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A TEORIA DAS OPERAÇÕES ESPECIAIS

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A Teoria das Operações Especiais 
Resumo e Adaptação da Tradução do Capítulo 1 do livro Special 
Operations - Case Studies in Special Operations Warfare: Theory and 
Practice 
Editora Presidio Press, 1995 
 
Escrito em 1995 pelo então Capitão-de-Fragata William H. McRaven, da 
Marinha dos EUA. Na época McRaven era Comandante do SEAL Team-3, 
sediado em Coronado,Califórnia. Em 2011 William H. McRaven era vice-
almirante e o Comandante das Forças Especiais Conjuntas dos EUA e 
planejou e comandou a operação Neptune Spear que eliminou Bin Laden no 
Paquistão. 
 
McRaven caçou e capturou os dois maiores inimigos americanos: Saddam e Osama 
Bin Laden 
Na área da literatura militar, muito se tem escrito sobre a teoria da guerra, 
desde o pensamento de Herman Kahn acerca da temível extremidade nuclear 
do espectro, até a guerra indireta de B. H. Liddell Hart na extremidade 
convencional. Existem teorias sobre a escalada e a conclusão da guerra, 
teorias sobre a revolução e a contra-revolução, teorias sobre a insurreição e a 
contrainsurreição, bem como teorias gerais sobre o poder aéreo e o poder 
marítimo; e outras mais específicas sobre o bombardeio estratégico e a 
guerra anfíbia. Entretanto, não se encontra nenhum registro a respeito de 
uma teoria sobre as operações especiais. Qual a importância de uma teoria 
das operações especiais? Uma operação especial bem-sucedida contradiz o 
conhecimento convencional, pois prescreve o emprego de uma força de 
pequeno efetivo para derrotar um adversário bem mais numeroso ou 
estacionado em bases fortificadas. Este livro formula uma teoria das 
http://www.tropasdeelite.xpg.com.br/operacao-NeptuneSpear.html
operações especiais que expõe o porque da ocorrência deste fenômeno. Irei 
mostrar que, através do emprego de certos princípios de guerra, uma força de 
operações especiais pode reduzir as chamadas "fricções da guerra", de Carl 
von Clausewitz, a um nível aceitável. Ao minimizar estas fricções, a força de 
operações especiais pode obter uma superioridade relativa sobre o inimigo. 
Uma vez obtida essa superioridade, a força atacante deixa de estar em 
desvantagem e pode tomar a iniciativa a fim de aproveitar as vulnerabilidades 
do inimigo e assegurar a vitória. A obtenção da superioridade relativa é um 
fator necessário, mas, por si só, insuficiente para garantir o êxito. Se 
pudermos determinar, antes da operação, a melhor maneira de obter a 
superioridade relativa, poderemos modificar o planejamento e a preparação 
das operações especiais para aumentar a possibilidade de alcançarmos o 
êxito. Esta teoria não fará do leitor um melhor mergulhador, aviador ou pára-
quedista, mas lhe proporcionará um embasamento intelectual para refletir 
sobre as operações especiais. 
 
O Escopo deste Estudo 
 
Para desenvolver uma teoria de operações especiais, inicialmente, há que se 
limitar o escopo do problema. Isso exigiu a formulação da seguinte definição 
aperfeiçoada de operação especial: "Uma operação especial é conduzida por 
forças especialmente adestradas, equipadas e apoiadas visando um alvo 
específico, cuja destruição, eliminação ou resgate (no caso de 
reféns)constitui-se em imposição política ou militar."** A Joint Pub 3-05 
estabelece que as missões de ação direta são "projetadas para a obtenção de 
resultados específicos, bem definidos e que, com freqüência, dependem do 
tempo. Eles têm importância estratégica, operacional, ou são críticos do ponto 
de vista tático." Abrangem ataques contra alvos vitais, interdição de linhas de 
comunicações, localização, captura ou recuperação de pessoal ou material, 
ou a captura, destruição ou neutralização de instalações críticas. 
- Nota da Editoria Brasileira. Esta definição não coincide com a apresentada 
na doutrina combinada oficial norte-americana, a qual define as operações 
especiais de uma forma abrangente, compreendendo as operações 
psicológicas, assuntos civis e reconhecimento. As oito operações de combate 
que estão analisadas neste livro para determinar os princípios das operações 
especiais e formular a teoria respectiva se encaixam mais adequadamente no 
que o Joint Pub 3-05 define de "Missão de Ação Direta".* .* A Doctrine for 
Joint Special Operations [Joint Pub 3-05] define as Operações Especiais 
como "operações conduzidas por forças militares e paramilitares 
especialmente organizadas, adestradas e equipadas, visando a consecução 
de objetivos militares, políticos, econômicos ou psicológicos por meios 
militares não-convencionais em áreas hostis, interditadas ou politicamente 
sensíveis. Tais operações são conduzidas em tempo de paz, conflitos e 
guerras, independentemente ou em coordenação com operações realizadas 
por forças convencionais, não adestradas em Operações Especiais. 
As considerações político-militares freqüentemente modelam as Operações 
Especiais, exigindo técnicas clandestinas, sigilosas e a supervisão no nível 
nacional. As Operações Especiais diferem das convencionais nos níveis de 
risco físico e político, técnicas operacionais, modalidades de emprego, 
independência do apoio de forças amigas, e dependência de inteligência 
operacional detalhada e de meios locais. 
- Nota da Editoria Brasileira Diferentemente destas, as oito operações de 
combate aqui analisadas sempre foram de uma natureza estratégica ou 
operacional, e contaram com a vantagem de possuírem, praticamente, meios 
ilimitados e inteligência a nível estratégico nacional. Esta definição 
aperfeiçoada também significa que as operações especiais podem ser 
conduzidas por pessoal de operações não-especiais, tais como os aviadores 
que realizaram a incursão sobre Tóquio, sob a liderança de James Doolittle, 
ou os submarinos que participaram da incursão contra o encouraçado alemão 
Tirpitz. Embora seja da opinião que pode ser aplicada ao longo de todo o 
espectro das Operações Especiais, conforme definidas pela Joint Pub 3-05, a 
teoria aqui apresentada foi formulada exclusivamente tomando por base os 
oito estudos de caso constantes neste trabalho. Portanto, daqui em diante, o 
termo operações especiais será empregado segundo essa definição 
aperfeiçoada. 
Por que são as Operações 
Especiais Singulares? 
Todas as operações especiais são 
conduzidas contra posições fortificadas, 
quer seja um encouraçado cercado por 
redes antitorpedo (a incursão dos 
minissubmarinos britânicos contra o 
encouraçado alemão Tirpitz), um reduto 
nas montanhas protegido por tropas 
italianas (o resgate de Benito 
Mussolini, liderado por Otto 
Skorzeny), um campo de prisioneiros 
de guerra (a incursão dos Rangers 
sobre Cabanatuan e a incursão das 
forças especiais dos EUA sobre Son 
Tay), ou um avião comercial 
seqüestrado (o resgate de reféns em 
Mogadíscio, levado a cabo pela unidade 
antiterrorista alemã GSG-9). Estas 
posições fortificadas são características 
de situações onde o inimigo adotou 
uma posição defensiva. Em seu livro On 
War, Carl von Clausewitz observou: "a 
modalidade defensiva da guerra em si é 
mais vigorosa do que a ofensiva. [Ela] 
contribui para o poder de resistência, ou 
seja, a capacidade de autopreservação 
e proteção. Dessa forma a defesa, em 
geral, tem uma finalidade negativa, que 
é a de resistir à vontade do inimigo... Se 
é que desejamos desencadear uma 
ofensiva para impor a nossa vontade, 
devemos possuir força suficiente para 
superar a inerente superioridade da 
defesa inimiga."2 
A teoria da guerra proposta por 
Clausewitz estabelece que, para 
derrotar "a modalidade mais vigorosa da guerra", a melhor arma de um 
exército é a superioridade numérica. "Neste sentido, admite-se que tal 
superioridade seja o fator mais importante no desfecho de um engajamento, 
desde que seja suficientemente grande para compensar as demais 
circunstâncias. Depreende-se, portanto, que o maior número possível de 
tropas deve ser empregado no ponto decisivo do engajamento." 
Nenhum combatente questionaria o benefício da superioridade numérica. 
Todavia, se ela constitui o fator mais importante,como é que 69 comandos 
alemães foram capazes de derrotar uma força belga de 650 soldados, 
protegidos pela maior e mais compacta fortaleza da época, o forte em Eben 
 
Sargento de 1ª Classe Task Force Ivory 
Coast, Son Tay, Vietnã do Norte em 1970. 
Ele carrega uma carabina CAR-15 
XM177E2 com carregador de 30 tiros. Ele 
leva um rádio AN-PRT 4A para fuga e 
evasão, que só. Usa também óculos 
especiais de proteção. 
http://www.tropasdeelite.xpg.com.br/operacao-eiche-oak.html
http://www.tropasdeelite.xpg.com.br/operacao-eiche-oak.html
http://www.tropasdeelite.xpg.com.br/operacao-eiche-oak.html
http://www.tropasdeelite.xpg.com.br/operacao-cabanatuan.htm
http://www.tropasdeelite.xpg.com.br/OPERACOES_SON_TAY.htm
http://www.tropasdeelite.xpg.com.br/OPERACOES_SON_TAY.htm
http://www.tropasdeelite.xpg.com.br/ALEMANHA_GSG-9.htm
http://www.tropasdeelite.xpg.com.br/OPERACOES_EBEN_EMAEL.htm
Emael? Como pode uma força de operações especiais numericamente 
inferior, que tem a desvantagem de atacar a modalidade mais vigorosa da 
guerra, obter a superioridade sobre o inimigo? Quem entender este paradoxo, 
entenderá as operações especiais. 
 
 
Superioridade Relativa 
 
A superioridade relativa é um conceito essencial à teoria das operações 
especiais. Simplesmente dito, a superioridade relativa é uma condição que 
existe quando uma força atacante, geralmente menor, obtém uma vantagem 
decisiva sobre um inimigo maior ou bem-fortificado. A importância do conceito 
de superioridade relativa reside na sua capacidade de mostrar quais os 
vetores positivos que influenciam o êxito de uma missão e como as fricções 
da guerra afetam a consecução do objetivo. Nesta seção, iremos definir os 
três atributos básicos da superioridade relativa e mostrar como se manifestam 
em combate. A superioridade relativa é obtida no momento decisivo de um 
engajamento. Por exemplo, quando os alemães atacaram o forte belga em 
Eben Emael durante a II Guerra Mundial, eles conquistaram uma vantagem 
decisiva - a superioridade relativa - sobre o inimigo, cinco minutos após o 
engajamento inicial, tendo empregado planadores e cargas explosivas 
dirigidas para obter a surpresa e a rapidez necessárias para subjugar, no 
menor tempo possível, o inimigo. Embora os belgas combatessem por mais 
24 horas, o combate dependeu das ações iniciais, estando o desfecho 
praticamente assegurado. 
Em alguns casos, o momento decisivo surge antes do combate. Em 1942 na 
Operação Chariot, os britânicos modificaram um velho contratorpedeiro, o 
HMS Campbeltown, carregando-o com 4 1/2 toneladas de explosivos e 
protegendo-o com blindagem. Após cruzar o Canal da Mancha, o navio 
arremeteu contra o dique seco, ocupado pelos alemães, em Saint-Nazaire, na 
França, tornando-o inoperante pelo resto da guerra. Embora as defesas 
alemãs em torno de Saint-Nazaire fossem as mais fortes no Atlântico, quando 
o HMS Campbeltown alcançou o ancoradouro exterior do porto (a cerca de 
3km do dique seco), os alemães já não podiam detê-lo. A essa altura, antes 
do início das hostilidades propriamente ditas, a superioridade relativa já havia 
sido obtida. O ponto em que esta é obtida também é, freqüentemente, o ponto 
de maior risco. Quanto mais se aproximar a força atacante, tanto mais fortes 
serão as defesas. No entanto, uma vez superado o obstáculo decisivo, a 
probabilidade de êxito é consideravelmente maior do que a probabilidade de 
fracasso, obtendo-se, assim, a superioridade relativa. Uma vez obtida a 
superioridade relativa, esta deve ser mantida a fim de assegurar a vitória. 
Quando da tentativa de resgate do ditador italiano Benito Mussolini, o Capitão 
Otto Skorzeny, das SS, conduziu um assalto aéreo (com planadores) contra 
um reduto italiano no alto da Montanha Gran Sasso, nos Apeninos. Quatro 
http://www.tropasdeelite.xpg.com.br/OPERACOES_EBEN_EMAEL.htm
http://www.tropasdeelite.xpg.com.br/uk-british-commandos3.htm
minutos após desembarcar, Skorzeny penetrou no hotel e libertou Mussolini. 
A esta altura, a superioridade relativa havia sido obtida, mas, para que a 
missão fosse bem-sucedida, Skorzeny ainda tinha de extrair Mussolini do alto 
da montanha e assegurar o seu retorno a Roma. Este período entre a 
libertação de Mussolini e o término da missão requereu a manutenção da 
superioridade relativa, o que foi possível graças à audácia de Skorzeny e às 
tropas convencionais que reforçavam a pequena força de comandos. A 
capacidade de manter a superioridade relativa freqüentemente exige a 
intervenção da coragem, do intelecto, da audácia e da perseverança, ou do 
que Clausewitz chama de "fatores morais". 
Para citar um exemplo, durante a II GM, o Tenente Luigi Durand de la Penne, 
um homem-rã italiano, entrou clandestinamente no porto de Alexandria a 
bordo de um torpedo tripulado. Ele e seu segundo mergulhador desbordaram 
uma rede antisubmarino, cargas de profundidade, pequenos navios de 
proteção, a segurança do porto e uma rede antitorpedo para chegar ao 
encouraçado britânico HMS Valiant. Eles só tinham que colocar explosivos na 
quilha do navio para que a missão fosse bem-sucedida. Infelizmente, à 
medida que Durand de la Penne manobrava o torpedo tripulado sob o casco 
do HMS Valiant, o submersível começou a ganhar lastro e afundou na lama. 
Agravando ainda mais a situação, seu segundo mergulhador perdeu os 
sentidos e flutuou até a superfície. Fisicamente exausto pelo mergulho 
prolongado e afetado pela água gelada que penetrava na sua roupa de 
neoprene rasgada, Durand de la Penne passou os próximos 40 minutos 
posicionando o torpedo sob o HMS Valiant. Foi somente graças a sua 
tremenda perseverança e coragem (dois dos quatro fatores morais) que ele 
conseguiu manter a superioridade relativa e concluir a missão. 
Se a superioridade relativa for perdida, será difícil recuperá-la. Após a 
investida do Campbeltown contra o dique seco em Saint-Nazaire, o plano 
previa que oitenta comandos a bordo do navio desembarcassem e 
destruíssem alvos em volta da instalação portuária. Embora os comandos 
tivessem atingido uma marcante vantagem tática quando investiram contra o 
dique seco e surpreenderam os alemães, os marinheiros e soldados 
germânicos logo intervieram e retardaram o avanço dos comandos enquanto 
tentavam destruir os alvos em terra firme. Trinta minutos após 
desembarcarem, os comandos do HMS Campbeltown encontravam-se em 
inferioridade numérica face aos reforços alemães, perdendo a superioridade 
relativa. O engajamento continuou por mais duas horas, mas os britânicos, 
devido à sua inferioridade numérica, não foram capazes de recuperar a 
vantagem. Eventualmente, os comandos se viram forçados a render-se. 
 
Resultado da investida do HMS Campbeltown contra o dique seco de Saint-Nazaire 
Uma vulnerabilidade própria das Forças de Operações Especiais é seu 
limitado poder de fogo em relação a uma força convencional de grande 
efetivo. Por isso, quando perdem a superioridade numérica, também perdem 
a iniciativa. Nesse caso prevalece, geralmente, a modalidade mais vigorosa 
da guerra. A chave das missões de operações especiais reside na conquista 
da superioridade relativa, o mais cedo possível no engajamento. Quanto mais 
se prolongar o engajamento, tanto maior será a probabilidade de que o 
desfecho seja afetado pela vontade do inimigo, pelo azar e pela incerteza, 
fatores que constituem as fricções da guerra. 
O ponto de vulnerabilidade durante a missão, surge a partir do momento em 
que a força atacante atinge a primeira linha de defesa do inimigo. Nesse 
momento, as fricções da guerra (azar, incerteza e a vontade do inimigo) 
começam a influir no êxito do engajamento. Embora as chamadas fricções da 
guerra ainda possam afetar uma missão durante as fases de planejamento e 
preparação, decidimos considerar o ponto de vulnerabilidade como um 
aspecto da fase de engajamento. A área de vulnerabilidade é uma função da 
conclusão da missão ao longo do tempo. Quanto mais tempo se levar para 
obter a superioridade relativa, tantomaior será a área de vulnerabilidade, e 
conseqüentemente, maior o impacto causado pelas fricções da guerra. O 
gráfico mostra que a força de operações especiais é bem-sucedida porque 
suas vantagens intrínsecas (tecnologia, adestramento, inteligência, etc.) 
permitem reduzir a área de vulnerabilidade e, por extensão, as fricções da 
guerra, a um nível aceitável. Embora existam fatores na guerra que estão fora 
do nosso controle, a teoria das operações especiais mostra que há seis 
princípios que podem ser controlados e, ao mesmo tempo, influem na 
superioridade relativas. 
 
 
Os Seis Princípios das Operações Especiais 
Os seis princípios das Operações Especiais aqui apresentados - simplicidade, 
segurança, repetição, surpresa, rapidez e propósito - foram extraídos de uma 
análise de oito casos históricos.**Inicialmente, os casos foram considerados 
em termos dos princípios de guerra do Exército dos EUA, segundo definidos 
na Doctrine for Special Operations. Após minuciosa análise desses casos, 
alguns dos princípios de guerra foram eliminados ou modificados, a fim de 
que refletissem, com maior precisão, o seu relacionamento com uma 
operação especial. Os princípios do exército incluem: objetivo, ofensiva, 
massa, economia de meios, manobra, unidade de comando, segurança, 
surpresa e simplicidade. 
- Nota da Editoria Brasileira: Estes princípios predominaram em todas as 
missões bem-sucedidas. Quando um destes foi omitido, negligenciado ou 
contornado, redundou, invariavelmente, em algum grau de fracasso. São 
estes princípios que permitem às forças de operações especiais atingirem a 
superioridade relativa. Poderão as forças de grande efetivo empregar esses 
princípios para obter a superioridade relativa? É pouco provável. A 
superioridade relativa favorece as pequenas formações. Isto não implica em 
que as forças de grande efetivo não possam obter algum grau de surpresa ou 
empregar a rapidez para atingir seus objetivos, ao contrário, a obtenção da 
superioridade relativa exige a adequada integração dos seis princípios. 
Devido ao seu volume, é difícil para as forças de grande efetivo elaborar um 
plano simples, manter seus movimentos sigilosos, conduzir ensaios 
detalhados com todo o pessoal (até o nível individual), obter a supressa tática, 
incrementar a rapidez da ação no objetivo, e motivar todos os combatentes da 
unidade para alcançar um único objetivo. Em determinado momento, o 
comando e o controle tornam-se demasiado abrangentes para permitir a uma 
força de grande efeito aplicar, eficazmente, os princípios das operações 
especiais. Clausewitz nada mais faz do que constatar o óbvio quando diz: 
"quanto maior a magnitude de qualquer evento, tanto mais ampla será a 
variedade de forças e circunstâncias que o afetam." 
4 
As forças de grande efetivo são mais suscetíveis às fricções da guerra. Os 
princípios das operações especiais funcionam porque procuram reduzir a 
guerra ao nível mais simples e, dessa forma, limitar os efeitos negativos do 
azar, da incerteza e da vontade do inimigo. Para atingir a superioridade 
relativa, o combatente de operações especiais deve levar em consideração os 
princípios nas três primeiras fases de uma operação: planejamento, 
preparação e execução. Os princípios estão interconectados e se apoiam 
mutuamente. Por exemplo, se o plano não for simples, será difícil manter em 
sigilo a intenção da operação e ainda mais difícil ensaiar a missão. E se for 
difícil manter o sigilo e ensaiar a missão, será quase impossível executá-la 
com surpresa, rapidez e determinação. 
O Relatório da Missão de Resgate (Rescue Military Report), preparado pela 
Comissão Holloway, a qual revisou a fracassada tentativa de resgatar os 
reféns em Teerã, em 1980, mostra como se relacionam os princípios de 
simplicidade, segurança e repetição. A missão de resgate foi abortada 
quando, devido a circunstâncias imprevisíveis, houve uma insuficiência de 
helicópteros para continuar a missão. 
O relatório indicou, no entanto, que o acréscimo de helicópteros teria 
aumentado o nível de dificuldade, o que "teria aumentado, 
desnecessariamente, o risco à segurança das operações". 
O relatório continua a dizer que: "as considerações de segurança das 
operações iam de encontro à realização de tais ensaios [de grandes 
proporções] e, se bem que o grupo de revisão reconhecesse o risco de reunir 
todas as forças no local de adestramento no Oeste dos EUA, as possíveis 
desvantagens de segurança de tais ensaios parecem ser superadas pelas 
vantagens que seriam obtidas". 
A correlação entre simplicidade, segurança e repetição está clara: se o plano 
for complexo, requererá extraordinária segurança. O excesso de segurança, 
caracterizado pela preocupação com a quebra do sigilo conseqüente da 
realização de ensaios, prejudica uma preparação eficaz. Na fase de 
preparação, adequada segurança e contínua repetição têm um impacto direto 
na capacidade da força atacante de obter a surpresa e conseguir a rapidez na 
fase de execução. 
Ao discorrer sobre a surpresa, Clausewitz observa: "A surpresa nunca será 
obtida sob condições de conduta relaxadas [inadequada segurança]."7 A 
segurança terá um elevado nível de prioridade na fase de preparação, de 
forma a evitar que o inimigo obtenha uma vantagem decisiva. A contínua 
repetição das ações a realizar, manifestada no adestramento e nos ensaios 
conduzidos antes da missão, constitui o vínculo entre o princípio de 
simplicidade, na fase de planejamento, e os princípios de surpresa e rapidez, 
na fase de execução. Por exemplo, o Tenente-Coronel Herbert Zehnder, que 
pilotou um helicóptero HH-3 desde a Tailândia até Son Tay, no Vietnã do 
Norte, tinha que realizar a difícil tarefa de pousar no pequeno pátio do campo 
de prisioneiros de guerra. Considerava-se essencial que essa aterragem 
controlada ocorresse no pátio, a fim de ganhar alguns segundos de surpresa. 
Inicialmente, esta manobra foi considerada muito difícil. No entanto, após 
centenas de horas no ar e uma dúzia de ensaios, essa difícil manobra tornou-
se mais fácil e a surpresa foi obtida. A contínua repetição das ações facilitou a 
tarefa de pousar numa área de proporções reduzidas, aumentando, dessa 
forma, a probabilidade de obtenção da surpresa. A contínua condução de 
ensaios realísticos irá melhorar a capacidade da força atacante de executar, 
com rapidez, a missão, especialmente sob condições de combate. John 
Lorimer, tripulante do mini-submarino que danificou o encouraçado alemão 
Tirpitz, afirmou: "Se houver necessidade de realizar alguma tarefa perigosa, a 
melhor maneira de cumpri-la é adestrar, adestrar e adestrar, de modo que em 
meio à emoção do momento, a tarefa seja realizada automaticamente."8 A 
repetição, pela sua própria natureza, possibilita a rapidez da ação no objetivo. 
O último dos seis princípios diz respeito ao propósito da missão. Incutir um 
senso de propósito, especificamente a compreensão dos objetivos da missão 
e um compromisso pessoal para com a consecução dos mesmos, é vital para 
atingir a superioridade relativa. Embora o princípio de propósito seja mais 
aparente na fase de execução, todas as fases devem-se concentrar no 
propósito da missão. O seu entendimento irá reduzir os objetivos irrelevantes, 
destacar a inteligência necessária e modelar os requisitos de segurança das 
operações. Assegurará, ainda, em combate, que os esforços do comandante 
e de cada combatente estejam voltados para o que é realmente importante - a 
missão. Todos os exemplos anteriores mostram o relacionamento entre as 
fases de planejamento, preparação e execução de uma missão, e 
demonstram a natureza sinérgica dos seis princípios das operações 
especiais. 
A seguir, iremos analisar, detalhadamente, os seis princípios e demonstrar 
como se manifestam em combate: 
 
 
Simplicidade 
A simplicidade é o princípio mais crítico e, às vezes, o mais difícil de observar. 
Como se pode elaborar um plano simples? Existem três elementos da 
simplicidade que são fundamentaispara o êxito: a limitação do número de 
objetivos, boa inteligência e criatividade. A situação política ou militar impõe 
os objetivos estratégicos ou operacionais da missão, mas os planejadores 
geralmente possuem a liberdade de ação para determinar os objetivos táticos, 
desde que os dois objetivos coincidam. Portanto, é de importância 
fundamental limitar o número de objetivos táticos àqueles que são vitais. Por 
exemplo, no início da II Guerra Mundial, Hitler ordenou aos comandos 
alemães que capturassem o forte belga em Eben Emael, a fim de impedir que 
os canhões de 75mm e 120mm destruíssem as pontes circunjacentes e 
engajassem a divisão Panzer alemã que avançava nessa direção. Embora 
existissem dezenove posições fortificadas (cada uma com duas ou três 
metralhadoras), os alemães, de início, somente atacaram 9 casamatas. As 10 
remanescentes estavam orientadas para o sul, e não representavam uma 
ameaça para as pontes ou os Panzers localizados ao norte. Por outro lado, 
enquanto planejavam a incursão sobre Saint-Nazaire, os britânicos 
identificaram o dique seco na Normandia como o objetivo principal, e as 
portas da Comporta Sul e quaisquer outros submarinos alemães acessíveis, 
como alvos secundários e terciários.9 Contudo, à medida que o planejamento 
foi progredindo, o número total de alvos principais aumentou de três para 
onze. Em conseqüência disso, a força de assalto precisou aumentar em 50 
combatentes e o efetivo de apoio naval cresceu em mais de 200. 
 
Ainda mais, foi necessário acrescentar dez embarcações de assalto e 
conduzir mais adestramento, bem como modificar as táticas a fim de 
implementar essas mudanças. Limitar o número de objetivos a apenas 
aqueles que forem essenciais orienta o adestramento, diminui o efetivo 
necessário, encurta o tempo da ação no objetivo e diminui o número de 
"partes móveis". O segundo elemento necessário à elaboração de um plano 
simples é a inteligência adequada, a qual simplifica o plano, mediante a 
redução dos fatores desconhecidos e o número de variáveis que devem ser 
consideradas. Durante a preparação do resgate dos reféns no Aeroporto de 
Entebbe, a Operação Thunderbolt, o pessoal de inteligência israelense 
conseguiu identificar o número de terroristas e de guardas ugandenses, seus 
armamentos, e o seu dispositivo geral. Esta informação permitiu ao 
comandante da força de ataque, Brigadero-General Dan Shomron, reduzir o 
efetivo de sua força e empregar somente o que era necessário. Isto melhorou, 
consideravelmente, o comando e controle, constituindo-se em elemento 
fundamental do êxito. Antes da incursão sobre a fortaleza em Eben Emael, os 
alemães obtiveram planos de engenharia que ofereciam uma descrição 
detalhada das saídas de emergência do forte. Isso era necessário porque se 
uma parcela dos 650 belgas dentro do forte escapasse, poderia superar a 
pequena força alemã. Munidos desse conhecimento, os combatentes, após 
desembarcarem dos planadores, rapidamente destruíram as saídas de 
emergência, eliminando a capacidade dos belgas de contra-atacar. Todavia, 
sempre existirão lacunas na inteligência. 
A tripulação do minissubmarino que atacou o encouraçado Tirpitz não sabia 
até que profundidade se estendia a rede antitorpedo. Em Son Tay, os 
incursores desconheciam o número exato de prisioneiros de guerra, ou 
quantos guardas inimigos se encontravam no interior do campo. Em ambos 
os casos, os executantes levaram em consideração as palavras de 
Clausewitz: "Grande parte da inteligência obtida na guerra é contraditória, 
http://www.tropasdeelite.xpg.com.br/OPERACOES_ENTEBBE.htm
uma parte ainda maior é falsa, e a maior de todas as partes apresenta caráter 
duvidoso. O que se exige de um planejador é um grande discernimento...A lei 
das probabilidades deve ser sua diretriz." 
A tripulação do submarino estava preparada para cortar a rede e continuar 
seu avanço, caso esta se estendesse 37 m até o fundo do mar. Os analistas 
de inteligência examinando o campo em Son Tay previram o número de 
prisioneiros de guerra e de guardas, baseados na quantidade e tamanho dos 
prédios. Ambas as unidades conceberam seus planos em torno do que se 
podia razoavelmente prever. O terceiro elemento que contribui para a 
simplicidade é a criatividade, a qual simplifica o plano ao ajudar a evitar ou a 
eliminar obstáculos que, do contrário, poderiam comprometer a surpresa e/ou 
complicar a rápida execução da missão. A criatividade, normalmente, se 
manifesta na nova tecnologia, mas também se encontra na aplicação de 
táticas não-convencionais. O forte em Eben Emael distava 48 km da fronteira 
com a Alemanha. Se a surpresa tivesse sido comprometida, os belgas teriam 
tido tempo suficiente para destruir as pontes, as quais eram cruciais para o 
avanço alemão. As tropas pára-quedistas não podiam transportar o material 
pesado necessário para destruir as casamatas, e o lançamento por pára-
quedas teria dispersado, consideravelmente, a tropa. Hitler ordenou ao 
General Kurt Student que organizasse uma força de assalto, transportada por 
planadores, para conquistar o forte. Embora os planadores não constituíssem 
uma nova tecnologia, esta foi a primeira vez em que foram utilizados em 
combate, o que surpreendeu os belgas, dando tempo suficiente para permitir 
que os alemães destruíssem os canhões que estavam orientados para as 
pontes. Durante o seu adestramento para a incursão sobre o campo de 
prisioneiros de guerra em Son Tay, no Vietnã do Norte, o pessoal de Forças 
Especiais teve dificuldades para engajar alvos à noite. Até mesmo sob as 
melhores circunstâncias, "a precisão dos tiros desencadeados à noite era em 
torno de 35%". 
 
HH-3E Jolly Green - Este modelo de helicóptero foi usado na missão de resgate em Son 
Tay 
O melhoramento da precisão era crucial para a rápida execução da missão. 
Uma semana após identificar o problema, o pessoal das Forças Especiais 
adquiriu uma mira de baixa intensidade luminosa, disponível no mercado, e a 
precisão aumentou para 95%. Em todos os casos, a nova tecnologia ou as 
táticas inovadoras foram empregadas para ajudar o elemento de assalto a 
atingir o objetivo e, posteriormente, a eliminar o inimigo com rapidez e 
eficácia. Planadores, minissubmarinos, torpedos tripulados, aeronaves C-
130E equipadas com radar infra-vermelho de rastreamento frontal (FLIR) e 
contratorpedeiros modificados constituíram-se em novas ou criativas 
tecnologias especialmente projetadas ou configuradas para derrotar as 
defesas inimigas e obter a surpresa. Cargas explosivas dirigidas, 
metralhadoras Bren, demolições especiais, miras de baixa intensidade 
luminosa, granadas de luz e som, e dispositivos de visão noturna foram vitais 
para incrementar a rapidez da ação no objetivo. Embora os três elementos da 
simplicidade exerçam maior impacto durante a fase de execução, eles devem 
ser identificados no início de modo a ajudar na elaboração do plano e torná-lo 
o mais simples possível. 
 
 
 
 
Segurança 
A finalidade de atribuir um elevado nível de prioridade à segurança é impedir 
que o inimigo obtenha uma vantagem através do conhecimento prévio de um 
ataque iminente. No entanto, a natureza das operações especiais exige o 
ataque a uma posição fortificada. Segue-se, portanto, que na paz ou na 
guerra, o inimigo está preparado para enfrentar um ataque. Dessa forma, 
mais do que a operação iminente, o que deve ser mantido em sigilo é o 
momento e, até certo ponto, o meio de infiltração. Por exemplo, os estudantes 
que ocuparam a Embaixada dos EUA, em Teerã, estavam esperando que 
esse país tentasse um resgate. Eles cobriram a área aberta com longas 
estacas de madeira, a fim de impedir o desembarque de forças 
helitransportadas e o lançamento de tropas pára-quedistas. Embora estivesse 
ancorado a 97 km da entrada ao estreito de Soroy, na Noruega, o 
encouraçado Tirpitz estava protegido por redes antisubmarino, redes 
antitorpedo e dispositivos contra mergulhadores para neutralizar qualquer 
ataque sob a superfície daágua. 
Os quatro terroristas a bordo do vôo LH 181, da Lufthansa, sabiam que tanto 
a Alemanha quanto Israel possuíam unidades antiterroristas capazes de 
atacar, com rapidez, um avião comercial. Os terroristas portavam armas 
automáticas e granadas, e poderiam ter impedido que o GSG-9 entrasse no 
Boeing 737. Na maioria dos casos históricos, o pessoal inimigo guarnecendo 
os alvos estava adequadamente preparado para defender-se contra o tipo de 
ataque que sofreram. No entanto, os ataques foram, em sua maior parte, 
bem-sucedidos. 
Por quê? A segurança, por parte dos atacantes, impediu que o inimigo 
levantasse a oportunidade e, em alguns casos, o método de ataque, embora 
isso não o impedisse de preparar-se para um ataque. Daí a razão pela qual 
as operações especiais são bem-sucedidas, apesar da preparação defensiva 
do inimigo. A segurança deve receber o nível mais elevado de prioridade, sem 
prejudicar, desnecessariamente, a preparação (adestramento e ensaios) ou a 
execução das operações. Isso é importante para a obtenção da superioridade 
relativa, porque impede que o inimigo ganhe uma vantagem inesperada. Uma 
das razões predominantes a respeito do sucesso das operações especiais 
tem a ver com a capacidade de uma força atacante de levantar o tipo de 
defesa organizado pelo inimigo. Se a segurança dos incursores não for 
preservada, o inimigo poderia planejar uma ação de surpresa e, 
subseqüentemente, antecipar-se ao ataque ou reduzir a possibilidade de 
rapidez da ação no objetivo. Ambas as ações reduziriam, dramaticamente, a 
possibilidade da obtenção da superioridade relativa. 
 
 
Repetição 
Na fase de preparação, a repetição, da mesma forma que a rotina, é 
indispensável na eliminação das barreiras ao êxito. Quando o grupo-tarefa da 
força aérea envolvido na incursão sobre Son Tay tentou, pela primeira vez, 
empregar o helicóptero UH-1H numa formação aérea com o C-130, os pilotos 
acharam o vôo nessa formação cerrada tão difícil, a ponto de acreditar que 
não estava dentro da "capacidade do aviador médio do Exército". Todavia, 
após voar centenas de horas na mesma configuração, "os procedimentos 
ensaiados com o...UH-1H [foram] comprovados e [poderiam ser] aplicados em 
planos futuros."12 
Embora o General Joshua Shani, o principal piloto do C-130 que participou da 
incursão sobre Entebbe, somente tivesse uma oportunidade para ensaiar o 
pouso em uma pista curta antes da missão, ele não considerou isto como um 
problema. Nas suas palavras: "Eu já havia feito centenas de pousos em pistas 
curtas. Fazem parte do adestramento básico...era uma rotina." 
 
Homens do Sayeret Mat'kal, a mais secreta das forças especiais de Israel, invadem o 
velho terminal do aeroporto de Entebbe em 1976 
Determinadas unidades de combate, tais como as equipes antiterroristas, 
bombardeiros estratégicos e as equipes de infiltração subaquática SEAL 
realizam, rotineiramente, missões empregando configurações padronizadas. 
Esta rotina aperfeiçoa as habilitações táticas, a ponto de permitir uma reação 
rápida a uma ameaça, desde que esta se encaixe no cenário padrão para o 
qual a unidade se adestrou. A maioria das operações especiais, porém, varia 
com relação aos cenários padronizados, o suficiente para exigir o emprego de 
novos equipamentos e táticas, a fim de solucionar o problema. Quando isso 
ocorre, torna-se essencial conduzir pelo menos um, e preferivelmente dois, 
exaustivos ensaios antes da missão. O plano que parecia simples no papel, 
agora deve ser posto à prova. A necessidade de conduzir ensaios exaustivos 
é corroborada repetidas vezes. Invariavelmente, quando um determinado 
aspecto de uma operação não foi ensaiado, ele fracassou durante a execução 
da missão. Para citar um exemplo, os britânicos tiveram 18 meses para 
preparar o seu ataque contra o encouraçado alemão Tirpitz. A missão exigia 
que os pequenos submersíveis secos, os minissubmarinos X, fossem 
rebocados durante oito dias através do Atlântico Norte por submarinos 
convencionais. Isso era particularmente desgastante para as tripulações e, 
em conseqüência, os navios somente foram rebocados por curtos períodos no 
transcorrer dos ensaios. Durante a verdadeira operação de reboque, a corda 
de cânhamo partiu. Um minissubmarino X afundou com a perda de todo o 
pessoal a bordo, e outro sofreu danos irreparáveis. 
 
 
O Almirante Godfrey Place (oficial comandante do X-7) comentou: "Se 
tivéssemos rebocado os [minissubmarinos X] durante os oito dias completos, 
teríamos sabido que as cordas de cânhamo quebrariam."14**Empregaram-se 
dois tipos de cordas, cânhamo e náilon. Uma vez que a corda de cânhamo 
não foi testada durante os oito dias completos, não havia maneira de saber 
que partiria sob essas condições. 
- Nota da Editoria Brasileira A repetição aperfeiçoa as habilitações nos níveis 
individual e unidade, ao mesmo tempo em que os ensaios exaustivos revelam 
as vulnerabilidades no plano. Ambos são essenciais ao êxito no campo de 
batalha. 
 
A Surpresa 
A Doctrine for Joint 
Special Operations 
(Doutrina das 
Operações Especiais 
Combinadas) 
estabelece que a 
surpresa é a 
capacidade de "atacar 
o inimigo em um 
momento ou local, ou 
de uma maneira, que o 
apanhe 
despreparado."15 
Contudo, em todas as 
Operações Especiais 
analisadas, o inimigo 
estava totalmente 
preparado para 
neutralizar a ação 
ofensiva. Por exemplo, 
na fortaleza belga de 
Eben Emael, canhões 
antiaéreos estavam 
posicionados na parte 
superior do forte, a fim 
de impedir um assalto 
aéreo; a instalação 
portuária de Saint-
Nazaire estava 
cercada por baterias 
costeiras e holofotes 
visando impedir que 
navios britânicos navegassem despercebidos pelo Rio Loire; o encouraçado 
alemão Tirpitz e as belonaves HMS Queen Elizabeth e HMS Valiant estavam 
 
O SS-Haupturmfüher (Capitão) Otto Skorzeny comandante da 
missão que resgatou Mussolini. 
rodeados por redes antisubmarino e antitorpedo; o Vietnã do Norte possuía 
um dos mais densos sistemas de defesa aérea do mundo; 250 italianos 
mantinham guarda sobre Benito Mussolini; 223 soldados japoneses estavam 
de guarda sobre os prisioneiros de guerra em Cabanatuan; e o aeroporto de 
Entebbe, em Uganda, estava cercado por 100 soldados ugandenses, com 
dois batalhões estacionados nas proximidades. Em cada um desses casos, o 
inimigo estava preparado para impedir um assalto contra sua posição e, no 
entanto, a supressa foi obtida em todos eles. 
De um modo geral, as forças de operações especiais não se podem dar o 
luxo de atacar o inimigo no momento ou no local onde esteja despreparado. 
Tais forças devem atacar, apesar da preparação do inimigo. A surpresa 
significa, literalmente, apanhá-lo desprevenido. Esta sutil diferença não é uma 
mera questão de semântica. Da mesma forma que dois pugilistas no ringue, 
cada um está preparado para neutralizar o soco do outro. No entanto, apesar 
da sua preparação, alguns socos atingem o alvo. Numa operação especial, a 
surpresa é obtida através da dissimulação, da sincronização e do 
aproveitamento das vulnerabilidades do inimigo. Quando bem-sucedida, a 
dissimulação impele o inimigo a desviar a sua atenção da força atacante, ou 
retarda a sua resposta o tempo suficiente para obter-se a surpresa no 
momento vital. Por exemplo, durante a incursão sobre Son Tay, a Força-
Tarefa de Navios-Aeródromos 77, da Marinha, realizou um ataque 
diversionário, com três navios-aeródromos, cuja finalidade era "negar ao 
inimigo a opção de concentrar a sua atenção [na] verdadeira missão 
principal".16 
Esta ação diversionária teve excelente resultado, pois permitiu que a força 
atacante, helitransportada, penetrasse as defesas aéreas do Vietnã do Norte 
e pousasse despercebida no campo de prisioneiros de guerra. A dissimulação 
que desvia a atenção do inimigo pode ser arriscada. Quando não produz a 
resposta adequada, essa ação acarreta, normalmente, conseqüências 
desastrosas. 
Em Saint-Nazaire, a Royal Air Force recebeu a missão de bombardear a 
cidadeportuária, a fim de desviar a atenção dos alemães da pequena armada 
que navegava, sigilosamente, pelo Rio Loire. Infelizmente, a incursão aérea 
nada mais fez do que elevar o nível de alerta dos alemães e impedir que 
fossem apanhados de surpresa. Embora a dissimulação que desviou a 
atenção do inimigo tivesse excelente resultado para os incursores de Son 
Tay, na maioria das operações especiais, a dissimilação é mais bem utilizada 
para retardar a ação inimiga. Por exemplo, quando atacaram o aeroporto em 
Entebbe, os israelenses utilizaram um Mercedes, semelhante ao que usavam 
os dignitários ugandenses, para retardar, momentaneamente, a ação dos 
guardas. Quando pousou em Gran Sasso para resgatar Mussolini, Skorzeny 
trouxe consigo um general italiano de elevado posto, acreditando que "a mera 
presença [do general italiano] provavelmente criaria uma certa confusão... um 
tipo de hesitação que os impediria de resistir de imediato ou de assassinar o 
Duce".17 
 
Os homens da Skorzeny desembarcam de seus planadores planadores DFS 230 em Gran 
Sasso para resgatarem Mussolini 
A sua suposição resultou acertada, e a confusão adicional proporcionou-lhe o 
tempo suficiente para alcançar Mussolini. Conforme é demonstrado em vários 
dos casos analisados, a dissimulação pode até ser um instrumento útil para a 
obtenção da surpresa, mas não se deve depender excessivamente dela. 
Normalmente, é melhor retardar a reação do inimigo do que desviar a sua 
atenção. A hora do ataque constitui-se em um fator fundamental para a 
obtenção da surpresa. A maioria das forças atacantes preferem investir sobre 
o alvo à noite, principalmente porque a escuridão proporciona cobertura. 
Pressupõe-se também que o inimigo esteja cansado, menos alerta e mais 
suscetível à surpresa. Mas, por outro lado, a noite freqüentemente aumenta o 
estado de alerta, e cada missão deve considerar as alternativas de um ataque 
noturno. Várias das operações mais bem-sucedidas foram conduzidas 
durante o dia, obtendo um elevado grau de surpresa. Skorzeny, por exemplo, 
pousou em Gran Sasso às 14:00h sabendo que os guardas italianos já teriam 
acabado de almoçar e estariam descansando. Os alemães que atacaram 
Eben Emael pousaram ao alvorecer. A luz matutina proporcionou iluminação 
suficiente para o pouso dos planadores, enquanto muitas das guarnições dos 
canhões belgas ainda se encontravam na cidade circunvizinha. 
Os minissubmarinos que destruíram o Tirpitz também atacaram durante a 
manhã. Os meios de inteligência britânicos haviam informado aos tripulantes 
que o equipamento de sonar do encouraçado ia ser reparado durante a 
manhã do ataque e, portanto, não estaria operacional. Nas operações 
especiais, o inimigo estará preparado; a questão é: quando estará ele menos 
preparado e que momento proporcionará os maiores benefícios para a força 
atacante? Toda defesa tem um ponto vulnerável. A obtenção da surpresa 
significa aproveitar essa vulnerabilidade. Embora os norte-vietnamitas 
possuíssem a mais extensa rede de defesa aérea da Ásia, os meios de 
inteligência da força aérea conseguiram encontrar um hiato de cinco minutos 
no ciclo de rodízio do radar. Isso permitiu ao C-130 e aos helicópteros 
infiltrarem os incursores de Son Tay, no Vietnã do Norte, sem serem 
detectados. Os britânicos enfrentaram um problema semelhante durante a II 
Guerra Mundial. A Royal Air Force havia tentado, inúmeras vezes, afundar o 
encouraçado Tirpitz. Ancorada em Kaafjord, na Noruega, a belonave estava 
protegida por baterias antiaéreas, e seus armamentos de autoproteção 
incluíam 16 canhões antiaéreos de 4.1 polegadas, 16 de 37mm e 80 de 
20mm. Além disso, a maior parte do navio possuía uma blindagem de 12 
polegadas. Todavia, o ponto vulnerável do encouraçado era sua quilha 
levemente blindada. Foi esse ponto, a vulnerável parte inferior, que os 
britânicos decidiram atacar. A surpresa foi obtida por dois minissubmarinos 
(X-6 e X-7), quando penetraram as defesas alemãs e colocaram seus 
explosivos. 
 
Minisubmarino X-5 da Royal Navy em treinamento 
No caso do Tirpitz, a vulnerabilidade na defesa era um termo relativo. Os 
alemães organizaram defesas antisubmarino e antitorpedo; contudo, 
comparadas com as defesas antiaéreas, aquelas eram consideravelmente 
mais fracas. Muitos táticos consideram o princípio da surpresa o fator mais 
importante de uma operação especial bem-sucedida. Acreditam, 
equivocadamente, que a surpresa proporciona a vantagem decisiva sobre o 
inimigo, e que o ato de meramente apanhar o inimigo despreparado assegura 
a vitória da força atacante. Esse não é o caso. A surpresa é inútil e, de fato, 
impossível de se obter sem os outros princípios. De que adianta surpreender 
o inimigo, se não possuímos o equipamento adequado para enfrentá-lo? A 
superioridade relativa somente é atingida através da correta aplicação de 
todos os princípios. A surpresa é essencial, porém não deve ser considerada 
isoladamente. É importante apenas como parte integrante da pirâmide de 
princípios. 
Rapidez 
Numa missão de operações especiais, o conceito de rapidez é simples. 
Alcançar o objetivo o mais rápido possível. Qualquer retardo ampliará a sua 
área de vulnerabilidade e diminuirá a sua possibilidade de atingir a 
superioridade relativa. Referindo-se à guerra em termos gerais, o Fleet Marine 
Force Manual (FMFM 1-3) estabelece: "Como todas as coisas na guerra, a 
rapidez é relativa"18. 
Esta observação constante no FMFM 1-3 pode ser verdadeira na guerra 
convencional ou de grandes proporções, onde as forças manobram no campo 
de batalha e se ajustam a certos avanços táticos, mas, nas operações 
especiais, o inimigo está organizado em posições defensivas e sua única 
motivação é neutralizar o ataque. Dessa forma, a vontade de resistir do 
inimigo é uma variável conhecida, e a sua capacidade de reagir é constante. 
Conseqüentemente, com o passar do tempo, as fricções da guerra atuam 
contra as forças de operações especiais, ao invés de contra o inimigo. É 
essencial, portanto, deslocar-se o mais rápido possível, independentemente 
da reação do inimigo. Por exemplo, nos dois casos envolvendo ataques com 
submarinos - a incursão dos minissubmarinos X contra o Tirpitz e o ataque do 
torpedo tripulado italiano da Decima Flottiglia MAS contra a frota britânica na 
Alexandria -, as forças atacantes avançaram clandestinamente. O inimigo não 
percebeu a sua presença e, portanto, não estava tentando se opor à vontade 
da força atacante. 
 
O famoso torpedo tripulado italiano conhecido como Torpedo SLC (Siluir a Lenta Corsa 
ou torpedo de baixa velocidade) 
http://www.tropasdeelite.xpg.com.br/italia-Decima-Flottiglia-MAS.htm
No entanto, a rapidez não foi relativa, tornando-se um fator vital ao êxito da 
missão. Os minissubmarinos X, que haviam navegado pelo Atlântico Norte 
dois dias antes, começaram a sofrer panes catastróficas nos seus sistemas 
elétricos e de lastração. A cada minuto que passava, o lastro e a estabilidade 
de um dos minissubmarinos iam se agravando, fazendo com que se 
inclinasse 15 graus para bombordo. O tempo tornou-se um fator tão vital que 
o comandante do submarino, Tenente Don Cameron, ao invés de atravessar 
clandestinamente a rede antitorpedo, decidiu emergir e investir 
impetuosamente contra oTirpitz. Esta ação foi tomada com grande risco ao 
êxito da missão, mas Cameron conscientizou-se, claramente, de que o tempo, 
e não os alemães, passara a ser o seu maior inimigo. Os homens-rã italianos 
que infiltraram no Porto de Alexandria a bordo de submarinos tripulados 
estavam constantemente expostos à água fria. Sabiam que, mesmo que o 
inimigo não os descobrisse, sucumbiriam às forças da natureza e ao desgaste 
físico. À medida que se aproximava do HMS Valiant, o Tenente Durand de la 
Penne relembrou: "A sede me atormenta... Não posso continuar trabalhando 
devido à extrema fadiga e à falta de ar."19 Ele estava ciente de que "a rapidez 
era essencial... [se fosse forçado a emergir devido à fadiga] o alarmeseria 
dado, cargas de profundidade seriam lançadas e [a] operação... estaria 
fadada ao fracasso."20 
No entanto, devido à rapidez com que trabalhou, somente foi descoberto após 
subir à superfície. Horas mais tarde, a ogiva do torpedo tripulado explodiu e o 
HMS Valiant afundou no Porto de Alexandria. Em ambos os casos, o inimigo 
não foi um fator decisivo, mas o tempo ainda atuava para impedir o desfecho 
bem-sucedido da operação. A maior parte das operações especiais envolvem 
o contato direto e, na maioria dos casos, imediato com o inimigo, em que 
minutos e segundos podem determinar a diferença entre o êxito e o fracasso. 
Das missões bem-sucedidas analisadas nesta obra, foi apenas na incursão 
contra SaintNazaire que os atacantes demoraram mais de 30 minutos desde 
o ponto de vulnerabilidade até a obtenção da superioridade relativa. Na 
maioria dos demais casos, a superioridade relativa foi obtida em cinco 
minutos, tendo as missões sido completadas em 30 minutos.**Houve alguns 
casos - por exemplo, a incursão contra o campo de prisioneiros de guerra em 
Cabanatuan, a incursão sobre Son Tay e o resgate de Mussolini por parte de 
Skorzeny - em que a missão não foi concluída até que a viagem de retorno foi 
completada. 
- Nota da Editoria Brasileira*O X-10, comandado pelo Tenente Ken Hudspeth, 
foi designado para atacar o Scharnhorst, um cruzador alemão que distava a 
menos de 2km do Tirpitz. Hudspeth passou por dificuldades mecânicas 
semelhantes, mas suas ordens claramente o proibiam de atacar, se existisse 
a possibilidade de o ataque comprometer a destruição do alvo principal, o 
Tirpitz.-Nota da Editoria Brasileira. 
 
 
 
 
 
 
 
Sargento dos Commandos britânicos se prepara para o assalto a Saint Nazaire. Ela faz 
parte de uma das equipes de demolição, levando os explosivos em sua mochila. Para 
se evitar fogo amigo os homens estariam usando cintos de guarnição de lona, com 
seus respectivos suspensórios, todos pintados de branco. As botas teriam solado de 
borracha, para não fazer barulho (como disse Newman, se ouvirem alguém com uma 
bota que faz barulho, pode atirar, é alemão ) e cada homem estaria levando uma 
pequena lanterna fina, de lâmpada azul, presa a roupa ou ao cano de sua arma. Ele está 
armado com uma pistola Colt M1911 e o famoso punhal dos commandos o Fairbairn-
Sykes (SF). 
Para obterem a surpresa e incrementarem a rapidez, as forças de operações 
especiais, geralmente, possuem limitado efetivo e estão levemente armadas, 
sendo, portanto, incapazes de durar na ação contra um inimigo convencional 
por longos períodos de tempo. A incursão contra Saint-Nazaire mostra os 
problemas que surgem quando as forças de operações especiais tentam 
prolongar o engajamento. Quando o número de objetivos em Saint-Nazaire 
aumentou de 3 para 11, a operação requereu que os comandos 
permanecessem em terra por mais tempo, a fim de destruir esses alvos. Num 
memorando aos chefes do estado-maior sobre a Operação Chariot, o assessor 
do Comando de Operações Combinadas avisou que, para atingir todos os 
objetivos, "Toda a força... [necessitaria] permanecer em terra por um período 
máximo de 2 horas."21 
Quaisquer vantagens obtidas pelos comandos através da surpresa foram 
perdidas na execução, pelo fato de planejar uma operação que precisou de 
duas horas de ação contínua. Isso exigiu que sua força levemente armada, e 
em alguns casos desarmada, travasse combate contra uma brigada antiaérea 
alemã, fortemente armada, integrada por 300 soldados (os armamentos 
destas unidades, incluindo o canhão antiaéreo de 88mm, podiam ser 
empregados, com devastadora eficácia, contra os elementos terrestres). 
Clausewitz adverte: "Quanto mais restrito for o efetivo, tanto mais restritos 
deverão ser os objetivos; ainda mais, quanto mais restrito for o efetivo, tanto 
mais limitada será a duração."22 
Adicionalmente, durante esse período de duas horas, as 17 lanchas que 
transportaram os comandos até Saint-Nazaire haviam permanecido expostas 
ao mortífero fogo proveniente das defesas costeiras. Em apenas 90 minutos, 
quase todas haviam sido destruídas ou haviam retrocedido. Se os comandos 
tivessem atacado e exfiltrado rapidamente, a probabilidade de concluir a 
missão teria aumentado dramaticamente. Nas operações especiais, a rapidez 
é uma função do tempo e não, conforme alguns sugerem, um fator relativo 
influenciado pela vontade de resistir do inimigo. Apesar dos esforços do 
inimigo, a superioridade relativa pode ser obtida, principalmente, porque a 
força atacante se desloca com tal rapidez que a reação do inimigo deixa de 
ser um fator preponderante. 
 
Propósito 
O propósito implica em entender e, posteriormente, atingir o principal objetivo 
da missão, independentemente dos obstáculos ou das oportunidades que se 
apresentem. Este princípio tem dois aspectos. Em primeiro lugar, o propósito 
deve estar claramente definido pelo enunciado da missão: resgatar os 
prisioneiros de guerra, destruir o dique seco, afundar o encouraçado, etc., e 
ser elaborado de modo a assegurar que no calor da batalha, aconteça o que 
acontecer, o combatente individual entenda o objetivo principal. 
Por exemplo, durante o ataque dos minissubmarinos X contra o encouraçado 
Tirpitz, o X-6 tinha avarias no seus principais equipamentos(o periscópio de 
ataque estava quebrado, a carga de demolição de bombordo estava 
inundada, água estava entrando no compartimento principal e o 
minissubmarino estava inclinado 15 graus para bombordo). O Tenente Don 
Cameron tinha de tomar a decisão de atacar ou retroceder. Se atacasse e 
fracassasse, existia a possibilidade de que pudesse comprometer o êxito dos 
outros dois minissubmarinos X, também designados para atacar o Tirpitz.* 
Após refletir sobre o propósito da missão, segundo definido pelas ordens de 
operações recebidas, Cameron decidiu atacar. Suas ordens estavam claras. 
Se o minissubmarino ainda funcionasse e estivesse equipado com, ao menos, 
uma carga explosiva, devia concluir a missão. 
Durante o ataque contra a frota britânica no Porto de Alexandria na II GM, os 
homens-rãs italianos, Capitão Vincenzo Martellota e seu companheiro de 
mergulho, Suboficial Mario Marino, já tinham colocado o seu torpedo tripulado 
sob um cruzador britânico de grande porte, quando perceberam que era o 
alvo errado. Eles haviam arriscado suas vidas evitando pequenos navios de 
proteção, cargas de profundidade e a segurança do porto. E embora o 
afundamento do cruzador tivesse sido aceitável, não era o navio que deviam 
atacar. Em conseqüência disso, Martellota se afastou da belonave e 
continuou em frente. Eventualmente, os italianos atingiram o seu alvo 
designado, um navio-petroleiro de grande capacidade. Ao seguir as ordens à 
risca, Martelloto e Marino não só afundaram o navio-petroleiro, mas também 
causaram grandes danos a um contratorpedeiro que estava amarrado ao seu 
lado. Nos casos britânico e italiano, os homens receberam ordens claramente 
definidas que orientaram suas ações no calor da batalha e direcionaram seus 
esforços para o que era importante. 
O segundo aspecto do princípio de propósito é o compromisso pessoal. O 
Tenente-Coronel Henry Mucci, Comandante do 6º Batalhão de Rangers que 
resgatou 512 prisioneiros de guerra de um campo de concentração japonês, 
entendeu a necessidade do estabelecimento de um compromisso pessoal. 
Antes da operação, ele ordenou aos seus Rangers: "Ponham-se de joelhos 
agora mesmo e rezem! Diabo... não o simulem! REZEM... para valer. E quero 
que cada um de vocês faça um juramento perante Deus... Jurem que 
morrerão combatendo antes de permitir que esses prisioneiros de guerra 
corram perigo!23 
De modo semelhante, o General Joshua Shani, Comandante da força aérea 
em Entebbe, comentou vários anos após a incursão: "Estávamos 
completamente empenhados em concluir a tarefa...Combatíamos por 
Israel."24 
O propósito da missão deve ser plenamente entendido antes da sua 
realização, sendo imprescindível que os executantessejam inspirados por um 
sentido de dedicação pessoal que não tenha limites. O Capitão Otto Skorzeny 
disse certa vez: "Quando um homem é motivado pelo simples entusiasmo e 
pela convicção de que está arriscando a sua vida por uma causa nobre... ele 
traz consigo os elementos essenciais ao êxito."25 
Numa época de alta tecnologia e de Cavaleiros Jedi, freqüentemente 
desprezamos a necessidade do envolvimento pessoal, e, em assim fazendo, 
corremos um grande risco. Conforme advertiu Clausewitz: "Os teóricos estão 
inclinados a considerar o combate, friamente, como um teste de força, sem 
qualquer participação das emoções, e este é um dos milhares de erros que 
eles cometem deliberadamente, porque não percebem suas 
conseqüências."26 
Os princípios das operações especiais acima definidos não foram meramente 
extraídos dos princípios de guerra convencionais. Eles representam 
elementos únicos da guerra que somente as forças de operações especiais 
possuem e podem empregar com eficácia.

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