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Crimes contra a Pessoa

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DIREITO PENAL CONSTITUCIONAL – CRIMES EM ESPÉCIE 1 
 
 
DIREITO PENAL CONSTITUCIONAL 
– CRIMES EM ESPÉCIE. Professora 
Daniela Duque-Estrada 
P 
 
 
DIREITO PENAL CONSTITUCIONAL – CRIMES EM ESPÉCIE 2 
DIREITO PENAL CONSTITUCIONAL – CRIMES EM ESPÉCIE 
 
 
SUMÁRIO 
 
 
Apresentação da Disciplina........................................................................página 3. 
 
Dos Crimes contra a Pessoa.......................................................................página 5. 
 
Dos Crimes contra o Patrimônio................................................................página 18. 
 
Dos Crimes contra a Dignidade Sexual .................................................... página 26. 
 
Dos Crimes contra a Paz Pública. Dos Crimes contra a Fé 
Pública...................................................................................................página 31. 
 
Dos Crimes contra a Administração Pública................................................página 36. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
DIREITO PENAL CONSTITUCIONAL – CRIMES EM ESPÉCIE 3 
 
 
 
 
APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA 
 
Nesta disciplina, faremos um estudo crítico das principais figuras típicas 
previstas na Parte Especial do Código Penal, a partir da relevância do 
bem jurídico tutelado, de forma a adequá-las aos princípios norteadores, 
limitadores e garantidores do Direito Penal. 
Em seguida, provocaremos o raciocínio crítico-jurídico referente à Parte 
Geral do Direito Penal, das Teorias da Sanção Penal e de seus reflexos 
no estudo dos crimes em espécie, sempre pautado na filtragem 
constitucional. 
Desta forma, na presente disciplina serão identificadas as medidas de 
política criminal adotadas para fins de criminalização de condutas e 
respectiva adoção de Sistemas de Garantia. 
 
OBJETIVOS: 
1. Compreender a relevância do estudo integrado entre as Teorias do 
Delito, da Sanção Penal e os Crimes em Espécie. 
2. Compreender a relação entre o instrumental, teórico e prático por 
meio da exposição, de um contexto pedagógico e de suas experiências 
profissionais. 
3. Compreender as medidas de Política Criminal adotadas para fins de 
seleção dos bens jurídicos, a tipificação das condutas e aplicação de 
sanção penal para fins de legitimação do Controle Social. 
 
BIBLIOGRAFIA 
CUNHA, Rogério Sanches. Manual de Direito Penal. Parte Especial.11. ed. Salvador: 
Editora Jus Podivm, 2019. 
 
 
DIREITO PENAL CONSTITUCIONAL – CRIMES EM ESPÉCIE 4 
LA PEÑA, Daniela de Oliveira Duque-Estrada de. Direito Penal IV. Rio de Janeiro: 
SESES, 2017. 
NUCCI, Guilherme de Souza. Curso de Direito Penal. Vol. 3. Parte Especial. 3. ed. Rio 
de Janeiro, Gen/Forense, 2019. 
PRADO, Luiz Regis. Curso de Direito Penal Brasileiro. Vol. 2. Parte Especial. 16. ed. 
São Paulo: Revista dos Tribunais, 2018. 
 
Bibliografia complementar: 
ARNAU, Frank. Por que os Homens Matam. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1966. 
BRASIL, Decreto-Lei n. 2848, de 07 de dezembro de 1940. Disponível em: 
<www.planalto.gov.br>. Acesso em: 02janeiro. 2019. 
LEAL, Rogério Gesta. Patologias Corruptivas nas Relações Entre Estado, Administração 
Pública e Sociedade: Causas, Consequências e Tratamentos. Santa Cruz do Sul: 
Edunisc – Campus, 2013. 
GERMANO, Luiz Paulo Rosek. O Juiz e a Mídia Reflexos no Processo. São Leopoldo: 
Unisinos, 2012. 
GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal. Parte Especial. Vol.2. 16.ed. Niterói: Impetus, 
2019. 
_____________ Curso de Direito Penal. Parte Especial. Vol.3. 16.ed. Niterói: Impetus, 
2019. 
MASSON, Cleber. Direito Penal. Parte Especial. Vol. 2. 12.ed. Rio de Janeiro, 
Gen/Forense, 2019. 
______________ Direito Penal. Parte Especial. Vol. 3. 9.ed. Rio de Janeiro, 
Gen/Forense, 2019. 
SARMENTO, Daniel e PIOVESAN, Flávia. Nos Limites da Vida - Aborto, Clonagem 
Humana e Eutanásia Sob a Perspectiva dos Direitos Humanos. Rio de Janeiro: Lúmen 
Júris. 
STRECK, Lênio Luiz. Tribunal do júri: símbolos e rituais. Porto Alegre: Livraria do 
Advogado, 1944. 
 
 
 
 
DIREITO PENAL CONSTITUCIONAL – CRIMES EM ESPÉCIE 5 
 
 
 
 
TEMA 
Dos Crimes contra a Pessoa. 
Neste tópico analisaremos as figuras típicas contra a pessoa e, para tanto, 
identificaremos as condutas lesivas ao bens jurídico-penais vida, integridade física, 
psíquica e fisiológica e honra. 
Com relação aos crimes contra a vida, analisaremos as principais questões 
concernentes aos delitos de homicídio, infanticídio, induzimento, instigação e auxílio 
ao suicídio e aborto, de modo a confrontar as controvérsias doutrinárias e 
jurisprudenciais. 
 No que tange ao delito de lesões corporais, serão analisadas as medidas de política 
criminal adotadas, seja para flexibilização do bem jurídico-penal, seja para o 
recrudescimento das medidas de política criminal sobre as lesões perpetradas no 
âmbito de violência doméstica e violência doméstica discriminatória de gênero. 
Por fim, com relação aos delitos contra a honra, bem jurídico-penal disponível, serão 
confrontadas as figuras típicas de calúnia, difamação e injúria a partir da análise de 
seus elementos distintivos. 
 
OBJETIVOS 
 
• Identificar o bem jurídico-penal vida extrauterina e intrauterina. 
• Analisar a indisponibilidade da tutela jurídico-penal da integridade corporal ou 
saúde. 
• Diferenciar os crimes contra a honra 
 
 
 
 
 
 
DIREITO PENAL CONSTITUCIONAL – CRIMES EM ESPÉCIE 6 
BIBLIOGRAFIA 
Bibliografia básica: 
CUNHA, Rogério Sanches. Manual de Direito Penal. Parte Especial.11. ed. Salvador: 
Editora Jus Podivm, 2019. 
PRADO, Luiz Regis. Curso de Direito Penal Brasileiro. Vol. 2. Parte Especial. 10. ed. 
São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010. 
MASSON, Cleber. Direito Penal. Parte Especial. Vol. 2. 12.ed. Rio de Janeiro, 
Gen/Forense, 2019. 
 
Bibliografia complementar 
CAPEZ, Fernando Capez. Curso de Direito Penal. v.4. 5.ed. São Paulo: Saraiva, 2010. 
GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal. Parte Especial. Vol.2. 16.ed. Niterói: Impetus, 
2019. 
_____________ Curso de Direito Penal. Parte Especial. Vol.3. 16.ed. Niterói: Impetus, 
2019. 
MASSON, Cleber. Direito Penal. Parte Especial. Vol. 3. 9.ed. Rio de Janeiro, 
Gen/Forense, 2019. 
 
1. Crimes contra a Vida. 
Em um primeiro momento, é necessária a delimitação do conceito de “vida humana” 
para o Direito Penal, bem como a distinção entre vida intrauterina e extrauterina, e 
seus termos inicial e final. No que concerne ao termo inicial da vida humana, para fins 
penais, não obstante a questão seja extremante controvertida, o melhor entendimento 
é no sentido da adoção da teoria conceptualista, segundo a qual o início da vida 
intrauterina ocorre com a nidação, ou seja, no momento em que o óvulo fecundado é 
fixado no útero materno. Nesse sentido, Luiz Regis Prado afirma que “a gestação tem 
início com a implantação do óvulo fecundado no endométrio”. (PRADO, 2010, p. 86). 
Assim, poderemos diferenciar os delitos contra a vida a partir da distinção entre 
eliminação da vida intrauterina ou extrauterina. No que concerne à eliminação da vida 
intrauterina, tipificada pelo abortamento criminoso, este poderá ser praticado pelo 
agente desde o momento da concepção (nidação) até o instante anterior ao início do 
 
 
DIREITO PENAL CONSTITUCIONAL – CRIMES EM ESPÉCIE 7 
parto, conforme se depreende da interpretação do disposto no artigo 123, do Código 
Penal, que faz expressa menção de que a mãe atuaria durante o parto ou logo após. 
Por outro lado, para fins de caracterização do término da vida extrauterina, o critério 
a ser adotado encontra-se previsto no Artigo 3º, da Lei nº 9434/1997, que dispõe 
sobre a remoção de órgãos, tecidos e partes do corpo humano para fins de transplante 
e tratamento. 
1.1. Homicídio. (Artigo 121, Código Penal). 
O delito de homicídio caracteriza-se pela eliminação da vida extrauterina. Por se tratar 
de um delito material com a admissibilidadeda tentativa, a consumação ocorre com a 
ocorrência do resultado naturalístico. Trata-se ainda de um crime instantâneo de 
efeitos permanentes. 
1.1.1 Homicídio Privilegiado (§1º, art. 121, Código Penal). 
 Uma vez reconhecido o privilégio, a doutrina é unânime em estabelecer que se trata 
de direito subjetivo do réu a diminuição de pena. Por motivo de relevante valor social, 
pode-se entender aquilo que venha a atender os interesses da coletividade, conforme 
estabelecido na Exposição de Motivos da Parte Especial do Código Penal, item n. 39 e 
por motivo de relevante valor moral, aquele que levasse em conta os interesses do 
agente, como o caso do homicídio eutanásico ou de um pai que mata o estuprador da 
filha. A segunda parte do Artigo. 121, §1º apresenta a hipótese de o agente estar 
totalmente influenciado pela emoção, aliado a praticamente um ato reflexo à 
provocação da vítima. 
1.1.2. Homicídio Qualificado (§1º, art. 121, Código Penal). 
Conforme estabelece o item n.38, da Exposição de Motivos da Parte Especial do Código 
Penal, as circunstâncias qualificativas são circunstâncias reveladoras de maior 
periculosidade ou extraordinário grau de perversidade do agente. Vejamos, a seguir 
alguns aspectos relevantes sobre as qualificadoras. 
Consoante expressa previsão legal, art.1º, da Lei n. 8072/1990, o delito de “homicídio 
(art. 121), quando praticado em atividade típica de grupo de extermínio, ainda que 
cometido por um só agente, e homicídio qualificado é considerado hediondo, 
consumado ou tentado, de modo a incidirem todos os institutos repressores da Lei de 
Crimes Hediondos aos condenados pelo respectivo delito. 
 
 
DIREITO PENAL CONSTITUCIONAL – CRIMES EM ESPÉCIE 8 
Importante destacar que, no caso do homicídio qualificado-privilegiado, situação na 
qual a qualificadora será de natureza objetiva, prevalece o entendimento pela 
inaplicabilidade dos institutos repressores da Lei de Crimes Hediondos por meio da 
adoção da técnica de auto integração legislativa - analogia, de modo a aplicar a norma 
contida no art. 67, do Código Penal, segundo a qual devem preponderar os motivos 
determinantes, neste caso, o privilégio – incompatível com a hediondez. 
Atenção. Caso homicídio seja praticado em concurso eventual de pessoas, relevante 
salientar que, consoante a interpretação do disposto no art.30, CP, o privilégio, motivo 
determinante do crime, por se tratar de circunstância de caráter pessoal é 
incomunicável. Com relação às qualificadoras, somente haverá a comunicabilidade das 
qualificadoras de natureza objetiva, ou seja, afetas aos meios e modos de execução 
do delito, desde que o agente que concorra para o delito tenha conhecimento destas. 
Atenção. A causa de aumento de pena ao homicídio praticado por milícia privada 
quando esta estiver sob o pretexto de praticar segurança privada, prevista no §6º, do 
art.121, CP, também é aplicável para os casos de o homicídio ser cometido por grupo 
de extermínio. 
1.1.3 A qualificadora feminicídio 
A referida qualificadora tem por fundamento a prática do homicídio contra a mulher 
por razões de condição de sexo feminino (§2º, VI e§2º- A, art.121, CP). Considera-se 
como tal a violência doméstica e familiar e o menosprezo ou discriminação à condição 
de mulher, sendo aplicável causa de aumento, de 1/3 até a metade, nos casos em que 
o crime for praticado nas circunstâncias previstas no §7º, art.121, CP 
Importante destacar que o Superior Tribunal de Justiça firmou entendimento no 
sentido de que a qualificadora do feminicídio se caracteriza como circunstância de 
natureza objetiva, razão pela qual pode se cumulada com quaisquer outras 
qualificadoras, mesmo as afetas aos motivos determinantes do crime (Resp 
n.17391704/RS, disponível em http://www.stj.jus.br). 
Atenção. O descumprimento das medidas protetivas previstas no art.22, I, II e III, 
da lei n.11340/2006 quando praticado no âmbito do feminicídio configurará causa de 
aumento prevista no inciso IV, do §7º, art.121, CP. 
 
 
DIREITO PENAL CONSTITUCIONAL – CRIMES EM ESPÉCIE 9 
Atenção. Com relação à qualificadora do homicídio funcional, prevista no §2º, VII, 
art.121, CP, surge controvérsia acerca da sua categorização. Para Rogério Sanches 
Cunha se o crime for praticado contra o agente público no exercício de suas funções, 
a qualificadora terá natureza objetiva, por outro lado, se o homicídio for praticado em 
decorrência da função, mas a vítima não a estiver exercendo no momento do delito, a 
natureza será subjetiva (CUNHA, 2019,71) 
1.2. Induzimento, instigação e auxílio ao suicídio (Artigo 122, Código 
Penal). 
A conduta sancionada é atribuída ao terceiro, que induz, instiga ou auxilia alguém 
a suicidar-se, pois, a partir da interpretação do Princípio da Alteridade, a Legislação 
Penal pátria não sanciona a conduta de destruir a própria vida por questões de 
Política Criminal. 
No que concerne ao momento consumativo e possibilidade de caracterização da 
tentativa, a questão resta controvertida, ensejando dois entendimentos. Um 
primeiro entendimento é no sentido de que, por ser um delito instantâneo e de 
mera conduta (PRADO, 2010, p. 70), os resultados lesão grave e morte são apenas 
condições de punibilidade, todavia, prevalece o entendimento de que se trata de 
delito material e, por isto, os resultados lesão grave e morte são elementares do 
tipo. Dessa forma, a consumação exige a ocorrência de tais resultados. Caso 
contrário, a conduta será atípica. (CUNHA, 2019, 89). Vale lembrar que, seja qual 
for o entendimento adotado, a tentativa é inadmissível. 
Com relação à figura majorada prevista no parágrafo único, inciso II, a menoridade 
da vítima, na verdade, refere-se ao menor de 21 e maior de 14 anos, pois, segundo 
melhor entendimento, face à interpretação extensiva do disposto no Artigo 217-A 
do Código Penal, o menor de 14 anos, considerado vulnerável pelo ordenamento 
jurídico pátrio, a princípio, não teria capacidade de discernimento para fins de ser 
instigado, induzido ou auxiliado a praticar seu suicídio, razão pela qual, nestes 
casos, a conduta de terceiro caracterizar-se-ia o delito de homicídio. 
1.3. Infanticídio (Artigo 123, Código Penal). 
Mais uma vez, nesse caso, tutela-se a vida extrauterina, a qual será eliminada pela 
própria mãe do neonato durante ou logo após o parto, desde que ela esteja sob a 
 
 
DIREITO PENAL CONSTITUCIONAL – CRIMES EM ESPÉCIE 10 
influência do estado puerperal. Por tratar-se de crime material, consuma-se com a 
morte do nascituro, sendo admissível a tentativa, haja vista tratar-se de crime 
plurissubsistente. 
O estado puerperal configura elementar do tipo penal e, sendo um critério 
fisiopsíquico, deve ser aferido mediante laudo pericial com vistas à atenuação da 
culpabilidade. Vale lembrar que, se for retirada total ou parcialmente a capacidade 
de entendimento ou de autodeterminação da parturiente em decorrência do grau 
de desequilíbrio fisiopsíquico, aplicar-se-ão as disposições do Artigo 26, caput ou 
parágrafo único do CP. 
Atenção. Questão controvertida versa sobre a comunicabilidade do estado 
puerperal no caso de concurso de pessoas para a prática do delito. Neste caso, 
desde que o agente tenha ciência da existência da elementar, a mesma se 
comunicará caso ambos realizam o núcleo do tipo ou a mãe seja auxiliada por 
terceiro, todavia nos casos em que os atos executórios forem praticados por 
terceiro com o auxílio da mãe, ela será responsabilizada pelo infanticídio e o 
terceiro, por homicídio. 
1.4. Aborto (Artigo 124 a 128, Código Penal). 
Considera-se aborto a eliminação dolosa da vida intrauterina, seja por meio da 
expulsão do útero materno, seja por meio da interrupção dolosa da gravidez, 
levada a termo por terceiro – gestante (Artigo 124, do Código Penal) ou terceiro 
(Artigos 125 e 126, do Código Penal). É irrelevante para a caracterização do delito 
de aborto o estágio de desenvolvimentoda gestação, bem como a capacidade de 
vida independente. Por se tratar de delito material, consuma-se com a morte do 
produto da concepção, sendo irrelevante que ela ocorra dentro ou fora do útero 
materno. Para nossos estudos foram selecionadas, portanto, as condutas 
criminosas de abortamento e o denominado aborto legal ou permitido, previsto no 
art.128, do Código Penal. 
1.4.1 Autoaborto (Artigo 124, Código Penal). 
É possível a prática das condutas do autoaborto pela própria gestante ou do 
consentimento desta para que terceiro o pratique. Na primeira modalidade, 
estamos diante de um delito de mão própria, ou seja, que exige, para a sua prática, 
 
 
DIREITO PENAL CONSTITUCIONAL – CRIMES EM ESPÉCIE 11 
a pessoalidade do sujeito ativo. Logo, não será admissível, no caso de concurso de 
pessoas, a coautoria, mas, somente, a participação. Na segunda modalidade, 
aborto consentido, o legislador optou pelo rompimento com a teoria unitária do 
concurso de pessoas, sendo a conduta da gestante tipificada no Artigo 124, CP, e 
a do terceiro, no Artigo 126, CP. Vejamos, a seguir as questões controvertidas 
sobre o delito. 
Com relação à validade do Consentimento e capacidade para consentir, reconhece-
se que a menor de 18 anos pode consentir para a prática do aborto e, portanto ser 
a conduta do terceiro que praticar o aborto tipificado no art. 126, Código Penal. 
Entretanto, se a gestante for menor de 14 anos, consoante o disposto no art. 126, 
parágrafo único, Código Penal, o terceiro será responsabilizado pelo delito de 
aborto provocado por terceiro sem o consentimento da gestante. 
No que concerne à prática do autoaborto com a participação de terceiro, no qual 
resulte lesões corporais graves ou a morte da gestante, qual será a 
responsabilização penal do partícipe? O melhor entendimento é no sentido de que 
o terceiro será responsabilizado pela participação na figura típica do art. 124, 
Código Penal em concurso formal perfeito com a modalidade culposa afeta aos 
resultados mais gravosos – art.121, §3º ou art. 129, §6º c.c art. 124 n.f art. 70, 
1ª parte, todos do Código Penal, uma vez que o art. 127 do Código Penal é aplicável 
somente aos artigos 125 e 126 do mesmo diploma legal. 
1.4.2. Aborto provocado por terceiro com o consentimento da gestante 
(Artigo 126 do Código Penal) 
Nesta conduta típica há o rompimento com a teoria unitária do concurso de pessoas 
no que concerne à conduta da gestante que consente com a prática do aborto, 
sendo sua conduta tipificada como incursa no Artigo 124, CP. Por configurar crime 
comum (pode ser praticado por qualquer pessoa), admite a ocorrência de concurso 
de pessoas em quaisquer de suas modalidades (coautoria ou participação). 
Cabe lembrar que a gestante poderá desistir da conduta mesmo após o início dos 
atos executórios (durante a operação), desde que antes da interrupção da 
gravidez, caso em que será o terceiro responsabilizado, caso prossiga com a 
conduta, pelo crime do Artigo 125, CP. 
 
 
DIREITO PENAL CONSTITUCIONAL – CRIMES EM ESPÉCIE 12 
1.4.3. Aborto provocado por terceiro sem o consentimento da gestante 
(Artigo 125, Código Penal). 
Nessa figura típica, a gestante e o produto da concepção (óvulo, embrião ou feto) 
são sujeitos passivos da conduta praticada por terceiro. Questão de suma 
importância é a compreensão acerca da ausência de consentimento da gestante, 
podendo ser o dissenso real (nos casos de emprego de fraude, grave ameaça ou 
violência contra a gestante) ou presumido (nos mesmos moldes da caracterização 
da “vulnerabilidade” da vítima prevista no Artigo 217-A do CP – se a gestante não 
é maior de quatorze anos). 
 1.4.4. Aborto qualificado pelo resultado lesão corporal de natureza grave 
ou morte. 
A figura majorada prevista no Artigo 127, Código Penal, configura-se como figura 
preterdolosa e, somente, é aplicável às figuras típicas previstas nos Artigo 125 e 126, 
Código Penal, ou seja, ao terceiro que pratica o aborto e não à gestante, no caso de 
lesões corporais de natureza grave por questões de política criminal, haja vista o 
ordenamento jurídico não sancionar, em regra, a autolesão (princípio da alteridade). 
1.4.5. Abortos Necessário e Humanitário. 
O Artigo 128, do Código Penal apresenta causas especiais de exclusão de ilicitude e 
compreende os denominados abortos necessário e aborto humanitário. Possui por 
fundamento o disposto no item n. 41, da Exposição de Motivos da Parte Especial do 
Código Penal. No caso de aborto necessário, face à ponderação de interesses, o melhor 
entendimento é no sentido de que não há a exigência do consentimento da gestante 
e tampouco a autorização judicial para a prática do aborto. No caso de aborto 
humanitário, por sua vez, é indispensável o consentimento da gestante ou de seu 
representante legal não sendo necessária a autorização judicial ou a existência de uma 
sentença condenatória pelo delito contra a dignidade sexual, cabendo ao médico, por 
questões de cautela, verificar a existência de certidões ou cópias de boletins de 
ocorrências policiais, testemunhos colhidos perante a autoridade policial ou, na 
ausência destes, de atestado médico ou prontuário de atendimento médico afeto às 
lesões decorrentes da conjunção carnal ou da prática de ato libidinoso forçada. 
2. Das Lesões Corporais (Artigo 129, Código Penal). 
 
 
DIREITO PENAL CONSTITUCIONAL – CRIMES EM ESPÉCIE 13 
Em decorrência do princípio da dignidade da pessoa humana, bem como do interesse 
social na manutenção da incolumidade física e mental dos indivíduos, o bem jurídico 
tutelado é considerado um bem público indisponível. Entretanto, tal indisponibilidade 
foi mitigada com o advento da Lei nº 9.099/1995 ao estabelecer que, nos casos de 
lesões corporais culposas e de natureza leve, a ação penal de iniciativa pública passou 
a ser condicionada à representação da vítima ou de seu representante legal (Artigo 
88, da Lei nº 9.099/1995). No mesmo contexto, podemos também questionar a 
validade do consentimento do ofendido e, consequente, disponibilidade do bem 
jurídico em determinadas situações, tais como: lesões desportivas, intervenções 
cirúrgicas, dentre elas, por exemplo, o transplante de órgãos e tecidos, cirurgia 
transexual e esterilização cirúrgica. 
Atenção. Sobre a possibilidade de incidência dos princípios da insignificância e 
adequação social para fins de exclusão da tipicidade material da conduta, compreende-
se aplicável a flexibilização da indisponibilidade do bem jurídico nos casos, por 
exemplo, de perfuração do corpo para a colocação de adereços, bem como a realização 
de tatuagens, desde que preenchimentos os requisitos para a validade do 
consentimento pela vítima, juridicamente capaz. 
2.1. Conflito aparente de normas e concurso de crimes com demais figuras 
típicas. 
É possível que, em alguns casos concretos, possamos nos deparar com situações nas 
quais tenhamos dúvidas acerca da correta tipificação da conduta de lesões corporais, 
quando essa “concorrer” com outras figuras típicas, seja por meio do conflito aparente 
de normas, seja por meio da incidência de concurso de crimes. 
No caso de concurso entre os delitos de lesão corporal leve e injúria real, o ponto 
distintivo resulta do animus do agente, ou seja, se “a violência exercida for ultrajante, 
havendo a intenção de humilhar, envergonhar a vítima, ofender a sua dignidade ou 
decoro” estará configurada a figura típica de injúria real. Por outro lado, caso haja 
significativa lesão corporal, consoante o disposto no § 2º, do Artigo 140, do Código 
Penal, será possível a aplicação concomitante de ambas as sanções por força da 
caracterização de concurso de crimes. 
 
 
DIREITO PENAL CONSTITUCIONAL – CRIMES EM ESPÉCIE 14 
2.2. Distinção entre violência doméstica e violência de gênero 
discriminatório contra a mulher 
Questão a ser analisada com cuidado é o confronto entre as figuras típicas de lesões 
corporaisqualificadas e majoradas mediante a caracterização da violência doméstica 
(Artigo 129, §§ 9°, 10 e 11 do Código Penal) e a violência doméstica e de gênero 
previstas na Lei nº 11.340/2006 (Lei Maria da Penha). 
Inicialmente, temos de observar que a Lei nº 11.340/2006 não tipificou condutas, mas, 
sim, estabeleceu critérios de política criminal a serem adotados nos casos de violência 
doméstica contra a mulher, conforme se depreende da interpretação do disposto no 
Artigo 5º, da Lei n° 11.340/2006. Sendo assim, não há que se confundir violência 
doméstica com violência de gênero. Compreende-se por violência doméstica a 
praticada no âmbito da vida em família, independentemente da existência de 
parentesco. Por outro lado, a violência de gênero, no caso da Lei nº 11.340/2006, 
possui caráter eminentemente discriminatório contra a mulher, tendo, a referida lei 
abarcado os dois conceitos. 
Deve-se atentar que o disposto nos parágrafos 9º, 10 e 11 do Artigo 129 do Código 
Penal apresentam, como dito anteriormente, figuras qualificadas e majoradas a serem 
aplicadas nos casos de lesões corporais praticadas sob a caracterização de “violência 
doméstica”, e não para casos exclusivos de “violência de gênero”, apesar de tais 
parágrafos terem sido inseridos no Código Penal pela Lei nº 11.340/2006. 
No caso de lesões corporais de natureza leve praticadas contra ascendente, 
descendente, irmão, cônjuge ou companheiro, ou com quem conviva ou tenha 
convivido, ou, ainda, prevalecendo-se o agente das relações domésticas, de coabitação 
ou de hospitalidade, a pena cominada passa a ser de detenção, de 3 (três) meses a 3 
(três) anos (art. 129, § 9º, Código Penal). 
Para as lesões corporais de natureza grave ou qualificada pelo resultado morte, 
praticadas no âmbito de violência doméstica, as penas serão majoradas em um terço 
(art. 129, § 10, Código Penal). No caso de lesões corporais praticadas no âmbito de 
violência doméstica contra pessoa portadora de deficiência, as penas serão majoradas 
em um terço (art. 129, § 11). Na hipótese de lesões de natureza grave, gravíssima e 
de lesão seguida de morte (CP, art. 129, §§ 1º, 2º e 3º), não incide a qualificadora do 
 
 
DIREITO PENAL CONSTITUCIONAL – CRIMES EM ESPÉCIE 15 
mencionado § 9º, até por uma razão óbvia: a pena nele cominada é bastante inferior, 
de maneira que seria extremamente vantajoso agredir um parente, um cônjuge ou a 
companheira de modo grave ou gravíssimo. Evidentemente, não é o caso. A 
qualificadora incide somente em relação às lesões dolosas leves. 
2.3. A representação como condição de procedibilidade da ação penal para 
o delito de lesões corporais leves e culposas. 
Com o advento da Lei nº 9.099/1995, por critérios de política criminal, os delitos de 
lesões corporais leves e culposas, por expressa previsão legal, passaram a possuir 
como condição de procedibilidade para a deflagração da ação penal de iniciativa 
pública a representação da vítima, diferentemente da iniciativa incondicionada do 
Ministério Público aplicável aos demais casos de lesão corporal. Dessa forma, a partir 
da referida alteração legislativa, dois questionamentos devem ser feitos: O prazo 
decadencial para a representação e consequente propositura da ação penal, consoante 
o disposto nos Artigo 24 e 38 do Código de Processo Penal, é de seis meses a contar 
da data em que teve conhecimento da autoria do delito, sob pena de decadência do 
direito de ação. 
Atenção. Em relação à violência doméstica contra a mulher, a questão foi enfrentada 
pelo (Supremo Tribunal Federal) STF, tendo sido objeto de Ação Declaratória de 
Inconstitucionalidade (ADI 4.424) ajuizada pela Procuradoria-Geral da República (PGR) 
quanto aos Artigos 12, inciso I; 16; e 41 da Lei Maria da Penha (Lei nº 11.340/2006). 
O Plenário do Supremo Tribunal Federal, por maioria de votos, vencido o presidente, 
ministro Cezar Peluso, julgou procedente, na sessão do dia 09 de fevereiro de 2012, a 
Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 4.424 e decidiu pela possibilidade de o 
Ministério Público dar início a ação penal sem necessidade de representação da vítima, 
bem como pela incompetência dos juizados especiais criminais em relação aos crimes 
cometidos no âmbito da Lei Maria da Penha. 
Por conseguinte, o Superior Tribunal de Justiça editou verbetes de súmulas 
corroborando o recrudescimento do tratamento nos casos violência doméstica contra 
a mulher de modo que: (i) para a configuração da violência doméstica e familiar 
prevista no artigo 5º da Lei n. 11.340/2006 (Lei Maria da Penha) não se exige a 
coabitação entre autor e vítima; (ii) a ação penal relativa ao crime de lesão corporal 
 
 
DIREITO PENAL CONSTITUCIONAL – CRIMES EM ESPÉCIE 16 
resultante de violência doméstica contra a mulher é pública incondicionada; (iii) é 
inaplicável o princípio da insignificância nos crimes ou contravenções penais praticados 
contra a mulher no âmbito das relações domésticas e (iv) prática de crime ou 
contravenção penal contra a mulher com violência ou grave ameaça no ambiente 
doméstico impossibilita a substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de 
direitos (Verbetes de Súmula n. 542, 588, 589 e 600, disponíveis em 
htttp://www.stj.jus.br). 
2.4. A Lesão corporal funcional e crimes hediondos. 
A lesão corporal funcional, com os mesmos requisitos adotados para o homicídio 
funcional, apresenta-se no §12, do art.129, CP, como causa de aumento de pena de 
um a dois terços. Importante destacar que, se das lesões corporais funcionais 
advierem os resultados gravosos de lesão corporal grave e morte, o delito será 
categorizado como delito hediondo, conforme o disposto no art.1º, I-A, da lei 
n.8072/1990. 
3. Crimes contra a Honra (Artigo 138 a 145, Código Penal). 
A honra integra o direito fundamental de personalidade, previsto no Artigo 5º, X, 
da Constituição da República Federativa do Brasil (CRFB) e classifica-se em honra 
objetiva e honra subjetiva, conforme se relacione, respectivamente, à reputação e 
à boa fama que o indivíduo ou à dignidade e ao decoro pessoal da vítima, ou seja, 
ao juízo que cada indivíduo tem de si. 
No âmbito jurídico-penal, o direito à honra apresenta-se como disponível e, 
portanto, passível de validade do consentimento do ofendido para fins de exclusão 
de responsabilidade. Para que o consentimento do ofendido seja válido, é 
necessário que: o bem jurídico tutelado seja disponível, o ofendido tenha 
capacidade para consentir e que o consentimento seja válido. Dependendo do 
momento em que ofendido consinta com a ofensa será caracterizada desde a 
exclusão da tipicidade até o perdão do ofendido. 
Atenção. A partir da premissa de que a pessoa jurídica não pratica crime, mas 
apenas é dotada pela Constituição de responsabilidade penal pelas condutas 
praticadas por seus agentes e de acordo com sua natureza jurídica (Artigo 225, § 
3º, e Artigo 173, § 5º), não há que se falar na possibilidade da pessoa jurídica 
 
 
DIREITO PENAL CONSTITUCIONAL – CRIMES EM ESPÉCIE 17 
figurar no pólo passivo do delito de calúnia, mas tão somente do delito de 
difamação, haja vista a possibilidade de sofrer dano moral, conforme se depreende 
de entendimento sumulado pelo Superior Tribunal de Justiça, no Verbete n.227. 
Atenção. Concurso de ofensas proferidas no mesmo contexto fático. Neste caso, 
o melhor entendimento é no sentido de que, caso as condutas ofensivas lesionem 
espécies de honra distintas, por exemplo, calúnia e injúria ou difamação e injúria, 
será possível o concurso de crimes. Por outro lado, caso condutas ofensivas 
lesionem o mesmo bem jurídico, por exemplo, calúnia e difamação, caracterizar-
se-á conflito aparente de normas a ser solucionado pelo princípio da absorção. 
3.1. Semelhanças e dessemelhanças entre os delitos de calúnia, 
difamação e injúria. 
Na calúnia e na difamação, há a imputação de um fato concreto, que, na primeira, 
deve ser falso e tipificadocomo crime (não se aplica à contravenção penal), não 
exigidos na difamação. Ambos lesionam a honra objetiva. Na injúria, por sua vez, há 
lesão à honra subjetiva ao serem atribuídas à vítima qualidades negativas à sua 
dignidade ou decoro. 
3.2. Exceção da verdade nos crimes contra a honra 
A exceção da verdade caracteriza-se como incidente processual ou forma de defesa 
indireta, que deve ser oposta no momento da resposta preliminar obrigatória prevista 
no Artigo 396-A do Código de Processo Penal. 
Sua admissibilidade encontra-se regulada, por exclusão, no art.138, §3º, do CP, uma 
vez que se aplica como regra aos delitos de calúnia e caracterizará causa excludente 
de tipicidade. Com relação ao delito de difamação, somente será admitida a exceção 
da verdade se o ofendido é funcionário público e a ofensa é relativa ao exercício de 
suas funções e neste caso caracterizará causa excludente de ilicitude. 
3.2. Ação Penal nos crimes contra a honra 
Em regra, a ação penal é deflagrada por iniciativa do ofendido, que tem o prazo 
decadencial de seis meses para o oferecimento da queixa, a contar da data em que 
tiver conhecimento da autoria do delito (Artigo 38, do Código de Processo Penal). A 
ação penal será de iniciativa pública, condicionada à representação do ofendido nos 
casos de crimes praticados contra funcionário público no exercício de suas funções, 
 
 
DIREITO PENAL CONSTITUCIONAL – CRIMES EM ESPÉCIE 18 
injúria real da qual resulte lesão corporal, injúria discriminatória e, condicionada à 
representação do Ministro da Justiça, quando perpetradas contra a honra do 
Presidente da República, ou contra chefe de governo estrangeiro. 
Estabelece o Verbete de Súmula nº 714 do Supremo Tribunal Federal que a 
legitimidade para propositura da ação penal no caso de crime praticado contra a honra 
do funcionário público é concorrente. Ou seja, é facultada ao funcionário a propositura 
de queixa crime para oferecimento da ação penal ou representar ao Ministério Público 
para que o parquet possa oferecer a denúncia. 
3.3. Injúria discriminatória ou preconceituosa e seu confronto com os 
delitos previstos na Lei nº 7716/1989. 
A figura típica de injúria qualificada, preconceituosa ou discriminatória prevista no 
Artigo 140, § 3° do CP não se confunde com os delitos de discriminação ou 
preconceito de raça e cor, pois, enquanto naquela, a conduta visa à ofensa a honra 
de outrem, no delito de racismo, previsto na Lei nº 7716/1989, a conduta do agente 
visa à segregação em função da raça ou cor. 
3.4. Causas especiais de exclusão dos delitos de difamação e injúria. 
O Artigo 142 do Código Penal apresenta, sob a denominação de exclusão do crime, 
situações nas quais as ofensas de difamação e injúria não terão relevância jurídico-
penal. Não obstante a controvérsia doutrinária, o melhor entendimento é no sentido 
que configura causa excludente de ilicitude. 
 
TEMA 
Dos Crimes contra o Patrimônio. 
O conceito de patrimônio, no âmbito do Direito Penal, abrange apenas os créditos (ou 
seja, que possa ser apreciado economicamente) e tudo aquilo que tenha valor 
meramente afetivo, o que economicamente pode ser definido por valor de troca e 
valor de uso, respectivamente. Configura-se, portanto, como conjunto de relações 
jurídicas que possam ser economicamente apreciáveis, não abrangendo, entretanto, o 
patrimônio negativo. 
 
OBJETIVOS 
 
 
DIREITO PENAL CONSTITUCIONAL – CRIMES EM ESPÉCIE 19 
• Identificar o conceito de patrimônio para fins penais. 
• Diferenciar as principais figuras típicas contra o patrimônio. 
• Aplicar as escusas absolutórias e as imunidades relativas aplicáveis aos crimes 
contra o patrimônio. 
 
BIBLIOGRAFIA 
Bibliografia básica: 
CUNHA, Rogério Sanches. Manual de Direito Penal. Parte Especial.11. ed. Salvador: 
Editora Jus Podivm, 2019. 
MASSON, Cleber. Direito Penal. Parte Especial. Vol. 2. 12.ed. Rio de Janeiro, 
Gen/Forense, 2019. 
 
Bibliografia complementar 
GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal. Parte Especial. Vol.2. 16.ed. Niterói: Impetus, 
2019. 
_____________ Curso de Direito Penal. Parte Especial. Vol.3. 16.ed. Niterói: Impetus, 
2019. 
MASSON, Cleber. Direito Penal. Parte Especial. Vol. 3. 9.ed. Rio de Janeiro, 
Gen/Forense, 2019. 
 
1. Furto (Artigo 155, do Código Penal) 
O delito de furto apresenta-se como elemento disparador da análise das demais figuras 
típicas contra o patrimônio, tais como apropriação indébita, roubo e estelionato. 
1.1. Consumação e tentativa 
Não obstante a controvérsia doutrinária sobre o momento consumativo do delito de 
furto, os tribunais superiores firmaram entendimento no sentido da adoção da teoria 
amotio, segundo a qual “dá-se a consumação quando a coisa subtraída passa para o 
poder do agente, mesmo que num curto período de tempo, independentemente do 
deslocamento ou posse mansa e pacífica”. (CUNHA, 2019, 278). Neste sentido, o 
Superior Tribunal de Justiça, sumulou entendimento pela adoção da teoria da amotio 
para fins de caracterização da consumação do delito – Súmula n.582. 
 
 
DIREITO PENAL CONSTITUCIONAL – CRIMES EM ESPÉCIE 20 
Vejamos a seguir, algumas questões controvertidas sobre o delito de furto. 
1.2. Furto qualificado-privilegiado 
Em algumas situações concretas, pode a conduta do agente adequar-se às figuras 
privilegiada e qualificada do delito de furto, o que pode ensejar a discussão acerca da 
compatibilidade de aplicação concomitante da qualificadora e da causa de diminuição 
de pena. O Superior Tribunal de Justiça sumulou entendimento no sentido de sua 
possibilidade, desde que a qualificadora tenha natureza objetiva, uma vez que o 
privilégio será sempre de natureza subjetiva (Verbete de Súmula n.511) 
Atenção. A controvérsia acerca da caracterização da figura tentada nos casos de 
detectores antifurto foi sumulada pelo Superior Tribunal de Justiça, na medida em que 
são passíveis de falha, logo não afastam, por si só, a tipicidade da conduta (Verbete 
de Súmula n.567) 
1.3. Possibilidade da ocorrência de furto qualificado praticado durante o 
repouso noturno. 
A causa de aumento de pena prevista no § 1° do art. 155 do CP - que se refere à 
prática do crime durante o repouso noturno - é aplicável tanto na forma simples 
(caput) quanto na forma qualificada (§ 4°) do delito de furto (Informativo n.554, STJ, 
disponível em: http://www.stj.jus.br). 
Atenção. Face ao respeito aos princípios da legalidade e taxatividade é inadmissível 
aplicar, no furto qualificado, pelo concurso de agentes, a majorante do roubo (Verbete 
de Súmula n.442, Superior Tribunal de Justiça). 
1.3. Distinção entre os delitos de furto mediante fraude e estelionato. 
No furto há a subtração da coisa no momento em que a vigilância sobre o bem é 
desviada em face do ardil; no estelionato a fraude é empregada para obter a entrega 
voluntária do próprio bem pelo proprietário em decorrência do induzimento a erro. 
1.4. Distinção entre os delitos de furto e apropriação indébita 
No delito de apropriação indébita, previsto no Artigo 168 do Código Penal, a coisa é 
entregue licitamente ao agente, sua posse sobre ela é desvigiada, bem 
 
 
http://www.stj.jus.br/
 
 
DIREITO PENAL CONSTITUCIONAL – CRIMES EM ESPÉCIE 21 
como o especial fim de agir de assenhoreamento definitivo é posterior à posse. Por 
outro lado, no delito de furto, o agente não tem a posse do bem, apoderando-se deste 
contra a vontade da vítima, ou seja, o dolo na conduta é anterior à sua posse. 
Atenção. Para que se configure o denominado furto de uso, ilícito civil, necessário o 
cumprimento dos seguintes requisitos: que o bem seja infungível, ausência de especial 
fim de agir de assenhoramento definitivo para si ou para outrem, e restituição imediata 
e integral ao sujeito passivo. 
2. Apropriação Indébita (Artigo 168, do Código Penal) 
O delito de apropriação indébita, crime comum, subjetivamente complexo, de dano e 
material se consumano momento em que o agente inverte o “animus” sobre a posse 
ou detenção da res e passa a tratá-la como se proprietário fosse. Desta forma, a 
consumação pode ocorrer em duas situações: quando dispõe (por exemplo aliena ou 
aluga) a res, ou quando se nega a restituí-la ao seu proprietário, findo o prazo para 
sua entrega, como por exemplo, nos casos de notificação, interpelação judicial ou 
protesto por parte da vítima. 
Atenção. Da mesma forma que o furto, a figura típica admite o privilégio no caso de 
primariedade do agente e pequeno valor da coisa apropriada, conforme dispõe o 
art.170, CP. 
2.1. Apropriação indébita previdenciária (Artigo 168-A, do Código Penal) 
Configura-se como verdadeiro crime tributário previsto no Código Penal. 
 Importante destacar a expressa previsão legal acerca da possibilidade da exclusão de 
punibilidade, em seu parágrafo segundo, nos casos em queo agente, 
espontaneamente, declara, confessa e efetua o pagamento das contribuições, 
importâncias ou valores e presta as informações devidas à previdência social, na forma 
definida em lei ou regulamento, antes do início da ação fiscal. 
Atenção. Considerando os princípios da segurança jurídica, da proteção da confiança 
e da isonomia, aplica-se o princípio da insignificância aos crimes tributários e 
reconhecimento da atipicidade material da conduta – Parâmetro fixado em R$ 
20.000,00 (vinte mil reais), consoante a interpretação do disposto nos artigos 20-B e 
20-C da Lei n. 10.522/2002 e na Portaria PGFN n. 33, Portarias n.75 e 130/MF. 
3. Estelionato (Artigo 171, do Código Penal) 
 
 
DIREITO PENAL CONSTITUCIONAL – CRIMES EM ESPÉCIE 22 
Neste delito o especial fim de agir configura-se pelo dolo de obter lucro ou proveito 
indevido. Por tratar-se de delito material, consuma-se com a obtenção da vantagem 
ilícita e produção de prejuízo alheio, bem como admite a tentativa. 
3.1. Distinção entre os delitos de estelionato e apropriação indébita 
No estelionato, o agente atua dolosamente desde o início, e o dolo é posterior à posse 
ou à detenção. 
4. Aspectos relevantes aplicáveis aos crimes contra o patrimônio 
cometidos sem violência ou ameaça à pessoa. 
4.1. Aplicabilidade do princípio da insignificância aos crimes contra o 
patrimônio 
O reconhecimento do princípio da insignificância levaria ao reconhecimento da 
atipicidade da conduta em face da ausência de tipicidade material. No que concerne 
ao delito de furto, em algumas situações, excetuando as figuras qualificadas em face 
do maior juízo de reprovabilidade da conduta, doutrina e jurisprudência, tem admitido 
incidência do referido princípio. 
4.2. Escusas absolutórias 
Por critérios de política criminal, o legislador estabeleceu a possibilidade de incidência 
de imunidades, de caráter pessoal, e de incomunicáveis, no caso de concurso de 
pessoas, a serem aplicadas aos delitos contra o patrimônio, desde que os referidos 
crimes não fossem praticados com violência ou grave ameaça à pessoa. Tais 
imunidades dividem-se em absolutas ou relativas, conforme representem condições 
negativas pessoais de punibilidade ou condições de procedibilidade da ação penal, 
respectivamente. 
O artigo 181, do Código Penal descreve as situações fáticas nas quais incidirão as 
imunidades absolutas, também denominadas escusas absolutórias. Por outro lado, 
artigo 182 do Código Penal, prevê as denominadas imunidades relativas, nas quais a 
ação penal torna-se condicionada à representação do ofendido. 
Por fim, em relação às imunidades absolutas ou relativas, importante salientar que a 
lei expressamente veda sua aplicação aos delitos praticados com violência ou grave 
ameaça à pessoa e, consoante interpretação analógica, quando o crime é praticado 
mediante qualquer outra forma de redução da capacidade de resistência. 
 
 
DIREITO PENAL CONSTITUCIONAL – CRIMES EM ESPÉCIE 23 
Também não se aplicam aos casos em que o crime é praticado contra pessoa com 
idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos, bem como apresentam caráter intuitu 
personae, logo, circunstância subjetiva e incomunicável no caso de concurso de 
pessoas (art.30, Código Penal). 
5. Roubo (Artigo 157, do Código Penal) 
A partir da premissa de que o delito de roubo se caracteriza como delito complexo, 
importante diferenciar as figuras típicas de roubo próprio e roubo impróprio. No delito 
de roubo próprio, previsto no caput do Artigo 157 do Código Penal, a violência ou 
grave ameaça é empregada antes ou concomitantemente à subtração da res. Por outro 
lado, no roubo impróprio, previsto no § 1° do Artigo 157 do Código Penal, a violência 
ou grave ameaça é empregada após a subtração, em relação de imediatidade. A 
conduta deve ser praticada para assegurar a detenção da coisa ou para garantia da 
impunidade do agente. 
A seguir, serão analisadas questões relevantes sobre o delito de roubo. 
5.1. Consumação e tentativa 
No caso de roubo próprio a consumação se dá nos mesmos moldes do delito de furto, 
ou seja, a partir da teoria da amotio, de modo a tentativa. Por outro lado, com relação 
ao roubo impróprio, a consumação se dá no momento em que o agente emprega a 
violência com o fim de assegurar a posse da res, razão pela qual, o melhor 
entendimento é no sentido de que o referido delito não admite a tentativa, pois esta 
caracteriza, em verdade o concurso material de crimes entre o delito de furto na 
modalidade tentada com o delito resultante da violência, como por exemplo, o delito 
de lesões corporais leves. 
Atenção. No caso de roubo impróprio, caso da violência advenha lesão corporal grave 
ou morte, restará caracterizado o delito de latrocínio. 
5.2. A majorante do emprego de arma e a (des)necessidade de apreensão: 
Em relação à incidência da majorante pelo emprego de arma de fogo, prevista no § 
2°-A, do Artigo 157, questiona-se a necessidade da apreensão do referido instrumento 
do crime, prevalecendo o entendimento de que essa não é obrigatória, utilizando-se 
para tanto os mesmos argumentos estudados em relação à majorante pelo concurso 
de pessoas, ou seja, caso as demais provas colhidas em juízo corroborem com a 
 
 
DIREITO PENAL CONSTITUCIONAL – CRIMES EM ESPÉCIE 24 
afirmação de que o delito foi perpetrado com o emprego de arma de fogo, incidirá a 
majorante. 
Atenção. No caso de concurso de causas de aumento da parte especial, conforme 
interpretação do disposto no art.68, parágrafo único, do Código Penal, aplica-se a 
causa que mais aumenta. Desta forma, relevante a análise da incidência da causa de 
aumento prevista no §2º-A, quando da concorrência com as causas de aumento 
previstas no §2º, do art.157, CP, como por exemplo, a concorrência entre concurso 
de pessoas e emprego de arma de fogo. 
5.2. Latrocínio (art.157, §3º, II, do Código Penal) 
O delito de roubo qualificado pelo resultado morte, tipificado como delito hediondo 
pela Lei nº 8.072/1990, recebeu dela a denominação expressa de “latrocínio” em seu 
Artigo 1º, II. Em relação ao referido delito, é necessário o enfrentamento de alguns 
questionamentos, a seguir: 
5.2.1. Competência para processo e julgamento. 
 Não obstante o fato de considerarmos que, no caso concreto, o resultado morte possa 
advir de conduta dolosa, em face da inserção topográfica do delito no rol de delitos 
contra o patrimônio, prevalece a competência do juiz singular para o processo e 
julgamento do referido delito. Tal entendimento foi sumulado no verbete nº 603 do 
Supremo Tribunal Federal. 
5.2.2. Consumação e tentativa. 
Por tratar-se de delito complexo, agravado pelo resultado e plurissubsistente, é 
possível a caracterização da tentativa, desde que, uma vez iniciados os atos 
executórios, não haja a consumação em decorrência de circunstâncias alheias à 
vontade do agente. A questão é: o que preponderará para fins de consumação do 
delito, o resultado da subtração da res ou o resultado morte da vítima da violência? 
Não obstante a inserçãotopográfica do delito no rol de crimes contra o patrimônio, 
imperiosa sua interpretação em consonância com os princípios norteadores de direito 
penal insertos na Constituição da República, segundo os quais, deverá preponderar o 
bem jurídico-penal vida. Desta forma, segundo entendimento sumulado pelo Supremo 
Tribunal Federal (Súmula 603), será caracterizado o delito consumado sempre que 
houver a consumação do resultado morte, independentemente da consumação do 
 
 
DIREITO PENAL CONSTITUCIONAL – CRIMES EM ESPÉCIE 25 
roubo. Por outro lado, quando o homicídio não se consumar, restará o delito de 
latrocínio na forma tentada e aqui, para fins de aplicação de pena, será de suma 
importância a classificação da tentativa em perfeita ou imperfeita, branca ou cruenta. 
6. Extorsão (art.158, do Código Penal) e Extorsão mediante sequestro 
(art.159, do Código Penal) 
As figuras típicas de extorsão e extorsão mediante sequestro contemplam tipos penais 
complexos, na medida em que, além de lesionar o bem jurídico patrimônio, visam à 
lesão, respectivamente, da integridade física e psíquica ou a liberdade do indivíduo. 
Ainda, ambos se configuram como delitos formais, nos quais a concretização do 
especial fim de agir de obtenção de indevida vantagem econômica, para si ou para 
outrem, apresenta-se como mero exaurimento dos delitos. Acerca do tema, o verbete 
de Súmula nº 96 do Superior Tribunal de Justiça determina que a consumação do 
delito de extorsão ocorre independentemente de obtenção da vantagem indevida. 
Atenção. O delito de extorsão qualificado pela restrição de liberdade e a lei 
n.8072/1990. Nos casos que resultado morte na figura do §3º, do art.158, CP, o 
melhor entendimento é pela impossibilidade de incidência da lei de crimes hediondos, 
por força do principio da legalidade, haja vista o rol do art.1º, da lei n.8072/1990 ser 
taxativo. 
6.1. Distinção entre os delitos de extorsão e roubo 
A diferença entre os tipos se verifica a partir da prescindibilidade ou não da 
colaboração da vítima. No delito de roubo, a conduta é perpetrada pelo agente (sujeito 
ativo), sendo irrelevante para a consumação do delito o comportamento da vítima; no 
caso da extorsão, o comportamento da vítima é imprescindível para que o agente 
pratique a sua conduta. Outro ponto distintivo dos referidos delitos refere-se à sua 
classificação doutrinária quanto ao resultado e, consequentemente, quanto ao 
momento consumativo do delito. O delito de roubo é material, ao passo que o delito 
de extorsão, formal. 
6.2. Distinção entre os delitos de extorsão e extorsão mediante sequestro. 
A partir da premissa de que o delito de extorsão mediante sequestro configura- se 
como delito complexo, no qual, por expressa previsão legal a privação da liberdade da 
vítima configura meio para a execução do delito contra o patrimônio, de modo que a 
 
 
DIREITO PENAL CONSTITUCIONAL – CRIMES EM ESPÉCIE 26 
distinção se refere ao fato de que o pagamento da vantagem indevida no caso do 
delito do art.158, CP deve ser feito pela própria vítima, ao passo que, no caso do delito 
previsto no art.159, CP, por terceiro como resgate. 
 
TEMA 
Dos Crimes contra a Dignidade Sexual 
O delito de estupro inaugura o estudo sobre os crimes contra a dignidade sexual e tem 
como bem jurídico-penal a proteção da liberdade sexual – integridade e autonomia 
sexual, juridicamente relevante com base no direito fundamental à intimidade, previsto 
no art. art.5º, X, da CRFB/1988. 
Paralelamente à proteção da liberdade e autonomia sexual de modo a impedir qualquer 
forma de violência ou exploração, o legislador optou por tipificar as condutas 
praticadas valendo-se da vulnerabilidade da vítima, situação na qual a pessoa se 
encontra mais suscetível de violação de seus direitos, seja por razões de idade, sexo, 
deficiência ou qualquer outro meio que reduza a capacidade de discernimento. 
Adiante identificaremos algumas das principais controvérsias sobre o tema. 
 
OBJETIVOS 
• Identificar as figuras típicas dos delitos contra a Dignidade Sexual. 
• Definir a expressão “vulnerável” para fins penais. 
• Coordenar as questões relevantes sobre os Crimes contra a Dignidade 
Sexual. 
BIBLIOGRAFIA 
Bibliografia básica: 
CUNHA, Rogério Sanches. Manual de Direito Penal. Parte Especial.11. ed. Salvador: 
Editora Jus Podivm, 2019. 
MASSON, Cleber. Direito Penal. Parte Especial. Vol. 2. 12.ed. Rio de Janeiro, 
Gen/Forense, 2019. 
 
Bibliografia complementar 
 
 
DIREITO PENAL CONSTITUCIONAL – CRIMES EM ESPÉCIE 27 
GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal. Parte Especial. Vol.2. 16.ed. Niterói: Impetus, 
2019. 
_____________ Curso de Direito Penal. Parte Especial. Vol.3. 16.ed. Niterói: Impetus, 
2019. 
MASSON, Cleber. Direito Penal. Parte Especial. Vol. 3. 9.ed. Rio de Janeiro, 
Gen/Forense, 2019. 
 
1. Estupro (Artigo 213, Código Penal) 
Trata-se de uma figura típica na qual permite que o ato libidinoso se manifeste de 
diversas formas, independente de contato ou não de órgãos sexuais, ou até mesmo 
quando o sujeito ativo do crime obrigue a vítima a praticar atos em si própria, que 
possa contemplar a vítima. Mas não se pode negar que é exigível uma participação 
física da vítima na prática do ato libidinoso. 
Caracteriza-se como tipo subjetivamente complexo, haja vista a existência do dolo 
genérico afeto ao constrangimento ilegal, bem como o especial fim de agir em relação 
à prática de conjunção carnal ou qualquer outro ato libidinoso. 
Por tratar-se de delito material, no que concerne à conjunção carnal consuma- se com 
a introdução, ainda que parcial, do pênis na cavidade vaginal; em relação à prática de 
qualquer outro ato libidinoso, com a efetiva prática do ato. 
Ainda, importante destacar que se configura como tipo misto alternativo na medida 
em que a prática de uma ou mais ações nucleares pelo agente configura crime único. 
O mesmo raciocínio se aplica ao delito de estupro de vulnerável. 
Atenção. As qualificadoras relativas ao resultado mais grave (lesão grave e morte), 
seja para o delito de estupro, seja para o estupro de vulnerável são consideradas 
condutas preterdolosas, ou seja, o dolo está na conduta antecedente e o resultado 
produzido será a título de culpa. Em outras palavras, cabe salientar que as lesões 
corporais de natureza leve ou as vias de fato resultantes da violência empregadas pelo 
agente serão absorvidas pela figura típica simples. 
Atenção. Incidência da lei de crimes hediondos: face ao princípio da legalidade, os 
delitos de estupro e estupro de vulnerável são tipificados como delitos hediondos 
(art.1º, V e VI, da lei n.8072/1990). 
 
 
DIREITO PENAL CONSTITUCIONAL – CRIMES EM ESPÉCIE 28 
2. Da exposição da intimidade sexual. Registro não autorizado da 
intimidade sexual. (Artigo 216-B, Código Penal) 
Essa figura típica classifica-se como infração penal de menor potencial ofensivo e 
tem por finalidade tipificar a conduta de agente que expunha a prática de atos 
sexuais praticados por terceiros em ambientes privados, conduta até então 
sancionada no âmbito cível por meio de indenização por danos morais, ou seja, até 
sua tipificação pela lei n.13772/2018. Havia uma grande lacuna legislativa acerca 
desta conduta. Interessante destacar que a conduta não exige um especial fim de 
agir e tampouco a finalidade de satisfação da lascívia. 
3. Estupro de vulnerável. (Artigo 217-A, Código Penal) 
Importante destacar que o consentimento da vítima ou sua experiência em relação ao 
sexo, no caso de menor de 14 anos, não tem relevância jurídico-penal, consoante 
entendimento sumulado pelo Superior Tribunal de Justiça (Súmula n.593) de modo 
que a vulnerabilidade passa a ter um caráter absoluto. 
Da mesma forma que o delito de estupro, configura-se como tipo penal alternativo de 
modo que a prática de uma ou mais condutas descritas no tipo penal em um único 
contexto fático configura delito único. Esta classificaçãojá foi objeto de críticas, pois 
com a revogação do art.214, do Código Penal e sua consequente continuidade 
normativa, desapareceu a possibilidade de concurso de crimes quando da prática de 
conjunção carnal e atos libidinosos diversos de penetração no mesmo contexto fático, 
tendo sido, sob este aspecto, a lei n.12015/2009 considerada à época, novatio legis in 
mellius. 
Ainda, por expressa previsão legal, as figuras de estupro e estupro de vulnerável são 
descritas como crimes hediondos (Lei n.8072/1990, art.1º, V e VI). 
 
4. Corrupção de menores (Artigo 218, do Código Penal) 
Ainda sobre delitos contra vulnerável, a figura típica de corrupção de menores, prevista 
no art. 218, do CP, prevê como ação nuclear a conduta de induzimento, aliciamento 
do menor a satisfazer a lascívia de outrem. Trata-se de crime formal, cujo momento 
consumativo ocorre com o induzimento do vulnerável a satisfazer à lascívia de outrem 
 
 
DIREITO PENAL CONSTITUCIONAL – CRIMES EM ESPÉCIE 29 
(pessoa determinada). Caso o agente induza o menor a satisfazer a sua própria 
lascívia, restará caracterizado o delito de estupro de vulnerável. 
Questão relevante a ser tratada diz respeito à revogação da Lei nº 2.252/54 e a 
alteração promovida na Lei nº 8.069/90. A Lei nº 12.015/09 revogou a Lei nº 2.252/54, 
que tratava também da corrupção de menores, bem como acrescentou ao Estatuto da 
Criança e do Adolescente (ECA), o Artigo 244-B. 
5. Distinção entre as figuras previstas nos Artigos 218; 218-A e 218-B, 
do Código Penal. 
A figura típica prevista no Artigo 218 contempla as práticas sexuais meramente 
contemplativas; a figura do Artigo 218- A compreende o induzimento ao menor de 14 
anos para que este assista/ presencie a prática de atos libidinosos e a conduta descrita 
no Artigo 218-B recai sobre um número indeterminado de pessoas, diferentemente do 
que ocorre no Artigo 218, no qual a conduta recai sobre uma pessoa determinada. 
Atenção. A pornografia envolvendo criança e adolescente encontra-se tipificada nos 
Artigos 240, 241, 241-A a 241-D, da Lei nº 8.069/1990. 
Atenção. A figura típica do Art.218-B e seus parágrafos 1º e 2º são tipificadas pela 
lei de crimes hediondos (art.1º, VIII, da lei n.8072/1990). 
6. Divulgação de cena de estupro ou de cena de estupro de vulnerável, 
de cena de sexo ou de pornografia (Artigo 218-C, Código Penal) 
A figura típica descrita no art.218-C, do Código Penal, se configura como tipo misto 
alternativo e algumas das ações nucleares se apresentam como permanentes, como: 
expor à venda, disponibilizar e divulgar. 
Caso a vítima seja menor de 18 anos, face ao princípio da especialidade, prevalecerá 
a aplicação da figura típica descrita nos artigos 241 e 241-A, da lei n.8069/1990. 
Ainda, importante destacar que o parágrafo segundo, estabelece expressamente causa 
excludente de ilicitude nos casos em que a publicação tenha natureza jornalística, 
científica, cultural ou acadêmica com a adoção de recurso que impossibilite a 
identificação da vítima, ressalvada sua prévia autorização, caso seja maior de 18 
(dezoito) anos. 
7. Ação penal nos crimes contra a dignidade sexual (Artigo 225, Código 
Penal) 
 
 
DIREITO PENAL CONSTITUCIONAL – CRIMES EM ESPÉCIE 30 
Consoante expressa previsão legal do art.225, do Código Penal, nos crimes contra a 
liberdade sexual e nos crimes sexuais contra vulnerável a ação penal será pública 
incondicionada. 
8. Estupro coletivo e Estupro corretivo. 
O art. 226, IV, CP, apresenta causas de aumento que podem variar de um a dois 
terços. São os denominados Estupro coletivo e Estupro corretivo. O estupro coletivo 
caracteriza-se como causa especial de aumento aplicável somente ao delito de estupro 
face ao maior juízo de reprovabilidade da conduta, todavia o legislador não 
estabeleceu sua incidência ao estupro de vulnerável. Com relação ao estupro corretivo, 
esta causa de aumento tem por fundamento a discriminação com relação à orientação 
sexual da vítima, consubstanciada em verdadeira motivação cruel. 
Atenção. Questão controvertida versa sobre a aplicação simultânea dos incisos I e 
IV, do art.226, face ao disposto no art.68, parágrafo único, também do Código Penal 
que estabelece, expressamente, que no caso de concurso de causas de aumento 
previstas na parte especial do Código Penal, aplicar-se-á somente a causa que mais 
aumente. Desta forma, o inciso I, do art.226, CP se aplica a todos os crimes previstos 
no título, exceto ao crime de estupro. 
 
Curiosidade. No caso da prática de mais de uma conduta no mesmo contexto fático, 
em se tratando de figuras típicas caracterizadas como mistas alternativas, as ações 
nucleares que não forem utilizadas para fins de tipificação de conduta poderão ser 
utilizadas para fins da fixação da pena-base, quando da análise das circunstâncias 
judiciais (art.59, Código Penal). 
 
TEMA 
Dos Crimes contra a Paz Pública. Dos Crimes contra a Fé Pública. 
Para que se possa estudar os delitos contra a paz pública, imperiosa torna-se a 
identificação do bem jurídico-penal tutelado neste capítulo. 
Em relação aos crimes contra a fé pública, torna-se imperiosa a identificação do bem 
jurídico-penal, de natureza supraindividual e pode ser definido a partir da noção 
desenvolvida na seara de Direito Público, como a credibilidade conferida aos 
 
 
DIREITO PENAL CONSTITUCIONAL – CRIMES EM ESPÉCIE 31 
documentos emitidos por autoridades públicas ou privadas por ela delegados no 
exercício de suas funções, de modo a presumir-se, em face da preponderância do 
interesse público, sua legitimidade e veracidade. 
 
OBJETIVOS 
• Identificar as figuras típicas dos delitos contra a Paz Pública. 
• Investigar as medidas de política criminal ensejadoras da criminalização 
de atos preparatórios como figuras típicas autônomas. 
• Diferenciar falsidade material e ideológica. 
 
BIBLIOGRAFIA 
Bibliografia básica: 
CUNHA, Rogério Sanches. Manual de Direito Penal. Parte Especial.11. ed. Salvador: 
Editora Jus Podivm, 2019. 
MASSON, Cleber. Direito Penal. Parte Especial. Vol. 2. 12.ed. Rio de Janeiro, 
Gen/Forense, 2019. 
 
Bibliografia complementar 
GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal. Parte Especial. Vol.2. 16.ed. Niterói: Impetus, 
2019. 
_____________ Curso de Direito Penal. Parte Especial. Vol.3. 16.ed. Niterói: Impetus, 
2019. 
MASSON, Cleber. Direito Penal. Parte Especial. Vol. 3. 9.ed. Rio de Janeiro, 
Gen/Forense, 2019. 
 
1. Delitos contra a Paz Pública 
1.1. Associação Criminosa. 
Com o advento das alterações legislativas pelas leis n. 12.850/2013, 12.720/2012 
e 11343/2006 surgiu verdadeiro conflito aparente de normas entre as diversas 
formas de associação criminosa a ser solucionado pelo princípio da especialidade. 
 
 
DIREITO PENAL CONSTITUCIONAL – CRIMES EM ESPÉCIE 32 
Desta forma, podemos resumir que hoje, para fins de confronto com os artigos 288 
e 288-A, ambos do Código Penal, as seguintes formas de associação criminosa: 
• Art. 288, do Código Penal - associação criminosa de, no mínimo, três pessoas, 
com animus de permanência para a prática de quaisquer crimes, exceto milícia 
privada, crimes hediondos e equiparados (art. 1º e 2º da Lei nº 8.072/90) e 
associação para fins de tráfico de drogas (art. 35 da Lei nº 11.343/06). Pena: 
reclusão de 1 a 3 anos. 
• Art. 288-A do Código Penal - associação criminosa, organização paramilitar, 
milícia particular, grupo ou esquadrão de, no mínimo, três pessoas, com animus de 
permanência, constituída para a prática de quaisquer crimes previstos no Código 
Penal, ainda que hediondos (art.1º da Lei nº 8.072/1990), exceto crimes 
equiparados a hediondos (art. 2º da Lei nº 8.072/90) e associação para fins de 
tráfico de drogas. (art. 35 da Lei nº 11.343/06). Pena: reclusão de 4 (quatro) a 8 
(oito) anos. 
• Art.8º da Lei nº 8072/1990 - associação criminosa de, no mínimo, três pessoas, 
com animus de permanência para a prática de quaisquercrimes hediondos e 
equiparados (arts.1º e 2º da Lei nº 8072/90), exceto milícia privada e associação 
para fins de tráfico de drogas (art. 35 da Lei nº 11343/06). Pena: reclusão de 3 
(três) a 6 (seis) anos. 
• Art. 35 da Lei nº 11343/2006 - associação criminosa de, no mínimo, duas 
pessoas, com animus de permanência para a prática de tráfico de drogas (art. 35, 
Lei nº 11.343/06). Pena: reclusão de 3 (três) a 10 (dez) anos e pagamento de 700 
a 1.200 dias-multa. 
Importante destacar que, a necessidade de essa associação ter uma natureza 
estável e permanente permaneceu inalterada, sendo certo que esse é o ponto de 
distinção para o concurso de agentes, em que a associação será eventual. Por ser 
um delito formal, consuma-se com a adesão do terceiro com o especial fim de 
cometer um número indeterminado de crimes, sem necessidade da prática de 
qualquer crime sequer em decorrência dessa associação. Se, todavia, em 
decorrência da associação, houver a prática de um crime, será aplicável o concurso 
material de crimes previsto no Artigo 69 do Código Penal. 
 
 
DIREITO PENAL CONSTITUCIONAL – CRIMES EM ESPÉCIE 33 
 Ainda, para que se caracterize a associação criminosa, não há necessidade de 
que todos os integrantes da associação sejam imputáveis, bastando que apenas 
um o seja. A Lei nº 12.850/2013 acrescentou, ainda, como majorante do crime, o 
aumento de pena até a metade para o imputável que venha a integrar criança ou 
adolescente à associação criminosa. 
Atenção. Pode ser que haja a prática de um dos crimes para o qual os agentes 
estavam associados. Nesse caso, em alguns desses crimes, como é o caso do 
roubo, existe também, como majorante, o emprego da arma. Haverá a incidência 
do Artigo 288, parágrafo único, e Artigo 157, § 2º, I, do Código Penal sem 
ocorrência de bis in idem, uma vez que os bens jurídicos atingidos são distintos. 
1.2. Constituição de milícia privada. 
A constituição de milícia privada, prevista no art.288-A, do Código Penal, trata-se 
de novatio legis incriminadora, razão pela qual deverá ser respeitado o princípio da 
irretroatividade da lei penal. Nessa figura típica, não houve delimitação do número 
mínimo de agentes a integrar a figura típica, não obstante a natureza 
plurissubjetiva do delito em análise. Se partirmos de uma interpretação sistemática, 
podemos concluir que, em respeito ao disposto no Artigo 288 do Código Penal, 
para a caracterização da figura prevista neste mesmo artigo, imprescindível a 
existência de um número mínimo de três agentes. 
Atenção. O crime em questão limitou a abrangência da sua incidência às figuras 
típicas previstas no Código Penal, de modo a ser inaplicável aos delitos previstos 
na Legislação Especial, sob pena de caracterizar-se verdadeira analogia 
incriminadora. 
Atenção. O delito de milícia privada é considerado especial em relação à 
associação criminosa prevista no art.8º, da lei de crimes hediondos, quando as 
condutas perpetradas pela associação configurarem crimes hediondos (previstos 
no art.1º, da lei n.8072/1990), todavia tal entendimento não se aplica aos crimes 
equiparados a hediondos (previstos no art.2º, da lei n.8072/1990). 
 
2. Delitos contra a Fé Pública 
 
 
DIREITO PENAL CONSTITUCIONAL – CRIMES EM ESPÉCIE 34 
Com relação aos delitos contra a fé pública, cujo bem jurídico-penal como 
supraindividual pode ser definido a partir da noção desenvolvida na seara de Direito 
Público, como a credibilidade conferida aos documentos emitidos por autoridades 
públicas ou privadas por ela delegados no exercício de suas funções, de modo a 
presumir-se, em face da preponderância do interesse público, sua legitimidade e 
veracidade. 
Vejamos a seguir a distinção entre falsidade material (documental) e falsidade 
ideológica de modo a identificar as principais controvérsias sobre o tema. 
 
2.1. Falsificação de documento. (Artigos 297 e 298, CP) 
O bem jurídico tutelado é, diretamente, a fé pública e, indiretamente, o terceiro 
prejudicado com a falsificação. Consuma-se no momento em que o documento é 
criado (falsidade total) ou modificado (falsidade parcial) e, assim, tornando-se apto a 
enganar terceiros, sendo irrelevante seu uso, haja vista tratar-se de crime formal. O 
objeto material do delito é o documento e, se ele for considerado documento público, 
é aquele compreendido como emanado do poder público. 
A doutrina classifica o documento público em três categorias: (i) formal e 
substancialmente público: emana do funcionário público no exercício de suas funções, 
e seu conteúdo relaciona-se ao interesse público. (CUNHA, 2009, p. 347); (ii) 
formalmente público e substancialmente privado: emana do funcionário público no 
exercício de suas funções e seu conteúdo relaciona-se ao interesse privado e (iii) 
documento público por equiparação: é aquilo que se encontra previsto no Artigo 297, 
§ 2º. 
Na falsidade material, o documento não é autêntico, ou seja, a falsidade recai sobre 
seus elementos extrínsecos. Ainda sobre a falsidade material, há dois tipos penais 
distintos: falsidade de documento público (Artigo 297, CP) e falsidade de documento 
particular (Artigo 298, CP). Já na falsidade ideológica, o documento externamente é 
autêntico; seu conteúdo, no entanto, é que será falso. 
Tema controvertido versa sobre a caracterização de concurso de crimes ou conflito 
aparente de normas nos casos em que o agente pratica, no mesmo contexto fático, 
os delitos de falsificação de documento público e estelionato. O Superior Tribunal de 
 
 
DIREITO PENAL CONSTITUCIONAL – CRIMES EM ESPÉCIE 35 
Justiça firmou entendimento sumulado no sentido que caso o falso se esgote no 
estelionato, sem maior potencialidade lesiva, será por este absorvido. (Verbete de 
Súmula n. 17). Por outro lado, o Supremo Tribunal Federal se manifestou no sentido 
de caracterização de concurso formal de crimes, conforme se depreende da leitura do 
Informativo n.541, disponível em http:www.stf.jus.br. 
2.2. Falsidade Ideológica 
No delito de falsidade ideológica, diferentemente do que ocorre na falsidade 
documental na qual há criação de um documento ou alteração de sua forma, há a 
alteração de seu conteúdo, seja total ou parcial, nos casos em que o documento não 
foi emitido pela autoridade competente ou pelo verdadeiro subscritor. 
2.2. Questões relevantes. 
A seguir, veremos algumas questões relevantes sobre o tema: 
• No caso de falsificação e uso de documento público falso pelo falsário, o delito 
previsto no Artigo 304 do Código Penal será absorvido pelo Artigo 297 do 
mesmo código, haja vista configurar mero exaurimento (pós fato impunível). 
• A substituição de fotografia em documento de identidade: nesse caso, surgem 
dois entendimentos: o primeiro, segundo o qual a conduta é de falsidade de 
documento público, tem por fundamento a assertiva de que a foto é parte 
integrante deste; por outro lado, para o entendimento que sustenta a 
caracterização de falsa identidade, argumenta que o documento permanece 
autêntico. 
• Preenchimento abusivo de documento em branco assinado por outrem: sobre 
tema há duas situações distintas a serem analisadas, a saber: (i) agente recebe 
licitamente o papel assinado em branco para posterior preenchimento e o 
preenche indevidamente. Nesse caso, restará caracterizado o delito de falsidade 
ideológica e (ii) agente subtrai o papel assinado em branco e o preenche. Nesse 
caso, restará caracterizado o delito de falsidade material (documental). 
• Falsa declaração de pobreza: aqui, a questão versa sobre a caracterização ou 
não de delito de falso, nos casos em que o agente para fins de obtenção de 
assistência judiciária gratuita, afirma, mediante falsa declaração, pobreza. O 
Superior Tribunal de Justiça já se manifestou no sentido de que a conduta é 
 
 
DIREITO PENAL CONSTITUCIONAL – CRIMES EM ESPÉCIE 36 
atípica e não configura o delito previsto no art.299, CP, na medida em que a 
declaraçãose sujeita à comprovação posterior, realizada, de ofício, pelo 
magistrado, ou mediante impugnação (RHC 23121/SP). 
• Com relação à falsa atribuição de identidade para fins de eximir-se de 
responsabilidade penal, o Superior Tribunal de Justiça sumulou entendimento 
no sentido de que a conduta é típica, ainda que em situação de alegada 
autodefesa (Verbete de Súmula n.552) 
 
TEMA 
Dos Crimes contra a Administração Pública 
Para o Direito Penal, a expressão Administração Pública deve ser definida, conforme 
preconiza Luiz Regis Prado, como toda a atividade funcional do Estado, seja 
subjetivamente (órgãos instituídos para a concreção de seus fins), seja objetivamente 
(atividade estatal realizada com fins de satisfação do bem comum). 
OBJETIVOS 
• Identificar os delitos contra a Administração Pública praticados por funcionário 
público e respectiva responsabilidade penal do agente público 
• Identificar os delitos contra a Administração Pública praticados por particular 
contra a Administração Pública por meio de seus elementos objetivos, 
subjetivos e normativos. 
• Analisar as questões relevantes sobre os Crimes contra a Administração Pública. 
 
BIBLIOGRAFIA 
Bibliografia básica: 
CUNHA, Rogério Sanches. Manual de Direito Penal. Parte Especial.11. ed. Salvador: 
Editora Jus Podivm, 2019. 
LA PEÑA, Daniela de Oliveira Duque-Estrada de. Direito Penal IV. Rio de Janeiro: 
SESES, 2017. 
MASSON, Cleber. Direito Penal. Parte Especial. Vol. 2. 12.ed. Rio de Janeiro, 
Gen/Forense, 2019. 
 
 
 
DIREITO PENAL CONSTITUCIONAL – CRIMES EM ESPÉCIE 37 
Bibliografia complementar 
GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal. Parte Especial. Vol.2. 16.ed. Niterói: Impetus, 
2019. 
_____________ Curso de Direito Penal. Parte Especial. Vol.3. 16.ed. Niterói: Impetus, 
2019. 
MASSON, Cleber. Direito Penal. Parte Especial. Vol. 3. 9.ed. Rio de Janeiro, 
Gen/Forense, 2019. 
 
1. Crimes praticados por funcionário público contra a Administração 
Pública. 
Para a análise das figuras típicas contra a Administração Pública, imprescindível a 
delimitação do conceito de funcionário público para fins penais. Dispõe expressamente 
o Artigo 327, do Código Penal, que será funcionário público aquele que exerce cargo, 
emprego ou função pública, ainda que transitoriamente ou sem remuneração. 
Há ainda o funcionário público por equiparação, consoante dispõe o parágrafo primeiro 
do respectivo dispositivo legal, aquele que venha a exercer cargo, emprego ou função 
pública em entidade paraestatal e ainda aquele que trabalha para empresa prestadora 
de serviços contratada ou conveniada para a execução de atividade típica da 
Administração Pública, conforme determina o Artigo 327, § 1º, do Código Penal. 
Veremos a seguir as controvérsias sobre as principais figuras típicas categorizadas 
como praticadas por funcionário público. 
1.1. Peculato (art.312, do Código Penal) 
As condutas dolosas previstas descrevem figuras especiais dos delitos de 
apropriação indébita (caput) e de furto (§1º), caracterizando-se, portanto, 
como delitos funcionais impróprios ou mistos. Por outro lado, no caso da 
conduta culposa, o agente público, por meio da quebra do dever objetivo de 
cuidado, concorre para a prática de peculato doloso por outrem. Desta forma, 
as figuras típicas do peculato classificam-se em: (i) peculato-apropriação; (ii) 
peculato-desvio ou malversação; (iii) peculato impróprio ou peculato-furto; (iv) 
peculato culposo (v) peculato mediante erro de outrem, previsto no art.313, CP 
 
 
DIREITO PENAL CONSTITUCIONAL – CRIMES EM ESPÉCIE 38 
e (vi) peculato eletrônico, previsto no art. 313-A, CP, delito caracterizado como 
delito de mera atividade. 
Atenção. Questão importante a ser analisada é a possibilidade do concurso de 
pessoas e consequente comunicabilidade da elementar funcionário público ao 
particular, quando este concorre para a prática do delito contra a Administração 
Pública. Consoante interpretação do o art. 30 do Código Penal, podemos concluir que 
as elementares objetivas ou subjetivas se comunicam desde que o outro agente tenha 
ciência desta elementar. Lembremos que a elementar funcionário público possui 
natureza subjetiva, pois se refere à condição específica do agente. 
 
1.2. Concussão. (Artigo 316, do Código Penal). 
A conduta dolosa prevista descreve uma figura especial do delito de extorsão 
caracterizando-se, portanto, como delito funcional impróprio ou misto. Trata-se de 
delito formal, ou seja, consuma-se no momento da exigência da vantagem, sendo que 
a obtenção desta vem a ser mero exaurimento do crime. 
Diferencia-se do delito de extorsão (art. 158, CP) na medida em que neste há a 
utilização de violência ou grave ameaça para a obtenção da vantagem, ao passo que, 
na concussão, o funcionário não se vale de violência nem de ameaça. 
 Ainda, se diferencia do delito de corrupção passiva (art.317, CP), pois neste o núcleo 
do tipo descreve a conduta de “solicitar”, diferentemente do delito de concussão, no 
qual o agente “exige” para si ou para outrem a vantagem indevida, ou seja, impõe à 
vítima a prática de uma conduta que o beneficie e esta cede por “temor” a possíveis 
represálias. 
1.2.1. Excesso de exação (Artigo 316, §1º, Código Penal): configura-se como 
a exigência rigorosa de tributos (imposto, taxa ou contribuição de 
melhoria) ou contribuição social e perfaz-se mediante duas modalidades: 
exigência indevida do tributo ou contribuição social e cobrança vexatória 
ou gravosa não autorizada em lei. 
1.3. Corrupção Passiva (Artigo 317, do Código Penal). 
O ordenamento jurídico prevê condutas típicas tanto para o agente que se 
corrompe, quanto para o terceiro à Administração Pública que o corrompe – 
 
 
DIREITO PENAL CONSTITUCIONAL – CRIMES EM ESPÉCIE 39 
hipótese em que terceiro responderá por corrupção ativa. Houve, desta forma, 
rompimento à teoria unitária do concurso de pessoas previsto no Artigo 29, do 
Código Penal. 
A figura típica se configura como tipo penal de ação múltipla ou tipo misto alternativo 
sendo certo que a bilateralidade de condutas nem sempre ocorrerá. Vejamos as 
possibilidades de realização da conduta: (i) solicitar vantagem indevida: a proposta 
emana do agente público e consuma-se independentemente da entrega da vantagem; 
(ii) receber vantagem indevida: a proposta emana do terceiro e consuma-se no 
momento em que o agente recebe a vantagem indevida e (iii) aceitar promessa de tal 
vantagem: neste caso, não é necessário o recebimento da vantagem; o delito restará 
consumado com o mero consentimento do agente público. 
Vale lembrar ainda que a conduta obrigatoriamente deve guardar relação com a função 
exercida pelo funcionário público. Significa dizer que deve existir relação de 
causalidade entre a solicitação, o recebimento ou o aceite da promessa de vantagem 
indevida com a contraprestação do agente público, seja por meio de uma conduta 
comissiva ou omissiva, de sua competência específica. 
Cabe destacar as figuras de Corrupção passiva majorada, pevista no §1º, do dispositivo 
legal e também denominada equivocamente como qualificada. nesta conduta o agente 
público realiza o prometido ao terceiro na conduta prevista no caput do referido artigo. 
Neste caso, o exaurimento do delito foi considerado fato punível, caracterizado como 
causa de aumento da figura típica. 
Ainda, com relação à corrupção passiva privilegiada (Art. 317, §2º, do Código Penal), 
diferentemente das figuras previstas no caput e no §1º o funcionário público não visa 
atender a interesse próprio, mas cede à solicitação de terceiro “comum na 
reciprocidade do tráfico de influência” (CUNHA: 2014, p.769). 
1.4. Facilitação de contrabando ou descaminho (Artigo 318, do Código 
Penal). 
Nesta figura típica o legislador rompeu com a teoria unitária do concurso de pessoas 
na medida em que optou por tipificar a conduta do agente que, na verdade, realiza 
conduta acessória

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