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1 Disciplina: Orçamento público e gestão orçamentária Autores: D.ra Vanessa Aparecida de Souza Fontana Revisão de Conteúdos: Esp. Larissa Carla Costa Revisão Ortográfica: Ana Carolina Oliveira Freitag Ano: 2018 Copyright © - É expressamente proibida a reprodução do conteúdo deste material integral ou de suas páginas em qualquer meio de comunicação sem autorização escrita da equipe da Assessoria de Marketing da Faculdade São Braz (FSB). O não cumprimento destas solicitações poderá acarretar em cobrança de direitos autorais. 2 Vanessa Aparecida de Souza Fontana Orçamento público e gestão orçamentária 1ª Edição 2018 Curitiba, PR Editora São Braz 3 FICHA CATALOGRÁFICA FONTANA, Vanessa Aparecida de Souza. Orçamento público e gestão orçamentária / Vanessa Aparecida de Souza Fontana. – Curitiba, 2018. 60 p. Revisão de Conteúdos: Larissa Carla Costa. Revisão Ortográfica: Ana Carolina Oliveira Freitag. Material didático da disciplina de Orçamento público e gestão orçamentária – Faculdade São Braz (FSB), 2018. ISBN: 978-85-5475-191-3 4 PALAVRA DA INSTITUIÇÃO Caro(a) aluno(a), Seja bem-vindo(a) à Faculdade São Braz! Nossa faculdade está localizada em Curitiba, na Rua Cláudio Chatagnier, nº 112, no Bairro Bacacheri, criada e credenciada pela Portaria nº 299 de 27 de dezembro 2012, oferece cursos de Graduação, Pós-Graduação e Extensão Universitária. A Faculdade assume o compromisso com seus alunos, professores e comunidade de estar sempre sintonizada no objetivo de participar do desenvolvimento do País e de formar não somente bons profissionais, mas também brasileiros conscientes de sua cidadania. Nossos cursos são desenvolvidos por uma equipe multidisciplinar comprometida com a qualidade do conteúdo oferecido, assim como com as ferramentas de aprendizagem: interatividades pedagógicas, avaliações, plantão de dúvidas via telefone, atendimento via internet, emprego de redes sociais e grupos de estudos o que proporciona excelente integração entre professores e estudantes. Bons estudos e conte sempre conosco! Faculdade São Braz 5 Apresentação da disciplina Nesta disciplina serão discutidos os princípios que regem o orçamento público e as finanças públicas dentro de uma visão constitucional, bem como sua relação com o Estado em sua função distributiva e estabilizadora. Nessa perspectiva, o objetivo é apresentar uma discussão que perpasse não somente a técnica que a disciplina envolve, mas também o seu pano de fundo, isto é, o papel desenvolvido pelo Estado do ponto de vista do interesse público e o papel fundamental desempenhado pelo orçamento, pois é dele que nascem as políticas públicas. Serão discutidos: o dualismo que envolve o processo do federalismo fiscal, a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e as demais propostas que envolvem o funcionamento do orçamento, especialmente as discussões oriundas do Legislativo. 6 Aula 1 - Finanças públicas Apresentação da aula 1 Nessa aula será estudado o que são as finanças públicas e será apresentada a contribuição de grandes autores como John Keynes (1883-1946), Alvin Hansen (1887-1975), Richard Musgrave (1910-2007) e James Buchanan (1791-1868) que construíram os princípios da política fiscal (1930-1940) e contribuíram criando as bases para a consolidação de uma economia do setor público. Esses autores clássicos entendiam as finanças públicas como questões desvinculadas do processo econômico. Para eles, as finanças públicas serviam para dar subsídio às funções básicas do Estado, e isso ocorria, no entendimento deles, por meio de mecanismos neutros em relação às leis que organizam o mercado. 1.1 Finanças públicas e o Estado Todas as pessoas são beneficiadas e impactadas pelas políticas públicas, mas para que elas ocorram são necessários recursos, orçamento e planejamento, que estão previamente definidos nas leis que determinam as regras gerais de funcionamento do Estado. O tempo todo as pessoas são afetadas pelas políticas estatais e também contribuem para ela. À medida que se financia essas políticas, configura-se o Pacto Social, que se assume quando se resolve viver em sociedade. Quando se fala em Finanças Públicas, remete-se essa discussão ao papel do Estado. Para discutir esse tema é preciso defini-lo. De acordo com Max Weber (1982) é o monopólio do uso legítimo da força física, e em termos de tributos isso fica muito claro, pois se se os impostos não forem pagos existirão sanções legítimas impostas pelo Estado, como exemplo, cadastro de inadimplentes junto a Fazenda Pública. O Estado deve oferecer “bens” e “serviços públicos” e o custo desses devem ser divididos entre os beneficiados que residem em determinada região. Quando se fala disso deve-se também discutir o “federalismo fiscal”, que 7 trata da estrutura do setor público e por consequência da qualidade dessa estrutura. Sabe-se que um Estado como o brasileiro possui imensas desigualdades regionais e os governos podem fazer uso de mecanismos compensatórios, por meio de transferências intergovernamentais. Assim, as finanças e o orçamento oferecem condições para a correção das diferenças existentes entre os Estados Federados. Para que essa redistribuição ocorra é preciso avaliar a capacidade econômica do país, pois ela oferece os indicadores necessários para avaliar as finanças públicas e a sua base tributária, pois é a partir dela que os governos possuem poder para instituir impostos que financiam a oferta de bens e a prestação de serviços que atendem à população. Vocabula rio Transferências Intergovernamentais – um dos papéis do Estado é combater as desigualdades, para tanto é preciso de políticas que equalizem essas diferenças. Um dos caminhos políticos é a presença de instrumentos compensatórios, no caso em tela, o Governo Federal transferência de recursos, ou transferências intergovernamentais com o objetivo de uniformizar a prestação de serviços públicos. Sabe-se que o Estado adquiriu cada vez mais funções, especialmente, em um mundo globalizado, voltando ao seu papel de regulador da economia e de um Estado que protege os direitos sociais. Essas mudanças foram consolidadas no início do século XXI, sendo que os seus principais traços correspondem às transformações econômicas, políticas e tecnológicas da denominada globalização e que impôs um novo modelo de Estado. Até então existiam dois regimes políticos e econômicos contrapostos, um denominado de esquerda (socialismo) capitaneado pela extinta União Soviética, e um modelo de direita (capitalismo), representado pelos Estados Unidos da América. Dentro desses dois modelos políticos tem-se impactos importantes na redistribuição ou alocação dos recursos públicos provenientes de impostos. 8 O Estado é peça chave na indução das atividades econômicas, sociais e políticas, que só podem ocorrer por meio de um leque diversificado de políticas. O Estado como promotor do desenvolvimento é um agente fundamental para que as necessidades da sociedade sejam satisfeitas. Essas são as funções do Estado: a) regulador da economia; b) promotor do desenvolvimento; c) redistribuição de renda; d) estabilização da economia; e) produção e fornecimento de bens e serviços públicos. Uma lição que fica desse cenário complexo é que o mercado não consegue incentivar o desenvolvimento necessário somente pelas suas Leis, ele depende da organização política, das estruturas sociais e do Estado. Especialmente quando se percebea importância do Estado e dos recursos e instrumentos que ele dispõe, dentre eles, o poder legal da coerção que o torna indutor de atividades econômicas. O Estado tem capacidade de tomar decisões econômicas que afetam famílias e empresas. Para Refletir O mercado “[...] tem, hoje, e terá, cada vez mais, papel fundamental na sociedade. Nesse sentido, pode-se dizer que estamos – e que permaneceremos – numa sociedade capitalista de fato. Entretanto, há diferentes formas de capitalismo, ou seja, diversas alternativas possíveis de gestão do mercado. Porque capitalismo não significa, necessariamente, deixar o mercado completamente autônomo. Existem formas de organização da sociedade que procuram domesticá-lo por meio de regulamentação, promovendo o equilíbrio” (ROBERT CASTEL:1998, p. 04). Você concorda que não existe outro caminho que não seja o capitalismo e que o Estado joga um papel preponderante em relação ao Mercado? 9 O crescimento econômico sustentado depende de uma responsabilidade comum entre o Estado e o mercado, pois possuem uma interação necessária, isto é, sociopolítica. No Brasil, a organização das finanças públicas ocorre com dispositivos presentes na Constituição Federal de 1988, artigo 167, e pela Lei Complementar nº101/2000 conhecida como Lei de Responsabilidade Fiscal. Essas normas definem as linhas de atuação dos governos federais, estaduais, distritais e municipais, relativas tanto ao planejamento das receitas como das despesas que formam o orçamento público. As finanças públicas consistem na atividade financeira do Estado. Importante As finanças públicas são atividades financeiras destinadas a “[...] obtenção e o emprego dos meios materiais e de serviços para a realização das necessidades da coletividade, de interesse geral, satisfeitas por meio do processo do serviço público. É a intervenção do Estado para prover essas necessidades da população. Assim, a necessidade torna-se pública por uma decisão dos órgãos políticos” (MATIAS- PEREIRA, 2006, p. 133). Assim se percebe que o Estado tem como principal responsabilidade dar condições para o funcionamento dos serviços públicos necessários para a população e para o coletivo social. Mas para oferecer serviços é preciso recursos financeiros oriundos de várias fontes para garantir a execução dos mesmos, que são indispensáveis para o bom funcionamento do Estado e para a realização do bem comum em prol da população. A fórmula é a seguinte: as necessidades públicas são supridas com a transferência da parcela de recursos tanto de indivíduos como de empresas para o Estado, completando assim o círculo financeiro entre a sociedade e o Estado. 10 Amplie Seus Estudos SUGESTÃO DE LEITURA Leia a obra História do Tributo no Brasil, de Ubaldo Cesar Balthazar. O livro apresenta as origens do tributo na história da civilização desde a Colônia até a Constituição de 1988, apresentando as especificidades do sistema tributário dentro de cada uma das Constituições brasileiras. O principal objeto das finanças públicas é a atividade fiscal em que o Poder Público tem como objetivo obter, e por consequência, aplicar esses recursos para custear os serviços públicos. Assim, há dois caminhos que orientam a política fiscal: A existência de uma política tributária materializada na captação de recursos, arrecadação, por parte do Estado, com o objetivo de reverter no custeio de serviços e bens públicos; A política orçamentária, que é a forma como ocorrerá a aplicação desses recursos, como serão os gastos do ente público, observando a capacidade e disposição na realização desses gastos. O que fica claro com essa discussão é que a arrecadação, as finanças públicas e o orçamento público têm como objetivo a reversão em benefícios e serviços sociais para a própria população. Ví deo Acessando a página do Orçamento Federal, você terá disponível para visualização uma série de animações criada para explicar de maneira simples e divertida a importância do orçamento público e como ele é elaborado no Brasil. Acesse em: https://www12.senado.leg.br/orcamentofacil 11 As finanças públicas são uma atividade fiscal em que o Poder Público tem como objetivo obter recursos e aplicá-los em dois atos: 1. Ato Vinculado: é quando o recurso segue somente um percurso. 2. Ato Discricionário: é quando existem duas opções possíveis de percurso. Ao discutir a arrecadação e a aplicação de recursos, cabe apresentar o conceito de tributo, que está presente no artigo 3º do Código Tributário Nacional. Nessa norma, têm-se dois conceitos importantes, e o entendimento é de que tributo é toda prestação pecuniária compulsória, em moeda, ou cujo valor nela se possa exprimir, que não constitua sanção de ato ilícito, instituída em lei e cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada. Já a multa é uma sanção. 1.2 Evolução do Orçamento O orçamento público é marcado pela multidisciplinaridade de campos, como: o político, o jurídico, o contábil, o administrativo, o econômico e o financeiro. Mas ele, assim como as finanças públicas, passou por evoluções conceituais, divididos em duas fases: o orçamento tradicional e o orçamento moderno. O orçamento tradicional, surgido formalmente na Inglaterra em 1822, teve como função principal disciplinar as finanças públicas, criando condições para que os órgãos de representação tivessem como exercer controle político sobre o Executivo. O contexto sócio-político era o do funcionamento do Estado Liberal e o seu objetivo era manter o controle fiscal e evitar que os gastos expandissem. 12 Curiosidade William Ewart Gladstone (1809-1898), foi um político liberal e célebre Ministro das finanças da Inglaterra (1868-1874), dizia que as despesas que excedessem as legítimas e reais necessidades do país constituíam não somente desperdício pecuniário, mas um grande mal político e, acima de tudo, moral. Apesar de a expressão ser do século passado, ela é extremamente atual. Nesse contexto o orçamento era o modelo mais eficiente de controle, pois tanto as receitas quanto as despesas eram apresentadas. Há no orçamento tradicional duas classificações clássicas. A primeira por unidades administrativas que são os órgãos responsáveis pelos gastos e a segunda por objeto ou despesa. Nessa lógica, alguns autores apontam, especialmente no meio jurídico, como lei dos meios, isto é, o caminho para se atingir objetivos. Importante Conceito de Orçamento Tradicional: “Planejamento, programação e orçamentação constituem os processos por meio dos quais os objetivos e os recursos, e suas inter-relações, são levados em conta, visando a obtenção de um programa de ação, coerente e compreensivo para o governo como um todo” (GIACOMONI, 2005, p. 68). No orçamento moderno, na passagem para o século XX, o Estado passou a abandonar a sua neutralidade como na fase do laissez-faire, agora o Estado passou a corrigir distorções do sistema econômico, especialmente, como promotor de programas de desenvolvimento. 13 Vocabula rio Laissez-faire é um termo em francês que significa “deixe fazer”, utilizado em referência ao pensamento do liberalismo econômico que defende a economia livre de intervenções governamentais. Fonte: https://www.dicionariofinanceiro.com/laissez-faire/ A principal função do orçamento público de tipo moderno é ser um instrumento da administração, com o objetivo de auxiliar o Executivo nas etapas que envolvem o processo administrativo, que consiste: Na programação; Na execução; No controle. A partir desses pontos podemos definir o que é orçamento. Assim, orçamento é: um plano apresentado em termos de dinheiro, definido para um tempo determinado, a partir de um programa determinado, e os meiosde financiamento desse programa. A importância dessa intervenção já aparecia na década de 1930, com Keynes como um instrumento da política fiscal do governo, com o objetivo de ampliar ou estabilizar a atividade econômica. Saiba Mais John Maynard Keynes (1883-1946) foi um economista britânico que defendeu uma política econômica de Estado intervencionista, se opondo a ideia de que os mercados livres ofereceriam automaticamente empregos aos trabalhadores e defendeu o modelo em torno do qual os governos devem usar medidas fiscais e monetárias para mitigar os efeitos adversos dos ciclos econômicos como a recessão e a depressão. Embora Keynes tenha rejeitado o capitalismo liberal de tipo “laissez-faire”, ele não era um anticapitalista e na realidade queria encontrar um meio de salvar este modelo de organização política e econômica, propondo um 14 capitalismo regulado, ou uma espécie de liberal-socialismo, em que as disfunções do mercado fossem supridas pela intervenção do Estado, por meio tanto de políticas públicas quanto de naturezas normativas imprescindíveis para a construção de um ambiente institucional favorável às tomadas de decisões dos agentes econômicos. Fonte:https://www.sabedoriapolitica.com.br/filosofia- politica/filosofia-contempor%C3%A2nea/john-keynes/ Converse Com Seus Colegas Discuta com seus colegas sobre Keynes, autor fundamental para compreendermos o papel do Estado, da Economia, dos Tributos e do Consumo. Você concorda com a solução político-econômica encontrada por ele? O modelo consistiu na seguinte fórmula de origem Keynesiana: Renda = Consumo + Investimento. Sendo que a ampliação desse modelo ocorreu por meio de estímulo para atingir os setores do governo e das empresas. Importante O Conceito de Orçamento Moderno integra de forma sistemática “[...] os diagnósticos e prognósticos, os objetivos, a análise, de cursos alternativos, os programas e projetos com suas metas, os recursos a serem empregados, a indicação de cursos, bem como, os esquemas de avaliação e controle [...]” (GIACOMONI, 2005, p. 68). Nesse conceito do orçamento moderno a questão mais importante é o planejamento, a partir das técnicas modernas e com o auxílio da tecnologia, o chamado Sistema de Planejamento, Programação e Orçamento - PPBS. 15 1.3 Princípios do orçamento e o ciclo orçamentário As regras sempre compuseram a instituição orçamentária com o intuito de cumprir a sua finalidade, que é auxiliar o controle parlamentar sobre os Executivos (Federal, Estadual, Distrital e Municipal). O orçamento público é composto por doze princípios: 1. Unidade (totalidade); 2. Universalidade; 3. Orçamento Bruto; 4. Anualidade ou Periodicidade; 5. Da Não-afetação das Receitas; 6. Da Discriminação ou Especialização; 7. Exclusividade; 8. Equilíbrio; 9. Clareza; 10. Publicidade; 11. Exatidão; 12. Programação. O princípio da unidade significa dizer que cada unidade governamental deve possuir apenas um orçamento. Mas com o processo de descentralização do Estado, algumas instituições como autarquias, empresas públicas e sociedades de economia mista passaram a adquirir grande autonomia financeira. Para que não ocorresse o sepultamento do princípio da unidade a doutrina o reconfigurou incorporando outras configurações mais abrangentes criando o princípio da totalidade, possibilitando a convivência com orçamentos múltiplos, mas que permitam uma visão geral das finanças públicas. Assim, há uma separação orgânica, mas havendo uma totalidade orçamentária. Já no princípio da universalidade é para assegurar o controle que o Legislativo deve ter sobre o Executivo, a partir de alguns mecanismos: 16 Conhecer previamente todas as receitas e despesas do Executivo; Impedir que o Executivo realize operações de receita e despesa sem autorização prévia do Parlamento; Conhecer o volume total de despesas desenhadas pelo Executivo para que haja equilíbrio na arrecadação restrita ao necessário para as despesas compromissadas. O princípio do orçamento bruto, por sua vez, compreende que todas as parcelas da receita e da despesa devem constar no orçamento em seus valores brutos, isto é, sem qualquer tipo de dedução. Esse princípio está apresentado na Lei nº 4320/1964. O princípio da anualidade ou periodicidade é elaborado e autorizado para um período de um ano que coincide com o ano financeiro civil, 1º de janeiro até 31 de dezembro, isso não somente no Brasil, mas na maioria dos países e nações modernas. A Constituição Federal de 1988 manteve essa regra e instituiu em seu artigo 165 § 5º reconheceu a regra da anualidade e também, em seus incisos do I ao III, o plano plurianual, as diretrizes orçamentárias e os orçamentos anuais. CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988. PREÂMBULO DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 Art. 165. Leis de iniciativa do Poder Executivo estabelecerão: § 5º A lei orçamentária anual compreenderá: I - o orçamento fiscal referente aos Poderes da União, seus fundos, órgãos e entidades da administração direta e indireta, inclusive fundações instituídas e mantidas pelo Poder Público; II - o orçamento de investimento das empresas em que a União, direta ou indiretamente, detenha a maioria do capital social com direito a voto; III - o orçamento da seguridade social, abrangendo todas as entidades e órgãos a ela vinculados, da administração direta ou indireta, bem como os fundos e fundações instituídos e mantidos pelo Poder Público. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm 17 Sobre o princípio da não afetação das receitas, há disposição no artigo 167 da Constituição Federal de 1988, IV que veda a vinculação de receita de impostos a órgão, fundo ou despesa, exceto, em relação à destinação de recursos para a manutenção e desenvolvimento do ensino (artigo 212, CF/88) e a prestação de garantias às operações de crédito por antecipação, previstas no artigo 165, § 8º CF/88. Saiba Mais Conforme artigo 212 da CF/88 a União não deve deixar de aplicar, anualmente, 18% em Ensino, na sua manutenção e desenvolvimento, e os Estados, Distrito Federal e Municípios não menos de 25% das receitas oriundas de impostos. Leia a matéria no link abaixo: http://www.todospelaeducacao.org.br/reportagens- tpe/24099/municipios-devem-gastar-no-minimo-25-dos- seus-orcamentos-com-educacao Outro princípio é o da Discriminação ou Especialização que determina que as receitas e as despesas devam constar no orçamento de maneira discriminada, isso com intuito de estar discriminado de forma pormenorizada a origem dos recursos e a sua aplicação. Pesquise Pesquise sobre a importância do Princípio da Discriminação ou Especialização: “Um orçamento altamente especificado fornece condições ideais para a fiscalização parlamentar, além de inibir a expansão das atividades governamentais, o que é bom, segundo os valores do laissez-faire. O enfoque clássico do princípio é, pois, político” (GIACOMONI: 2005, p. 82). O princípio da exclusividade consiste em dizer que a lei orçamentária deve conter apenas matéria financeira, excluindo qualquer dispositivo estranho à estimativa de receita, bem como a fixação da despesa para o próximo exercício. Esse princípio tem como objetivo impedir que a Lei de Orçamento fique http://www.todospelaeducacao.org.br/reportagens-tpe/24099/municipios-devem-gastar-no-minimo-25-dos-seus-orcamentos-com-educacao http://www.todospelaeducacao.org.br/reportagens-tpe/24099/municipios-devem-gastar-no-minimo-25-dos-seus-orcamentos-com-educacao http://www.todospelaeducacao.org.br/reportagens-tpe/24099/municipios-devem-gastar-no-minimo-25-dos-seus-orcamentos-com-educacao 18 sujeita a oportunismos que envolvessem outras matérias que não fossem exclusivamente financeiras.Já no princípio do equilíbrio, o constituinte de 1988 adotou uma postura mais pragmática em relação ao déficit orçamentário que está presente (ou embutido) nas Operações de Crédito, que incluem desde financiamentos de longo prazo contratados para a realização de obras, bem como, operações de curto prazo utilizadas para a recomposição do caixa, mas que acabam se transformando em operações de longo prazo, pois ocorre uma permanente rolagem, incidindo inclusive sobre as próprias receitas a partir do momento em que ocorre a colocação de títulos e obrigações emitidos pelos tesouros nacional, estadual e municipal. O artigo 167, III da CF/88 vedou o déficit das operações de crédito que excedam o montante das despesas de capital. Isso significa dizer que cada unidade governamental deve ter seu endividamento vinculado somente à realização de investimento e não a manutenção da máquina administrativa e demais serviços. Um princípio muito interessante é o da clareza, que significa dizer que a linguagem deve ser clara e compreensível para todas as pessoas, ou seja, deve ser acessível não somente aos especialistas. Outro princípio é o da publicidade, como o orçamento público é de interesse coletivo deve ter ampla publicidade, além da publicação, podem apresentar resumos comentados com o intuito de atingir o maior número de pessoas. Há também o princípio da exatidão, que envolve questões técnicas e éticas, o não superdimensionamento na solicitação de recursos, ou seja, o orçamento não pode ser artificializado. E, por fim, mas não menos importante, o princípio da programação, onde deve existir de forma programada, isto é, os meios necessários de pessoal, material, serviço, etc. apresentadas em termos físicos e financeiros. Conhecer os princípios é fundamental, pois a partir deles se é capaz de resolver diversos problemas enfrentados no dia a dia. 19 Amplie Seus Estudos SUGESTÃO DE LEITURA Vamos ampliar a discussão? Os artigos do scielo são fundamentais para ampliarmos o nosso conhecimento sobre os mais diversos temas. Minha sugestão é este: “O orçamento público como instrumento de ação governamental: uma análise de suas redefinições no contexto da formulação de políticas públicas de infraestrutura”. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rap/v49n1/0034- 7612-rap-49-01-00073.pdf Resumo da aula 1 Nesta aula foi realizada uma análise sobre o papel do orçamento público e das finanças públicas e a sua importância para o funcionamento da sociedade e que não se pode viabilizar a vida em sociedade sem essas contribuições. O Estado precisa realizar a fiscalização e regras de distribuição desse orçamento, pois somente assim é possível estabelecer políticas públicas. Viu-se que o modelo de Estado sem intervenção, o laissez-faire teve na economia, inúmeras dificuldades e daí surgiu um novo modelo pensado por Keynes e amplamente discutido nessa aula. Demonstrou-se a forte relação entre Estado, economia e mercado, bem como, o papel de fiscalização em face ao Executivo. Atividade de Aprendizagem De acordo com o estudado na aula, discorra sobre quais são as funções do Estado. http://www.scielo.br/pdf/rap/v49n1/0034-7612-rap-49-01-00073.pdf http://www.scielo.br/pdf/rap/v49n1/0034-7612-rap-49-01-00073.pdf 20 Aula 2 – Planejamento e orçamento Apresentação da aula 2 Nessa aula serão discutidos o planejamento e o orçamento público a partir dos limites colocados pela Constituição Federal e pela Lei de Responsabilidade Fiscal. Cabe apresentar também as políticas econômicas governamentais, a alocativa, a distributiva e a estabilizadora. E, por fim, apresentar e discutir o federalismo fiscal. 2.1 Planejamento e orçamento na Constituição Federal e a LRF No Brasil, o Governo Federal possui mais de 50 anos, isso antes da Constituição Federal de 1988, de experiência na elaboração e execução de planos de governo que versam sobre planos administrativos, econômicos e de desenvolvimento. Sabe-se que para o planejamento e desenvolvimento de políticas públicas é preciso de estabilidade política, das instituições e da economia. Alguns dos principais planos formulados pelo Governo Federal são: Plano Quinquenal de Obras e Reaparelhamento da Defesa Nacional (1939); Plano de Obras e Equipamentos (1943); Plano Salte (1946-1947); Programa de Metas (1956-1960); Plano Trienal de Desenvolvimento Econômico e Social (1963- 1965); Programa de Ação Econômica do Governo (PAEG) (1964); Plano Decenal de Desenvolvimento Econômico e Social (1967); Programa Estratégico de Desenvolvimento (PED) (1968-1970); Metas e Bases para Ação de Governo (1970); I Plano Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (1972- 1974); 21 II Plano Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (1975- 1979); III Plano Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (1980- 1985); I Plano Nacional de Desenvolvimento da Nova República (1986- 1989) (GIACOMONI, 2005, p. 229). Listou-se acima exatamente 13 planos desenvolvidos do final da década de 1930 até o início da Nova República em 1989. Atenção, que nesse período houve muitas variáveis institucionais com governo civil eleito, ditadura civil, processo eleitoral, o Golpe Militar de 1964 até o período das Diretas Já, que com início do processo constituinte em 1986 foi finalizado com a promulgação da Constituição de 1988. Se o critério de planejamento é segurança jurídica e estabilidade, com certeza, isso não teve no Brasil, e os dados apresentados corroboram essas informações. Do ponto de vista jurídico-constitucional a primeira Constituição brasileira foi a de 1824, no Brasil Império. A segunda foi em 1891, no Brasil República. A terceira Constituição foi em 1934, denominada de Segunda República. A quarta Constituição brasileira, em 1937, ocorreu já no chamado Estado Novo. A quinta Constituição ocorreu em 1946 por um Congresso composto por parlamentares recém-eleitos, em que foi criada dentro de certa normalidade. A sexta Constituição ocorreu em 1967 após três anos da instauração do Regime Militar no sistema brasileiro. Por fim, a sétima Constituição em vigor, mas com 99 emendas, até a presente data. No Brasil conseguiu-se ter experiências de planejamento ao longo de meio século, mesmo com todas essas conturbações até aqui apresentadas. 22 Amplie Seus Estudos SUGESTÃO DE LEITURA Para conhecer mais sobre os Planos implementados no Brasil desde o final da década 1930, leia o artigo do Prof. Wilson Cano: Plano de Governo. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_artt ext&pid=S0101-31572015000300444 Ainda sobre planejamento, a primeira norma federal a disciplinar uma sistematização sobre o processo de elaboração de planos de governo foi o Decreto-Lei n. 200, de 25/02/1967 em seu título III. Nesse decreto, entre os artigos 15º ao 18º foi apresentado um conceito de planejamento que consiste em um princípio fundamental e que deve ser respeitado em todas as ações e atividades do governo. Essas são as principais ações realizadas pelo Estado brasileiro desde a década de 1939, sendo colocado de forma taxativa no Decreto n. 200 de 1967, essa norma federal estabeleceu a obrigatoriedade na elaboração sistemática de planos de governo e definiu o “planejamento” como um princípio fundamental. DECRETO-LEI Nº 200, DE 25 DE FEVEREIRO DE 1967 Dispõe sôbre a organização da Administração Federal, estabelece diretrizes para a Reforma Administrativa e dá outras providências. O PRESIDENTE DA REPÚBLICA , usando das atribuições que lhe confere o art. 9°, § 2º, do Ato Institucional nº 4, de 7 de dezembro de 1966, decreta: TÍTULO I DA ADMINIS CAPÍTULO I DO PLANEJAMENTO Art. 7º A ação governamental obedeceráa planejamento que vise a promover o desenvolvimento econômico-social do País e a segurança nacional, norteando-se segundo planos e programas elaborados, na forma do Título III, e compreenderá a elaboração e atualização dos seguintes instrumentos básicos: 23 a) plano geral de govêrno; b) programas gerais, setoriais e regionais, de duração plurianual; c) orçamento-programa anual; d) programação financeira de desembôlso. Brasília, em 25 de fevereiro de 1967; 146º da Independência e 79º da República. H. CASTELLO BRANCO Fonte: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del0200.htm O Planejamento na Constituição Federal de 1988 determina que o Estado deve exercer a função de planejamento, sendo necessário o desenvolvimento de planos e programas nacionais, regionais, setoriais e planos plurianuais. Ao longo da história, os dois primeiros governos civis eleitos após a ditadura militar e no pós 1988, Fernando Collor de Melo (1990-1992), depois seu vice-presidente, Itamar Franco assumiu de 1992-1993, após a renúncia de Collor, e Fernando Henrique Cardoso (1994-1997 e 1998-2001) com dois mandatos. De acordo com o autor James Giacomoni (1985), os três primeiros governos civis não apresentaram planos nacionais de desenvolvimento e nem os planos regionais que devem estar contidos no plano nacional de desenvolvimento. Os avanços também nos planos setoriais foram baixos, especialmente em relação a reforma agrária prevista no artigo 188 da CF/88 e no Plano Nacional de Educação, apresentado no artigo 214 da Constituição Federal de 1988. Ainda na área educacional temos a Lei de Diretrizes e Bases – LDB, sendo que o artigo 214 CF/88 determinou a existência de um plano nacional de educação com duração decenal, tendo como objetivo articular o sistema nacional de educação em regime de colaboração e definir diretrizes, objetivos, metas e estratégias de implementação para assegurar a manutenção e desenvolvimento do ensino em seus diversos níveis, etapas e modalidades por meio ações integradas dos poderes públicos das diferentes esferas federativas (BRASIL, 1988, s/p). 24 Para Refletir A Constituição Federal de 1988 em seu artigo 214 determina que os poderes públicos de diferentes esferas federativas conduzam na área da educação a: I - Erradicação do analfabetismo; II - Universalização do atendimento escolar; III - Melhoria da qualidade do ensino; IV - Formação para o trabalho; V - Promoção humanística, científica e tecnológica do País; VI – Estabelecimento de meta de aplicação de recursos públicos em educação como proporção do produto interno bruto. Apesar dessas determinações é possível verificar o cumprimento dessas metas constitucionais? – Mas podemos entender o quanto as políticas públicas necessitam de recursos para o seu desenho e implementação. Mesmo que a Constituição Federal de 1988 esteja completando 30 anos todas as metas e compromissos não foram atingidas, mas são balizas importantes para o desenvolvimento da sociedade brasileira. Você concorda? O que pensa sobre isso? A aprovação da Constituição Federal de 1988 foi responsável pela estruturação de um sistema constitucional de normas que ordenam as matérias financeiro-orçamentárias. Esse sistema estabelece uma interação entre o Plano Plurianual, a Lei de Diretrizes Orçamentárias e da Lei Orçamentária Anual, a interação entre as três leis tem como objetivo cumprir as metas e prioridades estabelecidas. A Lei do Plano Plurianual – PPA, parte do artigo 61 e 165 da CF/88 e do inciso II do § 2º do art. 35 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias é um planejamento que deve ser realizado por meio de Lei, para um período de quatro anos, sendo utilizada para investimentos de maior porte. O projeto do PPA deve ser encaminhado pelo Poder Executivo para o Congresso Nacional até a data de 31 de agosto do primeiro ano de cada governo, entrando em vigor no ano seguinte, sendo concluído até o final do primeiro ano do próximo governo (ou governo seguinte). Essa forma de planejamento é com o intuito de estimular 25 a continuidade administrativa, permitindo convivência de planos de governos diferentes. Já a Lei de Diretrizes Orçamentárias – LDO, também com fundamento nos termos do art. 61 e 165 da Constituição Federal, define quais serão as metas e prioridades da administração pública federal, apresentando tanto as despesas de capital e outras delas decorrentes e para as relativas aos programas de duração continuada. Deve também orientar a elaboração da Lei Orçamentária Anual dispondo sobre as alterações na legislação tributária, bem como, apresentar uma política de aplicação de recursos pelas agências financeiras estatais e de fomento. A Lei Orgânica Anual (LOA) tem previsão no artigo 165, § 5º da Constituição Federal de 1988. Essa lei estima receitas e fixa as despesas para um exercício financeiro. Com a lei é possível avaliar as fontes de recursos públicos dentre os contribuintes, e por outro lado, revela quem são os beneficiários desses recursos. Além da Constituição, temos como base também da organização da proposta orçamentária anual a Lei nº 4.320/1964. A lei orçamentária anual é composta por três orçamentos: 1. Seguridade social; 2. Fiscal; 3. Investimento das empresas estatais. No caso da LOA a competência para a elaboração é da União, sendo desenvolvida no Sistema de Planejamento e de Orçamento Federal, tendo como órgão central o Sistema de Planejamento e de Orçamento Federal, junto ao Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. Sendo que, dentro do Ministério cabe a Secretaria de Orçamento Federal (SOF) coordenar, consolidar e supervisionar a elaboração do orçamento. 26 CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988 Texto compilado PREÂMBULO Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembléia Nacional Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL. TÍTULO I DOS PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS § 5º A lei orçamentária anual compreenderá: I - o orçamento fiscal referente aos Poderes da União, seus fundos, órgãos e entidades da administração direta e indireta, inclusive fundações instituídas e mantidas pelo Poder Público; II - o orçamento de investimento das empresas em que a União, direta ou indiretamente, detenha a maioria do capital social com direito a voto; III - o orçamento da seguridade social, abrangendo todas as entidades e órgãos a ela vinculados, da administração direta ou indireta, bem como os fundos e fundações instituídos e mantidos pelo Poder Público. Brasília, 5 de outubro de 1988. Fonte: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm Cada vez mais a tecnologia tem auxiliado no processo de formulação do orçamento, o Governo Federal, tem utilizado o Sistema Integrado de Dados Orçamentários (Sidor), sendo que o sistema auxilia e elimina papéis e oferece agilidade ao processo de planejamento orçamentário. Curiosidade Se você tiver curiosidade sobre o funcionamento do Plano Plurianual visite o site da Câmara Federal e acesse todos os passos institucionais percorridos pelo PPA. Disponível em: http://www2.camara.leg.br/orcamento-da-uniao/leis- orcamentarias/ppa/2016-2019/alteracao http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ConstituicaoCompilado.htm 27 2.2 Políticas econômicasgovernamentais (alocativa, distributiva e estabilizadora) Ao mencionar a importância das políticas econômicas governamentais está se falando das atribuições estatais e para desenvolver essas competências, recursos são fundamentais. Tanto na função alocativa, como na distributiva e estabilizadora, são utilizadas doutrinas que justificam ações intervencionistas do Estado nas economias regidas pelo capitalismo. O economista inglês John Maynard Keynes (1883-1946) pensou em mecanismos de manter a estabilidade econômica no capitalismo, que sofreu fortes impactos com a depressão e pela ideologia marxista. Nessa linha, Richard Musgrave (1910-2007) economista americano, propôs um modelo de classificação das funções econômicas do Estado denominadas de “funções fiscais” que são praticamente “funções do orçamento” que consistem em: Promover ajustes na alocação de recursos (função alocativa); Promover ajustes na distribuição de renda (função distributiva); E, por fim, manutenção da estabilidade econômica (função estabilizadora). Converse Com Seus Colegas A cultura política diária dos brasileiros é repleta de siglas, que tal conversar com seus colegas de curso sobre a sigla Sistema de Planejamento, Programação e Orçamento – PPBS, a partir de seus principais elementos: a) identificação de metas e objetivos em áreas governamentais; b) análise dos resultados atingidos pelos programas; c) custos dos programas implementados; d) análise de alternativas que tiveram índices de eficiência maiores em relação aos objetivos do programa. A função alocativa consiste na atividade estatal realizando a alocação de recursos, isso quando não houve eficiência nas ações privadas, isto é, do 28 mercado. Nesse sentido, Musgrave (1973) destaca os investimentos na infra- estrutura econômica e na provisão de bens públicos. Essa infraestrutura econômica envolve serviços de transporte, energia, comunicações e armazenamentos, dentre outros. São áreas cruciais para o bom funcionamento da sociedade, pois são indutores do desenvolvimento local, regional e nacional. São setores tão importantes que é justificável que se transformem em áreas de competência do Estado. Até porque os investimentos necessários são muito altos e como a demanda é muito grande e os investimentos ao longo da história foram baixos, a necessidade de recursos é tão alta e a taxa de retorno baixa são fatores que acabam desestimulando a presença do setor privado nesses empreendimentos. Mas é preciso a presença do Estado, pois esses setores são fundamentais para o desenvolvimento da sociedade. Há também bens que possuem características muito especiais e que, portanto, demandam investimentos públicos, e, por outro lado, inviabilizam o fornecimento de determinados bens pelo mercado. Como exemplo, de um bem público típico são ações governamentais contra a poluição, tipo de investimento que não encontra interesse no mercado, pois ele não atende há uma pessoa, um consumidor, mas sim uma coletividade de pessoas, assim há diferenças entre bens típicos privados e bens públicos. O bem privado possui mecanismos próprios do mercado, caracterizado por uma troca entre um vendedor e um comprador e um bem a ser entregue. Se não houve pagamento para esse bem, não ocorre nenhuma operação e por consequência, o benefício. Então, aqui tem-se o desenho do funcionamento do mercado. Isso é muito diferente no caso do bem público, pois os mecanismos de mercado não seriam eficientes, pois os benefícios não podem ser individualizados e tampouco sofrerem recusa pelos consumidores, aqui as pessoas não podem ser excluídas no caso de não pagamento. Então, quando o bem é público o processo político substitui o mercado, os cidadãos elegem representantes que utilizarão os tributos para realizar políticas públicas, seguindo as regras constitucionais. 29 Importante Pense sobre isso: além do orçamento existe uma questão fiscal sugerida por Giacomoni que consiste em “[...] combinar tributos progressivos sobre as classes de renda mais elevada com transferências para aquelas classes de renda mais baixa. Exemplo clássico seria a utilização do imposto de renda progressivo para cobrir subsídios aos programas de alimentação, transporte e moradias populares” (GIACOMONI, 2005, p. 41). As discussões sobre a função distributiva são oriundas da formulação de Vilfredo Pareto, ou o “Ideal de Pareto”, nesse preceito a economia é eficiente quando alguém sofre uma melhoria, mas sem que ninguém tenha sua situação deteriorada. Por isso é o Ideal de Pareto, pois a melhoria da posição de certas pessoas é sim feita à custa de outras, não existe outra fórmula, trata-se de concepção filosófica e da finalidade do orçamento. Existe a necessidade de promover ajustes na distribuição de renda, para corrigir as falhas do mercado e esse problema está envolto de uma concepção política e social, ou seja, cabe à sociedade determinar o que são níveis justos no processo de distribuição de renda e riqueza. O grande debate é: como realizar a distribuição do bolo? Como solucionar a miséria presente na qualidade de vida das populações mais pobres? Aí entra o orçamento público desempenhando sua função alocativa, sendo esse um dos principais instrumentos para viabilizar políticas públicas de distribuição de renda. A distribuição consiste em: tirar de uns para melhorar a vida de outros. Um dos melhores exemplos nesse sentido é o imposto de renda, tido como um dos tributos mais adequados para realizar políticas de redistribuição. Outra saída ainda seria o subsídio para os bens de consumo popular que seriam financiados por impostos sobre os bens consumidos pelas classes mais abastadas. Por fim, dentre outras medidas públicas, temos como políticas de distribuição a educação gratuita, a capacitação profissional e outros programas de desenvolvimento social e comunitário. 30 Amplie Seus Estudos SUGESTÃO DE LEITURA Para conhecer mais sobre a função alocativa leia o trabalho de Giovanni Pacelli Carvalho Lustosa da Costa e Ivan Ricardo Gartner: O efeito da função orçamentária alocativa na redução da desigualdade de renda no Brasil: uma análise dos gastos em educação e saúde no período de 1995 a 2012. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rap/v51n2/0034- 7612-rap-51-02-00264.pdf A política fiscal, para além dos ajustes na alocação de recursos e na distribuição de renda, possui quatro objetivos macroeconômicos, sendo os dois primeiros mais ligados especificamente a função estabilizadora: Manutenção de elevado nível de emprego; Estabilidade nos níveis de preço; Equilíbrio no balanço de pagamentos; Razoável taxa de crescimento econômico. Os níveis de emprego e preço funcionam com base nos níveis de demanda agregada, que compreende a disposição das pessoas gastarem. Se houver mais demanda do que produção, os preços sobem. Havendo o contrário, isto é, mais oferta do que demanda, ocorre o desemprego. Exatamente nesse ponto entra a política de estabilização que é a ação estatal para diminuir ou aumentar a capacidade nominal de produção. Saiba Mais Leia o artigo de Anita Kon: Quatro décadas de Planejamento econômico no Brasil. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rae/v34n3/a05v34n3.pdf 31 O orçamento público é uma ferramenta fundamental como política de estabilização, inclusive como o impacto das compras do governo e também sobre o poder de gasto que os funcionários públicos exercem. Nessa linha de entendimento, mudanças orçamentárias, sejam de receitas ou de despesas, podem ser alteradas por políticas de estabilização. Como exemplo, podemos citar mudanças nas alíquotas tributárias tendo repercussão sobre os recursos disponíveis junto ao setor privado. Outro recurso comum é a implementação de obras públicas para absorveraqueles em situação de desemprego. 2.3 Federalismo Fiscal Quando utilizada a teoria das finanças públicas, relativa aos sistemas fiscais em diferentes níveis governamentais, leva a compreensão de que os bens devem ser ofertados e os seus custos devem ser divididos entre aqueles que habitam a mesma região ou que dela se beneficiam. A questão a se pensar é como o federalismo fiscal pode determinar um funcionamento apropriado para o setor público, se tem um subconjunto geográfico de atribuições de responsabilidade que deva atender a decisões e funções específicas da sociedade, especialmente em um país como o Brasil. E para compensar essas diferenças se utilizam de mecanismos compensatórios. Isto quer dizer que se existem desigualdades regionais é necessário a instrumentos compensatórios, uma forma é por meio de transferências intergovernamentais. O objetivo desse mecanismo é o de prestar serviços públicos uniformemente. Uma das formas para realizar essas compensações é por meio de recursos da dívida pública, sendo o seu principal objetivo gerar benefícios para a população e para as futuras gerações, sendo que cabe a mesma pagar parte desses empréstimos. 32 Vocabula rio O que é a Dívida Pública Federal? A Dívida Pública Federal (DPF) refere-se a todas as dívidas contraídas pelo governo federal para financiamento do seu déficit orçamentário, nele incluído o refinanciamento da própria dívida, e para outras operações com finalidades específicas, definidas em lei. É possível classificar a DPF de acordo com os instrumentos usados para captação de recursos e pela moeda na qual ocorre o pagamento de seus fluxos. Em relação à captação de recursos, esta pode ocorrer por emissão de títulos públicos (sendo por essa razão classificada como mobiliária), ou por contratos, firmados principalmente com organismos multilaterais (sendo esta dívida classificada como contratual). Fonte: http://www.tesouro.fazenda.gov.br/conceitos-basicos- faq O sistema tributário nacional é competência da União, dos Estados e Municípios e também do Distrito Federal. Já sabemos que a tributação é composta por taxas, impostos, contribuições de melhoria e contribuições sociais. O sistema brasileiro é muito complexo deixando-o também muito caro. Os tributos são cumulativos, possuem elevada arrecadação se comparado ao PIB, o número de alíquotas também é alto como é o caso do ICMS e do IPI. Temos nesse cenário o princípio da progressividade que consiste na “capacidade contributiva” que possui como objetivo igualar todos os cidadãos de uma forma que o sistema seja justo para todos. Nesse sentido, é importante mencionar a “equidade horizontal” que consiste no fato de que todos os cidadãos que possuem a mesma capacidade contributiva (renda) devem pagar o mesmo nível de tributos. Já a “verticalidade” ocorre quando indivíduos com diferentes níveis de renda pagam tributos diferenciados, traduzindo: “quem ganha mais, paga mais”. O imposto de renda é o princípio utilizado nesse sentido. 33 Ví deo Assistam a esse vídeo feito pelos jornalistas do Senado Federal sobre os projetos em torno do Pacto Federativo. http://www2.camara.leg.br/camaranoticias/tv/materias/EXPRE SSAO-NACIONAL/493360-PACTO-FEDERATIVO.html O Federalismo fiscal foi apresentado no artigo 1º da Constituição Federal de 1988, afirmando que a República Federativa do Brasil é formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito. Assim em uma federação, os entes que o compõem devem possuir autonomia para criar e arrecadar os seus tributos. Somente por esse caminho é possível garantir autonomia financeira para o desenvolvimento de suas atividades, atendendo suas especificidades. Essa normatização que dá autonomia para os entes arrecadarem está presente, no título VI - Da Tributação e do Orçamento – na seção I, dos princípios gerais, artigo 145 que garante a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão instituir os seguintes tributos: I – impostos; II – taxas, em razão do exercício do poder de polícia ou pela utilização, efetiva ou potencial de serviços públicos específicos e divisíveis, prestados ao contribuinte ou postos a sua disposição; III – contribuição de melhoria decorrente de obras públicas. CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 ARTIGO 146 DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 Art. 146. Cabe à lei complementar: I - dispor sobre conflitos de competência, em matéria tributária, entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios; II - regular as limitações constitucionais ao poder de tributar; III - estabelecer normas gerais em matéria de legislação tributária, especialmente sobre: a) definição de tributos e de suas espécies, bem como, em relação aos impostos discriminados nesta Constituição, a dos respectivos fatos geradores, bases de cálculo e contribuintes; b) obrigação, lançamento, crédito, prescrição e decadência tributários; 34 c) adequado tratamento tributário ao ato cooperativo praticado pelas sociedades cooperativas. d) definição de tratamento diferenciado e favorecido para as microempresas e para as empresas de pequeno porte, inclusive regimes especiais ou simplificados no caso do imposto previsto no art. 155, II, das contribuições previstas no art. 195, I e §§ 12 e 13, e da contribuição a que se refere o art. 239. Parágrafo único. A lei complementar de que trata o inciso III, d, também poderá instituir um regime único de arrecadação dos impostos e contribuições da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, observado que: I - será opcional para o contribuinte; II - poderão ser estabelecidas condições de enquadramento diferenciadas por Estado; III - o recolhimento será unificado e centralizado e a distribuição da parcela de recursos pertencentes aos respectivos entes federados será imediata, vedada qualquer retenção ou condicionamento; IV - a arrecadação, a fiscalização e a cobrança poderão ser compartilhadas pelos entes federados, adotado cadastro nacional único de contribuintes. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm A estruturação do federalismo fiscal está ligada a escolha da base de tributação, seja consumo, renda ou patrimônio, cabendo a distribuição da competência tributária, vinculada a mecanismos de distribuição adequada dos recursos arrecadados, levando em consideração as responsabilidades de cada ente federativo, impondo necessariamente um padrão de despesa. A Constituição Federal de 1988 em relação a de 1967 aumentou de forma significativa a competência tributária dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, à medida que concedeu mais espécies tributárias. Pesquise Em relação aos impostos, a Constituição de 1988 optou pela incidência da tributação sobre os três sinais de riqueza: a) consumo; b) patrimônio; c) renda. Tendo por base o consumo, previu a criação do ICMS, IPI ISS e IOF, o ITR, IPTU, IPVA, ITBI e o ITCMD, que foram instituídos em função do patrimônio e, por fim, determinou- se a instituição do IR e o do IGF sobre a renda. Pesquise cada uma das siglas dos impostos existentes no Brasil e reforce seus conhecimentos. 35 O Brasil, com a Carta de 1988, admitiu critérios aceitos universalmente para que ocorra distribuição da competência tributária entre os entes federados. Manteve os tributos sobre operações internacionais com a União, como ocorrem nos demais modelos de estados federados. Permaneceram também os impostos relativos à renda com a União. Aos Estados ficaram as operações sobre circulação de mercadorias. E a fatia que coube aos Municípios foi à tributação sobre imóveis e serviços.A seguir observa-se um quadro sobre as distinções entre as competências de tributação da Carta de 1967 para a de 1988. Quadro 1 – Competência Tributária na CF de 1967 e 1988. Fonte: (OLIVEIRA, 2013). 36 Mesmo com essa distribuição das competências tributárias, há consciência de que o recurso não tem sido suficiente para os entes federados darem efetividade a suas atribuições. Com essa carência constatada, foi criado então uma espécie de federalismo de cooperação, oriundo de um Estado Social, em que pode ocorrer assistência mútua entre os entes. Essa regulamentação está nos artigos 157 – 162 da Constituição Federal de 1988, que estabeleceu duas modalidades de transferências, a participação direta e a indireta. Na primeira o ente menor recebe transferência do ente maior, sem a necessidade de intermediários. Na participação indireta a transferência é efetivada por meio de figuras intermediárias, como exemplo o Fundo de Participação dos Estados e do Distrito Federal e o Fundo de Participação dos Municípios, ambos regulamentados pela Lei Complementar n. 62/1989. Esse é um mecanismo que permite que a União repasse parte da sua arrecadação tributária aos Estados, Distrito Federal e aos Municípios. Sobre o Fundo de Participação dos Municípios, o artigo 91, § 3º CTN, dispõe os percentuais que devem ser obedecidos na distribuição dos recursos: I - 10% (dez por cento) aos Municípios das Capitais dos Estados; II - 90% (noventa por cento) aos demais Municípios do país. Obviamente aqui o objetivo do legislador foi o de salvaguardar o desenvolvimento mais equitativo dos Municípios. Por fim, observou-se que o objetivo da administração pública é realizar políticas públicas que atendam os princípios fundamentais desenhados na Carta Constitucional de 1988. Resumo da aula 2 Nesta aula realizou-se uma discussão em reação a presença da obrigatoriedade do planejamento na Constituição Federal de 1988. Foi apresentada a experiência do Governo Federal no planejamento do orçamento e quais os objetivos para promovê-lo e os instrumentos como o desenvolvimento econômico-social, a segurança nacional, os planos e programas elaborados, o plano de governo, os programas gerais, setoriais e regionais, de duração 37 plurianual, o orçamento-programa anual, programação financeira de desembolso. Foi demonstrada que a competência da elaboração da Proposta Orçamentária Anual é sempre do Poder Executivo e deve cumprir funções básicas para influenciar os parâmetros de crescimento econômico, como: a função estabilizadora, a alocativa, e, por fim, a distributiva. Demonstrou-se também o papel do federalismo fiscal no Brasil e os seus desdobramentos a partir do Pacto Social estabelecido na Constituição Federal de 1988. Atividade de Aprendizagem Des acordo com o estudado na aula, discorra sobre o que define e apresenta a Lei de Diretrizes Orçamentárias – LDO. Aula 3 – Órgãos centrais e setoriais de orçamento Apresentação da aula 3 Nesta aula serão estudados em linhas gerais a formulação da política orçamentária no Brasil, o aperfeiçoamento e o processo de consolidação da política orçamentária no Brasil, o objetivo dos princípios que regem o orçamento, a competência do Congresso Nacional no processo orçamentário. 3.1 O papel dos órgãos centrais e setoriais de orçamento Quando se fala no papel do Estado é importante delimitar o que é política. De fato, ela consiste em uma interação formal ou informal que constitui relações de poder e que busca a solução pacífica de conflitos em geral, voltada aos interesses públicos. Por sua vez, as políticas públicas são propostas/projetos que objetivam responder as demandas sociais, contendo três fases: os inputs, os outputs e os feedbacks. Existe um ciclo que compõem o desenho do processo de formulação das políticas públicas. 38 Cabe esclarecer que as políticas públicas têm um caráter público não somente pela sua extensão, mas sim porque possuem um caráter imperativo, isto é, tem como característica principal possuir uma autoridade de poder público. Vocabula rio Decision Making: Para o cientista político David Easton, formular decisões sobre a vida coletiva requer a alocação dos valores e a distribuição do poder, estando em consonância com os mecanismos de inputs, outputs e feedbacks. Para Easton, os outputs influenciam a sociedade como um todo e auxiliam no grupo de inputs que vão em direção ao sistema político, sendo o feedback a forma de lidar com a tensão do sistema (EASTON, 1970, p. 196). O sistema federativo é complexo, pois os poderes estaduais e municipais realizam a transferência de poder e recursos para a União, com o intuito de atender o interesse geral. No Brasil, se teve um Estado antes de uma sociedade e criou-se um modelo federativo centralizado, com clara inversão de papéis, em que o Estado e os Municípios possuem dependência da União e não o contrário. Ressalta-se a importância do planejamento, que além de ser um instrumento de ação pública é também uma imposição constitucional presente em vários dispositivos que são imperativos, como formular planos de forma ordenada e sequencial, isso com o objetivo de cumprir metas previamente estabelecidas para atender o progresso econômico e social. Sendo os planos aprovados, passam a ter características jurídicas, com natureza e efeitos de Lei, instituindo direitos e obrigações, autorizando também a realização de despesas. Há uma questão de fundo que é a ampliação da função estatal, um desenvolvimento econômico que tem como objetivo promover o bem comum, para tanto, é necessário planejamento e formulação de programas que atendam às futuras necessidades do país. 39 A doutrina aponta como princípios do planejamento: a) a racionalidade; b) a previsibilidade; c) a continuidade; d) a exequibilidade. O Orçamento por Desempenho nasceu após a Segunda Guerra Mundial nos Estados Unidos, mas foi publicitada a partir da década de 1950, pela Comissão Hoover. A importância dessa história foi o desenho de um orçamento organizado com base em funções, atividades e projetos, isso demonstra que ele não pode prescindir de uma organização. Mas para além do planejamento é preciso uma administração. É fato que da década de 1980 até os dias atuais houve enorme alteração na política orçamentária, especialmente a partir da Constituição de 1988, que seguindo o modelo das outras Constituições brasileiras, manteve de forma bastante detalhada os instrumentos de planejamento e orçamento. O constituinte originário optou por um modelo bastante centralizado, pois entendia que havia um excesso de fragmentação orçamentária tanto de programações quanto de despesas fora do orçamento, como exemplo, pode-se apontar os recursos da previdência social. É dessa decisão originária que nasceu um processo integrado de alocação de recursos que englobam atividades de planejamento e de orçamento, que são: a) o Plano Plurianual - PPA; b) a Lei de Diretrizes Orçamentárias – LDO; c) da Lei Orçamentária Anual. A partir desses apontamentos será discutido o funcionamento desses três mecanismos que envolvem o orçamento, pois são decisões oriundas do legislador ordinário. 40 Para Refletir “O orçamento é essencialmente um ato político. É um plano de ação”. Gaston Jèze Você consegue compreender a profundidade dessa afirmação? É possível visualizar que a economia não é autônoma? Você consegue compreender o papel do Estado no funcionamento da economia e por consequência no orçamento? 3.2 Sistemas de planejamento de orçamento e de administração financeira e a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) O Brasil possui três instrumentos de planejamento governamental em relação ao orçamento,são eles: 1. O Plano Plurianual; 2. As Diretrizes Orçamentárias; 3. O Planejamento Governamental. O constituinte originário definiu um sistema constitucional de normas que ordenam à matéria financeiro-orçamentária, estabelecendo uma interação entre o plano plurianual, a Lei de Diretrizes Orçamentárias e a Lei Orçamentária Anual. Nesse sentido, a LDO realiza a ligação entre o plano e o orçamento, a partir do cumprimento das metas estabelecidas. No Brasil, planejar consiste em um processo de observação e de organização do governo que parte da realidade, isto é, da sua observação, e a partir desse retrato é possível a proposição de objetivos a serem concretizados no orçamento público. Sabe-se que para interferir na realidade é preciso partir de dados objetivos, dentro do mesmo procedimento que se adota em uma pesquisa acadêmica, por isso dados e informações são cruciais no desenho e desenvolvimento de políticas públicas, se assim não for, estaremos construindo 41 propostas somente com base em “achismos” e isso é infrutífero para o conjunto da sociedade e para o melhor aproveitamento dos recursos públicos. Importante O Sistema Orçamentário Moderno é composto por três funções em especial: a) Planejamento. b) Gerência. c) Controle. É importante fazer uma ressalva em relação ao fato de que, antes da Constituição de 1988, o orçamento era decidido somente pelo Poder Executivo. Assim, fica claro que o orçamento é um instrumento fundamental para aqueles que planejam, pois para qualquer ação é preciso de recursos financeiros, somente assim é possível tornar planos e projetos em políticas públicas efetivas. Amplie Seus Estudos SUGESTÃO DE LEITURA Leia o artigo A reorganização do executivo nos Estados Unidos da América do Norte, que aborda a Comissão Hoover, que se pronunciou por meio de uma carta em 13 de janeiro de 1949 endereçada aos presidentes das duas Câmaras. Ela recomendava a outorga ao presidente de poderes de reorganização que não fossem sujeitos a limitações ou a isenções. Em caso contrário, o Presidente, de um lado, não poderia realizar plenamente as reformas propostas; e, por outro lado, a legalidade dos planos adotados poderia ser posta em dúvida perante os tribunais. Disponível em: http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/rda/article/viewFile /12614/11492 42 Há um princípio democrático quando se fala em planejamento, especialmente após a Constituição Federal de 1988, pois o planejamento deve ser um processo aberto que permita a negociação entre o Estado e as instituições da sociedade civil. Interesses divergentes quando apresentados são fundamentais, pois se constrói uma política mais bem planejada com uma variedade de olhares. Devem existir negociações até que se alcance um meio termo que agrade a todos os envolvidos. Ví deo Conheça um pouco mais sobre Orçamento Participativo assistindo o vídeo indicado no link: https://www.youtube.com/watch?v=XSh5fzJnxqQ É por meio da Lei de Diretrizes Orçamentárias que são cumpridas o que está disposto no artigo 165, §2º, da Constituição Federal, que envolve as prioridades e metas da administração pública federal inclusive as alterações na legislação tributária da União. CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 Presidência da República Casa Civil Subchefia para Assuntos Jurídicos CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988 Art. 165. Leis de iniciativa do Poder Executivo estabelecerão: § 2º A lei de diretrizes orçamentárias compreenderá as metas e prioridades da administração pública federal, incluindo as despesas de capital para o exercício financeiro subseqüente, orientará a elaboração da lei orçamentária anual, disporá sobre as alterações na legislação tributária e estabelecerá a política de aplicação das agências financeiras oficiais de fomento. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm https://www.youtube.com/watch?v=XSh5fzJnxqQ https://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/viwTodos/509f2321d97cd2d203256b280052245a?OpenDocument&Highlight=1,constitui%C3%A7%C3%A3o&AutoFramed 43 A LDO, para cumprir o estabelecido no artigo 165, § 2º e na Lei Complementar 101 de 04 de maio de 2000, a Lei de Responsabilidade Fiscal, ainda de acordo com o Plano Plurianual, cumpre as diretrizes orçamentárias da União relativas: I - As metas e prioridades da administração pública federal; II - A estrutura e organização dos orçamentos; III - As diretrizes para a elaboração e execução dos orçamentos da União; IV - As disposições para as transferências; V - As disposições relativas à dívida pública federal; VI - As disposições relativas às despesas com pessoal e encargos sociais e benefícios aos servidores, empregados e seus dependentes; VII - A política de aplicação dos recursos das agências financeiras oficiais de fomento; VIII - As disposições sobre alterações na legislação e sua adequação orçamentária; IX - As disposições sobre a fiscalização pelo Poder Legislativo e sobre as obras e os serviços com indícios de irregularidades graves; X - As disposições sobre transparência; XI - As disposições finais. É partir dessas prioridades e tendo como referência a LDO que o Governo Federal estabelece os temas que são prioritários, bem como, as metas que passarão a compor a proposta de Lei Orçamentária. Curiosidade A LDO destina ações para os seguintes setores: defesa nacional, justiça, segurança e cidadania, trabalho, saneamento, habitação, desenvolvimento urbano, transporte, energia, comunicações, agricultura, indústria, comércio exterior, meio ambiente, previdência social, saúde, cultura e desporto. Como pode-se observar, todos os setores estratégicos e necessários para o funcionamento da sociedade. 44 Nesse contexto, a LDO foi fortalecida, pois além de atender a diversos setores, o que é bastante complexo, veio a Lei de Responsabilidade Fiscal, que tem como objetivo o equilíbrio financeiro entre receitas e despesas, tendo competência também para disciplinar matérias variadas. É importante ressaltar que do ponto de vista do processo legislativo, seguindo o regimento comum do Congresso Nacional, a aprovação deve ocorrer por meio de lei complementar, devendo passar pela Câmara Federal e pelo Senado Federal. Ainda do ponto de vista legislativo, seguindo norma constitucional, esses projetos precisam passar pela apreciação do plenário e da Comissão Mista Permanente, formada por senadores e deputados. Importante Cabe salientar que no texto da LDO é necessário determinar: a) fixação de critérios para a elaboração da LOA. b) definir como será utilizado o montante da reserva de contingência. c) fixar índices de preços para a atualização monetária do principal da dívida imobiliária que passa por refinanciamento. d) disciplinar a programação financeira. e) realizar o cronograma de execução mensal de desembolso. f) apresentar os Anexos de Metais Fiscais e de Riscos Fiscais. A Constituição Federal de 1988 fixou que o planejamento da atividade da administração pública deve ocorrer em sintonia com o programa orçamentário, pois a LDO deve ser necessariamente compatível com o Plano Plurianual. Se assim não for, as diretrizes orçamentárias não poderão ser aprovadas. 3.3 Proposta orçamentária e sua integração com o PPA e a LDO O orçamento público está absolutamente disciplinado pela Constituição Federal. Os projetos de Lei do Orçamento Anual devem ser enviados pelo 45 Presidente da República ao Congresso Nacional, como Lei Complementar, conforme determinação do artigo 35, § 2º, inciso III, do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCTs), define que o Projeto de Lei Orçamentária da União será encaminhado até quatro meses antes do encerramento do exercíciofinanceiro e devolvido para sanção até o encerramento da sessão legislativa. Interessante observar que no artigo 165, § 6º, da Constituição Federal estabelece que será acompanhado de demonstrativo regionalizado do efeito, sobre as receitas e despesas decorrentes de sanções, anistias, remissões, subsídios e benefícios de natureza financeira tributária e creditícia. Isso consiste em dizer que os orçamentos fiscais, bem como, o investimento das empresas estatais, além de interagir com o Plano Plurianual devem atuar como instrumentos destinados a reduzir as desigualdades regionais. Saiba Mais Conforme o artigo 166, § 5º da Constituição Federal, as propostas para modificar os Projetos de Lei que envolve a Lei do Plano Plurianual, das Diretrizes Orçamentárias e do Orçamento Anual, podem ser encaminhadas pelo Presidente da República para o Congresso Nacional até o momento em que a votação na Comissão Mista não tenha sido iniciada. Cabe esclarecer que a Lei Orçamentária Anual pode conter somente dispositivos relacionados à previsão relativa a receita e despesa, existindo somente uma exceção, que consiste na abertura de créditos suplementares e a contratação de crédito. Essa movimentação é complexa, pois tem que necessariamente passar pela Câmara Federal e pelo Senado, já o exame das contas e os pareceres devem passar pela Comissão Mista Permanente – Comissão Mista de Planos, Orçamentos Públicos e Fiscalização. 46 Pesquise Para aprofundar seu conhecimento sobre o artigo 166, § 5º da Constituição Fede, leia o artigo - A interpretação sobre a adequada aplicação do artigo 166 do CTN, de Diego Araújo, que discute a temática da repetição de indébito tributário sob a ótica do art. 166 do Código Tributário Nacional, principalmente diante de sua infeliz redação e da adequação da fórmula jurídica que é antinômica aos demais preceitos até basilares nele encartados, art. 121, 123 e 165, bem como, com aqueles dispostos na Carta Maior. Disponível em: http://www.emerj.tjrj.jus.br/revistas/curso- de-especializacao-em-direito- tributario/edicoes/1_2014/pdf/DiegoMauberVasconcellosde Araujo.pdf A aprovação do orçamento depende da compatibilidade entre o Plano Plurianual e a Lei de Diretrizes Orçamentárias, indicando os recursos provenientes de despesas com a correção de erros ou de dispositivos do texto do Projeto de Lei. O constituinte originário delimitou o poder de emenda, autorizando que os Projetos de Lei Orçamentária anual podem sofrer correções sobre erros e omissões, mas que não descaracterizem a essência do projeto enviado pelo Executivo. Pereira (2006) entende essa medida como racional, pois não há controle sobre a matéria em si, mas sim sobre a forma. Sendo assim, não há motivo para vedação. As emendas devem ocorrer conforme os dispositivos constitucionais, nesse sentido, devem os erros ser corrigidos, as omissões preenchidas em relação ao Projeto oriundo do Executivo, isso tudo com o intuito de aperfeiçoar o Projeto para melhor aplicação dos recursos públicos. http://www.emerj.tjrj.jus.br/revistas/curso-de-especializacao-em-direito-tributario/edicoes/1_2014/pdf/DiegoMauberVasconcellosdeAraujo.pdf http://www.emerj.tjrj.jus.br/revistas/curso-de-especializacao-em-direito-tributario/edicoes/1_2014/pdf/DiegoMauberVasconcellosdeAraujo.pdf http://www.emerj.tjrj.jus.br/revistas/curso-de-especializacao-em-direito-tributario/edicoes/1_2014/pdf/DiegoMauberVasconcellosdeAraujo.pdf http://www.emerj.tjrj.jus.br/revistas/curso-de-especializacao-em-direito-tributario/edicoes/1_2014/pdf/DiegoMauberVasconcellosdeAraujo.pdf 47 Amplie Seus Estudos SUGESTÃO DE LEITURA Amplie seus conhecimentos sobre as emendas parlamentares de uma forma mais balizada, para tanto, leia o artigo Relação entre Emendas Parlamentares e Corrupção Municipal no Brasil: Estudo dos Relatórios do Programa de Fiscalização da Controladoria-Geral da União, de Antônio Sodré e Maria Alves sobre as Emendas Parlamentares e a Corrupção nos Municípios. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rac/v14n3/v14n3a03 Resumo da aula 3 Nesta aula estudou-se que o orçamento é uma forma de controle do Poder Legislativo sobre o Poder Executivo. Verificou-se a complexidade das atribuições do Estado e que cada vez mais o Poder Executivo passa por uma expansão, diferentemente do que ocorre com o Legislativo. Atividade de Aprendizagem De acordo com o estudado na aula, discorra sobre os princípios que regem o orçamento e o ciclo orçamentário, como deve ocorrer o planejamento e o orçamento de acordo com a Constituição Federal e a Lei da Responsabilidade Fiscal. 48 Aula 4 – Sistema Integrado de Dados Orçamentários – SIDOR Apresentação da aula 4 É fundamental conhecer os mecanismos de controle sobre o Orçamento Público e a Gestão Orçamentária, especialmente, quando já se possui ciência de que as políticas públicas precisam de orçamento para sua formulação, implementação e fiscalização. O Brasil, em tempos tecnológicos, possui para tanto, do Sistema Integrado de Dados Orçamentários – SIDOR. Nessa aula será discutido o funcionamento do processo orçamentário no Poder Legislativo, pois esse é o lócus que organiza as políticas públicas no Brasil e serão conhecidos os mecanismos que permitem a participação da sociedade nesse processo que envolve as políticas públicas. 4.1 Dados orçamentários Vive-se uma grande revolução tecnológica no mundo, especialmente pela internet. O planejamento orçamentário não poderia ficar fora dessas mudanças, pois em conjunto com a tecnologia se têm os mecanismos de participação e também de planejamento. Aqui nasce o Sistema Integrado de Dados Orçamentários – SIDOR, que consiste em dados informatizados que tem como objetivo coletar, tratar e recuperar informações sobre orçamento. O SIDOR foi criado em 1987 e implementado em 1988 e coincide com as novas regras trazidas pela Constituição Federal em vigor, inclusive no mesmo ano. O padrão naquela época era o preenchimento de papéis e o encaminhamento de diversos formulários pelos corredores do Estado, o que certamente atrasava ao atendimento das necessidades para o processo orçamentário. 49 Vocabula rio Tecnologia: Pode-se dizer que tecnologia é “teoria geral e/ou estudo sistemático sobre técnicas, processos, métodos, meios e instrumentos de um ou mais ofícios ou domínios da atividade humana” (HOUAISS, 2001.). Dois dos sentidos apresentados por esta definição são relevantes para a abordagem sobre tecnologia: 1º) processos e métodos; e 2º) meios e instrumentos. Fonte: https://www.dicio.com.br/tecnologia/ Antes da criação do SIDOR, foi criada uma comissão que durou seis meses com funcionários de diversos setores da administração pública federal, que respondiam pela tecnologia em suas áreas especializadas, envolvendo o Ministério da Aeronáutica, o Ministério da Ciência e Tecnologia e técnicos do Gabinete da Presidência da República. O SIDOR foi concebido pela Secretaria de Orçamentos e Finanças – SOF com os seguintes objetivos: Oferecer informações ágeis e consistentes para fornecer anteparo para as decisões superiores; Consolidação das ações oriundas do setor público; Criar um funcionamento integrado; Tratar e recuperar dados relativos à execução; Série histórica de dados; Integração das áreas operacionais; Criação de sistemas modulares que permitissem novas diretrizes internas e externas; Apresentar dados mais confiáveis, velozes e com custos mais baixos; Criação de dados próprios em uma perspectiva de cultura institucional; Criação de um acervo de memória própria. 50 Mas não basta criar objetivos, é preciso cumpri-los e alguns mecanismos foram criados nesse sentido. Como exemplo: Criar arquivo
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