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Autora: Profa. Valdice Neves Pólvora Colaboradores: Profa. Lérida Malagueta de Mello Prof. Maurício Felippe Manzalli Negócios Internacionais Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a Professora conteudista: Valdice Neves Pólvora Doutoranda em Engenharia de Produção na Universidade Paulista (UNIP). Mestre em Administração e Valores Humanos pela Unicapital (2001). Especialista em Administração Hospitalar pela UNIP (2017). Graduada em Ciências Econômicas pelo Centro Universitário Capital (1994). Coordenadora do curso de Gestão Hospitalar – presencial e a distância – e docente da pós-graduação nos cursos superiores de tecnologia da UNIP. Docente do Instituto Brasileiro de Educação em Gestão Pública (Ibegesp), ministrando cursos para servidores públicos e demais interessados em contratações públicas. © Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Universidade Paulista. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) P779n Pólvora, Valdice Neves. Negócios Internacionais / Valdice Neves Pólvora. – São Paulo: Editora Sol, 2018. 140 p., il. Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e Pesquisas da UNIP, Série Didática, ano XXIV, n. 2-106/18, ISSN 1517-9230. 1. Globalização dos mercados. 2. Contratos internacionais. 3. Parceiros comerciais do Brasil. I. Título. CDU 339 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a Prof. Dr. João Carlos Di Genio Reitor Prof. Fábio Romeu de Carvalho Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças Profa. Melânia Dalla Torre Vice-Reitora de Unidades Universitárias Prof. Dr. Yugo Okida Vice-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa Profa. Dra. Marília Ancona-Lopez Vice-Reitora de Graduação Unip Interativa – EaD Profa. Elisabete Brihy Prof. Marcelo Souza Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar Prof. Ivan Daliberto Frugoli Material Didático – EaD Comissão editorial: Dra. Angélica L. Carlini (UNIP) Dra. Divane Alves da Silva (UNIP) Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR) Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT) Dra. Valéria de Carvalho (UNIP) Apoio: Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos Projeto gráfico: Prof. Alexandre Ponzetto Revisão: Elaine Pires Marcela Vaz Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a Sumário Negócios Internacionais APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................7 INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................7 Unidade I 1 TEORIAS DO COMÉRCIO INTERNACIONAL ...............................................................................................9 1.1 Teoria das vantagens comparativas absolutas ...........................................................................9 1.2 Teoria das vantagens comparativas relativas ........................................................................... 11 1.3 Teoria do custo de oportunidade ................................................................................................... 16 2 GLOBALIZAÇÃO DOS MERCADOS ............................................................................................................. 17 2.1 Negócios internacionais ................................................................................................................... 18 2.2 Fatores determinantes em negócios internacionais .............................................................. 20 2.3 Os riscos da internacionalização .................................................................................................... 27 Unidade II 3 REGULAÇÃO DO COMÉRCIO INTERNACIONAL E OS IMPACTOS NOS NEGÓCIOS ................. 31 3.1 Acordos de defesa comercial ........................................................................................................... 31 3.1.1 Dumping ..................................................................................................................................................... 33 3.1.2 Subsídios ..................................................................................................................................................... 35 3.1.3 Salvaguardas ............................................................................................................................................. 35 3.2 Mecanismos de defesa comercial utilizados no Brasil ......................................................... 36 4 A MACROECONOMIA NO SETOR EXTERNO (ESTRUTURAS DE BALANÇO DE PAGAMENTOS) ............................................................................................................................................... 45 4.1 Balanço de pagamentos ................................................................................................................... 45 4.2 Estrutura do balanço de pagamentos .......................................................................................... 45 4.3 Indicadores do balanço de pagamentos ..................................................................................... 47 Unidade III 5 POLÍTICA EXTERNA BRASILEIRA ................................................................................................................ 53 5.1 Política de comércio exterior no Brasil ........................................................................................ 55 5.2 Abertura comercial e sua evolução ............................................................................................... 59 5.3 Plano Nacional de Cultura Exportadora – PNCE ..................................................................... 61 6 TRATADOS E CONVENÇÕES ......................................................................................................................... 65 6.1 Tratado de Assunção ........................................................................................................................... 67 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a Unidade IV 7 CONTRATOS COMERCIAIS INTERNACIONAIS ....................................................................................... 74 7.1 Conceitos ................................................................................................................................................. 74 7.2 Tipos de contratos internacionais ................................................................................................. 75 7.3 Incoterms ................................................................................................................................................. 84 7.4 A jurisprudência internacional ....................................................................................................... 84 7.5 Cláusula exoneratória de responsabilidade (hardship) ......................................................... 86 7.6 Arbitragem ............................................................................................................................................. 86 7.7 A aplicação das estratégias de câmbio, créditos documentários e financiamentos à exportação como mitigação deriscos ............................................................ 95 7.7.1 Sistema financeiro internacional ..................................................................................................... 95 7.7.2 Fundo Monetário Internacional (FMI) ............................................................................................ 95 7.7.3 Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento (Bird) .................................. 97 7.7.4 Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) .................................................................... 99 7.8 Financiamento no mercado internacional ...............................................................................100 7.9 Modalidades de pagamento ..........................................................................................................105 8 PARCEIROS COMERCIAIS DO BRASIL ..................................................................................................107 8.1 China .......................................................................................................................................................107 8.2 Estados Unidos da América – EUA ..............................................................................................109 8.3 Argentina ...............................................................................................................................................110 8.4 Alemanha ...............................................................................................................................................112 8.5 Coreia do Sul ........................................................................................................................................113 8.6 Japão .......................................................................................................................................................115 8.7 França ......................................................................................................................................................116 8.8 Itália .........................................................................................................................................................118 8.9 Índia .........................................................................................................................................................119 8.10 Rússia ....................................................................................................................................................120 8.11 Ética nos negócios internacionais .............................................................................................122 7 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a APRESENTAÇÃO Caro(a) aluno(a), A disciplina Negócios Internacionais busca apresentar aos alunos os conceitos acerca do comércio internacional, visando entender os motivos pelos quais existem as negociações ao redor do mundo e como os aspectos econômicos, geográficos e sociais impactam nas negociações mundiais. Nesse sentido, compreender a negociação internacional é de suma importância para o profissional que atua no comércio exterior em razão do processo de globalização e da internacionalização das empresas no mercado global. O debate sobre as empresas multinacionais ilustra a complexidade dos negócios internacionais e tem, consequentemente, implicações para a constituição e definição das áreas de Negócios Internacionais e de Gestão Internacional. Neste material serão abordadas as atividades gerenciais e operacionais das empresas com atuação internacional, bem como o papel desempenhado pelos seus gestores. Vamos tratar das teorias de comércio internacional e das vantagens comparativas – fatores importantes para o entendimento das teorias de comércio internacional – por meio das considerações dos economistas clássicos que abordam essa teoria básica para o comércio internacional, denominada Princípio das Vantagens Comparativas. Trataremos ainda da política externa brasileira e suas consequências para os negócios internacionais. Destacaremos alguns parceiros comerciais do Brasil, como também o volume de exportações e importações e o saldo da balança comercial. Esta disciplina objetiva demonstrar as relações negociais que ocorrem no comércio internacional, a ética nos negócios internacionais, a importância de conhecer a cultura, os meios para atuar no cenário internacional e as relações entre empresas multinacionais e governos de países em desenvolvimento. Bons estudos! INTRODUÇÃO Para entendermos as teorias de comércio internacional, vamos analisar o que dizem os economistas clássicos que forneceram a explicação teórica básica para o comércio internacional, denominada Princípio das Vantagens Comparativas. O termo vantagens comparativas diz respeito à especialização que os países devem ter na fabricação dos bens que produzem com mais eficiência, isto é, com menos custos relativos. De acordo com Marcel (apud RACY, 2006), desde a segunda metade do século XVIII, quando o desenvolvimento do pensamento econômico se inicia e passa a ser estruturado como ciência, 8 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a o comércio entre uma economia e o restante do mundo já estava presente – desde a teoria das vantagens comparativas absolutas, desenvolvida por Adam Smith, em 1776, passando pela teoria das vantagens comparativas relativas de David Ricardo, em 1817, até a concepção mais recente de Heckscher Ohlin, de 1924. Nesse sentido, vamos verificar as principais teorias de comércio internacional para entendermos a importância dos negócios praticados entre as nações. Segundo Marcel (apud RACY, 2006), a teoria das vantagens comparativas constitui a primeira abordagem sistemática de que se tem notícia sobre as vantagens do comércio internacional. O estudo das teorias de comércio internacional, segundo Vasconcellos e Garcia (2011), leva-nos às seguintes questões: • Qual a vantagem de importar um produto que pode ser produzido domesticamente, gerando renda e emprego para a população do país? • Quais produtos o país exportará e quais importará? • Como são determinados os preços de equilíbrio no mercado mundial? • É possível que todos os países se beneficiem do comércio internacional? • Quais os impactos sobre a distribuição de renda decorrentes do comércio internacional? Para Ratti (2006), os países devem se especializar nas atividades produtivas em que são mais aptos e permutar, ou seja, trocar os produtos entre si. O autor questiona: de que maneira, então, um país determinará o que lhe será mais vantajoso produzir, exportar e importar? A necessidade de responder a essa pergunta deu origem a estudos realizados por diferentes economistas, que vamos abordar para um melhor entendimento dos negócios internacionais. 9 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a NEGÓCIOS INTERNACIONAIS Unidade I 1 TEORIAS DO COMÉRCIO INTERNACIONAL De acordo com Racy (2006), desde a segunda metade do século XVIII, quando o desenvolvimento do pensamento econômico se inicia e passa a ser estruturado como ciência, o comércio entre uma economia e o restante do mundo estava presente, desde a teoria das vantagens comparativas absolutas, desenvolvida por Adam Smith em 1776, até a teoria das vantagens comparativas relativas de David Ricardo (1817), culminando com a concepção mais recente de Heckscher-Ohlin (1924). Considerando esse contexto, vamos analisar as principais teorias do comércio internacional. 1.1 Teoria das vantagens comparativas absolutasA Economia Clássica se desenvolveu na Inglaterra a partir dos estudos de Adam Smith e David Ricardo, que se rebelaram contra os postulados mercantilistas destacando a importância do indivíduo, que, na condição de consumidor, seria o objeto supremo da Economia. Ratti (2006) destaca que um dos primeiros autores que se dedicou ao estudo do comércio internacional foi o economista inglês Adam Smith, em sua obra A riqueza das nações, editada em 1776. Nessa obra, Smith, segundo Ratti (2006), procurou mostrar que a aplicação do trabalho na área internacional permitia a especialização da produção aliada às trocas entre as nações, contribuindo para a melhoria do bem-estar das populações. Observação Mercantilismo é o conjunto de práticas econômicas desenvolvido na Europa na Idade Moderna entre os séculos XV e XVIII, ele originou um conjunto de medidas econômicas diversas, de acordo com os Estados, e caracterizou-se por uma forte intervenção deste na economia. As ideias de Smith deram início ao que denominamos teoria das vantagens absolutas, que consistia em cada país concentrar-se naquilo que pode produzir a custo mais baixo e trocar parte dessa produção por artigos que custem menos em outros países. Conforme relata Racy (2006), segundo essa teoria, se um país fabrica uma mercadoria a um preço mais baixo por conseguir produzi-la com menos trabalho que outro país, e este produz uma segunda mercadoria a um preço menor que o país anterior, cada um deles terá vantagem sobre o outro na produção de uma das mercadorias. 10 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a Unidade I Saiba mais Para aprofundar seus conhecimentos sobre o tema, leia o artigo a seguir: GANEM, A. Adam Smith e a explicação do mercado como ordem social: uma abordagem histórico-filosófica. 2000. Disponível em: <https://scholar. google.com/scholar_url?url=http://www.ie.ufrj.br/images/pesquisa/ publicacoes/rec/REC%25204/REC_4.2_01_Adam_smith_e_a_explicacao_ do_mercado_como_ordem_social.pdf&hl=pt-BR&sa=T&oi=gsb- gga&ct=res&cd=0&ei=qBT_Wo6JIsO7mAHhqL6wCA&scisig=AAGBfm3- 7kspXDBRTPGFxu9Xp78exGT9tg>. Acesso em: 18 jun. 2018. Por outro lado, Mariano e Carmo (2007) dizem que, de acordo com Adam Smith, uma das condições necessárias para o estabelecimento do comércio entre duas nações é a demanda de algum produto cuja produção apresente uma vantagem absoluta, ou seja, essa nação deve necessariamente ter condições de produção mais favoráveis que as do país para o qual pretende exportar. Como o valor das mercadorias seria determinado pelo tempo de trabalho necessário para produzi-las, podemos afirmar que o determinante, para Smith, seria o custo da mercadoria, em termos de mão de obra. Para compreender melhor o que vimos, vamos imaginar a seguinte situação: temos dois países, Brasil e Argentina, que possuem, cada qual, mil horas de mão de obra disponíveis para distribuir na produção de calçados e de carne. No entanto, dadas as características dos respectivos processos produtivos, cada país apresenta coeficientes técnicos diferentes, compatíveis com os respectivos custos de produção em horas de mão de obra. Dessa forma, conforme demonstra o quadro a seguir, a produção desses países apresentaria as seguintes características: Quadro 1 – Hipótese de produção de calçados e carne no Brasil e na Argentina País Recursos disponíveis (mão de obra) (L) Produção de calçados (P) Coeficiente técnico (L/P) Mão de obra na produção de calçados Produção de carne (P) Coeficiente técnico (L/P) Mão de obra na produção de carne Brasil 1000h 250 1,6 400 250 2,4 600 Argentina 1000h 250 2,4 600 250 1,6 400 Adaptado de: Mariano e Carmo (2007, p. 5). Observando o quadro, o Brasil precisaria deslocar mais recursos para a produção de carne do que a Argentina, isso se deve a sua menor produtividade; da mesma forma, a Argentina em relação à produção de calçados. 11 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a NEGÓCIOS INTERNACIONAIS Agora vamos observar o que ocorre quando há o processo de especialização da produção. Quadro 2 – Hipótese de especialização de calçados e carne no Brasil e na Argentina País Mão de obra de calçados Mão de obra de carne Produção de calçados P=L/I Produção de carne P=L/I Produção total Brasil 1000 0 625 0 625 Argentina 0 1000 0 625 625 Adaptado de: Mariano e Carmo (2007, p. 5). Mariano e Carmo (2007) dizem que a partir da descrição do quadro é possível perceber que, considerando o coeficiente técnico mais baixo, ou seja, menor custo de produção, o Brasil poderia se especializar na produção de calçados e exportar o excedente para a Argentina, que, por sua vez, deslocaria todo o seu contingente disponível de mão de obra para a produção de carnes, exportando o excedente para o Brasil. Assim, os países, especializando-se em determinados produtos, poderão trocar entre si os excedentes de produção. Deve-se a Adam Smith, em A riqueza das nações, em 1776, a primeira sistematização de uma visão liberalizante do comércio internacional. Smith estabeleceu o princípio das vantagens absolutas, pelo qual o comércio entre os países seria determinado pelo diferencial de custos absolutos. Lembrete Em economia, tem vantagem absoluta na produção de um bem o produtor que necessita de menos fatores de produção para produzir esse bem. De acordo com esse modelo, cada país deveria se concentrar na produção das mercadorias para as quais detivesse vantagens absolutas, gerando excedentes a serem exportados e importando as demais mercadorias num processo que fluiria naturalmente, apresentando benefícios para todos os envolvidos. Nesse sentido, os países também se beneficiariam do comércio internacional, se especializando na produção dos bens para os quais apresentam vantagem absoluta. Para Adam Smith, são evidentes as vantagens da não interferência, e o livre-comércio é visto como a melhor política comercial entre as nações. 1.2 Teoria das vantagens comparativas relativas Conforme destaca Ratti (2006), o economista David Ricardo (1772-1823) aperfeiçoou as ideias de Adam Smith, desenvolvendo a chamada teoria das vantagens comparativas relativas. 12 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a Unidade I Segundo Racy (2006), essa teoria foi desenvolvida por David Ricardo, cuja abordagem representa uma evolução das teorias de comércio internacional, ainda considerando a teoria do valor-trabalho. De acordo com essa teoria, mesmo que um país tenha vantagem absoluta na produção de todos os bens, é possível haver condições vantajosas de comércio internacional. Dessa forma, o princípio das vantagens comparativas de David Ricardo destaca a diferença de produtividade setorial da mão de obra entre as nações como a principal causa do comércio internacional. O modelo de Ricardo traz um conjunto de hipóteses simplificadoras, como podemos observar no exemplo a seguir: • Existem dois países, que serão denominados Brasil (B) e Resto do Mundo (RDM). • Cada país produz dois bens, alimentos (A) e um produto industrial, tecido (T). • O único fator de produção que recebe remuneração (tem custo) é a mão de obra, denominada (L). • A mão de obra é homogênea e sempre está disponível em cada país. • Há mobilidade total de mão de obra dentro do país, mas não existe a possibilidade de imigração (imobilidade internacional da mão de obra). • A produtividade da mão de obra, em cada bem, é fixa. • Existe concorrência perfeita em todos os mercados; não existem impostos de importaçãonem custo de transporte. Vejamos o exemplo de Ratti (2006). Nele temos dois países, Rússia e Inglaterra. Suponhamos que a situação seja a seguinte: Quadro 3 – Possibilidade de produção por homem/ano Trigo Aço Rússia 18 6 Inglaterra 20 10 Adaptado de: Ratti (2006, p. 321). Exemplo de aplicação Com base no quadro anterior, compensará para a Inglaterra especializar-se na ________________ e a Rússia na ___________________, trocando entre si os ___________________. 13 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a NEGÓCIOS INTERNACIONAIS Como vimos, coube a David Ricardo promover uma nova interpretação do modelo de Smith ao estabelecer o princípio das vantagens comparativas, segundo o qual o diferencial de custos relativos é o fator determinante do comércio entre países. Como a produção era vista basicamente em função da quantidade de trabalho necessária para produzir, os custos relativos seriam determinados pela produtividade relativa da mão de obra, que, por sua vez, decorreria da tecnologia empregada. Segundo Vasconcellos e Garcia (2011), a teoria de Ricardo postula que duas nações terão relações comerciais quando apresentarem custos relativos de mão de obra diferentes. Uma nação exportará sempre o produto que fabricar com custos de mão de obra relativamente menores do que o de outra, o que demonstrará que o comércio entre dois países é vantajoso para ambas. Nesse exemplo, nota-se que, embora a Inglaterra tenha uma vantagem absoluta sobre a Rússia na produção dos dois artigos, sua vantagem é maior na produção de aço (10:6) e menor na produção de trigo (20:18). Assim sendo, Ratti (2006) destaca que a Inglaterra tem uma vantagem comparativa na produção de aço (na qual sua vantagem absoluta é maior) e uma desvantagem comparativa na produção de trigo (na qual sua vantagem absoluta é menor). Nesse sentido, a teoria desenvolvida por Ricardo constitui-se em forte argumento em favor da liberalização do comércio internacional e de contramedidas protecionistas. Por outro lado, Mariano e Carmo (2007) destacam que o autor, no desenvolvimento da teoria das vantagens comparativas, procura ressaltar que, no âmbito das trocas internacionais, é de fundamental importância que os países se especializem na produção dos itens para os quais tenham mais vantagens na produção. Para entender o significado de sua análise, é preciso destacar que, no âmbito da teoria das vantagens absolutas, para que houvesse troca entre duas nações, seria necessário um produto para o qual essa nação possuísse um diferencial de coeficiente técnico com relação ao país com o qual realizasse a troca. Lembrete David Ricardo desenvolveu a teoria das vantagens comparativas relativas. O modelo de Ricardo, com algumas modificações, foi aceito até as últimas décadas. Entre as variantes podem ser citadas: • Modelo neoclássico: conhecido como teoria de Heckscher-Ohlin, por ter sido complementado por Ohlin, em 1924, e estabelecido a partir das teses iniciais de Heckscher, pode ainda ser chamado de teoria de Heckscher-Ohlin-Samuelson pelas contribuições desenvolvidas por Samuelson no final dos anos 1940 e início dos anos 1950. Esse modelo considera a possibilidade de migração da tecnologia embutida na mão de obra e nas máquinas de um país para outro. Ao contemplar o fator capital, o custo relativo passa a ser em função da dotação dos fatores. • Enfoque neofatorial: atribui especial importância ao fator recursos naturais e separa o trabalho nas categorias de mão de obra qualificada e não qualificada. 14 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a Unidade I • Teoria neotecnológica: introduz a ideia de que o processo de inovação tecnológica gera vantagens comparativas e que a performance de um país na exportação de um determinado produto muda com o ciclo de vida desse produto. • Modelo das economias de escala: afirma que um mercado doméstico de grande dimensão tende a gerar economias de escala e vantagens comparativas. Segundo Mariano e Carmo (2007), no comércio internacional, de acordo com a teoria de Ricardo, a proporção dos fatores de produção de cada país determina o seu padrão de importação e exportação. Para eles, os autores da escola neoclássica tentavam explicar as lacunas existentes nas teorias vigentes afirmando que, na verdade, o processo de troca entre duas nações deveria observar o fato de que os países sempre tendem a exportar mercadorias provenientes de seus recursos produtivos mais abundantes e a importar bens cujos recursos sejam mais escassos. Desse ponto de vista, Mariano e Carmo (2007) destacam que o comércio entre países como Brasil (com abundância de mão de obra) e Japão (com abundância de capital) poderia ser explicado da seguinte forma: o Brasil exporta produtos primários, com grande incorporação de mão de obra, e importa do Japão produtos industrializados, que, por sua vez, incorporam grande quantidade de capital. Conforme destaca Racy (2006), a base da teoria de Heckscher-Ohlin é cada país exportar mercadoria cuja produção use fatores relativamente mais abundantes, portanto, mais baratos, importando mercadorias que usem fatores relativamente escassos e caros. Contribuindo com esses conceitos, Ratti (2006) diz que, pela teoria do comércio internacional, cada país deveria especializar-se na produção daqueles artigos que pode produzir de maneira vantajosa, trocando, posteriormente, o excedente dessa produção por artigos produzidos por outros países. Mas o autor coloca que, na prática, não é isso que ocorre, pois os países procuram produzir praticamente tudo, aplicando as chamadas políticas de substituição de importações a qualquer custo e criando uma série de entraves ao comércio internacional, como direitos aduaneiros elevados, quotas, proibições diversas etc. Assim sendo, os consumidores nacionais pagam mais caro por produtos de menor qualidade, no entanto, há algumas razões para que isso ocorra, vamos abordá-las. Limitações na especialização Segurança Nacional O sonho da industrialização Grupos de pressão Figura 1 15 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a NEGÓCIOS INTERNACIONAIS Lembrete Direitos aduaneiros, um ramo do direito tributário, caracteriza-se como um conjunto de normas legais criadas para regular e controlar as operações de comércio exterior. Vamos verificar cada uma dessas razões. A especialização de produção, segundo Ratti (2006), apresenta limitações. Supondo que um país resolva aplicar todos os seus fatores de produção na fabricação de um único artigo, nada garante que o excedente da produção vá encontrar colocação no mercado internacional. Observação Excedente da produção é a produção menos o consumo interno. Outro ponto a ser considerado é o esforço que o país terá de fazer para atingir mercados distantes, o que acarretará um aumento dos custos de transporte do produto, anulando, dessa forma, a vantagem comparativa que o país possua. Assim sendo, não será vantajoso aplicar todos os seus fatores de produção em um único bem, o melhor seria diversificar a sua pauta de produção. Quanto à segurança nacional, Ratti (2006) coloca que a especialização e o comércio livre criam uma interdependência entre os países. Por questões de segurança nacional, um país pode querer manter a capacidade de produzir certos bens, considerados estratégicos (alimentos, combustíveis, armamentos etc.), mesmo que tal atitude seja desinteressante em termos puramente econômicos. No que tange a grupos de pressão, o autor destaca que determinados grupos econômicos, com suficiente poderpara pressionar os governantes, podem decidir produzir internamente determinados bens, embora esses pudessem ser adquiridos de outros países em condições mais vantajosas. Por conta disso, surgem as práticas restritivas ao comércio exterior, objetivando proteger tais grupos contra a competição de produtos similares estrangeiros. Como exemplo, podemos citar a indústria automobilística no Brasil. Ratti (2006) coloca que o sonho da industrialização vai além das flutuações de preço que ocorrem com os produtos primários. Os países subdesenvolvidos, que dependem da produção e da exportação de produtos primários, acabam rejeitando a teoria das vantagens comparativas e procuram industrializar-se a qualquer custo. Além disso, continua Ratti (2006), o rendimento per capita é mais elevado no segmento industrial do que no setor primário. Dessa forma, a transferência de população do setor primário para o setor industrial contribui, em muitos casos, para a elevação do nível de vida da população. 16 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a Unidade I Nesse sentido, Carbaugh (2004) destaca que o comércio internacional é importante porque o intercâmbio entre pessoas, empresas, regiões e nações pode especializar-se na produção de artigos bem fabricados e usar as receitas dessas atividades para adquirir de terceiros aqueles itens com elevado custo de produção. Daí a importância dos parceiros comerciais, que podem produzir maior volume conjunto e alcançar um padrão de vida mais alto do que poderia ser alcançado de outra maneira. Saiba mais Para conhecer mais sobre o tema, leia o artigo a seguir: INSTITUTO DE ESTUDOS PARA O DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL (IEDI). Desindustrialização prematura: um mal para o desenvolvimento. 2016. Disponível em: <http://www.iedi.org.br/artigos/top/analise/analise_ iedi_20160929_ind_desenv.html>. Acesso em: 20 jun. 2018. Veja também sobre a média da renda per capita na notícia a seguir: Renda familiar per capita no Brasil em 2017 foi de R$ 1.268, segundo IBGE A renda familiar média per capita (por membro da família) no país era de R$ 1.268 em 2017, segundo dados divulgados hoje (28) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A maior renda foi observada no Distrito Federal: R$ 2.548, o dobro da média nacional. Já a menor renda foi registrada no Maranhão: R$ 597, menos da metade da média nacional e um quarto da média do Distrito Federal. Os valores são calculados com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua) e enviados ao Tribunal de Contas da União (TCU). A renda familiar per capita é usada para se estabelecer os critérios de rateio do Fundo de Participação dos Estados e do Distrito Federal (FPE). Fonte: Abdala (2018). 1.3 Teoria do custo de oportunidade De acordo com Racy (2006), a teoria das vantagens comparativas e os custos de oportunidade, mesmo não aceitando a teoria do valor-trabalho, percebe que a teoria das vantagens comparativas de David Ricardo continua sendo válida se explicitada em termos de teoria do custo de oportunidade. Para Racy (2006), a vantagem de um país estar inserido no comércio mundial é a oportunidade de dispor de uma mercadoria ou serviço com menor valor. De acordo com o autor, a noção de custo de oportunidade 17 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a NEGÓCIOS INTERNACIONAIS tem-se mostrado importante quando se coloca em questão a teoria do valor-trabalho, ao considerar que trabalho não constitui o único fator de produção, não sendo necessariamente a base de valor e preço, nem deve ser obrigatoriamente homogêneo. Observação Custo de oportunidade é um termo usado em economia para indicar o custo de algo em termos de uma oportunidade renunciada. 2 GLOBALIZAÇÃO DOS MERCADOS Vamos falar um pouco sobre o processo de globalização dos mercados e os objetivos da globalização, bem como dos efeitos desse processo para o comércio entre as nações. De acordo com Maia (2001), com a criação da Organização Mundial de Comércio (OMC), as barreiras ao livre-comércio estão sendo gradativamente eliminadas. Com isso, o mundo vai se tornando cada vez mais globalizado, ou seja, um só mercado. Para entender como se deu a criação da OMC, Racy (2006) coloca que a Organização Internacional de Comércio (OIC) objetivava construir um sistema de comércio mundial com regras definidas, redução das restrições ao comércio pelo mercado e subordinação à necessidade de estabilidade. Segundo o autor, a OIC, que seria ratificada pela Carta de Havana de 1948 – mas não ratificada pelo congresso dos Estados Unidos –, deu lugar ao Acordo Geral de Tarifas e Comércio (GATT). Em 1994, durante a Rodada Uruguai, foi criada a OMC, com os mesmos objetivos, mas com mais poderes que a organização anterior. De acordo com Maia (2001), o objetivo da globalização seria beneficiar o consumidor, que usufruiria de produtos mais baratos. Figura 2 18 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a Unidade I Por outro lado, Mariano e Carmo (2007) destacam que, apesar de não existir consenso em relação ao conceito de globalização, podemos afirmar que a internacionalização da economia, a crescente desregulamentação dos mercados e a formação regional de blocos econômicos propiciaram a configuração de economias capazes de agir dentro de um contexto global. Essa capacidade de agir em uma esfera de maior envergadura lançou as primeiras sementes para o processo globalizante. Mariano e Carmo (2007) dizem que a internacionalização da produção foi possível graças aos avanços alcançados na arena financeira – expansão da telemática e do mercado financeiro internacional. A parceria entre os setores financeiro e produtivo permitiu a formação de mercados oligopolizados e rigidamente controlados por um grupo restrito de empresas. Essa nova configuração de mercado possibilitou o avanço do movimento de globalização. Nesse sentido, Racy (2006) coloca que, mais recentemente, tem-se observado a crescente tendência à incorporação econômica com o objetivo de criar um mercado integrado, a partir da progressiva eliminação de barreiras ao comércio, ao movimento de fatores de produção e da criação de instituições que permitam a coordenação, ou a unificação, de políticas econômicas entre países. Observação Oligopólio é uma estrutura de mercado de concorrência imperfeita no qual o mercado é controlado por um número reduzido de empresas de tal forma que cada uma tem que considerar os comportamentos e as reações das outras quando toma decisões de mercado. 2.1 Negócios internacionais De acordo com Segre et al. (2006), a globalização quebrou paradigmas organizacionais e culturais, criou exigências para o mercado de trabalho e está impondo a todos a necessidade de buscar aperfeiçoamento pessoal e profissional. Por esse motivo, cada vez mais os profissionais que atuam no comércio internacional terão que conhecer as técnicas e as ferramentas de negociação e tomada de decisão. O autor afirma que a globalização ocasiona aumento da concorrência mundial num ambiente em constante mutação e acrescenta que o investimento em pesquisas e desenvolvimento de novos produtos – para fazer frente à necessidade de constante inovação com custos cada vez menores – é a condição básica para garantir a competitividade das organizações em qualquer parte do mundo. 19 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a NEGÓCIOS INTERNACIONAIS Figura 3 – Globalização Ludovico(2009) coloca que as negociações globais representam um percentual cada vez maior de atividades mercadológicas no mundo empresarial e de atividades dos colaboradores e executivos espalhados pelos países afora. De acordo com o autor, os negócios internacionais assumem uma importância crescente na atividade econômica de grande parte das nações. A atuação das empresas em nível internacional vem sofrendo grandes alterações em função de uma série de aspectos que caracterizam o novo mercado globalizado. Por outro lado, Ludovico (2007) destaca que a globalização foi gradativamente se inserindo nos países em desenvolvimento alterando consideravelmente não só suas economias, mas também seus mercados. A globalização é um novo modelo econômico que vem transformando o mundo por meio de fases: mercados, produtos e investimentos. O autor destaca alguns componentes para esse processo de globalização, conforme o quadro a seguir: Quadro 4 Componentes Descrição Solidariedade global Vinculação entre o capital e os campos humanistas (universidade-empresa e especulação-ciência). Os benefícios que ajudam os descobrimentos são potencialmente mais acessíveis a todos e uma alternativa ao conceito de cooperação para o desenvolvimento. O conceito de egoísmo solidário cresce rapidamente. O conceito de solidariedade se substitui pelo de consciência de classe, ou seja, a pertinência. Turbulências Instabilidade ou taxa de mudança no ambiente das organizações. Têm como características o conteúdo e a natureza do ambiente, se levados em conta nas tomadas de decisão. Estratégias São uma série de conceitos e ações integrados que têm início com o estabelecimento de metas e objetivos, assim como a realização de planos mediante programas e seu monitoramento para assegurar o cumprimento dos objetivos traçados. Estes comunicam e mostram a pauta para o emprego geral dos recursos. 20 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a Unidade I Enfoque nas estratégias A localização do negócio permite o processo de produção. A diferenciação do negócio mede o alcance, sem segmentação, e as estratégias de segmentação por nicho de mercados e produção por contratos ou pedidos. A elaboração do negócio permite a penetração, o desenvolvimento, a expansão geográfica e a ampliação dos procedimentos. A ampliação do negócio se constitui nas cadeias de integração, diversificação, entrada e controle no processo produtivo. A reconsideração do negócio serve para redefinir, trocar e realocar todo o processo. Estratégia de valor Excelência operativa para melhorar a qualidade e o preço, e facilitar a compra e a venda. Relação mais próxima do cliente mediante valor agregado. Liderança de produto. Mercado Deve ser aberto e competitivo. Fundamenta-se na agressividade do interesse do setor privado, no qual, ao final, se traduzirá em um bem público em que se anula totalmente a intervenção do Estado. Adaptado de: Ludovico (2007, p. 4-7). Nesse sentido, as empresas precisam adotar estratégias competitivas para a inserção no mercado internacional. 2.2 Fatores determinantes em negócios internacionais Realizar negócios no mercado nacional requer conhecimento do mercado, do público-alvo, da cultura regional etc. Da mesma forma, para atuar no mercado internacional, faz-se necessário conhecer os procedimentos para proceder de forma a obter os resultados esperados. Racy (2006) coloca que é importante destacar o que diferencia um negócio de âmbito local frente ao internacional, apresentando as variáveis que tornam um negócio internacional e exigindo a atenção do gestor. Segundo o autor, uma das diferenças entre o comércio doméstico e o internacional é o escopo das atividades da empresa, cujas atividades são diferenciadas. As variáveis relativas a um negócio doméstico ou local, segundo Racy (2006), são: Público-alvo Necessidades a atender Tecnologia Figura 4 21 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a NEGÓCIOS INTERNACIONAIS Portanto, conhecer essas variáveis e adotar estratégias para a negociação faz parte do entendimento que as empresas devem ter, bem como preparar os seus colaboradores para essa nova economia globalizada. O público-alvo deve ser identificado de forma a atender às necessidades, desejos e expectativas, utilizando a tecnologia de forma adequada para atender às necessidades do público-alvo. Quando se fala de negócios internacionais, e se o país de origem da organização não tem tradição no comércio mundial nem marcas fortes, as empresas precisam desenvolver novas estratégias que lhes permitam adaptar seus produtos e/ou serviços aos novos conceitos sob concorrência mundial, ao mesmo tempo que deverão identificar fatores econômicos, políticos, legais, tecnológicos, ecológicos, demográficos e culturais para definir a estratégia a ser adotada. Nesse sentido, a empresa precisa considerar os seguintes ambientes: Ambiente TecnológicoNatural Econômico Político-legal Demográfico Sociocultural Figura 5 Observe que são vários os pontos que devem ser considerados quando se pretende atuar no mercado internacional. De acordo com Mañas (2009), para os negócios internacionais, o produto ou serviço, a comunicação, o preço, a comercialização e a distribuição compõem um conjunto de partes importantes da estratégia. A estratégia escolhida e adotada sempre é o resultado da análise feita sobre os próprios produtos, serviços, processos de produção, tecnologia disponível, posição concorrencial e barreiras que enfrentará no mercado. As barreiras são associadas a fatores econômicos e concorrenciais. Fato é que elas têm peso muito forte sobre os passos da implantação de uma aventura em mercados estrangeiros. Mas há outros aspectos que precisam ser conhecidos e administrados para garantir que a empreitada tenha sucesso. 22 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a Unidade I Quando falamos em barreiras comerciais, podemos considerar: Tarifárias Não tarifárias Técnicas Figura 6 As barreiras tarifárias correspondem às tarifas de importação elevadas, às tarifas específicas, às tarifas diferenciadas, ao sistema geral de preferências, aos acordos de preferência e a outras taxas ou tarifas impostas pelo país importador. Já as barreiras não tarifárias são as cotas tarifárias, direitos anti-dumping, direitos compensatórios (antissubsídios), subsídios ou dumping de terceiros, acordos de restrição voluntária, medidas de salvaguarda, unilateralismo, acordos de preço mínimo, exigência de transporte casado, licença de importação, políticas de compras governamentais, procedimentos aduaneiros, proibição de importações e regras de origem. Barreiras técnicas são normas e regulamentos sanitários, fitossanitários, de saúde animal, ambientais, ecológicos, procedimentos de certificação de conformidade e regras de embalagem. Além desses ambientes, a empresa precisa, segundo Porter (2005 apud RACY, 2006, p. 178), considerar os seguintes itens: • Ação dos concorrentes. • Ação dos fornecedores. • Ação dos compradores. • Produtos substitutos. • Novos entrantes. A empresa que deseja atuar no mercado doméstico precisa considerar as variáveis citadas para atingir os resultados esperados. 23 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a NEGÓCIOS INTERNACIONAIS Por conseguinte, Racy (2006) diz o que de fato diferencia a atuação local ou doméstica da internacional é o câmbio. Segundo o autor,essa é a única variável que não requer a atenção do gestor em âmbito local, mas que as outras exigem sua atenção quando atuam em outro país que não o de origem. A seguir, os principais fatores que influem no câmbio: Quadro 5 Fatores Descrição Econômicos Paridade do poder de compra, considerando a renda per capita e tendo nessa análise as questões relacionadas à inflação e às políticas fiscal, monetária e econômica de cada país. Políticos Interação de líderes políticos, eleições e instabilidades, como guerras civis e outras. Psicológicos Expectativas dos agentes financeiros, especulação cambial e preços de mercado. Adaptado de: Racy (2006, p. 179). De acordo com Ludovico (2007), as distintas implicações econômicas devem ser consideradas. Para ponderar a facticidade e o futuro de um negócio comercial internacional, é necessário considerar como aspectos centrais o grau de abertura do país, as tarifas aduaneiras, os tipos de impostos sobre o produto, se existe protecionismo, os riscos cambiais e as taxas sobre os custos logísticos. No quadro a seguir, é possível identificar as questões que envolvem as forças políticas e econômicas que devem ser observadas pelas empresas que pretendem atuar ou que já atuam no seguimento internacional. Quadro 6 Forças políticas Forças econômicas Internas Ingresso no mercado Forma de governo Estabilidade política Setores econômicos e pressão cambial Embargos e sanções Acordos sociais e políticos Normas ambientais Corrupção Atividades terroristas Perspectivas políticas Sistema e nível tarifário Protecionismo ou não Tipo de câmbio Inflação Nível de controle de preços Controles aduaneiros Externas Mercados Instituições de que participa Integração econômica Probabilidade de conflitos internacionais População e crescimento populacional Níveis de salário e emprego Infraestrutura e nível de urbanização 24 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a Unidade I Desempenho econômico Produto Interno Bruto Balanço de pagamentos Balança comercial Crescimento econômico Risco-país Impostos Utilização da capacidade produtiva Investimentos Adaptado de: Ludovico (2007, p. 17-18). Em relação às forças jurídicas e financeiras, Ludovico (2007) coloca que existem elementos legais e financeiros que podem incidir sobre a atividade da empresa em determinado mercado. Conhecer essas forças evitará dispêndios futuros e, consequentemente, a perda de negócios. No quadro a seguir, podemos observar quais variáveis integram as forças jurídicas e financeiras que os gestores devem considerar. Quadro 7 Forças jurídicas Forças financeiras Internas Gerais Sistema jurídico Sistema judicial Leis e investimentos estrangeiros Leis de sociedades internacionais Leis de propriedade intelectual Defesa da concorrência Defesa do consumidor Proteção contra contrabando e ilegalidades Sistema bancário Regulamento no mercado de divisas Regulamento no mercado de capitais Tipo de câmbio Externas Específica Instituições de que participa Acesso a fontes de financiamento Juros e créditos Adaptado de: Ludovico (2007, p. 18-19). Outro ponto destacado por Ludovico (2007) está relacionado às forças culturais e tecnológicas, pois essas forças constituem fatores que podem incidir na atuação da empresa em escala internacional. No terreno dos negócios internacionais, existem numerosos exemplos de como os distintos componentes da cultura afetam o desenvolvimento das investidas em determinado mercado. Outros fatores como idiomas, símbolos e cores também fazem parte dessas questões, razão pela qual a empresa, além das tradicionais pesquisas, deve estudar a antropologia dos mercados. 25 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a NEGÓCIOS INTERNACIONAIS Vejamos no quadro a seguir as variáveis das forças culturais e tecnológicas que podem dificultar a entrada de uma empresa em determinado mercado. Quadro 8 Forças culturais Forças tecnológicas Internas Gerais Religião Linguagem Valores Usos e costumes Educação Condições sociais Arte e estética História Condições geográficas Cultura material Níveis de desenvolvimento tecnológico Educação tecnológica Parques tecnológicos Investimentos públicos Investimentos privados Externas Específicas Grau de integração mundial Relação usuário/tecnologia Adaptado de: Ludovico (2007, p. 19-20). Conhecer todas essas forças para ingressar no comércio internacional ou para tratativas com os parceiros escolhidos faz com que as empresas se tornem competitivas nesse mercado e obtenham sucesso nas negociações comerciais. Em negócios internacionais, a empresa deve ser competitiva diante dos seus concorrentes. Nesse sentido, vamos verificar o que diz Ludovico (2007) em relação às características e aos tipos de competitividade. Nacionalismo Regionalismo Multilateralismo Globalismo Figura 7 – Componentes da competitividade Segundo Ludovico (2007), as características da competitividade compreendem: • O Estado se manifestar na decisão do tipo comercial (investimentos, comércio, fomento industrial e promoção na criação de tecnologia). • Estabelecer as relações entre o comércio e o investimento estrangeiro. • Criar normas de acordo com as instituições internacionais, como a OMC, OCDE, Bird, FMI, entre outras. • Aplicar inovações aos processos de produção. 26 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a Unidade I Exemplo de aplicação Faça uma pesquisa nos sites dos organismos internacionais citados a seguir e identifique o significado das siglas e os objetivos de sua criação. A) OMC. B) OCDE. C) Bird. D) FMI. Temos, ainda, os tipos de competitividade: É a que considera as fronteiras geográficas dos Estados. É mais ampla. Os Estados não controlam sua informação nem os fluxos de capitais, entre outras ações, e não têm fronteiras. Internacional Transnacional Figura 8 Em relação ao enfoque da competividade, Ludovico (2007) destaca: Limita-se às grandes potências Funciona conforme a capacidade de influência sobre os temas Realiza-se mediante o dinamismo dos meios de comunicação e a forma pela qual se conectam entre si Estabelece-se com a diversidade na tomada de decisões Enfoque nacional Enfoque global Enfoque regional Enfoque multilateral Figura 9 27 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a NEGÓCIOS INTERNACIONAIS Por sua vez, Cavusgil (2010) coloca que os negócios internacionais diferem dos nacionais pois as empresas envolvidas nos internacionais operam em ambientes caracterizados por uma singularidade nas condições econômicas, nos sistemas políticos e jurídicos e na cultura nacional. Esses fatores, segundo o autor, introduzem novos ou elevados tipos de risco comercial ao negócio. Entender esses riscos faz parte do processo de inserção nos negócios internacionais. 2.3 Os riscos da internacionalização De acordo com Cavusgil (2010), a internacionalização de empresas está sujeita a quatro riscos principais, conforme destacado na figura a seguir: Risco comercial Risco cambialRisco intercultural Risco-país Risco em negócios internacionais Figura 10 Na fase de planejamento para a tomada de decisão em iniciar negócios com outros países, a empresa precisa conhecer esses riscos e avaliar os prós e os contras dadecisão de internacionalização. Vamos verificar o conceito de cada um desses riscos iniciando com o risco intercultural. Podemos dizer que conhecer a cultura do país com o qual se está relacionando faz toda diferença para o sucesso do negócio. O risco intercultural, segundo Cavusgil (2010), refere-se a uma atuação ou evento em que a má interpretação cultural coloca em jogo alguns valores humanos; decorre de diferenças de idioma, estilo de vida, modo de pensar, costumes e religião. Nesse sentido, Racy (2006) coloca que, nos negócios internacionais, conhecer essas variáveis torna-se necessário, pois o reconhecimento das diferenças interculturais tanto pode aproximar como indispor interlocutores e parceiros, tanto pela forma e momento de apresentação como pelo processo de desenvolvimento de projetos negociais. Muitos negócios não são realizados por falta de conhecimento dessas variáveis, portanto, a comunicação é um fator de sucesso nos negócios internacionais. Outro risco que vamos analisar é o risco-país, também conhecido como risco político. Segundo Cavusgil (2010), este risco refere-se aos efeitos potencialmente adversos às operações e à lucratividade de uma empresa causados por desdobramentos nos ambientes político, jurídico e econômico de um país estrangeiro. O risco-país abrange a possibilidade de uma intervenção governamental estrangeira nas atividades de uma empresa, e o grau de intervenção governamental varia de um país para outro. 28 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a Unidade I Exemplo de aplicação Faça uma pesquisa na internet e verifique quais estratégias empresas brasileiras adotaram para o processo de internacionalização. Um aspecto que deve ser levado em conta quando falamos do risco-país é a legislação, ou seja, as leis e regulamentações que afetam as operações e o desempenho empresarial. Como exemplo, podemos citar as mudanças na política tributária. O risco-país influencia diretamente a questão de investimentos em um determinado país. Quanto ao risco cambial, também denominado risco financeiro, Cavusgil (2010) afirma que as flutuações nas taxas de câmbio podem impactar negativamente os negócios internacionais. A flutuação é comum nas taxas de câmbio, ou seja, no valor de uma moeda em relação a outra. Podemos citar como exemplo o caso da Argentina, que, atualmente, vem adotando medidas para diminuir o risco cambial. Concluindo a explanação sobre os riscos em negócios internacionais, Cavusgil (2010) aborda o risco comercial, dizendo que este se refere à probabilidade de prejuízo ou fracasso resultantes de estratégias, táticas ou procedimentos mal formulados ou mal implementados. Resumo Vimos nesta unidade as teorias que dão embasamento ao comércio internacional. Destacamos a teoria das vantagens absolutas, desenvolvida por Adam Smith, em 1776, passando pela teoria das vantagens comparativas, dando destaque à contribuição de David Ricardo (1817) até a concepção mais recente de Heckscher-Ohlins (1919). Conforme destacado por Mariano e Carmo (2007), de acordo com Adam Smith, uma das condições necessárias para o comércio entre duas nações é a existência de um produto, para que ocorra uma vantagem absoluta na produção. Segundo a teoria das vantagens comparativas, cada nação deveria se especializar na produção da mercadoria com menor custo (em termos de unidades de mão de obra) quando comparado com o das demais mercadorias. Destacamos também o conceito de globalização e os impactos no comércio exterior. Vimos, ainda, as variáveis que devem ser analisadas e consideradas quando uma empresa pretende atuar no mercado internacional, sendo necessária a análise do público-alvo, do cenário econômico e político, das condições de competitividade da empresa, bem como os riscos intercultural, país, cambial e comercial. 29 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a NEGÓCIOS INTERNACIONAIS Exercícios Questão 1. (Enade 2006) Suponha que a tabela abaixo represente a produção diária de vinho e de tecidos de um trabalhador, na Inglaterra e em Portugal, no século XVIII. Inglaterra Portugal Vinho 2 barris 1 barril Tecidos 4 peças 1 peça Com base na tabela, é possível afirmar que: A) A Inglaterra tem vantagem comparativa em ambos os bens. B) Em condições de livre-comércio entre os dois países, a competição de produtos ingleses inviabilizará a produção em Portugal. C) Seria imperativo que Portugal procurasse proteger sua produção de tecidos, que é a mais ameaçada pelos ingleses. D) Uma vez estabelecido o livre-comércio, a Inglaterra irá especializar-se na produção de tecidos, e Portugal, na de vinhos. E) Desde que cada país se especialize na produção de um bem, qualquer escolha é igualmente vantajosa para ambos. Resposta correta: alternativa D. Análise das alternativas A) Alternativa incorreta. Justificativa: a Inglaterra detém vantagem absoluta na produção dos dois bens por utilizar menor quantidade de horas de trabalho para produzir unidades de tecidos e unidades de vinho. A Inglaterra, em comparação com Portugal, é 100% mais eficiente na produção de barris de vinho e quatro vezes mais eficiente na produção de tecidos. B) Alternativa incorreta. Justificativa: em condições de livre-comércio entre os dois países, a competição de produtos ingleses não inviabilizará a produção em Portugal, pelo menos no caso de vinho. 30 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a Unidade I C) Alternativa incorreta. Justificativa: a proteção a qualquer tipo de produção ou a qualquer tipo de mercado contraria a tese ricardiana da liberdade em que o livre-comércio beneficia países participantes. D) Alternativa correta. Justificativa: uma vez estabelecido o livre-comércio, a Inglaterra irá especializar-se na produção de tecidos, pois apresenta maior vantagem comparativa na produção de vinhos, e Portugal irá especializar-se na produção de vinhos, pois seu custo de oportunidade é menor. E) Alternativa incorreta. Justificativa: a escolha mais vantajosa para cada país será aquela em que exista maior vantagem comparativa. Questão 2. (Enade 2006) Muitas empresas brasileiras têm tentado exportar os seus produtos. No entanto, a exportação pode requerer que estes sejam adaptados. Sobre isso, analise as afirmativas a seguir. Produtos importados sempre devem ser analisados à luz da cultura local. PORQUE A decisão de compra é influenciada, entre outros fatores, pelo nível de conhecimento do consumidor a respeito do produto que compra. Analisando as afirmações, conclui-se que: A) As duas afirmações são verdadeiras e a segunda justifica a primeira. B) As duas afirmações são verdadeiras e a segunda não justifica a primeira. C) A primeira afirmação é verdadeira e a segunda é falsa. D) A primeira afirmação é falsa e a segunda é verdadeira. E) As duas afirmações são falsas. Resolução desta questão na plataforma.
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