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61 Introdução aos conceitos de Sustentabilidade e Gestão Ambiental Prof. Naureli Marques Santo Ângelo 2018 Palavrados do Professor: Os cursos da Escola Técnica presidente Getúlio Vargas, pretendem oferece ao aluno um conjunto de disciplinas de formação geral que poderá contribuir para o 61 aprimoramento da formação profissional. Os cursos propõem-se a desenvolver não só competências técnicas, mas também habilidades que lhes possibilitem estabelecer relações harmoniosas e produtivas com todas as pessoas, que os tornem capazes de construir seus sonhos e metas, ou seja uma preparação para a vida, além de buscar as condições para realizá-los no âmbito profissional, social e familiar. A proposta curricular tem a intenção de fortalecer, além das competências técnicas, outras habilidades: 1) Comunicabilidade – capacidade de expressão (oral e escrita) de conceitos, ideias e emoções de forma clara, coerente e adequada ao contexto; 2) Trabalho em equipe – capacidade de levar o seu grupo a atingir os objetivos propostos; 3) Solução de problemas – capacidade de analisar situações, relacionar informações e resolver problemas; 4) Visão de futuro – capacidade de planejar, prever possibilidades e alternativas; 5) Cidadania – capacidade de defender direitos de interesse coletivo. Cada competência é composta por um conjunto de habilidades que serão desenvolvidas durante o ano letivo, por meio de todas as disciplinas do curso. Para finalizar, ao integrar o ser, o pensar e o fazer, os cursos ajudam os jovens a desenvolver competências para um bom desempenho profissional e, acima de tudo, a dar sentido à sua própria vida. Dessa forma, esperam contribuir para que eles tenham melhores condições para assumir uma postura ética, colaborativa e empreendedora em ambientes instáveis como os de hoje, sujeitos a constantes transformações. Meio ambiente... O que é que nós temos a ver com isso? Antes de iniciarmos o estudo deste material, há dois pontos que merecem destaque: a relação entre o processo produtivo e o meio ambiente; e a questão da saúde e segurança no trabalho. As indústrias e os negócios são a base da economia moderna. Produzem os bens e serviços necessários e dão acesso a emprego e renda; mas, para atender a essas necessidades, precisam usar recursos matérias-primas. Os impactos no meio ambiente muito frequentemente decorrem do tipo de indústria existente no local, do que ela produz e, principalmente, de como produz. O uso indiscriminado dos recursos naturais e a contínua acumulação de lixo mostram a falha básica de nosso sistema produtivo: ele opera em linha reta. Extraem-se as matérias-primas através de processos de produção desperdiçadores e que produzem subprodutos tóxicos. Fabricam-se produtos de utilidade limitada que, finalmente, viram lixo, o qual se acumula nos aterros. Produzir, consumir e dispensar bens desta forma, obviamente, não é sustentável. 61 Enquanto os resíduos naturais (que não podem, propriamente, ser chamados de “lixo”) são absorvidos e reaproveitados pela natureza, a maioria dos resíduos deixados pelas indústrias não tem aproveitamento para qualquer espécie de organismo vivo e, para alguns, pode até ser fatal. O meio ambiente pode absorver resíduos, redistribuí-los e transformá-los. Mas, da mesma forma que a Terra possui uma capacidade limitada de produzir recursos renováveis, sua capacidade de receber resíduos também é restrita, e a de receber resíduos tóxicos praticamente não existe. Ganha força, atualmente, a ideia de que as empresas devem ter procedimentos éticos que considerem a preservação do ambiente como uma parte de sua missão. Isto quer dizer que se devem adotar práticas que incluam tal preocupação, introduzindo processos que reduzam o uso de matérias-primas e energia, diminuam os resíduos e impeçam a poluição. Cada indústria tem suas próprias características. Mas já sabemos que a conservação de recursos é importante. Deve haver crescente preocupação com a qualidade, durabilidade, possibilidade de conserto e vida útil dos produtos. As empresas precisam não só continuar reduzindo a poluição como também buscar novas formas de economizar energia, melhorar os efluentes, reduzir a poluição, o lixo, o uso de matérias-primas. É difícil ter uma visão única que seja útil para todas as empresas. Cada uma enfrenta desafios diferentes e pode se beneficiar de sua própria visão de futuro. Ao olhar para o futuro, nós (o público, as empresas, as cidades e as nações) podemos decidir quais alternativas são mais desejáveis e trabalhar com elas. Infelizmente, tanto os indivíduos quanto as instituições só mudarão as suas práticas quando acreditarem que seu novo comportamento lhes trará benefícios – sejam estes financeiros, para sua reputação ou para sua segurança. A mudança nos hábitos não é uma coisa que possa ser imposta. Deve ser uma escolha de pessoas bem-informadas a favor de bens e serviços sustentáveis. A tarefa é criar condições que melhorem a capacidade de as pessoas escolherem, usarem e disporem de bens e serviços de forma sustentável. Além dos impactos causados na natureza, diversos são os malefícios à saúde humana provocados pela poluição do ar, dos rios e mares, assim como são inerentes aos processos produtivos alguns riscos à saúde e segurança do trabalhador. Atualmente, acidente do trabalho é uma questão que preocupa os empregadores, empregados e governantes, e as consequências acabam afetando a todos. De um lado, é necessário que os trabalhadores adotem um comportamento seguro no trabalho, usando os equipamentos de proteção individual e coletiva; de outro, cabe aos empregadores prover a empresa com esses equipamentos, orientar quanto ao seu uso, fiscalizar as condições da cadeia produtiva e a adequação dos equipamentos de proteção. 61 A redução do número de acidentes só será possível à medida que cada um – trabalhador, patrão e governo – assuma, em todas as situações, atitudes preventivas, capazes de resguardar a segurança de todos. Deve-se considerar, também, que cada indústria possui um sistema produtivo próprio, e, portanto, é necessário analisá-lo em sua especificidade, para determinar seu impacto sobre o meio ambiente, sobre a saúde e os riscos que o sistema oferece à segurança dos trabalhadores, propondo alternativas que possam levar à melhoria de condições de vida para todos. Da conscientização, partimos para a ação: cresce, cada vez mais, o número de países, empresas e indivíduos que, já estando conscientizados acerca dessas questões, vêm desenvolvendo ações que contribuem para proteger o meio ambiente e cuidar da nossa saúde. Mas, isso ainda não é suficiente... faz-se preciso ampliar tais ações, e a educação é um valioso recurso que pode e deve ser usado em tal direção. Assim, iniciamos este material conversando com você sobre meio ambiente, saúde e segurança no trabalho, lembrando que, no seu exercício profissional diário, você deve agir de forma harmoniosa com o ambiente, zelando também pela segurança e saúde de todos no trabalho. Tente responder à pergunta que inicia este texto: meio ambiente, saúde e segurança no trabalho – o que é que eu tenho a ver com isso? Depois, é partir para a ação. Cada um de nós é responsável. Vamos fazer a nossa parte? INDICE: Power point - Razão e importância da Gestão Ambiental (PPT) Aula 00 - A Evolução da Consciência Ambiental.................................................06 Aula 01 – O meio ambiente.......................................................................................16 Aula 02 – A abordagem naturalista do meio ambiente ....................................20 Aula 03 - A abordagem sistêmica do meio ambiente........................................21 Aula 04 - O estado de equilíbrio de um sistema.................................................24 Aula 05 - A relação homem/natureza nos estágios iniciais do desenvolvimentohumano................................................................................................................. ..........25 Aula 06 - As Tendências da Relação Homem /Natureza................................... 28 Aula 07 - Consumo X Meio Ambiente.....................................................................31 61 Aula 08 –A conservação do meio ambiente...........................................................35 Aula 09 - A Importância da Participação da Sociedade na Gestão do Meio Ambiente............................................................................................................... ..........37 Aula 10 - Sustentabilidade urbana............................................................................40 Aula 11 – Desenvolvimento sustentável...................................................................46 Aula 12 - Resíduos, uma responsabilidade de todos............................................55 Aula 13 – Gestão do saneamento e qualidade da água.......................................69 Aula 14 – O controle ambiental do ar.......................................................................84 Aula 15 – O controle ambiental do solo....................................................................87 Aula 16 - Biodiversidade e meio ambiente..............................................................91 Aula 17 - Agricultura e degradação ambienta.........................................................97 Aula 18 – Estudo de impactos ambientais..............................................................103 Aula 19 – Recuperação e controle de ambientes degradados e/ou poluídos.116 Aula 20– Lixo eletrônico o que fazer com ele Significado de Lixo eletrônico110 Aula 21 Industria e meio ambiente............................................................................116 Aula 22– Processos produtivos e poluição atmosférica.......................................121 Aula 23 – Produção mais limpa..................................................................................141 Aula 24 – Sistemática na preparação de um estudo de proteção ao meio ambiente............................................................................................................... ...........148 Aula 25 – Estudo de impactos ambientais...............................................................150 Aula 26 – Licenciamento ambiental...........................................................................153 Aula 27 – Recuperação e controle de ambientes degradados e/ ou poluídos158 Aula 28 -Gerenciamento dos resíduos sólidos........................................................162 61 Aula 29 – Gestão Ambiental Doméstica....................................................................176 Aula 30 – O futuro que queremos..............................................................................189 Power point - Razão e importância da Gestão Ambiental (PPT) MORALLES & BILLGERENCIAMENTO AMBIENTAL Aula 00 - A Evolução da Consciência Ambiental PPT Impactos antrópicos ao longo da história Após fazermos uma breve viagem pelas grandes extinções ocorridas na Terra, vamos resgatar alguns aspectos históricos sobre o uso de recursos naturais, pelo ser humano, que podem auxiliar no esclarecimento da crise ambiental. Essa crise pode ser considerada civilizatória, se nos aprofundarmos em suas raízes. Ao pensarmos no período de tempo em que existe vida na Terra, podemos dizer que o ser humano é um habitante recente, que vem deixando desastrosas pegadas por onde passa. ANTRÓPICOS: Ação antrópica é a ação feita pelo ser humano, homem ou mulher. Plantar uma árvore ou derrubar uma árvore é uma ação antrópica porque foi feita pelo ser humano. Visite o site http://www6.estadao.com.br/ext/magazine/maga40/ janaina.htm, e conheça um pouco mais sobre a história do nosso planeta! Quando mudamos nossa escala de observação e pensamos nas transformações vivenciadas pela Humanidade, constatamos que foram muitas. Será que o modo de apropriação dos recursos era diferente do observado atualmente em nossa sociedade? Há milhares de anos, crenças religiosas e filosóficas influenciaram nosso comportamento em relação à Natureza. Hoje, em geral, temos uma visão mais pragmática no que concerne à nossa relação com a Natureza: parece haver um http://www6.estadao.com.br/ext/magazine/maga40/ 61 caminho possível para a administração dos recursos naturais, baseado simplesmente no respeito ao meio ambiente e a seus limites. Alguns de nós não têm consciência de que, explorando recursos ambientais ao extremo, sofremos as consequências dessa exploração. Para os índios sioux, as vastas planícies, montanhas e florestas representavam um mundo domesticado por sua cultura. Seus recursos eram utilizados para garantir sua subsistência, mas essa exploração também levava à extinção. Fernandez (2000 apud LOPES, 2004) associa uma série de extinções ocorridas no período pleistoceno-holoceno a registros de presença humana; de sociedades prósperas que tornaram-se decadentes à medida que destruíam seu ambiente e esgotavam seus recursos. Mesmo com tantas semelhanças, o autor aponta uma diferença entre aquelas civilizações e as atuais. Os antigos não tiveram a possibilidade de registrar tais acontecimentos, ao passo que, hoje, nós temos. Além da possibilidade de registro, atualmente percebemos muitas outras facilidades proporcionadas pelo progresso social. Não caçamos mais, e sequer associamos a carne que comemos (para quem não é vegetariano) a um animal que um dia foi vivo. Vamos a um hipermercado fazer compras, para termos em casa um estoque de alimentos necessários ou guloseimas que nos satisfaçam durante algum tempo. Os dejetos e o lixo gerados são descartados e, geralmente, recolhidos por um sistema coletor. Mas sabemos que esse sistema de coleta não funciona para todas as localidades. Regiões periféricas ainda sofrem com a falta de saneamento básico. Temos ainda muito a aprender. O ser humano já passou por uma fase nômade, quando apenas permanecia em determinado lugar enquanto durassem os estoques locais de recursos. Nessa fase, deixava restos de alimentos e dejetos acumulando-se dentro da própria habitação. Em uma natureza de abundantes recursos, bastava ao ser humano esticar a mão e sempre haveria mais recursos, supostamente inesgotáveis. Na cidade de Paraty, no estado do Rio de Janeiro, temos um exemplo de uma tribo indígena de costumes nômades. Na região onde hoje está Paraty, existiam, desde tempos imemoriais, os índios guaianá. Ali, numa área relativamente pequena, essa tribo de costumes nômades encontrava excepcionais condições de sobrevivência. As águas abrigadas da baía permitiam uma navegação segura às pequenas embarcações indígenas. A costa, cheia de reentrâncias e com uma rede de pequenos rios cercados por uma vegetação exuberante, oferecia peixe e caça em abundância, além de água potável, lenha e frutos. A própria palavra ‘parati’ tem origem no nome dado pelos índios a um peixe muito comum na região. Como povo nômade, os guaianás abriram muitas trilhas, algumas capazes de transpor o paredão formado pela serra do Mar – particularmente íngreme nesse trecho do litoral. Fonte: http://www.cidadeshistoricas.art.br/paraty/py_his_p.htm. Sobre essa relação da Humanidade com os recursos naturais, há aproximadamente dez mil anos, as pessoas deixaram de ser caçadoras e colhedoras de frutos e passaram a ser cultivadoras (CHASSOT, 1994 apud LOPES, 2004). Assim, podemos dizer que a capacidade de suporte aumentou, uma vez que o ser humano passou a gerenciar a produção primária comestível. Isso exigiu grande http://www.cidadeshistoricas.art.br/paraty/py_his_p.htm 61 mudança de postura, conferindo aos humanos um sentimento de domínio sobre a Natureza. Com o decorrer do tempo, as necessidades humanas e o crescimento da população passaram a exigir quantidades cada vez maiores de recursos. A situação se agravoucom o início do desenvolvimento industrial, em meados do século XVIII. As áreas industriais cresceram rapidamente, e a infra-estrutura das cidades (saneamento básico, suprimento de água e limpeza de ruas) não acompanhou essa expansão. Por conseqüência, o período foi marcado pelo crescimento econômico, além da volta de graves epidemias, que fizeram milhares de vítimas. As alterações do espaço habitado acompanham a maneira como a sociedade humana se expandiu e se distribuiu, acarretando sucessivas mudanças ecológicas, demográficas e sociais. Os avanços tecnológicos da sociedade moderna geraram e têm gerado custos ambientais e sociais que estão cada vez mais em evidência. Aumento da degradação de recursos A escala e ritmo dos impactos humanos sobre os ecossistemas aceleraram-se ao longo do último meio século, juntamente com o crescimento populacional e o consumo. Enfrentamos e convivemos com muitos distúrbios ecológicos caracterizados por acidentes em indústrias, emprego de pesticidas, desmatamento de grandes áreas e outras ações antrópicas que causam alterações no funcionamento dos sistemas que sustentam a vida. A maneira pela qual a Humanidade vem mudando, interferindo nos ecossistemas, pode ultrapassar a capacidade de suporte do meio ambiente. 61 O que observamos é que as economias humanas desvalorizam os resíduos da produção e do consumo. A existência do desperdício e dos rejeitos demonstra que somos falhos ao não considerarmos o potencial de reaproveitamento do nosso lixo. Em sua casa, você reaproveita alguma coisa que iria para o lixo? Já pensou em fazer isso? Se você não faz, não se sinta incomodado; ou melhor, fique, sim, um pouco incomodado, e pense o que e como você poderia fazer para reaproveitar objetos que iria descartar. Há situações bem piores do que a sua: em muitas indústrias e setores (como a agricultura), a geração de resíduos é muito maior do que a geração de lixo doméstico, e esses resíduos são despejados em corpos hídricos ou acumulados em depósitos. Esse tipo de ação, apesar de ser monitorada em alguns locais, representa RISCOS à sociedade, com perigos invisíveis para os ecossistemas. Embora não saibamos ao certo os tipos de riscos a que estamos expostos, sabemos que eles estão presentes por meio do contato com poluentes e toxinas. Não reconhecemos bem seus efeitos na biota e em nosso organismo. RISCO É a probabilidade que tem determinada substância de causar um efeito adverso a um organismo vivo, sob determinadas condições de exposição. O risco incorpora duas dimensões: a primeira refere-se à identidade entre o possível e o provável, aspectos que pressupõem alguma forma de apreender a regularidade dos fenômenos. A segunda refere-se à esfera dos valores: risco pressupõe colocar em jogo algo que é valorizado. Podemos dizer que tanto o conhecimento sistemático sobre o ambiente quanto a elaboração de uma rede de conhecimentos em torno dos perigos ambientais ainda estão em plena construção. Em um cenário criado pela ação humana, no qual o mundo contemporâneo é resultado do uso e domínio da Natureza, o tema meio ambiente e desenvolvimento deixa de ser um movimento de modismos intelectuais. Questões ambientais geram uma crescente preocupação dos diversos segmentos da sociedade, a partir da suposição de que a organização social, constituída desde a Revolução Industrial, prejudica a sobrevivência da espécie humana (SATO, 1997). A questão ambiental se origina e se expressa no conflito de interesses entre o acesso e a apropriação dos recursos naturais; e também apresenta um importante grau de incerteza. Funtowicz e Ravetz distinguem três níveis de incertezas: i) incertezas técnicas, relacionadas à inexatidão dos dados e das análises, que podem ser gerenciadas por meio de rotinas padronizadas, adequadas e desenvolvidas por campos científicos particulares; ii) incertezas metodológicas, relacionadas à não-confiabilidade dos dados, quando envolvem aspectos mais complexos e relevantes da informação, como valores e confiabilidade; iii) incertezas epistemológicas, relacionadas às margens da ignorância do próprio conhecimento científico, sendo esse nível detectado quando irremediáveis incertezas se encontram no centro do problema. Apesar dessa abordagem do ser humano como agente, ou como a espécie que degrada o ambiente, é importante reconhecer que vivemos em sociedades heterogêneas, formadas por grupos e classes sociais com poderes, atividades e interesses diferenciados. Ocupamos posições sociais e econômicas diferentes e temos diversos modos de nos relacionar com o ambiente. Portanto, devemos ter 61 cautela ao transferir para toda a coletividade as responsabilidades por agressões ambientais cometidas por determinado grupo empresarial ou iniciativa governamental. Além disso, o fenômeno da degradação socioambiental não é constante no tempo e no espaço; depende, fundamentalmente, de uma dada configuração histórico-social, e não de homens abstratos e descontextualizados (LIMA, 1999). Sobre a relatividade de se pensar que o ser humano é a espécie que gera a degradação da Natureza, Loureiro (2004) ressalta que quando qualificamos uma ação como danosa ao equilíbrio ecossistêmico, precisamos ter clareza da ação a que estamos nos referindo, realizada por quem, com quais interesses, dentro de que código de valores, para podermos compreender efetivamente o que significa o humano na natureza e sabermos qualificar e dimensionar o tipo de relação e de impacto que ocasionamos no planeta. Esse autor ainda acrescenta que poluição/contaminação e destruição são conceitos socialmente construídos, que remetem à noção de limites de uso de recursos naturais pelo ser humano, definidos em cada momento histórico. Poluição e contaminação Até agora discutimos a utilização de recursos naturais pelo ser humano. O que ocorre é que, com o aumento do uso (processamento e mistura de produtos provenientes do ambiente ou não), o ser humano interfere em determinados processos naturais, acelerando sua transformação. Essa interferência, dependendo das proporções, pode ser prejudicial ao funcionamento dos ecossistemas (lembre-se que o ser humano é parte do ambiente). Segundo a Organização das Nações Unidas, o termo poluição refere-se à introdução antrópica, direta ou indireta, de energia ou SUBSTÂNCIA ALÓCTONE que interfere no ambiente, podendo causar danos aos recursos, à saúde humana e à qualidade da água. Já o termo contaminação refere-se a substâncias ou componentes do próprio sistema que, decorrentes de interferências antrópicas, alteram o ambiente. SUBSTÂNCIA ALÓCTONE A que não é originária do local onde se encontra. A poluição e a contaminação causam um desequilíbrio no funcionamento dos ecossistemas, gerando consequências que, tal como os problemas ambientais de modo geral, são também caracterizadas por terem o potencial de impactar o meio ambiente e, a longo prazo, exigirem decisões sob condições de emergência, por serem complexas e envolverem altos interesses em jogo. A Lei n.º 6.938/81, art. 3º, III, que dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, define poluição como: (...) a degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que, direta ou indiretamente: a) prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população; b) criem condições adversas às atividades sociais e econômicas; c) afetem desfavoravelmente a biota; d) afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente; 61 e) lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões ambientais estabelecidos Somos interdependentes Hoje, sabemos que ecossistemas em equilíbrio dinâmico requerem não apenas quantidade e qualidade de espécies, aspectos relacionados à sua estrutura, mas um padrão de fluxo de matéria e energia (seu funcionamento). Isso ocorre porque as espécies passaram milênios sendo selecionadas e/ou adaptando-se aos fluxos de matéria e interações quevariam de ecossistema para ecossistema. À medida que aumentam o tamanho e a complexidade de um sistema, o custo energético de manutenção tende a aumentar, proporcionalmente, a uma taxa maior (ODUM, 1993, p. 99). A capacidade de suporte para a vida humana e para a sociedade é complexa, dinâmica e variada, de acordo com o modo como o homem maneja os recursos ambientais. É definida pelo fator mais limitante, e pode ser melhorada ou minimizada pelas atividades humanas, uma vez que o aumento da eficiência do uso de energia e reciclagem de materiais pode aumentar sua resistência ou sua elasticidade em face das perturbações trazidas por ações antrópicas. Onde quer que encontremos sistemas vivos – organismos, partes de organismos ou comunidades de organismos –, podemos observar que seus componentes estão arranjados de modo interdependente. Ao perturbar os padrões de funcionamento, a Humanidade compromete as condições de habitat e a capacidade de sustentação de vida das espécies habitantes do planeta. A otimização de um equilíbrio entre o atendimento das necessidades humanas e a proteção das funções dos ecossistemas requer a mudança no modo como esses recursos vêm sendo alocados pelo ser humano. Uma vez estabelecida essa alocação, o desafio é utilizar os serviços dos ecossistemas para satisfazer as demandas de forma eficiente, equitativa e produtiva. Para realizar essa mudança, é mais fácil falar do que fazer Princípio da precaução 61 61 Quem nunca ouviu esse tipo de conselho? Quem nunca ouviu “é melhor prevenir do que remediar”? Parece engraçado, não? Mas o princípio da precaução não existe só na cultura popular; existe também no meio científico. É claro que sempre há correntes que questionam sua cientificidade. O fato é que, mesmo criticado por alguns, o princípio da precaução é apontado como estratégia de ação para lidar com determinadas questões ambientais. Quando uma atividade representa ameaça de danos ao meio ambiente ou à saúde humana, medidas de precaução devem ser tomadas, mesmo se algumas relações de causa e efeito não forem plenamente estabelecidas cientificamente (Declaração de Wingspread sobre o princípio de precaução, 1998). Tal declaração traz uma definição ampla do princípio da precaução, debatida na Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro, em 1992 (ECO-92), e aprovada em reunião realizada em 1998, em Wingspread (estado de Wisconsin, EUA), com a participação de cientistas, advogados, legisladores e ambientalistas. O princípio da precaução é uma abordagem útil para evitar a degradação dos ecossistemas, pois se baseia na tomada de decisões em situações nas quais existem ameaças de danos irreversíveis ao meio ambiente, mesmo na ausência de completa certeza científica. Assim, esse princípio defende que a incerteza não pode ser usada como razão para adiar projetos de tomada de decisão. Principais elementos do princípio da precaução: . a precaução diante de incertezas científicas; . a busca de alternativas para atividades potencialmente prejudiciais; .a transferência do ônus da prova aos proponentes de uma atividade, e não às vítimas ou vítimas em potencial daquela atividade; . o uso de processos democráticos na adesão ao princípio, informação sobre ele, inclusive ao Direito Público. O princípio da precaução não deve ser encarado como obstáculo às atividades econômicas e, principalmente, de pesquisa. Trata-se de uma proposta que vem resguardar os legítimos interesses de cada pessoa e da sociedade como um todo. Tal princípio é fundamental para a abordagem das questões ambientais atuais e importantes, como discutido anteriormente. Reconhecer a existência da possibilidade da ocorrência de danos e a necessidade de sua avaliação, com base nos conhecimentos já disponíveis, é o grande desafio que está sendo feito a toda a comunidade científica mundial. Outro aspecto importante é que, geralmente, programas de despoluição, de recuperação de áreas degradadas e de regeneração de recursos renováveis são mais caros do que a prevenção, e nem sempre eficazes quanto ao propósito de recompor o bem natural afetado. Logo, encontrar alternativas de projetos e técnicas que busquem a manutenção do equilíbrio ambiental, dentro de padrões admissíveis, pode ser uma alternativa mais eficaz e mais barata do que a remediação dos impactos. 61 Como já abordado anteriormente, não sabemos, ao certo, quais os efeitos de atividades não-sustentadas e negligentes que podem ocorrer ao longo dos anos. Hoje, já observamos alguns sinais de alerta, como a extinção de plantas e espécies animais, o esgotamento do ozônio estratosférico e a probabilidade de aquecimento global. Tais sinais indicam a necessidade de se buscar soluções definitivas. É difícil atribuir causas precisas para muitos problemas que se apresentam e para seus efeitos a longo prazo. A experiência e muitas evidências científicas nos dizem que devemos ter cuidado, e que todas as nossas ações têm consequências que interferem no meio em que vivemos. Sabe-se, porém, que a solução não está pronta nem será única. Hoje, em inúmeros debates sobre políticas de gerenciamento dos sistemas que suportam a vida, alguns caminhos são apontados. Há propostas que podem ser viabilizadas, mas somente com uma maior articulação Inter setorial. Assim, não buscamos mais uma única solução, mas sim um conjunto de soluções que possam ser efetivas na superação de problemas específicos, e que sejam articuladas com outros conjuntos de soluções. A Educação Ambiental vem justamente reforçar o princípio da precaução, quando propõe que determinado modo de exploração dos recursos disponíveis ao homem seja reavaliado, considerando possibilidades mais sustentáveis de utilização. Conclusão A crise ambiental singular, vivenciada pelo planeta, tem gerado um campo de investigação a respeito dos valores que sustentam a nossa cultura e também das tecnologias e seus riscos associados. Quando desejamos mudanças na sociedade, pensamos em inovações científicas, tecnológicas e econômicas que considerem e busquem modos mais sustentáveis de interação com os ambientes, e que reestruturem o modo de organização social, o que nos leva a pensar sobre a existência de uma crise da própria civilização. No entanto, trata-se de um trabalho difícil. Aqueles que acreditam em soluções fáceis, muitas vezes, têm valores ultrapassados, baseados no Positivismo, quando as ideias eram consideradas em uma relação de causa e efeito, enfatizando dicotomias. Mas estamos em um período de transição, rumo a outro paradigma. Esse paradigma considera as relações em uma visão em rede, segundo os princípios da complexidade. Assim, há preocupação com as causas e porquês dos problemas e uma tendência a se buscarem alternativas na coletividade. O conhecimento tem papel relevante, uma vez que permite construir novos modos de se ler o mundo. Necessitamos urgentemente de uma capacitação para a mobilização social e para a construção de mudanças, ainda que inicialmente pequeninas, mas capazes de, um dia, ultrapassar barreiras e alcançar diversos agentes da sociedade R e s u m o 61 Estamos vivenciando momentos de uma crise ambiental singular, decorrente de atividades exercidas por uma só espécie, afetando o ambiente em caráter global. Podemos dizer que o ser humano é um habitante recente do planeta, mas ainda assim é capaz de transformá-lo muito mais do que qualquer outra espécie. Enfrentamos e convivemos com muitos distúrbios ecológicos que causam alterações no funcionamento dos sistemas que sustentam a vida. O risco está em toda parte, e não sabemos, ao certo, o efeito da poluição durante um longo período de exposição. O princípio da precaução é uma abordagem útil para evitar a degradação dos ecossistemas, pois se baseia na tomada de decisões onde existem ameaças de danos irreversíveis ao meio ambiente, mesmo na ausência de completa certeza científica. Atividades de aprendizagem1. Agora pare e pense na sua vida. Quais são os custos ambientais de tudo o que você faz e das coisas que você consome? Discuta possíveis relações que levaram à atual situação de uso dos recursos pelo homem. _______________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ 2. Que tal pensarmos um pouco sobre a nossa realidade e aproveitarmos a ocasião para trabalhar a percepção dos problemas que nos rodeiam? Durante o trajeto para seu trabalho ou para a aula, você certamente passa por locais onde há algum tipo de poluição. Você observa? O que observou de poluição hoje? Tente lembrar-se e escreva. Liste, pelo menos, cinco casos observados. Se não lembrar, tente observar amanhã e escreva. _______________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ 3. Leia a declaração do gênio Albert Einstein, sobre o poder das armas atômicas: "Eu não sei com que armas a Terceira Guerra Mundial será travada, mas a Quarta será travada com paus e pedras." Agora, reflita sobre a declaração e discuta suas reflexões com os colegas de aula. Procure discriminar as alterações causadas por nós, humanos, em relação ao nosso ambiente até o momento, e pense no que pode ser mudado em nossa interação com o meio. Elabore, em seguida, um texto de, no máximo, dez linhas. _______________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ 61 __________________________________________________________________ Aula 01 - O meio ambiente Nesta aula, o objetivo será conceituar o meio ambiente, para que possamos seguir um único entendimento durante nossas discussões e ações em prol da melhoria da qualidade de vida. Segundo Watanabe, 2010 atualmente é evidente que a gestão ambiental assumiu uma posição notória entre as preocupações da sociedade, do governo e das empresas. A constante e crescente degradação ambiental atingiu proporções alarmantes, colocando em questão a sustentabilidade do planeta. Diante desse contexto, a temática ambiental passou a fazer parte do rol de disciplinas de diversos cursos, como o Curso Técnico em Segurança do Trabalho. O Tema Meio Ambiente será discutido nesta e nas próximas aulas que integram a presente disciplina, intitulada “Sustentabilidade e Gestão Ambiental”. As sociedades sempre estiveram em contato direto e permanente interação com o ambiente natural, fatos que se refletiram nas complexas inter-relações das práticas sociais e ambientais. Os resultados dessas inter-relações frequentemente degradaram o meio natural e muitas vezes, se reverteram em perda da qualidade de vida para muitas sociedades. (WATANABE, 2010). “O meio ambiente é o conjunto de elementos naturais e sociais que interagem provocando alterações no espaço e no tempo. ” 61 A queda da qualidade ambiental começou a ser percebida com mais intensidade a partir do momento em que o meio ambiente passou a ser explorado demasiadamente, ocorrendo uma transformação dos ecossistemas naturais em ecossistemas humanos. Antes de verificarmos detalhadamente como essa mudança aconteceu se faz necessário discutirmos o conceito de meio ambiente. Embora esteja em voga esse conceito nem sempre é assimilado de maneira correta. Muitas pessoas associam o meio ambiente à natureza, no entanto esses termos não são sinônimos. E para você, o que é meio ambiente? Espero que a sua resposta não tenha sido a mesma dada pela maioria dos brasileiros que afirmaram, no final da década de 90, que o meio ambiente é a própria natureza. Em 1998, o Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (Ibope) realizou uma pesquisa para saber o que os brasileiros pensavam sobre o meio ambiente. O resultado revelou que para a maioria dos entrevistados o meio ambiente era formado apenas pela fauna e flora, ou seja, não se sentiam parte integrante do mesmo. E você, se sente incluído no meio ambiente? Vamos aos conceitos! O Meio Ambiente pode ser considerado um conceito de múltiplas facetas, isto é, pode ser analisado a partir de diversos aspectos. Cabeda (2000), ao discutir esse conceito, destaca que o meio ambiente se aplica: • Lugar – uma praça, um parque, e outros. • Fenômenos – chuva de granizo, mortalidade de peixes, e outros. • Constatações – perda de biodiversidade, aquecimento global e outros. • Produtos ou substâncias – bio-combustíveis, clorofluorcarbono e outros. • Processos – erosão do solo, eutrofização de um rio e outros. • Estado – qualidade do ar, salubridade de um habitat e outros. • Problemas – poluição hídrica, vazamento de gás tóxico de indústria química e outros. • Atividades – adubação, mineração e outros. • Procedimentos – realização de um estudo de impacto ambiental e outros. • Impacto ou efeito – chuvas ácidas e degradação da floresta, buraco na camada de ozônio e câncer de pele e outros. • Intervenção – tratamento de efluentes, controle do nível de ruído e vibração e outros. • Estratégias – programas de educação ambiental, criação de reservas naturais, geração de taxas ambientais e outros. • Instituições – Ministério do Meio Ambiente, IBAMA, Órgãos ambientais estaduais e municipais. Eutrofização: Enriquecimento da água, doce ou salgada, através de elementos nutritivos que aceleram o crescimento de algas e outros vegetais, provocando uma degradação da qualidade da água em questão. 61 Vejamos algumas imagens que representam os elementos naturais e sociais que integram o meio ambiente: Portanto, o entendimento sobre o Meio Ambiente vai muito além de uma concepção natural, envolve tanto aspectos naturais como sociais, conforme veremos a seguir. Conceitos de meio ambiente Segundo Sachs (1986), o meio ambiente é formado por três subconjuntos que interagem: a natureza, a técnica e a sociedade. Para o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais – IBAMA (1994), “o meio ambiente é o conjunto de elementos naturais e sociais que interagem provocando alterações no espaço e no tempo.” Outro conceito de meio ambiente, considerado de grande importância, constituído na Conferência de Tbilisi (Geórgia), em 1977, considera o meio ambiente como “o conjunto de sistemas naturais e sociais em que vivem o homem e os demais organismos e de onde obtêm sua subsistência” (IBAMA, 1994). Para efeitos legais, segundo o inciso I do Art. 3º da Política Nacional do Meio Ambiente, o meio ambiente deve ser entendido como “o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas.” 61 Notamos que a definição legal procurou abranger todas as formas de vida sobre o planeta, assim como englobou os aspectos sociais ao defini-lo como um conjunto em que são processadas interações de seus elementos entre si e destes com o meio, dentre os quais está o homem. O meio ambiente não é somente o conjunto de elementos naturais, é muito mais do que isso, conforme acabamos de ver. O conceito de meio ambiente evoluiu muito no decorrer dos tempos. Em primeiro lugar foi considerado apenas sob seus aspectos biológicos e físicos, passandoa uma concepção mais ampla que leva em conta a interação entre os aspectos naturais e sociais (Watanabe, 2002). Resumo Nesta aula percebemos que o conceito de meio ambiente evoluiu de acordo com o desenvolvimento humano. Constatamos que o meio ambiente difere da natureza, pois a natureza é apenas um dos elementos que o compõem, juntamente com a técnica e a sociedade. Atividades de aprendizagem Discuta com seus colegas as seguintes questões: 1. Justifique a afirmação de Sachs: “O meio ambiente é formado por três subconjuntos que interagem: a natureza, a técnica e a sociedade. 2. Entreviste três pessoas perguntando-lhes: O que é Meio Ambiente? Anote as respostas. Reúna-se com seus colegas e discuta a visão dos entrevistados. Aula 02- A abordagem naturalista do meio ambiente Conforme vimos na aula anterior, o conceito de Meio Ambiente evoluiu muito no decorrer do tempo. Desta maneira, é importante conhecermos as diferentes abordagens que fundamentaram e fundamentam a questão ambiental. Portanto, o objetivo desta aula será analisar a abordagem naturalista do meio ambiente. A abordagem naturalista do meio ambiente A abordagem naturalista do meio ambiente predominou nas ciências naturais e humanas desde o século XVI até meados do século XX, devido à concepção cartesiana adotada pelas mesmas. O cartesianismo, derivado da filosofa de René Descartes (1596–1650), está fundamentado no princípio de que objeto e sujeito são partes distintas, ocorrendo o mesmo com a natureza e a cultura. 61 Essa separação dos elementos foi apontada como um dos principais motivos da degradação ambiental, pois o homem assumiu uma posição de superioridade, entendendo que estava separado do meio natural. Com o desenvolvimento da Teoria Geral dos Sistemas o meio ambiente passou a ser estudado como um sistema. Foi somente a partir da década de 1960, com o desenvolvimento da Teoria Geral dos Sistemas, proposta nos anos 1950 por Von Bertalanffy, que o meio ambiente passou a ser estudado como um conjunto de elementos naturais e sociais, ou seja, o homem foi incluído como parte integrante do mesmo, conforme veremos na próxima aula. Resumo Nesta aula vimos que o meio ambiente, em sua concepção naturalista, foi explorado além de sua capacidade de regeneração. Vimos também que a abordagem naturalista cedeu lugar a uma nova concepção de meio ambiente, na qual o homem passou a ser parte integrante. Percebemos que foi somente a partir da década de 1960 que o meio ambiente passou a ser visto de forma sistêmica Atividades de aprendizagem Responda as seguintes questões: 1. Quais foram às implicações da visão reducionista ao meio ambiente? 2. Pesquise os fundamentos da Teoria Geral dos Sistemas e redija um texto de até 10 linhas explicando sua influência nas ciências voltadas à questão ambiental. Aula 03 - A abordagem sistêmica do meio ambiente Conforme vimos na aula anterior, a abordagem naturalista cedeu lugar a uma nova concepção de meio ambiente, na qual o homem passou a ser parte integrante. Sendo assim, nesta aula analisaremos a abordagem sistêmica do meio ambiente, para que possamos compreender o processo de transição da abordagem naturalista para a sistêmica. 61 O sistema meio ambiente A abordagem sistêmica foi adotada como método científico por diversos ramos do conhecimento, com o objetivo de promover uma análise integrada do meio ambiente, ou seja, analisá-lo como um sistema. De acordo com Almeida e Tertuliano (1999), um sistema pode ser entendido como um conjunto de elementos que interagem. Esse conjunto pode atingir um grau de organização suficiente para assumir a função do todo integrado. “O avanço decisivo da concepção sistêmica da vida foi o de ter abandonado a visão cartesiana da mente como uma coisa, e de ter percebido que a mente e a consciência não são coisas, mas processos. ” (CAPRA, 2003). Sobre o assunto Capra (2000) destaca que: Sistemas vivos incluem mais que organismos individuais e suas partes. Eles incluem sistemas sociais – família ou comunidade - e também ecossistemas. Muitos organismos estão não apenas inscritos em ecossistemas, mas são eles mesmos ecossistemas complexos, contendo organismos menores que têm considerável autonomia e estão integrados harmonicamente no todo. Todos esses organismos vivos são totalidades cuja estrutura específica surge das interações e interdependência de suas partes. Portanto, essa visão sistêmica ou holística diz respeito, essencialmente, à interação e à interdependência de todos os aspectos ambientais: físicos, biológicos, econômicos, psicológicos, religiosos, sociais e culturais. Transição da abordagem naturalista para a abordagem sistêmica do meio ambiente A abordagem sistêmica do meio ambiente vem substituindo a visão reducionista, derivada do cartesianismo, nas diversas áreas do conhecimento científico, por permitir: • A construção de um esquema relacional e dinâmico. • Uma visão em longo prazo. • O aumento da abordagem local e global. • O planejamento de diversas soluções. • O desenvolvimento de um processo multidimensional, interdisciplinar e transdisciplinar. A abordagem sistêmica passou a ser adotada como método de análise da problemática ambiental, conforme observamos na figura 3.1. 61 Resumo Nesta aula pudemos perceber que a partir do momento em que o meio ambiente passou a ser analisado de forma sistêmica, mais atenção foi dada à questão ambiental, buscando-se assim o equilíbrio ambiental. Atividades de aprendizagem Para fazer em grupo: 1. Identifiquem um problema ambiental existente em seu município. Discutam- no e elaborem um esquema de abordagem sistemática do problema ambiental identificado. 2. Qual é o diferencial da abordagem sistêmica em relação à abordagem reducionista? Aula 04 - O estado de equilíbrio de um sistema Conforme estudamos na aula anterior, um sistema pode ser entendido como um conjunto de elementos que interagem. Considerando que o Meio Ambiente é um sistema, é importante entendermos como este se mantém em estado de equilíbrio, portanto, o objetivo desta aula será de conhecer o estado de equilíbrio de um sistema O equilíbrio do sistema O estado de equilíbrio de um sistema está diretamente relacionado ao estado de todos os elementos, pois são interdependentes. Seu estado pode ser avaliado por sua organização, composição e flrga de energia e matéria. A mensuração do estado pode ser obtida através das variáveis apresentadas pelo sistema em determinado momento. Quando a estrutura e as relações apresentam valores aproximadamente constantes das variáveis, em razão da adaptação dos inputs (entradas) dizemos que o sistema está em estado estacionário ou constante. Ocorrendo alterações nos inputs ao ponto do sistema não possuir capacidade de 61 absorvê-los haverá mudança de estado, mas o sistema tende a se ajustar novamente. Por exemplo: quando ocorre a disposição de efluentes sem tratamento em um rio, esse sistema é alterado pela quantidade excessiva de poluentes, mas tende a retornar ao seu estado de equilíbrio em longo prazo, caso o lançamento não ocorra novamente. Do que depende o equilíbrio de um sistema? O equilíbrio de um sistema depende da perfeita adaptação das variáveis internas às condições externas. Quando as condições externas não mudam, o equilíbrio pode chegar à condição estática de máxima entropia. Esse estado de estabilidade será atingido quando o próprio sistema fizer os ajustes das entradas e saídas de matéria e energia. Voltando ao exemplo do rio, caso não ocorra à contaminação das águas, o sistema estará em estado de equilíbrio, fazendo os ajustes de maneira natural, isto é, as entradas não serão superiores a sua capacidade de absorção. A quantidade de matéria e energia fornecida ao sistema varia de acordo com o evento. Os valores expressos por essas quantidades representam a magnitude da interferência no sistema. “Quanto maior for o número de conexões com o ambientemaior será o número de fontes e de estímulos passíveis de afetar o sistema, mas também será maior a sua organização. ” Quando a magnitude do evento ultrapassa a capacidade de absorção do sistema o estado de equilíbrio é rompido. A readaptação, ou seja, a transição de um estado de equilíbrio para outro, dependerá do grau de abertura do sistema, pois só ocorre em sistemas abertos. “Quanto maior for o número de conexões com o ambiente maior será o número de fontes e de estímulos passíveis de afetar o 61 sistema, mas também será maior a sua organização. ” (ALMEIDA; TERTULIANO, 1999). Segundo os mesmos autores, o tempo de readaptação do sistema é controlado principalmente por fatores como: • A resistência dos elementos às alterações do sistema; • A complexidade do sistema; • A magnitude do evento. Resumo Nesta aula verificamos que o estado de equilíbrio de um sistema ambiental pode ser avaliado por sua organização, composição, flode de energia e matéria. Vimos também que o equilíbrio de um sistema depende da perfeita adaptação das variáveis internas às condições externas. Atividades de aprendizagem Responda as seguintes questões: 1. Do que depende o equilíbrio de um sistema ambiental? 2. Sabendo que a mensuração do estado de um sistema ambiental pode ser obtida através das variáveis apresentadas pelo sistema em determinado momento, cite exemplo de variáveis que podem interferir no estado de equilíbrio de um rio. Aula 05 -A relação homem/natureza nos estágios iniciais do desenvolvimento humano O objetivo desta aula será analisar as principais alterações ocasionadas ao meio ambiente pela ação do homem, observando sua evolução histórica através dos seguintes estágios do desenvolvimento humano: coleta, caça e pesca. Coleta, caça e pesca No primeiro estágio da evolução humana a relação homem/natureza permaneceu equilibrada. A extração dos recursos naturais respeitava os ritmos naturais do meio. 61 No Erectus) que havia descoberto o fogo atuou como predador. Suas atividades perturbavam o equilíbrio ecológico, pois caçava e pescava, mas não o suficiente para colocar em vias de extinção as espécies animais. Pastoreio O terceiro estágio foi marcado pelo progresso do domínio humano sobre a natureza, com a domesticação de animais e a transformação de grandes extensões de fla natur e savanas em campos de pastos, o que imprimiu grandes modificações na paisagem natural. “Desde a Mesopotâmia até a Idade Média o homem esqueceu seu lugar na natureza”. Agricultura O surgimento da agricultura marcou o início do quarto estágio. Através da observação dos ciclos naturais de reprodução dos vegetais, o homem descobriu que podia criar ecossistemas artificiais para suprir suas necessidades. Desde a mesopotâmia até a Idade o homem esqueceu seu lugar na natureza. Essa visão antropocêntrica colocou o homem numa posição de superioridade em relação à natureza, resultando na crescente exploração dos recursos naturais. Antropocêntrica: o homem como centro de tudo Industrialização e urbanização A Revolução Industrial, ou quinto estágio, acentuou as relações de dominação e exploração ambiental, resultando em profundas rupturas nos ritmos e 61 processos naturais. A velocidade de regeneração natural passou a ser menor que a velocidade da extração dos recursos naturais. A consolidação do capitalismo através da industrialização marcou o início do sexto estágio. As mudanças nas relações econômicas de produção e nas relações entre produtor e consumidor se refletiram no aumento significativo da extração dos recursos naturais. Uma breve conclusão sobre a interferência humana na natureza Através da análise da evolução histórica da relação homem/natureza, verificamos que nos primeiros estágios o ambiente não sofreu perturbações intensas, pois o homem se sentia integrado ao meio. Não tinha intenção de explorá-lo e nem técnicas para isso. “A interferência mais significativa na natureza ocorreu com o advento da industrialização. ” Foi com o surgimento da agricultura que o processo de degradação ambiental tomou maiores proporções, porém, a interferência mais significativa na natureza ocorreu com o advento da industrialização. Não só a paisagem natural deu lugar às indústrias e, consequentemente, à urbanização, como todo o meio ambiente passou a ser agredido. A exploração dos recursos naturais foi acentuada para suprir a demanda de produtos consumidos por uma população que não parou de crescer e exigir melhores padrões de vida. Os gradientes ar, água e solo sofreram alterações com o processo de poluição industrial e urbano. A saúde humana começou a ser afetada pelos mais variados problemas ambientais. O ritmo de crescimento econômico foi acelerado, sendo necessário produzir cada vez mais para gerar mais lucro. Gradientes: Um gradiente é a razão segundo a qual uma quantidade variável aumenta ou diminui. Por exemplo, o gradiente de temperatura ao longo de uma região oceânica é a diferença de temperatura por unidade de comprimento (distância); Resumo Nesta aula, percebemos que nos primeiros estágios do desenvolvimento humano a relação do homem com a natureza foi harmônica, a ponto de não implicar em grandes modificações. Porém, a partir do pastoreio e com a agricultura as interferências e modificações na paisagem natural passaram a ser mais acentuadas devido à crescente exploração dos recursos naturais. Percebemos também que, a partir da visão capitalista de mundo, o meio ambiente foi explorado até se perceber que o ritmo de extração dos recursos naturais estava acelerado demais ao ser comparado com o ritmo de sua regeneração, ocasionando perdas na qualidade ambiental. Atividades de aprendizagem Converse com seus colegas e responda as seguintes questões: 1. Como foi a relação do homem com a natureza nos primeiros estágios do desenvolvimento humano? 61 2. Faça uma pesquisa em jornais, revistas e livros, e extraia dois exemplos de grandes modificações na paisagem natural brasileira com o advento da industrialização da década de 1950. 3. Cite dois exemplos de problemas ambientais que passaram a afetar a saúde humana a partir da Revolução Industrial. Aula 06 - As Tendências Reveladas da Relação Homem /Natureza Nesta aula, analisaremos as tendências reveladas até o momento da relação homem/natureza. Para tanto, começaremos resgatando a evolução histórica da humanidade e a apropriação da natureza como recurso econômico, para em seguida, discutirmos a relação entre consumo e meio ambiente, a qual se apresenta em estado de desequilíbrio. A relação Homem/Natureza Você já parou para pensar sobre o que está acontecendo com o nosso planeta? Quem são os principais responsáveis pela degradação dele? Você se considera um agente do processo de degradação do meio ambiente? Essas questões nos remetem à reflexão sobre nossas atitudes cotidianas, as quais nem sempre demonstram preocupação com o meio ambiente. É muito provável que você já sabe o que está acontecendo com o planeta ou até faz ideia dos problemas ambientais que enfrentamos, por exemplo, o aquecimento global e a perda da biodiversidade. Divulgados, frequentemente, pela mídia esses assuntos se tornaram comuns à sociedade contemporânea, a qual cabe parcela de responsabilidade sobre o agravamento dos mesmos. A sociedade sempre agiu dessa maneira em relação à natureza? Esse questionamento merece uma reflexão. Vamos lá! As sociedades sempre estiveram em contato direto e em permanente interação com o ambiente natural. Fato este que se refletiu nas complexas inter-relações das práticas sociais e ambientais. Os resultados dessas inter-relações frequentemente degradaram o meio natural e muitas vezes se reverteram em perda da qualidade de vida para muitas sociedades (WATANABE, 2008, em fase de elaboração). A queda da qualidade ambiental começou a ser percebida com mais intensidade a partir do momento que houve a transformação dos ecossistemas naturais em ecossistemashumanos. O que é cadeia alimentar? Cadeia alimentar é uma sequência de seres vivos que dependem uns dos outros para se alimentar. É a maneira de expressar as relações de alimentação entre os organismos de um ecossistema, incluindo os produtores, os consumidores e os decompositores. “Produtores são fonte de alimento para os consumidores primários – organismos herbívoros e que, por sua vez, são alimentos (e fonte de energia) para outros consumidores. Esses organismos serão consumidos pelos seres detritívoros e/ou decompositores – como 61 urubus e bactérias, respectivamente. E, dessa forma, um organismo é fonte de matéria e energia a outro organismo, ao servir de alimento a ele”. Araguaia ([2012], Doc. on line) Conforme podemos perceber na imagem acima, cada ser vivo tem o seu papel na cadeia ecológica. A superpopulação de um deles ou, o contrário, a sua redução ou extinção, provocará consequências incalculáveis para outros seres vivos, chegando esses efeitos, obviamente, até o ser humano que, embora também faça parte da natureza, geralmente não se percebe como apenas mais um elo de uma cadeia infinita. Podemos afirmar, sem nenhuma dúvida, que tudo está ligado num tecido interdependente, constituindo-se em um universo de relações. Quando tomamos consciência desse fato, construímos um novo entendimento sobre o homem, a sociedade e o mundo, ao mesmo tempo em que questionamos profundamente os resultados da excessiva influência da especialização e do reducionismo científico. Também, a ciência passa a ser questionada em suas garantias e certezas, abrindo- nos as portas para o diálogo urgente sobre os riscos e as vulnerabilidades, cada vez 61 mais presentes em nossas vidas, cuja resolução só será possível por meio de uma postura complexa. Por isso, não podemos agir sobre o meio ambiente de forma irresponsável, sem planejamento e sem considerarmos a multiplicidade de fatores que geram esses riscos. Para Morin (2006, p. 40-41, grifo nosso): O enfraquecimento da percepção do global conduz ao enfraquecimento da responsabilidade (cada qual tende a ser responsável apenas por sua tarefa especializada), assim como ao enfraquecimento da solidariedade (cada qual não mais sente os vínculos com seus concidadãos) As considerações do pensador francês, ao tratar dos efeitos trazidos pela hiperespecialização, reforçam o debate no tocante às nossas ações (ou a ausência delas) com relação ao meio ambiente. Não é necessário ser um expert na Biologia, na Geografia ou em quaisquer outras ciências para se dar conta dos estragos incomensuráveis que o homem causou (e continua causando) ao meio natural em que vive juntamente com outros seres vivos. Seria muita insensibilidade da nossa parte se não ficássemos consternados e indignados com as imagens que costumam ser divulgadas pela mídia: desmatamentos, extinções de espécies, emissões de poluentes nas águas, solo e ar... Para facilitar nossa compreensão, analisaremos na próxima aula as principais alterações ocasionadas ao meio natural pela ação do homem, observando sua evolução histórica através dos seguintes estágios do desenvolvimento humano: coleta, caça e pesca; pastoreio; agricultura; industrialização; e urbanização, conforme destaca Watanabe (2002). Resumo Nesta aula pudemos perceber que o nosso planeta está passando por um processo acelerado de mudanças ambientais, as quais resultam em problemas que afetam todas as espécies, inclusive a humana. Vimos que o homem sempre esteve em contato com a natureza, explorando-a para a satisfação de suas necessidades, o que resultou na degradação do meio ambiente. Atividade de aprendizagem Faça uma pesquisa para responder à questão, que servirá de base para as próximas aulas. 01. Você sabe quando a agressão ao ambiente natural passou a ser maior? Aula 07 - Consumo X Meio Ambiente Nesta aula, discutiremos os tipos de consumo que podem ser prejudiciais ao planeta. Iniciaremos nossa reflexão analisando a imagem e respondendo as seguintes questões: Será que precisamos consumir de fato tudo o que compramos? Nossas necessidades são reais ou fictícias? Que preço estamos pagando, e que preço as futuras gerações pagarão, para satisfazer as necessidades básicas ou supérfluas? 61 O Consumo Com a produção em massa advinda da Revolução Industrial, aumentou o acesso a bens e produtos antes limitados a um número reduzido de indivíduos. Pela lógica do capitalismo, o aumento da oferta reduziu o preço, inserindo grande parcela dos excluídos do consumo em contato direto com diferentes produtos. A cada ano milhares de bens e serviços são lançados pelas empresas, atraindo cada vez mais o público. No Brasil, por exemplo, atualmente é comum crianças entre 6 e 12 anos de idades possuírem celulares, algo que já era comum nos países desenvolvidos (Estados Unidos, Austrália, Japão) na década passada. Será que uma criança nessa faixa etária necessita de um aparelho como esse? Também é comum entre jovens o desejo de usar roupas e tênis de marcas (signos) conhecidas mundialmente. A necessidade é real, foi criada pela mídia, ou trata-se do desejo de distinção social? Quais critérios você utiliza para escolher um bem que considera uma necessidade? Compra por que realmente precisa usá-lo ou por que quer mostrar aos outros que “pode” adquiri-lo? Sua necessidade é real ou foi criada? Você sabia que a grande maioria dos brasileiros ao comprar um carro dá preferência a itens de luxo (signos) aos de segurança (utilidade)? E você, qual escolha faz? Segundo Alphandery (1992), “nós não definimos livremente nossas necessidades, nós consumimos mercadorias e signos, nós somos prisioneiros da satisfação de nossas necessidades. ” A sociedade de consumo, embora embrionária do liberalismo, pode ser considerada a única sociedade na história da humanidade que conseguiu organizar o controle social das necessidades individuais e coletivas. A Liberdade de consumo O consumo não é resultado de uma escolha livre, se “constitui, há várias décadas, um verdadeiro dever cívico, inseparável e complementar da aceitação da ordem social e política” (ALPAHANDERY, 1992). 61 As duas dimensões da instituição da sociedade são a criação no indivíduo de um esquema de autoridade e um esquema de necessidade (CASTORIADI, apud ALPHANDERY, 1992). No auge do capitalismo industrial americano, criou-se a era do totalitarismo dos especialistas. Desde o nascimento até a morte do indivíduo, esse grupo de especialistas determinava o que era correto para os outros e tudo o que precisam. Era, esse grupo que definia as necessidades das pessoas. O indivíduo era induzido a consumir bens e serviços que lhe eram indicados como necessários, não sentia necessidade autônoma, mas fazia suas escolhas a partir daquilo que os especialistas lhe recomendavam. O consumo de signos (marcas) A mercadoria é apresentada como símbolo de identidade que estrutura não só a relação do indivíduo com o objeto, mas também sua relação com a coletividade. Dessa maneira, consumimos signos (marcas/objetos) na ilusão de satisfazermos nossas necessidades e nos sentirmos incluídos na sociedade de consumo. Segundo Alphandery (1992), essa identificação do indivíduo com a mercadoria ou signo, é sem dúvida alguma, “a principal explicação para a vitalidade demonstrada pela sociedade de consumo.”. Como podemos distinguir a real necessidade da necessidade criada, se a mercadoria usada é ao mesmo tempo um objeto (útil) e um signo (ostentação)? A durabilidade dos objetos não é mais respeitada. Embora possa ser utilizado por mais tempo, o objeto é substituído compulsivamente. O indivíduo busca cada vez mais um signo para distinguir-se socialmente, pois na sociedade de consumo o homem é valorizado pelas coisas que ele possui e não por aquilo que ele é. Considerando que o aumento do consumo gera aumento da extração dos recursos naturais, que por sua vez pode comprometer a sustentabilidade do planeta,precisamos rever nossos valores e estilo de vida enquanto indivíduos pertencentes à sociedade de consumo. Para refletir!!! Será que cada um de nós consegue avaliar o impacto que nosso consumo provoca no meio ambiente? Será que temos condição de mudar hábitos e atitudes abrindo mão de alguns confortos imediatos para melhorar a qualidade do meio ambiente? Como fazer isso? A busca pela renovação dos valores sociais. Torna-se cada vez mais evidente a necessidade de mudança de valores no cenário mundial, que conduza a humanidade à adoção de um novo modelo de desenvolvimento, que consiga aliar crescimento econômico, justiça social e equilíbrio ambiental. Para tanto, é preciso uma profunda mudança de paradigma na direção do entendimento completo da vida e sua complexidade. O ponto fundamental dessa dinâmica está no despertar de uma nova maneira de pensar o mundo que supere a 61 atual crise, definida por Capra (1982) como “o ponto de mutação entre o racionalismo mecanicista cartesiano e a nova tendência intuitiva de base ecológica” Como despertar um novo modo de pensar o meio ambiente em uma sociedade impregnada de valores individualistas e consumistas? Mudanças tão profundas de valores passam inevitavelmente pelo processo educativo. Dessa maneira, a Educação Ambiental surgiu como alternativa para amenizar a crise ambiental e contribuir com a construção de uma consciência voltada à participação crítica e responsável do indivíduo e da coletividade. Resumo Nesta aula vimos que o consumo não é resultado de uma escolha livre. Na atual fase do capitalismo, podemos observar que as necessidades continuam sendo definidas por especialistas e reforçadas pela mídia. Muitas vezes consumimos signos (marcas/objetos) na ilusão de satisfazermos nossas necessidades e nos sentirmos incluídos na sociedade de consumo. Sendo assim, precisamos rever nossos valores e estilo de vida enquanto indivíduos pertencentes à sociedade de consumo. O ponto fundamental dessa dinâmica está no despertar de uma nova maneira de pensar o mundo que supere a atual crise ambiental. Mudanças tão profundas de valores passam inevitavelmente pelo processo educativo. Dessa maneira, a Educação Ambiental torna-se a alternativa mais adequada para amenizar a crise ambiental e contribuir com a construção de uma consciência voltada à participação crítica e responsável do indivíduo e da coletividade Atividade de aprendizagem 01. Analise a figura a seguir e redija um texto de 8 a 10 linhas explicando-a. 02. Para Refletir!!! Você sente-se livre para escolher tudo aquilo que precisa ou acaba consumindo sob influência das propagandas? Reflita sobre isso e faça uma lista com 10 produtos que você consume mensalmente, verificando quais você realmente precisa. ______________________________________________________________ ______________________________________________________________ _____________________________________________________________ 61 ______________________________________________________________ ______________________________________________________________ ______________________________________________________________ ______________________________________________________________ ______________________________________________________________ ______________________________________________________________ ________________________________________________________ ______________________________________________________________ Aula 08 – A conservação do meio ambiente Conforme vimos nas aulas anteriores, a sociedade contemporânea pode ser considerada como aquela que mais interferência causou ao meio ambiente. Problemas como a poluição do ar, da água e do solo, atingem direta ou indiretamente os mais de seis bilhões de habitantes do planeta. Dessa maneira, o objetivo da presente aula é refletir sobre a importância da conservação ambiental para o futuro sustentável da humanidade sobre a Terra. Iniciaremos fazendo a leitura do seguinte texto: A natureza saqueada em 1999, a Terra ultrapassou os seis bilhões de habitantes, três vezes mais do que os pessimistas acreditavam ser prudente para evitar que os recursos naturais entrem em colapso. Apesar da cifra impressionante, o alarmismo malthusiano está em baixa. A humanidade tem enfrentado com relativo sucesso o desafio de produzir alimento. Sabe-se que o problema é distribui-lo para todos ao menos quando se considera a produção “per capita”. Mas não estão afastadas todas as dúvidas sobre a capacidade de o planeta sustentar tanta gente. Nesse contexto, a deterioração das reservas de água superficiais e subterrâneas ocorre ao mesmo tempo em que não se racionaliza o consumo e a população aumenta, traçando um novo quadro preocupante. Fonte: Folha de São Paulo, 02/07/1999 O texto anterior apresenta evidências da crescente desarmonia entre os homens e a natureza no Planeta como um todo. Nas últimas décadas, a globalização do modelo de desenvolvimento econômico capitalista globalizou não só a economia de mercado, mas a cultura do desperdício, da descartabilidade, do individualismo, do consumismo, intensificando os conflitos entre a humanidade e o meio natural. “Devemos reconhecer que a natureza tem capacidade limitada... ” Você faz ideia da quantidade de recursos naturais que consumirá durante sua vida? Temos aqui alguns dados que revelam o consumo aproximado de recursos naturais de um europeu ocidental, com expectativa de vida de 75 anos. Os europeus ocidentais consomem quatro vezes mais que os brasileiros. • 70 toneladas de alimentos; • Três milhões de kwh de energia (equivalente a 225 toneladas de petróleo); • Emissão de 20 toneladas de CO2; • 21 toneladas de resíduos domésticos; 61 • Ocupação do solo 4.300 m² / pessoa para agricultura, estradas, áreas urbanizadas, etc.; • Quatro milhões de litros de água (até 12 milhões de litros incluindo comércio e indústria). A partir desses dados, podemos perceber que precisamos alterar nosso padrão de consumo, fazendo escolhas dentro da capacidade de carga do Planeta. Devemos reconhecer que a natureza tem capacidade limitada, caso contrário, a tendência é que os problemas ambientais avancem proporcionalmente à inadequada extração dos recursos naturais. Resumo Nesta aula verificamos que consumimos muito mais do que realmente necessitamos. Estamos vivendo em uma sociedade caracterizada pela cultura do desperdício, da descartabilidade, do individualismo, do consumismo e portanto, precisamos urgentemente rever nossos valores em relação ao meio ambiente para que possamos reverter o quadro de degradação já instaurado em nosso planeta. Atividades de aprendizagem 1. Analise a figura a seguir e redija um comentário respondendo: Será que precisamos de tudo o que consumimos? 2. As relações conflitantes entre o homem e o meio ambiente são reveladas por fenômenos como a poluição, a degradação dos recursos naturais, e o esgotamento dos recursos naturais não-renováveis (SOUZA, 2000). Estes problemas já fazem parte do cotidiano de cada um de nós, muitas vezes estão diante dos nossos olhos, e o que fazemos pela conservação ambiental? Expresse sua opinião. Aula 09 - A Importância da Participação da Sociedade na Gestão do Meio Ambiente Nesta aula, buscaremos entendimento sobre a importância de cada cidadão exercer sua participação na gestão do meio ambiente. Vejamos como podemos participar! A participação na gestão do meio ambiente 61 Pelicioni (2004), ao discutir a importância de incluir a sociedade no processo decisório afirma que: “[...] a participação da sociedade possibilitará uma interferência positiva na gestão pública, constituindo-se como fator determinante na escolha de prioridades e na tomada de decisões. Essa participação que é um direito social deve ter um caráter processual, coletivo e ser transformadora, gerar uma intervenção consciente, feita por cidadãos críticos, sobre situações que lhes dizem respeito e dizem respeito à comunidade de que fazemparte e que representam. Essa participação inclusiva e que se constitui também uma necessidade humana básica e universal indica que indivíduos e grupos, no exercício de sua cidadania, são capazes de se mobilizar para obter objetivos sociais por meio da criação de mecanismos legais de representatividade, conselhos, comitês, entre outros, e de políticas compatíveis aos interesses da maioria. ” Em 1992, foi criado o Ministério do Meio Ambiente e instituídos Núcleos de Educação Ambiental em todas as superintendências estaduais do IBAMA, acelerando o processo de conscientização ambiental em nosso país. No ano seguinte, o Ministério de Educação e Cultura promoveu o 1º. Encontro Nacional de Centros Educação Ambiental, onde foram discutidas propostas pedagógicas voltadas à manutenção e melhoria da qualidade ambiental. A educação ambiental no programa nacional de educação ambiental Em 1994, foi criado o Programa Nacional de Educação Ambiental (PRONEA) para se alcançar em nível nacional três principais objetivos: 1. capacitação de gestores e educadores; 2. desenvolvimento de ações educativas e de desenvolvimento de instrumentos, 3. metodologias. Para saber mais sobre o PRONEA visite o site: http://www.mma.gov.br/estruturas/ educamb/_arquivos/pronea1.pdf Para tanto, foram traçadas as seguintes estratégias de ação: •Educação Ambiental através do ensino formal. •Educação no processo de Gestão Ambiental. •Campanhas de Educação Ambiental para usuários de recursos naturais. •Cooperação com meios de comunicação e comunicadores sociais. •Articulação e integração comunitária. •Articulação intra e interinstitucional. •Rede de centros especializados em Educação Ambiental em todos os Estados. No ano de 1997, Brasília sediou a Primeira Conferência de Educação Ambiental Nacional. O documento final, intitulado “Carta de Brasília para a Educação Ambiental”, definiu cinco áreas temáticas. Vejamos quais foram elas: • Educação Ambiental e Desenvolvimento Sustentável. http://www.mma.gov.br/estruturas/ 61 • Educação Ambiental Formal: papel, desafios, metodologias e capacitação. • Educação no processo de Gestão Ambiental: metodologia e capacitação. • Educação Ambiental e as Políticas Públicas: PRONEA, políticas de recursos hídricos, urbanas, agricultura, ciência e tecnologia. • Educação ambiental, ética, formação da cidadania, educação, comunicação e informação da sociedade. A regulação da educação ambiental brasileira, conforme já vimos, ocorreu com a promulgação da Lei Federal nº. 9.795/99, conhecida como Política Nacional de Educação Ambiental – PNEA. Atenção!!! Através da PNEA a Educação Ambiental passou a ser reconhecida oficialmente como uma área essencial e permanente em todo processo educacional do país, tanto na educação formal quanto informal. Em seu artigo 1º, a Política Nacional de Educação Ambiental define a Educação Ambiental demonstrando preocupação com as dificuldades apresentadas pela sociedade ao interagir com o meio ambiente, quando afirma que: “[...] por Educação Ambiental entende-se os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas à conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade.” Resumo Nesta aula pudemos perceber a importância da participação popular na gestão do meio ambiente e constatamos que a PNEA regulamentou a Educação Ambiental no nosso país. Para ampliar seus conhecimentos sobre a Educação Ambiental no Brasil faça a leitura da seguinte obra: Diferentes Matizes da Educação Ambiental no Brasil – 1997 – 2007 “Este livro nos apresenta a educação ambiental no Brasil, com sua história tão recente e tumultuada quanto sua importância e urgência para conseguirmos revolucionar as precárias relações entre nós, seres humanos, e as bases de sustentação da vida no nosso planeta.” (MMA, 2010) http://www.mma.gov. br/estruturas/educamb/_ arquivos/dif_matizes.pdf Atividades de aprendizagem 01. Qual é a importância da participação popular no processo de gestão ambiental? 02. Qual é a Lei que regulamenta a Educação Ambiental no Brasil? Aula 10 Sustentabilidade urbana A Revolução Industrial, ocorrida no século XVIII, trouxe consigo uma série de mudanças nos aspectos econômicos, sociais e ambientais. Uma delas foi a http://www.mma.gov 61 intensificação de um processo de urbanização alavancado pelo crescimento industrial e as suas consequências. Com o desenvolvimento das cidades, a população cresceu de forma acelerada, ocorrendo, assim, desigualdades no processo de urbanização em muitas cidades no mundo. Na presente aula, discutiremos sobre o desenvolvimento das cidades e os principais impactos ambientais resultantes desse processo de crescimento. Definindo objetivos Com base no conteúdo desta aula, esperamos que você, aluno, seja capaz de: • identificar os principais tipos de impactos ambientais produzidos pelas populações urbanas; • verificar a relação entre o desenvolvimento urbano e os impactos ambientais. Desenvolvendo o conteúdo Uma das consequências provocadas pela Revolução Industrial foi a degradação do meio ambiente em grande escala. Os resíduos do carvão que movia as máquinas a vapor, os metais e outras substâncias eram simplesmente descartados na água, no ar e no solo, sem considerar os possíveis resultados de tais práticas. A Revolução Industrial foi responsável direta e indiretamente por várias mudanças em diversas cidades em todo o mundo, inclusive no Brasil. Para Leal, Farias e Araújo (2008, p. 02), o Brasil passou por dois processos que merecem destaque quando se trata de ambientes urbanos: a rápida industrialização, resultante do pós-guerra e a urbanização desenfreada. No curso desse processo, reflexo das políticas desenvolvimentistas vigentes, uma série de regras de proteção ao meio ambiente e ao cidadão foram desrespeitadas ou mesmo desconsideradas. Os principais impactos ambientais urbanos 61 Em um centro urbano há uma infinidade de arranjos que possibilitam o funcionamento do mesmo. A população, cada vez mais crescente, faz uso de produtos que alteram a dinâmica do meio ambiente urbano. Dentre os principais problemas urbanos, destacam-se: Resíduos sólidos De acordo com o IBGE (2006, apud MUCELIN; BELLINI, 2008, p. 13), o consumo cotidiano de produtos industrializados é responsável pela contínua produção de lixo. A produção de lixo nas cidades é de tal intensidade que não é possível conceber uma cidade sem considerar a problemática gerada pelos resíduos sólidos, desde a etapa da geração até a disposição final. Nas cidades brasileiras, geralmente esses resíduos são destinados a céu aberto. Conforme dados apresentados pela Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos ABRELPE (2010), 61% dos municípios brasileiros ainda fazem uso de unidades de destinação inadequada de resíduos, encaminhando-os para lixões e aterros controlados, que pouco se diferenciam dos lixões, uma vez que ambos não possuem o conjunto de sistemas e medidas necessários para proteção do meio ambiente contra danos e degradações. O lixo depositado em local inadequado pode provocar mau cheiro, atrair animais vetores de inúmeras doenças, contaminação dos lençóis freáticos pelo chorume, além de provocar obstrução de canais e galerias para águas pluviais, contribuindo para as inundações nas pequenas e grandes cidades. Poluição sonora A poluição sonora tem se mostrado um dos problemas ambientais graves nos grandes centros urbanos. Para Almeida (1999, p. 05), é uma ameaça constante ao homem. A nocividade do ruído está diretamente relacionada ao seu espectro de 61 frequências, à intensidade da pressão sonora, à duração da exposição diária, bem como à suscetibilidade individual. Embora exista legislação específica que regula os limites de emissão de ruídos e estabelece medidas
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