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Letícia Nano – Medicina Unimes TRANSTORNOS NEURO-COGNITIVOS O termo “transtornos neurocognitivos” foi introduzido no DSM-V (APA, 2013) e CID-11 (OMS,2018) para designar os transtornos mentais orgânicos (Delirium Demências) classificados no DSM-IV (1994) e CID-10 (1990). Definição Transtornos mentais orgânicos São transtornos que se expressam por alterações psicopatológicas do estado mental do indivíduo, isto é, são transtornos mentais cuja etiologia é demonstrável (por lesão, disfunção cerebral ou doença sistêmica). As alterações psicopatológicas podem ser na esfera cognitiva (memória, orientação, atenção, consciência, raciocínio, pensamento,linguagem) e na esfera comportamental (afeto, volição, sensopercepção, julgamento etc.). Quando há qualquer alteração predominante na esfera cognitiva deve-se privilegiar o diagnóstico de T.M.O. Transtornos neurocognitivos (atualização) DSM V: Déficit primário é cognitivo e não estava presente no nascimento e inicio da vida. Exclui doenças do desenvolvimento. São síndromes cuja etiologia pode ser determinada CID11: São caracterizados por déficit cognitivo primário, adquirido e que não incluem os déficits presentes ao nascer. Representa um declínio cognitivo de um funcionamento prévio. Quando a etiologia é determinada, classificar junto com a doença de base (Delirium alcóolico) Os transtornos neurocognitivos diminuem obrigatoriamente as funções cognitivas do indivíduo. O declínio cognitivo pode ser agudo (Delirium) ou crônico (Demências), de leve a grave intensidade. Os outros transtornos mentais podem apresentar algum grau de comprometimento cognitivo, porém, as alterações psicopatológicas principais são predominantemente no humor, no juízo da realidade e sensopercepção, porém, sempre apresentando consciência vigil. Exame psíquico: Se atentar a possíveis alterações Cognitivas em: • Consciência: nível de vigília • Atenção : Orientação espacial e temporal • Memória fixação e evocação • Raciocínio: cálculos, etc. • Linguagem Alterações Psicopatológicas • Esfera comportamental • Humor • Volição • Pensamento e julgamento • Sensopercepção Alterações de comportamento As alterações de comportamento podem ocorrer por múltiplas causas: • Doenças físicas • Doenças mentais • Uso de substâncias e medicamentos • Após sofrer violência ou trauma • Por problemas emocionais, de relacionamento e ambientais • Ganhos secundários e simulações Portanto, ter alteração de comportamento não significa que o indivíduo tem doença mental. Letícia Nano – Medicina Unimes Alterações cognitivas: Domínios cognitivos (DSM-V): Atenção complexa; Função executiva (planejamento, tomada dedecisão, memória de trabalho, flexibilidade mental,substituição de hábitos, correção de erroc); Aprendizagem e memória; Linguagem; Perceptomotor e Cognição social Atenção Atenção sustentada: consegue manter-se em uma atividade por longo tempo (ex. apertar um botão sempre que escuta um tom) Atenção seletiva: consegue concentrar-se apesar dos estímulos concorrentes (ruídos, por exemplo). Atenção dividida participar de 2 tarefas ao mesmo tempo Velocidade de processamento Função executiva Planejamento: habilidade de encontrar soluções e planejar em sequência. Tomada de decisão Memória de trabalho capacidade de manter informações por período curto e de manipulá-las Utilização de erros: capacidade de receber feedback e críticas para resolver um problema Substituição de hábitos: capacidade de escolher uma solução mais complexa para ser correto. Flexibilidade mental: capacidade de mudar entre dois conceitos, tarefas ou regras. Aprendizagem Alcance da memória imediata – por ex capacidade de repetir uma lista de palavras. Memória recente Linguagem Linguagem expressiva (identificação de objetos), fluência. Gramática e sintaxe Linguagem receptiva: compreensão das tarefas, definição . Realização das tarefas conforme comando verbal. Perceptomotor Percepção visual: dificuldade de reconhecimento de objetos ,figuras. Visuoconstrutiva – dificuldade para desenhar, copiar e montar Perceptomotora integrar percepção e movimentos, por ex. ser capaz de por pinos nos orifícios. Práxis: Integridade dos movimentos aprendidos e habilidade de imitar gestos Gnosia: reconhecimento de faces e cores Cognição social Reconhecimento de emoções identificação de emoçõe em imagem de rostos Teoria da mente – capacidade de considerar o estado mental de Letícia Nano – Medicina Unimes outra pessoa ou sua experiência. Instrumentos de avaliação cognitiva • Baterias específicas de testes neurológios e • neuropsicológicos • Exame psíquico e neurológico • Mini-Exame do Estado Mental (MEME ou MMS) • Método de Avaliação de Confusão (CAM) • Montreal Cognitive Assssment (MoCA) – para Demência Delirium ou Confusão Mental Síndrome neuropsiquiátrica complexa, de início agudo e de curso flutuante e breve (autolimitado). O sintoma principal que caracteriza o delirium é a alteração de consciência (rebaixamento), acompanhada por déficit AGUDO das funções cognitivas (principalmente deficit de atenção), alteração do pensamento, do afeto e da percepção e inversão do ciclo vigília-sono. Esta síndrome ocorre em decorrência de uma condição clínica de base e que precisa ser investigada. Epidemiologia A maioria dos estudos epidemiológicos envolvendo delirium incluiu pacientes hospitalizados. Apresentando as taxas: - Na admissão 14-24% - Durante a internação 6-56% - Pós-operatório 15-53% - Após trauma 10-52% - UTI 70-87% Já as taxas de mortalidade em pacientes internados com delirium varia entre 22-76%, sendo comparados com IAM ou sepse. Exame psíquico no delírium • Consciência: rebaixamento (leve ao grave – pré-coma), com déficit de atenção (dificuldade para concentração), não consegue sustentar o diálogo, lentificação global, dificuldade de compreensão da fala. Memória recente prejudicada, em geral, a remota está preservada. • Orientação têmporo espacial – prejudicada • Raciocínio – prejudicado, faz cálculos com dificuldade, muita lentificação. Muito sugestionável, com erros de julgamento, com idéias paranóides pouco elaboradas e transitórias. • Pensamento – em geral lentificado, com fala fragmentada, ora coerente, ora desconexa, nem sempre termina a idéia inicial • Afeto – lábil pode apresentar choro fácil, irritabilidade, medo • Psicomotricidade – alterna lentificação, sonolência, apatia, com agitação motora, comportamento agressivo • Sensopercepção – ilusões, as alucinações são mais visuais e táteis Obs.: Na presença de Delirium não é possível realizar o diagnóstico de transtornos psiquiátricos (primários) como Esquizofrenia, Depressão, etc. A comorbidade entre o Delirium e os outros transtornos psiquiátricos ocorre, mas deve-se dar prioridade à etiologia do delirium para depois de remitido o quadro verificar a presença ou não de quadro psiquiátrico primário e instaurar o tratamento se necessário Fatores predisponentes e precipitantes O delirium tem etiologia multifatorial mas pode ser desencadeado por fator isolado, ou pela inter-relação entre fatores predisponentes e fatores precipitantes (mais comum). Os principais fatores predisponentes evidenciados em ambiente hospitalar são: gravidade da doença de base, déficit visual, nível cognitivo basal e alta relação BUN/creatinina (índice de desidratação). A doença como um fator predisponente mais comum é a demência, aumentando 2-5 vezes a chance de desenvolvimento doLetícia Nano – Medicina Unimes delirium. Já os principais fatores precipitantes incluem: uso de restrição física, desnutrição, adição de mais de 3 medicações no dia anterior (mais comuns as psicoativas), uso de cateter urinário e eventos iatrogênicos. As medicações são disparado o principal fator precipitante, sobretudo quando o paciente está sob uso de diversos medicamentos, com interações medicamentosas importantes. Além disso, esses fatores de risco parecem ter caráter acumulativo, portanto, a intervenção em algum dos fatores já mencionado, pode ser suficiente para resolução do quadro Fisiopatologia O mecanismo fisiopatológico causador do delirium permanece indefinido, sendo provavelmente um conjunto de mecanismos que leva a redução global do metabolismo oxidativo cerebral e falência da transmissão colinérgica. A principal hipótese envolve os neurotransmissores, inflamação e estresse crônico. A atividade dopaminérgica em excesso é um fator contribuinte, por drogas dopaminérgicas serem precipitantes de delirium, e antagonistas dopaminérgicos serem usados no controle da síndrome. As citocinas aumentam a permeabilidade da barreira hematoencefálica e alteram a neurotransmissão. O estresse crônico contribui ativando o sistema nervoso simpático e o eixo adrenocortical, levando ao hipercortisolismo crônico. Etiologia Intracraniana: • Epilepsia • Convulsão • Trauma TCE • Infecção (Encefalites) • Neoplasia • Vascular (AVC) Avaliação A avaliação médica deve iniciar com uma anamnese cuidadosa e incluir um exame físico completo. Outros informantes devem ser entrevistados, pois o paciente pode não estar apto a fornecer informações. Deve-se atentar para a presença de sinais neurológicos focais, incluindo fraqueza ou perda sensorial, papiledema e sinais de liberação do lobo frontal (p. ex., reflexos de sucção, de protrusão labial, palmomentual e fundamental) que indicam estados de déficit global. Os testes laboratoriais devem incluir os estudos de sangue e urina de rotina (p. ex., hemograma completo, urinálise), radiografia torácica, TC ou RM do cérebro, eletrocardiograma, punção lombar (em alguns pacientes), triagem toxicológica, gases sanguíneos e eletrencefalograma. Esses testes vão variar dependendo da causa subjacente do delirium. Pacientes em delirium com freqüência têm elevações de temperatura que provavelmente representam instabilidade autonômica ou infecções subjacentes. Os achados eletroencefalográficos muitas vezes mostram retardamento difuso generalizado. O maior problema de diagnóstico diferencial é distinguir o delirium de um estado confusional devido a esquizofrenia ou a um transtorno do humor. Os pacientes em delirium costumam ter uma apresentação mais aguda, são globalmente confusos e têm maior comprometimento da atenção. As alucinações, quando presentes, são fragmentadas e desorganizadas e tendem a ser visuais ou táteis, em oposição às alucinações auditivas vistas em portadores de transtornos psicóticos. Indivíduos em delirium têm menor probabilidade de ter história pessoal ou familiar de doenças psiquiátricas, mas a presença de um transtorno não exclui a possibilidade do desenvolvimento de delirium. Exame psíquico com ênfase nas funções cognitivas (consciência e atenção) – Minimal Mental State, etc • História clínica detalhada para Identificar etiologia e Comorbidades • Avaliação física completa • Exames complementares • Observação do curso e Reavaliações frequentes Diagnóstico O diagnóstico de Delirium é exclusivamente clínico. A avaliação clínica deve então buscar a mudança entre o estado prévio do paciente para o estado atual em questão de nível cognitivo e funcionalidade. Para isso, testes para a atenção, orientação, Extracraniana: • Drogas e medicamentos • Hipóxia pós-operatória, • Alterações hidroeletrolíticas e metabólicas • Septicemia, febre, infecções • Hipoglicemia e outras doenças endócrinas • Desidratação • Lúpus eritematoso e outras doenças reumáticas • Doenças hepáticas • Déficits nutricionais • Diarréia Letícia Nano – Medicina Unimes linguagem e outros aspectos cognitivos são úteis. O exame físico deve conter exame neurológico detalhado, em buscas de déficits focais e buscar também sinais de quedas, traumas encefálicos, infecções e outras afecções agudas. É importante a revisão dos medicamentos e também se houve mudanças recentes nas dosagens ou tipos. Também é necessário investigar o uso de álcool e/ou outras substâncias. A avaliação clínica indicará se há a necessidade de exames laboratoriais, sendo individualizado para cada caso. Exame de líquor, neuroimagem e eletroencefalograma não costuma ser realizado na maioria dos casos de Delirium. O Confusion Assessment Method(CAM) é um importante instrumento usado no diagnóstico de Delirium e é de fácil e rápida aplicação, podendo ser feito no leito ou no ambulatório. Ele é dividido em quatro itens sendo eles: A) Estado confusional agudo com flutuação marcante B) Déficit de atenção marcante C) Pensamento e discurso desorganizados D) Alteração do nível de consciência (hipoativo ou hiperativo) sendo necessário para consideração de delirium as letras "a" e "b" somadas as letras C e/ou D. É importante ater-se ao fato de que esse instrumento não avalia a gravidade do delirium. Para a gravidade do delirium utilizamos os critérios diagnósticos para delirium- DSM-IV: A) Distúrbio da consciência (isto é, diminuição da percepção do ambiente) com diminuição na capacidade para focalizar, manter ou mudar a atenção. B) Uma alteração na cognição (tal como uma deficiência de memória, desorientação, ou distúrbio de linguagem) ou o desenvolvimento de um distúrbio da percepção que não possa ser atribuído a uma demência preexistente, estabelecida ou em evolução. C) O distúrbio desenvolve-se em curto espaço de tempo(usualmente horas a dias) e tende a apresentar curso flutuante durante o dia. D) Há evidência na história, exame físico ou exames laboratoriais de que o distúrbio seja causado pelas conseqüências fisiológicas diretas de uma condição clínica geral qualquer. Prevenção A melhor maneira de evitar o surgimento do delirium é a atenção primária. Os cuidados terapêuticos destinados aos pacientes com transtorno neurocognitivo envolvem uma série de estratégias que vão além do uso de drogas. O tratamento depende dos fatores de risco para delirium e a atenção primária empregada. Para alterações de déficit cognitivo usa-se intervenções como programas de atividades, terapia ocupacional, técnicas de reorientação; para deprivação de sono usa-se redução de ruídos, adequar horário de medicações noturnas e procedimentos, higiene do sono; para imobilidade mobilização precoce, usa-se fisioterapia, evitar equipamentos que diminuem mobilidade sempre que possível (sondas vesicais, hidratação venosa contínua); para déficit visual usa-se Iluminação especial, utensílios de adaptação (usar letras maiores), uso de óculos; para déficit auditivo, é aconselhado o uso de aparelho auditivo quando indicado. Nos casos de prescrição de medicações psicoativas, é recomendado somente quando estritamente necessário Manejo do Delirium Ambiente adequado:-calmo, iluminado, janelas trancadas, vigilância com portas, orientar o familiar, identificar-se quando entrar em contato com o paciente e explicar cada procedimento, dar referências para que ele possa se orientar têmporo-espacialmente (relógio, calendário). Idosos e crianças são grupo de alto risco. Procedimentos médicos e da enfermagem: Contenção física no leito (evitar sedação excessiva), medicação para agitação e ansiedade quando estritamente necessários (pre ferir antipsicóticos em doses baixas e por via oral) Notificar médico da flutuação do quadro: controles vitais e tratamento específico dadoença de base; evitar excesso de medicações e altas doses (especial cuidado com portadores de hepatopatias e idosos) Letícia Nano – Medicina Unimes Tratamento não- farmacológico Deve ser aplicada a todo paciente acometido por delirium. Nessa fase podem ser usadas estratégias de reorientação e intervenção comportamental. O contato pessoal e comunicação são fundamentais, deve também estimular a mobilidade, o autocuidado e a independência para atividades são importantes. Restrição física como contenção no leito deve ser evitada. Uso de calendários, relógios e esquema de horários deve ser disponibilizado para auxiliar na orientação do paciente. Evitar a mudança no ambiente e de profissionais. Permitir sono tranquilo e terapias de relaxamento. Tratamento farmacológico É reservado a pacientes com agitações mais importantes ou que ofereçam risco a própria segurança ou de outras pessoas , porém deve estar ciente de que qualquer tratamento farmacológico levará a efeitos psicoativos , levando a uma obnubilação maior , por isso deve utilizar a droga com a menor dose possível e pelo menor tempo . A classe preferida é a dos neurolépticos (efeito colateral : sedação, hipotensão, distonia aguda, efeitos extrapiramidais e anticolinérgicos) e droga de escolha é o haloperidol (0,5 – 1mg VO,pode repetir dose depois de 30 – 60min ; pacientes sem uso prévio dose máx é 3 – 5mg ; manutenção ½ dose inicial) e o objetivo de tratamento é a resolução ou melhora da agitação até nível aceitável e não a sedação. Benzodiazepínicos não são recomendados para o tratamento de delirium porque podem causar sedação excessiva, depressão respiratória, além de exacerbar o estado confusional ,mas permanecem como droga de escolha em casos de abstinência a álcool e outras drogas. Em idosos o lorazepam, 0,5 a 1mg inicialmente, é o agente mais seguro. Antipsicóticos – usar doses menores em idosos - eficazes na agitação e sedação Doses IM: haloperidol 5mg*: 1⁄2 a 1 ampola na crise clorpromazina 25mg: 1 ampola na crise VO: HALOPERIDOL (2- 10 MG/DIA); RISPERIDONA (1-4 MG/DIA); OLANZAPINA (5-10 MG/DIA) *Benzodiazepínicos: para convulsões e abstinência de álcool. Uso de alto risco nos idosos e insuficiência hepática (risco de precipitar encefalopatia hepática). São muito sedativos e podem produzir efeito paradoxal em crianças e idosos (agitação e confusão). Obs.: NÃO INDICADO NO DELIRIUM NÃO ALCOÓLICO VO - Diazepam 10 a 30 mg/dia (no alcoolismo) Não usar IM! Resumo manejo 1. No hospital, um ambiente silencioso, repousante e bem-iluminado é o melhor para o paciente confuso. 2. A probabilidade de o paciente ficar confuso e se agitar será menor se ele for atendido sempre pelos mesmos profissionais. 3. Lembretes de data, horário, local e situação devem ser colocados em posição de destaque no quarto do paciente. 4. A medicação para o manejo comportamental deve se limitar aos casos de fracasso das intervenções comportamentais. • Somente drogas essenciais devem ser prescritas, e a polifarmácia deve ser evitada. • Sedativo-hipnóticos e ansiolíticos devem ser evitados. • Um comportamento incontrolável pode exigir antipsicóticos ou, como alternativa, benzodiazepínicos de meia-vida curta (p. ex., lorazepam) para possibilitar o manejo. Delirium tremens O delirium tremens (DTs) é um estado confusional breve resultante da abstinência alcoólica absoluta ou relativa, em usuários gravemente dependentes. É o quadro mais grave da síndrome de abstinência alcoólica (SAA), que consiste num conjunto de sinais e sintomas que aparecem após a cessação ou redução da ingestão crônica de álcool, caracterizada por tremores, insônia e agitação psicomotora. Na Letícia Nano – Medicina Unimes síndrome de abstinência alcoólica, os sintomas leves costumam aparecer mais precocemente, cerca de 24 a 48h após a interrupção do consumo de álcool. Já os sintomas mais graves costumam surgir 3 a 4 dias depois da abstinência. O delirium tremens é caracterizado por sintomas clássicos do delirium (rebaixamento do nível de consciência, confusão mental, desorientação temporoespacial, etc.) juntamente com uma hiperatividade autonômica (hipertensão arterial, taquicardia, taquipneia, hipertermia, etc.), além de ilusões e alucinações. As alucinações são tanto visuais como táteis, sendo principalmente com insetos e pequenos animais (zoopsia). O delirium tremens é uma emergência médica necessitando, portanto, de internação hospitalar. Obs.: Outro diagnóstico diferencial é a alucinose alcoólica, que é caracterizada por alucinações predominantemente auditivas na ausência de rebaixamento do nível da consciência e sem alterações autonômicas. Exemplo prático: Um paciente encontrado caído na calçada, com é trazido pelos policiais ao pronto socorro. O paciente mostra-se desatento, desorientado no tempo e no espaço, com fala desorganizada, de difícil compreensão. Relata seu nome e endereço, mas, não sabe contar o que lhe aconteceu e nem se lembra de que estava caído na calçada. Mostra-se agitado e assustado com qualquer estímulo do ambiente, apresenta-se em mau estado de higiene, descorado, desidratado, taquipneico, hipotenso e com sudorese profusa e T 37,7ºC. Foi colocado na maca, mas como estava inquieto, foi contido. Começou a gritar, a dizer que baratas andavam pelo seu corpo. (provável delirium tremens) X Delírio Delírium Delírium tremens Definição Ideia delirante, alteração de juízo de valores Estado confusional agudo e de curta duração Estado confusional transitório que acomete usuários de álcool Grupo de risco Quadros psicóticos, esquizofrenia e associados a drogas/álcool Idosos e hospitalizados principalmente Dependentes de álcool em abstinência Quadro clínico Ideia delirante com características de incorrigibilidade influencibilidade incompreensibilidade Confusão aguda, comum em casos graves de UTI Alucinações visuais e táteis, tremores, convulsões, alterações cardíacas Diagnóstico Clínico: Discurso paciente Clínico: A+ B + C ou D A) Estado confusional agudo com flutuação marcante B) Déficit de atenção marcante C) Pensamento e discurso desorganizados D) Alteração do nível de consciência Clínico: Delirium + hiperatividade autonômica (hipertensão arterial, taquicardia, taquipneia, hipertermia, etc.), além de ilusões e alucinações Prevenção Tratamento doença de base Boa alimentação, hidratação, acompanhamento da saúde e medicamentos Tratamento dependência Tratamento Identificação causa de base e tratamento. Identificação causa de base e tratamento. Retirada de medicamentos ou inicio antibioticoterapia (infecções), hidratação Calmantes na emergência e tratamento da dependência a longo prazo Letícia Nano – Medicina Unimes Demências Definição “É uma condição decorrente de doença cerebral que leva a um déficit cognitivo global crônico, gradual, em especial a memória e funções corticais superiores, (capacidade de reconhecer objetos, organizar-se e realizar planejamentos), alterações comportamentais decorrentes do prejuízo das funções cognitivas e sem rebaixamento de consciência. A demência é uma síndrome da função cognitiva comprometida acompanhada de um declínio no funcionamento social e ocupacional. O nível de alerta geralmente não é perturbado. O comprometimento cognitivo pode envolver os quatro As: 1. Afasia (distúrbio da linguagem) 2. Amnésia 3. Apraxia (incapacidade de realizar atividades motoras complexas)4. Agnosia (falha em reconhecer ou identificar objetos apesar da função senso- rial intacta) Critérios diagnósticos DSM-IV • Início insidioso • Deterioração cognitiva progressiva • Consciência preservada (s/delirium) • Alteração de memória Obs.: Não deve ser firmado este diagnóstico na presença de delirium” Características clínicas: Prejuízo cognitivo muito maior do que no delirium , insidioso e em geral progressivo. Comprometimento: • Inteligência • Capacidade de aprendizado e memória • Linguagem • Capacidade de solucionar problemas • Orientação • Atenção • Concentração • Habilidades sociais - Alterações comportamentais - Afeto e humor: podem ocorrer sintomas depressivos ou apatia, distanciamento afetivo, labilidade afetiva - Juízo: idéias paranóides podem ser comuns levando a comportamentos querelantes - Alucinações e ilusões podem ocorrer juntamente comcomportamentos psicóticos - Comportamentos agressivos, hipersexualizados, inadequados socialmente (despir-se em publico,etc) - Flutuação nas alterações de comportamento *Pseudodemência, uma condição que às vezes acompanha a doença depressiva. Nesse transtorno, o indivíduo deprimido aparenta ter demência: é incapaz de lembrar-se de maneira correta das coisas, não consegue calcular bem e se queixa, muitas vezes de forma amarga, da perda de habilidades cognitivas. A importância dessa distinção é óbvia. O portador de pseudodemência tem uma doença tratável (depressão) e não uma demência. A pseudodemência está cada vez mais sendo reconhecida como uma Queixa de memória objetiva ↓ Déficit cognitivo documentado por teste neuropsicológicos ou cognitivos ↓ Prejuízo funcional (social ou ocupacional), gradual e progressivo ↓ Excluídas as causas transitórias (delirium, depressão, medicamentos etc) ↓ DEMÊNCIA Letícia Nano – Medicina Unimes condição que ocorre em pessoas com alto risco de progredir para uma demência verdadeira. É claro que o indivíduo com demência pode desenvolver uma depressão maior concomitante, que provavelmente intensificará seus prejuízos de memória e cognição. Epidemiologia Problema de saúde pública: aumenta sua prevalência a cada ano com o envelhecimento da população Brasil - > 65 anos :5% (2000) – 14% em 2025 5% dos indivíduos com mais de 65 anos têm demência grave e 15% leve a moderada, Incidência 5% (65 anos) e 20% acima de 80 anos Ter parente (1o grau) com demência dobra o risco No hospital geral: 9% dos pacientes internados com mais de 55 anos têm demência, sendo a mais prevalente (75%) a vascular, provavelmente decorrente de problemas cardiovasculares. Metade dos quadros decorrem da demência de Alzheimer e um quarto da demência vascular Diagnóstico As melhores ferramentas são: anamnese minuciosa, um exame físico cuidadoso e um exame detalhado do estado mental. Para complementar o exame formal do estado mental, pode-se usar o Miniexame do Estado Mental, um teste rápido do que fornece um índice aproximado do comprometimento cognitivo. O teste avalia orientação, memória, habilidade construtiva e habilidade de ler, escrever e calcular. Trinta pontos são possíveis: um escore de menos de 25 sugere comprometimento, e menos de 20 em geral indica comprometimento claro. A testagem de laboratório é uma parte importante da avaliação para excluir fontes médicas irreversíveis de deficiência cognitiva. Todos os pacientes com demência de início recente devem realizar um hemograma completo, testes de função renal, hepática e da tireóide, testes sorológicos para sífilis e HIV, urinálise, eletrocardiograma e radiografia torácica. Os níveis de eletrólitos, de glicose, vitamina B12 e folato do soro devem ser medidos. A maioria dos estados metabólicos, endócrinos, infecciosos e de deficiência de vitaminas prontamente reversíveis, sejam causais ou complicantes, são descobertos com esses testes simples, quando combinados aos achados da anamnese e de exames físicos. Outros testes de laboratório são úteis em pacientes cuidadosamente selecionados. Por exemplo, TC ou RM cerebrais são apropriadas na presença de história sugestiva de lesão com efeito de massa, sinais neurológicos focais ou demência muito breve. Eletrencefalogramas são apropriados para pacientes com consciência alterada ou suspeita de convulsões. A oximetria de pulso é indicada quando houver evidências de comprometimento da função respiratória. Embora não estejam amplamente disponíveis, as tomografias computadorizadas por emissão de fóton único ou pósitron podem ajudar a distinguir a demência do tipo Alzheimer de outras formas de demência. Na verdade, a tomografia por emissão de pósitron com fluorodeoxiglicose teve recente aprovação pelo Medicare* como ferramenta diagnóstica para distinguir o Alzheimer de outras demências, devido ao hipometabolismo temporal e parietal característico observado nessa doença. A testagem neuropsicológica pode ser muito útil na avaliação da demência. Pode ser feita para obter dados de linha de base com os quais medir as mudanças antes e depois do tratamento, pode servir para avaliar indivíduos com alta formação acadêmica suspeitos de estarem desenvolvendo uma demência precoce quando as imagens cerebrais ou outros resultados de testes são ambíguos, e também pode ajudar a distinguir o delirium da demência e da depressão. A maioria dos portadores de demência pode ser avaliada em regime ambulatorial. Na prática, as baixas hospitalares envolvendo indivíduos com demência em geral ocorrem para avaliação e tratamento de complicações comporta mentais e psicológicas, como agressividade, violência, perambulação, psicose ou depressão. Outros motivos para hospitalização incluem ameaças de suicídio ou comportamentos suicidas, perda rápida de peso ou deterioração aguda sem causa aparente. Tipos de Demência • Alzheimer • Vascular • Com corpos de Lewy (3a mais comum) • Frontotemporal (Pick) • Huntington, Parkinson • Hipotiroidismo, Déficit de vit B1, B12 • Infecciosa (AIDS, Lues) • Prion (Creutzfieldt- Jacob) • Alcóolica Letícia Nano – Medicina Unimes Diagnóstico diferencial das demências • Corticais (Alzheimer, Vascular, Corpos de Lewy) – sintomas cognitivos, perda de memória, alteração da linguagem, praxia • Subcorticais (Huntington , Binswanger-vascular, etc) – sintomas psiquiátricos (depressivos, apatia, irritabilidade), alterações da personalidade, discreta perda de memória, linguagem mantida • Alucinações visuais e auditivas - Corpos de Lewy • Parkinsonismo: Corpos de Lewy, Demencia por Parkinson Doença de Alzheimer É a principal causa de demência. A doença é diagnosticada depois de excluídas as demais causas de demência, já que seu diagnóstico definitivo é o exame anatomopatológico do cérebro. Ocorre quadro de início insidioso, sendo os déficits de memória os primeiros sintomas. A doença progride em fases: 1. Fase inicial: a) Distração; b) Dificuldade para lembrar nomes, palavras e números; c) Dificuldade para aprender coisas novas; d) Desorientação em ambiente familiar; e) Redução das atividades sociais. 2. Fase intermediária: a) Perda marcante da memória e das funções cognitivas; b) Deterioração das habilidades verbais; c) Alterações de comportamento; d) Delírios e alucinações; e) Incapacidade de convívio social; f) Fugas ou perambulação pela casa; g) Início da perda do controle esfincteriano. 3. Fase avançada: a) Tendência de a fala desaparecer; b) Continuam delírios e alucinações; c) Transtornosde comportamento; d) Perda do controle da bexiga e dos intestinos; e) Tendência a ficar acamado; f) Dificuldade para engolir alimentos, necessitando de sonda para alimentação. A doença de Alzheimer é idade-dependente e que o risco aumenta em familiares, demonstrando que a genética está fortemente relacionada. A hereditariedade está mais presente na doença de Alzheimer familiar (15 a 20%), com início precoce, antes dos 65 anos, do que na doença de Alzheimer esporádica (80 a 85%), caracterizada pelo aparecimento em idades mais avançadas. A forma familiar está relacionada à herança autossômica dominante com penetrância idade-dependente. Já na forma esporádica, há um padrão de alta frequência e baixa penetrância, distúrbio relacionado a um único gene ou um modelo multifatorial com múltiplos genes e/ou fatores não genéticos. Demência vascular É a segunda causa mais comum de demência. A demência vascular é causada por várias enfermidades, que têm em comum origem vascular, avc ou trombose, além da obstrução de pequeninas artérias cerebrais, ou por causas cardiorrespiratórias (parada cardíaca ou isquemias cerebrais). Não há critério anatomopatológico claro para o diagnóstico de demência vascular como há para a DA, porém vários critérios clínicos existem. Apresenta quadro clínico de demência mais agudo (repentino) após evento neurológico, como derrame ou trombose. O diagnóstico é feito pelo exame clínico e por tomografia computadorizada ou ressonância magnética de crânio. É clássica por sua evolução em degraus, de acordo com os eventos, deixando sequelas e sinais focais como hemiparesia, disartria, hipoestesia, alteração de marcha, hiper-reflexia etc. Porém, se a doença for de pequenos vasos, pode ser que não haja déficit focal. A demência de Binswanger é um tipo de demência vascular de pequenos vasos que afeta a substância branca e cursa com lentidão psicomotora, alteração comportamental e perda de memória. Letícia Nano – Medicina Unimes O diagnóstico de demência vascular é feito por história clínica, evolução em degraus e presença de alterações em exames neurológico e de neuroimagem – leucoaraiose, geralmente na região de substância branca periventricular. A escala de Hachinski foi criada para facilitar a diferenciação entre DA, demência vascular e demência mista. Uma pontuação alta nessa escala aponta para o diagnóstico de demência vascular, pontuação baixa aponta para DA, e escores intermediários podem indicar demência mista, com componente de Alzheimer e de doença vascular. Demência frontotemporal – DFT A demência frontotemporal foi estudada inicialmente por Pick e diferencia-se da DA por comprometimento comportamental precoce e de memória mais tardio. O início da doença também é mais antecipado, cerca de 10 anos antes das demais demências, por isso é considerada uma demência pré-senil que acomete a maioria antes dos 60-65 anos. Também possui maior fator hereditário associado – cerca de 10 a 20% dos casos. A progressão da doença é mais rápida que na DA, sendo a evolução média de 4 a 8 anos. A forma de apresentação mais comum da DFT é uma mudança progressiva na personalidade e no comportamento. Os marcos da forma comportamental são: 1. Mudança de personalidade; 2. Falta de crítica: o paciente não tem consciência de seus déficits; 3. Perda de percepção social: higiene, discurso ofensivo, urinar ou defecar em locais inadequados etc; 4. Comportamentos estereotipados ou rituais; 5. Perda de empatia: torna-se “frio” e indiferente aos sentimentos dos outros; 6. Alteração de hábito alimentar: compulsão ou desejo por um só tipo de alimento; 7. Sexualização: comportamento inadequado; normalmente, a libido está diminuída em pacientes com DFT. Também há uma forma mais incomum de DFT chamada de afasia não fluente progressiva. O paciente se apresenta com anomia como primeiro déficit, e a partir disso o discurso fluente começa a ficar progressivamente mais difícil, passando por uma linguagem telegráfica e terminando em mutismo. Memória, comportamento e habilidades visuoespaciais estão normalmente preservados no início do quadro. Exemplo prático: MA., 63 anos, sexo masculino, casado, advogado aposentado. O paciente foi encaminhado para o geriatra com história de depressão há 1 anos, sem melhora clínica com o tratamento antidepressivo com imipramina 25mg, 2 vezes ao dia e fluoxetina, 20mg, 2 vezes ao dia (Usou por 3 meses cada medicação). Segundo o paciente, sentia-se desanimado, sem interesse em participar de qualquer atividade laborativa ou lúdica, perda de libido e tendendo a isolar-se socialmente desde que se aposentou há 18 meses. Negava, contudo, sentimentos de tristeza, ideias negativistas ou de morte. Mesmo com os tratamentos antidepressivos empregados, negava melhora clínica. Segundo a esposa, além desses sintomas, M A passou a exibir comportamento desinibido em ambiente social, marcado, principalmente, por jocosidade dirigida mesmo a pessoas não- familiares. Isto, frequentemente, gerava situações constrangedoras, que MA não reconhecia como tal, representando uma significativa mudança da personalidade do paciente, que sempre fora discreto e tímido. Além disso, modificou os hábitos alimentares, aumentando o consumo de água e preferindo alimentos adocicados. Repetidamente, empregava palavras e gestos estereotipados, como ficar batendo os dedos na mesa. Sem antecedentes de doenças clínicas ou psiquiátricas. O exame neurológico não evidenciou sinais neurológicos focais, sendo que, no Mini- Exame do Estado Mental, MA executou adequadamente todas as tarefas, pontuando o escore total. Desempenhou corretamente também o teste do relógio. O paciente desenvolvia invariavelmente um discurso prolixo, mas com ideias lógicas, tendendo a minimizar as alterações comportamentais referidas pela esposa. Algumas vezes, mostrava-se mais desinibido, ironizando sua condição. MA trazia consigo um copo plástico com água, que frequentemente levava à boca, justificando que “tinha muita sede”. ➔ Hipótese diagnóstica: demência fronto-temporal Doença de Lewy A demência por corpúsculos de Lewy é assim chamada devido à presença de inclusões citoplasmáticas eosinofílicas hialinas no córtex e no tronco encefálico, porém com quantidade variável de placas senis e de emaranhados neurofibrilares, típicos de DA. Os critérios diagnósticos prováveis são parkinsonismo – bradicinesia, tremor, rigidez e instabilidade postural –, flutuação da cognição e do comportamento, alucinações visuais vívidas enquanto os critérios sugestivos seriam alta sensibilidade aos efeitos extrapiramidais dos antipsicóticos, alterações comportamentais no sono REM e baixa captação dopaminérgica nos núcleos da base. Na prática clínica, o diagnóstico de Lewy é difícil e muitas vezes pode ser confundido com delirium pelo padrão flutuante. Diferentemente da DA, a perda de memória não é o déficit cognitivo mais proeminente na doença por corpúsculos de Lewy. Os déficits de atenção, executivo e visuoespacial são mais marcantes no início do quadro. As flutuações de atenção podem ocorrer no início do quadro. Estima-se que 60 a 80% dos pacientes apresentem esse achado, que pode ser confundido com delirium em um primeiro momento. As alucinações visuais ocorrem em cerca de 2 terços dos pacientes e podem ser desde simples percepções visuais errôneas de cores, formas e borrões até manifestações complexas, como diálogos Letícia Nano – Medicina Unimes com pessoas falecidas. O parkinsonismo é encontrado em até 90% dos pacientes com Lewy e normalmente é simétrico, de leve a moderado. O paciente com Lewy também pode apresentar quadro disautonômico – constipação intestinal, hipotensãoortostática, disfunção erétil, gastroparesia – e incontinência urinária de urgência. A doença de Lewy está aumentando sua incidência, chegando perto da 2ª causa mais comum de demência. DL, 76 anos, sexo masculino, aposentado, mora com a esposa de 68 anos. DL apresenta “problemas de memória” há 5 meses, segundo a esposa, mas, recentemente, tornou-se mais agressivo, fala que querem matá-lo e, frequentemente, mostra-se assustado relatando ver imagens de pessoas que já morreram. Há 2 meses, está andando com dificuldade e precisa de ajuda para cuidar-se. Chegou a cair duas vezes na última semana porque perdeu o equilíbrio. Sua fala está mais difícil de entender. Mostra sinais de parkinsonismo e hipomimia, mostrando um humor apático. Sua esposa relata que por mais de 10 anos DL bebia muito, todos os dias e que parou de usar álcool há 7 anos. Emagreceu 10 kg no último ano e alimenta-se muito mal, com diminuição importante de apetite. DL sente-se triste pergunta ao médico se vai morrer, pois tem escutado vozes do “além”. Será que são espíritos, chegou minha hora doutor? Eu estou fraco, não consigo andar sem ajuda e minha cabeça falha. ➔ Hipótese diagnóstica: doença de Lewy Demências potencialmente reversíveis São os distúrbios cognitivos e comportamentais potencialmente reversíveis com o tratamento específico da causa-base. É difícil estimar a prevalência desse grupo, porém acredita-se que pode chegar a 10% dos casos de demência. Entre as encefalopatias tóxicas, encontramos os medicamentos como causa de cerca de 17% dos casos de delirium e cerca de 1% dos casos de declínio cognitivo. Os medicamentos podem levar à demência por ação direta ou exacerbar quadro clínico preexistente. Os hipnóticos e sedativos, bem como os anticonvulsivantes, anticolinérgicos e antipsicóticos estão entre as principais classes relacionadas ao declínio cognitivo. Outros são os antidepressivos e os corticosteroides. O uso crônico de benzodiazepínicos está associado a alterações cognitivas e motoras e pode alterar a percepção visuoespacial A maior causa de demência potencialmente reversível é a depressão, que deve ser tratada quando identificada. Convém sempre lembrar de causa medicamentosa para delirium ou queixa de memória, pois há uma grande prevalência de uso de benzodiazepínicos em idosos. Além das medicações, porém mais incomuns, são as intoxicações por mercúrio, alumínio, chumbo, arsênio etc. Esses quadros estão associados a neuropatias periféricas, bem como sintomas extrapiramidais. Não há recomendação de avaliação de rotina para diagnóstico diferencial de demência. Recomenda-se a avaliação individualizada de acordo com a anamnese e o exame físico do paciente. A American Academy of Neurology recomenda um exame de neuroimagem não contrastado para avaliação inicial, embora haja centros que sugiram realizar exames de imagem apenas quando existirem achados atípicos ou sintomas não usuais. A incidência de demências reversíveis tem declinado ao longo das últimas décadas. Tratamento O tratamento de escolha é não farmacológico. Mudanças ambientais Ensinar o manejo aos familiares Fármacos na demência -> Sintomas psicóticos: EVITAR O USO!!!! Antipsicóticos (uso moderado, baixas doses, período curto) • Típicos: Haloperidol (0,5-1 mg/d) Evitar clorpromazina • Atípicos Risperidona (0,5 mg/d), Olanzapina (2,5mg/d) Não USAR NA Demência COM CORPOS DE LEWY. Risco de morte súbita -> Depressão: Antidepressivos (Não prescrever tricíclicos) Letícia Nano – Medicina Unimes Fluoxetina (10-20mg/d) e outros IRSS (citalopram, sertralina) -> Insônia Trazodone, Mirtazapina ->Função cognitiva e atividades diárias: Para MMS (10- 20) – moderada gravidade Anticolinesterásicos: Alzheimer (donezepil 5-10mg/d;rivastigmina 5-12 mg/d, galantamina). Memantina não é indicada. Demência de Lewy: memantina 5-20mg/d, donezepil 5-10mg/d; rivastigmina 5-12 mg/d, galantamina) Não indicados para D. Vascular Melhora observada em 3 meses de tratamento e nova piora após 9 meses Efeitos colaterais: náuseas, vômitos, diarréia, perda de apetite Agitação psicomotora nas demências – causas • Dor ou desconforto físico • Delirium • Induzida por medicação • Interação medicamentosa • Retirada de medicação • Fatores estressores: barulho, excesso de estimulação, aglomeração de pessoas, mudanças na rotina, isolamento • Síndromes psiquiátricas (psicose) • Pela própria demência Tratamento da agitação Aguda - Se leve: medidas ambientais. - Se grave (comportamento violento): medicação Dar preferência para antipsicóticos em muito doses baixas : convencionais (haloperidol) e em segundo lugar, risperidona, olanzapina. Não usar clorpromazina. Preferir VO. *Não usar Diazepam!!! (Se for necessário usar Benzodiazepínico, como terceira opção, o de menor risco é o Lorazepam IM- exceção) ** ATENÇÂO: risco de morte súbita e AVC com antipsicóticos (usar com muito cuidado, em situações de exceção) Manutenção: Anticolinerterásicos podem ajudar nas alterações de comportamento de inquietação, agressividade. Evitar longos períodos de antipsicóticos. SINTOMAS PSIQUIÁTRICOS SECUNDÁRIOS A DOENÇAS FÍSICAS • TUMOR CEREBRAL : SINTOMAS PSIQUIÁTRICOS EM 50% (REGIÃO FRONTAL OU TEMPORAL ) • ABCESSO CEREBRAL : SINTOMAS PSIQUIÁTRICOS • ESCLEROSE MÚLTIPLA : SINTOMAS DE ALTERAÇÃO DO HUMOR EM 25%— EUFORIA OUDEPRESSÃO; DEFICIT COGNITIVO EM 25%; ALTERAÇÕES DE PERSONALIDADE EM 25% (APATIA,IRRITABILIDADE) • DOENÇA DE PARKINSON : DEPRESSÃO EM 50%, L-DOPA PODE CAUSAR PSICOSE • LUPUS ERITEMATOSO SISTEMICO, 5% NO INÍCIO, 50% EM ALGUMA FASE DA DOENÇA: ALTERAÇÃO DO HUMOR, PSICOSE, DELIRIUM E CONVULSÕES Letícia Nano – Medicina Unimes • HIV DEMENCIA IN 30% PSICOSE • CUSHING’S DISEASE : DEPRESSÃO GRAVE, PSICOSE EVENTUAL • ADDISON’S DISEASE : APATIA, FADIGA EM 80%; DEPRESSÃO EM 50%; DEFICIT COGNITIVO EM50%; PSICOSE EM 5% • HIPERTIROIDISMO ANSIEDADE, DEPRESSÃO, MANIA, DELIRIUM • HIPOTIROIDISMO LENTIFICAÇÃO MENTAL, SINTOMAS DEPRESSIVOS SÃO COMUNS; RAROS‘MYXOEDEMA • HIPERCALCEMIA: PSICOSE, DELIRIUM AE TRANSTORNO HUMOR EM 50%; DEFICIT COGNITIVO EM25% Referências: • Dalgalarrondo, P Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais. Porto Alegre,2000 • Nancy C. Andreasen, Introdução à Psiquiatria • www.jaleko.com.br http://www.jaleko.com.br/
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