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Estudos Tópicos sobre os Organismos Geneticamente Modificados Edição especial Des. Wellington Pacheco Barros Porto Alegre – Abril de 2004 Autor: Desembargador Wellington Pacheco Barros Colaboradores: Cristina Lederhos Marcolino – Secretária Administrativa Angela Maria Braga Knorr – Pesquisadora Hamilton Alexsander Cassa Viegas – Estagiário Catalogação na fonte elaborada pela Biblioteca do TJRS B277e Barros, Wellington Pacheco Estudos tópicos sobre os organismos geneticamente modificados / Wellington Pacheco Barros – Porto Alegre : Departamento de Artes Gráficas do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, 2004. 288 p. Edição especial. Responsabilidade editorial : Centro de Estudos, Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul. 1. Alimentos Transgênicos 2. Engenharia Genética 3. Genoma Humano 4. Organismos Geneticamente Modifica- dos 5. Organismos Geneticamente Modificados – Legislação 6. Comunidade Européia I. Título. CDU 349.6 : 575 SUMÁRIO Apresentação ........................................................................................................ 05 Capítulo I O que diz a doutrina sobre os Organismos Geneticamente Modificados ...... 07 Capítulo II Evolução Histórica dos Organismos Geneticamente Modificados .................. 23 Capítulo III Os Organismos Geneticamente Modificados na Comunidade Européia ........ 49 1 – Considerações gerais .............................................................................. 49 2 – Declaração Universal sobre o Genoma Humano e os Direitos Huma- nos ............................................................................................................. 60 3 – Directiva 2001/18/CE do Parlamento Europeu e do Conselho de 12 de março de 2001 .................................................................................... 67 4 – Orientação para a Efetividade da Legislação ....................................... 126 5 – Regulamento (CE) nº 1.829/2003 do Parlamento Europeu e do Con- selho de 22 de setembro de 2003 .......................................................... 144 Capítulo IV A Legislação Brasileira sobre os Organismos Geneticamente Modificados .. 191 Lei nº 8.974, de 05 de janeiro de 1995 .............................................................. 191 Lei nº 10.688, de 13 de junho de 2003 .............................................................. 199 Lei nº 10.814, de 15 de dezembro de 2003 ....................................................... 201 Lei nº 1.752, de 20 de dezembro de 1995 ......................................................... 205 Lei nº 4.846, de 25 de setembro de 2003 .......................................................... 212 Resolução CNTBio nº 01, de 30 de outubro de 1996 ....................................... 217 Portaria nº 2.658, de 22 de dezembro de 2003 ................................................. 226 Capítulo V Conceitos que abrangem os Organismos Geneticamente Modificados ......... 229 APRESENTAÇÃO Quando os Babilônios e Sumérios utilizaram, em 6.000 a. C., o lêvedo para produzir a cerveja, a partir daí começou a evolução dos Organismos Genetica- mente Modificados = OGNs ou da Transgenia, como também é conhecida, que, hoje, deixou de ser preocupação puramente científica e passou a constituir gerenciamento estatal de todos os países, especialmente depois que JAMES WATSON e FRANCIS CRICK, em 1953, desvendaram a estrutura da molécula da vida, o DNA, permitindo com isso entender como as informações genéticas são armazenadas nas células; como estas informações são duplicadas e como são transmitidas de geração para geração. Esta molécula, que reproduz o código ge- nético, é responsável pela transmissão das características hereditárias de cada espécie, quer seja nas plantas, nos animais (aí incluindo o homem) ou nos microorganismos, e é formada por fostato e açúcar e por seqüência de quatro ba- ses nitrogenadas: adenina (A), timina (T), citosina (C) e guanina (G), ligadas por pontos de hidrogênio, formando uma dupla hélice. Para que se sinta a grandiosidade do tema, basta citar que o DNA de todas as células do corpo hu- mano é equivalente, em comprimento, a 8 mil vezes a distância da Terra à Lua. Conceitualmente, OGNs são, em verdade, seres vivos criados em laboratórios com técnicas de engenharia genética que permitem transferir genes de um orga- nismo para outro, mudando a forma do organismo e manipulando sua estrutura natural a fim de obter características especiais. O desenvolvimento e a aplicação dos OGNs tem merecido estudos profundos e discussões acirradas, sendo, no entanto, reconhecido como importante fator da vida do homem moderno. Essa preocupação ganha importância para nós quando se sabe que apenas é no Brasil e em alguns países da Europa onde se situam as maiores polêmicas. Para que se tenha uma idéia do avanço dos OGNS na produção de alimentos, veja-se o mapa a seguir: 6 — Estudos Tópicos sobre os Organismos Geneticamente Modificados Área hachurada contempla os países com plantio de variedades transgênicas Fonte: International Service for the Acquisition of Agro-biotech Applications (ISAAA) • O relatório de 2002 não incluiu o Brasil, pois a soja transgênica vinha sendo cultivada de forma ilegal. Por isso, a importância da publicação de ESTUDOS TÓPICOS SOBRE OS OR- GANISMOS GENETICAMENTE MODIFICADOS, que procura, sem tomar posição, informar o leitor magistrado, através de pesquisa acurada do que existe atual- mente sobre os OGNs. Portanto, o livro, no primeiro capítulo, procura oferecer um amplo espectro doutrinário sobre os OGNs; no segundo, sua evolução histórica; no terceiro, os conceitos que os circundam, no quarto, o que existe sobre os OGNs na Comuni- dade Européia e, no quinto, a legislação brasileira a seu respeito. Espera o autor que esta obra seja de grande valia para os magistrados gaú- chos. DESEMBARGADOR WELLINGTON PACHECO BARROS ( *) * Fonte: http://img.terra.com.br/i/2003/12/08/93039_in.gif CAPÍTULO I O QUE DIZ A DOUTRINA SOBRE OS ORGANISMOS GENETICAMENTE MODIFICADOS 1 Generalidades – O mundo passa por uma típica revolução sobre o conhe- cimento das ciências que tratam da vida e da biotecnologia, descortinando um pa- norama único e imenso de aplicações cada vez mais abrangentes, resultando com isso o melhoramento da saúde, da agricultura, da proteção dos alimentos, do meio ambiente e possibilitando novas descobertas científicas. Esse panorama realista sem retorno, no entanto, ainda é desconhecido ou mesmo temido pela população, primeiro, por ausência de uma maior divulgação e, segundo, por uma pregação fundamentalista ou ideológica de que verdadeira- mente sejam os OGMs e sua importância na vida humana. A doutrina a seguir apresentada busca fornecer ao leitor idéias variadas a res- peitos dos Organismos Geneticamente Modificados. 2 Diz a ABIA – Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação1 O DNA Recombinante e a Segurança Alimentar A maior preocupação que as pessoas em geral têm relativamente aos alimen- tos com OGM diz respeito aos riscos que eles podem apresentar à saúde e à vida de quem os consumir. A transgenia parece aos olhos dos leigos uma intervenção do homem sobre a natureza por demais artificial e perigosa. Por outro lado, como o debate acadêmico só pode chegar aos consumidores pela simplificação da 1) – ABIA – Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação. Biotecnologia no Brasil. Uma Abordagem Jurídica. Págs. 10 a 13. São Paulo-SP, 2002. 8 — Estudos Tópicos sobre os Organismos Geneticamente Modificados informação jornalística, que acarreta necessariamente distorção2 , o resultado é o medo generalizado de ingerir comidas não naturais e vir a desenvolver, no futuro, doenças estranhas e fatais. Quando se examina o assunto dos alimentos com OGM a partir de estudos acadêmicos (quer dizer, tanto os da genética, como os de economia agrícola), dissipa-se o medo, fruto da ignorância. Há milhares de anos, o homem vem “in- tervindo” na natureza através de procedimentosde cruzamento de linhagens, que implicam melhoramento genético. De início, de modo intuitivo e fundado apenas na observação de suas próprias experiências, os agricultores selecio- nam as sementes de melhores frutos. A batata deixou de ser venenosa, para o ser humano, há muito tempo, em razão desses rudimentares processos de neutralização da seleção natural. Com o aprofundamento dos estudos iniciados por Mendel, no fim do século XIX, gradativamente, a biologia passou a orientar o melhoramento genético das espécies. A Revolução Verde, na segunda metade do século XX, é resultado direto do melhoramento das espécies de fundo cientí- fico3. Mas os esforços de intervenção humana na seleção natural ainda propiciari- am, no transcorrer do século XX, mais uma extraordinária conquista. Ao alcan- çar a explicação científica da base química da herança genética, o homem abriu-se à possibilidade de ampliar significativamente estes esforços. Através de técnicas que possibilitam construir combinações de DNA inexistentes na natureza (chamadas DNA recombinante, base da biotecnologia ou engenha- ria genética), conhecidas desde os anos 1960, já se produzem, hoje, por exemplo, milho com gene de uma bactéria (Bacillus thuringiensis) que intoxi- ca mortalmente os insetos daninhos às plantações desse grão; o arroz doura- do, alimento transgênico com grande quantidade de betacaroteno apto a suprir (2) – Leão Serva, em interessantíssimo estudo sobre o jornalismo e a desinformação, anota: “A necessidade de surpreender e os procedimentos usados pelo meio para esse fim expli- cam em parte a existência de tantos leitores que, embora metralhados diariamente por um sem-número de informações, nem por isso compreendem realmente a natureza dos fatos que consomem. No caso do jornalismo atual, a surpresa advém ainda menos da natureza do evento e mais do próprio processamento jornalístico – que assim, em vez de permitir a com- preensão dos fatos, sua ‘integração numa construção lógica da realidade’, milita no sentido contrário. (...) Como a história não é parte dos componentes essenciais do jornalismo, por omissão, sonegação, submissão ou redução, a capacidade de compreensão do mundo é vir- tualmente impossível – ao menos àqueles cuja janela para o mundo sejam os meios de co- municação atuais” (Jornalismo e Desinformação. São Paulo, 2001, SENAC, págs. 62/63). (3) – Para maiores informações sobre o desenvolvimento da genética, consultar George W. Burns e Paul J. Bottino, Genética, Rio de Janeiro, Guanabara-Koogan, 1991, 6ª edição, págs. 1/5. capítulo I — O que diz a doutrina sobre os ogm 9 graves deficiências de vitamina A, as quais podem levar até à cegueira; milho com gene humano, de que se extrai o hormônio do crescimento (hGH)4. É evidente que nem o juiz, nem o intérprete do direito podem-se deixar influen- ciar pela desinformação jornalística ou pelos temores do homem comum. Somen- te os estudos científicos podem ser levados em conta, na operacionalização das normas jurídicas relacionadas à questão da segurança alimentar. E a ciência tem condições atualmente de estabelecer métodos confiáveis para teste dos alimen- tos transgênicos, antes de sua introdução no mercado. Foram estes métodos que, por exemplo, identificaram o efeito alergênico da soja com gene de castanha-do- pará, desenvolvida pela empresa Pionner Hibred, ainda na fase de testes, e leva- ram ao abandono do projeto. Na verdade, com exceção do caso do complemento alimentar triptofano L, que a empresa japonesa Showa-Denko produzia com em- prego de bactérias geneticamente modificadas, nenhum outro evento é relatado na literatura científica relacionando o consumo de alimentos transgênicos a danos à saúde dos consumidores5. “Segurança alimentar” é expressão ambígua. Comporta, em português e em outras línguas latinas, dois significados diferentes. De um lado, refere-se à ques- tão quantitativa da produção de alimentos (em inglês, food security). Buscar se- gurança alimentar, nesse primeiro sentido, significa adotar tecnologias e medidas econômicas capazes de garantir a produção de alimentos em quantidades sufici- entes para alimentar a população do mundo6 . De outro lado, a mesma expressão denota a inexistência de riscos à saúde ou vida dos consumidores (em inglês, food safety). Alcançar segurança alimentar, aqui, significa controlar a qualidade dos produtos alimentícios. A FAO (Food and Agriculture Organization), por exemplo, tem iniciativas destinadas à ampliação da segurança alimentar nos dois sentidos da expressão: Programa Especial para a Segurança Alimentar, relaci- onada à segurança quantitativa, e o Codex Alimentarius, em parceria com a OMS (Organização Mundial de Saúde), pertinente à qualitativa7. (4) – Sílvio Antonio Marques, do Ministério Público de São Paulo, descreve a técnica em lin- guagem acessível aos profissionais do direito em Patenteamento de Microorganismo Transgênico, São Paulo, 2001, dissertação de mestrado aprovada pela PUC-SP. (5) – O triptofano da Showa-Denko matou, em 1989, nos Estados Unidos, 37 pessoas, e dei- xou 1.500 outras com seqüelas permanentes em razão “da síndrome de eosinofilia-mialgia, caracterizada por dor muscular e pelo aumento de um tipo de glóbulo branco (leucócitos) no sangue” (Marcelo Leite, Os alimentos transgênicos. São Paulo, 2000, Publifolha, págs. 36). (6) – “According to the World Food Summit, food security exists when all people, at all times, have physical and economic Access to sufficient, safe and nutritious food to meet their dietary needs and food preferences for an active and healthy life” (FAO, Special Programme for Food Security, Objectives and Approach, www.fao.org). (7) – Consulta na Internet: www.fao.org. 10 — Estudos Tópicos sobre os Organismos Geneticamente Modificados Os alimentos com OGM (resultantes de técnica de recombinação de DNA) re- presentam um importantíssimo instrumento de conquista da segurança alimentar (quantitativa), na medida em que proporciona reais condições para significativo aumento da produção de gêneros alimentícios. Em especial no Brasil, em que um número considerável de pessoas ainda passam fome, o emprego da biotecnologia é fator decisivo no enfrentamento dos desafios nacionais relacionados a esse tipo de segurança alimentar. De outra parte, em relação à segurança alimentar (qualitativa), há estudos concluindo que as metodologias de avaliação de segurança utilizadas em relação aos alimentos com OGM são, no presente, adequadas para detectar e dimensionar qualquer possível efeito de longo prazo na saúde humana8 . A utiliza- ção de técnicas de recombinação de DNA na produção de alimentos é cientifica- mente considerada segura9. No Brasil, a avaliação da segurança alimentar (qualitativa) relacionada à presen- ça de organismos geneticamente engenheirados insere-se na competência da Co- missão Técnica Nacional de Biossegurança – CTNBio (Lei nº 8.974/95 e Medida Provisória nº 2.191-7/01), órgão do Ministério da Ciência e Tecnologia. Sempre que expedido, pela CTNBio, para determinado OGM, o Comunicado de Parecer Técnico Conclusivo, presumem-se, em termos jurídicos, inexistentes riscos à saúde e vida do consumidor no emprego do novo organismo em produtos alimentícios10. (8) – Foods derived from biotechnology: long-term, unintended or unexpected effects – extract from the Report of the Joint FAO/WHO Expert Consultation on Foods Derived from Biotechnology: “Safety Aspect of Genetically Modified foods of Plant Orign”, disponível na Internet: www.codexalimentarius.net/biotech. (9) – George W. Burns e Paul J. Bottino, obra citada, pág. 315. (10) – Celso Antonio Pacheco Fiorillo e Marcelo Abelha Rodrigues, discutindo a aplicação da técnica de DNA recombinante no Brasil, atentos à questão da constitucionalidade, concluem: “...quando se diz, no inciso V do art. 225 da CF/88, que cabe ao Poder Público controlar a pro- dução, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que comportem ris- co para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente,está-se admitindo poder haver a produ- ção, comercialização e o emprego de técnicas que importem risco à vida, à qualidade de vida e o meio ambiente, desde que sejam estas controladas pelo Poder Público (veja que o texto não disse impedidas, mas sim controladas). Ora, é exatamente aqui que poderíamos incluir, então, a atividade genética de criação de OGM. Que existe risco, efetivamente, existe, mas em decorrência do equilíbrio que deve haver entre o desenvolvimento tecnológico, também assegurado pelo art. 218 da CF/88, e a proteção ao meio ambiente, prevista no 225 da CF/88, são permitidas as atividades científicas nessa área. Há, pois, que se convergir ambos os pon- tos para o fim previsto no art. 193, que cuida da ordem social e que estabelece como objetivo o bem-estar e a justiça social.” (Direito Ambiental e Patrimônio Genético. Belo Horizonte, 1996, Del Rey, pág. 182). Consultar, também, Celso Antonio Pacheco Fiorillo, Tutela Jurídica dos Alimentos Transgênicos no Direito Brasileiro, em www.saraivajur.com.br. capítulo I — O que diz a doutrina sobre os ogm 11 3 De outro ângulo, ainda diz a ABIA – Associação Brasileira das Indús- trias da Alimentação11 Impacto do Uso da Biotecnologia na Pesquisa Agropecuária dos Países da América Latina12 No início do século, quando o modelo de produção era a prática da agricultura extrativista, novas cultivares, das diferentes espécies, eram obtidas por introdu- ções do exterior, quando da chegada dos imigrantes, ou selecionadas em lavou- ras, entre plantas que se destacavam. A base científica era o modelo “Mendeliano”, fundamentado quase que unicamente no fenótipo e na habilidade dos melhoristas. Na década de 20, um novo paradigma surgiu: melhoristas passaram a usar modelos matemáticos, a genética quantitativa, permitindo um grande avanço no processo de melhoria do potencial produtivo das espécies. Essa técnica possibili- tava a predição das chances de obtenção de progênies com as características de- sejadas. Isso permitiu agregar pelo menos duas vezes mais potencial produtivo para as espécies economicamente exploradas, sem um acréscimo significante a custo de produção. Foi a base para o início da indústria de sementes. Após a segunda guerra mundial, a pressão por produção de alimentos passou a ser maior, novos conhecimentos se fizeram necessários, os quais foram obtidos e agregados. A criação de cultivares mais baixas com elevado potencial de rendi- mento, respondendo à fertilização, trouxe o aumento da produção, tanto na Euro- pa como nos EUA. A Revolução Verde produziu dramáticos aumentos de produ- ção, principalmente no Paquistão e na Índia, com a difusão das cultivares do CIMMYT (Centro Internacional de Melhoramento de Milho e Trigo) e IRRI (Institu- to Internacional de Pesquisa de Arroz) de porte anão que tinham ampla adapta- ção e resposta a fertilizantes e a defensivos agrícolas. Apesar de seus críticos atribuírem, erroneamente, a ela todos os problemas de endividamento do setor rural, poluição e destruição da biodiversidade do planeta, esse paradigma trouxe um acréscimo no potencial produtivo a níveis extremamente vantajosos. Os três paradigmas, anteriormente descritos, praticamente se esgotaram como inovadores, e a ciência precisou oferecer outra opção. Hoje, o modelo é o da biotecnologia. A biotecnologia compreende a varredura da biodiversidade, o ma- peamento genômico e o uso de marcadores moleculares, a cultura de tecidos/ (11) – ABIA – Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação. Alimentos Geneticamen- te Modificados. Segurança Alimentar. Págs. 79 e 80; São Paulo-SP, 2002 (12) – Trabalho preparado para a apresentação no III Congresso Latino-Americano de Cebada. Colônia, Uruguay, 5 a 8 de outubro de 1999, e utilizado nas Palestras proferidas nos Seminários “Biotecnologia – Segurança Ambiental e Alimentar” e “Biotecnologia – Perspectiva, Legislação e Segurança”, ambos realizados pela ABIA – Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação, respectivamente, em 19-06-01 – Belo Horizonte e em 06-07-01 – Salvador. 12 — Estudos Tópicos sobre os Organismos Geneticamente Modificados bio-fábricas, a biologia molecular e a engenharia genética e o controle ecologica- mente integrado de pragas. A combinação do mapeamento genômico com a cultu- ra de tecidos, mais a biologia molecular, resulta nas plantas transgênicas. Nenhuma organização de pesquisa que tenha como missão trazer desenvolvi- mento sustentável para seus clientes pode prescindir deste novo e promissor pro- cesso que pode acelerar a obtenção dos resultados, agregar valor aos produtos criados, auxiliar na produção de tecnologias mais amigáveis ao ambiente e permitir que a comunidade rural obtenha mais renda, menos esforço físico e, conseqüen- temente, mais condições de se manter íntegra e estável. 4 O embaixador Ronaldo Mota Sardenberg, em sugestiva manifestação, disse que13 O avanço da ciência envolve o debate e, por vezes, a reavaliação de conceitos éticos e legais de interesse para a sociedade. A história oferece numerosos exemplos em que avanços científicos deram margem ao debate ético e à revisão do quadro normativo – citem-se apenas os casos de Copérnico, Galileu, Darwin e, neste século, as conseqüências bélicas da física nuclear. Muitas vezes as aplica- ções bélicas polarizaram as atenções; isso acontece justamente no domínio nu- clear, ao mesmo tempo em que ganham relevo as preocupações com as armas químicas e biológicas. Por isso mesmo, as atenções internacionais têm sido focadas nestas questões, com conhecidos e preocupantes desenvolvimentos. Hoje, a biotecnologia está na berlinda. E quanto mais veloz e profunda a mu- dança do paradigma biotecnológico, e quanto mais a biotecnologia torna-se cen- tral na pesquisa científica e no debate político, maior é a transformação de nos- sas próprias visões do mundo. A biotecnologia aplicada à saúde humana é um universo explorado de forma ainda insuficiente no país, mas certamente cresce a atenção de nossa comunidade científica, mesmo por que muitos de seus aspectos são de especial interesse para a população. 5 Já o cientista Michael Hansen, em conferência de grande repercussão, disse o seguinte14: Panorama Primeiro, contudo, é útil conhecer um pouco do que a engenharia genética pode ou não pode fazer. Técnicas de engenharia genética representam fundamentalmente (13) – SARDENBERG, Ronaldo Mota, Embaixador, Ministro da Ciência e Tecnologia. Revista Parcerias Estratégicas, publicação do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), nú- mero 16, out/02. (14) – HANSEN, Michael, Ph D./Consumer Policy Institute, Consumers Union of U. S.; Confe- rência sobre Biotecnologia Consumers Internacional Oud Poelgeest, Holanda, 16-17/NOV/95 – publicada no site: http://www.argonautas.org.br/preocupacoes.htm. capítulo I — O que diz a doutrina sobre os ogm 13 um novo avanço científico, de proporções monumentais. Este avanço consiste na ha- bilidade de mover material genético de qualquer organismo para qualquer outro orga- nismo, bem como a habilidade de criar material genético e produtos expressivos da- quele material, que nunca existiu antes. O cruzamento tradicional de plantas ou animais, por outro lado, meramente permite o movimento de material genético entre diferentes variedades entre espé- cies, entre espécies bastante relacionadas ou entre gêneros bastante relaciona- dos. Essencialmente, o cruzamento tradicional permite o movimento de apenas uma pequena fração de todo o material genético que está disponível na natureza. Pode-se achar que o cruzamento tradicional é uma tentativa da raça humana de manipular processos de cruzamento tradicional em nosso próprio benefício. Esta tentativa, apesar de grande sucesso em um sentido (a criação de plantas co- mestíveis a partir de plantas próximas selvagens), apenas empurrou suavemente as barreiras da transferência de material genético. A engenharia genética, por ou- tro lado, elimina todas as barreiras do mundo natural, permitindo à ciência mani- pular materialgenético (na visão de algumas pessoas, “Brincar de Deus”) de uma maneira inconcebível anteriormente. O poder extremo inerente às técnicas de engenharia genética dá a ilusão de que os cientistas entendem muito mais sobre genética do que eles realmente en- tendem. De fato, após o descobrimento da estrutura do DNA e do seu papel na reprodução nos anos 50, muitos cientistas acreditam que, desde que o código ge- nético parecesse ser relativamente simples, nós poderíamos logo entender como a vida funciona. Contudo, nos anos que vieram, quanto mais os cientistas apren- diam sobre genes, mais complexo e complicado o quadro ficava. Enquanto cien- tistas podem replicar genes com considerável precisão, o processo de inserção e resultados é ainda muito impreciso.15 Nós ainda estamos a um longo caminho de entender completamente como um genótipo – uma combinação particular de genes – é traduzido em um fenótipo – um organismo vivo de verdade. Como disse Dr. Charles Rick, talvez a maior auto- ridade mundial em tomates, “É importante manter na lembrança que, enquanto fi- camos mais habilidosos em DNA recombinante, nós ainda não sabemos como os genes trabalham, e, quanto mais descobrimos sobre genes, menos simples o seu comportamento parece ser (Seabrook, 1993: 41). Toda a política deve, portanto, (15) – Um elemento de resultados imprevisíveis resulta do fato recém-descoberto que produ- tos finais freqüentemente passam por modificações (terminado o processamento pós- translacional) na célula hospedeira após ser produzida (Parekh et al, 1989a). Em outras pa- lavras, além da mensagem genética (o DNA), o ambiente celular no qual uma mensagem ge- nética é expressa pode afetar o comportamento da proteína resultante. Já que não podemos prever com precisão se uma proteína agirá diferentemente quando levada para uma nova célula através de engenharia genética, devemos considerar que alguma diferença deve ocorrer e agir de acordo. 14 — Estudos Tópicos sobre os Organismos Geneticamente Modificados ser realizada dentro de um contexto que reconheça que esforços de engenharia genética podem ter resultados inesperados. 6 A médica Fátima Oliveira, no artigo Engenharia Genética: o sétimo dia da criação, comenta o seguinte16: As manipulações genéticas contemporâneas consistem em adição, subtração (destruição), substituição, mutagênese, desativação ou destruição de genes. O vocábulo transgênico foi usado em 1982 por Gordon e Ruddle, época em que foram divulgados, nos EUA, os camundongos gigantes “fabricados” por Palminter Brinster e Hammer. Em 1983, foi feita a primeira planta transgênica. A transgênese é uma biotecnologia aplicável em animais e vegetais que consiste em adicionar um gene, de origem animal ou vegetal, ao genoma que se deseja modificar. Denomina-se transgene o gene adicional. O transgene passa a integrar o genoma hospedeiro e o novo caráter dado por ele é transmitido à descendên- cia. O que significa que a transgênese é germinativa. A engenharia genética, ao transferir genes entre espécies diferentes, quebrou a fronteira entre as espécies. A transgenicidade, como qualquer outra biotecno- logia bioengenheirada, elimina as fronteiras entre as espécies ao possibilitar que qualquer ser vivo adquira novas características, ou de vegetais, ou de animais ou humanas. Feito de tal monta, com certeza provocará inúmeras alterações na vida biológica, social, política e econômica em âmbito mundial, já que é fato inconteste que as biotecnologias bioengenheiradas portam um enorme potencial de desequi- líbrio de micro e macro ecossistemas. 7 Por sua vez, o pesquisador Ivan Schuster, comenta o seguinte17: Plantas Transgênicas Os avanços das ciências, especialmente nas áreas da genética e da biologia ce- lular, criaram, a partir do final do século XX, polêmicas que saíram dos laboratórios de pesquisa e foram parar nos gabinetes de governantes, escritórios de grandes empresas, casas legislativas, editoriais de jornais e revistas, e até bares e residên- cias do mundo todo. Estes debates têm o poder de envolver pessoas dos mais vari- ados níveis culturais e classes sociais, sob o mesmo tema. Entre os principais as- suntos envolvidos nestes debates estão a clonagem humana e o desenvolvimento de plantas transgênicas. Ativistas do mundo todo se manifestam contrários à produ- ção ou comercialização de grãos oriundos de plantas transgênicas. Grande parte dos protestos tem motivação política, e, em virtude da falta de esclarecimento da grande maioria da população, consegue criar no público consumidor a idéia de que (16) – OLIVEIRA, Fátima, Médica. Engenharia Genética: o sétimo dia da criação. Moderna, SP, 1995, págs. 18-19. Site: http:www.argonautas.org.br/suave_veneno.htm (17) – SCHUSTER, Ivan, Eng. Agr. D. S. Genética e Melhoramento de Plantas. Pesquisador do Setor de Biotecnologia da COODETEC. Site: http://www.coodetec.com.br/artigos.asp?id=25) capítulo I — O que diz a doutrina sobre os ogm 15 alimentos obtidos de plantas transgênicas são um risco para a humanidade. Embo- ra grande parte da aversão do consumidor por este tipo de produto deva-se à falta de informação, ou ainda, pela má informação, a ciência tem feito muito pouco para contribuir com o esclarecimento da população a respeito de plantas transgênicas. 8 Diz Léo Pessini18: Jornais, noticiários de TV e rádio, a mídia, enfim, comenta com freqüência so- bre importantes descobertas na área da genética e até a possibilidade de se clonar gente. Em 26 de junho de 2000, o então presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton, anunciava oficialmente a decifração do “rascunho” do genoma huma- no: “Estamos aprendendo a decifrar a linguagem com que Deus escreveu a vida”. Trata-se de uma das conquistas mais significativas da nossa história, a deci- fração do “livro da vida” que, segundo Francis Collins, “pela primeira vez na histó- ria da ciência, caminhamos com nosso manual de instruções na mão” e estamos apenas começando a ter idéia do seu impacto efetivo na nossa vida. Segundo os cientistas da área da biologia e genética, este feito vai revolucionar completamen- te a vida do ser humano. Para termos uma idéia do volume de informações que o genoma humano (conjunto completo de genes de uma espécie) tem, os geneticistas falam que equivale a uma estante de 60 metros de altura repleta de livros, ou 200 listas telefônicas de 500 páginas cada. Estamos no início do pro- cesso de compreensão da leitura deste fantástico “livro da vida”. Ética e tecnologia: um encontro necessário Em nenhum outro momento da história humana a ciência e a técnica colocaram tantos desafios para o ser humano quanto hoje. Fala-se que a medicina mudou mais nos últimos 50 anos que nos 50 séculos precedentes. Aumentou, espantosa- mente, a responsabilidade do ser humano em relação ao seu próprio futuro, uma vez que o que antes era atribuído ao acaso, à natureza, ao destino, à vontade de Deus, passa doravante a ter a interferência direta da ação humana. 9 Os pesquisadores Silvio Valle19 e Marco Antonio F. Costa informam que20: As Incertezas dos Alimentos Transgênicos Vivemos hoje numa época abundante em ciência e tecnologia, e acentuada- mente carregada de questões que estão à espera de respostas, para que o futuro (18) – PESSINI, Léo. Revista Parcerias Estratégicas, publicação do Centro de Gestão e Es- tudos Estratégicos (CGEE) – Número 16 – Out/02. (www.ctnbio.gov.br/ctnbio/bio/publi/ 14LeoPessini.pdF). (19) – VALLE, Silvio, pesquisador sênior e coordenador dos Cursos de Biossegurança da FIOCRUZ. Site: www.argonautas.org.br/incertezas.htm. (20) – COSTA, Antonio F., tecnologista sênior e professor de Qualidade na Biossegurança da FIOCRUZ. Site: www.argonautas.org.br/incertezas.htm. 16 — Estudos Tópicos sobre os Organismos Geneticamente Modificados da humanidade seja alcançado de forma segura e sustentável, e que o uso, algu- mas vezes, precipitado do conhecimento científico, não seja o determinante de possíveis desequilíbrios genéticos. Neste contexto, objetivamos, com este artigo, alémde evidenciar algumas incertezas presentes nos processos que envolvem tecnologia de ADN recombinante, também propor algumas medidas mitigatórias. Para entender o conceito de alimentos transgênicos precisamos analisar o pro- cesso clássico de melhoramento animal e vegetal que, apesar de processar de forma não controlada a troca das informações genéticas, está limitado ao cruza- mento dentro da mesma espécie/gênero portanto operando com um “pool” genéti- co limitado. O melhoramento envolvendo a técnica de Engenharia Genética pode ser consi- derado o mais preciso, pois se tem conhecimento prévio de qual característica genética está sendo introduzida. Entretanto, no caso específico da soja resistente ao glifosato foi utilizada a biobalística, que consiste em bombardear o gene de in- teresse para dentro da célula vegetal, para que esse integre-se ao seu genoma. 10 Cyro Mascarenhas Rodrigues, da Embrapa, comenta o seguinte21: Quem tem medo dos transgênicos? Parodiando Edward Albee, introduzimos o primeiro número dos Cadernos de Ciência & Tecnologia, no Terceiro Milênio, focalizando uma temática de grande repercussão nos meios científicos e em toda a sociedade. Muito polemizada, a questão dos transgênicos vem extrapolando as fronteiras acadêmicas, ganhando fortes conotações políticas. E não poderia ser de outra forma, haja vista que a prática científica e tecnológica, como qualquer outra ação humana, está sujeita, necessariamente, ao controle social. Acreditamos ser um falso dilema a opção “a favor ou contra” os organismos geneticamente modificados. Ninguém em sã consciência, muito menos um cientis- ta, seria capaz de posicionar-se contra essa técnica que pode viabilizar importan- tes conquistas para a humanidade, principalmente nos campos da medicina, da agricultura e dos processos industriais. A polêmica parece ficar por conta de as- pectos específicos de cada caso, notadamente quanto à avaliação de riscos na li- beração de produtos e outras implicações da apropriação privada dos seus resul- tados. Na verdade, desde a segunda Conferência de Asilomar, realizada na Califórnia, em 1975, quando os cientistas reconheceram o êxito dos primeiros resultados da transferência de genes entre espécies, propuseram, também, princípios de pre- caução a fim de evitar a geração de organismos transgênicos com características nocivas ao homem e ao meio ambiente. (21) – RODRIGUES, Cyro Mascarenhas , Editor – EMBRAPA. Site: www.embrapa.br/novida- de/publica/cct/intro181.htm. capítulo I — O que diz a doutrina sobre os ogm 17 De lá para cá muitas pesquisas foram realizadas, e a engenharia genética vem superando barreiras e obtendo conquistas cada vez mais expressivas. A despeito disso, não há consenso entre os pesquisadores, principalmente quanto ao grau de certeza científica na avaliação de eventuais riscos. O debate extrapolou os fóruns acadêmicos, onde a maioria dos cientistas assume um posicionamento francamente positivo, que minimiza os riscos dos Organismos Geneticamente Mo- dificados – OGMs. Agora, a polêmica ganha corpo em outros segmentos da socie- dade, com ênfase no componente político, envolvendo, entre outras questões, a regulamentação de biossegurança e de propriedade intelectual. Antes de apresentar os artigos desta edição, elaborados por autores especial- mente convidados e que representam as diversas tendências do debate, convém salientar que as idéias por eles apresentadas não refletem necessariamente a po- sição da Embrapa. É tradição dos Cadernos de Ciência & Tecnologia – CC&T –, desde o primeiro número, abrir espaço para a discussão das grandes questões ci- entíficas e tecnológicas, acolhendo as contribuições de pesquisadores e estudio- sos de organizações externas à Embrapa. A essa postura crítica e equilibrada de- vem ser creditados o prestígio e o respeito conquistados por este periódico na co- munidade acadêmica ao longo dos seus 17 anos de existência. 11 Em manifestação de grande importância, disse o Conselho de Informa- ção sobre Biotecnologia – CIB: Origem Técnicos agrícolas foram os precursores da biotecnologia no campo ao usar espécies melhoradas. A ferramenta biotecnológica abriu um mundo novo na medicina, na indústria da moda, no setor químico-farmacêutico, nas modernas lavouras e, aos poucos, na mesa do consumidor. Na agricultura, não se pode falar hoje em biotecnologia sem levar em conta um capítulo histórico: o desenvolvimento das sementes melhora- das. Até a década de 70, quando a comunidade científica começou a desenvolver a capacidade de manipular os genes dos seres vivos, o melhoramento de sementes era feito pelo simples cruzamento de espécies iguais ou similares, segundo o qual grãos de pólen contendo o genoma completo de uma espécie são introduzidos nos ovários de uma outra espécie ou variedade de planta. Foi assim que Gregor Mendel revelou a hereditariedade genética, ao cruzar ervilhas com diferentes co- res de flores, em 1865. Quase uma seleção natural induzida, de importante signi- ficado do século 20, mas cujo resultado não é totalmente controlado. Além do mais, o processo leva muito tempo, de 8 a 12 anos. Com o avanço da engenharia genética, o melhoramento de sementes ficou muito mais rápido, preciso e eficiente. O homem manipula o DNA, troca genes e consegue exatamente a finalidade esperada daquela semente, sem que ela perca 18 — Estudos Tópicos sobre os Organismos Geneticamente Modificados suas características. “Isso leva a agricultura a outro patamar na história”, come- mora Francisco Aragão, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). No Brasil, existem projetos avançados sendo desenvolvidos em universidades em Viçosa (MG), Campinas (SP) e São Paulo, assim como na própria Embrapa (DF). Por exemplo: os brasileiros já podem cultivar um feijão resistente ao vírus do mosaico dourado do feijoeiro, que arrasa a plantação. Produtores de laranja- -pêra não precisam mais temer o cancro cítrico, e já existe a possibilidade de plantar um mamão papaia que não seja vulnerável ao vírus da mancha anelar. Além disso, milho, soja e algodão são fortalecidos com um gene da bactéria bacillus thuringiensis, letal contra insetos que devoram as plantações, porém inócuos a outros insetos benéficos e à saúde humana. A biotecnologia também pode eliminar fatores antinutricionais, como compostos tóxicos encontrados na mandioca. É possível programar a semente para que resista a condições adversas do meio ambiente. A modificação da produção de ácido linolênico nas plantas garan- te maior tolerância ao frio e às geadas. Acidez e salinidade do solo não são mais problema. No Nordeste, os estudos da Embrapa com feijão-de-corda procuram re- forçar a resistência desse grão contra a seca. “Sementes alteradas têm qualida- des que as normais não podem ter”, analisa Flávio Finardi Filho, bioquímico espe- cialista em Ciência dos Alimentos da USP. Essas informações demonstram que o campo para a biotecnologia é infindável. Muitas variedades ainda serão desenvolvidas. Num futuro bem próximo, além da melhoria nutricional, seus frutos vão durar mais nas geladeiras e nas despensas, suas flores serão mais coloridas. Saiba o que é biotecnologia A biotecnologia moderna propriamente dita surgiu em 1970, com pesquisas ci- entíficas realizadas nos Estados Unidos. A técnica consiste na interferência con- trolada e intencional do DNA (ácido desoxirribonucléico), o código da “construção biológica” de cada ser vivo. Isso significa que os cientistas podem inserir genes de interesse específico em qualquer organismo ou mesmo retirá-los. Por esse motivo, diz-se alimento geneticamente modificado, transgênico ou de DNA recombinante. O termo é novo, mas seus princípios são anteriores à Era Cristã. Gregos e egípcios produziam vinho e cerveja da fermentação da uva e da cevada. Os pro- dutos, expostos ao ar livre, apresentavam reações orgânicas que resultavam nas bebidas. O processo já era uma forma primitiva de biotecnologia. Os estudos dessa ciência foram sistematizados a partir do século XVII,quando o inglês Robert Hooke comprovou a existência das células e publicou o livro Micrographia, obra pioneira na observação microscópica de organismos. A segunda metade do século XIX trouxe a Era Microbiana, com as técnicas de pasteurização de Louis Pasteur, o descobrimento do DNA por Friedrich Miescher, e sobretudo, as capítulo I — O que diz a doutrina sobre os ogm 19 experiências com o cruzamento de ervilhas por Gregor Mendel, apontado como o pai da genética22. 12 Luiz Pedro Bonetti, sobre o tema disse o seguinte23: Os Transgênicos Anos 80. Surgem as plantas da bioengenharia. Antes de tudo, vale esclarecer, prefiro sempre identificar as plantas resultantes de manipulação genética, ou seja, aquelas formadas a partir de transferência de genes, como “plantas transgênicas”. A denominação Organismo Geneticamente Modificado ou OGM tem sido utili- zada ultimamente como uma expressão de impacto negativo ao material genético resultante de procedimentos biotecnológicos, como a transferência gênica. Trata-se a meu ver de uma expressão que busca acentuar maior contraste en- tre uma variedade transgênica e uma variedade chamada convencional. Na reali- dade, ambas são resultantes de processos tecnológicos que alteram sua consti- tuição genética. Assim sendo, uma variedade que tenha sido desenvolvida de cru- zamentos através do melhoramento genético convencional também é um Organis- mo Geneticamente Modificado. Além disso, uma planta resultante desse processo convencional de hibridação é muito mais geneticamente modificada do que uma transgênica, uma vez que, ao cruzarmos duas variedades de uma espécie, estamos misturando milhares de genes desconhecidos na tentativa de obter a característica desejada. No genoma do milho, que já foi decifrado ou decodificado, são aproximadamente 100 mil genes. Por tudo isso, OGM poderia muito bem significar Organismo Geneticamen- te Melhorado. E identificaria os dois tipos de variedades. 13 O farmacêutico-bioquímico Franco Maria Lajolo e a engenheira de ali- mentos Marília Regini Nutti, em artigo conjunto denominado Transgênicos. Bases científicas da sua segurança, comentam o seguinte24 Evolução das Tecnologias de Melhoramento de Plantas Durante milhares de anos, o homem foi selecionando empiricamente para uso alimentar plantas que apresentassem maior rendimento, maior resistência a pragas (22) – Reportagem do Especial Biotecnologia, pág. 2 – Conselho de Informações sobre Biotecnologia. Site: www.cib.org.br. (23) – BONETTI, Luiz Pedro. A Polêmica dos Trangênicos, pág.89. Editora Centro Gráfico UNICRUZ, 2001, Cruz Alta. (24) – LAJOLO, Franco Maria, Farmacêutico-bioquímico; NUTTI, Marília Regini, Engenheira de Alimentos. Transgênicos. Bases Científicas da sua Segurança. São Paulo: SBAN, 2003, págs. 15 a 17. 20 — Estudos Tópicos sobre os Organismos Geneticamente Modificados e maior qualidade alimentar. Nas últimas décadas, com base em conhecimentos mais científicos, desenvolveram-se variedades de trigo, arroz, milho e soja com alto rendimento agrícola, necessárias para melhor alimentar uma população mundial crescente e urbanizada. Essas novas variedades foram produzidas a partir de técnicas tradicionais de cru- zamento e melhoramento envolvendo transferência de genes através da reprodução normal ou mesmo metodologias que alteram cromossomos, como a mutagênese quí- mica e a irradiação. Resultados importantes foram obtidos com o desenvolvimento da biotecnologia, que inclui produção e uso de biopesticidas, cultura de tecidos de plan- tas e uso de técnicas avançadas de biologia molecular, associadas ao melhoramento genético e diagnóstico de doenças e ao uso de marcadores genéticos (IFT, 2000a). Cruzamentos entre espécies diferentes têm sido utilizados nesses melhora- mentos (é o caso do triticale, originado do trigo e centeio), resultando muitos de- les, porém, em sementes não-férteis. Para superar isso, desenvolveu-se uma téc- nica que permite obter o embrião logo após a fertilização (embryo-rescue) e desenvolvê-lo in vitro, através de cultura de tecido. Essa possibidade permitiu salvar cruzamentos que não vingariam no campo e fazer cruzamentos até com plantas de gêneros diferentes. Mais recentemente, nos últimos 10 ou 15 anos, in- troduziu-se uma nova tecnologia de modificação genética para a produção de ali- mentos: a tecnologia do DNA recombinante. Nos processos de melhoramento convencional, misturam-se ou transferem-se para uma planta – ao acaso e, ao mesmo tempo, grandes – grupos de genes, resultando na produção de uma varie- dade com múltiplas características, algumas desejáveis, outras indesejáveis. O processo é impreciso, sendo necessário separar as características que in- teressam das que não interessam, através de um processo demorado. Com a tecnologia do DNA recombinante pode-se, de forma rápida, incorporar numa nova planta um único gene ou uns poucos genes bem definidos, correspondentes à ca- racterística única que se deseja obter. Isso pode ser feito entre espécies, famílias e até mesmo reinos diferentes. Dessa forma, uma propriedade interessante, por exemplo, de uma leguminosa, ou mesmo de uma bactéria, pode ser transferida a um cereal, ampliando, assim, a possibilidade do melhoramento. A tecnologia do DNA recombinante é uma tecnologia moderna, de base cientí- fica, com importante potencial para aumentar a produtividade agrícola, reduzir o impacto ambiental da agricultura (com redução do uso de herbicidas e pesticidas) e melhorar a qualidade nutricional e tecnológica dos alimentos. A inserção direta de DNA no genoma de uma planta não torna o alimento me- nos seguro para a saúde do que as técnicas convencionais em uso. Como toda tecnologia, porém, ela deve ser avaliada e acompanhada, e isso tem ocupado ins- tituições de pesquisa e organismos legislativos nacionais e internacionais. A história mostra que mudanças nos alimentos sempre causaram preocupação pública. Foi o caso do enlatamento, da pasteurização, da comercialização da mar- capítulo I — O que diz a doutrina sobre os ogm 21 garina, do milho híbrido, do uso da irradiação e de microondas, e parece também ser o caso dos alimentos geneticamente modificados (AGM) (IFT, 2000a). O assunto tem gerado polêmica, e atinge a sociedade em múltiplos aspectos. A qualidade dessas discussões depende da informação, da participação e do diá- logo dos vários segmentos sociais, e não apenas da ciência. Neste livro, trataremos de como a avaliação de segurança dos alimentos gene- ticamente modificados tem sido conduzida, das bases científicas envolvidas e dos resultados obtidos com os produtos desenvolvidos até hoje e, finalmente, da le- gislação proposta no Brasil. CAPÍTULO II EVOLUÇÃO HISTÓRICA DOS ORGANISMOS GENETICAMENTE MODIFICADOS Considerações gerais – A transgenia tem suscitado polêmicas fortes por onde tem surgido. Sua discussão, especialmente no Brasil, tem levado, inclusive, a embates religiosos e ideológicos. Embora no campo científico nada tenha ficado demonstrado com relação a danos à saúde, o que se constata é que existe uma resistência em nome do princípio da precaução, consistente no conceito de que, se não houver certeza de que o produto geneticamente modificado não cause dano à saúde, não deve ele ser autorizado. Para se entender a transgenia, é necessário que se proceda a sua evolução na história, já que a problemática não é nova, nem se restringe ao Brasil. Por volta de 8.000 anos a. C. – No período Neolítico, fase de profunda mudança nas relações sociais na Pré-História, em que o homem abandona a vida nômade e passa a ter moradia fixa, cultivando lavouras de subsistên- cia, momento esse que o homem torna-se seden- tário, surgindo a partir daí a agricultura organiza- da1. 6.000 a. C. – Babilônios e Sumérios utilizam lêvedo para produzir cerveja2. 4.000 a. C. – Egípcios descobrem como fazer pão fermentado. Outros empregos da fermentação são descobertos na Antiguidade, como a transformação (1) – Site: www.monsanto.com.br/biotecnologia/oque/tebiotecnologia1.htm NovaEnciclopédia Barsa. São Paulo: Encyclopaedia Britannica do Brasil Publicações, 1998. ( 2) – Site: http://free.freespeech.org/transgenicos/transgenicos/def/def, extraído da Folha de São Paulo de 06-08-98. 24 — Estudos Tópicos sobre os Organismos Geneticamente Modificados do leite em iogurte, o uso do mofo na elaboração de queijos e a fer- mentação do vinho3. 400 a. C. – Hipócrates observa que o sêmen transfere as características do ho- mem para os filhos4. 100 d. C. – Chineses usam crisântemo em pó como inseticida5. 1630 – William Harvey conclui que plantas e animais se reproduzem por meio do sexo: machos contribuem com pólen ou esperma, e as fêmeas, com óvu- los6. 1724 – Descoberta do método de fecundação cruzada do milho para produzir hí- bridos7. 1797 – A vacina viral contra a varíola começa a ser usada8. 1863 – Anton de Bary prova que um fungo causa doença nas batatas9. 1865 – Pasteur define a função dos microorganismos10. O abade Gregor Mendel e botânicos austríacos concluem que partículas invisíveis transmitem características de geração para geração. É a des- coberta da hereditariedade (1866)11. 1869 – O suíço Friedrich Miescher (1844-1895) isola, a partir do pus humano e do esperma do salmão, uma substância com alto teor de fósforo que chama de “nucleína”, posteriormente denominado “ácido desoxirribonu- cléico” (DNA)12. (3) – Site: http://free.freespeech.org/transgenicos/transgenicos/def/def, extraído da Folha de São Paulo de 06-08-98. (4) – Site: http://free.freespeech.org/transgenicos/transgenicos/def/def, extraído da Folha de São Paulo de 06-08-98. (5) – Site: http://www.cib.org.br/pdf/Suplemento_especial.pdf. (6) – Site: http://free.freespeech.org/transgenicos/transgenicos/def/def, extraído da Folha de São Paulo de 06-08-98. (7) – Site: http://free.freespeech.org/transgenicos/transgenicos/def/def. extraído da Folha de São Paulo de 06-08-98. (8) – Site: http://www.cib.org.br/pdf/Suplemento_especial.pdf (9) – Site: http://free.freespeech.org/transgenicos/transgenicos/def/def extraído da Folha de São Paulo de 06-08-98 (10) – Site: http://www.cib.org.br/pdf/Suplemento_especial.pdf. (11) – Site: http://www.cib.org.br/pdf/Suplemento_especial.pdf. – Site: http://www.monsanto.com.br/biotecnologia/oque/tebiotecnologia1.htm. – Site: http://www.rainhadapaz.g12.br/projetos/biologia/genoma/50anos/linhadotempo.htm. (12) – Site: Linha do tempo do DNA. 07-03-03 www1.folha.uol.com.br/folha/especial/2003/ dna. capítulo Ii — evolução histórica dos ogm 25 1882 – O alemão Walter Flemming (1848-1905) descobre corpos com formato de bastão dentro do núcleo das células, que denomina “cromossomos”13. 1900 – Inicia-se o processo de melhoramento genético de plantas, ou seja, com a transferência genética em proporções iguais dos organismos experi- mentados14. Também, neste ano, o holandês Hugo de Vries (1848-1935), o alemão Carl Correns (1864-1933) e o austríaco Erich Tschermak Von Seysenegg (1871-1962) chegam de forma independente aos resultados de Mendel sobre as leis da hereditariedade15. 1902 – O norte-americano Walter Sutton (1877-1906) e o alemão Theodor Boveri (1862-1915) dão início à teoria cromossômica da hereditariedade (as “partículas” da hereditariedade estariam localizadas nos cromosso- mos)16. 1909 – O dinamarquês Wilhelm Johannsem (1877-1906) introduz o termo “gene” para descrever a unidade mendeliana da hereditariedade. Ele também usa os termos “genótipo” e “fenótipo” para diferenciar as características genéticas de um indivíduo de sua aparência externa17. 1910 – Com seus estudos sobre as moscas drosófilas, Thomas Hunt Morgan prova que os genes são transmitidos pelos cromossomos18. 1914 – Uma bactéria é usada para tratar esgoto na Inglaterra19. 1915 – O norte-americano Thomas Hunt Morgan (1866-1945) e seus alunos Alfred Sturtevant (1891-1970) e Calvin Bridges (1889-1938) publicam o livro “O Mecanismo de Hereditariedade Mendeliana”, no qual relatam ex- perimentos com drosófilas, as moscas-das-frutas, e mostram que os genes estão linearmente dispostos nos cromossomos20. 1922 – Primeiros plantios de sementes de milho híbrido, desenvolvidos a partir da seleção e cruzamentos controlados de duas plantas de milho, que (13) – Site: Linha do tempo do DNA. 07-03-03 www1.folha.uol.com.br/folha/especial/ 2003/dna. (14) – Site: http://www.monsanto.com.br/biotecnologia/oque/tebiotecnologia1.htm. (15) – Site: Linha do tempo do DNA. 07-03-03 www1.folha.uol.com.br/folha/especial/ 2003/dna. (16) – Site: Linha do tempo do DNA. 07-03-03 www1.folha.uol.com.br/folha/especial/ 2003/dna. (17) – Site: Linha do tempo do DNA. 07-03-03 www1.folha.uol.com.br/folha/especial/ 2003/dna. (18) – Site: http://freespeech.org/transgenicos/transgenicos/def/def-04.htm. (19) – Site: http://www.cib.org.br/pdf/Suplemento_especial.pdf. (20) – Site: http://www1.folha.uol.com.br/folha/especial/2003/dna/fe0703200312.shtml. 26 — Estudos Tópicos sobre os Organismos Geneticamente Modificados resultaram num crescimento de 600% da produção norte-americana en- tre 1930 e 198521. 1926 – Hermann Muller descobre que os Raios X causam mutações genéticas22. 1928 – O inglês Frederick Griffith (1877-1941) publica os resultados de experi- mentos que mostram que bactérias não-virulentas neumococos (tipo RI) podem matar camundongos se forem injetadas com bactérias virulentas mortas (tipo SII). Isso mostrou que poderia haver transformações genéti- cas entre tipos de bactéria23. 1931 – O russo Phoebus Aaron Levene (1869-1940), trabalhando nos EUA, es- tuda a estrutura química dos ácidos nucléicos e identifica seus compo- nentes básicos. Os termos “ácido desoxirribonucléico” e “ácido ribonu- cléico” (RNA) se tornam de uso comum24. 1932 – O livro de Aldous Huxley Admirável mundo novo propõe uma visão nada utópica da engenharia genética25. 1938 – O britânico William Astbury (1898-1961) obtém a primeira figura de difração do DNA com o uso de Raios X e sugere que ele tem uma estru- tura periódica regular. Nessa época, predomina a idéia de que a informa- ção genética está contida nas proteínas, por que o DNA teria uma estru- tura muito simples para isso26. Neste mesmo ano, o alemão Max Delbruck (1906-1981) cria nos EUA, com o italiano Salvador Luria (1912-1991) e outros, o Grupo Fago (Phage Group) para estudar vírus que infectam bactérias (bacteriófagos). A es- tratégia é investigar os genes combinando física e genética27. 1944 – Publicação de “What is life?” (o que é vida?), em que o austríaco Erwin Schorodinger (1887-1991) sugere que as informações genéticas estão armazenadas numa estrutura molecular estável (um “cristal aperiódico”). O livro exerceu grande influência, na época, estimulando a busca pelo “código da vida”28. A norte-americana Bárbara McClintock (1902-1992), usando o milho como organismo-modelo, descobre os transposons. Eles são seqüências (21) – Site: http://www.monsanto.com.br/biotecnologia/oque/tebiotecnologia1.htm. (22) – Site: http://www.rainhadapaz.g12.br/projetos/biologia/genoma/50anos/linhadotempo.htm. (23) – Site: http://www1.www.uol.com.br/folha/especial/2003/dna/fe0703200312.shtml. (24) – Site: http://www1.folha.uol.com.br/folha/especial/2003/dna/fe0703200312.shtml. (25) – Site: http://www.zaz.com.br/istoe/ciencia/1999/10/25/002.htm. (26) – Site: http://www1.folha.uol.com.br/folha/especial/2003/dna/fe0703200312.shtml. (27) – Site: http://www1.folha.uol.com.br/folha/especial/2003/dna/fe0703200312.shtml. (28) – Site: www1.folha.uol.com.br/folha/especial/2003/dna. capítulo Ii — evolução histórica dos ogm 27 de DNA que são capazes de se mover de um lugar para outro no genoma, mostrando que ele é mais dinâmico do que se pensava29. Os canadenses Oswald Avery (1877-1955), Colin MacLeod (1909-1972) e Maclyn McCarty (1911_), do Instituto Rockefeller (EUA), mostram que o DNA (e não proteínas) é capaz de transformar bactérias não-patogêni- cas em patogênicas. Isso sugere que é o DNA que armazena a informa- ção genética30. 1946 – Max Delbruck e Alfred Dau Hershey descobremque material genético de vírus diferentes podem ser combinados para formar um novo tipo de ví- rus31. 1949 – O austríaco Erwin Chargaff (1905-1992) descobre, nos EUA, uma rela- ção quantitativa entre as bases do DNA: a proporção (razão molar) entre adenina e timina é sempre igual, e o mesmo ocorre entre guanina e citosina32. 1950 – Oswald Avery, Colin Macleod e Maclyn McCarty provaram que o “princí- pio da transformação”, isto é, o material genético, é o DNA33. Os norte-americanos Linus Pauling (1901-1994) e Robert Corey (1897- 1971) identificam a estrutura molecular básica de proteínas (o modelo da alfa-hálice). Dois anos depois, eles propõem uma estrutura para o DNA que se mostraria equivocada, como três cadeias helicoidais entrelaçadas (o modelo da tripla hélice)34. Erwin Chargaff descobre que não importa qual tecido de um animal seja observado, pois o índice da porcentagem de cada um dos quatro nucleotídeos era o mesmo, insinuando que a estrutura do DNA era espe- cífica e conservada em cada organismo35. 1952 – Alfred Hershey e Martha Chase: experimento que mostrou definitivamen- te ser o DNA o material genético, através da infecção de uma bactéria por bacteriófago36. Os norte-americanos Alfred Hershey (1908-1997) e Martha Chase (1930_), usando marcadores radioativos, mostram que é o DNA de um (29) – Site: www1.folha.uol.com.br/folha/especial/2003/dna. (30) – Site: www1.folha.uol.com.br/folha/especial/2003/dna. (31) – Site: http://free.freespeech.org/transgenicos/transgenicos/def/def, da Folha de São Paulo de 06-08-98 (32) – Site: www1.folha.uol.com.br/folha/especial/2003/dna. (33) – Site: www.rainhadapaz.g12.br/projetos/biologia/genoma/linhadotempo.htm. (34) – Linha do tempo do DNA. Site: www1.folha.uol.com.br/folha/especial/2003/dna. (35) – Site: http://www.rainhadapaz.g12.br/projetos/biologia/genoma/50anos/linhadotempo.htm. (36) – Site: http://www.rainhadapaz.g12.br/projetos/biologia/genoma/50anos/linhadotempo.htm. 28 — Estudos Tópicos sobre os Organismos Geneticamente Modificados vírus, e não a proteína, que programa as células para fazer cópias do ví- rus. O experimento reforça a idéia de que os genes estão contidos no DNA37. A britânica Rosalind Franklin (1920-1958) obtém imagens de DNA de ex- cedente qualidade, por difração de Raios X38. 1953 – O norte-americano James Watson e o britânico Francis Crick revelam a estrutura do DNA, o que permitiu conhecer-se que as informações gené- ticas são armazenadas nas células, como estas informações são duplicadas e como são transmitidos de geração para geração39. Em 30 de maio, também na Nature, Watson e Crick analisam as implica- ções genéticas de seu modelo e sugerem um mecanismo para a replica- ção do DNA40. 1957 – Francis Crick afirma que a especificidade de um fragmento de ácido nucléico depende apenas da seqüência de suas bases, e que essa se- qüência é a chave para a disposição dos aminoácidos em uma proteína particular. Propõe que o fluxo de informação vai do DNA para a proteína e que não pode retornar (suposição que ficou conhecida como o “Dogma Central”)41. 1958 – Joshua Lederberg recebe o prêmio Nobel, descobriu a recombinação ge- nética e a organização do material genético da bactéria42. 1959 – Severo Ochoa e Arthur Kornberg recebem o prêmio Nobel, descobrem as sínteses biológicas dos mecanismos dos ácidos ribonucléicos e desoxir- ribonucléicos43. 1960 – O norte-americano Arthur Kornberg (1918_) identifica a polimerase, enzima que catalisa a síntese de DNA e que posteriormente se mostrou uma ferramenta importante na engenharia genética44. 1961 – O sul-africano Sydney Brenner (1927_), o francês François Jacob (1920_) e Matthew Meselson descobrem que um tipo de RNA (o RNA mensageiro, ou MRNA) leva a informação genética “inscrita” na dupla (37) – Linha do tempo do DNA. Site: www1.folha.uol.com.br/folha/especial/2003/dna. (38) – Linha do tempo do DNA. Site: www1.folha.uol.com.br/folha/especial/2003/dna. (39) – Site: http://www.monsanto.com.br/biotecnologia/oque/tebiotecnologia1.htm. (40) – Linha do tempo do DNA. Site: www1.folha.uol.com.br/folha/especial/2003/dna. (41) – Linha do tempo do DNA. Site: www1.folha.uol.com.br/folha/especial/2003/dna. (42) – Site: http:// www.rainhadapaz.g12.br/projetos/biologia/genoma/50anos/linhadotempo.htm. (43) – Site: www.rainhadapaz.g12.br/projetos/biologia/genoma/linhadotempo.htm. (44) – Linha do tempo do DNA. Site: www1.folha.uol.com.br/folha/especial/2003/dna. (45) – Linha do tempo do DNA. Site: www1.folha.uol.com.br/folha/especial/2003/dna. capítulo Ii — evolução histórica dos ogm 29 hélice para a maquinaria celular que produz proteínas. Francis Crick e Jacques Monod tiveram também participação nessa descoberta45. O norte-americano Marshal Nirenberg (1927_) anuncia a comprovação experimental de que uma seqüência de bases especifica uma seqüência de aminoácidos e revela o conteúdo da primeira “palavra” do chamado código genético (três bases uracila correspondem ao aminoácido fenila- lanina)46. 1962 – Francis Compton, James Watson, Maurice Hugh e Fredrick Wilkins des- cobrem a relação da estrutura molecular, ácidos nucléicos, e a informa- ção transferida quando se solta do material47. 1965 – François Jacob, André Lwoff e Jacques Monod descobrem a relação do controle genético das enzimas e a síntese de vírus48. Harris e Watkins conseguem fundir células humanas e de ratos49. 1966 – Grupos de pesquisa liderados por Marshall Nirenberg e pelo indiano Har Gobind Khorana (1922_) decifrem, com outros pesquisadores dos EUA, da Inglaterra e da França, a série completa de “palavras” do código ge- nético50. 1968 – Robert Holley, Har Gobind e Marshall Nirenberg interpretam o código ge- nético e a função da síntese de proteínas51. 1969 – Marc Delldruck, Alfred Hershey e Salvador Luria recebem o prêmio Nobel pelas descobertas a respeito do mecanismo de replicação e estrutura genética do vírus52. 1972 – O norte-americano Paul Berg (1926_) obtém as primeiras moléculas de DNA recombinante, unindo DNA de diferentes espécies e inserindo esse DNA híbrido em célula hospedeira53. 1973 – Os cientistas Stanley Cohen e Herbert Boyer conseguem transferir genes, unidades hereditárias ou genéticas que determinam as caracte- rísticas do indivíduo, de um organismo para outro. Início da engenharia genética com a introdução, numa bactéria, do gene de sapo54. (46) – Linha do tempo do DNA. Site: 07-03-03 www1.folha.uol.com.br/folha/especial/2003/ dna. (47) – Site: www.rainhadapaz.g12.br/projetos/biologia/genoma/linhadotempo.htm. (48) – Site: www.rainhadapaz.g12.br/projetos/biologia/genoma/linhadotempo.htm. (49) – Site: www.rainhadapaz.g12.br/projetos/biologia/genoma/linhadotempo.htm (50) – Linha do tempo do DNA. Site: www1.folha.uol.com.br/folha/especial/2003/dna. (51) – Site: www.rainhadapaz.g12.br/projetos/biologia/genoma/linhadotempo.htm. (52) – Site: www.rainhadapaz.g12.br/projetos/biologia/genoma/linhadotempo.htm. (53) – Linha do tempo do DNA. Site: www1.folha.uol.com.br/folha/especial/2003/dna. (54) – Site: http://www.monsanto.com.br/biotecnologia/oque/tebiotecnologia1.htm. (Site: http://www.cib.org.br/pdf/Suplemento_especial.pdf. 30 — Estudos Tópicos sobre os Organismos Geneticamente Modificados Também neste mesmo ano Stanley Cohen, Annie Chang e Herbert Boyer transferem com sucesso DNA de uma forma de vida (vírus) para outra (bactéria), produzindo o primeiro organismo com DNA recombinado55. 1975 – David Baltimore, Renato Dulbecco e Howard Martin descobriram a rela- ção entre a bactéria do tumor e o material genético da célula56. Dois grupos de pesquisa desenvolvem métodos de sequenciamento de DNA. O primeiro deles, criado pelos norte-americanos Walter Gilbert (1932_) e Allan Maxam, é complexo; o mais usado atualmente foi desen- volvido ela equipe do britânico Frederick Sanger (1918_)57 Em encontro internacional em Asilomar (EUA), um grupo de cientistas alerta para a necessidade de estabelecer regras gerais e de segurança para experimentos com DNA recombinante58. 1976 –É criada a primeira companhia de engenharia genética, a Genentech, que produz a primeira proteína humana em uma bactéria geneticamente modificada e, em 1982, comercializa a primeira droga recombinante, in- sulina humana59. Os cientistas da primeira companhia de engenharia genética produzem a clonagem do gene da insulina60. 1978 – Werner Arber, Daniel Nathans e Hamilton Smith descobrem as enzimas restritivas e a aplicação destas para problemas de genética molecular61. 1980 – A Suprema Corte dos EUA decide que formas de vida alteradas podem ser patenteadas62. Pesquisadores introduzem em uma bactéria o gene humano que codifica o interferon63. Martin Cline cria um rato transgênico, transferindo genes de um animal para o outro64. Baruj Benacerraf, Jean Dausset e George Snell descobrem a relação da estrutura geneticamente determinada da célula que regula as reações imunológicas65. (55) – Site://www.monsanto.com.br/biotecnologia/oque/tebiotecnologia1.htm. (56) – Site: www.rainhadapaz.g12.br/projetos/biologia/genoma/linhadotempo.htm. (57) – Linha do tempo do DNA. Site: www1.folha.uol.com.br/folha/especial/2003/dna. (58) – Linha do tempo do DNA. Site: www1.folha.uol.com.br/folha/especial/2003/dna. (59) – Linha do tempo do DNA. Site: www1.folha.uol.com.br/folha/especial/2003/dna. (60) – Site: www.rainhadapaz.g12.br/projetos/biologia/genoma/linhadotempo.htm (61) – Linha do tempo do DNA. Site: www1.folha.uol.com.br/folha/especial/2003/dna. (62) – Linha do tempo do DNA. Site:www1.folha.uol.com.br/folha/especial/2003/dna. (63) – Site: www.rainhadapaz.g12.br/projetos/biologia/genoma/linhadotempo.htm. (64) – Site: www.rainhadapaz.g12.br/projetos/biologia/genoma/linhadotempo.htm. (65) – Site: www.rainhadapaz.g12.br/projetos/biologia/genoma/linhadotempo.htm. capítulo Ii — evolução histórica dos ogm 31 David Botstein, Ronald Davis, Mark Skolnick e Ray White, dos EUA, de- senvolvem técnica baseada no uso de enzimas de restrição para frag- mentar o DNA. A técnica foi importante para o Projeto Genoma Huma- no66. 1982 – O primeiro produto da biotecnologia passa a ser amplamente utilizado: a insulina humana para tratamentos de diabetes é produzida por engenha- ria genética67. O primeiro animal, camundongo, é obtido nos EUA pela equipe de Richard Palmiter e Ralph Brinster68. 1983 – As primeiras plantas são desenvolvidas por meio da biotecnologia69. Companhias nos EUA conseguem obter patentes para plantas genetica- mente modificadas70. Seqüenciador de DNA automatizado é desenvolvido nos EUA por Marvin Carruthers e Leroy Hood71. É mapeado nos EUA o primeiro gene relacionado a uma doença, um marcador da doença de Huntington encontrado no cromossomo 4. O es- tudo de James Gusella permitiu o desenvolvimento de um teste diagnós- tico72. Ainda neste mesmo ano foi criado a PCR (corrente reativa da polimera- se), técnica que permite a reprodução rápida de fragmentos de DNA73. Los Alamos National Laboratory e Lawrence Livermore criam bibliotecas de produção de clones de DNA74. Bárbara Mcclintock recebe prêmio Nobel por descobrir os elementos ge- néticos móveis75. 1984 – Alec Jeffreys desenvolve o genetic fingerprinting, que permite a identifi- cação de indivíduos utilizando uma única seqüência de DNA76. (66) – Site: www.rainhadapaz.g12.br/projetos/biologia/genoma/linhadotempo.htm. (67) – Site: http://www.monsanto.com.br/biotecnologia/oque/tebiotecnologia1.htm. – Site: http://www.cib.org.br/pdf/Suplemento_especial.pdf. (68) – Linha do tempo do DNA. Site: www1.folha.uol.com.br/folha/especial/2003/dna. (69) – Site: http://www.cib.org.br/pdf/Suplemento_especial.pdf. (70) – Linha do tempo do DNA. Site: www1.folha.uol.com.br/folha/especial/2003/dna. (71) – Linha do tempo do DNA. Site: www1.folha.uol.com.br/folha/especial/2003/dna. (72) – Linha do tempo do DNA. Site: www1.folha.uol.com.br/folha/especial/2003/dna. (73) – Site: www.rainhadapaz.g12.br/projetos/biologia/genoma/linhadotempo.htm. (74) – Site: www.rainhadapaz.g12.br/projetos/biologia/genoma/linhadotempo.htm. (75) – Site: www.rainhadapaz.g12.br/projetos/biologia/genoma/linhadotempo.htm. (76) – Site: www.rainhadapaz.g12.br/projetos/biologia/genoma/linhadotempo.htm. 32 — Estudos Tópicos sobre os Organismos Geneticamente Modificados 1985 – O britânico Alec Jeffreys (1950_) publica artigo em que descreve técnica de identificação que ficou conhecida como “impressão digital” por DNA (DNA fingerprintg), que permitiu a elucidação mais precisa de vários cri- mes77. Neste mesmo ano também é publicado artigo do norte-americano Kary Mullis (1944_) que descreve o método PCR (reação em cadeia de poli- merase, em inglês), que possibilita a obtenção rápida de bilhões de cópi- as de um segmento específico de DNA. Os NIH dos EUA aprovam diretrizes gerais para a realização de experi- mentos com terapia genética em seres humanos78. 1986 – São realizados os primeiros testes de campo das plantas transgênicas. (A Monsanto desenvolve a soja Roundup Ready, resistente ao herbicida Roundup Ready, que permite um melhor controle de plantas daninhas.)79 Plantas de tabaco geneticamente modificadas para se tornarem resisten- tes a herbicida são testadas em campo pela primeira vez, nos EUA e na França. EPA (Agência de Proteção Ambiental dos EUA) autoriza plantações co- merciais desse tipo80. Entre 1986 e 1996 – Foram realizados em 34 países diferentes, em mais de 15 locais, cerca de 3.500 experimentos com 56 culturas dife- rentes80. 1986 – É aprovada pelo FDA a primeira vacina elaborada pela engenharia gené- tica, para hepatite B82. 1987 – Susumo Tonegawa descobre o princípio genético da geração da diversi- dade de anticorpos83. 1988 – É concedida a primeira patente a Harvard para alterar geneticamente um animal; rato geneticamente alterado, altamente suscetível ao câncer de mama84. 1989 – É criado o National Center for Human Genome Research (NHGRI), lide- rado por James Watson, com o objetivo de mapear e seqüenciar todo o DNA humano até 200585. (77) – Linha do tempo do DNA. Site: www1.folha.uol.com.br/folha/especial/2003/dna. (78) – Linha do tempo do DNA. Site: www1.folha.uol.com.br/folha/especial/2003/dna. (79) – Site: http://www.monsanto.com.br/biotecnologia/oque/tebiotecnologia1.htm. (80) – Linha do tempo do DNA. Site: www1.folha.uol.com.br/folha/especial/2003/dna. (81) – Site: http://www.monsanto.com.br/biotecnologia/oque/tebiotecnologia1.htm. (82) – Site: www.rainhadapaz.g12.br/projetos/biologia/genoma/linhadotempo.htm. (83) – Site: www.rainhadapaz.g12.br/projetos/biologia/genoma/linhadotempo.htm. (84) – Site: www.rainhadapaz.g12.br/projetos/biologia/genoma/linhadotempo.htm. (85) – Site: www.rainhadapaz.g12.br/projetos/biologia/genoma/linhadotempo.htm. capítulo Ii — evolução histórica dos ogm 33 1990 – As primeira plantas geneticamente modificadas passam a ser comerciali- zadas: as plantas do fumo e do tomate resistentes a vírus inauguram a grande evolução da biotecnologia86. W. French Anderson aplica a primeira terapia genética numa menina de 4 anos com doença imunológica (deficiência de ADA)87. 1991 – Mary King evidencia que um gene no cromossomo 17 causa herança do câncer de mama e aumenta o risco de câncer ovariano88. 1992 – Cientistas americanos e britânicos descobrem a técnica para testar em embriões in vitro anormalidades genéticas tal como a fibrose cística e hemofilia89. 1993 – U. S. National Câncer Institute descobre que ao menos um gene relacio- nado ao homossexualismo é herdado da mãe e reside no cromossomo X90. A George Washington University clona embriões humanos e os nutrem por alguns dias em dispositivo91. Richard J. e Phillip A. recebem o prêmio Nobel ao descobrir os genes saltadores92. 1994 – Começa a ser comercializado nos EUA, o tomate Flavr Savr com amadu- recimento retardado93. Também em 94, ocorre a liberação do tomate Flavr Savr, primeiro ali- mento geneticamente modificado cuja venda é aprovada pela FDA (agência de fármacos e alimentos dos EUA)94. 1995 – Em janeiro, surge, no Brasil, a Lei nº 8.974, que regulamenta osincisos II e V do § 1º do art. 225 da Constituição Federal, estabelece normas para o uso das técnicas de engenharia genética e liberação no meio am- biente de organismos geneticamente modificados, autoriza o Poder Exe- cutivo a criar, no âmbito da Presidência da República, a Comissão Téc- nica Nacional de Biossegurança, e dá outras providências (v. Capítulo V – Legislação Brasileira sobre Transgenia). (86) – Site: http://www.monsanto.com.br/biotecnologia/oque/tebiotecnologia1.htm. (87) – Site: www.rainhadapaz.g12.br/projetos/biologia/genoma/linhadotempo.htm. (88) – Site: www.rainhadapaz.g12.br/projetos/biologia/genoma/linhadotempo.htm. (89) – Site: www.rainhadapaz.g12.br/projetos/biologia/genoma/linhadotempo.htm. (90) – Site: www.rainhadapaz.g12.br/projetos/biologia/genoma/linhadotempo.htm. (91) – Site: www.rainhadapaz.g12.br/projetos/biologia/genoma/linhadotempo.htm. (92) – Site: www.rainhadapaz.g12.br/projetos/biologia/genoma/linhadotempo.htm. (93 – Linha do tempo do DNA. Site: www1.folha.uol.com.br/folha/especial/2003/dna. (94) – Linha do tempo do DNA. Site:07-03-03 www1.folha.uol.com.br/folha/especial/2003/ dna. 34 — Estudos Tópicos sobre os Organismos Geneticamente Modificados Chega ao mercado a primeira soja modificada pela biotecnologia95. É obtida a primeira seqüência completa de DNA de um organismo de vida livre, a bactéria Hemophilus influenzae96. A Duke University Medical Center prova que transplantes entre espécies são possíveis97. Edward B, Lewis, Cristiane Nusslein-Volhard e Eric Weischaus recebem o prêmio Nobel por suas descobertas a respeito do controle genético de embriões em desenvolvimento98. Craig Venter e Hamilton Smith anunciam a seqüência completa de dois genomas bacterianos (Haemophilus influenzae e Mycoplasma genitalim)99. Em dezembro, surge, no Brasil, o Decreto nº 1.752, regulamentando a Lei nº 8.974, de 5 de janeiro de 1995, que dispõe sobre a vinculação, competência e composição da Comissão Técnica Nacional de Biossegu- rança – CTNBio, e dá outras providências (v. Capítulo V – Legislação Brasileira sobre Transgenia). 1996 – A área global de culturas geneticamente modificadas foi 1,7 milhão de hectares, em 7 países100. Humam Genome Research descobre que a seqüência dos receptores de células T humanas está completa101. É concluído o mapa genético completo do camondongo102. Por fim, acontece o nascimento da ovelha Dolly, primeiro mamífero clonado a partir de uma célula de um animal adulto pelo Instituto Roslin (Escócia) e pela empresa PPL Therapeutics. Só em fevereiro do ano se- guinte o feito foi divulgado103. Já eram 45 o número de países a realizar testes com plantas genetica- mente modificadas a campo, sendo realizados mais de 10 mil experimen- tos. E já eram 11 milhões de hectares de culturas de plantas genetica- mente modificadas104. (95) – Site: http://www.monsanto.com.br/biotecnologia/oque/tebiotecnologia1.htm. (96) Linha do tempo do DNA. Site: www1.folha.uol.com.br/folha/especial/2003/dna. (97) – Site: www.rainhadapaz.g12.br/projetos/biologia/genoma/linhadotempo.htm. (98) – Site: www.rainhadapaz.g12.br/projetos/biologia/genoma/linhadotempo.htm. (99) – Site: www.rainhadapaz.g12.br/projetos/biologia/genoma/linhadotempo.htm. (100) – Site: http://www.monsanto.com.br/biotecnologia/oque/tebiotecnologia1.htm. (101) – Site: www.rainhadapaz.g12.br/projetos/biologia/genoma/linhadotempo.htm. (102) – Linha do tempo do DNA. Site: www1.folha.uol.com.br/folha/especial/2003/dna. (103) – Linha do tempo do DNA. Site: www1.folha.uol.com.br/folha/especial/2003/dna. (104) – Site: http://www.monsanto.com.br/biotecnologia/oque/tebiotecnologia1.htm. capítulo Iii — ogm na comunidade européia 35 Em outubro, surge, no Brasil, a Resolução CTNBio nº 1, que aprova o Regimento Interno da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança – CTNBio (v. Capítulo V – Legislação Brasileira sobre Transgenia). 1997 – No mês de dezembro, ativistas do Greenpeace bloqueiam o desembar- que de um carregamento de soja geneticamente modificada – o primeiro a ter sido autorizado pela CTNBio – vindo dos Estados Unidos, no Porto de São Francisco do Sul, Santa Catarina105. 1998 – Já eram 27,8 milhões de hectares plantados com cultura geneticamente modificada106. O britânico John Sulston e o norte-americano Robert Waterstone sequenciaram o genoma do verme C. elegans, primeiro organismo multicelular a ter o seu DNA transcrito107. A Hawaii University clona ratos, criando 3 gerações de clonados. Duas equipes de pesquisa obtêm sucesso no crescimento de células primitivas embriogênicas108. Em junho, a Monsanto envia à CTNBio pedido de liberação do cultivo co- mercial de soja transgênica. A soja Round Ready é objeto do primeiro pedido para uso em escala comercial – até então todos os pedidos havi- am sido para cultivo experimental108. Em julho, a 6ª Vara da Justiça Federal de Brasília, deferindo parcialmen- te liminar impetrada pelo GreenPeace – que reivindica suspensão da comercialização de óleo feito a partir de soja transgênica, produzido pela Ceval –, determinou que a Associação Brasileira de Óleos Vegetais (Abiove) modificasse os rótulos de todos os óleos feitos a partir de se- mentes de soja transgênica, para que as embalagens trouxessem infor- mações sobre a composição do óleo e sobre os riscos à saúde110. Em setembro, a 11ª. Vara da Justiça Federal, aplicando o princípio da pre- caução, concede liminar ao Greenpeace e ao IDEC (Instituto de Defesa do Consumidor), proibindo a União de autorizar o plantio de soja transgênica enquanto não regulamentar a comercialização de produtos geneticamente modificados e realizar estudo prévio de impacto ambiental. O princípio de precaução que consta do artigo 225 da Constituição Federal Brasileira, pode ser assim resumido: quando uma atividade representa ameaças de (105) – Site:http://www.argonautas.org.br/crono_transgen.htm. (106) – Site: http://www.monsanto.com.br/biotecnologia/oque/tebiotecnologia1.htm. (107) – Linha do tempo do DNA. Site: www1.folha.uol.com.br/folha/especial/2003/dna. (108) – Site: www.rainhadapaz.g12.br/projetos/biologia/genoma/linhadotempo.htm. (109) – Site:http://www.argonautas.org.br/crono_transgen.htm. (110) – Site:http://www.argonautas.org.br/crono_transgen.htm. 36 — Estudos Tópicos sobre os Organismos Geneticamente Modificados danos ao meio-ambiente ou à saúde humana, medidas de precaução de- vem ser tomadas, mesmo se algumas relações de causa e efeito não fo- rem plenamente estabelecidas cientificamente111. Em dezembro, o Greenpeace e o IDEC obtêm liminar junto à 6ª. Vara da Justiça Federal, de Brasília, estabelecendo a obrigatoriedade da segre- gação dos plantios transgênicos para garantir o processo de rotulagem final dos produtos112. 1999 – A área plantada com plantas geneticamente modificadas foi superior a 40 milhões de hectares113. Em fevereiro, o IBAMA ingressa na ação civil pública movida por Greenpeace e IDEC pela necessidade de realização de Estudo de Im- pacto Ambiental – Eia-Rima – antes da liberação comercial de transgêni- cos no meio ambiente114. Em março, o governador gaúcho Olívio Dutra regulamenta a lei estadual (9.453, de 10-12-91) determinando a notificação ao poder público esta- dual das áreas onde há pesquisas com transgênicos e exigindo apresen- tação de estudo de impacto ambiental (Eia-Rima)115. Em maio, reunidos em Recife, os 27 secretários estaduais presentes à reunião do Fórum de Secretários de Agricultura decidem, por unanimida- de, encaminhar moção propondo que a transgenia não deva ser liberada no Brasil enquanto não seja resolvido o impacto sobre os orçamentos dos estados e as incertezas nas pesquisas. Greenpeace e IDEC entram com pedido de liminar para impedir a autorização do registro das semen- tes geneticamente modificadas da Monsoy na 6ª. Vara da Justiça Fede- ral de Brasília116. Em junho, o Ministério da Justiça elabora um projeto de portaria exigindo a rotulagem de todo alimento geneticamente modificado ou que tenha no seu processo industrial algum componente obtido por esse
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