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Direito Empresarial I – Giulia Mazzer DIREITO EMPRESARIAL I EVOLUÇÃO HISTÓRICA O DIREITO EMPRESARIAL É importante destacar que o Direito como conjunto de regras/princípios não existiu desde sempre, na verdade o Direito faz parte das Ciências Sociais e ele veio com a evolução das civilizações, ou seja, ele não existe desde o início da vida humana. Toda área específica do Direito nasce conforme a civilização vai evoluindo, por isso o trabalho do legislador não para, pois ele precisa adaptar as leis com a evolução dessas civilizações. Assim, o D. Empresarial nasce a partir do momento em que há um reconhecimento pelo Estado dessa necessidade, até então o Direito vinha da própria organização das pessoas. O D. Comercial (nome mais antigo do D. Empresarial), ele não existia no contexto da Idade Média e até mesmo no período das navegações e do descobrimento do Brasil. O que se tinha eram grupos de pessoas que conviviam em determinados locais e ali desenvolviam a agricultura para a própria subsistência, não se havia o conhecimento de “compra e venda” que temos hoje no mundo capitalista, o que existia era uma economia própria daquela determinada civilização. Em dado momento essas pessoas precisavam celebrar alguns contratos, tais como o Contrato de Troca, também conhecido por Contrato de Escambo, e assim a sociedade foi se organizando. O D. Comercial como regime jurídico não existia nesse período, visto que não existia um código comercial pois não havia comércio. Logo, esse Direito e esse Código surgiram justamente após a criação dos comércios, porque se não surgiu o comércio não tem como surgir o D. Empresarial, pois ele deriva do comércio, que se dá no momento que as pessoas começam a ter a noção de “compra e venda” que gerou o início do D. Empresarial e o início do Mercantilismo. Esse início é visto no continente europeu nas Idade Média entre o séc. XII e XVIII, com a ideia de um artesão fazer uma cerâmica, ou tecido. É só quando as pessoas começam com essas criações que são vendidas que começam as relações mercantis de “compra e venda”. Após o surgimento dessas relações que é possível apontar a origem do D. Comercial. PRIMEIRA FASE DO DIREITO COMERCIAL Essa fase é uma fase identificada por ainda não existir legislação (recordando a Teoria Tridimensional do Direito onde a ordem é: 1º Fato => 2º Valor e 3º Norma). Nessa Primeira Fase se tem os contratos de compra e venda (que são verbais), relações mercantis que ocorriam nas feiras medievais e, a partir do momento que começam a surgir os conflitos dentro dessas relações e contratos nasce a primeira ideia do D. Comercial, que na prática era formulada pelos próprios comerciantes, onde eles estabeleciam regras de convivência. Por isso costuma-se dizer que nessa época o D. Comercial era do Direito dos comerciantes para os comerciantes, que criavam regras de convivências criadas por esses comerciantes e aplicadas pelos mesmos. Por conta desse formato do Direito que os estudiosos apontam essa fase como sendo uma fase subjetiva, pois para que alguém requeresse a aplicação dessas normas ele necessariamente deveria ser um comerciante filiado a uma corporação de ofício (que era uma corporação que reunia pessoas que trabalhavam naquela área, como os artesões os alfaiates), nessa fase o D. Comercial era aplicado pelos comerciantes e para os comerciantes, porque para você se sujeitar as regras era necessária a participação de uma corporação de ofício. Vale destacar que o Estado não reconhecia esse Direito e essas regras criadas pelas corporações!! Direito Empresarial I – Giulia Mazzer SEGUNDA FASE DO DIREITO COMERCIAL Ocorreu a partir do séc. XVIII, com uma transição diferenciada, que podemos visualizar um reconhecimento do Estado da necessidade de legislar, pois os conflitos não eram mais solucionados pelas corporações de ofício de forma informal. Então foi na Segunda Fase que surge um regime jurídico estatal que se deu através da Codificação Napoleônica (que reconheceu o Direito Comercial como a codificação de direitos dos comerciantes), pois Napoleão estava nesse período conquistando territórios e isso influenciou significativamente a vida no Brasil, pois ele reconhece a necessidade e atribui poderes para a organização de um código que estabelecesse leis e regras de convivência e, é nesse momento, que há o nascimento do Direito Comercial propriamente dito, com regras específicas de D. Comercial. Tudo isso ocorre com a codificação e edição de dois códigos: Código Civil (1804) e Código Comercial (1808). Napoleão determina a organização do D. Privado (ramo do Direito que organiza a vida da pessoa natural), assim determinando a bipartição do D. Privado em duas grandes áreas: D. Civil e D. Comercial. Essa Teoria dos Atos de Comércio desenvolve um conceito/uma apropriação de atos de comércio, então o D. Comercial e, consequentemente, o Código Comercial, só seria aplicado se a pessoa praticasse Atos de Comércio (atos típicos selecionados pelo legislador com o objetivo de aplicação do Código Comercial. Ex.: um artesão que comprava barro para fazer a cerâmica e vendia a cerâmica; um alfaiate que comprava o tecido, fazia a roupa e vendia a roupa). Esses atos foram tipificados pelo legislador no código, existiam situações específicas de “compra e venda” vistas naquela época que eram vistas como atos de comércio. A definição de Atos de Comércio era tarefa atribuída ao legislador, o qual optava ou por descrever as suas características básicas (como fizeram o Código de Comércio Português de 1833 e o Código Comercial Espanhol de 1885) ou por enumerar, num rol de condutas típicas, que atos seriam considerados mercancia (como fez o legislador brasileiro em 1850 no Código Comercial daquele período). Na Segunda Fase não olho mais para a pessoa, mas olho para o ato, para saber se o ato que a pessoa praticou é um ato de comércio via na legislação se Qual critério é utilizado para determinar quem é e quem não é comerciante? O critério encontrado foi identificar essa “compra e venda” realizada, determinar que tipo de “compra e venda” e a Teoria dos Atos de Comércio (sendo esse o critério delimitador) A mercantilidade, antes definida pela qualidade do sujeito (o direito comercial era o direito aplicável aos membros das Corporações de Ofício), passa a ser definida pelo objeto (os atos de comércio). A codificação napoleônica operou uma objetivação do Direito Comercial, além de ter, como direito anteriormente, bipartido de forma clara o D. Privado. Direito Empresarial I – Giulia Mazzer estava tipificado, e a lei que era vista para ver se o ato era tipificado era no Código Comercial. Mas, o ato que não se enquadrava como ato de comércio não deixava a pessoa desamparada e a busca do Direito dessa pessoa era procurado no Código de Civil, justamente por conta da bipartição do D. Privado. A característica comum entre esses atos de comércios era a intermediação (atualmente podemos exemplificar as pessoas do interior que vão para São Paulo capital fazer compras e trazem as mesmas para o interior; na época era o caixeiro viajante que ia para cidades maiores comprar mercadorias e as vendia nas cidades menores, e esse ato o tipificava como comerciante, sendo assim um ato de comércio). Contudo, o critério de Atos de Comércio foi muito criticado pois os mesmos eram muito específicos, já que identificavam somente quais atitudes eram atos de comércio, não deixavam de forma ampla para interpretação, era o legislador que escolhia quem seria e quem não seria comerciante, sendo que o comerciante tinha que se sujeitas às normas do D. Comercial, enquanto os que não eram comerciantes tinham que se sujeitas às normas do D. Civil. Esse critério não amparava todas as pessoas que vendiam algo para sobreviverem. EVOLUÇÃO HISTÓRICA: OS ATOS DE COMÉRCIO NA LEGISLAÇÃO BRASILEIRA O Código Comercial de 1850, assim comoa grande maioria dos códigos editados nos anos 1800, adotou a teoria francesa dos atos de comércio, por influência da codificação napoleônica. O Código Comercial definiu o comerciante como aquele que exercia a mercancia de forma habitual, como sua profissão, então, quem ocasionalmente vendeu algumas especiarias não era considerado comerciante, somente era comerciante quem vendia essas especiarias com habitualidade. O Código Comercial Brasileiro de 1850 foi formulado e entrou em vigência dentro de um contexto social escravocrata, em que também não se possuía muitos comerciantes, e são em cidades mais antigas como o Rio de Janeiro e Porto Seguro que se formam os primeiros comércios, de forma muito rudimentar que vendia poucas coisas para poucas pessoas. Como o Código Comercial Brasileiro de 1850 também seguiu as características dos atos de comércio nós tivemos a edição de um regulamento que de definiu quais eram os atos de comércio, o Regulamento 737, que tinha uma lista que definia quais atos eram atos de comércio, igual ocorreu na França. Então, o Regulamento 737 estabeleceu uma lista dos atos de comércio, mas essa lista era insuficiente para proteger todos que vendiam, porque essa lista não reconhecia enquanto comerciante o prestador de serviços, negociador imobiliário e aqueles que realizavam atividades rurais, logo, problemas jurídicos que viriam ocorrer não estariam regidos pelo Código Comercial, mas sim pelo Código Civil. E, por isso, embora adotada pelo Brasil, essa teoria ela ficou aplicada em pouco mais de 150 anos, já que era insuficiente, o que corrobora a Comerciante era quem fazia do comércio a sua profissão exercendo-a com habitualidade. Os atos de comércio identificavam a incidência do D. Comercial, do Código Comercial, e tinha como característica em comum a intermediação. Direito Empresarial I – Giulia Mazzer crítica já feita pelo sistema francês, já que era necessário um conceito amplo que deixasse aberto para interpretações. Por conta desse fato essa teoria se tornou inutilizável tanto no Brasil como na Europa. TERCEIRA FASE DO DIREITO COMERCIAL: TEORIA DA EMPRESA Na Itália houve a criação de uma nova teoria, porque a teoria dos atos de comércio já não era suficiente, visto que a sociedade do início do séc. XIX já não era mais a mesma sociedade do séc. XX, e essa teoria veio procurando ser mais justa e menos limitada como a teoria anterior (dos atos de comércio). Nesses contextos que vemos a aplicação da Teoria Tridimensional do Direito, pois temos fatos como a modificação e evolução das relações jurídicas da sociedade, após o valor que precisa ser preservado e então que vem a norma. A sociedade reconhece o valor que precisa ser preservado e partir disso o poder legislativo elabora a norma. Em razão da necessidade de substituir a teoria dos atos de comércio que vem a Terceira Fase, e seu início também se dá no continente europeu, no ano de 1942 na Itália, porque a Itália elaborou um Código Civil que modificou a ideia de conceituar quem trabalha no comércio, assim adotando a Teoria da Empresa. TEORIA DA EMPRESA: Substitui a Teoria dos Atos de Comércio e vem permitindo uma amplitude e adentra mais atividades, ou seja, mais atividades sendo consideradas as atividades empresariais. E essa teoria que definiu o conceito jurídico de empresa foi adotada pelo Brasil somente em 2002!! E essa teoria considerou a empresa não mais. Essa Teoria da Empresa passou a analisar a empresa não só como um ato específico (como ocorria na Segunda Fase), mas como um fenômeno que tem várias repercussões jurídicas, tem várias faces, vários lados do mesmo objeto. Podemos analisar a empresa analogamente a um cubo, onde a empresa possui várias faces e cada face possui uma repercussão conceitual diferenciada. E essa Teoria da Empresa analisa a empresa como um fenômeno poliédrico, em que cada lado desse quadrado tem uma característica diferente, onde podemos analisar 04 perfis: FASE AINDA VIGENTE NOS DIAS ATUAIS Apesar de ser uma fase ainda vigente, estamos avançando no Congresso e, também, com alguns doutrinadores, para que se atualize alguns institutos e algumas características do D. Empresarial e, apesar das Medidas Provisórias do ano passado (2019) que trataram sobre, ainda há projetos em trâmite sobre um novo Código Comercial no Congresso Nacional Até a Segunda Fase utilizava-se a expressão D. Comercial/Código Comercial, com a Terceira Fase passa a usar a expressão “empresário”, “empresa” e “Direito Empresarial”. Direito Empresarial I – Giulia Mazzer 1. Perfil Subjetivo: remete a sujeito, e quem é o sujeito que exerce a empresa? É o empresário, é o sujeito, quem exerce a empresa, fazendo parte do perfil subjetivo. 2. Perfil Funcional: é o perfil da função. Por que essa empresa foi criada? Qual a função dessa empresa? Quando alguém quer investir dinheiro em uma empresa para desenvolver uma atividade ela visa o lucro, quem exerce empresa não quer fazer doação para alguém, os investimentos visam o lucro. A empresa é uma atividade econômica organizada. A Teoria da Empresa analisa a organização da empresa. o O que é uma atividade econômica qualquer e uma atividade econômica organizada? A atividade econômica qualquer é uma atividade eventual enquanto a organizada possui todo um preparo e habitualidade, o que difere ambas é a forma pela qual a atividade é exercida e não a atividade em si. 3. Perfil Objetivo: é o estabelecimento. É a quantidade de bens necessária para que o empresário exerça a atividade. O local está inserido dentro da ideia de estabelecimento, mas com ele não se confunde!!! Pelo perfil objetivo vamos identificar que é o estabelecimento, os objetos que precisam ser organizados para que o empresário exerça a sua atividade. o Dentro do conceito de estabelecimento posso ter o local, as mesas, as cadeiras, a marca da empresa (a marca é um bem jurídico), mas não preciso necessariamente ter um local/estabelecimento físico, como no caso das lojas online. É possível que alguém não tenha o local físico, mas mesmo assim tenha o estabelecimento. 4. Perfil Corporativo: é a comunidade laboral. Tal comunidade pode ser o próprio empresário ou dependendo do tamanho dessa atividade pode ser o empresário e seus funcionário. Quer dizer que tem alguém trabalhando e não precisa, necessariamente, ser um empregado. Para a Teoria da Empresa, o Direito Comercial não se limita a regular apenas as relações jurídicas em que ocorra a prática de um determinado ato definido em lei como o ato de comércio (mercancia). A Teoria da Empresa faz com que o Direito Comercial não se ocupe apenas com alguns atos, mas com uma forma específica de exercer uma atividade econômica: a forma empresarial. Assim, em princípio, qualquer atividade econômica, desde que seja exercida empresarialmente, está submetida à disciplina das regras do Direito Empresarial. EMPRESA PERFIL SUBJETIVO PERFIL FUNCIONAL PERFIL OBJETIVO PERFIL CORPORATIVO Direito Empresarial I – Giulia Mazzer Passamos a usar a expressão Direito Empresarial porque passamos a usar a Teoria da Empresa. Quando a Teoria da Empresa foi criada teve justamente o objetivo de criar essa amplitude, um alcance maior de diversas atividades que se quer existiam na década de 40 na Itália, hoje são enquadradas por essa Teoria, justamente por conta de sua amplitude (Ex.: o Facebook). Logo, a princípio, qualquer atividade pode ser considerada uma atividade empresarial, desde que seja exercida de forma empresarial. E essa forma empresarial é analisada a partir da organização dos fatores de produção, é atividade empresarial aquela que organiza os fatores de produção e faz dessa atividade a sua profissão. Organização dos chamados fatores de produção: natureza, capital, trabalho e tecnologia. A Teoria da Empresa passoua exigir a organização dos fatores de produção para considerar atividade empresarial, que são: matéria-prima, investimento, trabalho e tecnologia (que também, em outras palavras, são os citados acima: natureza/insumos, capital, trabalho/mão de obra e tecnologia). O Código Civil adotou essa Teoria da Empresa, seguindo o raciocínio do Código Italiano, e o Código Civil Brasileiro de 2002 derrogou parte do Código Comercial de 1850, estando somente vigente a parte que trata sobre Comércio Marítimo e o restante que tratava sobre os Atos de Comércio não possui mais aplicabilidade, não tem mais vigência, pois o nosso Código Civil de 2002 trata do Direito de Empresa, da Teoria da Empresa. Houve a unificação formal dos dois Direitos Privados (Direito Civil e Direito Empresarial/Comercial), e se diz formal pois é apenas de aparência, quando você olha vê que está tudo junto, só que o conteúdo ainda é diferente, pois tem assuntos que são aplicados somente para o empresário, com processos de recuperação e falência. Com a Terceira Fase desaparece a figura do comerciante, e surge a figura do empresário, da mesma forma, não se fala mais em sociedade comercial, mas em sociedade empresária. Observação: A Terceira Fase começou na Itália no ano de 1942, mas no Brasil começou somente em 2002 com o Código Civil de 2002 que extinguiu o Código Comercial de 1850, assim trocando a Teoria dos Atos de Comércio pela Teoria da Empresa. FASES DO DIREITO EMPRESARIAL/COMERCIAL PRIMEIRA FASE SEGUNDA FASE TERCEIRA FASE Uso e costumes Corporações de Ofício Teoria dos Atos de Comércio Teoria da Empresa Analisava o sujeito Analisava o ato Analisa o fenômeno poliédrico Para considerar alguém “empresário” não é exigido CNPJ, ser empresário é organizar os fatores de produção e fazer dessa atividade a sua profissão. Entretanto, para se regular, para estar protegido pelo ordenamento jurídico brasileiro é necessário registro, e o registro do empresário ocorre na Junta Comercial. Código Civil de 2002, no seu Livro II, Título I, do “Direito de Empresa”.
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