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Olá, querido aluno e querida aluna! Olá, aluno! Vamos retomar o nosso estudo? Espero que esteja gostando e aprendendo sempre mais a cada Seção. Antes de iniciarmos, vamos retomar brevemente nosso contexto para lhe situar melhor, ok? Preparado para mais um desafio? Vamos dar continuidade ao processo que iniciamos nas seções passadas. Você terá a oportunidade de conhecer e elaborar mais uma peça processual utilizando seus conhecimentos de Direito Constitucional e Direito Processual. Curioso? Vamos saber então qual a nova situação fática que você terá que solucionar. Nas seções anteriores, o Promotor de Justiça Luiz ajuizou uma Ação Civil Pública visando à criação de vagas para o ensino fundamental de um município do interior paulista. Foi requerida tutela de urgência em razão de as crianças não terem acesso à escola e correrem o risco de perderem o ano letivo. O magistrado de primeiro grau indeferiu a tutela liminar, bem como sentenciou improvida a ACP, fundamentando a sua decisão no fato de o direito à educação ser um direito social e, por isso, teria natureza de norma programática, não cabendo ao judiciário interferir na Administração Pública para concretizar tais direitos. Após você ingressar com o recurso à apelação, os autos foram para o Tribunal de Justiça. Esse Tribunal julgou o recurso de Apelação improvido, sob a fundamentação de que os direitos fundamentais em discussão, apesar de previstos na constituição, devem se submeter à “reserva do possível”. A doutora Isabella, após tomar ciência do Acórdão do Tribunal de Justiça, opôs os chamados Embargos de Declaração a fim de que o órgão julgador esclarecesse a sua decisão, pré-questionando expressamente o ferimento aos dispositivos constitucionais que a decisão proferida feriu, em especial os artigos 205, 208, 211 e 212 da Constituição Federal. Os embargos de declaração foram improvidos sob a alegação de que não precisa o Tribunal fundamentar a decisão com todos os argumentos trazidos pelas partes, mantendo a decisão recorrida. Para o Tribunal, apesar de haver o direito, não poderia o Poder Judiciário impelir o Executivo a cumprir a constituição quando a realidade dos fatos – impossibilidade econômica de o município criar vagas para todos os alunos em idade escolar - não torna possível o cumprimento da constituição. A Procuradora de Justiça foi intimada pessoalmente da decisão no dia 1º de março de 2018. Agora é com você, doutor(a)! Lembre-se do conteúdo que estudamos nas seções anteriores que, somados aos desta seção, ajudarão a fundamentar e construir a sua peça processual. Doutor(a), atue no papel da Procuradora de Justiça Isabella! Mãos à obra! O CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE. Como vimos na nossa primeira seção, a República Federativa do Brasil adotou a teoria da Supremacia da Norma Constitucional, que reconhece na constituição a norma mais elevada no ordenamento jurídico, ocupando o ápice da sua estrutura hierarquizada. Figura 1: Hierarquia das normas constitucionais segundo a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal Fonte: Elaborada pelo autor. Pois bem, a supremacia da norma constitucional exige que as normas infraconstitucionais se afigurem harmônicas hierarquicamente a fim de que não existam normas conflitantes em um mesmo ordenamento jurídico. Como dissemos, a teoria da hierarquia das normas torna o universo de normas dentro de um ordenamento passível de verificação de validade e eficácia, devendo ser afastadas aquelas que se mostrem incompatíveis ao texto constitucional. Em outras palavras, as leis e demais normas jurídicas que se mostram incompatíveis com a constituição não podem permanecer no ordenamento jurídico, e isso é feito por um instrumento denominado controle de constitucionalidade. Esse controle, ao contrário do que pensa a maioria, não é realizado apenas pelo Poder Judiciário, mas sim é irradiado para todos os poderes. Você se lembra quando falamos da Separação dos Poderes? Claro que sim! Pois bem, essa missão de controlar a constitucionalidade das normas foi dada para todos eles, mas cada qual o exerce com sua peculiaridade. Constituição e tratados aprovados na forma do art. 5º §3º Supralegalidade (demais tratados internacionais de Direitos Humanos) Normas legais e tratados internacionais comuns CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE PREVENTIVO. O controle preventivo, isto é, o realizado para evitar que uma norma inconstitucional entre no ordenamento jurídico, é realizado principalmente pelo Legislativo e o Executivo durante aquilo que se denomina “processo legislativo”. LEGISLATIVO - Cabe às Comissões de Constituição e Justiça - CCJs e ao voto dos parlamentares a realização do primeiro filtro de constitucionalidade, impedindo o prosseguimento do processo de elaboração das leis. Por meio da análise das chamadas CCJs, o Legislativo pode rejeitar e arquivar um projeto de lei que seja contrário à constituição. Da mesma forma, durante a votação – de forma não motivada – os parlamentares podem não aprovar um projeto de lei que atente de qualquer forma à constituição. Sendo a lei um ato complexo, ela deverá, quando aprovada pelo Congresso Nacional, passar à análise do Presidente da República para a sua sanção ou veto. A mesma dinâmica ocorre em todos os níveis federativos, isto é, nos estados, as Assembleias Legislativas enviam os projetos aprovados para a sanção ou veto dos governadores, e, nos municípios, as Câmaras enviam para a sanção ou veto dos prefeitos. No Distrito Federal ocorre o mesmo, mas o nome da casa legislativa é Câmara Legislativa, que envia o projeto aprovado para o Governador do Distrito Federal. EXECUTIVO – Ao receber o projeto de lei aprovado pelo legislativo, o chefe do executivo (presidente, governador ou prefeito) poderá sancioná-lo, promulgá-lo e publicá-lo, momento em que ele ingressará no ordenamento jurídico. Também poderá vetar o projeto de lei aprovado. O veto pode ser “político”, quando se referir a um projeto aparentemente constitucional, mas inconveniente ou inoportuno para o país, segundo o ponto de vista do Poder Executivo. O veto será denominado de “jurídico” quando o projeto de lei apresentar inconstitucionalidade formal ou material, não podendo ingressar no ordenamento jurídico. JUDICIÁRIO – O papel do Poder Judiciário no controle preventivo de constitucionalidade é extremamente excepcional1. Somente por meio de um remédio constitucional – o Mandado de Segurança – promovido com exclusividade por um partido político ou por um parlamentar, o Supremo Tribunal Federal permite a interferência judicial no processo legislativo. Isso ocorre quando o projeto de lei (ou de emenda constitucional) violar de forma afrontosa uma cláusula pétrea ou os procedimentos necessários para o exercício do processo legislativo, tornando-o inválido. 1 Mandado de Segurança – MS 32.262 de relatoria do Ministro Luís Roberto Barroso fala sobre a excepcionalidade da medida devendo ser aplicada “uma postura de autocontenção das Cortes”. Disponível em: <www.stf.jus.br> Acesso em: 29 out. 2018. http://www.stf.jus.br/ CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE REPRESSIVO. Com a publicação da lei, ingressa-se no ordenamento jurídico, passando o controle de sua constitucionalidade a ser denominado repressivo. Esse controle é desempenhado de forma primordial pelo Poder Judiciário, com papeis pontuais dos demais poderes. Coube ao judiciário o papel de controle da constitucionalidade das leis em dois sistemas muito diferentes de atuação, o modelo Norte- americano – difuso, e o modelo Austríaco - concentrado. Cláusulas Pétreas – A Constituição prevê um núcleo de assuntos que não pode,em hipótese alguma, ser ameaçado . A esse “núcleo constitucional intangível” denomina -se cláusula pétrea, em razão da sua imutabilidade , mesmo que por meio de emendas constitucionais. Isso quer dizer que, apesar de a constituição poder ser alterada, em determinados assuntos a alteração não poderá extinguir ou diminuir os limites apontados pelo Poder Constituinte Originário. Onde estão essas cláusulas? Artigo 60, §4º da Constituição Federal. “Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir: I - a forma federativa de Estado; II - o voto direto, secreto, universal e periódico; III - a separação dos Poderes; IV - os direitos e garantias individuais.” Sistema difuso de constitucionalidade. Esse sistema é denominado de americano em razão de sua origem histórica remeter ao caso Marbury versus Madison de 1803, em que tornou possível reconhecer a nulidade de qualquer norma que viole a constituição. Esse entendimento é apontado como a origem de um modelo que possibilita a qualquer magistrado, em qualquer instância ou processo, de conhecer e julgar naquele caso em concreto a inconstitucionalidade de uma norma, afastando a sua aplicação. Caro aluno, entenda algo importante. No controle difuso, qualquer juiz ou tribunal(seja ele cível, penal, trabalhista, eleitoral ou militar, etc.) poderá analisar a constitucionalidade de uma norma infraconstitucional e afastar a sua aplicação naquele caso concreto. Isso quer dizer que a questão da validade da norma perante a constituição somente surtirá efeitos para aquelas partes, naquele específico processo, não atingindo as demais pessoas. É por isso que o controle difuso também recebe o nome de controle concreto, de exceção ou defesa ou incidental, e tem efeitos somente entre as partes do processo, o que denominamos inter partes. A inconstitucionalidade de uma norma é a causa de pedir de uma ação e, por esse motivo, é incidentalmente resolvido para que a solução da causa seja alcançada, isto é, o pedido a respeito da utilidade buscada pela ação seja julgada. Nesse sistema, qualquer pessoa, em qualquer processo, poderá suscitar a inconstitucionalidade de uma norma, podendo qualquer juiz ou tribunal se manifestar de forma incidental. Contudo, por se tratar de uma ação que trata da constitucionalidade das normas, a ação poderá chegar até a última instância, o julgamento do STF por meio do Recurso Extraordinário. O STF é o guardião da Constituição Federal e para a sua proteção a CF conferiu a ele diversas competências, inclusive a de julgar o denominado Recurso Extraordinário. Esse recurso, no entanto, vem sofrendo algumas limitações. A mais importante delas é a exigência de repercussão geral, isto é, deve o recorrente demonstrar a relevância do seu recurso para todo o ordenamento jurídico. Sistema concentrado de constitucionalidade O sistema concentrado também é denominado de Austríaco, em razão de ser apontada a sua origem na constituição austríaca de 1920. Nesse sistema, o controle de constitucionalidade deve ser feito por apenas um órgão judicial especializado e de exclusiva função, denominado de Corte Constitucional. Denomina-se concentrado em razão do seu diminuto, ou único, número de órgãos que gozam de tal competência de realizar o controle. Caro aluno, você já percebeu que no Brasil nós adotamos um sistema misto, em que há tanto o controle difuso como uma forma do controle concentrado, realizado em especial pelo Supremo Tribunal Federal. Você está certo! A Constituição de 1988 adotou os dois sistemas, mas não podemos afirmar que o STF é uma Corte Constitucional nos moldes do sistema austríaco. Isso porque a CF estabeleceu diversas competências para esse órgão, tanto no sentido de ser um órgão recursal amplo no que tange ao controle difuso (julga o chamado Recurso Extraordinário), seja Art. 102. § 3º No recurso extraordinário, o recorrente deverá demonstrar a repercussão geral das questões constitucionais discutidas no caso, nos termos da lei, a fim de que o Tribunal examine a admissão do recurso, somente podendo recusá-lo pela manifestação de dois terços de seus membros. (Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004) porque exerce competências originárias, funcionando até mesmo como um tribunal criminal originário, como nos casos dos crimes praticados por agentes que gozam do chamado foro privilegiado. Assim, o STF é um tribunal com amplíssima competência constitucional, não podendo ser considerado de forma técnica uma Corte Constitucional, apesar de ser assim chamado com frequência. O STF tem a função precípua de guarda da Constituição Federal, conforme determina o caput do artigo 102, mas a sua competência é vastamente prevista nos incisos e letras desse dispositivo. No controle concentrado também os legitimados a propor as ações são mais restritos, estão eles previstos em um rol exaustivo no artigo 103 da Constituição. Somente os apontados no artigo 103 poderão promover as denominadas Ações Declaratórias de Inconstitucionalidade, as ADIns. São as ações concentradas de controle constitucional: a Ação Declaratória de Inconstitucionalidade, a Ação Declaratória de Constitucionalidade, a Ação Declaratória de Inconstitucionalidade por Omissão, e a Arguição de Descumprimento de Preceitos Fundamentais. Voltaremos a falar delas nas nossas próximas seções. Ao contrário do controle difuso, somente o STF pode realizar o controle direito ou abstrato das normas infraconstitucionais federais e estaduais perante a Constituição Federal. Poderão também realizar esse controle os Tribunais de Justiça dos estados, das normas municipais e estaduais perante as constituições estaduais de seus estados. Art. 103. Podem propor a ação direta de inconstitucionalidade e a ação declaratória de constitucionalidade: (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004) I - o Presidente da República; II - a Mesa do Senado Federal; III - a Mesa da Câmara dos Deputados; IV a Mesa de Assembleia Legislativa ou da Câmara Legislativa do Distrito Federal; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004) V o Governador de Estado ou do Distrito Federal; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004) VI - o Procurador-Geral da República; VII - o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil; VIII - partido político com representação no Congresso Nacional; IX - confederação sindical ou entidade de classe de âmbito nacional. Nessas ações, os legitimados do artigo 103 requererão ao STF que retire uma norma inconstitucional do ordenamento jurídico, isto é, o pedido e não a causa de pedir é a declaração da inconstitucionalidade. Dessa forma, ao afastar a aplicação da norma inconstitucional, o STF torna a norma inaplicável para todo mundo, o que chamamos de efeito Erga Omnes. RESERVA DO POSSÍVEL A teoria da “reserva do possível” tem origem em uma decisão da Corte Constitucional alemã e foi adotada em diversos julgados do STF. Segundo essa teoria, adota-se a ideia de que as necessidades dos cidadãos são praticamente infinitas, mas, por outro lado, os orçamentos públicos não as são. Desta forma, não é possível que o Estado possa suprir todas as necessidades de todos os cidadãos, pois apenas uma parte desses direitos é possível de ser satisfeita diante da finitude do dinheiro público. A teoria foi largamente reconhecida pelo poder judiciário, contudo há uma sensível mudança de postura diante da necessidade da satisfação daquilo que passou a ser chamado de “mínimo existencial”. Mínimo existencial é a garantia de atendimento básico para a manutenção da esfera de dignidade dos indivíduos, com a garantia mínima do gozo de direitos fundamentais previstos na constituição, como saúde, educação, moradia. Dessa forma, há uma verdadeiratensão2 entre a reserva do possível e a garantia do mínimo existencial. Contudo, a maioria de nossos tribunais 2 Por muitas outras decisões, vejamos essa: “A questão da reserva do possível: reconhecimento de sua inaplicabilidade, sempre que a invocação dessa cláusula puder comprometer o nú cleo básico que qualifica o mínimo existencial (RTJ 200/191-197). O papel do Poder Judiciário na implementação de políticas públicas instituídas pela Constituição e não efetivadas pelo poder público. A fórmula da reserva do possível na perspectiva da teori a dos custos dos direitos: impossibil idade de sua invocação para legitimar o injusto inadimplemento de deveres estatais de prestação constitucionalmente impostos ao poder público. A teoria da "restrição das restrições" (ou da "limitação das l imitações"). Caráter c ogente entende que não pode o Poder Público deixar de cumprir suas obrigações constitucionais sob o pretexto de não possuir os meios econômicos hábeis, em especial quando a própria constituição exige a aplicação de mínimo orçamentário a fazer concretizar as promessas constitucionais, como no caso da educação e da saúde. Pronto, querido aluno! Você já relembrou os pontos essenciais do conteúdo para realizar um excelente trabalho. Vamos à pratica? Afinal, esse é o objetivo do nosso NPJ! Fiquem atentos às instruções que lhe daremos a seguir, elas lhes ajudarão a elaborar a peça processual que o examinador espera de você. Como em qualquer outra situação profissional, você deverá tomar muito cuidado com a estrutura lógica da petição, deve narrar adequadamente os fatos, articular com os fundamentos jurídicos e deduzir uma conclusão lógica, ou seja, o pedido. Redija sua redação de forma clara, impessoal e científica. Sem excessos de linguagem para evitar transmitir qualquer tipo de intimidação aos julgadores. Pronto para começar a praticar? Conteúdo você tem de sobra! Agora só precisamos organizá-lo para começar a produzir com aquela pergunta que não quer calar: Qual o recurso cabível diante da decisão negativa do Tribunal de Justiça? No papel de uma Procuradora de Justiça, vamos propor a medida adequada. Lembre-se de tudo o que acabamos de aprender! Quanto aos requisitos formais da sua petição, você precisa antes de tudo verificar se há alguma lei específica que regulamenta a questão, bem como aplicar as regras gerais previstas no Código de Processo Civil e da própria Constituição Federal, ok? e vinculante das normas constitucionais, inclusive daquelas de conteúdo programático que veiculam diretrizes de políticas públicas, especialmente na área da saúde (CF, arts. 6º, 196 e 197)”. STA 223 AgR, rel. min. Celso de Mello, j. 14-4-2008, P, DJE de 9-4-2014. Feito isso, você deverá: 1) Verificar qual o órgão recursal competente para o seu julgamento, para fazer o correto endereçamento da peça; 2) Apontar corretamente o polo ativo e polo passivo da sua demanda, observando os fundamentos legais; 3) Apresentar a devida fundamentação legal; 4) Narrar os fatos que embasam o seu pedido; 5) Enumerar os requerimentos e pedidos da petição; 6) Não se tratando de uma petição inicial, não é necessário apontar o valor da sua causa, isso já foi feito; 7) Coloque a data e assine. Agora é com você aluno(a)! O que a Procuradora de Justiça Isabella deverá fazer agora? Mãos à obra!
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