Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Capítulo 1 – Variáveis e Números Complexos UFPA /ITEC/FEEB – Funções de Uma Variável Complexa – Rsana Sares 4 CAPÍTULO 1 – VARIÁVEIS E NÚMEROS COMPLEXOS (A) INTRODUÇÃO: ORIGEM E CONCEITO UM POUCO DA HISTÓRIA Durante muitos séculos de estudo de equações algébricas, os matemáticos pensavam nelas como meios de resolver problemas concretos. Um bom exemplo disto pode ser encontrado no livro “Ars Magna” (A Grande Arte) de Giarolamo Cardano (1501-1576) publicado em 1545. Nessa obra, o autor discute o problema de encontrar dois números x e y cuja soma seja 10, ou seja, x + y =10 e cujo produto seja 40 ou xy = 40. Este problema gera uma equação quadrática x2 −10x + 40 = 0, cujas raízes são e . Desse modo, ele observa que estes números não existem. Em outro livro, diz que: “Raiz quadrada de 9 é 3 ou –3, mas não é nem 3, nem –3 e sim alguma terceira espécie de coisa misteriosa.” O maior triunfo de Cardano foi dar uma fórmula para resolver uma equação cúbica, com a forma dada por x3 + px + q = 0, usada ainda hoje como Fórmula de Cardano. A sua fórmula dava soluções para muitas equações cúbicas, mas em certos casos havia uma “aberração”, pois apareciam as raízes quadradas de números negativos. O passo que faltava para o entendimento dessas coisas misteriosas foi fornecido por Rafael Bombelli (1526-1572), discípulo de Cardano. No seu livro “Álgebra”, Bombelli ampliou as ideias de Cardano em diversas direções. Ele argumentou que era possível operar com essa “nova espécie de radical” apesar de não pensar neles como números. Simplesmente usava as operações aritméticas com eles. Esse foi o primeiro sinal de que os números complexos poderiam ser ferramentas úteis. Mas o preconceito e a resistência entre os ilustres da matemática continuaram. Meio século mais tarde, Albert Girard e Renée Descartes afirmaram que uma equação algébrica de grau n terá n raizes, desde que se permitam raízes “verdadeiras” (reais positivas), raízes “falsas” (reais negativos) e raízes “imaginárias” (complexas). Isso ajudou a tornar a teoria geral das equações algébricas mais simples e arrumada. O próximo passo foi de Abraham De Moivre no início do século XVIII. Está implícito no trabalho de De Moivre a seguinte fórmula: (cos(x)+isen(x))n= cos(nx) + isen(nx) , para n inteiro. Alguns anos mais tarde, Leonhard Euler, usando cálculo descobriu que: eix =cos(x)+isen(x) , para x medido em radianos. Para x = π , esta expressão se torna eiπ = −1 , que relaciona alguns dos mais importantes números da Matemática: os números irracionais “e” e “π”, o número imaginário i e o número 1 com o sinal negativo. Em meados do século XVIII sabia-se que os números complexos tinham uma ligação profunda com as funções trigonométricas e exponenciais. Mas persistiam alguns problemas. Para Euler, a raiz quadrada de -2 ainda era um problema. Capítulo 1 – Variáveis e Números Complexos UFPA /ITEC/FEEB – Funções de Uma Variável Complexa – Rsana Sares 5 Carl F. Gauss (1787-1855) foi um dos mais impressionantes homens nos séculos XVIII e XIX. Em sua tese de doutorado, na Universidade de Helmstadt, escrita aos vinte anos de idade, deu a primeira demonstração do Teorema Fundamental da Álgebra, o qual afirma que uma equação polinomial, com coeficientes complexos, e de grau n>0, tem pelo menos uma raiz complexa. Euler, D’Alembert e Lagrange haviam feitos tentativas frustradas desta prova. A ideia por trás da demonstração de Gauss é a substituição de z por x + iy, na equação polinomial geral f (z) = 0. Foi Gauss quem propôs o termo “números complexos”. No século XIX, as coisas começaram a ser colocadas em ordem. O matemático francês J. R. Argand foi o primeiro a sugerir em 1806 que seria possível representar geometricamente os complexos em um plano. Gauss propôs a mesma idéia em 1831 de modo que o plano no qual os complexos são representados é chamado de plano de Argand-Gauss. “Texto extraído do Guia do Professor da Série Matemática na Escola – Um Sonho Complexo - Autor Otília W. Paques - Universidade Estadual de Campinas e Instituto de Matemática, Estatística e Computação Científica” TABELA TARTAGLIA (CERCA DE 1500-1557) CARDANO (1501-1576) BOMBELLI (CERCA DE 1526-1573) EULER (1707-1783) GAUSS (1777-1855) DESCOBRIU UMA FÓRMULA GERAL PARA RESOLVER EQUAÇÕES DO TIPO X³ + PX = Q, COM P, Q SENDO NÚMEROS REAIS. MAS, ACABOU NÃO PUBLICANDO SUA OBRA QUEBROU UM JURAMENTO FEITO A TARTAGLIA, APRESENTANDO A FÓRMULA DE TARTAGLIA NA SUA OBRA ARS MAGNA. SURGE O IMPASSE DA RAIZ QUADRADA DE UM NÚMERO NEGATIVO. PROSSEGUIU COM A SOLUÇÃO ENCONTRADA POR CARDANO, CONSIDEROU A RAIZ QUADRADA DE -1 COMO UM NÚMERO "IMAGINÁRIO" E DESENVOLVEU REGRAS PARA TRABALHAR COM ESSE TIPO DE NÚMERO. USOU PELA PRIMEIRA VEZ O SÍMBOLO i PARA REPRESENTAR A RAIZ QUADRADA DE -1 FEZ UM ESTUDO DA REPRESENTAÇÃO GEOMÉTRICA DOS NÚMEROS COMPLEXOS. EM 1832, GAUSS INTRODUZ A EXPRESSÃO NÚMERO COMPLEXO. CONCEITO O símbolo i foi utilizado para designar o resultado de , o qual é denominado de unidade imaginária: ou Desse modo, a definição de número complexo é: Qualquer número de forma , sendo que e são números reais e é a unidade imaginária. é chamada de parte real de z , ou seja é chamada de parte imaginária de z ou ainda, Capítulo 1 – Variáveis e Números Complexos UFPA /ITEC/FEEB – Funções de Uma Variável Complexa – Rsana Sares 6 CONJUNTOS NUMÉRICOS O Conjunto dos números complexos é denominado C. Levando-se em conta que qualquer número real pode ser escrito como , é possível afirmar que o conjunto dos números reais R é um sub conjunto dos números complexos C. Diagrama dos conjuntos numéricos NÚMEROS COMPLEXOS x VARIÁVEIS COMPLEXAS Sendo comum utilizar a abstração de números reais em variáveis e , também pode ser utilizada a abstração de números complexos em variáveis complexas . (B) REPRESENTAÇÃO NO PLANO COMPLEXO Números reais podem ser representados por pontos em um eixo denominado de eixo real, conforme indicado na figura abaixo: Eixo Real Números complexos do tipo podem ser caracterizados por um par ordenado de números reais (x,y), podendo ser representados por um ponto no plano complexo. O plano complexo também é denominado de plano Z e os eixos x (eixo horizontal) e y (eixo vertical) como eixos real e imaginário respectivamente, conforme figura abaixo. Plano Complexo ou Plano Z – Eixo Real e eixo Imaginário Capítulo 1 – Variáveis e Números Complexos UFPA /ITEC/FEEB – Funções de Uma Variável Complexa – Rsana Sares 7 Um número complexo corresponde a um único ponto no plano Z (plano complexo), assim como para cada ponto no plano Z corresponde um único número complexo. Dessa forma é comum se referir a um número complexo como um ponto no plano Z. Na figura abaixo são representados diferentes pontos no plano Z os quais correspondem a diferentes números complexos. Plano Z (XY) – Pontos (x,y) representando Números complexos z=x+iy IGUALDADE Sejam os números complexos e . A igualdade será verdadeira somente se e . MÓDULO Módulo, valor absoluto ou norma de um número complexo é definido como sendo o número não negativo , o qual pode ser interpretado como a distância do ponto (x,y) à origem do plano complexo ou o tamanho do vetor que tem inicia na origem do plano complexo e termina no ponto (x,y). COMPLEXO CONJUGADO O complexo conjugado de é definido como sendo . PROPRIEDADES DO MÓDULO E DO CONJUGADO a) b) c) d) (C) ÁLGEBRA DE NÚMEROS COMPLEXOS Números complexos podem ser adicionados, subtraídos, multiplicados e divididos. Desse modo, considerando osnúmeros complexos e , tem-se que: Capítulo 1 – Variáveis e Números Complexos UFPA /ITEC/FEEB – Funções de Uma Variável Complexa – Rsana Sares 8 Adição: Subtração: Multiplicação: Divisão: As propriedades comutativa, associativa e distributiva dos números ou variáveis complexas: Comutativa: e Associativa: e Distributiva: Tomando como base as propriedades é possível estabelecer as regras para as operações básicas de adição (subtração), multiplicação e divisão: 1. Para somar (subtrair) dois números complexos, basta somar (subtrair) suas correspondentes partes reais e imaginárias. 2. Para multiplicar dois números complexos, basta utilizar a propriedade distributiva e o fato de que i 2 = −1. 3. Para dividir z1 por z2, multiplica-se o numerador e denominador de z1/ z2 pelo conjugado de z2 e utiliza-se o fato de que . (D) FORMA POLAR O ponto no plano complexo (x,y) pode ser representado na forma polar com (r,), sendo que r é a distancia do ponto à origem do plano complexo ou o tamanho do vetor que começa na origem do plano e termina no ponto (x,y) do plano e é o ângulo que o referido vetor forma com o eixo real do plano complexo. Forma Polar Capítulo 1 – Variáveis e Números Complexos UFPA /ITEC/FEEB – Funções de Uma Variável Complexa – Rsana Sares 9 Sendo que: ; ou Logo é a distância para a origem do plano e o angulo θ é a inclinação do vetor medido em radianos em relação ao eixo real positivo. O ângulo é medido no sentido anti-horário como positivo e no sentido horário como negativo. O angulo θ é denominado de argumento de z com a notação de θ = arg(z). Observação: O argumento θ de um número complexo quando representado por arg(z), em geral representa um conjunto infinito de valores, mas quando representado por Arg(z) assume um único valor que se encontra no intervalo −π < θ ≤ π e é denominado de argumento principal. EXPONENCIAL Sendo “e” a constante de Euler um número irracional de valor aproximadamente igual a 2,71828 e Manipulando-se as séries infinitas de MacLaurin abaixo para todos os valores reais da variável x Demonstra-se que se então , a qual é denominada de identidade de Euler. E a partir da fórmula de Euler: 1. Utilizando a representação polar, tem-se que: = 2. Assumindo (E) PROPRIEDADES PRODUTO E QUOCIENTE Sejam dois números complexos ou e ou Capítulo 1 – Variáveis e Números Complexos UFPA /ITEC/FEEB – Funções de Uma Variável Complexa – Rsana Sares 10 Logo: Ou Demonstra-se que: Com a propriedade do produto é possível obter fórmula de De Moivre, levando-se em conta o produto de n números complexos iguais e de módulo r, ou seja: Ou N-ÉSIMAS RAÍZES O número z é raiz n-ésima de um dado número complexo w, se . Para tanto, assuma que: e Logo , ou seja e para k=0,1,2...n-1. Assim as n-ésimas raízes de z tem o mesmo módulo com diferentes argumentos, dados por: e , com k=0,1,2...n-1 VALOR ABSOLUTO Considerando que dado e que o valor absoluto é dado por , tem-se que: , sendo que se então ; ; e ; e Capítulo 1 – Variáveis e Números Complexos UFPA /ITEC/FEEB – Funções de Uma Variável Complexa – Rsana Sares 11 , dado que a representação gráfica da soma conforme figura abaixo: Soma de Números complexos Considerando que e que então: ou Sabendo que conforme mostra figura abaixo: Subtração de Números complexos E ainda: e (F) CONJUNTO DE PONTOS NO PLANO COMPLEXO As soluções de funções de uma variável complexa podem ser representadas no plano complexo por um ponto se a solução for única ou por um conjunto de pontos (fronteiras ou regiões) se existirem várias soluções. ALGUNS EXEMPLOS a. (ponto); b. (reta paralela ao eixo vertical); c. (reta paralela ao eixo horizontal) d. (reta de inclinação unitária, passando pela origem e no primeiro quadrante do plano) e. (Círculo centrado na origem e de raio igual a 3) Capítulo 1 – Variáveis e Números Complexos UFPA /ITEC/FEEB – Funções de Uma Variável Complexa – Rsana Sares 12 ALGUMAS TERMINOLOGIAS UTILIZADAS NA TEORIA DE CONJUNTOS a. Círculo: Supondo um ponto e assumindo . A distância entre dois pontos e é . Logo, é um círculo de raio e centrado em zo. b. Disco (fechado): Supondo um ponto e assumindo . A região definida por também é chamada de disco, ou mais apropriadamente, um disco fechado centrado em e raio . Esta região consiste do interior do círculo e do próprio C c. Vizinhança: Supondo um ponto e assumindo , sendo tão pequeno quanto se queira, é vizinhança de , sendo um conjunto do tipo disco que excluí a fronteira (disco aberto). Afirmação: zo é um ponto no interior de um conjunto C se C for vizinhança de zo d. Vizinhança Perfurada: É um conjunto do tipo disco que exclui a fronteira e o centro. Supondo um ponto e assumindo então, e. Conjunto complementar de C: É o conjunto dos pontos que não pertencem ao conjunto C. f. Fronteira do conjunto C é o conjunto de pontos tais que suas vizinhanças contém pontos de C e pontos do seu complementar C’. g. Conjunto Aberto: Se e somente se ele não contém os pontos de sua fronteira. h. Conjunto Fechado: Quando o seu complementar é aberto ou quando incluí a fronteira.
Compartilhar