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DIREITO PENAL P R O F . T A S S I O D U D A 2020 Direito Penal Tema: Requisitos do crime continuado Prof. Tassio Duda O crime de estelionato é previsto no art. 171 do Código Penal (CP). No caput há o “estelionato comum” enquanto nos §§ 1º e 2º existem outras espécies de estelionato. No presente resumo serão abordados os aspectos básicos do crime de estelionato simples ou comum. A redação do caput é a seguinte: De acordo com Bitencourt (2018, pg. 249), o estelionato é um crime patrimonial praticado mediante fraude. Nas palavras do autor: . O sujeito ativo do crime de estelionato pode ser qualquer pessoa, sem necessidade de condição especial. Ou seja, trata-se de crime comum, sendo admitido o concurso eventual de pessoas em qualquer de suas formas (coautoria e participação). Por seu turno, o sujeito passivo pode ser qualquer pessoa, física ou jurídica. É possível, inclusive, a existência de dois “sujeitos passivos” quando, a título de exemplo, a pessoa enganada for distinta da que sofre o prejuízo. Imagine a situação em que o empregado sofre um golpe (fraude), mas quem suporta o prejuízo da ação é o empregador. Importante destacar que o sujeito passivo deve, necessariamente, ser pessoa(s) determinada(s). Tratando-se de pessoas indeterminadas, pode configurar-se crime contra a economia popular ou contra as relações de consumo (Bitencourt, 2018). O núcleo do crime de estelionato é obter. Segundo Cléber Masson (2018), obter equivale a alcançar um lucro indevido em decorrência do engano provocado na vítima, que contribui para a finalidade do criminoso sem notar que está sendo lesada em seu patrimônio. 1. ESTELIOANTO Art. 171 - Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento: Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa, de quinhentos mil réis a dez contos de réis. O bem jurídico protegido é a inviolabilidade do patrimônio, particularmente em relação aos atentados que podem ser praticados mediante fraude. Tutela-se tanto o interesse social, representado pela confiança recíproca que deve presidir os relacionamentos patrimoniais individuais e comerciais, quanto o interesse público de reprimir a fraude causadora de dano alheio. 2. SUJEITOS ATIVO E PASSIVO 3. NÚCLEO DO TIPO Direito Penal Tema: Requisitos do crime continuado Prof. Tassio Duda Trata-se de conduta composta, pois a descrição legal contém a expressão “obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro”. Quanto às condutas de induzir e manter, Victor Eduardo esclarece que: Mas para induzir ou manter a vítima em erro, o agente criminoso deve utilizar algum dos meios de execução previstos no tipo penal. Bom, os meios de execução são: a) Artifício; b) Ardil; ou c) Qualquer outro meio fraudulento. Bitencourt (2018) explica que: Cléber Masson (2018), por sua vez, esclarece que: A expressão “qualquer outro meio fraudulento” indica o emprego de uma fórmula genérica. Utiliza-se, aqui, a interpretação analógica, enquadrando o meio fraudulento de cada caso concreto. De acordo com o tipo penal do estelionato, é necessário que o agente, ao empregar o artifício, ardil ou outra fraude, tenha por finalidade induzir ou manter o sujeito passivo em erro. Na primeira hipótese, é o agente quem toma a iniciativa de procurar a vítima e ludibriá-la. Na segunda, ela espontaneamente incorre em erro em relação a determinada situação, e o agente, ao perceber tal engano, a mantém nesse estado. (2019, pg. 421) Quais são esses meios? Para enganar alguém, induzindo-o ou mantendo-o em erro, pode-se empregar artifício, ardil ou qualquer outro meio fraudulento. Artifício é toda simulação ou dissimulação idônea para induzir uma pessoa ao erro, levando-a à percepção de uma falsa aparência da realidade; ardil é a trama, o estratagema, a astúcia; qualquer outro meio fraudulento é uma fórmula genérica para admitir qualquer espécie de fraude que possa enganar a vítima. Artifício é a fraude material. O agente utiliza algum instrumento ou objeto para enganar a vítima. Exemplo: “A” veste-se com o uniforme de uma oficina mecânica para que “B” voluntariamente lhe entregue seu automóvel. Ardil, por seu turno, é a fraude moral, representada pela conversa enganosa. Exemplo: “A”, alegando ser especialista em relógios automáticos, convence “B” a entregar-lhe seu relógio para limpeza de rotina. Direito Penal Tema: Requisitos do crime continuado Prof. Tassio Duda O artigo é claro ao exigir a necessidade de que o agente vise obter alguma vantagem ilícita. Mas... Alguns doutrinadores, como Cleber Masson, defendem que a natureza deve ser econômica, pois o estelionato é um crime praticado contra o patrimônio. Ademais, fala- se em vantagem ilícita porque não corresponde a nenhum direito. Caso a vantagem fosse lícita, a conduta, em tese, poderia se enquadrar no delito de exercício arbitrário das próprias razões (CP, art. 345), a depender do contexto fático. Bitencourt, por outro lado, entende que: O prejuízo alheio é o dano patrimonial. Não basta a obtenção de vantagem ilícita ao agente. É necessário que haja prejuízo ao ofendido. Sebastian Soler explica que: Esse prejuízo alheio, além de patrimonial, ou seja, economicamente apreciável, deve ser real, não sendo suficiente que seja meramente potencial. O erro é a falsa representação ou avaliação equivocada da realidade, que está apta a criar uma manifestação de vontade viciada. Nas palavras de Bitencourt: Qual a natureza da vantagem ilícita? 4. VANTAGEM ILÍCITA O argumento de que a natureza econômica da vantagem é necessária, pelo fato de o estelionato estar localizado no Título que disciplina os crimes contra o patrimônio, além de inconsistente, é equivocado. Uma coisa não tem nada que ver com a outra: os crimes contra o patrimônio protegem a inviolabilidade patrimonial da sociedade em geral e da vítima em particular, o que não se confunde com a vantagem ilícita conseguida pelo agente. Por isso, não é a vantagem obtida que deve ter natureza econômica; o prejuízo sofrido pela vítima é que deve ter essa qualidade. 5. PREJUÍZO ALHEIO Prejuízo patrimonial não quer dizer somente prejuízo pecuniário: a disposição tomada pode consistir na entrega de uma soma em dinheiro, de uma coisa, móvel ou imóvel, de um direito e também de um trabalho que se entenda retribuído, ou de um serviço tarifado. Pode também consistir na renúncia a um direito que positivamente se tem. Deve tratar-se, em todo caso, de um valor economicamente apreciável, sobre o qual incida o direito de propriedade no sentido amplo em que tal direito é entendido pela lei penal. 6. ERRO Direito Penal Tema: Requisitos do crime continuado Prof. Tassio Duda Vale lembrar que essa conduta é concretizada de duas formas: induzindo a vítima a erro ou mantendo-a. Resumindo o que foi estudado, há quatro momentos diversos no crime de estelionato: Primeiro, há emprego de fraude. Segundo, há situação de erro na qual a vítima é colocada ou mantida; Terceiro, há a obtenção de vantagem ilícita; e Por último, há o prejuízo suportado pela vítima. A vítima supõe, por erro, tratar-se de uma realidade, quando na verdade está diante de outra; faz, em razão do erro, um juízo equivocado da relação proposta pelo agente. A conduta fraudulenta do sujeito leva a vítima a incorrer em erro. “O agente coloca — ou mantém — a vítima numa situação enganosa, fazendo parecer realidade o que efetivamente não é. Ex.: o autor finge manter uma agência de venda de carros, recolhe o dinheiro da vítima, prometendo-lhe que entregará o bem almejado, e desaparece”DIREITO PENAL CAPA.pdf Microsoft Word - ESTELIONATO.pdf
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