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Vi vi an e D es la nd es Bi ol og ia A pl ic ad a Biologia Aplicada Viviane Deslandes Curitiba 2015 Biologia Aplicada Viviane Deslandes Ficha Catalográfica elaborada pela Fael. Bibliotecária – Cassiana Souza CRB9/1501 D461b Deslandes, Viviane Biologia aplicada / Viviane Deslandes. – Curitiba: Fael, 2015. 182 p.: il. ISBN 978-85-60531-12-7 1. Biologia aplicada 2. Microbiologia I. Título CDD 576 Direitos desta edição reservados à Fael. É proibida a reprodução total ou parcial desta obra sem autorização expressa da Fael. FAEL Direção Acadêmica Francisco Carlos Sardo Coordenação Editorial Raquel Andrade Lorenz Revisão Elaine Monteiro Projeto Gráfico Sandro Niemicz Imagem da Capa Shutterstock.com/Lonely Arte-Final Evelyn Caroline dos Santos Betim Sumário Carta ao Aluno | 5 1 Introdução à biologia aplicada e suas técnicas | 7 2 Origem e evolução das espécies | 23 3 Biologia vegetal | 37 4 Sistemátia e diversidade biológica | 55 5 Introdução à microbiologia | 71 6 Microbiologia ambiental | 87 7 Microbiologia do solo, da água e do ar | 103 8 Micro-organismos na biorremediação e no tratamento de efluentes | 119 9 Bioindicadores e toxicidades | 133 10 Microbiologia aplicada à tecnologia ambiental | 147 Conclusão | 163 Referências | 165 Carta ao aluno Caro aluno (a), O profissional ligado ao meio ambiente encontra hoje uma série de desafios. Apesar de vários tratados, acordos e normas para a proteção do ambiente, manutenção do equilíbrio ecológico e “saúde” dos ecossistemas, o que vemos hoje é uma série de proble- mas ambientais que precisam ser solucionados com agilidade para remediar erros cometidos no passado e garantir a nossa qualidade de vida futura. Para atuar de forma eficiente e com a excelência necessária para administrar esse contexto atual, o gestor ambiental precisa ter conhecimento teórico-prático. A disciplina Biologia Aplicada for- nece ao estudante conceitos básicos de diversas áreas da biologia, – 6 – Biologia Aplicada como biologia celular, biologia vegetal, microbiologia, ecologia e evolução. Esses conceitos ajudam a compreender a intrincada relação entre os seres vivos, desde os micro-organismos até as espécies mais complexas. Porém, como o foco do curso é instrumentalizar o estudante para a aplicação prá- tica do conhecimento, são descritas algumas técnicas aplicadas ao controle da poluição ambiental, como a biorremediação e o uso de micro-organismos como indicadores da qualidade ambiental. O objetivo principal desta aprendizagem é, portanto, proporcionar aos estudantes a capacidade de compreender conceitos básicos de biologia e trans- feri-los para os desafios que o gestor ambiental certamente encontrará no mer- cado de trabalho. Esses desafios incluem, por exemplo, a promoção da quali- dade ambiental, a redução da poluição, a restauração de ambientes degradados pela ação humana e também a manutenção do equilíbrio ecológico. Introdução à Biologia Aplicada e Suas Técnicas Neste capítulo você conhecerá o conceito de célula e suas estruturas principais. Apresentaremos alguns tipos de microscopia e técnicas de preparo de material para a visualização microscópica. Além disso, exploraremos técnicas de acompanhamento de células e micro-organismos, como a imunocitoquímica, a citometria de fluxo e a microscopia de fluorescência. Também estudaremos algumas técnicas biológicas para controle e monitoramento ambiental, como a cromatografia gasosa e líquida e a espectrometria de massa, e cul- turas microbiológicas. Esses métodos constituem um conjunto de ferramentas bastante utilizado no campo da biotecnologia e micro- biologia e podem auxiliar o gestor ambiental em vários campos de atuação de seu trabalho. 1 Biologia Aplicada – 8 – Objetivos de aprendizagem: 2 Compreender as principais técnicas biológicas que podem ser usadas como ferramentas pelo gestor ambiental. 2 Ter ciência do preparo de materiais biológicos para visualização em microscópio óptico e eletrônico. 2 Entender os princípios de operação de microscópios, citômetro de fluxo e cromatógrafos. 2 Compreender técnicas variadas para localização das moléculas que constituem as células. 2 Explicar as aplicações das técnicas biológicas em ensaios de controle e monitoramento ambiental. 1.1 A célula e suas estruturas principais O que distingue um ser vivo da matéria não viva é o fato de que todos os seres vivos são formados por células. Células são estruturas complexas que variam em forma, tamanho e função. Porém, para facilitar o entendimento de sua anato- mia, podemos dividi-las, de modo geral, em três partes: membrana plasmática, que separa a célula do meio exterior; citoplasma, que contém organelas e moléculas com funções especializadas; e núcleo, que separa o material genético do citoplasma. Somente a célula eucarionte (figura 1a) possui núcleo. Células procariontes, como as bactérias (figura 1b), têm o material genético disperso no citoplasma. Figura 1: (a) Célula eucarionte e (b) célula procarionte com estruturas internas representadas Nucleolo Nucleolo Cápsula Procariota Eucariotas Flagelo Pared celular Membrana plasmática Núcleo Retículo Endoplasmático Ribosomas Ribosomas Mitocondria Fonte: BIOLOGIA E BIODIVERSIDADE, 2013. – 9 – Introdução à Biologia Aplicada e Suas Técnicas 1.1.1 Composição química da célula Com exceção da água e de alguns íons inorgânicos, a maior parte da composição química da célula é feita de moléculas orgânicas (moléculas que contêm carbono em sua composição). O quadro 1 ilustra a composição quí- mica de uma célula bacteriana. Quadro 1: Composição química de uma célula bacteriana Porcentagem do peso da célula Número de tipos de cada molécula Água 70 1 Íons inorgânicos 1 20 Açúcares e precursores 1 250 Aminoácidos e precursores 0,4 100 Nucleotídeos e precursores 0,4 100 Ácidos graxos e precursores 1 50 Outras moléculas pequenas 0,2 -300 Macromoléculas (proteínas, ácidos nucleicos e polissacarídeos 26 -3000 Fonte: ALBERTS et al., 2011. 1.1.1.1 DNA O DNA (ácido desoxirribonucleico em português) é a molécula que armazena a informação genética dos seres vivos. A estrutura do DNA é com- plexa e garante que erros de cópia não ocorram durante o processo de divisão celular, momento em que a célula-mãe passa a informação genética para a célula-filha. O DNA é composto de duas fitas formadas de quatro tipos de nucleotídeos. Estes contêm um açúcar (pentose) ligados a um grupo fosfato e uma base nitrogenada. As bases do DNA são a adenina (A), timina (T), citosina (C) e guanina (C) (figura 2). Nessa dupla fita, as bases são voltadas para dentro e os açúcares e grupos fosfatos são voltados para fora. A base “A” sempre se liga quimicamente à base Biologia Aplicada – 10 – “T”, enquanto a “C” se liga à “G”. Isso garante que as fitas de DNA sejam complementares, e é de extrema importância para a cópia e o reparo do DNA. Figura 2: Esquema estrutural do DNA.1 Fita de DNABlocos de construção do DNA Fita dupla de DNA Dúpla - hélice de DNA (A) (B) (D)(C) Esuqleto açúcar - fosfato Pareamento de bases por ponte de hidrogênio Açúcar- -fosfato Açúcar + Base 5’ 5’ 3’ 5’ 3’ 5’ 3’ 3’ 5’ 3’ Fosfato Nucleotídeo 1 (A) Representação de um nucleotídeo, formado por um açúcar fosfato ligado a uma base nitrogenada (“C” = citosina). (B) Cadeia vários nucleotídeos mostrando as bases nitrogenadas (guanina, citosina, adenina e timina, respectivamente “G”, “C”, “A”, “T”). (C) Representação do DNA de forma “achatada” evidenciando o pareamento das bases nitrogenadas através das ligações químicas conhecidas comopontes de hidrogênio. (D) Representação do DNA demonstrando sua forma helicoidal. Fonte: ALBERTS et al., 2011. Importante O que faz cada ser vivo ser diferente do outro é o arranjo dos pares de bases (“A”, “T”, “C”, “G”) na molécula de DNA. A sequência – 11 – Introdução à Biologia Aplicada e Suas Técnicas das bases do DNA é, portanto, responsável por carregar as men- sagens biológicas dos organismos. Os genes nada mais são do que pedaços dessas sequências do DNA que contêm informa- ção para produzir proteínas com diversas funções nas células. A molécula de DNA é muito grande, por isso ela é condensada dentro dos cromossomos. O genoma humano tem 3,2 × 109 nucleotídeos, e toda essa informação é compactada em apenas 24 cromossomos. Essa compacta- ção do DNA facilita o seu armazenamento no núcleo da célula e também a divisão do DNA para as células-filhas no momento da divisão celular (mitose ou meiose). Mitose: divisão do núcleo de uma célula eucarionte, envol- vendo a condensação do DNA em cromossomos visíveis. Meiose: divisão celular em que óvulos e espermatozoides são produzidos. Ocorrem duas divisões celulares sucessivas com apenas um ciclo de replicação do DNA, gerando quatro células haploides (com metade dos cromossomos da célula-mãe). (ALBERTS et al., 2011). 1.1.1.2 RNA A informação genética contida no DNA é transferida para uma molé- cula chamada RNA (ácido ribonucleico). O RNA tem como função car- regar a informação do DNA, com a finalidade de fabricar proteínas na célula. Existem diversos tipos de RNA: RNA mensageiro (mRNA), RNA transportador (tRNA) e RNA ribossômico (rRNA). Cada um deles atua em diferentes etapas no processo de construção das proteínas. A cópia da sequência de nucleotídeos de DNA para uma molécula de RNA é chamada de transcrição, e a produção de uma proteína a partir da molécula de RNA recebe o nome de tradução. Biologia Aplicada – 12 – Figura 3: Transcrição - Passagem do DNA para o RNA.2 Replicação do DNA Reparo de DNA Recombinaçáo genética Síntese de RNA (transcrição) COOHH N2 5´ 5´ 3´ 5´ 3´ 3´ Síntese de proteína (transcrição) Aminoácidos PROTEÍNA RNA DNA 2 A informação genética contida no DNA leva á produção das proteínas. Transcrição é a passagem do DNA para o RNA, e tradução é a passagem do RNA à proteína. Fonte: ALBERTS et al., 2011. 1.1.1.3 Proteínas As proteínas são moléculas muito grandes formadas a partir da combinação de 20 tipos de aminoácidos. A ligação entre aminoácidos chama-se “ligação peptídica”, e, conforme os aminoácidos vão se ligando uns aos outros, a estrutura da molécula aumenta, necessitando ser dobrada. Isso leva à formação de diferentes estruturas tridimensionais. Alguns exemplos de proteínas são a queratina (presente na unha e nos cabelos), a hemoglobina (carrega o oxigênio no sangue) e o colágeno (responsável por fortalecer os tecidos do corpo). Fatores ambientais como pH, temperatura e salinidade podem alterar a estrutura das proteínas e, consequentemente, as funções que elas desempenham nos organismos. – 13 – Introdução à Biologia Aplicada e Suas Técnicas 1.1.2 Estruturas celulares Para sobreviverem e se multiplicarem, as células precisam desempenhar uma série de reações químicas que acontecem em estruturas celulares com funções específicas. A seguir estudaremos as principais estruturas (ou orga- nelas) celulares. 1.1.2.1 Núcleo O núcleo é a estrutura da célula que abriga o material genético (DNA). Ele contém uma membrana que separa o DNA do citoplasma, cujo objetivo é proteger a integridade da informação genética. Sua função é a síntese (fabri- cação) de DNA e RNA da célula. 1.1.2.2 Retículo endoplasmático liso e rugoso O retículo endoplasmático (RE) é formado por um conjunto de sacos e tubos interconectados, cuja função é a síntese de novas membranas. O RE pode ser rugoso (quando contém ribossomos ligados a ele) ou liso (quando os ribossomos são ausentes). O RE rugoso é responsável, junto com os ribosso- mos, pela fabricação de proteínas na célula. O RE liso está associado à secre- ção de hormônios esteroides, detoxificação de moléculas orgânicas e liberação e recaptura de alguns íons na célula. 1.1.2.3 Aparelho de Golgi Esta é uma estrutura situada próximo ao núcleo cuja função é receber e despachar proteínas e lipídios do RE. Numa analogia com uma empresa, seria o setor responsável pela logística da célula. 1.1.2.4 Ribossomos Os ribossomos são estruturas formadas por um complexo de proteínas e moléculas de RNA que atuam na fabricação de proteínas. 1.1.2.5 Lisossomos Os lisossomos são pequenos sacos com enzimas digestivas que partici- pam de reações químicas no interior das células. O material a ser digerido Biologia Aplicada – 14 – pode vir de estruturas velhas da célula ou de origem externa, como bactérias ou substâncias estranhas à célula. 1.1.2.6 Mitocôndrias As mitocôndrias são estruturas em forma de bastonete formadas por uma membrana dupla que contém material genético em seu interior. Sua função é a produção de energia nas células. Dentro das mitocôndrias ocorre a síntese de ATP (adenosina trifosfato), que é a molécula que funciona como “combustível” de todas as células. 1.1.2.7 Vesículas de transporte São estruturas que funcionam como rotas de comunicação entre as orga- nelas do interior da célula e seu exterior. 1.1.2.8 Membrana plasmática A membrana é composta de uma camada dupla de lipídios. Essa camada é atravessada por proteínas específicas, associadas a certos tipos de lipídios e açúcares. Essas proteínas permitem a passagem de substâncias ou atuam como receptores de hormônios e outras moléculas que influenciam o funcio- namento da célula. Saiba mais É possível estudar as migrações humanas usando como pista o DNA mitocondrial. Todas as nossas mitocôndrias têm origem materna, pois, durante o processo de fecundação, o espermatozoide perde sua única mitocôndria (devido ao alto gasto energético) e somente as mitocôndrias presentes no óvulo são herdadas e passadas entre gerações. Em 1987 foi realizado o primeiro rastreamento do DNA mitocondrial humano e anunciado que a ancestral mais antiga da espécie humana veio da África há cerca de 200 mil anos; porém, novos estudos sugerem a idade de 143 mil anos. (FRANÇA, 2001; GOULART, 2009). – 15 – Introdução à Biologia Aplicada e Suas Técnicas 1.2 Microscopia óptica e eletrônica e suas aplicações A evolução da física óptica e a expansão dos campos de aplicação de microscopia nas áreas biológicas e de materiais possibilitaram o desenvolvi- mento de microscópios cada vez mais poderosos (BALDANI et al., 1998). O microscópio óptico (MO) é o tipo mais simples e mais amplamente utilizado em laboratórios. Com um poder de resolução de 0,2 μm (1 μm = 1 micrômetro, corresponde a 1 milionésimo de metro (1 × 10-6 m)), produz boas imagens num aumento de 1.000 a 1.500 vezes. Para visualização das células em um MO, uma luz brilhante passa através das lentes do condensador do micros- cópio e atravessa as células. As lentes objetivas e oculares do MO são ajustadas para fazer o foco e permitir a visualização nítida das estruturas celulares. Entre- tanto, para que possam ser observadas, as células ou os tecidos devem ser pre- parados com técnicas de fixação e coloração específicas (figura 4). (MARCHI; CASTRO, 2005). Figura 4: Microscópio Óptico.3 F on te : M A R C H I; C A ST R O , 2 0 0 5 . Plano de formação da imagem Anel de fase Placa de fase Raios difractados Raios obstruidos Objetiva Especimen Condeneador Diafragma opaco com anel transparente 3 A focalização da imagem no microscópio óptico ou de luz depende exclusivamente do feixe de luz, doajuste das lentes e do preparo correto do material Biologia Aplicada – 16 – A microscopia de fluorescência utiliza radiação ultravioleta sobre o mate- rial a ser analisado. O material emite uma luz (fluorescência) com comprimento de onda maior do que aquele ao qual foi irradiado. Corantes fluorescentes com afinidade por moléculas presentes nas células são utilizados. Um corante chamado “alaranjado de acridina”, por exemplo, quando associado ao DNA, produz luz verde-amarelada e, quando associado ao RNA, emite fluorescência vermelho-alaranjada. Existem dois tipos de microscópio eletrônico: microscópio eletrônico de transmissão (MET) e microscópio eletrônico de varredura (MEV) (figura 5). No MET um feixe de elétrons atravessa a amostra a ser analisada e bobinas magnéticas fazem o papel das lentes de vidro. O corte do material é muito fino e corado com metais pesados, que absorvem ou dispersam os elétrons. Este tipo de microscópio fornece aumento de até um milhão de vezes. Já no MEV, a amostra analisada é coberta com uma fina camada de metal pesado, mas somente sua superfície pode ser observada. O feixe de elétrons varre a superfície da amostra e a imagem se forma a partir de elétrons secundá- rios, que partem do material ao ser atingido pelo feixe de elétrons, sendo trans- formados em imagem visível em um monitor. Este microscópio é utilizado para visualização de estruturas grandes, como apêndices de insetos, ou organismos inteiros, como algas, vermes e protozoários (MARCHI; CASTRO, 2005). Figura 5: Modelos esquemáticos de funcionamento do microscópio eletrônico de transmissão (MET) e do microscópio eletrônico de varredura (MEV). F on te : A L B E R T S et a l., 2 01 1 . Canhão de elétronS MICROSCOPIA ELETRÔNICA DE TRANSMISSÃO MICROSCOPIA ELETRÔNICA DE VARREDURA Lentes do condensador Lentes objetivas Lentes objetivas Lentes do condensador De�etor do feixe Lentes do projetor Tela para visualização ou �lme fotográ�co Gerador da varredura Elétrons a partir do espécime Espécime Canhão de elétronS Tela de vídeo Detector Espécime – 17 – Introdução à Biologia Aplicada e Suas Técnicas 1.3 Técnicas de microscopia A maior parte dos tecidos dos seres vivos requer preparação para ser observada ao microscópio. Essa preparação segue três passos: fixação do mate- rial, inclusão e coloração. A fixação é realizada para que o tecido conserve suas propriedades mor- fológicas e químicas originais. Alguns fixadores, como o formaldeído, o gluta- raldeído e o líquido de Bouin são comumente utilizados em microscopia. A inclusão é a imersão do material fixado em uma substância que se torna rígida e pode ser cortada em fatias muito finas. A parafina e a resina plástica são os materiais mais usado, e a inclusão tem duas etapas: desidra- tação e clareamento. A desidratação é feita numa série crescente alcoólica (álcool 70% a 100%). Posteriormente o material é banhado em xilol e para- fina líquida dentro de uma estufa. O xilol deixa os tecidos translúcidos ou transparentes, e a parafina, quando em contato com a temperatura ambiente, solidifica-se. Por último, o bloco com o material incluso é cortado em fatias finíssimas num aparelho específico: o micrótomo. Diversos métodos de coloração foram desenvolvidos para evidenciar a composição dos tecidos e aumentar o contraste entre eles. Uma das técnicas mais comuns é a hematoxilina-eosina (HE). A hematoxilina é um corante básico de cor roxa que cora partes da célula que possuem cargas químicas negativas, por exemplo, o núcleo. Já a eosina é um corante ácido de cor rosa que colore as partes da célula com cargas químicas positivas, como o cito- plasma ou partes dos tecidos ricas em colágeno. 1.4 Técnicas de acompanhamento de células e microorganismos em cultura Existem diversas técnicas para o estudo da morfologia e composição quí- mica celular. A seguir estudaremos os princípios básicos de funcionamento da imunocitoquímica e citometria de fluxo, dois procedimentos muito utiliza- dos em laboratórios. A imunocitoquímica é mais simples e barata, enquanto a citometria de fluxo exige a utilização de um aparelho mais caro (o citômetro de fluxo) e, por isso, é menos comum. Biologia Aplicada – 18 – 1.4.1 Imunocitoquímica A imunocitoquímica é uma técnica que utiliza anticorpos marcados para identificar e localizar proteínas e glicoproteínas na célula. Anticorpos são proteínas específicas produzidas quando algum corpo estranho, chamado antígeno, entra em contato com o organismo. Os anticorpos se ligam a esses antígenos a fim de sinalizar às células de defesa do organismo que iniciem a destruição dos antígenos (JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2004). Para a realização desta técnica, um corte do tecido ou células de cultura que contenham a proteína são encubados junto do anticorpo capaz de reco- nhecê-los. Os anticorpos são marcados com corantes específicos e rastreados utilizando MO ou ME (JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2004). 1.4.2 Citometria de fluxo A citometria de fluxo é usada para determinar características estruturais e funcionais de partículas biológicas (células de tecidos diversos, bactérias, pro- tozoários etc.). As células são preparadas em uma suspensão que é aspirada pelo citômetro, o aparelho que faz a citometria. Uma câmara especial faz com que elas sejam centralizadas e envoltas num fluxo contínuo de líquido, e as células são interceptadas individualmente e em sequência por um laser. Neste momento a célula espalha uma parte da luz que recebeu, de acordo com suas características morfológicas e estruturais (tamanho e granulometria). Corantes específicos (fluorocromos) são utilizados para examinar as carac- terísticas moleculares e bioquímicas das células, e lentes localizadas próximo da zona de interceptação (célula-laser) coletam a luz dispersa, enviando-a para tubos fotomultiplicadores que convertem o sinal luminoso em pulsos elétricos, proporcionais à quantidade de luz dispersa ou fluorescente captada. Esses sinais são, então, digitalizados e interpretados por softwares especializados. Saiba mais A aplicação da citometria de fluxo é ampla na biomedicina. Na hematolo- gia é utilizada na contagem celular, fórmula leucocitária e análise da medula óssea. Na farmacologia é aplicada a estudos de resistência às drogas; na imunologia, em tipagem de tecidos e estimulação linfocitária. Em oncologia – 19 – Introdução à Biologia Aplicada e Suas Técnicas é usada na diagnose e no monitoramento do tratamento do câncer; na microbiologia é aplicada no diagnóstico bacteriano e viral e sensibili- dade a antibióticos. Oncologia: sf Med. Estudo dos tumores. Dicionário Michaelis, 2015. 1.5 Técnicas biológicas para o controle e monitoramento ambiental Além das técnicas descritas anteriormente, a cromatografia e a espectro- metria de massa e as culturas microbiológicas também são utilizadas para o estudo de células isoladas e micro-organismos. Nas próximas páginas, você encontrará informações sobre a aplicação dessas técnicas e seu princípio básico de funcionamento. 1.5.1 Cromatografia O princípio básico da cromatografia é a separação de misturas pela inte- ração diferencial de seus componentes entre uma fase estacionária (sólida ou líquida) e uma fase móvel (líquida ou gasosa). A técnica é aplicada na identi- ficação de compostos através da comparação com padrões previamente exis- tentes, na purificação de compostos e também na separação de componentes de uma mistura. Na cromatografia gasosa, todas as substâncias da mistura estão na fase gasosa. A amostra é injetada no aparelho por meio de válvulas ou microsse- ringas, e detectores reconhecem as partículas pelo processo de ionização em chama ou condutividade térmica. Um registrador,ligado a um computador, identifica as amostras de acordo com seu tempo de retenção no aparelho. Na cromatografia líquida de alta eficiência, são utilizadas fases estacio- nárias de partículas líquidas de tamanho muito pequeno. Neste caso uma bomba de alta pressão é utilizada para eluição da fase móvel. As fases móveis devem ter alto grau de pureza e não conter gases, portanto, são filtradas e Biologia Aplicada – 20 – desgaseificadas antes de entrarem no processo de separação. Detectores com capacidade de reconhecer diferentes características das substâncias são usados nessa técnica, entre eles os detectores ultravioleta, de fluorescência, de índice de refração e eletroquímicos. Eluição: sf (latelutione) Quím Dessorção provocada por um fluxo de líquido ou de gás através de um absorvente. Dicionário Michaelis, 2015. 1.5.2 Espectrometria de massa É uma técnica que permite identificar compostos químicos, quantifi- car materiais conhecidos e desvendar propriedades químicas e estruturais de moléculas. Pode ser aplicada em amostras muito pequenas e, com concentra- ções muito baixas, em misturas quimicamente complexas. No espectrofotômetro a amostra é bombardeada por um feixe de elé- trons, levando à formação de um íon molecular de alta energia. Este íon sofre fragmentação, originando íons positivos e moléculas neutras. Os íons positi- vos são acelerados por campos elétricos e magnéticos dentro de uma câmara de vácuo, de acordo com sua relação massa/carga (m/z). Quando um feixe de íons colide com o coletor de íons, origina-se uma corrente elétrica, que é amplificada e mostrada em um monitor como um pico, em que a amplitude é proporcional ao número de íons que tocam o detector. A seguir o espectrô- metro registra quantitativamente o resultado. Essa técnica tem sido usada na identificação estrutural de biomoléculas, na análise de poluentes ambientais, no sequenciamento de biopolímeros, na determinação da farmacocinética das drogas no organismo e na determinação da idade e origem de espécies. 1.5.3 Culturas microbiológicas Para a realização de culturas microbiológicas, são elaborados meios com substâncias necessárias para que esses organismos se multipliquem. Meios de – 21 – Introdução à Biologia Aplicada e Suas Técnicas cultura devem conter proteínas, açúcares, fontes de nitrogênio, vitaminas, sais inorgânicos e condições de pH, oxigênio e pressão osmótica adequados (VIEIRA; QUEIROZ, 2012). Os meios de cultura podem ser líquidos, sólidos ou semissólidos e também podem variar quanto à seletividade aos micro-organismos. A semeadura é a implantação do micro-organismo no meio de cultura. É importante que regras de laboratório sejam seguidas para evitar contaminação do meio: deve-se flambar a agulha e a alça bacteriológica antes de sua utilização; a abertura dos frascos deve ser feita somente no momento da transferência das bactérias, e isso deve ocorrer próximo à chama do bico de Bunsen, para evitar contaminação por bactérias do ar. Há diversas maneiras de fazer a transferência. Se o meio é líquido, a alça bacteriológica é esterilizada e mergulhada no líquido que contém as bactérias e inserida imediatamente no tubo de ensaio que contém o meio de cultura. Já no meio de cultura sólido, utiliza-se uma placa de Petri. Essa placa é dividida em três partes (desenha-se no fundo da placa na parte externa). A seguir, a alça bacteriológica é mergulhada na cultura de bactérias e passada nas três partes do meio de cultura, fazendo riscos levemente sobre o meio. Para a contagem de micro-organismos, uma das técnicas mais emprega- das é a contagem do número mais provável (NMP). Ela se baseia em tabelas de probabilidade, e, a partir da contagem de uma pequena amostra, é possível extrapolar o número de micro-organismos presentes. A técnica do NMP uti- liza diluições decimais da amostra em meios de cultura. Quando há produção de gás ou crescimento dos micro-organismos, o tubo é considerado positivo. A partir da combinação de resultados positivos e negativos desses tubos, é consultada a tabela do NMP que diz o número aproximado de micro-orga- nismos presentes. Resumindo O aumento crescente do conhecimento em biologia molecular e o desenvolvimento de aparelhos e técnicas para detecção de componentes quí- micos e estruturas celulares têm possibilitado a aplicação dessas técnicas em várias áreas do conhecimento. Essas áreas são tão diversas quanto a química, a farmácia, a biomedicina e a microbiologia. Biologia Aplicada – 22 – Este capítulo abordou brevemente algumas dessas técnicas, desde as mais simples e amplamente empregadas, até as mais sofisticadas, que dependem de laboratórios mais equipados. Porém, é importante ressaltar ao estudante de Gestão Ambiental que existe um enorme campo de atuação em biotecnologia e controle ambiental baseado neste conhecimento. Portanto, é muito impor- tante que aproprie-se dele para utilização futura no mercado de trabalho. Origem e Evolução das Espécies Neste capítulo você aprenderá sobre a origem e evolução da vida. A evolução é um conceito central e unificador da biologia e um dos mais influentes do pensamento ocidental. Portanto, estuda- remos como o conceito de evolução foi se modificando ao longo do tempo (lamarckismo, darwinismo e neodarwinismo). Além da definição de evolução, estudaremos como os padrões de diversidade de espécies são gerados ao longo do tempo e o mecanismo pelo qual a evolução atua para produzir os milhões de espécies existentes na Terra. Você terá conhecimento de como a árvore da vida é reconstruída e estudada pelos cientistas e de algu- mas estratégias adaptativas utilizadas pelos organismos em resposta ao ambiente em que vivem, como o mimetismo e a camuflagem. Todos os sistemas biológicos evoluem, portanto eles mudam através de gerações. Por isso, é necessário levarmos a evolução dos organismos em conta quando queremos solucionar problemas bio- lógicos, sejam eles relacionados à saúde humana ou ao equilíbrio do 2 Biologia Aplicada – 24 – meio ambiente. Por exemplo: a compreensão da evolução ajuda a desenvolver vacinas para a prevenção de doenças, antibióticos, métodos para combater pragas de insetos em plantações, bem como a entender a relação entre espé- cies num ecossistema, entre outras coisas. Objetivos de aprendizagem: 2 Compreender a origem e a evolução das células e o surgimento das células eucariontes. 2 Discutir sobre teorias evolucionistas, contextualizando as teorias abordadas ao período e filósofo evolucionista a que ela se refere. 2 Interpretar evidências da evolução biológica. 2 Entender a teoria geral da evolução e a seleção natural. 2 Exemplificar situações potenciais de extinção de espécies e meca- nismos biológicos responsáveis pela sua manutenção. 2 Compreender o papel da genética na evolução das espécies. 2.1 O caldo primordial e a hipótese do mundo do RNA As primeiras células surgiram na Terra há cerca de quatro bilhões de anos. Nesse período a superfície terrestre era composta predominantemente de água e a atmosfera era formada de amônia (NH3), metano (CH4), água (H2O), gás hidrogênio (H2) e gás carbônico (CO2). O calor do sol, a radiação ultravioleta e as descargas elétricas das tem- pestades possibilitaram que as moléculas inorgânicas presentes na água dos oceanos e lagos da Terra se combinassem, formando as primeiras molécu- las orgânicas, constituídas por carbono (C), oxigênio (O), hidrogênio (H) e nitrogênio (N). Esse cenário os cientistas chamaram de “caldo primordial”, e aceita-se que os primeiros nucleotídeos tenham surgido nessa condição. Mais especificamente, acredita-se que o RNA surgiu anteriormente ao DNA nesse caldo primordial e que o RNA possuía, nessa época, tanto a capa- cidade de guardar a informação genéticaquanto a de acelerar reações quími- – 25 – Origem e Evolução das Espécies cas nas células primitivas. Posteriormente, o DNA passou a ser o portador das informações genéticas e as proteínas começaram a atuar como catalisadores das reações químicas das células (ALBERTS et al., 2011). Nucleotídeo: substância química formada por uma base (grupo OH), um açúcar (pentose ou hexose) e um grupo fosfato (PO4). Catalisador: sm. Quím 1 Substância que provoca a catá- lise. 2 Agente que provoca ou precipita uma catálise. C. negativo, Quím: aquele que retarda a velocidade de uma reação. C. positivo, Quím: aquele que acelera a velo- cidade de uma reação. (ALBERTS et al., 2011). 2.2 A compreensão da natureza antes da teoria da evolução Existe uma estonteante diversidade de formas de vida no planeta: 1,2 milhão de espécies já foram descritas pela ciência e estima-se que ainda res- tam mais sete milhões de espécies a serem descobertas. O criacionismo era a maneira como o homem explicava essa diversidade até que teorias cien- tíficas começaram a tentar explicá-la de outra maneira. A visão criacionista do mundo propõe que as espécies foram colocadas no ambiente por um ser superior, Deus, e sempre tiveram as mesmas características que conhecemos hoje, desde a sua criação. A explicação para o surgimento da vida varia entre as diferentes religiões, mas em comum todas elas rejeitam a evolução como explicação para a diversidade da vida na Terra. Conforme a ciência foi se desenvolvendo, a noção de que a Terra está em constante modificação foi ganhando espaço. A contribuição dos estudos geológicos foi muito grande para o posterior desenvolvimento da teoria da evolução, pois, através das ideias do geólogo Charles Lyell, de que as leis da natureza são constantes e que as mudanças na Terra são lentas e graduais, a ideia de uma Terra imutável foi sendo modificada (FUTUYMA, 1992). Biologia Aplicada – 26 – Importante Antes que Darwin divulgasse suas ideias sobre a seleção natural para explicar como os organismos evoluem, todo um pensamento nesse sentido foi sendo construído por cientistas de diversas áreas. O naturalista francês Jean-Baptiste de Lamarck (1744-1829) propôs, em sua obra Philosophie zoologique (1809), que as formas de vida inferiores surgem constantemente a partir da matéria inanimada por geração espontânea. A pro- gressão das espécies segue a direção de maior complexidade e perfeição como resposta às modificações ambientais. Essas modificações levariam a mudanças de comportamento, as quais seriam capazes de afetar os órgãos dos seres vivos. Essa teoria é conhecida como “lei do uso e desuso” (FUTUYMA, 1992). Além disso, Lamarck acreditava que as modificações que ocorriam em um organismo eram passadas para as gerações futuras. O exemplo clássico do lamarckismo é o tamanho do pescoço das girafas. Segundo a visão lamar- ckista, as girafas teriam aumentado o tamanho do pescoço (“lei do uso e desuso”) para se alimentar da vegetação mais alta e teriam transmitido essa característica adquirida à próxima geração (“lei da transmissão dos caracteres adquiridos”). Hoje sabemos que isso não é possível e que nenhuma habili- dade ou modificação que ocorra num organismo é transmitida diretamente aos seus descendentes, pois os organismos evoluem através da seleção natural, um processo que estudaremos adiante. 2.3 A teoria de darwin e a seleção natural Charles Darwin (1809-1882) iniciou sua carreira como naturalista a bordo do navio Beagle em 1831. Ele começou a juntar evidências para sua teoria da evolução a partir do momento em que foi convencido pelo ornitólogo John Gould de que os tentilhões que ele havia coletado nas Ilhas Galápagos mos- travam tanta variação que, na verdade, constituíam mais do que uma espécie. A partir disso, Darwin começou a acumular mais evidências de outras espécies de animais e plantas para comprovar sua teoria. Em 1838, após ler o ensaio de Thomas Malthus sobre o crescimento populacional mundial e – 27 – Origem e Evolução das Espécies a escassez de comida, Darwin teve a ideia de que, num ambiente em que os recursos (alimento, abrigo e parceiros) são limitados, nem todos os indi- víduos conseguem sobreviver e deixar descendentes. Então ele sugeriu que as variações favoráveis, relacionadas à aptidão ao ambiente, tenderiam a ser preservadas, enquanto as variações desfavoráveis não sobreviveriam. Esta é a ideia central da evolução por meio da seleção natural. Saiba mais Para comemorar o bicentenário do nascimento de Darwin em 2009, a BBC produziu um documentário que mostra alguns dos lugares onde Darwin esteve e como ele construiu o argumento para a teoria da evolu- ção. Esse excelente documentário pode ser acessado em: <http://vimeo. com/45298522>. A figura 1 mostra o famoso ras- cunho de Darwin que ficou conhe- cido como a “árvore da vida”. Nesse desenho ele colocou o princípio da descendência com modificação. Todas as espécies compartilham um ancestral comum, que originou a vida na Terra, representado pelo número 1, na base da árvore. A árvore, considerada a primeira árvore filogenética, representa as rela- ções de ancestralidade e descendência e é formada de linhas que se bifurcam, demonstrando onde ocorreram os even- tos que transformaram uma espécie em duas outras. O momento de divisão de uma espécie em duas (ramificação de um “galho”) se chama “nó”, e os traços que representam as espécies recebem o nome de “terminais”. Figura 1: Árvore da vida de Charles Darwin.1 F on te : F O SS IL M U SE U M , 2 01 5 . 1 Demonstrando a relação de ancestralidade e descendência entre as espécies. Biologia Aplicada – 28 – Importante Vale lembrar que, na época em que Darwin publicou sua teoria, ainda não se tinha o conhecimento de que as características eram transmitidas através dos genes. A descoberta dos genes e alelos ocorreu somente muito tempo depois, com a genética moderna, que redescobriu os experimentos de Mendel (de 1856) sobre a hereditariedade. O neodarwinismo, ou teoria sintética da evolução, surgiu a partir da junção dos conhecimentos de genética às ideias de Darwin, para explicar como a evolução ocorre por meio da seleção natural. O zoólogo Ernest Mayr, o geneticista Theodosius Dobzhansky, o botânico George Ledyard e o paleontólogo George G. Simpson são os principais autores da teoria moderna da evolução. Eles estudaram os mecanismos que atuam no pro- cesso de seleção natural: a mutação, a recombinação gênica, a migração e a deriva genética. Segundo a teoria da evolução por seleção natural, os organismos evoluem através da reprodução dife- rencial; ou seja, alguns indivíduos (os mais aptos) deixam mais descendentes do que outros, levando à alteração das frequências alélicas (ou genótipo) nas populações de espécies. Indiví- duos pertencentes a essas subpopula- ções geneticamente diferentes deixam de cruzar com indivíduos do restante da população, isolando-se reproduti- vamente. Esse isolamento reprodu- tivo, ao longo de gerações, induz à formação de uma nova espécie (veja no esquema da figura 2). Figura 2: Demonstração esquemática do processo de formação de uma nova espécie. 2 Mutação Recombinação gênica Migração Deriva genética População diferenciada Novas características NOVA ESPÉCIE Alteração nos genes Alteração no fenótipo (genótipo + ambiente) Isolamento reprodutivo F on te : V iv ia ne D es la nd es , 2 01 5 . 2 Este esquema reflete como uma espécie se origina a partir da visão moderna de evolução (neodarwinismo, ou teoria sintética da evolução). – 29 – Origem e Evolução das Espécies Frequência alélica: é a proporção de cópias de um gene numa população para a qual umalelo contribui. População: um grupo de organismos da mesma espécie que ocu- pam uma região geográfica mais ou menos bem definida e exibem continuidade reprodutiva de geração à geração. Presume-se que as interações ecológicas e reprodutivas ocorrem mais entre os indiví- duos dentro de uma população do que entre membros de diferen- tes populações de uma mesma espécie. (FUTUYMA, 1992). Quando se fala em evolução, muitas pessoas associam o termo ao pro- gresso, pensando que a evolução sempre segue a linha do aperfeiçoamento. Esta é uma visão errônea, pois nem sempre as modificações que os organismos sofrem levam à melhoria. Uma característica que garante o sucesso num dado momento da história evolutiva de uma espécie pode ser desfavorável em outro momento, sob outro contexto ambiental. Um exemplo clássico é o das mari- posas de Manchester. No século XVII, a forma mais comum dessas mariposas tinha cor clara, mas no século XX, 90% da população possuía cor escura. Isso ocorreu porque, com a Revolução Industrial, os liquens das árvores morreram e as formas claras que tinham a vantagem de ficar camufladas por serem da cor dos liquens ficaram completamente visíveis nos troncos escuros, sendo facil- mente predadas. E, nessa nova circunstância, os indivíduos escuros tiveram mais vantagem, aumentando sua frequência na população. 2.3.1 Revisando o conceito de genes e alelos Para compreender como a evolução ocorre, é importante revisarmos o conceito de genes e alelos. Genes são sequências do DNA que contêm informa- ção para a produção de proteínas, enquanto os alelos são formas alternativas de um mesmo gene. Cada organismo possui um grupo particular de alelos. O que faz com que cada ser vivo seja único é a soma e combinação do seu conjunto de alelos (genótipo) somadas também às influências do ambiente (fenótipo). Em genética os alelos de um gene são representados por letras. As letras maiúsculas representam alelos dominantes, enquanto as letras minúsculas representam alelos recessivos. Quando o indivíduo apresenta duas cópias Biologia Aplicada – 30 – do mesmo gene dominante, ele é chamado homozigoto dominante, sendo representado por duas letras maiúsculas (por exemplo, AA). Se o indivíduo apresenta um alelo dominante e outro recessivo, ele é chamado de hetero- zigoto. Neste caso o genótipo apresenta letra maiúscula e minúscula (Aa). Finalmente, quando o indivíduo apresenta um gene recessivo, os dois alelos são representados por letras minúsculas (aa). Por exemplo, a característica de cor de olhos azuis é recessiva na popu- lação, ou seja, ela é representada geneticamente por (aa), ao passo que olhos escuros podem ser homozigotos dominantes (AA) ou heterozigotos (Aa), pois a cor escura (representada pelo alelo “A”) sempre é dominante sobre a cor clara. Portanto, para ter olhos azuis, a pessoa tem de ter recebido um alelo recessivo “a” do pai e outro alelo recessivo “a” da mãe, já que, para todas as nossas características, recebemos uma cópia dos alelos do pai e outra da mãe. A variabilidade das características que os indivíduos de qualquer espécie apresentam é tão grande devido a essa combinação e expressão dos alelos. Ima- gine que, para a determinação de cada característica, por exemplo, a altura, o formato dos olhos, a estrutura do cabelo etc., existem pares de alelos que intera- gem. É essa interação que gera milhões de possibilidades e a grande diversidade que observamos na natureza. A figura 3, a seguir, representa um exemplo esque- mático de alelos homozigotos e heterozigotos num cromossomo. Figura 3: Alelos homozigotos e heterozigotos.3 A A A a a a Homozigoto AA aa Homozigoto Aa Heterozigoto 3 O genótipo “AA” é homozigoto dominante para dada característica, enquanto que o genótipo “Aa” é heterozigoto e o genótipo “aa” é homozigoto recessivo. – 31 – Origem e Evolução das Espécies A frequência de alelos dominantes e recessivos numa população neutra pode ser prevista pela lei de Hardy-Weinberg. Essa lei estabelece que, em populações muito grandes e panmíticas (com cruzamentos entre indivíduos ocorrendo ao acaso), a frequência dos alelos permanece constante ao longo das gerações. A expressão da lei é dada pela fórmula: p2 + 2pq + q2 = 1, em que p2 representa a frequência de homozigotos dominantes (AA), 2pq repre- senta a frequência de heterozigotos (Aa ou aA) e p2 representa a frequência de homozigotos recessivos (aa). 2.3.2 Mecanismos evolutivos Além da seleção natural, a mutação, a deriva genética e a migração são os demais mecanismos evolutivos que fazem com que as frequências alélicas numa população sejam alteradas. Para entendermos como isso ocorre, vamos estudar especificamente cada um deles. A mutação é uma alteração na sequência de bases da fita do DNA (“A”, “T”, “C”, “G”), que ocorre no momento da divisão celular, quando o DNA precisa ser copiado para ser repassado de uma célula-mãe para sua célula-filha. Existem vários tipos de mutações, e elas podem ser neutras, vantajosas ou prejudiciais aos organismos. Importante As mutações no DNA são aleatórias, ou seja, acontecem ao acaso e não seguem nenhuma tendência, e não suprem necessidades dos organismos em que elas ocorrem. É como um jogo de dados, não há como saber de antemão qual o número que vai aparecer quando você joga o dado, certo? Somente as mutações que ocorrem em células reprodutivas (óvulos e espermatozoides) vão contribuir para a evolução, pois essas mutações serão repassadas à próxima geração. As demais mutações, que acontecem em células não reprodutivas, por exemplo, o tecido sanguíneo, ósseo, nervoso etc., não levarão à evolução de novas espécies. Biologia Aplicada – 32 – Você sabia A anemia falciforme é uma doença genética e hereditária causada pela alteração das hemácias (glóbulos vermelhos do sangue), cuja função é carregar o oxigênio aos tecidos. As hemácias perdem sua forma arre- dondada e ficam com formato de foice. Isso dificulta a passagem delas pelos vasos sanguíneos mais finos e impede a oxigenação adequada dos tecidos. Entretanto, a anemia falciforme pode ser uma mutação vantajosa dependendo do local onde vive a pessoa infectada. Os por- tadores dessa doença que vivem em locais com incidência de malária apresentam resistência a ela. A malária é uma doença causada por um protozoário que se reproduz dentro das hemácias. A modificação das hemácias, causada pela anemia falciforme, não permite a multiplicação do protozoário em seu interior, impedindo o desenvolvimento da malá- ria. Dessa forma, uma mutação que é prejudicial torna-se vantajosa para a sobrevivência do indivíduo. (DR. DRAUZIO VARELLA, 2015). A recombinação gênica ocorre durante a reprodução, quando os cro- mossomos de origem materna e paterna se aproximam e trocam pequenos fragmentos. O entrecruzamento de partes dos diferentes cromossomos gera novas combinações de sequência de DNA e garante uma grande variabilidade genética. Todos os organismos que fazem reprodução sexuada realizam cros- sing over. Mais do que a mutação, a recombinação gênica é a responsável pela grande diversidade que conhecemos na natu- reza e a variação enorme entre indiví- duos de uma mesma espécie. A seguir, a figura 4 demonstra o crossing over. A deriva genética é a alteração nas fre- quências alélicas numa patemo DNA Crossing over matemo F on te : B IO L O G IA E E C O L O G IA , 2 0 0 9 . Figura 4: Cromossomos trocando segmentos do DNA. – 33 – Origem e Evolução das Espécies população que ocorre ao acaso. Alguns indivíduos da população podem dei- xar mais descendentes do que outros, não por serem mais aptos, mas simples- mente por uma questão de “sorte”. Alterações drásticas no ambiente, como grandes desmatamentos, inundações,incêndios, terremotos etc., podem ocasionar a morte de muitos indivíduos numa população e somente os que sobreviverem (por sorte) vão deixar descendentes. Uma das consequências da deriva genética é que, em populações muito pequenas, pode ocorrer cruzamento entre indivíduos aparentados (endocruzamento), levando à diminuição da variabilidade genética, o que é conhecido como depressão endogâmica. Por exemplo: os elefantes-marinhos- do-norte tiveram sua população reduzida drasticamente pela caça e em 1890 chegaram a somente 20 indivíduos. Na década de 1990, sua população foi estimada em 30.000 indivíduos. Entretanto, quando comparada à população de elefantes-marinhos-do-sul, os elefantes-marinhos-do-norte possuem pouca variabilidade genética devido à depressão endogâmica que a espécie enfrentou no passado. Além da baixa variabilidade genética, o cruzamento entre parentes pode ocasionar o aparecimento de doenças genéticas ocultas nos genes, levando a população à extinção. Por isso, populações de espécies que necessitam de grandes áreas para viver, como felinos, aves de rapina, antas, entre outros, sofrem grande perigo com a perda de hábitat. A perda de hábitat, ocasio- nada principalmente pelo desmatamento desenfreado, causa a diminuição da população das espécies e, consequentemente, leva ao endocruzamento, podendo, com o passar do tempo, ocasionar a extinção dessas espécies. A migração, no contexto evolutivo, é a movimentação de alelos entre populações. Assim, qualquer fator que ocasione a passagem de alelos de uma população para outra pode ser considerado migração. Entre os exemplos de migração, estão: um pólen sendo carregado de um ambiente a outro, aves voando grandes distâncias para acasalar, imigrantes colonizando novas terras, transporte de semente por animais, vento ou água etc. A migração também é considerada um mecanismo evolutivo porque a entrada ou saída de um grupo de indivíduos pode afetar a composição genética da população. As conse- quências da migração dependem do número de migrantes e da composição genética (alelos) dos indivíduos que entram e saem da população. A figura 5 demonstra um esquema de migração. Biologia Aplicada – 34 – Figura 5: esquema de migração. 4 Resulta em um aumento na frequência de genes marrons Im ig ra çã o 4 A imigração de besouros marrons para a população heterozigota, que contém alelos verdes e marrons, aumentará a frequência de alelos da cor marrom. Fonte: INSTITUTO DE BIOCIÊNCIAS DA USP, 2015. 2.4 Respostas à seleção natural Para sobreviver e deixar descendentes, os organismos precisam estar bem adaptados ao meio em que vivem. Existem diversos tipos de adaptação: ana- tômica, fisiológica, morfológica e comportamental. Todas elas são respostas dos organismos à pressão de seleção natural. Entretanto, para que uma carac- terística ou um comportamento seja considerado uma adaptação, é necessário que ele seja herdável. Há diversos exemplos bem conhecidos de adaptações evolutivas. Por exemplo, os ursos polares desenvolveram adaptações para sobreviverem ao clima extremamente frio. Eles possuem pelagem grossa para diminuir a perda de calor (adaptação anatômica), grande quantidade de gordura corporal para ajudar a manter a temperatura elevada (adaptação fisiológica) e hibernam durante o inverno, quando a temperatura é ainda mais fria e eles necessitam diminuir o metabolismo para evitar o gasto de energia (adaptação comportamental). – 35 – Origem e Evolução das Espécies Outros exemplos de adaptações fisiológicas são o estado de torpor dos beija-flores e a capacidade de alguns insetos e peixes de produzir substâncias anticongelantes nos fluidos corporais. O torpor é um estado de dormência em que o metabolismo é diminuído ao extremo para economizar energia. Essa adaptação fisiológica compensa o grande gasto energético do batimento de asas dos beija-flores. Já nos peixes, existem proteínas no sangue que per- mitem que eles não congelem quando as temperaturas caem a valores muito abaixo de zero. Os insetos de climas extremamente frios também evitam o congelamento produzindo glicerol em seus fluidos. O glicerol é um tipo de álcool que funciona como anticongelante, pois só congela a uma temperatura de 260 graus negativos. Importante O A camuflagem, ou cripsis, é uma adaptação desenvolvida para evitar a predação. Ela consiste em confundir visualmente o predador utilizando padrões de cor e forma semelhantes aos do meio em que o organismo vive. A camuflagem é resultado da pressão de sele- ção natural que fez com que esses organismos desenvolvessem essas características ao longo da história evolutiva da espécie. Existem vários exemplos fantásticos de camuflagem em invertebrados (mariposas, gafanhotos, lagartas de mariposas, bicho-pau), mas mesmo os ver- tebrados como peixes, aves e mamí- feros podem apresentar padrões de cores que os tornam quase imper- ceptíveis no ambiente. Veja um exemplo a seguir, na figura 6. Já o mimetismo envolve a imi- tação de um padrão de outro animal, buscando da mesma forma afastar os predadores. Quando o animal simula o padrão de coloração de outra espécie venenosa ou impala- tável (de gosto ruim), o mimetismo é chamado de batesiano, em home- F on te : S H U T T E R ST O C K , 2 01 5 . Figura 6: Camuflagem.5 5 Mariposa com coloração semelhante ao tronco da árvore, um exemplo de camuflagem. Biologia Aplicada – 36 – nagem a Henri Bates, naturalista que descreveu o fenômeno em borboletas amazônicas. Mesmo que os animais miméticos não tenham veneno capaz de matar o predador ou gosto ruim, o aprendizado de seu padrão de coloração (idêntico ao do animal venenoso ou impalatável) faz com que o predador os evite, garantindo, assim, uma sobrevivência maior aos animais miméticos. A diferença entre o mimetismo batesiano e mulleriano é que, no mimetismo mulleriano, a espécie mimética (que imita a outra) também é impalatável. Resumindo Neste capítulo você estudou a origem e evolução da vida. A vida se origi- nou há cerca de quatro bilhões de anos, nos mares e lagos da Terra primitiva, e todas as espécies descendem de um ancestral comum, essa primeira célula. Ao longo do texto, abordamos o que é evolução e como este processo produziu a diversidade estonteante de formas de vida existentes hoje e quais os meca- nismos evolutivos que garantem a continuidade do processo de diversificação das espécies por meio da seleção natural. Além disso, você conheceu algumas estratégias adaptativas que permi- tem aos animais sobreviverem em seu ambiente, como a pelagem grossa dos ursos polares, as substâncias anticongelantes de alguns insetos e peixes, o mimetismo e a camuflagem de alguns invertebrados e vertebrados. O objetivo deste capítulo é que você compreenda a intrincada relação entre os seres vivos, que é fruto de milhões de anos de evolução conjunta. Entender onde nos situamos na teia da vida é muito importante para que possamos respeitar o ambiente em que vivemos e ajudar a desenvolver meios para proteger e preservar a intrincada relação entre todas as espécies. Biologia Vegetal Neste capítulo você conhecerá a célula vegetal, suas estru- turas e reações bioquímicas básicas. Terá oportunidade de aumentar seu conhecimento sobre a estrutura e função de organelas típicas das células vegetais: os plastídios, a parede celular e o vacúolo. Ao final do capítulo, o objetivo é que você compreenda como ocorre o fluxo energético na célula vegetal e a distribuição de água e nutrientes aos tecidos vegetais. Estudaremos as reações químicas fundamentais para a manutenção da vida das plantas, como as rea- ções de oxidação, redução e hidrólise, a respiração celular, a glicólise e a fotossíntese. É importante conhecer estes assuntos para enten- dera importância das plantas para o equilíbrio dos ecossistemas e a manutenção da qualidade de vida do homem. 3 Biologia Aplicada – 38 – Objetivos de aprendizagem: 2 Compreender a célula vegetal e o ciclo celular. 2 Identificar o movimento de entrada e saída de moléculas nas células vegetais. 2 Avaliar o fluxo de energia e sua relação com os processos de respi- ração e fotossíntese. 2 Definir o processo de quimiossíntese. 3.1 A célula vegetal e suas estruturas específicas As células vegetais são células eucariontes, ou seja, possuem um núcleo que separa o DNA do restante do citoplasma. A figura 1 apresenta uma foto e um desenho esquemático que evidencia algumas estruturas da célula vegetal que estudaremos adiante. Figura 1: Esquema das estruturas da célula vegetal.1 CLOROPASTOS NÚCLEO NÚCLÉOLO PAREDE CELULAR PLASMODESMAS RETÍCULO ENDOPLASMÁTICO GRÃOS DE AMIDO MITOCÔNDRIA 0,25 um 0,25 um 1 À esquerda, um corte da folha do milho (Zeamays) mostrando uma célula vegetal; à direita, o desenho esquemático nomeando suas estruturas. O núcleo, que contém o material genético (DNA), é mostrado em rosa à direita no desenho. Fonte: RAVEN; EVERT; EICHHORN, 1996. – 39 – Biologia Vegetal A célula vegetal é formada por uma parede celular e um protoplasto, que é constituído pelo citoplasma e núcleo. No citoplasma estão distribuídas algumas estruturas comuns à célula animal: membrana plasmática, mitocôndrias, retí- culo endoplasmático, aparelho de Golgi, ribossomos e lisossomos. Além dessas estruturas, o citoplasma da célula vegetal contém também estruturas específi- cas: plastídios e vacúolo. A organização anatômica da célula vegetal é bem definida: a parede celular é a camada mais externa, seguida pela membrana plasmática e o protoplasto (que abriga todas as estruturas da célula). A membrana plasmática seleciona as substâncias que entram e saem da célula, produz a parede celular e traduz sinais hormonais do ambiente envolvidos no controle do crescimento e na diferen- ciação celular. 3.1.1 Parede celular A parede celular é extremamente importante para a célula vegetal e deter- mina a maneira diferenciada como ocorrerão processos vitais para a sobrevi- vência, como a divisão celular e a movimentação de substâncias pela célula (ALBERTS et al., 2011). Ela contém proteínas que participam de reações quí- micas de transporte (enzimas), absorção e secreção de substâncias. Além disso, pode participar da atividade digestiva da célula (fazendo o papel dos lisosso- mos) e também auxilia na proteção contra a entrada de bactérias e fungos que causam doenças nas plantas. A celulose é o principal componente químico da parede celular. Ela é composta de várias moléculas de glicose associadas, formando uma grande cadeia. Elas se organizam constituindo estruturas similares às fibras, chamadas microfibrilas. Estas se enrolam como fios dentro de um cabo, formando as macrofibrilas. Essa estrutura pode ser visualizada na figura 2. No meio dessas macrofibrilas de celulose, ficam espalhadas outras substâncias, como a lignina, a cutina, a suberina e cerina. Lignina: um dos constituintes mais importantes da parede secundária das plantas vasculares. Depois da celu- lose, a lignina é o polímero vegetal mais abundante. Biologia Aplicada – 40 – Cutina: do latim cutis, que significa “pele”. Substância lipídica depositada em paredes celulares de muitas plantas e na superfície da parede externa de células epidérmicas, onde forma uma camada conhecida como cutícula. Suberina: do latim suber, é a cortiça do carvalho. Material lipídico encontrado nas paredes celulares do caule das plantas vasculares. Cerina: substância lipídica com função protetora nas plantas. (RAVEN; EVERT; EICHHORN, 1996). Cada uma dessas substâncias presentes na parede celular confere caracte- rísticas importantes para a célula e, de acordo com a produção delas, a célula se especializa em alguma função. Por exemplo: a parede celular do tecido epidér- mico da planta (o mais externo) é rica em cerina, cuja função é impermeabilizar as folhas e os galhos, evitando a entrada de água na planta. Já as células dos troncos das plantas têm a parede celular rica em lignina, que fornece a rigidez necessária a essa estrutura. Figura 2: Estrutura da parede celular.2 Pontuação (a) (b) (c) Lamela média MACROFI- BRILA MACROFI- BRILA MOLÉCULA DE CELULOSE Parede secundária construida por três camadas Parede primária 2 (a), porção que mostra a junção de duas células, evidenciando as camadas da parede celular, separadas pela lamela média; (b) macrofibrilas da parede secundária; (c) detalhe de como as moléculas de celulose se organizam em microfibrilas. Fonte: ALBERTS et al., 2011. – 41 – Biologia Vegetal A parede celular é formada por várias camadas, e sua espessura depende da idade da célula e do tecido que ela forma na planta, ou seja, de sua função específica. A camada mais interna é chamada parede primária e é separada da parede secundária por outra camada, a lamela média. A parede celular primária é formada antes e durante o crescimento celular e é composta de celulose, hemicelulose, pectinas, enzimas e glicopro- teínas. As células vegetais que apresentam somente parede celular primária são capazes de se diferenciar em outros tipos de tecido, exercendo funções variadas na planta. Frequentemente, células que apresentam somente parede primária estão envolvidas no processo de cicatrização de tecidos e regeneração nas plantas. A parede celular secundária é desenvolvida em células com função de sustentação e transporte de água. Ela é constituída somente de celulose e hemicelulose e é bem mais rígida que a parede primária. 3.1.2 Plastídios Os plastídios são as estruturas celulares localizadas dentro do protoplasto da célula vegetal que armazenam pigmentos variados. Quando armazenam clorofila, são chamados de cloroplastos, e sua função é realizar as reações quí- micas da fotossíntese. O cloroplasto pos- sui duas membranas, uma externa e outra interna, e várias vesículas membranosas achatadas, empilhadas umas nas outras, formando uma estrutura semelhante a uma pilha de moedas. O conjunto dessa pilha de membranas chama-se granum, e cada membrana recebe o nome de tilacoide. As membranas tila- coides têm em seu interior o pigmento clorofila, que parti- Figura 3: Esquema de um cloroplasto. Membrana interna Tilacóides Espaço Intramembranar Granum Lamela Extroma Membrana externa Fonte: SÓ BIOLOGIA, 2015. Biologia Aplicada – 42 – cipa das reações de fotossíntese. Envolvendo toda essa pilha de membranas do cloroplasto, há um líquido denominado estroma. A figura 3 mostra as estrutu- ras internas de um cloroplasto. Os cloroplastos e as mitocôndrias são as únicas estruturas celulares que apresentam DNA, além do núcleo. O seu surgimento é explicado pela teoria do endossimbionte, que sugere que as bactérias primitivas precursoras dos clo- roplastos e das mitocôndrias foram assimiladas pelas células vegetais primitivas que não tinham capacidade de realizar fotossíntese, passando a viver em sim- biose com elas. Por isso, tanto os cloroplastos como as mitocôndrias têm mem- branas duplas: uma da bactéria primitiva e outra derivada da própria mem- brana da célula que englobou a bactéria. A figura 4 demonstra este processo. Figura4: bactéria primitiva fotossintetizante.3 Núcleo Mitocondria Bactéria com capacidade de realizar fotossíntese Bactéria sendo englobada pela célula Bactéria fotossintética no interior da célula Cloropastoscom membrana dupla 3 Esquema ilustrando como uma bactéria primitiva fotossintetizante foi englobada pela célula primitiva, tornando-se um cloroplasto. No desenho, as mitocôndrias já são mostradas no interior da célula. Fonte: ALBERTS et al., 2011. Simbiose: é uma associação entre dois organismos inde- pendentes que pode ou não resultar em benefício para cada um. (RAVEN; EVERT; EICHHORN, 1996). – 43 – Biologia Vegetal 3.1.3 Vacúolos Os vacúolos são regiões dentro da célula separadas por uma membrana e que contêm em seu interior um líquido chamado suco celular. A célula vegetal pode apresentar vários vacúolos ou eles podem se fundir, formando um único e grande vacúolo. O vacúolo ocupa 90% do volume de uma célula madura. Em geral, o suco celular dos vacúolos contém água, açúcares, sais minerais e proteínas. A composição do suco celular também varia de acordo com a função da célula vegetal. Além disso, o vacúolo armazena as proteínas das sementes e também alcaloides das plantas. Por exemplo: a nicotina presente no fumo fica loca- lizada dentro do vacúolo das células, e o gosto azedo que sentimos quando ingerimos frutas cítricas também vem de substâncias presentes no vacúolo. Outra função desempenhada por esta estrutura é a degradação de substâncias e estruturas velhas da célula, ou seja, fazem a mesma função dos lisossomos das células animais. Você sabia No outono, nas regiões temperadas, as folhas de algumas árvores mudam de cor, tornando-se amareladas, alaranjadas e avermelhadas até caírem conforme o inverno se aproxima. A antocianina é o pigmento responsável por este fenômeno. Ela fica armazenada no vacúolo das folhas e se forma em resposta ao tempo frio e ensolarado. Nessa época as folhas não fabricam mais a clorofila e, enquanto a clorofila vai aos poucos sendo degradada, a coloração avermelhada da antocianina fica evidente nas folhas. Esse processo de perda foliar ocorre para que a planta economize energia durante o inverno extremamente frio. Alcaloide: s.m. Substância orgânica que, por suas propriedades, lembra os álcalis. (Numerosos alcaloides como a morfina, a estricnina, a atropina e outros têm propriedades terapêuticas.) (DICIONÁRIO ONLINE DE PORTUGUÊS, 2015). Biologia Aplicada – 44 – 3.2 Ciclo celular da célula vegetal Ciclo celular é o nome dado à sequência de eventos que ocorrem numa célula que se divide. Cada fase do ciclo tem duração definida e é marcada por eventos específicos. As células autossômicas são aquelas que formam diversos tecidos das plantas, com exceção das células sexuais. Elas se originam a partir de outras células, também autossômicas, por um processo de divisão celular chamado mitose. O ciclo celular de uma célula autossômica tem duas fases: interfase e mitose. A interfase é o período no qual a célula não está em processo de divisão celular. Este período é dividido em três fases: G1, S e G2. Na fase G1, ocorre a multiplicação de várias estruturas celulares. Durante a fase S, o DNA se duplica, e, na fase G2, formam-se as fibras do fuso, estruturas celulares específicas que vão orientar a divisão celular. A mitose é caracterizada por seis fases: prófase, prometáfase, metáfase, anáfase, telófase e citocinese. Durante a prófase, os cromossomos do núcleo da célula, que consistem de duas cromátides irmãs, condensam-se. Nesta fase também aparecem os centrossomos, estruturas localizadas nos polos das células, cuja função é orientar a divisão dos cromossomos junto com as fibras do fuso. Na prometáfase, a membrana do núcleo da célula é rompida e os cro- mossomos se ligam às fibras do fuso mitótico. A metáfase é caracterizada pelo posicionamento dos cromossomos no meio da célula (exatamente entre os dois polos da célula). Na anáfase, as cromátides irmãs dos cromossomos são separadas e cada uma é puxada para um polo da célula pelas fibras do fuso. Estas fibras se encurtam, e a célula se alonga, ajudando a distanciar as cromátides uma da outra e localizá-las nos polos opostos da célula. Durante a telófase, uma nova membrana é formada para envolver os dois conjuntos de cromossomos que chegaram aos polos, originando dois núcleos, e o cito- plasma começa e se dividir. A figura 5 demonstra as cinco primeiras fases da mitose. – 45 – Biologia Vegetal Figura 5: As cinco primeiras fases da mitose.4 F on te : A L B E R T S et . a l., 2 01 1 . 4 Os cromossomos são mostrados em rosa, e as fibras do fuso em verde. A citocinese (rompimento da célula em duas células-filhas) ocorre de maneira diferente na célula animal e na vegetal. Na célula vegetal, a divisão ocorre de dentro para fora, devido à formação da parede celular, enquanto na célula animal ela se dá de fora para dentro. A citocinese da célula vegetal pode ser observada na figura 6. Figura 6: Citocinese célula vegetal. 5 F on te : A L B E R T S et a l., 2 01 1 . Vesículas derivadas do aparelho de Golgi Nova parede celular completa 50 um FragmaplastoParede celular original Microtúbulos do fragmapasto Nova parede celular em formação Membrana plasmática Telófase Citocinese G1(B) (C) (D) (A) 5 A parede celular é depositada antes do rompimento da célula. (A) Telófase; (B) citocinese; (C) duas células-filhas na primeira fase da interfase, com a nova parede celular formada; (D) fotomicrografia de uma célula vegetal em citocinese. Biologia Aplicada – 46 – 3.3 Movimentação de água na célula vegetal A água se movimenta dentro dos organismos vivos através de fluxo de massa, difusão e osmose. O fluxo de massa é a movimentação que ocorre devido à diferença de energia potencial da água. Um exemplo de movimen- tação por fluxo de massa é o que ocorre em uma hidrelétrica. O reservatório que fica na parte mais alta armazena energia e, quando a água desce, ela aciona turbinas que transformam energia mecânica em energia elétrica. A água vai sempre da região de maior potencial hídrico para a de menor poten- cial hídrico. Essa é uma propriedade extremamente importante para a fisiolo- gia vegetal e que está envolvida no processo de absorção de água pelas raízes das plantas (RAVEN; EVERT; EICHHORN, 1996). A difusão é a movimentação das moléculas da região onde elas estão mais concentradas para onde estão menos concentradas. Quando substâncias se movem seguindo a direção de menor concentração, dizemos que elas estão a favor do gradiente de concentração. A molécula de água é muito pequena e possui propriedades químicas como a polaridade, que faz com que passe facilmente pela membrana das células pelo processo de difusão (ALBERTS et al., 2011). A figura 7 ilustra este exemplo. Figura 7: Difusão da Água.6 F on te : R A C H A C U C A , 2 01 5 . Alta concentração Baixa concentração 6 Moléculas de água atravessando a membrana celular pelo processo de difusão. A difusão ocorre a favor do gradiente de concentração, ou seja, do local mais concentrado para o menos concentrado. – 47 – Biologia Vegetal As membranas celulares deixam a água passar livremente por elas, mas são seletivas quanto à entrada de outras substâncias. Quando uma substância é dissolvida em água, ela é chamada de soluto, enquanto que a água recebe o nome de solvente. Na osmose, a água passa de uma solução mais diluída, que contém menos soluto e mais água (denominada meio hipotônico) para uma solução mais concentrada, que contém mais soluto e menos água (chamada de meio hipertônico). A osmose é um transporte passivo que não gasta ener- gia da célula. A figura 8 demonstra como ocorre este fenômeno. Figura 8: Osmose.7 F on te : C A N A L D O E D U C A D O R , 2 01 5 . Osmose Meio HipnóticoSolvente Soluto Meio Hipertónico 7 A osmose ocorre na presença de uma membrana semipermeável (representada em amarelo no desenho). A membrana deixa passar apenas o solvente (água, representada pelas bolas azuis), enquanto o soluto (representado pelas bolas vermelhas) é incapaz de atravessar a membrana. Nas plantas a osmose ocorre no processo de transporte de seiva pelos vasos condutores e também para a manutenção da forma (esqueleto hídrico) e dos movimentos da planta. Um exemplo é a absorção de água pela raiz das plantas e sua distribuição até as partes mais altas. Ela ocorre devido à pressão osmótica, pois a raiz é hipertônica em relação ao solo, absorvendo a água deste através da osmose. Outro exemplo é quando colocamos alface numa Biologia Aplicada – 48 – solução com vinagre. Depois de um tempo, se observamos a alface, veremos que ela murchou. Isso ocorre porque a água sai da folha da alface (meio hipo- tônico) para a solução de vinagre (meio hipertônico). 3.4 Fluxo energético na célula A vida depende da energia proveniente do Sol. A maior parte da ener- gia solar que chega à Terra é refletida e volta ao espaço (99%). O restante (1%) é assimilado pelas plantas e outros organismos fotossintetizantes e transformado em outros tipos de energia que suprem todas as necessidades biológicas dos seres vivos (RAVEN; EVERT; EICHHORN, 1996). A ter- modinâmica é a ciência que estuda as trocas de energia. Para compreender- mos como a energia é transformada pelos seres vivos, precisamos entender as leis da termodinâmica. Importante A primeira lei da termodinâmica diz: “a energia pode ser transformada de uma forma em outra, mas não pode ser criada nem destruída”. Assim, a energia luminosa pode ser transformada em energia química (fotossín- tese), a energia elétrica em energia luminosa (acendimento de uma lâm- pada), a energia mecânica em energia elétrica (produção de energia em hidrelétrica) etc. Já a segunda lei estabelece que “em todas as trocas de energia, se nenhuma energia entra ou sai do sistema em estudo, a energia do estado final é sempre menor do que a do estado inicial”. Nas reações químicas, quando acontece liberação de energia, a energia da reação final é menor do que a da inicial. Neste caso a reação é exotérmica (exo = “fora”) e ela libera calor. Ao contrário, quando a reação precisa de energia do meio externo para ocorrer, o estado final tem mais energia que o inicial, pois foi absorvida energia do meio para realizar a reação. Neste caso, a reação é chamada de endotérmica (endo = “dentro”). Esses conceitos são essenciais para entender as principais reações químicas que ocorrem nas células. Por exemplo: as reações da respiração celular que ocorrem nas mitocôndrias, as reações da fotossíntese, as reações de fixação de nitrogênio pelas plantas, entre outras. – 49 – Biologia Vegetal 3.4.1 Reações químicas: oxirredução e hidrólise As reações químicas ocorrem através de ligações químicas entre as subs- tâncias e envolvem essencialmente a perda e o ganho de elétrons. Quando uma substância perde elétrons, ela sofre oxidação; quando ganha elétrons, sofre redução. A oxidação e a redução ocorrem ao mesmo tempo numa reação química, pois o elétron que é perdido por um íon é recebido por outro. Por isso, essas reações são chamadas de reações de oxirredução, ou reações redox. A oxidação da glicose, descrita a seguir, é um exemplo de reação de oxirredu- ção exotérmica, em que há a liberação de energia ao final da reação. É dessa forma nossas células obtêm energia dos alimentos. C6H12O6 + O2 ⇒ 6CO2(g) + 6H20 + energia glicose + oxigênio ⇒ gás carbônico + água + energia Já a fotossíntese é um exemplo de reação química endotérmica, uma vez que a energia é absorvida dos raios solares para transformar o gás carbônico do ar e a água proveniente do solo em glicose nas folhas das plantas. A seguir, é demonstrada a reação da fotossíntese. C6CO2(g) + 6H2O + energia ⇒ 6C6H12O6 + 6CO2(g) gás carbônico + água + energia luminosa ⇒ glicose + gás oxigênio A hidrólise é um tipo de reação química em que ocorre a decomposição de uma molécula ou íon pela água. Entretanto, a água sozinha dificilmente realiza uma hidrólise completa e, frequentemente, as reações de hidrólise envolvem a presença de um catalisador, por exemplo, os álcalis, os ácidos e as enzimas. A seguir, é mostrado um exemplo de reação de hidrólise. KCN + H2O + energia ⇒ HCN + KOH sal + água ⇒ ácido + base 3.5 Respiração celular e glicólise As mitocôndrias, tanto das células animais quanto das vegetais, são as estruturas onde ocorre a respiração celular. A função da respiração celular é a produção de moléculas de ATP (adenosina-trifosfato), que armazenam a energia para ser gasta instantaneamente pela célula. Biologia Aplicada – 50 – A glicólise é a degradação de moléculas de glicose que produz ATP, sem a participação da molécula de oxigênio. Ela ocorre no citoplasma das células e gera duas moléculas de ATP a partir de uma molécula de glicose (C6H12O6). O processo completo envolve dez reações químicas catalisadas por enzimas espe- cíficas, nas quais açúcares intermediários vão sendo produzidos (ALBERTS et al., 2011). A figura 9 ilustra resumidamente esta série de reações. Entretanto, a maior produção de ATP ocorre no interior das mitocôndrias, com consumo de oxigênio, no chamado ciclo de Krebs (ou ciclo do ácido cítrico). Figura 9: As dez etapas da glicólise. 8 Fo nt e: A L B E R T S et a l., 2 01 1 . ATP ATP ATP ATP ATP ATP NADHNADH Investimento de energia a ser recuperado mais tarde Uma molécuda de glicose HO OH OH O OH OH2CH HO OH CHO CHOHCHOH CHO COO C O COO OH OC2OH O2CH O2CHO2CH C O 3CH 3CH Etapa 1 Etapa 2 Etapa 3 Etapa 4 Etapa 5 Etapa 6 Etapa 7 Etapa 8 Etapa 9 Etapa 10 Frutose 1,6-bifosfato Duas moléculas de gliceraldeído 3-fosfato Duas moléculas de piruvato P P P P Clivagem do açúcar de seis carbonos de dois açúcares de três carbonos Geração de energía 8 Duas moléculas de ATP são utilizadas nas reações iniciais para transformar a glicose em frutose 1,6-bifosfato. Este açúcar é quebrado em duas moléculas de gliceraldeído 3-fosfato. Ao final da décima etapa, são produzidas quatro moléculas de ATP e duas moléculas de piruvato. Entretanto, o saldo final de ATP é de duas moléculas, uma vez que duas foram gastas nas etapas iniciais. – 51 – Biologia Vegetal As mitocôndrias utilizam o piruvato e ácidos graxos como combustíveis. O piruvato é originado de carboidratos (glicose e outros açúcares); e os ácidos graxos, das gorduras. Essas moléculas são transportadas para a membrana da mitocôndria e transformadas por enzimas em acetil-CoA. No interior da mitocôndria, o acetil-CoA é oxidado e gera como subprodutos gás carbônico e água. A energia das moléculas de carboidratos e de gorduras é armazenada em duas moléculas: NADH e FADH2. Posteriormente, essas moléculas são então oxidadas (perdem elétrons); e, com isso, formam-se, ao final de todas as reações, 30 moléculas de ATP (ALBERTS et al., 2011). A eficiência da conversão de energia desta série de reações chega a 40%, muito maior que qualquer máquina inventada pelo homem. Por exemplo, a eficiência energé- tica de motores elétricos e a gasolina chega a, no máximo, 20%. 3.6 Fotossíntese e quimiossìntese A fotossíntese é um conjunto de reações químicas que ocorre nas plan- tas, algas e cianobactérias para a geração de energia. A energia luminosa, o gás carbônico e a água são transformados ao final de uma série de reações em gás oxigênio e moléculas de glicose (OLIVEIRA, 2003). Essas reações podem ser divididas em duas fases: fase clara e fase escura.
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