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Trabalho Penal

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parte 1
DIREITO PENAL ESPECIAL
DOS CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
PARTE 2 
DOS CRIMES PRATICADOS POR PARTICULAR CONTRA A ADMINISTRAÇÃO EM GERAL
DIREITO – DIURNO
2020
DOS CRIMES PRATICADOS POR PARTICULAR CONTRA A ADMINISTRAÇÃO EM GERAL
SUMÁRIO: 1.0 Conceito de funcionário publico; 2.0 Conceito de funcionário publico, para fins penais; 3.0 Crimes contra a Administração Púbica; 3.1 Crimes Funcionais; 4.0 Peculato; 4.1 Tipos de Peculato; 4.2 Peculato x Apropriação Indébita; 5.0 Concussão; 5.1 Mudança na pena do crime de concussão; 6.0 Corrupção Passiva; 7.0 Facilitação de contrabando ou descaminho; 8.0 Prevaricação
1.0 – Conceito de funcionário público
Denominam-se servidores públicos aquela pessoas que prestam serviços a Administração (Direta e Autárquica), e que são subespécies dos agentes públicos administrativos. 
Funcionários públicos são aqueles servidores da Administração Direta, os admitidos para serviços temporários, servidores contratados em regime especial e servidores contratados pela CLT.
Os funcionários públicos propriamente ditos são os servidores legalmente investidos nos cargos públicos da administração direta e sujeitos as normas do estatuto da entidade estatal a que pertencem.
2.0 - Conceito de funcionário público, para fins penais 
Dispõe o Código Penal, em seu artigo 327: “Considera-se funcionário publico, para os efeitos penais, quem, embora transitoriamente ou sem remuneração, exerce cargo, emprego ou função publica”.
O conceito de funcionário publico, para fins penais, se aparta da noção de Direto Administrativo, onde duas principais teorias são formuladas: uma restritiva, segundo o qual só é funcionário publico aquele que, na representação da soberania do Estado, exerce um poder de império ou dispõe de autoridade, ou a quem é confiado um certo poder discricionário; e outra extensiva, onde funcionário publico é quem quer que exerça, profissionalmente, uma função publica, seja esta de império ou de gestão, ou simplesmente publica.
Prelecionava Gavazzi que o conceito de funcionário publico deve ser, assim, ligado a qualquer atividade do Estado que vise diretamente a satisfação de uma necessidade ou conveniência publica. 
Nosso Código Penal adotou a noção extensiva, dando maior elasticidade ao conceito de funcionário publico, não exigindo, para caracterização de funcionário publico, nem mesmo exercício profissional ou permanente da função publica. 
Segundo Nelson Hungria, como corolário do art. 327, não é propriamente a qualidade de funcionário publico que caracteriza o crime funcional, mas o fato de que é praticado por quem se acha no exercício da função publica, seja esta permanente ou temporária, remunerativa ou gratuita, exercida profissionalmente ou não, efetiva ou interinamente, ou per accidens (ex: o jurado, a cujo respeito achou de ser expresso o art. 438 do CP. Penal; o depositário nomeado pelo juiz etc.). 
O artigo 327 do Código Penal abrange todas as atividades do Estado: a de legis executio (atividade retória, pela qual o Estado praticamente se realiza); a da legis latio (atividade legislatória, ou de normatização da ordem político-social); a da juris dictio (atividade judiciaria, ou de apuração e declaração da vontade da lei nos casos concretos).
Não confundir, entretanto, função publica como múnus publico, estes nao exercestes de função publica, como, por exemplo: os tutores e curadores dativos, os inventariantes judiciais, os síndicos falimentares (esses últimos sujeitos a lei especial).
Também não são funcionários públicos os concessionários de serviços públicos e seus empregados. 
Os leitores, bem assim os mesários, são exercentes de função publica; mas tem regime penal especial. 
3.0 – Crimes contra a Administração Púbica 
Os Crimes contra a Administração Publica são um capitulo do Código Penal que se dividem em quatro subcapítulos, praticados por funcionários públicos contra a administração em geral (art. 312 a 326 do CP); praticados por particular contra administração em geral (art. 328 a 337-A do CP) / contra a administração publica estrangeria (art. 337-B a 337-D do CP); praticados contra a administração da justiça (art. 338 a 359-H do CP).
3.1 – Crimes Funcionais 
São aqueles que só podem ser cometidos por pessoas que exercem funções publicas. 
Funcionário Púbico – art. 327. Considera-se funcionário publico, para efeitos penais, quem embora transitoriamente ou sem remuneração, exerce cargo, emprego ou função publica. 
§1 Equipara-se a funcionário publico quem exerce cargo, emprego ou função em entidade paraestatal, e quem trabalha para empresa prestadora de serviço contratada ou conveniada para a execução de atividade TIPICA da Administração Púbica. 
Funcionários aposentados não cometem crime funcional, pois não mais é considerado funcionário publico. Funcionário de licença ou ferias, que se vale da função de direção ou assessoramento, ha aumento da pena.
§2 do art. 327 – “A pena será aumentada da terça parte quando os autores dos crimes previstos nesse Capitulo forem ocupantes de cargos em comissão ou de função de direção ou assessoramento de órgão da administração direta, sociedade de economia mista, empresa publica ou fundação instituída poder púbico”.
O crimes funcionais são divididos em próprios e impróprios. Próprios: são aqueles que só podem ser cometidos por funcionários públicos. É a própria definição de crime funcional. Nesses crimes funcionário publico é o que se chama em direito elementar do tipo. Funcionário publico é um elemento (dai ser uma elementar) que aparece em todas essas definições de delito de forma essencial. Portanto, se essa elementar (funcionário publico) estiver ausente no fato descrito, ele simplesmente não é um crime (é um fato atípico). Ex: art. 325. Violação de sigilo funcional
“Revelar fato de que tem ciência em razão do cargo e que deva permanecer em segredo, ou facilitar-lhe a revelação”. Pena de 6 meses e 2 anos, ou multa, se o fato não constitui crime mais grave.”
Imagine que você não é funcionário publico ou equiparado e por acaso encontra no lixo, andando pela rua, um relatório com informações secretas sobre o governo e resolve divulgar tudo em um site. Você não tem qualquer obrigação funcional de sigilo, logo, tal conduta não configura crime. É uma conduta atípica, já que o código penal não prevê um tipo que a descreva como crime. 
Improprio: saindo a elementar funcionário publico da definição do fato, este deixa de ser um crime funcional, mas subsiste outro delito na conduta mencionada. 
Ex: Peculato é um crime funcional improprio, pois praticada a conduta descrita no tipo penal por quem não é funcionário publico, resta presente o crime de apropriação indébita. Ou seja, apropriar-se indevidamente de algo que se tem a posse ou detenção é sempre crime, mas se feito por funcionário público em razão do cargo, este crime se torna mais grave, sendo tipificado de forma especifica pela lei, com uma pena maior. 
Na hipótese de concurso de pessoas (crime cometido por mais de uma pessoa em conjunto), a elementar “funcionário público” comunica-se a terceiros participantes (art. 30 CP), desde que o terceiro tenha conhecimento da qualidade de funcionário público do autor. Isto quer dizer que, se a pessoa não é funcionário publico ou equiparado, mas resolve praticar um crime com alguém que seja, sabendo desta condição, ela responde pelo mesmo crime praticado por este, ainda que seja um crime funcional, ou seja, crime só praticado por funcionário público.
4.0 – Peculato 
O crime de peculato é definido pelo Código Penal (artigo 312) como a apropriação, por parte de um funcionário público, de um bem a que ele tenha acesso por causa do cargo que ocupa.
Para ilustrar: um funcionário usa um carro comprado pelo poder público para o seu trabalho e de repente passa a tratar como seu: dá de presente para o filho, por exemplo.
O peculato também pode acontecer por conta do desvio de um bem, seja em benefício próprio ou de outras pessoas. Exemplo: desviar um recurso público que promoveria projetos culturaispara um casamento.
É importante notar que o crime nem sempre envolve bens públicos: se o funcionário público cuida de um bem particular por causa do seu trabalho e se apropria dele (por exemplo, bens confiscados), também está cometendo peculato.
A pena para quem comete peculato é de 2 a 12 anos de prisão e multa.
4.1 -Tipos de Peculato 
Além do peculato-apropriação e do peculato-desvio, que já comentamos, existem outras formas desse crime, também apresentados no Código Penal.
O peculato-furto acontece quando o funcionário rouba um bem público mesmo sem ter posse sobre o bem. Por exemplo, roubar um item do almoxarifado do órgão onde trabalha.
O peculato culposo ocorre quando o servidor comete erros que permitem que outra pessoa roube o bem que estava em sua posse por conta do cargo (exemplo: um policial que cuida de armas e por um descuido deixa elas desprotegidas, permitindo o roubo). Esse tem uma pena mais leve (três meses a um ano).
A pena pode ser extinta se o funcionário reparar o dano antes de ser condenado (ou seja, compensar o valor roubado). Se reparar o dano depois de condenado, o funcionário ainda tem sua pena reduzida pela metade.
existe também o peculato mediante erro de outrem (ou peculato estelionato), que acontece quando o servidor, no exercício do cargo, se apropria de um bem por conta do erro de outra pessoa (cidadão ou outro servidor). Um a quatro anos de prisão para quem se aproveitar do erro dos outros.
Finalmente, ainda existe o peculato eletrônico, previsto no artigo 313. É quando o funcionário insere dados falsos em um sistema da Administração Pública, ou modifica um sistema público de informática sem autorização para se beneficiar. Exemplo: um funcionário que altera no sistema o seu salário.
Podemos perceber, portanto, que o peculato precisa preencher duas condições principais:
1. O agente do crime é um funcionário público;
2. O agente tinha posse sobre o bem apropriado ou desviado por conta da sua função (no caso do peculato-furto, mesmo sem possuir o bem, o funcionário se vale da posição para roubá-lo).
Além disso, o peculato acontece mesmo que o servidor que cometeu o crime não seja diretamente beneficiado. Não importa se quem se deu bem com o roubo foi o servidor ou qualquer outra pessoa: se alguém se apropriou de um bem público que estava sob a responsabilidade de um agente público, esse agente cometeu um crime.
4.2 - Peculato x Apropriação indébita 
Também é importante dizer que o peculato é diferente do crime de apropriação indébita. A apropriação indébita acontece quando alguém que está em posse de um bem de outra pessoa (com o consentimento dela) passa a agir como se o bem fosse seu (exemplo: você empresta uma televisão para um parente, que depois não quer devolvê-la quando você a cobra de volta). A diferença entre os dois é que a apropriação indébita ocorre entre particulares, não envolve a ação de um funcionário público em serviço.
5.0 – Concussão
É o crime praticado por funcionário público, em que este exige, para si ou para outrem, vantagem indevida, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela. O crime é punido com pena de reclusão, de dois a doze anos, e multa. Os parágrafos 1º e 2º, do artigo 316, do Código Penal, preveem o excesso de exação, que são as formas qualificadas do delito de concussão, com pena de reclusão de três a oito anos e multa, o funcionário que exige tributo ou contribuição social que sabe ou deveria saber indevido, ou, quando devido, emprega na cobrança meio vexatório ou gravoso, que a lei não autoriza, e com pena de reclusão, de dois a doze anos, e multa, aquele que desvia, em proveito próprio ou de outrem, o que recebeu indevidamente para recolher aos cofres públicos.
5.1 - Mudança na pena do crime de concussão
A Lei nº 13.964/2019 promoveu significativas mudanças na legislação penal e processual penal. Uma delas, bastante elogiável, diz respeito à alteração da pena máxima do crime de concussão, previsto no art. 316 do Código Penal Brasileiro.
Antes de apontar o motivo pelo qual a mudança é elogiável, é pertinente fazermos uma rápida revisão acerca dos elementos que compõem o tipo penal em comento. Assim, o art. 316 do CPB tipifica como sendo concussão a conduta do funcionário público, contra a Administração Pública em geral, consistente em:
Art. 316. Exigir, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida.
A exigência trazida pelo artigo está ligada a uma ideia de ordem, imposição, comando.  Tal exigência pode ocorrer de forma direta (pessoalmente, pelo próprio agente) ou indireta (quando o agente faz de forma mascarada, velada, ou quando se utiliza de um terceiro para fazê-la).
Também é necessário que o agente se valha da função para realizar tal exigência (pensemos nas hipóteses do sujeito que está de férias, ou que já foi nomeado em determinado concurso público, mas ainda não está empossado, ou mesmo quando o funcionário já está no exercício regular de suas funções).
Por fim, o tipo penal aponta que a exigência deve ter por objetivo a obtenção de uma vantagem indevida, que pode ser associada à ideia de ganho, benefício, privilégio, contrário ao direito. Essa vantagem indevida pode ser para o próprio agente ou para um terceiro (outrem). 
Feita essa rápida revisão, não podemos deixar de lembrar que, dada a relação de semelhança entre os tipos penais, há quem afirme ser a concussão (art. 316, do CPB) um “delito irmão” da corrupção passiva, prevista no art. 317, do CPB (Greco, 2019, p.774). 
Art. 317. Solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida, ou aceitar promessa de tal vantagem.
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa. (Grifou-se).
Foquemos no verbo “solicitar”. Tal conduta está ligada à ideia de pedido, súplica. Assim, se levássemos em conta a redação do art. 316 antes da alteração promovida pela Lei n° 13.964/2019, percebíamos certa desproporcionalidade entre o apenamento dado às figuras típicas da concussão e da corrupção passiva (Nucci, 2019, p. 774).  
Isso ocorria porque a pena conferida à concussão era de reclusão, de 02 (dois) a 08 (oito) anos, e multa. Por outro lado, o art. 317, que trata da corrupção passiva, prevê pena de reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa.
Como dito, tratava-se de evidente desproporcionalidade, pois aquele que exigia (ordenava, impunha), para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida, teria um apenamento máximo menor do que o agente que apenas solicitasse (pedisse).
Ora, exigir é uma conduta visivelmente mais grave do que solicitar, não havendo nada que justificasse um apenamento menor. Nesse sentido, a Lei 13.964/19, em atendimento a antigos apelos de nossos autores, promoveu significativa mudança em relação à pena máxima aplicável ao crime do art. 316 do CPB, passando a ser de reclusão, de 02 (dois) a 12 (doze) anos, e multa. Assumindo, por conseguinte, a seguinte forma:
Art. 316. Exigir, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida”.
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa. (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019).
6.0 - Corrupção Passiva
O crime de corrupção passiva consiste no fato de o agente "solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida, ou aceitar promessa da tal vantagem" (CP, art. 317, caput). São cinco os elementos que integram o delito; (1) a conduta de solicitar ou receber, para si ou para outrem; (2) direta ou indiretamente; (3) ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela; (4) vantagem indevida; (5) ou aceitar promessa da tal vantagem.
A corrupção passiva pode ser: (1) própria - quando o atoa ser realizado (ou a deixar de ser realizado) pelo funcionário é ilegal. Exemplo: um guarda de trânsito solicita do corruptor determinada quantia em dinheiro para não lavrar uma multa; (2) imprópria - quando o ato a ser realizado (ou a deixar de ser realizado) pelo funcionário é legal. Exemplo: um oficial de justiça recebe do corruptor determinada quantia em dinheiro para agilizar a citação de alguém; (3) antecedente - quando a vantagem indevida é entregue ao funcionário público antes da ação ou omissão funcional; (4) subsequente - quando a vantagem indevida é entregue depois.
Trata-se de crime próprio (aquele que exige do agente uma determinada qualidade especial), unissubsistente (quando realizado com um só ato) ou plurissubsistente (quando realizado por meio de vários atos), comissivo (decorre de uma atividade positiva do agente, pois o verbos implicam em ações) e, excepcionalmente, comissivo por omissão (quando o resultado deveria ser impedido pelos garantes – art. 13, § 2º, do CP), de forma livre (pode ser cometido por qualquer meio de execução), formal (se consuma sem a produção do resultado naturalístico, consistente no efetivo recebimento da vantagem indevida, na modalidade "solicitar") ou material (só se consuma com a produção do resultado naturalístico, nas modalidades "receber" e "aceitar"), instantâneo (a consumação não se prolonga no tempo), monossubjetivo (pode ser praticado por um único agente), doloso (não há previsão de modalidade culposa), transeunte (praticado de forma que não deixa vestígios, não havendo necessidade, em regra, de prova pericial).
7.0 - Facilitação de contrabando ou descaminho
A conduta tem previsão no art. 318 do CP:
Facilitar, com infração de dever funcional, a prática de contrabando ou descaminho (art. 334):
Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa.
Esse tipo tem por finalidade punir o funcionário público que, infringindo dever que lhe é imposto, facilita a realização do contrabando ou do descaminho (que são crimes praticados por particulares).Um exemplo de cometimento do delito ocorre quando um agente público de alfândega não realiza diligentemente a fiscalização que lhe cabe, facilitando, assim, o contrabando ou o descaminho. Do mesmo modo que a corrupção, esse crime é uma exceção à teoria monista adotada no art. 29 do CP.
8.0 – Prevaricação 
O conceito de prevaricação aparece no art. 319 do CP:
Retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou praticá-lo contra disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal: 
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa.
 Nesse crime, busca-se tutelar a Administração Pública e seu adequado funcionamento. Em segundo plano, quer-se a proteção dos interesses particulares ocasionalmente ofendidos. Quando há a prática da infração, é violado o princípio da impessoalidade. 
Na prevaricação, o agente viola dever funcional para satisfazer interesse pessoal. Ou seja, o ato do funcionário irá contra a disposição legal. Ainda, o interesse visado não pode ser pecuniário, já que, se for, o crime será de corrupção passiva.
A prevaricação imprópria está definida no art. 319-A do CP:
Deixar o Diretor de Penitenciária e/ou agente público, de cumprir seu dever de vedar ao preso o acesso a aparelho telefônico, de rádio ou similar, que permita a comunicação com outros presos ou com o ambiente externo:
 Lei 11.466, de 28/03/2007 (Acrescenta o artigo)
Pena: detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano.
A proteção aqui visa, além da Administração Pública, a segurança interna dos presídios. A prática da infração, pela leitura do artigo, ocorre por omissão.
Importante atentar para o fato de que o nome "prevaricação imprópria" foi dado pela doutrina, nada dispondo a lei nesse sentido.
DOS CRIMES PRATICADOS POR PARTICULAR CONTRA A ADMINISTRAÇÃO EM GERAL
SUMARIO: 1.0 Usurpação de função pública; 2.0 Desacato; 3.0 Corrupção ativa; 4.0 Descaminho e contrabando. 5.0 Resistência e Desobediência.
1.0 Usurpação de função pública
O capítulo II do Código Penal Brasileiro trata dos crimes praticados por particular contra a administração em geral.
O crime de Usurpação de função pública está previsto nesse Diploma Legal como: Art. 328. Usurpar o exercício de função pública. Pena Detenção, de três meses a dois anos e multa. Parágrafo Único: Se do fato o agente aufere vantagem. Pena Reclusão, de dois a cinco anos e multa.
A expressividade do artigo é destinada ao particular quando este pratica tal ilícito contra a administração em geral, embora para boa parte dos juristas, o próprio funcionário público possa também ser autor ou coautor do crime .
Usurpar que é derivado do latim USURPARE, significa apossar-se sem ter direito. Usurpar a função pública é, portanto, exercer ou praticar ato de uma função que não lhe é devida.
A punição se dá quando alguém toma para si, indevidamente, uma função pública alheia, praticando algum ato ou vontade correspondente, entretanto, a função usurpada há de ser absolutamente estranha ao usurpador para a configuração do crime.
Por função, entende-se que é a atribuição ou conjunto de atribuições atinentes à execução de serviços públicos. Todo funcionário público ou assemelhado tem a sua função definida em Lei específica ou Estatuto.
O artigo 327 e seu Parágrafo único do Código Penal definem as modalidades de funcionário público e suas equiparações ou assemelhados, quando reza no seu bojo: Considera-se funcionário público, para os efeitos penais quem, embora transitoriamente ou sem remuneração, exerce cargo, emprego ou função pública. Equipara-se a funcionário público quem exerce cargo, emprego ou função em entidade paraestatal.
Por cargo, entende-se cargo de comissão ou cargo de confiança que em determinados Poderes podem ser exercidos por particulares, ou seja, por pessoas distintas do real funcionalismo público estatal, mas que por semelhança e por força de Lei, agem como se funcionários fossem.
O crime é consumado com a prática do primeiro ato de ofício, independente do resultado, ou seja, não importando se o exercício da função usurpada é gratuito ou oneroso .
Admite-se a tentativa do crime, desde que a prática do ato criminoso exija um caminho, ou seja, haja uma vertente de intenção de lucro qualquer ou prestígio do agente ativo do delito.
No parágrafo único do artigo 328 do Código Repressivo há a figura qualificada do delito cuja pena passa a ser de reclusão de dois a cinco anos e multa para o agente usurpador da função pública que auferir algum tipo de vantagem com o seu ato criminoso.
Nesse caso, o legislador não expressa a categoria da vantagem, daí, portanto, subtender-se tratar de qualquer tipo, seja ela de cunho econômico ou não. Desde que haja vantagem auferida no ato criminoso configura-se essa qualificadora do mesmo modo, ensina o mestre JULIO FABRINI MIRABETE: o sujeito ativo do crime é aquele que usurpa função pública, em regra o particular, mas nada impede que um funcionário público o faça, exercendo função que não lhe compete...
Na mesma linha de direção entende MAGALHAES NORONHA: podem também ser praticados por funcionário público que, então, não age como tal; não atua no desempenho de suas funções, e é, por isso, considerado particular.
2.0 –Desacato 
Art. 331 - Desacatar funcionário público no exercício da função ou em razão dela.
Quem desacata (com o intuito de humilhar, desprestigiar - RT 500/317, RT 526/356) funcionário público no exercício da função ou razão dela prática o crime previsto no artigo 331, do Código Penal.
Jorge Beltrão (Desacato, resistência e desobediência, p.55) entende que: O desacato é, portanto, uma imposição social, sob pena de subversão da ordem jurídica na aplicação e cumprimento das ordens emanadas das autoridades revestidas de função pública
Não configuração do crime de desacato
Para configurar o crime, é necessário que o agente tenha se conduzido com ânimo calmo:
Para caracterização do desacato, é preciso que a intenção de ofender seja certa; a vivacidade a cólera, a falta de educação, embriaguez, podem fazeruma pessoa pronunciar palavras malsoantes, sem intenção de injuriar. (RT 373/184 - TJSP)
O crime de desacato não se aplica se o acusado em meio a discussão com policial, faz críticas à instituição a que o mesmo pertence, conforme se entendeu no RT 534/326 - TJSP, como assim também entendeu no RT 775/715 - TRF3)
E se aquele que foi preso injustamente profere palavras injuriosas, segundo o entendimento do TACrimSP - RT 557/349, não há dolo, pois o que há é irritação pela prisão injusta. Bem como, o Tribunal de Justiça do Distrito Federal, no RT 779/621, entendeu que não se caracteriza o crime de desacato quando, o acusado profere palavras ofensivas, dirigidas contra agentes públicos, em momento de descontrole emocional, fruto da exaltação em que o acusado foi preso e quase arrastado para uma viatura de polícia.
3.0 – Corrupção Ativa
Os crimes de corrupção é abominado pela esmagadora maioria dos brasileiros. Em especial, devido às corriqueiras denúncias contra figurões do alto escalão do poder público.
Previsto no art. 333 do Código Penal, o crime de corrupção ativa é cometido por particular em face do funcionário público:
Art. 333. Oferecer ou prometer vantagem indevida a funcionário público, para determina-lo a praticar, omitir ou retardar ato de ofício.
Logo, o crime de corrupção ativa consuma-se com o simples oferecimento da vantagem indevida a funcionário público. A pena é aumentada de 1/3 caso esse realize o pedido do particular. Isto é, retarde, não realize ou pratique ato infringindo seu dever.
4.0 - Descaminho e contrabando
Contrabando – prestígio da Administração Pública, interesse socioeconômico do Estado e, ainda, a moralidade e a segurança públicas e, por vezes, o produto nacional.
Descaminho – prestígio da Administração Pública e o interesse socioeconômico do Estado.
 Sujeito ativo: particular.
 Sujeito passivo: Contrabando – União
 Tipo objetivo: Contrabando – a conduta típica consiste em importar e exportar mercadoria proibida (art. 334-A).
Descaminho – fraudar o pagamento de tributo devido à Fazenda Pública pela exportação ou importação de mercadoria (art. 334).
Tratando-se de drogas (lei 11.343/2006) ou armas de fogo (10.826/2003), prevalecerão estas leis pelo princípio da especialidade, conforme determina o artigo 12 do CP.
Tipo subjetivo: o dolo.
Consumação: o descaminho se perfaz com a liberação da mercadoria permitida pelos órgãos de fiscalização ou sua entrada ou saída no país sem o recolhimento do tributo.
Tentativa: é admissível.
A competência é da Justiça Federal, conforme Súmula 151 do STJ. O funcionário público que concorrer para o crime responderá pelo art. 318 do CP se violar dever funcional; caso contrário, pelo art. 334 do CP, pois estará agindo como particular.
Sobre o princípio da insignificância no crime de descaminho, o art. 20 da lei nº 10.522/2002 determina o valor de até R$ 10.000,00, havendo arquivamento de execuções fiscais de débitos da dívida da União. Porém, tem-se decisão do STF que, nos termos das Portarias 75/2012 e 130/2012 do Ministério da Fazenda, leva-se em consideração o valor de R$ 20.000,00:
Nos termos da jurisprudência deste Tribunal, o princípio da insignificância deve ser aplicado ao delito de descaminho quando o valor sonegado for inferior ao estabelecido no art. 20 da Lei 10.522/2002, com as atualizações feitas pelas Portarias 75 e 130, ambas do Ministério da Fazenda. Precedentes. II – Mesmo que o suposto delito tenha sido praticado antes das referidas Portarias, conforme assenta a doutrina e jurisprudência, norma posterior mais benéfica retroage em favor do acusado. III – Ordem concedida para trancar a ação penal (HC 139.393/PR, DJe 02/05/2017).
Já o STJ, por sua vez, no julgamento do Recurso Especial nº 1.393.317/PR, havia decidido em 2014 que nos crimes de natureza tributária só se aplicava em casos do valor igual ou inferior a R$ 10.000,00. Não obstante, em razão da decisão do STF, através do julgamento do REsp 1.688.878 e REsp 1.709.029 em 2017, o STJ modificou sua jurisprudência para ficar alinhada com a Corte Suprema, também reconhecimento como R$ 20.000,00 o princípio da insignificância nos termos das Portarias supracitadas.
Quanto ao crime de contrabando, como regra, os tribunais superiores não aceitam o princípio da insignificância, vez que, além do prejuízo tributário, há a questão da gravidade, segurança, moralidade etc. pois a importação de produtos proibidos pode causar danos de maior gravidade. Assim ditam alguns julgados como STF, HC 118.431/MG, 04/11/2016, HC 131.205/MG, 22/09/2016; STJ: AgRg no AREsp 697.456/SC, 28/10/2016.
Há que se lembrar que o pagamento do tributo devido extingue a punibilidade, conforme Súmula 560 do STF.
5.0 - Resistência e Desobediência 
Resistência (art. 329, Código Penal)
O crime de resistência configura-se quando alguém se opõe à execução de ato legal, mediante violência ou ameaça a funcionário competente para executá-lo ou a quem lhe esteja prestando auxílio (art. 329, Código Penal).
Destaque-se que, para haver o crime, é necessário tratar-se de “execução de ato legal”. Logo, sendo o ato ilegal, não há que se falar em crime de resistência (Fonte: Advocacia Pinheiro).
A pena é aumentada, caso o ato não se execute, em razão da resistência. O acusado poderá responder, também, pelo crime de lesão corporal, caso haja.
Desobediência (artigo 330, Código Penal)
O crime de desobediência ocorre quando a pessoa desobedece uma ordem legal de funcionário público. Novamente, vale enfatizar a expressão “ordem legal”. Assim, para que a ordem seja considerada “legal”, é necessário que a lei determine a ordem
Referências bibliográficas:
GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal: parte especial, volume III. 16. ed. Niterói, RJ: Impetus, 2019.
NUCCI, Guilherme de Souza. Curso de direito parte especial: arts. 213 a 361 do código penal. 3. ed. Rio de janeiro: Forense, 2019.
NORONHA, Magalhães: Direito Penal. Saraiva. São Paulo.
MIRABETE, Julio Fabrini: Código Penal Interpretado. Editora Atlas: São Paulo, 2000.

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