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PROVA SUBSTITUTIVA

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Pós Graduação em Direito Empresarial - ESA 
Aluna: Carolina de Freitas Noronha 
Professor: Marcelo Tadeu Cometti 
Avaliação Módulo de Falências e Recuperação de Empresas 
 
Legitimidade da Fazenda Pública (credor fiscal) para requerimento da falência do 
devedor fiscal 
 
 
Com o advindo da Lei nº 11.101/2005 que regulou especificamente a 
recuperação judicial, a extrajudicial e a falência do empresário e da sociedade 
empresaria, estes referidos simplesmente como devedores. 
 
No que tange a falência, importante destacar que também é disciplinada pela 
Lei de Recuperação e Falência, e se trata de um processo de execução coletiva, no qual 
todos os bens do falido são arrecadados para uma venda judicial forçada, entendimento 
este, assim como destaca Marcos de Barros Lisboa´´a disciplina jurídica da falência 
deve permitir a liquidação da empresa de forma ordenada e eficiente. A ordem 
representa o respeito às prioridades de créditos, às formas de alienação dos ativos, às 
decisões coletivas em detrimento das decisões individuais. A eficiência significa a 
maximização dos resultados, contemplando a maior quantidade possível de créditos``. 
LISBOA, Marcos de Barros. A Racionalidade Econômica da Nova Lei de Falências e 
de Recuperação de Empresa. 
 
Insta esclarecer que com a decretação do estado falimentar do devedor, 
(após preenchido todos os pressupostos para tal decretação), ainda que o concurso seja 
com apenas um único credor, prevalece o entendimento à preservação da empresa na 
medida em que o processo falimentar poderia representar uma forma mais célere de 
realização do ativo do que uma execução simples. 
Quanto ao pedido de falência, há de se observar a legitimidade ativa, a 
legitimidade passiva, e por fim o juízo falimentar. 
 
No que concerne a legitimidade ativa, nos termos da Lei de Recuperação e 
Falência, a falência do devedor poderá ser requerida pelo próprio empresário devedor, 
pelo cônjuge sobrevivente, por qualquer herdeiro ou inventariante, por sócio quotista ou 
acionista da sociedade empresaria devedora, e por fim por qualquer outro credor. 
Conforme previsto no artigo 97 da referida Lei. 
 
Adentrando a questão quanto a legitimidade da Fazenda Pública como 
credor fiscal, para requerimento da falência do devedor, com o intuito de sanar seus 
débitos, visto que o artigo 83 da Lei 11.101/05 prevê em sua ordem classificatória para 
adimplemento dos débitos incluindo os créditos tributários, necessário se faz explanar 
acerca de algumas considerações em decorrência da atual sistemática da Lei Falimentar, 
que não faz qualquer restrição quanto à natureza do credor para requerer a falência de 
seu devedor. 
 
Diante disso, o que dispõe o inciso IV do artigo 97 da Lei Falimentar, traz 
claramente a declaração de que qualquer credor, que na concepção jurídica, é todo 
aquele que tem o direito de exigir de outrem o cumprimento de uma obrigação de dar, 
fazer ou não fazer alguma coisa, o que, de imediato, nos leva a entender que a Fazenda 
Pública é parte legitima, para postular a falência de seus devedores por credito 
tributário. 
 
Mas, não obstante, tanto as opiniões doutrinárias como jurisprudenciais são 
divergentes quanto à legitimidade ou não da Fazenda Pública de postular a falência do 
empresário. Nessa senda, a importância da pesquisa reside em verificar os requisitos 
autorizadores para a decretação da falência, especialmente, a legitimidade ativa do 
Estado para tal. Ademais, soma-se a isso o fato de que o tema proposto é pouco 
explorado e debatido no meio jurídico, por tratar-se de uma matéria controvertida, mas 
que na prática está em voga. 
Apesar da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiça, já com 
posicionamento sob a luz da Lei Falimentar, por ocasião do julgamento do Resp 
363.206/MG, ter firmado entendimento no sentido de que à Fazenda Pública falece de 
legitimidade, ainda sim, a questão desafia vários debates. 
 
Desta feita, é notório a existência de duas correntes diante da problemática 
acima mencionada, a primeira corrente entender ser perfeitamente cabível o pleito 
falimentar requerido pela Fazenda Pública, já a segunda corrente entende que não seria 
plausível a hipótese de tal requerimento obtendo como credor a Fazenda Pública, 
podemos aqui citar a doutrina do Negrão abordada em sua obra: 
 
Dúvida há quanto ao credor fiscal, persistindo as discussões doutrinárias a 
respeito do tema. Há os que entendem possível o pedido falimentar tendo por sujeito 
ativo o credor tributário. Dessa linha pertencem Fábio Konder Comparato, Fazzio 
Júnior, Amador Paes de Almeida e os votos dos Ministros Costa Leite e Eduardo 
Ribeiro (REsp 10.660-MG, julgado em 12-12-1995). Em outra vertente, a qual nos 
filiamos, em sentido contrário, sustentando a ausência de legítimo interesse em Fazenda 
Pública requerer a falência do devedor-contribuinte, estão Rubens Requião e o Ministro 
Cláudio Santos, do Superior Tribunal de Justiça (voto vencido no REsp 10.660-MG, 
julgado em 12-12-1995). 
 
Importante ainda trazer ao conhecimento o destacado pelo Informativo nº 
389 do Superior Tribunal de Justiça, no qual se analisa no caso em concreto a 
possibilidade de escolha do procedimento pela Fazenda Pública: 
 
FALÊNCIA. APRESENTAÇÃO. CRÉDITO TRIBUTÁRIO. Os arts. 187 
do CTN e 29 da Lei n. 6.830/1980 não representam óbice à habilitação de créditos 
tributários no concurso de credores da falência; tratam, na verdade, de prerrogativa da 
entidade pública em poder optar entre o pagamento do crédito pelo rito da execução 
fiscal ou mediante habilitação. Escolhendo um rito, ocorre a renúncia da utilização do 
outro, não se admitindo uma dúplice garantia. O fato de permitir a habilitação do crédito 
tributário em processo de falência não significa admitir o requerimento de quebra por 
parte da Fazenda Pública. No caso, busca-se o pagamento de créditos da União 
representados por onze inscrições em dívida ativa que, em sua maioria, não foram 
objeto de execução fiscal em razão de seu valor. Diante dessa circunstância, seria 
desarrazoado exigir que a Fazenda Nacional extraísse as competentes CDAs e 
promovesse as respectivas execuções fiscais para cobrar valores que, por razões de 
política fiscal, não são ajuizáveis (Lei n. 10.522/2002, art. 20), ainda mais quando o 
processo já se encontra na fase de prestação de contas pelo síndico. Nesse contexto, a 
Turma determinou o retorno dos autos ao Tribunal de origem para verificação da 
suficiência e validade da documentação acostada pela Procuradoria da Fazenda 
Nacional a fim de fazer prova de seu pretenso crédito. Precedentes citados: REsp 
402.254-RJ, DJe 30/6/2008; REsp 988.468-RS, DJ 29/11/2007; REsp 185.838-SP, DJ 
12/11/2001, e REsp 287.824-MG, DJ 20/2/2006. REsp 1.103.405-MG, Rel. Min. Castro 
FALÊNCIA. APRESENTAÇÃO. CRÉDITO TRIBUTÁRIO. 
 
Apesar de maioria das decisões no Superior Tribunal de Justiça, que versam 
sobre esse assunto, até o momento, o entendimento de que a Fazenda Pública não possui 
legitimidade para requerer a falência de empresa, recentemente o Tribunal de Justiça de 
São Paulo aceitou pedido de falência da Fazenda Nacional contra uma empresa. O 
entendimento predominante é o de que a medida não seria legítima porque o Fisco tem a 
execução fiscal ao seu dispor, uma via própria para a cobrança de dívidas tributárias. 
 
Conforme já mencionado anteriormente a lei atual, no artigo 94, inciso II, 
alega que seja requerida a falência em caso de execução frustrada. Apesar desse 
dispositivo não tratar propriamente da Fazenda Pública, entendemos que o 
desembargador interpretou a norma em conjunto com o artigo 97 da referida lei da 
Falência, que diz que “qualquer credor” pode apresentar pedido de falência. 
 
“A atual cuidou de ampliar o rol de legitimados para o pedido de falência, 
diferentemente do que ocorria durante a vigência do decreto-dei”, afirma Lazzarini. “A 
Fazenda Públicanão está sujeita ao concurso formal porque pode continuar com a 
execução fiscal, a fim de buscar a satisfação de seu crédito. Mas está ela sujeita ao 
concurso material, pois está sujeita à fila de pagamentos”, acrescenta. Esse 
entendimento foi acompanhado pelos desembargadores Azuma Nishi, Pereira Calças e 
Cesar Ciampolini. Somente Fortes Barbosa votou contra a Fazenda Pública (processo nº 
1001975-61.2019.8.26.0491).

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