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7 1ºAula O conhecimento como característica de humanização: cultura e processos sociais Olá! Com esta aula pretendemos refletir sobre os caminhos trilhados pela humanidade e as implicações que as ações do homem produziram no domínio da natureza e na construção de condições de vida para si mesmo e para a humanidade. De acordo com Laraia (2001), o atual estágio de desenvolvimento da humanidade só foi possível graças à capacidade que a espécie humana revela de, através da capacidade da fabricação de instrumentos, produzir suas condições materiais de existência A produção de suas condições de existência só foi possível através da adaptação das comunidades humanas por um processo de “ofuscamento dos instintos humanos pelo desenvolvimento da cultura” (LARAIA, 2001, p. 49) e pela transmissão de “toda a experiência de um indivíduo é transmitida aos demais, criando assim um interminável processo de acumulação” (LARAIA, 2001, p. 52). A comunicação, portanto, é um processo cultural que possibilita a transmissão dos valores culturais de um dado sistema e o homem passa a agir de acordo com os seus padrões culturais em que foi socializado. Assim, cultura, de acordo com Laraia (2001), mais do que herança genética, determina o comportamento do homem e justifica suas realizações. Para Laraia (2001), toda cultura depende de símbolos e o exercício da faculdade de simbolização que cria a cultura e o uso de símbolos torna possível a perpetuação. Dessa forma, como sugere Laraia (2001, p. 55), “sem o símbolo não haveria cultura, e o homem seria apenas um animal, não um ser humano” a adequada manipulação é que produz a cultura e os valores culturais que tornam possível o processo de humanização. Bons estudos! Sociologia aplicada 8 Objetivos de aprendizagem 1 - O conhecimento e o processo de Humanização 2 - Cultura: um produto social 3 - Conhecimento, Ciência e Processos Sociais 4 - O indivíduo acima da comunidade Ao término desta aula, você será capaz de: • compreender o Homem como um Ser Social, Cultural e Histórico; • identificar os elementos essenciais que tornam possível definir o ser humano como um ser social e cultural e refletir analiticamente sobre os caminhos trilhados pela humanidade e suas implicações no processo de Humanização; • analisar e relacionar conhecimento, ciência e os processos sociais e suas implicações sobre a natureza e o espaço social. Seções de estudo PROBLEMATIZAÇÃO • Como os primeiros homens produziam os recursos necessários para sua condição de vida? Como moravam? • Como surgiu a agricultura, a pecuária e as primeiras práticas de trocas e de comércio? Ou o homem sempre dominou esses conhecimentos? • Como o homem consegue transformar a sua experiência vivida em discurso com signifi cado e transmiti-la aos demais seres de sua espécie e aos seus descendentes? • Que importância tem os símbolos no processo de Humanização? • Através de sua capacidade de imaginar ações e reações sob forma simbólica, ele seria capaz de reviver suas situações que o estimulam e o desafi am para a reconstrução da realidade? • Além disso, você concorda que o Ser Humano é o único a diferenciar as experiências no tempo e, em consequencia, a projetar ações futuras? • A tudo isso poderíamos denominar TRABALHO? ou CULTURA? O que é trabalho? E o que é Cultura? Que relação você consegue estabelecer entre CULTURA e TRABALHO? O homem, como os demais seres vivos, depende da natureza para sobreviver, mas, diferentemente dos demais seres vivos, ele modifica a natureza e a obriga a servir-lhe, domina-a. Aí está, em última análise, a diferença essencial entre o homem e os demais animais, diferença que, inala unia vez, resulta do trabalho. Contudo, não nos deixemos dominar pelo entusiasmo em face de nossas vitórias sobre a natureza. Após cada uma dessas vitórias a natureza poderá adotar sua vingança... 1 - O Conhecimento e o processo de Humanização Figura 1.1 – o processo de humanização Fonte: http://images.google.com.br/images, acessado em 20 de maio de 2012, às 16 horas. É verdade que as primeiras consequências dessas vitórias são as previstas por nós, mas em segundo e em terceiro lugar aparecem consequências muito diversas, totalmente imprevistas e que, com frequência, anulam as primeiras. Os homens que, na Mesopotâmia, na Grécia, na Ásia Menor e outras regiões, como também no Brasil, devastavam os bosques para obter terra, nem podiam imaginar que, eliminando os bosques, eliminariam também os centros de acumulação e reserva de umidade. Estavam assentando as bases da atual aridez dessas terras. O Homem, diferentemente dos animais que vêm programados por sua natureza e agem pelo instinto e não projetam sua existência, não modificam, mas se adaptam e respondem instintivamente ao meio, os seres humanos criam e recriam, pela ação consciente do trabalho, a sua própria existência. 9 Para Refl etir A linguagem, tanto para o indivíduo humano como para a raça humana, de acordo com Laraia (2001), é uma coisa inteiramente adquirida a partir de outros, religião, normas de conduta, valores, etc. Assim, para o autor a linguagem não é hereditária e nem há disposição inata para aprender determinada linguagem. Ela é completamente externa e não interna – um produto social e não um crescimento orgânico. O indivíduo não cria a linguagem, faz uso daquela que a sociedade lhe transmite desde o seu nascimento. Você Sabia O fogo foi certamente uma das maiores conquistas da Humanidade O termo trabalho, “como atividade humana destinada a utilizar as coisas naturais ou a modificar o ambiente para satisfação das necessidades humanas” (ABAGNANNO, 2007, p. 1147), assume diferentes sentidos ao longo da história e, de acordo com Tomazi, (2010, p. 39), pode ter nascido do vocábulo latino tripalium (instrumento de tortura) e, por esse motivo, foi por muito tempo associado à ideia de atividade penosa e torturante. Nas sociedades grega e romana, além do trabalho escravo, existiam trabalhadores como os meeiros, os artesãos e os camponeses, era a mão de obra escrava, de acordo com o autor, que garantia a produção suficiente para suprir as necessidades da população. Nas sociedades feudais, como no mundo Greco- romano, a terra era o principal meio de produção e os senhores e proprietários eram, neste período, desobrigados a qualquer atividade, exceto a de discutir os assuntos da cidade e o bem-estar dos cidadãos. Sempre muito desvalorizado, o trabalho não foi, desde a Antiguidade até o fim da Idade Média, o elemento central, o núcleo que orientava as relações sociais. Estas, de acordo com Tomazi (2010), se definiam pela hereditariedade, pela religião, pela honra, pela lealdade e pela posição em relação às questões públicas. Mas por que trabalho e realização humana parecem viver um eterno conflito? Se a realização do homem se encontra no trabalho, por que ele necessita ser educado para o trabalho? Por que é necessário convencê-lo muitas vezes até pela força da necessidade do trabalho? Como vimos acima, a própria etimologia da palavra trabalho guarda o sentido de tortura. Trabalho tem origem no vocábulo latino tripalium, aparelho de tortura composto de três paus, que também servia para imobilizar animais difíceis de domesticar. Assim, o trabalho é um processo entre o homem e a natureza. Um processo em que o homem, por sua própria ação, medeia, regula e controla seu metabolismo com a Natureza. Ele mesmo se defronta com a matéria natural como uma força natural e põe em movimento as forças naturais pertencentes à sua corporeidade, braços, pernas, cabeça e mãos, a fim de se apropriar da matéria natural numa forma útil à própria vida. Ao atuar, por meio desse movimento, sobre a natureza externa a ele e ao modificá-la, ele modifica, ao mesmo tempo, sua própria natureza (MARX, 1983, p. 149, apud MORISSAWA, 2001). Retirado de: MARX, 1983, p. 149, apud MORISSAWA, 2001. Escrito por Engels. Figura 1.2 O fogono processo de humanização Disponível em: http://profviseu.com/pessoal/ ANEWTON/homem.jpg acessado em 14 de maio de 2012, às 18 horas. Ao aprender a produzir o fogo friccionando duas pedras uma na outra e ao aprender a manter o fogo, o Homo erectus, de acordo com Laraia (2001), produziu conhecimentos que possibilitaram afastar os animais selvagens, aquecer e iluminar o interior das cavernas, cozinhar alimentos, fabricar instrumentos e facilitar a comunicação em grupo. O domínio do fogo e sua adequação às suas necessidades foi, provavelmente, o primeiro passo na emancipação do Homem da servidão do ambiente. 2 - Cultura: um produto social Cultura, de acordo com Laraia (2001), mais do que uma herança genética, determina o comportamento do homem e justifica suas Sociologia aplicada 10 realizações. Pelo desenvolvimento da cultura, foram suprimidos muitos dos instintos naturais do ser humano. Tudo o que fazemos “não será mais determinado pelos instintos, mas sim pela imitação dos padrões culturais da sociedade em que vive. [...] tudo que o homem faz, aprendeu com os seus semelhantes e não decorre de imposições originadas fora da cultura” (2001, p. 50-51). A esse respeito é oportuno ler o texto do autor apresentado em anexo à sua obra “Cultura: um conceito antropológico”. Uma Experiência Absurda? Kroeber, em seu artigo “O superorgânico”, refere-se a duas experiências que teriam sido praticadas no passado. Embora o autor duvide da veracidade das mesmas, ele as utiliza como exemplo de refl exão sobre a natureza humana: Heródoto conta-nos que um rei egípcio, desejando verifi car qual a língua- mater da humanidade, ordenou que algumas crianças fossem isoladas da sua espécie, tendo somente cabras como companheiros e para o seu sustento. Quando as crianças já crescidas foram de novo visitadas, gritaram a palavra bekos, ou, mais provavelmente beek, suprimindo o fi nal, que o grego padronizador e sensível não podia tolerar que se omitisse. O rei mandou então emissários a todos os países a fi m de saber em que terra tinha esse vocabulário alguma signifi cação. Ele verifi cou que no idioma frígio isso signifi cava pão, e, supondo que as crianças estivessem reclamando alimentos, concluiu que usavam o frígio para falar a sua linguagem humana “natural”, e que essa língua devia ser, portanto, a língua original da humanidade. A crença do rei numa língua humana inerente e congênita, que só os cegos acidentes temporais tinham decomposto numa multidão de idiomas, pode parecer simples; mas, ingênua com é, a inquirição revelaria que multidões de gente civilizada ainda a ela aderem. Contudo, não é essa a nossa moral da história. Ela está no fato de que a única palavra, bek, atribuída às crianças, constituía apenas, se a história tem qualquer autenticidade, um refl exo ou imitação – como conjeturam há muitos os comentadores de Heródoto – do grito das cabras, que foram as únicas companheiras e instrutoras das crianças. Em suma, se for permitido deduzir qualquer inferência de tão apócrifa anedota, o que ela prova é que não há nenhuma língua humana natural e, portanto, nenhuma língua humana orgânica. Milhares de anos depois, outro soberano, o imperador mongol Akbar, repetiu a experiência com o propósito de averiguar qual a religião natural da humanidade. O seu bando de crianças foi encerrado numa casa. Quando decorrido o tempo necessário, ao se abrirem as portas na presença do imperador expectante e esclarecido, foi grande o seu desapontamento: as crianças saíram tão silenciosas como se fossem surdas-mudas. Contudo, a fé custa a morrer; e podemos suspeitar que será preciso uma terceira experiência, em condições modernas escolhidas e controladas, para satisfazer alguns cientistas naturais e convencê- los de que a linguagem, para o individuo humano como para a raça humana, é uma coisa inteiramente adquirida e não hereditária, completamente externa e não interna – um produto social e não um crescimento orgânico. É óbvio que quando Kroeber fala em linguagem está implícita a possibilidade de estender o seu raciocínio para toda a cultura. Muitos anos depois de Kroeber, Cliff ord Geertz demonstrou não ser possível, à luz do conhecimento atual, esperar algum resultado de uma terceira experiência: ... isso sugere não existir o que chamamos de natureza humana independente da cultura. Os homens sem cultura não seriam os selvagens inteligentes de Lord of the Flies, de Golding, atirados à sabedoria cruel dos seus instintos animais; nem seriam eles os bons selvagens do primitivismo iluminista, ou até mesmo, como a antropologia insinua, os macacos intrinsecamente talentosos que, por algum motivo, deixaram de se encontrar. Eles seriam montruosidades incontroláveis, com muito poucos instintos úteis, menos sentidos reconhecíveis e nenhum 11 intelecto: verdadeiros casos psiquiátricos. Como nosso sistema nervoso central – e principalmente a maldição e glória que o coroam, o neo-córtex – cresceu, em sua maior parte, em interação com a cultura, ele é incapaz de dirigir nosso comportamento ou organizar nossa experiência sem a orientação fornecida por sistemas de símbolos signifi cantes. EXTRAÍDO DE: LARAIA, Roque de Barros. CULTURA: um conceito antropológico. P. 101-103. Saber Mais O ser humano age de acordo com os seus padrões culturais, ele é resultado do meio em que foi socializado. Para Edward Tylor, “cultura é o todo complexo que inclui conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes ou qualquer outra capacidade ou hábitos adquiridos pelo homem enquanto membro de uma sociedade”. O ser humano foi, ao longo dos tempos, criando condições que o distanciaram de sua natureza animal e, com isso, ele foi se aproximando da possibilidade de sua humanização. Na luta pela sobrevivência, o homem aprendeu a agir sobre a natureza e percebeu que isso lhe trazia prazer e domínio sobre os outros animais. Para alimentar-se e proteger-se dos animais ferozes, o homem primitivo saiu da posição quadrúpede e aprendeu a correr do perigo, subiu em árvores, esticou os membros, controlou o fogo e pouco a pouco desenvolveu a habilidade motora fina. Viu que isso era bom e que, por conta da precisão do movimento do seu polegar opositor, era possível construir ferramentas. Os primeiros humanos começaram a dominar diversas habilidades. Construíram instrumentos de pedras, de madeira como o arco e a flecha, descobriram os metais, inventaram facas e, dentre outras construções, registraram suas observações nas pedras e paredes. Surge assim a escrita. De uma ideia à outra, foram inventando aqui e acolá novos instrumentos e novas técnicas. Figura 1.3 A linguagem e o surgimento da escrita Fonte: Disponível em: http://images.google.com.br/images, acessado em 14 de maio de 2012, às 18 horas. À medida que o ser humano foi construindo a escrita, foi produzindo a história. Com sua capacidade criadora, curiosidade e criatividade, modificou os espaços naturais e produziu a si mesmo, recriando sua segunda natureza e foi capaz de recriar a si mesmo, assim começou a produzir a cultura. Aos poucos ele entendeu que o conhecimento produzido ganhava qualidade à medida que transformava os conhecimentos mais simples noutros saberes mais complexos e completos. Veja como, por exemplo, as inovações tecnológicas possibilitam melhorar a produção, apropriação, difusão e ampliação do conhecimento. Figura 1.4 – A Evolução da Escrita Fonte: Disponível em: http://images.google.com.br/images acessado em 14 de maio de 2012, às 18 horas. Sociologia aplicada 12 Como já foi apontado, à medida que o ser humano foi aprimorando suas capacidades, ele também começou a perceber que todo conhecimento humano é uma construção coletiva. Assim, quanto mais pessoas dele se apropriam, mais qualidade a ele pode ser acrescentada, mais rica e prazerosa pode tornar-se a vida. Saber Mais A cultura é uma lente através da qual o ser homem vêo mundo. Pessoas de culturas diferentes usam lentes diferentes e, portanto, têm visões distintas das coisas. O fato de que o ser humano vê o mundo através de sua cultura tem como conseqüência a propensão em considerar o seu modo de vida como o mais correto e o mais natural (etnocentrismo), depreciando o comportamento daqueles que agem fora dos padrões de sua comunidade – discriminando o comportamento “desviante” (LARAIA, 2001). • Quando os homens se depararam com novos problemas, surgiram novas elaborações tidas como mais adequadas, mais úteis às dificuldades enfrentadas. Essas abstrações a que chamamos de conhecimento, criam soluções para necessidades concretas de vida e de sobrevivência, a isso denominamos CULTURA. • Foram os gregos que elaboraram a ideia do saber como atividade destinada a descobertas desligadas de uma finalidade prática imediata. Daí provém os rudimentos do que veio a chamar-se CIÊNCIA. • Enquanto os gregos criaram a FILOSOFIA “amor pelo conhecimento”, os egípcios elaboraram conhecimentos biológicos e químicos porque acreditavam na ressurreição e queriam conservar os cadáveres. Para os gregos, tais conhecimentos não eram da religião, mas da medicina. • Assim surge uma nova maneira de pensar o “porquê” e o “para quê” das coisas. • Durante a Idade Média, com o grande poder a Igreja Católica, novamente imperou o saber ligado à religião. • No Renascimento, o homem se volta para os textos antigos e redescobre o prazer de investigar o mundo, descobrir as leis de sua organização como atividade e com valor em si mesmo, independentemente de suas implicações religiosas. 3 - Conhecimento, Ciência e Processos Sociais Todo conhecimento se desenvolve socialmente, nasce das relações que os homens estabelecem entre si. O homem, de acordo com Laraia (2001), como uma entre as várias espécies existentes sobre a terra, também desenvolveu todos os processos de convivência, reprodução, acasalamento e defesa observáveis nos demais seres vivos. Da mesma forma, o homem, como ser biológico, também apresenta, como os demais animais, uma série de atividades instintivas como respirar, engatinhar, sentir fome, medo, frio. Porém, seja pelas dificuldades impostas pelas condições ambientais ou por particularidades da própria espécie, o homem desenvolveu ao longo dos tempos desenvolveu capacidades que dependem cada vez mais de aprendizado. Assim as crianças aprendem a comer, beber, e dormir em horários regulares; aprendem a brincar, obedecer; mais tarde aprenderão a trabalhar, comerciar, administrar, governar. Quando nascemos já encontramos prontos valores, normas, costumes e práticas sociais. Também já encontramos uma certa forma de produção da vida material que segue determinados padrões. Muitas vezes, não há como fugir de certas normas e regras já estabelecidas em sociedade. Desta forma, podemos afirmar, de acordo com Laraia (2001), o homem se distingue das demais espécies existentes porque nem tudo o que faz surge de sua estrutura genética, nem se desenvolve automaticamente em sua relação com a natureza, nem se transmite à descendência através de genes. Ao nascer, chega-se a um mundo que já está pronto e no processo de conhecimento do mundo, vai se relacionar e conviver com o mundo externo e para viver nesse mundo, vai aprender a conhecer a si e se relacionar com os outros. No processo de conhecimento do mundo, a criança vai entendendo que, além dela, da família, da casa e do bairro onde reside, existem outros lugares e outras pessoas das quais ela precisa para viver. Portanto, de acordo com Laraia (2001), o ser humano é o único animal que necessita de aprendizado para uma série de atividades que lhes são próprias. É o único ser a diferenciar as experiências no tempo e, em consequência, a projetar ações futuras e através dos processos adaptativos, vem sofrendo que o levaram de um primata desenvolvido ao homem moderno. 13 Diferentemente dos demais animais, de acordo com Meksenas (2011), o homem devido a sua capacidade de pensar, planejar, projetar resultados, luta pela superação de suas necessidades. Ao pensar, reflete, age sobre a natureza e sobre sua ação com o objetivo de obter alimento, abrigo e proteção para si e para o seu grupo. Nasce, assim, o trabalho a partir do momento que um grupo específico de primatas conseguiu adotar uma postura ereta; deixando as mãos livres, pode usar as mãos como ferramentas para pegar e segurar objetos e fabricar outras ferramentas que o ajudaram a enfrentar o meio em que vivia para satisfazer as suas necessidades. Meksenas (2011) aponta o trabalho como a forma pela qual o homem desenvolve meios que lhe possibilitam produzir suas condições de sobrevivência. Porém, de acordo com o autor, todo esse processo não se deu de forma isolada por um indivíduo. “Se deram dentro de um processo educativo coletivo, no qual os seres humanos aprenderam juntos a sobreviver. Foi esse enfrentamento coletivo com a natureza que possibilitou o desenvolvimento da linguagem” (MEKSENAS, 2011, p. 18). Com isso, o homem cria conhecimento, desenvolve a cultura. O domínio do conhecimento das técnicas de plantio e a domesticação de animais tornaram possível a agricultura e a pecuária. O homem apropriou-se da natureza e passou a utilizá- la de acordo com seus interesses. O domínio da agricultura e pecuária possibilitaram fixar-se à terra e tornar-se assim sedentário. Até cerca de mais ou menos 10 mil anos atrás, a humanidade vivia da caça, da pesca e da coleta de frutos silvestres, raízes, em grupos, mudando para lá e para cá, sempre que a natureza não proporcionava recursos suficientes para a sobrevivência de todos. A esse respeito sugerimos ler o texto que indico no fi nal da aula: “Sobre o Papel do Trabalho na Transformação do Macaco em Homem” de Fredrich Engels 1876. Disponível em: http://www.vermelho.org.br/img/obras/bibliomarx.asp É verdade que em muitos lugares do mundo, permanecemos assim, nômades, por muitos e muitos séculos ainda. Veja, por exemplo, os casos de algumas nações indígenas, dos ciganos, e dos beduínos do deserto. Os primeiros indícios da agricultura registrados na História foram encontrados na Mesopotâmia, região do Oriente Médio, onde hoje fica o Iraque. Começamos plantando trigo e cevada e criando cabras e carneiros. Depois é que começamos a domesticar os porcos, os bois, as galinhas e assim por diante. Foi assim que nos tornamos sedentários: aprendendo a jogar sementes no solo, a regar as plantas, a armazenar seus frutos, e também a domesticar os animais. Com o desenvolvimento desses conhecimentos e o aprimoramento dessas técnicas, é possível dizer que a vida começou a ficar um pouco mais fácil, ou ao menos tornou-se possível prever e programar o amanhã. Durante dezenas de milhares de anos vivemos em comunidades. Ninguém era dono de nada, tudo pertencia a todos. Por isso também, ninguém era mais rico ou mais pobre que o outro. Com o tempo, as comunidades foram crescendo. Aí tivemos de dividir as tarefas: uns plantavam, outros fabricavam utensílios e instrumentos. Isso já era uma primeira forma de divisão do trabalho. Por que existem hoje tantas formas e atividades diferentes de trabalho? Até aqui não notamos nada que possamos identificar em nossa realidade atual, a não ser a divisão do trabalho. Só que ela foi ficando cada vez mais ampla e hoje se dá também no plano internacional, entre países ricos e pobres. Como se dão hoje essas relações no trabalho, no nível das relações sociais e no nível das relações internacionais? Dividir o trabalho, permitir a muitos desenvolver e aprimorar técnicas e novas formas de organização da vida, do trabalho e das relações entre grupos e nações para ajudar a produzir e aperfeiçoar esse processo contribuiu para aos poucos produzir excedentes, que, afinal, não podiam ser jogados fora. E o resultado disso foi o comércio, a troca entre indivíduos, grupos e comunidades. Mas nemsempre aquilo que um tinha a oferecer interessava aos outros, assim inevitavelmente um dia apareceu o dinheiro. É claro que, naquele tempo, não eram essas notas de papel e essas moedas que nós conhecemos hoje. Era alguma coisa rara, que todos desejavam ter, como peças de ouro, prata, cobre. Houve até uma época em que o sal foi moeda de troca e pagava inclusive por serviços prestados (essa é a origem da palavra salário). Como já foi dito, as comunidades foram crescendo e era preciso cada vez mais alimentos para sustentar tanta gente. Como o sucesso de uma Sociologia aplicada 14 4 - O indivíduo acima da comunidade plantação depende muito da água, as comunidades foram se concentrando às margens de volumosos rios. Foi assim que surgiram, no Egito, na Índia e na China, as primeiras grandes civilizações. Você já conhece algo sobre essas civilizações? Suas formas de vida, religiosidade, agricultura e pecuária, as plantações, arquitetura, vestuário, comércio, costumes, etc? É importante frisar aqui que muitos homens que construíram essas civilizações o fizeram pela necessidade de se alimentar. Antes de pensar nas pirâmides do Egito, na muralha da China e em outras maravilhosas realizações humanas daquela época, devemos ter em mente que a agricultura esteve na base disso tudo. Para conseguir boas colheitas foram necessárias outras realizações, como construção de canais e açudes para irrigação, e, acima de tudo, o empenho da força de trabalho de milhares e milhares de trabalhadores. A realização das maravilhosas obras fossem elas de defesa da vida humana ou de culto às divindades, deu origem a uma divisão mais ampla do trabalho. Havia aqueles que davam duro, cavando, quebrando pedra, carregando fardos. Havia aqueles que, na condição de elaborar os projetos e planejar o trabalho, ficavam no comando, dizendo como é que as coisas tinham de ser feitas e quem devia fazê- las. De um lado, portanto, houve foco no trabalho manual e, de outro, no trabalho intelectual. É preciso dizer quem saiu ganhando nessa história? Apenas para refletir: as Pirâmides do Egito foram erguidas na Antiguidade. Você já pensou alguma vez como foram construídas? Quem carregou e como foram carregados os enormes blocos de pedra que compõem essas verdadeiras maravilhas humanas? É oportuno observar que esse é um traço da desigualdade social, que vai se tornando mais marcante com a apropriação do conhecimento. Aqueles que realizavam o trabalho intelectual passavam seus conhecimentos somente para seus filhos. E hoje, que importância tem o conhecimento? Para que serve? Quem vai para as universidades? Como é possível mudar a sociedade e reverter essa história tão antiga? A essa altura, começamos a perceber uma progressiva individualização dos homens. A vida comunitária foi aos poucos se dissolvendo, com o poder e a riqueza minando as relações entre as pessoas e os grupos. Famílias começaram a estabelecer limites para demarcar a sua propriedade como forma de garantir que outras não viessem “compartilhar” seus bens. E aí? O que você acha? Tem algo diferente dos alarmes e vigias que protegem as propriedades hoje em dia? Eram os indícios do surgimento da propriedade privada. Mas, como e onde surge O ESTADO? E os primeiros homens, como se organizavam? O crescimento das populações gerou a necessidade de obras cada vez maiores e em maior quantidade, e de trabalhadores intelectuais para projetar, organizar e comandar essas obras. Curiosidade Estado é uma instituição organizada politicamente, socialmente e juridicamente, ocupando um território, uma Lei escrita (Constituição) e dirigida por um governo que possui soberania reconhecida tanto interna como externamente. Um Estado soberano é sintetizado pela máxima: “Um governo, um povo e um território”. O Estado é responsável pela organização e pelo controle social, pois detém, segundo Max Weber, o monopólio legítimo do uso da força coercitiva (especialmente a força coercitiva legal). Fonte: http://www.achetudoeregiao.com.br/politica/Classes_de_estado. htm acesso em 08 de abril de 2012. Mas quem se disporia a fazer aquela parte que exige força, suor e submissão? E de onde conseguir os recursos materiais para construí-las? Quem forneceria alimentos para tanta gente? Foi nesse momento que, em muitas sociedades antigas, surgiu o Estado. Podemos dizer que o Estado foi criado para obrigar a maioria que era composta pelos trabalhadores braçais, a trabalhar nas obras ou indiretamente pala obras e para cobrar impostos da população. O próprio nome “impostos” já revela que têm de ser pagos “na marra”. Mas, para fazer trabalhar e pagar qualquer coisa “na marra”, eram necessárias leis e quem fizesse com que fossem cumpridas. O Estado nasceu aí, então, junto com leis e os exércitos, principais instrumentos de poder dos ricos sobre os pobres. O Estado fazendo as leis, a administração e os soldados mandando cumprir. Essas leis eram justas? É preciso lembrar que nem todas as sociedades eram 15 assim. Mas é delas que se originou o fio que conduz à sociedade em que vivemos. Dando um salto de alguns milhares de anos, vamos encontrar na civilização grega, que tanto fascina aqueles que a estudam, uma forma de Estado mais organizada, onde já podíamos conhecer o exercício da cidadania. É bom lembrar que a Grécia não era então um país unificado; ela era dividida em cidades-estado, cada uma com suas próprias e governo. Uma dessas cidades-estados, considerada a mais importante, era ATENAS, cuja celebridade se deve à sua notável vida cultural e à democracia. Os atenienses construíram uma arte e uma cultura admiráveis. Politicamente deixaram como herança a noção de democracia. Mas essa era uma democracia que deixava de fora os que eram culturalmente considerados incapazes, como, por exemplo, as mulheres. Você vê alguma relação da nossa sociedade com a sociedade ateniense? Que semelhanças você identifica? Mas, antes de chegar à democracia, Atenas ficou muito tempo submetida ao poder dos grandes proprietários de terra. Os pequenos proprietários, os camponeses, tinham de pedir empréstimo aos grandes para plantar ou mesmo para aumentar a extensão de suas terras para dar aos seus filhos, quando esses formavam família. Quando não conseguiam pagar suas dívidas no prazo estabelecido, eram obrigados a entregar suas propriedades aos emprestadores. Essa foi uma forma de concentração da terra. Você vê alguma relação com o que se pratica hoje no Brasil ou nas relações com outros países? A divisão social do trabalho faz com que a tarefa individual seja só uma pequena parcela do processo de reprodução geral da sociedade. O período denominado Idade Média, durou perto de 1.100 anos e seus resquícios permaneceram por séculos em diversos pontos do planeta. Durante esse período vamos encontrar na Europa uma situação econômica que hoje chamamos de feudalismo. Saber Mais Idade Média teve início na Europa com as invasões germânicas (bárbaras), no século V, sobre o Império Romano do Ocidente. Essa época estende-se até o século XV, com a retomada comercial e o renascimento urbano. A Idade Média caracteriza-se pela economia ruralizada, enfraquecimento comercial, supremacia da Igreja Católica, sistema de produção feudal e sociedade hierarquizada. Fonte: http://www.suapesquisa.com/idademedia/ acesso em 04 de maio de 2010. Aqui e acolá, espalhadas por toda uma vastidão, estavam imensas propriedades rurais chamadas feudos. Seus donos eram os nobres – príncipes, condes, barões etc. – e membros da alta hierarquia da Igreja. Todos eram chamados de Senhores Feudais. Saber Mais A estrutura básica de um feudo consistia na reserva senhorial, no manso servil e nas terras de uso comum. Os servos trabalhavam nas terras do senhor durante alguns dias da semana, moravam na aldeia e tinham o direito de plantar e criar sua própria sobrevivência no manso servil. Chegavam voluntariamente às terras do feudopara se oferecerem como trabalhadores braçais e ali fi cavam geralmente para sempre. A “herança” que deixavam para seus fi lhos era essa mesma condição. Não recebiam qualquer tipo de pagamento e eram obrigados a pagar tributos; geralmente uma parte do que produziam para si tinha de ser dada ao senhor. Embora não pudessem ser comprados ou vendidos, não eram livres. Não podiam escolher o tipo de trabalho nem o patrão. E só deixavam o feudo para qualquer fi nalidade com autorização do senhor. Fonte: http://www.suapesquisa.com/idademedia/ acesso em 04 de maio de 2010. Já dá para perceber que naquela época, a riqueza mais importante era a terra. Mas a terra não era algo que se conseguia comprando, como se faz hoje. Para tê-la, só tomando dos outros, pela guerra, ou ganhando-a como recompensa pela lealdade ao senhor. No caso da Igreja, ela começou a acumulá-la desde as ofertas dos imperadores romanos Constantino e Teodósio. Também os reis franceses carolíngios lhes foram bastante generosos. A Igreja e o Estado andavam de mãos dadas, e assim ficaram ainda por muito tempo na História ocidental. Durante a Idade Média, com o grande poder da Igreja Católica, novamente imperou o saber ligado à religião. Saber Mais QUE TAL UM BOM FILME? Neste momento de nosso estudo, indico “O NOME DA ROSA”, um fi lme dirigido por Humberto Eco cuja trama se desenrola em um mosteiro italiano na última semana de novembro Sociologia aplicada 16 Retomando a aula Parece que estamos indo bem. Então, para encerrar esse tópico, vamos recordar: de 1327. Ali, em meio a intensos debates religiosos, o frade franciscano inglês Guilherme de Baskerville e seu jovem auxiliar, Adso, envolvem-se na investigação das insólitas mortes de sete monges, em sete dias e sete noites. Os crimes se irradiam a partir da biblioteca do mosteiro: “o nome da rosa” era uma expressão usada na Idade Média para denotar o infi nito poder das palavras. Fonte: http://www.adorocinema.com/fi lmes/fi lme-2402/ acesso em 04 de maio de 2010. A necessidade de aumentar a produção de alimentos estimulou a criatividade das pessoas. Foi aí que os camponeses começaram a praticar a rotação de culturas, inventaram os moinhos de vento, melhoraram as técnicas de plantio, passaram a usar o cavalo para puxar o arado e o carro de boi. Com as transformações geradas pela Revolução Industrial, muitos, que eram servos, se tornaram pequenos comerciantes. Eles já não eram tão necessários para o senhor feudal, porque a população crescia tanto em seus domínios que ficava difícil de controlá-la. Alguns até fugiam do feudo e, se não tinham a sorte de entrar para o comércio, acabavam virando saltadores nas estradas. O desenvolvimento do capitalismo, que acelerou a especialização da produção, monetarizou cada vez mais a economia, intensificou as relações comerciais e tornou a produção voltada quase que exclusivamente para a venda. Também levou o homem a ser menos responsável individualmente pela satisfação de suas necessidades básicas. Nessa condição, o homem tornou-se mais uma mercadoria, dotada de valor de troca no mercado de trabalho. Surge uma nova maneira de pensar o “porquê” e o “para quê” das coisas. No Renascimento, o homem volta os textos antigos e redescobre o prazer de investigar o mundo, descobrir as leis de sua organização como atividade e como valor em si mesmo, independentemente de suas implicações religiosas. Surge a CIÊNCIA - destinada à descoberta das relações entre as coisas, das leis que regem o mundo natural; através dela se aprimoram as técnicas e os utensílios de medição, a imprensa etc. Desenvolvem-se novas formas de produção, de acumulação de exploração do homem pelo homem. Mais comida, mais saúde, mais vida. Em trezentos anos, a população da Europa duplicou. Alguns feudos estavam produzindo mais do que necessitavam, ou seja: começaram-se a produzir os excedentes, aí de novo começaram as trocas, as inovações nos modos de produção, transformação, industrialização, comercialização, depois (re) inventaram a mecanização agrícola, aprimoraram as técnicas de produção, de industrialização, de transporte e de comercialização. No seio desse movimento surge a Sociologia – ciência da sociedade – que procura investigar e compreender o movimento das idéias que organizam ou desorganizam um povo. A separação dessa forma de pensar do vínculo com as tradições morais e religiosas. O aparecimento da Sociologia significou que as questões relativas às relações entre os homens deixaram de ser apenas matéria religiosa (Filme Corcunda de Notre Dame). A SOCIOLOGIA foi criada e vem sendo cada vez mais reconhecida como campo de conhecimento explorável pelo procedimento científi co. Para o alemão Karl Marx (1818- 1883), os indivíduos devem ser analisados de acordo com o contexto de suas condições e situações sociais, já que produzem sua existência em grupos. O homem primitivo, de acordo com Marx, diferenciava-se dos outros animais não apenas pelas características biológicas, mas também por aquilo que realizava no espaço e na época em que vivia. Caçando, defendendo-se e criando instrumentos, os indivíduos construíram sua história e sua existência social. Inúmeros estudos se desenvolveram, permitindo uma acumulação de conhecimentos de modo a submeter às teorias a comprovação, questionamento, revisão de conhecimentos cujos resultados de pesquisas sociológicas se alastram que vem sendo incorporados no vocabulário e começam a fazer parte da vida cotidiana: contexto social; movimentos sociais; classes sociais; estratos; camadas; pressões sociais; confl itos sociais e outros termos profusamente veiculados pelos meios de comunicação social de massa e que passam a ser usados no dia a dia Meksenas (1994). As discussões que apresentamos nesta aula nos levaram a entender os caminhos trilhados pela humanidade no longo processo de humanização e as implicações que as ações do homem produziram 17 conhecimentos importantes e decisivos no domínio da natureza e na construção de condições de vida para a humanidade. Esses conhecimentos básicos se referem a um amplo legado cultural do qual, de acordo com Laraia (2001), são partícipes as numerosas gerações que nos antecederam. A idéia de indivíduo isolado, nos lembra Marx, só apareceu efetivamente na sociedade de livre concorrência, ou seja, no momento em que as condições históricas criaram os princípios da sociedade capitalista. Os aspectos da vida social passam a pautar o comportamento e as opiniões das sociedades onde os resultados das pesquisas são divulgados. Assim, de acordo com Tomazi (2010, p. 23) “Quando um operário é aceito numa empresa, assina um contrato do qual consta que deve trabalhar tantas horas por dia e por semana e que tem determinados deveres e direitos, além de salário mensal”. Enquanto Marx vê a contradição e o conflito como elementos essenciais da sociedade, Durkheim coloca a enfase de suas análises sobre a sociedade na coesão, integração e manutenção da sociedade. Para Durkheim, o conflito existiria basicamente pela anomia. Segundo ele, anomia caracteriza-se pela ausência, ou insuficiência da normatização das relações sociais, ou por falta de instituições que regulamentem as relações. Já de forma contrária de Durkeim, Max Weber, sociólogo alemão (1864- 1920) tem como preocupação central compreender o individuo e suas ações. Para ele, os costumes e as regras socciais são algo externo ao indivíduo, mas estão internalizados, e, com base no que traz dentro de si, o indivíduo escolhe condutas e comportamentos, dependendo das situações que se lhe apresentam (TOMAZI, 2010) Muitos profissionais na atualidade passam a utilizar-se dos resultados das pesquisas para incorporar na definição de sua ação como também os estudos da sociologia são cada vez mais usados para definir estratégias publicitárias e identificação de gostos no lançamento de produtos. Todos esses procedimentos, ao mesmo temposimples e complexos, dependem do conhecimento da população a que se aplicam com o desenvolvimento científico da Sociologia. Quando lemos numa notícia ou artigo de um jornal, revista, ou outro meio tecnológico de informação, que Maria, 35 anos, casada, dona de casa, brasileira, afirma que votará em determinado candidato, não estamos tomando conhecimento apenas da opinião de uma pessoa isolada, mas de uma das opiniões do grupo de pessoas das quais Maria é protótipo: uma das mulheres da idade mediana, donas de casa, casadas e brasileiras. Portanto, os conhecimentos da Sociologia hoje já não estão restritos ao uso dos cientistas sociais. Eles já fazem parte de um modo de perceber e interpretar os acontecimentos formados pela disseminação dos procedimentos e técnicas de pesquisa social, que é um dos campos da Sociologia. Hoje já se manifesta confiança nessa forma de conhecer a realidade, do mesmo modo como se confia em um termômetro para constatar a temperatura do corpo. Do mesmo modo, não se constroem mais prédios ou casas sem levar em consideração o comprador, suas condições, valores, idéias, gostos, condições econômicas, tudo aquilo que o faz optar por uma ou outra moradia, bairro, estilo de vida, constituição familiar. Pode ser o lugar, o aspecto, o preço ou, na maioria dos casos, a soma de todos esses. De qualquer maneira, não se “atira no escuro”. A sociedade tem características que precisam ser conhecidas para que aqueles que nela atuam tenham sucesso. Não existe, portanto, nenhum setor da vida onde os conhecimentos sociológicos não sejam de ampla utilidade. Antigamente, o homem adquiria conhecimento sobre o mundo em que vivia e sobre as pessoas com quem convivia a partir de sua própria vivência, isto é, através de suas ações ou daquilo que lhe era ensinado pela religião, pela moral ou pela tradição. Hoje, o ritmo das mudanças sociais se acelera a cada dia, e o mundo se tornou complexo e diversificado demais para que o homem possa dele tomar conhecimento apenas seguindo sua experiência pessoal ou o senso comum. Vale dizer que se anuncia que o homem pode deixar de ser conduzido por “leis cegas” da natureza para tornar- se senhor consciente de seu futuro. No dizer de Marx, “o estudo do modo de produção que a sociedade humana adota é fundamental para se compreender como se organiza e funciona uma sociedade”. As relações de produção, nesse sentido, são consideradas as mais importantes relações sociais. As formas de família, as leis, a religião a organização educacional, as ideias políticas, os valores sociais são aspectos cuja explicação depende, em princípio, do estudo do modo de produção de uma sociedade. Assim, a principal contribuição das Ciências Sociais, tentando explicar as relações entre acontecimentos complexos e diferenciados, oriundas dos fenômenos aparentemente dissociados, permite ao homem transpor os limites de sua condição particular para percebê-la como parte de uma totalidade mais ampla, que é o todo social. Sociologia aplicada 18 Você pode buscar informações em outras fontes bibliográfi cas, revistas, fi lmes e sites eletrônicos. Lembre-se que pesquisar pode ajudar a ampliar seus conhecimentos e pode representar uma excelente ferramenta de aprendizagem, mas recomendamos sempre verifi car se há consistência nas informações e dos sites pesquisados antes utilizá-las nos seus estudos. LARAIA, Roque de Barros. Cultura: um conceito antropológico. 11. ed. Rio de Janeiro : Zahar, 2001. Vale a pena Vale a pena ler “Sobre o Papel do Trabalho na Transformação do Macaco em Homem” de Fredrich Engels 1876. Disponível em: http://www.vermelho.org.br/img/ obras/bibliomarx.asp Vale a pena acessar 2001: uma odisséia no espaço. Vale a pena ASSISTIR
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