ou constitutiva negativa origina-se pela consequência que é imposta no final da ação, ou seja, a decisão que julga procedente a Ação de Impugnação de Mandato Eletivo causa a perda do mandato eletivo ou a cassação do diploma(suplentes). 
Em outras palavras, conforme assevera José Jairo Gomes[footnoteRef:16]: [16: GOMES, José Jairo. Direito eleitoral. 12. ed. São Paulo: Atlas, 2016, p. 708.
] 
Quanto à natureza, a decisão que julga procedente o pedido exordial é do tipo constitutivo-negativa ou desconstitutiva, já que implica perda do mandato. O ato judicial desconstitui o mandato do impugnado como consequência lógica do reconhecimento do ilícito eleitoral por ele praticado ou que o tenha beneficiado nas urnas. 
Adriano Soares da Costa[footnoteRef:17], sobre o assunto tem o seguinte posicionamento: [17: COSTA, Adriano Soares da. Instituições de direito eleitoral. 7. ed. rev., ampl. e atual. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2008, p. 564.
] 
Na Ação de Impugnação de Mandato Eletivo busca-se desconstituir a relação jurídica-base da qual o mandato seja consequência. Essa afirmação é importantíssima, porque a jurisprudência do TSE tem se firmado no sentido que a finalidade exclusiva da AIME seria atacar o mandato eletivo, razão pela qual não teria o condão de aplicar ao candidato eleito ilegitimamente a sanção de inelegibilidade.
O doutrinador Tito Costa[footnoteRef:18] define que essa ação tem por escopo “eliminar, tanto quanto possível, vícios que deformem ou desnaturem o mandato popular.” [18: COSTA, Tito apud GOMES, José Jairo. Direito eleitoral. 12. ed. São Paulo: Atlas, 2016, p. 675.] 
Portanto, verifica-se que a Ação de Impugnação de Mandato Eletivo é uma ação pública, de caráter civil, de índole constitucional eleitoral, com potencialidade desconstitutiva do mandato, não apresenta caráter criminal, pois seu objetivo é tutelar a lisura, o equilíbrio do pleito e a legitimidade da representação política, para que os mandatos eletivos possam ser exercidos por aqueles que não tenham utilizado formas ilícitas para a sua obtenção.
2.3	Conceito
A Ação de Impugnação de Mandato Eletivo trata-se de um direito, assegurado a alguns legitimados que diante de um caso concreto, possam representar junto a Justiça Eleitoral a fim de coibir a utilização de mecanismos que representem vícios que interfiram no resultado da eleição, violado o princípio da igualdade de chances entre os candidatos. 
É um instrumento impugnatório da conquista de um mandato, quando realizada com suporte no abuso do poder econômico, na corrupção ou na fraude.
A doutrina especializada elenca uma diversidade de conceitos que delimitam a Ação de Impugnação de Mandato Eletivo, entre eles destacamos:
Para Djalma Pinto[footnoteRef:19] “É um instrumento de ativação da jurisdição previsto na própria constituição para a subtração do mandato de quem se utilizou para obtê-lo de fraude, corrupção, abuso do poder econômico ou político.” [19: PINTO, Djalma. Direito eleitoral: Improbidade Administrativa e Responsabilidade Fiscal – Noções Gerais. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2008, p. 225.
] 
Marcos Ramayana[footnoteRef:20] concluiu que a AIME é “uma ação de Direito Constitucional Eleitoral, cuja tutela reside na defesa dos direitos públicos subjetivos ativos, protegendo-se as eleições contra a influência direta ou indireta dos abusos econômicos, políticos, corrupção e fraudes.” [20: RAMAYANA, Marcos. Direito eleitoral. 8. ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2008, p. 486.
] 
Assim, observa-se que a Ação de Impugnação de Mandato Eletivo é uma ação constitucional eleitoral, que visa proteger a normalidade das eleições, bem como à cassação do mandato eletivo, daqueles que foram beneficiados pelo abuso do poder econômico ou político, pela corrupção ou fraude, desde que tenham comprometido a legitimidade do pleito eleitoral.
2.4	Objetivo
A Ação de Impugnação de Mandato Eletivo visa à perda do mandato do candidato eleito, que tenha se utilizado de alguma das hipóteses de cabimento da ação elencadas na Constituição Federal. 
Para o doutrinador José Jairo Gomes[footnoteRef:21], o objetivo da AIME se traduz em: [21: GOMES, José Jairo. Direito eleitoral. 12. ed. São Paulo: Atlas, 2016, p. 675.
] 
[...] tutelar a cidadania, a lisura e o equilíbrio do pleito, a legitimidade da representação política, enfim, o direito difuso de que os mandatos eletivos apenas sejam exercidos por quem os tenha alcançado de forma lícita, sem o emprego de práticas tão censuráveis quanto nocivas como são o abuso de poder, a corrupção e a fraude.
Carlos Mário da Silva Veloso e Walber de Moura Agra[footnoteRef:22] apontam como objetivos da ação impugnatória: [22: VELLOSO, Carlos Mário da Silva e AGRA, Walber de Moura. Elementos de Direito Eleitoral. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2009, p. 273.
] 
A Ação de Impugnação de Mandato Eletivo ostenta textura constitucional, pois uma das preocupações prementes do legislador constituinte de 1988 foi o de tentar zelar pela lisura das eleições, preservando a soberania popular de máculas que a impeçam de se manifestar livremente. Agasalhada como fora pela Carta Magna, possui suas mesmas prerrogativas – supremacia, supralegalidade e imutabilidade relativa – no sentido de densificar sua força normativa para que possa alcançar os objetivos almejados.
Em relação ao objetivo principal da AIME, ou seja, a preservação da cidadania, a lisura, normalidade e legitimidade das eleições, e a própria soberania popular não existem divergências doutrinárias, porém alguns doutrinadores acreditam que entre os objetivos seja possível a arguição da inelegibilidade nesta própria ação.
O doutrinador Marcos Ramayana[footnoteRef:23], compartilha desse entendimento: [23: RAMAYANA, Marcos. Direito eleitoral. 8. ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2008, p. 635.
] 
“[...] o Tribunal Superior Eleitoral, em determinados casos, adota o posicionamento que permite a declaração de inelegibilidade como um dos efeitos que devem ser reconhecidos na procedência do pedido de Ação de Impugnação de Mandato Eletivo.”
No entanto essa questão de arguir a inelegibilidade na AIME não está pacificada na doutrina brasileira nem na jurisprudência.
2.5	Legitimidade
Para Humberto Theodoro Júnior[footnoteRef:24], “Os legitimados em uma ação são os titulares dos interesses em conflito, cabendo ao titular do interesse constante na pretensão a legitimação ativa e ao titular do oposto a legitimidade passiva.” [24: THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil: vol. I. teoria geral do direito processual civil e processo de conhecimento. 53. ed. rev. e at. Rio de Janeiro: Forense, 2012, p. 57.] 
2.5.1	Legitimidade Ativa
		
A Ação de Impugnação de Mandato Eletivo encontra uma lacuna deixada pelo texto constitucional em relação à legitimidade e na ausência de lei infraconstitucional disciplinando a questão, muitos doutrinadores seguem por analogia o caput dos artigos 3º ou 22º da LC 64/90, que se referem à legitimidade ativa da AIRC[footnoteRef:25]: [25: BRASIL. Lei Complementar nº 64, de 18 de maio de 1990. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, DF. 21 mai. 1990.
] 
Art. 3º. Caberá a qualquer candidato, a Partido Político, coligação ou ao Ministério Público, no prazo de cinco dias, contados da publicação do pedido de registro do candidato, impugná-lo em petição fundamentada.
	
Art. 22º. Qualquer partido político, coligação, candidato ou Ministério Público Eleitoral poderá representar à Justiça Eleitoral, diretamente ao Corregedor-Geral ou Regional, relatando fatos e indicando provas, indícios e circunstâncias e pedir abertura de investigação judicial para apurar uso indevido, desvio ou abuso do poder econômico ou do poder de autoridade, ou utilização indevida de veículos ou meios de comunicação social, em benefício de candidato ou de partido político, obedecido o seguinte rito: 
	
Entretanto, existe divergência quanto à figura das associações de classe, dos sindicatos e do eleitor, figurando como parte legítima para interpor a referida ação impugnatória.	
	
	Alguns doutrinadores como Tito Costa[footnoteRef:26] defende a legitimidade do eleitor,ao afirmar: [26: COSTA, Tito. Recursos Eleitorais. 8. ed. São Paulo: RT, 2004, p. 178/179.
] 
[...] partindo-se da regra geral do processo, segundo a qual, para propor ou contestar ação, é necessário ter interesse e legitimidade, forçoso será concluir que, no caso da Ação de Impugnação de Mandato Eletivo, serão partes legítimas para propô-la, em princípio, o Ministério Público, os candidatos (eleitos ou não), os partidos políticos ou qualquer eleitor...
Rodrigo Nóbrega Farias[footnoteRef:27] também acompanha esse entendimento: [27: FARIAS, Rodrigo Nóbrega. Ação de impugnação de mandato eletivo. Curitiba: Juruá, 2005.] 
[...] o eleitor é titular da relação jurídica que origina o mandato, sendo o maior interessado na lisura dos pleitos eleitorais, bem como o maior atingido por uma eleição concluída de modo irregular. É de análise desta relação jurídica que constatamos sua legitimidade ativa na Ação de Impugnação de Mandato.
Posição essa combatida por Joel José Cândido[footnoteRef:28] que expõe: [28: CÂNDIDO, Joel J. Direito eleitoral brasileiro: lei da ficha limpa, justiça eleitoral, registro de candidatos, propaganda política, votação, apuração, recursos eleitorais, impugnação de mandato. 15. ed. São Paulo: EDIPRO, 2012, p. 259.
] 
Essa amplitude não condiz com a dinâmica célere e específica do Direito Eleitoral: enfraquece os partidos políticos: dificulta a manutenção do segredo de Justiça do processado, exigido pela Lei Maior, e propicia o ajuizamento de ações temerárias, políticas e sem fundamento mais consistente, também não tolerado.
Nesse contexto em que pese o eleitor seja um dos principais interessados na propositura da AIME, nada impede que ele munido das provas, noticie o Ministério Público para que esse proponha a ação. 
O Tribunal Superior Eleitoral já decidiu em relação a legitimidade do eleitor, a saber:
AÇÃO DE IMPUGNAÇÃO DE MANDATO ELETIVO (CONST., ART. 14, PARÁGRAFO 11). LEGITIMIDADE "AD CAUSAM" (LEI COMPLEMENTAR Nº 64/90, ART. 22). Não tem legitimidade "ad causam" os apenas eleitores. Recurso conhecido e provido nesta parte. Preclusão. Inexiste preclusão, na Ação de Impugnação de Mandato Eletivo, quanto aos fatos, provas, indícios ou circunstâncias idôneos e suficientes, com que se instruirão a ação, porque não objetos de impugnações prévias, no curso da campanha eleitoral. Recurso, nesta parte, não conhecido (Resp. nº 11835-PR, TSE, Rel. Min. Torquato Lorena Jardim, DJU 29.07.94, p. 18429).
Nesse sentido adotando uma visão mais restritiva o Tribunal Superior Eleitoral se encarregou de decidir que são partes legítimas para ajuizar a AIME os partidos políticos, os candidatos, as coligações e o Ministério Público Eleitoral, excluindo a figura do eleitor, conforme o artigo 175, § 1º, da Resolução nº 23.218/10[footnoteRef:29]. [29: Resolução nº 23.218/10 - Art. 175. O mandato eletivo poderá também ser impugnado perante a Justiça Eleitoral após a diplomação, no prazo de 15 dias, instruída a ação com provas de abuso do poder econômico, corrupção ou fraude (Constituição Federal, art. 14, § 10). 
 § 1º A ação de impugnação de mandato eletivo observará o procedimento previsto na Lei Complementar n° 64/90 para o registro de candidaturas, com a aplicação subsidiária, conforme o caso, das disposições do Código de Processo Civil, e tramitará em segredo de justiça, respondendo o autor na forma da lei, se temerária ou de manifesta má-fé (Constituição Federal, art. 14, § 11).] 
A legitimidade ativa para propositura da Ação de Impugnação de Mandato Eletivo é concorrente e disjuntiva, sendo possível o litisconsórcio ativo entre os legitimados, sempre com a atuação do Ministério Público Eleitoral como fiscal da lei.
O Ministério Público Eleitoral possui um papel de destaque podendo atuar tanto na qualidade de parte ou como fiscal da lei, conforme disposto nos artigos 176 e 178 do Novo Código de Processo Civil.
São competentes para ingressar com a AIME o Procurador Geral Eleitoral - PGE ou quem o substitua perante o TSE, o Procurador Regional Eleitoral perante o TRE respectivo e o Promotor Eleitoral perante o Juiz Eleitoral.
Já o partido político possui legitimidade para impugnar a AIME, desde que limitado a sua circunscrição, ou seja, um diretório municipal não poderá impugnar uma eleição presidencial.
As coligações poderão atuar na Ação de Impugnação de Mandato Eletivo, mesmo que os partidos que a compõe ajuízem a referida ação individualmente, pelo fato que após o termino das eleições a maioria das coligações se dissolve. 
Em relação aos candidatos poderão figurar no polo ativo, não sendo necessário que tenham concorrido ao mesmo cargo para o qual desejam apresentar a impugnação, como também não é necessário que tenham sido eleitos, pois caso contrário, representaria uma limitação ao direito desses legitimados.
2.5.2	Legitimidade Passiva
A legitimidade para figurar no polo passivo da Ação de Impugnação de Mandato Eletivo é do candidato diplomado pela Justiça Eleitoral, que tenha cometido ou se beneficiado das práticas de abuso do poder econômico, fraude ou corrupção no processo eleitoral para a conquista do mandato, conforme estabilizou o Tribunal Superior Eleitoral.
Corroborando o doutrinador Marcos Ramayana[footnoteRef:30] menciona que quando se trata da legitimidade passiva na Ação de Impugnação de Mandato Eletivo, “o diplomado infrator que abusou do poder econômico, político, corrompeu, fraudou de qualquer forma ou meio a fase da propaganda eleitoral, votação ou apuração dos votos, deve figurar no polo passivo.” [30: RAMAYANA, Marcos. Direito eleitoral. 8. ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2008, p. 500.] 
Nas eleições majoritárias, os candidatos a vice e os suplentes também deverão figurar no polo passivo, na qualidade de litisconsortes passivos necessários, uma vez que estes em algum momento possuem a expectativa de assumir o mandato, assim a lide poderá ser decidida de maneira uniforme, tendo em vista que o mandato eletivo atacado na ação impugnatória é único e indivisível, conforme dispõe o artigo 91 do Código Eleitoral[footnoteRef:31]. [31:   BRASIL. Código Eleitoral - Art. 91. O registro de candidatos a presidente e vice-presidente, governador e vice-governador, ou prefeito e vice-prefeito, far-se-á sempre em chapa única e indivisível, ainda que resulte a indicação de aliança de partidos.
     § 1º O registro de candidatos a senador far-se-á com o do suplente partidário.
     § 2º Nos Territórios far-se-á o registro do candidato a deputado com o do suplente.
] 
O Tribunal Superior Eleitoral pacificou esse entendimento:
“A existência de litisconsórcio necessário – quando, por disposição de lei ou pela natureza da relação jurídica, o juiz tiver de decidir a lide de modo uniforme para todas as partes – conduz à citação dos que possam ser alcançados pelo pronunciamento judicial. Ocorrência na impugnação a expedição de diploma, se o vício alegado abrange a situação do titular e do vice.” (TSE – RCED nº 703/SC – DJ 24-3-2008, p. 9).
O fato de serem apenas esses legitimados passivos não impede que outras pessoas tenham interesse jurídico na causa. Sendo assim, é permitido aos partidos políticos ou coligações que não são considerados réus, ingressarem no processo da AIME na qualidade de assistente simples.
	
2.6 	Procedimento
A Carta Magna em seu artigo 14, §§ 10 e 11[footnoteRef:32] previu a possibilidade de ajuizamento da Ação de Impugnação de Mandato Eletivo (AIME), que tem por objetivo a desconstituição de mandatos que foram conquistados com utilização de meios ilícitos. [32: BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil, 1988, art. 14, §§ 10 e 11.
] 
Porém destacamos que o constituinte originário não tratou do procedimento a ser seguido para a propositura dessa ação, bem como não estipulou prazo específico para criação de legislação infraconstitucional que regulamentasse o procedimento quando do ajuizamento.
Dessa forma, inicialmente passou a ser utilizado o rito comum ordinário do Código de Processo Civil Brasileiro (art. 272 CPC),para a propositura da Ação de Impugnação de Mandato Eletivo, mantendo-se o sistema recursal do Código Eleitoral. 
Entretanto o rito comum ordinário era considerado muito moroso por vários doutrinadores que destacavam as enormes desvantagens, em virtude da natureza complexa que tornava o procedimento inadequado para o processo eleitoral, ocorria que muitas vezes os julgamentos se tornavam inócuos em razão da perda do objeto, pois quando a sentença declarava a perda do mandato já havia transcorrido todo o seu prazo.
A esse respeito existiam divergências doutrinárias sobre a utilização do rito, principalmente no sentido se a escolha de tal procedimento seria o mais correto, pois alguns acreditavam que deveria ser seguido o mesmo rito previsto na LC nº 64/90 para a Ação de Impugnação de Registro de Candidatura (AIRC).
O doutrinador Stolco[footnoteRef:33] leciona o seguinte no tocante à matéria: [33: STOCO, Rui; STOCO, Leandro de Oliveira Stoco. Ação de impugnação de mandato eletivo: Aspectos civis, processuais, penais e políticos. Revista dos Tribunais: São Paulo. São Paulo, n. 847, maio 2006.
] 
[...] embora essa Ação de Impugnação de Mandato Eletivo esteja prevista na Magna Carta, inexiste, contudo, lei específica que regula sua tramitação em juízo, ainda se discute a respeito do rito que deve ser impresso à ação. Sendo que a doutrina atual divide-se em duas correntes: a que defende a adoção do rito ordinário previsto no Código de Processo Civil e, em contraposição a esta, a que sustenta a incidência do rito da LC 64, de 18.05.1990.
Entre as divergências apontadas, alguns doutrinadores entendiam que o procedimento comum ordinário do CPC possibilitava a ampla produção de provas a respeito dos fatos, o que poderia contribuir para retirada do mandato do candidato ou inocentá-lo ante a falta delas, porém esse rito não atendia a celeridade que era necessária na Justiça Eleitoral.
Visando a celeridade processual, o Tribunal Superior Eleitoral procurou implantar um rito que garantisse maior agilidade para o processamento da AIME, editando em 2004 uma resolução que pacificasse as discussões que havia sobre o assunto.
A Resolução nº 21.634 de 2004 definiu que o rito processual para a Ação de Impugnação de Mandato Eletivo seria o mesmo utilizado para a Ação de Impugnação de Registro de Candidatura (AIRC) previsto na Lei Complementar nº 64 de 1990.
Sobre a Resolução n° 21.634, de 19.2.2004, esclareceu a Corte Superior:
“Questão de ordem. Ação de Impugnação de mandato eletivo. Art. 14, parágrafo 10 da Constituição Federal. Procedimento. Rito ordinário. Código de Processo Civil. Não observância. Processo eleitoral. Celeridade. Rito ordinário da Lei Complementar n° 64/90. Registro de candidato. Adoção. Eleições 2004.
1. O rito ordinário que deve ser observado na tramitação da Ação de Impugnação de Mandato Eletivo, até a sentença, é o da Lei Complementar 64/90, NÃO O DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL, cujas disposições são aplicáveis apenas subsidiariamente.
2. As peculiaridades do processo eleitoral – em especial o prazo certo do mandato – exigem a adoção dos procedimentos céleres próprios do Direito Eleitoral, respeitadas, sempre, as garantias do contraditório e da ampla defesa.”
O Tribunal Superior Eleitoral entendia que esse era o melhor rito processual a ser seguido em relação à AIME, visto que seria mais célere e, portanto, efetivo no cumprimento dos objetivos estabelecidos na ação impugnatória.
Como exemplo citamos o julgamento que trata do assunto:
AGRAVO REGIMENTAL. Eleições 2004. Recurso Especial. Propaganda institucional. AIME. Rito LC n.º 64/90. Prazo. Recurso. Tempestividade. 
Na Ação de Impugnação de Mandato Eletivo, até a sentença, o rito a ser observado é o previsto na LC n.º 64/90. 
Quando a sentença for proferida após o período eleitoral, a fluência do prazo recursal dar-se-á com a publicação da decisão no órgão oficial ou com a intimação pessoal. Efetivada a intimação pessoal, dispensa-se a publicação.
(TSE, Agravo Regimental em Recurso Especial Eleitoral n.º 25.443, de 14.2.2006, Rel. Min. Gomes de Barros – DJ 10-3-2006, p. 177).
O rito que o Tribunal Superior Eleitoral se refere é o estatuído nos artigos 3º a 16º da Lei Complementar nº 64/90, vejamos:
Art. 3° Caberá a qualquer candidato, a partido político, coligação ou ao Ministério Público, no prazo de 5 (cinco) dias, contados da publicação do pedido de registro do candidato, impugná-lo em petição fundamentada.
§ 1° A impugnação, por parte do candidato, partido político ou coligação, não impede a ação do Ministério Público no mesmo sentido.
§ 2° Não poderá impugnar o registro de candidato o representante do Ministério Público que, nos 4 (quatro) anos anteriores, tenha disputado cargo eletivo, integrado diretório de partido ou exercido atividade político-partidária.
§ 3° O impugnante especificará, desde logo, os meios de prova com que pretende demonstrar a veracidade do alegado, arrolando testemunhas, se for o caso, no máximo de 6 (seis).
Art. 4° A partir da data em que terminar o prazo para impugnação, passará a correr, após devida notificação, o prazo de 7 (sete) dias para que o candidato, partido político ou coligação possa contestá-la, juntar documentos, indicar rol de testemunhas e requerer a produção de outras provas, inclusive documentais, que se encontrarem em poder de terceiros, de repartições públicas ou em procedimentos judiciais, ou administrativos, salvo os processos em tramitação em segredo de justiça.
Art. 5° Decorrido o prazo para contestação, se não se tratar apenas de matéria de direito e a prova protestada for relevante, serão designados os 4 (quatro) dias seguintes para inquirição das testemunhas do impugnante e do impugnado, as quais comparecerão por iniciativa das partes que as tiverem arrolado, com notificação judicial.
§ 1° As testemunhas do impugnante e do impugnado serão ouvidas em uma só assentada.
§ 2° Nos 5 (cinco) dias subsequentes, o Juiz, ou o Relator, procederá a todas as diligências que determinar, de ofício ou a requerimento das partes.
§ 3° No prazo do parágrafo anterior, o Juiz, ou o Relator, poderá ouvir terceiros, referidos pelas partes, ou testemunhas, como conhecedores dos fatos e circunstâncias que possam influir na decisão da causa.
§ 4° Quando qualquer documento necessário à formação da prova se achar em poder de terceiro, o Juiz, ou o Relator, poderá ainda, no mesmo prazo, ordenar o respectivo depósito.
§ 5° Se o terceiro, sem justa causa, não exibir o documento, ou não comparecer a juízo, poderá o Juiz contra ele expedir mandado de prisão e instaurar processo por crime de desobediência.
Art. 6° Encerrado o prazo da dilação probatória, nos termos do artigo anterior, as partes, inclusive o Ministério Público, poderão apresentar alegações no prazo comum de 5 (cinco) dias.
Art. 7° Encerrado o prazo para alegações, os autos serão conclusos ao Juiz, ou ao Relator, no dia imediato, para sentença ou julgamento pelo Tribunal.
Parágrafo único. O Juiz, ou Tribunal, formará sua convicção pela livre apreciação da prova, atendendo aos fatos e às circunstâncias constantes dos autos, ainda que não alegados pelas partes, mencionando, na decisão, os que motivaram seu convencimento.
Art. 8° Nos pedidos de registro de candidatos a eleições municipais, o Juiz Eleitoral apresentará a sentença em cartório 3 (três) dias após a conclusão dos autos, passando a correr deste momento o prazo de 3 (três) dias para a interposição de recurso para o Tribunal Regional Eleitoral.
§ 1° A partir da data em que for protocolizada a petição de recurso, passará a correr o prazo de 3 (três) dias para a apresentação de contrarrazões.
§ 2° Apresentadas as contrarrazões, serão os autos imediatamente remetidos ao Tribunal Regional Eleitoral, inclusive por portador, se houver necessidade, decorrente da exiguidade de prazo, correndo as despesas do transporte por conta do recorrente, se tiver condições de pagá-las.
Art. 9° Se o Juiz Eleitoral não apresentar a sentença no prazo do artigo anterior, o prazo pararecurso só começará a correr após a publicação da mesma por edital, em cartório.
        
Parágrafo único. Ocorrendo a hipótese prevista neste artigo, o Corregedor Regional, de ofício, apurará o motivo do retardamento e proporá ao Tribunal Regional Eleitoral, se for o caso, a aplicação da penalidade cabível.
        
Art. 10. Recebidos os autos na Secretaria do Tribunal Regional Eleitoral, estes serão autuados e apresentados no mesmo dia ao Presidente, que, também na mesma data, os distribuirá a um Relator e mandará abrir vistas ao Procurador Regional pelo prazo de 2 (dois) dias.
Parágrafo único. Findo o prazo, com ou sem parecer, os autos serão enviados ao Relator, que os apresentará em mesa para julgamento em 3 (três) dias, independentemente de publicação em pauta.
Art. 11. Na sessão do julgamento, que poderá se realizar em até 2 (duas) reuniões seguidas, feito o relatório, facultada a palavra às partes e ouvido o Procurador Regional, proferirá o Relator o seu voto e serão tomados os dos demais Juízes.
§ 1° Proclamado o resultado, o Tribunal se reunirá para lavratura do acórdão, no qual serão indicados o direito, os fatos e as circunstâncias com base nos fundamentos do Relator ou do voto vencedor.
§ 2° Terminada a sessão, far-se-á a leitura e a publicação do acórdão, passando a correr dessa data o prazo de 3 (três) dias, para a interposição de recurso para o Tribunal Superior Eleitoral, em petição fundamentada.
Art. 12. Havendo recurso para o Tribunal Superior Eleitoral, a partir da data em que for protocolizada a petição passará a correr o prazo de 3 (três) dias para a apresentação de contrarrazões, notificado por telegrama o recorrido.
Parágrafo único. Apresentadas as contrarrazões, serão os autos imediatamente remetidos ao Tribunal Superior Eleitoral.
Art. 13. Tratando-se de registro a ser julgado originariamente por Tribunal Regional Eleitoral, observado o disposto no art. 6° desta lei complementar, o pedido de registro, com ou sem impugnação, será julgado em 3 (três) dias, independentemente de publicação em pauta.
Parágrafo único. Proceder-se-á ao julgamento na forma estabelecida no art. 11 desta lei complementar e, havendo recurso para o Tribunal Superior Eleitoral, observar-se-á o disposto no artigo anterior.
Art. 14. No Tribunal Superior Eleitoral, os recursos sobre registro de candidatos serão processados e julgados na forma prevista nos arts. 10 e 11 desta lei complementar.
Art. 15.  Transitada em julgado ou publicada a decisão proferida por órgão colegiado que declarar a inelegibilidade do candidato, ser-lhe-á negado registro, ou cancelado, se já tiver sido feito, ou declarado nulo o diploma, se já expedido. (Redação dada pela Lei Complementar nº 135, de 2010)
Parágrafo único.  A decisão a que se refere o caput, independentemente da apresentação de recurso, deverá ser comunicada, de imediato, ao Ministério Público Eleitoral e ao órgão da Justiça Eleitoral competente para o registro de candidatura e expedição de diploma do réu.  (Incluído pela Lei Complementar nº 135, de 2010)
Art. 16. Os prazos a que se referem o art. 3º e seguintes desta lei complementar são peremptórios e contínuos e correm em secretaria ou Cartório e, a partir da data do encerramento do prazo para registro de candidatos, não se suspendem aos sábados, domingos e feriados.
A respeito da mudança de rito ordenada pelo Tribunal Superior Eleitoral restou a dúvida se o que realmente importava era uma “celeridade” processual ou o abarcamento de todos os meios de defesa em direito admissível.
Constata-se que a mudança do rito processual tipificado no Código de Processo Civil para o rito da LC nº 64/90, não criou a celeridade tão esperada por muitos, uma vez que os problemas não estão nos prazos para apresentação das peças, mas sim na celeridade da própria Justiça Eleitoral quanto ao julgamento das ações ali depositadas, porém, há de se ressaltar que foi um grande avanço no sentido de garantir a efetividade da ação. 
2.7 	Efeitos da Sentença
Os aspectos referentes à execução da sentença de procedência da Ação de Impugnação de Mandato Eletivo, e os principais reflexos que ocorrem na esfera jurídica em relação ao candidato e ao resultado das eleições, devem ser analisados com a finalidade de comprovar a eficácia desse instrumento, no combate das ilicitudes que ocorrem no pleito eleitoral.
A sentença na Ação de Impugnação de Mandato Eletivo pode ser considerada em relação aos seus efeitos, do tipo constitutivo negativo, sendo que o candidato ao adquirir o mandato eletivo se encontra em uma nova situação jurídica, e caso a ação seja julgada procedente irá ter essa situação desconstituída.
Ressalte-se que a perda do mandato não exige a responsabilidade pessoal, subjetiva, do legitimado passivo, pois basta que ele tenha auferido um benefício indevido, cujo fato tenha comprometido o resultado das eleições.
Julgada procedente a AIME torna insubsistente o mandato eletivo, desconstituindo-o como consequência do reconhecimento do ilícito eleitoral ou do benefício obtido nas urnas, nesta ação não se decreta diretamente a inelegibilidade.
Entre os efeitos da procedência da ação, não se cogita a aplicação de multa, ainda que a causa de pedir seja fato passível de, individualmente e em ação própria, gerar esse efeito, na doutrina o assunto é controvertido.
Nesse contexto o TSE pacificou o entendimento afirmando que “a sentença de procedência da AIME enseja a cassação do mandato eletivo, não se podendo impor a multa ou inelegibilidade, à falta de previsão normativa[footnoteRef:34].” [34: Brasil. Tribunal Superior Eleitoral – Agravo Regimental em Recurso Especial Eleitoral nº 5158657 – Rel. Arnaldo Versiani – j. 01.03.2011.] 
O efeito principal da sentença na Ação de Impugnação de Mandato Eletivo é a desconstituição do mandato eletivo ou a expectativa de vir a exercê-lo cassada, retirando assim a sua eficácia, tornando nulo o diploma expedido pela Justiça Eleitoral, porém alguns doutrinadores entendem que poderá recair sobre o candidato cassado a inelegibilidade como um dos efeitos secundários da procedência da ação. 
A doutrina majoritária defende que a inelegibilidade irá se efetivar independente de qual seja o fundamento da ação, aplicando o artigo 1º, I, “d”, da Lei Complementar nº 64, de 1990, que determina o efeito da inelegibilidade para os que tenham contra sua pessoa representação julgada procedente pela Justiça Eleitoral, em decisão transitada em julgado ou proferida por órgão colegiado, em processo de apuração de abuso do poder econômico ou político, para a eleição na qual concorrem ou tenham sido diplomados, bem como para as que se realizarem nos 8 (oito) anos seguintes.
Podemos observar esse entendimento no julgamento do Recurso especial nº 1062 BA- DJE 01.03.2013, p. 13[footnoteRef:35]: [35: BRASIL. Tribunal Superior Eleitoral – RESPE nº 1062/BA – decisão monocrática da rel. Min. Nancy Andrighi – DJE 01.03.2013, p. 13.
] 
[…] Não creio que a intenção do legislador foi a de conferir tratamento jurídico diferenciado entre situações fáticas idênticas, pois todo abuso de poder cometido no processo eleitoral também compromete, da mesma forma e na mesma medida, a legitimidade do pleito e a manifestação soberana da vontade popular. […]. Por consequência lógica, é indubitável que o vocábulo ‘representação’ contido no art. 1º, I, alínea d, da LC 64/90 deverá ser aplicado com significação que cumpra a finalidade da norma, qual seja, afastar da vida pública políticos condenados por abuso de poder político e econômico. […]. Penso, contudo, que a partir da LC 135/2010 tais consequências foram profundamente alteradas. A jurisprudência anterior do TSE, que afirmava não ser possível aplicar inelegibilidade como consequência na AIME, não mais se sustenta diante das novas causas de inelegibilidade e do disposto no art. 1º, I, d, da LC 64/90. De fato, a inelegibilidade existirá como efeito natural da condenação [em ação de impugnação de mandato eletivo (AIME)]. […]. Reitero que não há, portanto, vinculação exclusivaentre a AIJE e o art. 1º, I, d, da Lei Complementar 64/90. […]. 
Entretanto essa decisão foi reconsiderada, quando submetida a questão à Corte Superior que manteve a tradicional interpretação, segundo a qual a inelegibilidade disposta no artigo 1º, I, d, da LC nº 64/1990 somente incide se, anteriormente, tiver sido julgada procedente ação fundada nos artigos 19 e 22, XIV, dessa mesma norma.
Rodrigo Zílio[footnoteRef:36] ressalta que a perda do mandato em virtude da AIME, poderá ser objeto de arguição para fins de inelegibilidade em futura ação própria. [36: ZÍLIO, Rodrigo López. Direito eleitoral: noções preliminares, elegibilidade e inelegibilidade, processo eleitoral (da convenção à prestação de contas), ações eleitorais. 2. ed. rev. e atual. Porto Alegre: Verbo Jurídico, 2010.
] 
Nesse sentido considera-se a inelegibilidade como efeito reflexo, de acordo com o artigo 1º I, d, da LC nº 64/1990, sendo possível o seu reconhecimento na esfera apropriada, por meio de impugnação futura, ficando o candidato sujeito à declaração de inelegibilidade quando postular o registro de candidatura a cargos políticos. 
Destarte, deve-se levar em conta a inelegibilidade como consequência punitiva àquelas impugnações que forem decididas e julgadas contra o candidato eleito de modo contrário à lei e aos interesses públicos.
O efeito da sentença de procedência da AIME quanto à cassação do mandato é imediato, pois os recursos eleitorais são recebidos somente no efeito devolutivo, como previsto no art. 257 do Código Eleitoral, mais nada impede que o candidato mantenha-se no cargo mediante concessão de efeito suspensivo por medida cautelar, vejamos:
MEDIDA CAUTELAR. AIME. ACÓRDÃO. EXECUÇÃO ANTES DA PUBLICAÇÃO. IMPOSSIBILIDADE. LIMINAR. DEFERIMENTO PARCIAL. AGRAVO REGIMENTAL. TEMPESTIVO. ARGUMENTOS NÃO SUFICIENTES PARA AFASTAR A DECISÃO. DESPROVIDO[footnoteRef:37]. [37: BRASIL. Tribunal Superior Eleitoral AGRAVO REGIMENTAL EM MEDIDA CAUTELAR nº 1833, Acórdão de 28/06/2006, Relator (a) Min. JOSÉ GERARDO GROSSI, Publicação: DJ - Diário de justiça, Data 22/08/2006, Página 115.] 
1. Salvo no caso de a parte tomar ciência inequívoca do inteiro teor da decisão, o prazo para interposição de recurso começa com a publicação.
2. Pendente o julgamento de embargos declaratórios, opostos do acórdão do Tribunal Regional, questões nele levantadas - aplicação do art. 224 do Código Eleitoral - somente poderiam vir a ser abordadas, em medida cautelar, após o julgamento desses.
3. São imediatos os efeitos da decisão proferida em sede de ação de impugnação de mandato eletivo, aguardando-se apenas a publicação, não incidindo os arts. 216 do Código Eleitoral e 15 da LC nº 64/90.
4. Empossado o segundo colocado, a prudência determina seja aguardada a apreciação do recurso especial, sob pena de se criar instabilidade no município. 
5. Agravo Regimental conhecido, mas desprovido.
A ação não tem intenção de declarar a nulidade dos votos, mas isso ocorre como efeito anexo da sentença, de acordo com a previsão dos artigos 222 e 237 do Código Eleitoral, nota-se ainda quando a nulidade atingir mais da metade dos votos haverá a necessidade da realização de novas eleições essa previsão está disciplinada no artigo 224 do CE.
Vejamos o disposto no artigo 224 do Código Eleitoral:
Art. 224. Se a nulidade atingir a mais de metade dos votos do país nas eleições presidenciais, do Estado nas eleições federais e estaduais ou do município nas eleições municipais, julgar-se-ão prejudicadas as demais votações e o Tribunal marcará dia para nova eleição dentro do prazo de 20 (vinte) a 40 (quarenta) dias.
Esse entendimento ganhou força a partir de 2007, quando em vários julgados o TSE entendeu cabível a aplicação do art. 224 do Código Eleitoral, em sede de AIME, sendo que nesse caso a sentença de procedência, além de cassar o mandato, também anularia os votos e, se o percentual de votos nulos fosse maior de 50% haveria nova eleição. 
Temos como exemplo a manifestação dessa orientação jurisprudencial, no julgamento da Medida Cautelar nº 2.256, julgada em 18/12/2007[footnoteRef:38]: [38: BRASIL. Tribunal Superior Eleitoral, Medida Cautelar n. 2.256, Goiás, Rel. Min. Cezar Peluso, em 18/12/2007. 
] 
[...] Efeito da decisão de procedência da AIME. Anulação dos votos. Concessão da segurança. Indeferimento da medida cautelar. Agravos regimentais prejudicados. Devido ao liame indissolúvel entre o mandato eletivo e o voto, constitui efeito da decisão pela procedência da AIME a anulação dos votos dados ao candidato cassado. Se a nulidade atingir mais da metade dos votos, aplica-se o art. 224 do CE. [...] Dupla vacância dos cargos de prefeito e vice por causa eleitoral. A renovação das eleições em razão de dupla vacância dos cargos do executivo será realizada de forma direta, nos termos do art. 224 do CE (TSE, Medida Cautelar n. 2.256, Goiás, Rel. Min. Cezar Peluso, em 18/12/2007).
Nas eleições majoritárias com a cassação dos mandatos, tornam-se nulos os votos concedidos aos cassados. No caso de eleição para os cargos do executivo, haverá a anulação da própria eleição, quando tiverem obtidos mais da metade dos votos válidos, de acordo com o artigo 224, do Código Eleitoral, do contrário os segundos colocados assumem o mandato.
Quando as eleições se referirem a senador o segundo colocado assume a vaga diretamente, pois nesse caso não existe anulação de eleições para esse cargo. Já para os cargos sujeitos ao sistema proporcional, não ocorre a nulidade dos votos dados ao candidato cassado, mas sim o seu aproveitamento para a legenda partidária pela qual concorreu, por incidência do art. 175, § 3º, do Código Eleitoral, de modo que assumirá o mandato o primeiro suplente na lista de classificados.
Cabe o registro que o artigo 224 não se aplica em eleições decididas em segundo turno, devendo assumir o segundo colocado, o entendimento é que nesta hipótese não se exige maioria absoluta.
O efeito da procedência da sentença da AIME, bem como o entendimento do TSE em relação à aplicação do artigo 224 do Código Eleitoral vem ao encontro do princípio da soberania popular, possibilitando ao eleitor manifestar-se novamente em um novo pleito e escolher livre e legitimamente um novo candidato.
3. PANORAMA GERAL DO REGIME DEMOCRÁTICO BRASILEIRO
Neste capítulo abordar-se-á um panorama geral sobre o regime de governo adotado no Brasil, vivemos em uma democracia, esse regime de governo é caracterizado pela participação popular, onde os cidadãos escolhem seus representantes para elaboração e execução das leis.
A palavra democracia tem origem no grego demokratía que corresponde a governo do povo ou soberania popular, sendo composta por demos que significa povo e kratos que quer dizer força ou poder. 
Nas palavras de José Afonso da Silva[footnoteRef:39]: [39: SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 25. ed. rev. e atual. nos termos da Reforma Constitucional, até a Emenda Constitucional n. 48, de 10.08.2005. São Paulo: Malheiros, 2005.
] 
A democracia é um processo de convivência social em que o poder emana do povo, há ser exercitado, direta ou indiretamente, pelo povo e em proveito do povo. Diz-se que é um processo de convivência, primeiramente para denotar sua historicidade, depois para realçar que, além de ser uma relação de poder político, é também um modo de vida, em que no relacionamento interpessoal, há de verificar-se o respeito e a tolerância entre os conviventes. 
A democracia pode ser considerada como um ambiente social onde se busca a justiça, a solidariedade, a liberdade, a superação dos preconceitos e das discriminações de qualquer ordem, tendo como pressuposto o pluralismo de ideias, culturas, admitindo o diálogo entre opiniões e pensamentos divergentes e a possibilidade de convivência de formas de organização e interesses diferentes da sociedade.
Ainda para José Afonso da Silva[footnoteRef:40] a democracia pode ser definida sobre dois princípios fundamentais que lhe dãoa essência conceitual: [40: SILVA, op. cit. p. 135.] 
a) o da soberania popular, segundo o qual o povo e a única fonte do poder, que se exprime pela regra de que todo o poder emana do povo; 
b) a participação, direta ou indireta, do povo no poder, para que este seja efetiva expressão da vontade popular; nos casos em que a participação é indireta, surge um princípio derivado ou secundário: o da representação.
No Brasil a democracia foi instituída após muita luta por parte de alguns partidos políticos e da sociedade civil, interrompendo a ditadura do Governo de Getúlio Vargas que se manteve por 15 anos no poder, entretanto, o período democrático permaneceu de 1945 a 1964, até a instauração de uma nova ditadura em 1964 que perdurou por 21 anos.
O restabelecimento da Democracia ocorreu em 1985 e logo após em 1989 os brasileiros puderam eleger o Presidente da República, e desde então o Brasil vem trilhando o caminho da Democracia.
Atualmente a maioria dos regimes democráticos apostam na democracia representativa: onde o povo escolhe os seus representantes e estes tomam as decisões.
No Brasil se sobressai o sistema de democracia representativa onde ocorre a obrigatoriedade do voto, para os cidadãos que estão na faixa etária entre 18 e 65 anos, já para a faixa etária de 16 a 17 anos o voto é facultativo, assim como para os idosos que possuem mais de 65 anos.
 	Sobre o modelo de democracia representativa nos explica José Afonso da Silva[footnoteRef:41]: [41: SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 25. ed. rev. e atual. nos termos da Reforma Constitucional, até a E. C. n. 48, de 10.08.2005. São Paulo: Malheiros, 2005, p. 137.] 
É no regime de democracia representativa que se desenvolvem a cidadania e as questões da representatividade, que tende a fortalecer-se no regime de democracia representativa. A Constituição que combina representação e participação direta, tendendo, pois, para democracia participativa. É o que, desde o parágrafo único do artigo 1º, já está configurado, quando, aí se diz que todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos (democracia representativa), ou diretamente (democracia participativa).
Apesar de no país sobressair o sistema de democracia representativa existem alguns dispositivos constitucionais como, por exemplo, o artigo 14 da Constituição Federal, que preconiza a democracia direta, pela qual os cidadãos participam no exercício do poder, na tomada das decisões, através do plebiscito, referendo ou iniciativa popular.
Os objetivos da República Federativa do Brasil consagram a busca pela realização da democracia, estando previstos no "caput" do artigo 1° da Constituição Federal que dispõe:
A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado democrático de direito, e tem como fundamentos: 
I - a soberania; 
II - a cidadania; 
III - a dignidade da pessoa humana; 
IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;
V - o pluralismo político.
	
A soberania e a cidadania são pilares da democracia, através da cidadania os cidadãos exercem seus direitos, ao passo que tendo o poder de voto para eleger os representantes exercem a soberania popular.
Dentro do regime democrático brasileiro, a cidadania não é vista apenas como a capacidade para votar, possuindo um conceito bem mais amplo, o exercício de direitos e deveres que o cidadão tem para com a sociedade, dentre esses direitos incluem-se a saúde, alimentação, educação, assistência social, lazer, trabalho e proteção à maternidade, conforme preceitua o artigo 6° da Constituição Federal.
Destarte, aquele que deixa de votar não está desperdiçando apenas um voto, esta abdicando de parcela da sua soberania, uma vez que a soberania é exercida por meio do sufrágio.
O eleitor por falta de informação não consegue visualizar a importância de comparecer as seções eleitorais para votar, imaginando que o seu voto não tem valor.
Outro pilar da democracia é o pluralismo político, sendo que o pluripartidarismo permite que as agremiações sejam criadas com base em ideais, convocando os cidadãos que tenham a mesma ideologia para se filiarem ao partido para concorrerem as eleições. 
Para que o regime democrático se desenvolva o eleitor (cidadão) deve participar ativamente comparecendo as seções eleitorais para manifestar a sua vontade, escolhendo os candidatos ou partidos que melhor atenda aos seus anseios. 
	
No momento em que os eleitores exercem o seu direito ao voto, realizam uma parte de sua cidadania. 
A democracia brasileira funda-se na soberania popular, que consagra o voto direto e secreto, com valor igual para todos; na isonomia entre os candidatos e partidos políticos para a apresentação de suas propostas e ideias aos eleitores; na cidadania, que se manifesta por meio do eleitor que comparece às seções eleitorais para exercerem o direito que tem de escolher o candidato que melhor responda às suas expectativas. 
Toda vez que os candidatos e partidos influenciam o voto do eleitor, em troca de favores, ou em virtude do cometimento de fraude ou simulação com o intuito de ludibriar o eleitor ou o próprio processo eleitoral ou ainda quando pratica alguma forma de corrupção, acaba por praticar atos contrários ao regime democrático.
3.1. Ilicitudes que comprometem o pleito eleitoral
A democracia está ligada ao conceito de representação legitima, ou seja, prevalência da vontade popular, dessa forma estudar os meios de coibição aos ilícitos que maculem a verdade eleitoral tem fundamento na própria democracia, à medida que as ilicitudes cometidas nas eleições comprometem os ideais do Estado democrático de direito.
No Brasil alguns candidatos que concorrem a cargos políticos, influenciados pela aparente impunidade, tendem a cometer alguns ilícitos que podem corromper o pleito eleitoral.
O ilícito eleitoral (lato sensu) divide-se em abuso do poder (acepção ampla), fraude, corrupção, coação e falsidade, segundo o doutrinador Rodrigo López Zílio[footnoteRef:42]. [42: ZÍLIO, Rodrigo López. Direito eleitoral: noções preliminares, elegibilidade e inelegibilidade, processo eleitoral (da convenção à prestação de contas), ações eleitorais. 2. ed. rev. e atual. Porto Alegre: Verbo Jurídico, 2010.
] 
 	O abuso do poder subdivide-se em abuso do poder econômico compreendendo o uso indevido do poder financeiro ou recursos de produção, abuso do poder de autoridade ou político que é quando aqueles que já estão no poder excedem os limites da legalidade ou da competência em benefício próprio, e o uso indevido dos meios de comunicação social que ocorre quando um veículo de comunicação não observa a legislação. 
A corrupção ocorre entre o corruptor e o corrompido e pressupõe o oferecimento ou promessa de qualquer vantagem para prática de ato não previsto em lei, inclusive pedido de voto ou abstenção.
A fraude consiste no ato voluntário que induz outrem em erro, mediante a utilização de artifício ardil e pressupõe na esfera eleitoral prejuízo ao outro candidato.
A coação corresponde a violência que elimina a vontade de outrem ou a violência de cunho moral que vicia a manifestação da vontade, já a falsidade importa na alteração material da verdade. 
Essas condutas, no âmbito eleitoral, referem-se ao aliciamento ilegítimo de eleitores, burlando sua vontade e liberdade no momento do voto, tornando ineficaz o princípio da isonomia entre os candidatos.
Quando as eleições são maculadas por interferência de algum desses mecanismos, haverá ofensa ao princípio da soberania popular, visando impedir o desenvolvimento da ilicitude eleitoral, que compromete a normalidade das eleições, foi inserida na Constituição Federal a Ação de Impugnação de Mandato Eletivo.
A Constituição Federal prevê três hipóteses de cabimento que autorizam o ajuizamento da AIME são elas o abuso do poder econômico, a fraude e a corrupção, mais além dessas existem outras hipóteses previstas

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