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Semântica e Linguística textual

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1 
 
SUMÁRIO 
 
PREFÁCIO .................................................................................................................. 2 
UNIDADE 1 - SEMÂNTICA ......................................................................................... 3 
1.1. A SEMÂNTICA FORMAL ......................................................................................... 5 
1.2. A SEMÂNTICA DA ENUNCIAÇÃO ........................................................................... 11 
1.3. A SEMÂNTICA COGNITIVA ................................................................................... 14 
1.4. ALGUMAS CONSIDERAÇÕES ............................................................................... 20 
UNIDADE 2 - LINGÜÍSTICA TEXTUAL ................................................................... 21 
2.1. CONCEITO DE TEXTO ......................................................................................... 25 
2.2. A CONSTRUÇÃO TEXTUAL DO SENTIDO ................................................................. 27 
2.2.1. A Coesão textual ...................................................................................... 27 
2.2.2. A Coerência textual .................................................................................. 29 
2.2.3. Considerações: Coerência e Coesão textuais ......................................... 30 
2.2.4. Situacionalidade ....................................................................................... 32 
2.2.5. Informatividade ......................................................................................... 32 
2.2.6. Intertextualidade ....................................................................................... 33 
2.2.7. Intencionalidade ....................................................................................... 34 
2.3. FORMAS DE PROGRESSÃO TEXTUAL .................................................................... 34 
2.4. GÊNEROS TEXTUAIS .......................................................................................... 36 
2.5. LINGÜÍSTICA TEXTUAL E CONTEXTO ..................................................................... 38 
ÚLTIMAS PALAVRAS .............................................................................................. 42 
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 43 
 
 
 
 
Todos os direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convenção internacional de 
direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios 
eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e 
recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 
2
 
PREFÁCIO 
 
A Semântica e a Lingüística Textual são dois campos de estudo da lingüística 
que se aproximam em muitos aspectos. A Semântica é a ciência do sentido e a 
Lingüística Textual é o ramo da Lingüística que trata da construção do sentido no 
texto. Daí a possibilidade de se apresentar em um mesmo material de estudo esses 
dois campos do conhecimento. 
Com relação à Semântica, podemos dizer que a preocupação com o sentido 
das palavras e sua relação com o mundo datam da antiguidade. Os filósofos gregos 
já manifestavam uma certa curiosidade com relação à motivação do sentido das 
palavras e travavam longas discussões nas quais alguns defendiam que a relação 
entre a palavra e seu significado não era arbitrária, que tinha razão de ser, outros 
acreditavam que o sentido dado a uma seqüência sonora que configurava uma 
determinada palavra era convencional, e arbitrária, portanto. 
A Lingüística Textual, por outro lado, é uma ciência bastante nova tendo seus 
desenvolvimentos iniciais já na segunda metade da década de 60 e primeira metade 
dos anos 70. Durante seus primeiros anos, essa ciência ocupava um lugar marginal 
nos estudos lingüísticos, que nessa época estavam voltados para a configuração 
geral da linguagem. A preocupação com a questão do texto recebeu um maior 
destaque somente nos 80 e, ainda nessa época, apareceram estudiosos 
interessados no processamento cognitivo do texto, o que arranjou o cenário para o 
surgimento de uma tendência que dominaria a década de 90, o sócio-cognitivismo. 
O que se verifica ao estudar a história desses dois campos do conhecimento 
lingüístico é que desde o seu aparecimento até a sua consolidação, a Semântica e a 
Lingüística Textual percorreram um longo caminho e nesse percurso acabaram por 
ampliar e modificar a forma com a qual os fenômenos lingüísticos eram tratados. 
Sua contribuição para o desenvolvimento do conhecimento lingüístico foi tão 
importante que fez com que elas se estabelecessem definitivamente no cenário dos 
estudos da linguagem. 
 
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3
 
UNIDADE 1 - SEMÂNTICA 
 
Pode-se dizer que a Semântica é a ciência do significado. No entanto, para se 
definir o objeto de estudos da semântica é preciso, antes, definir o conceito de 
significado. Uma tarefa freqüentemente complicada, uma vez que o termo se aplica 
a várias e variadas situações de fala: Se questionamos qual o significado de mesa, 
queremos saber o significado de um termo; por outro lado, se a pergunta é “Qual o 
significado de sua atitude?”, nossa questão perpassa pela intenção não-lingüística 
do nosso interlocutor; nos questionamos ainda sobre o significado de um filme, sobre 
o significado da vida ou sobre o significado de uma pichação na parede. Enfim, há 
uma ampla gama de aplicação do termo “significado” em sentidos tão dispersos que 
se torna praticamente impossível abarcar todas essas situações sem que isso 
comprometa a validade de uma teoria científica sobre o significado. 
Uma outra dificuldade relacionado a formulação de uma ciência do significado 
está no fato de o tratamento da significação extrapolar as fronteiras da lingüística 
indo se ancorar em questões relativas ao conhecimento. Na tentativa de responder a 
de que forma atribuímos significado a uma seqüência de sons, chega-se a um ponto 
fundamental que é a necessidade de se adotar um ponto de vista sobre a aquisição 
de conhecimento. É justamente nesse campo, muitas vezes espinhoso, que os 
semanticistas se debruçam na busca de uma resposta que esclareça a relação entre 
linguagem e mundo, ou, sobre como é possível o conhecimento. 
Se, como anteriormente afirmado, há várias formas de se conceber o 
significado, há também várias semânticas, cada uma elegendo a sua noção 
particular de significado. Cada uma dessas semânticas responde diferentemente à 
questão da relação entre linguagem e mundo. O estruturalismo saussureano, por 
exemplo, definia o significado como uma unidade de diferença, o significado se dá 
numa estrutura de diferenças com relação a outros significados – a cadeira se define 
por não ser sofá, nem mesa, nem banco. Assim, para esse ponto de vista, o 
significado não tem nada a ver com o mundo, cadeira não é o nome de um objeto no 
mundo, mas a estrutura de diferença com sofá, mesa, banco. 
Ao estabelecer sua teoria, Saussure logo encontraria diversos seguidores que 
fariam ecoar suas tendências no seio da sociedade cientifica, sofrendo um confronto 
por volta da década de 1930, com o surgimento das tendências da Sintaxe 
 
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4
 
Estrutural, de Martinet, na Escola de Paris. Nesse período, surgem, então, grandes 
nomes e movimentos de estruturalistas da linguagem, dando suas contribuições 
para um melhor entendimento da lingüística no período saussuriano. Por volta de 
1914 na Escola de Genebra, encontramos Bally e, aproximadamente, em 1923, na 
Escola de Moscou, temos como exemplo Propp, um estruturalista russo, cujos 
estudos deram ênfase nos textos literários. Bally teve um papel de destaque nos 
estudos semânticos ao propor conhecimentos voltados à estilística. Bally a definiria 
como estudo dos elementos afetivos da linguagem, situada na sincronia e integrada 
no problema da distinção entre a língua e a fala. Bally e seus seguidores procuraram 
classificar o valor estilístico dos meios de expressão e determinar as razões da 
escolha a empregar esta ou aquela opção. E assim, muitos nomes com 
preocupações semelhantes no campo lingüístico assumem seus papéis de destaque 
nos estudos que norteariam a consolidação da história da Semântica Geral. 
Já para a Semântica Formal o significado é um termo complexo que se 
compõe de duas partes, o sentido e a referência; o sentido de um nome é o modo de 
apresentação do objeto/referência. Assim, nessa perspectiva, a relação da 
linguagem com o mundo é fundamental. 
Outra perspectiva, herdeira do estruturalismo, a chamada Semântica da 
Enunciação, vê o significado como o resultado do jogo argumentativo criado na 
linguagem e por ela. A principal diferença com relação ao estruturalismo é que na 
Semântica da Enunciação, a palavra cadeira, por exemplo, significa as diversas 
possibilidades de encadeamentos argumentativos das quais a palavra pode 
participar. Seu significado é o somatório das suas contribuições em inúmeros 
fragmentos do discurso. Já para a Semântica Cognitiva, cadeira é a superfície 
lingüística de um conceito adquirido por meio de nossas manipulações sensório-
motoras com o mundo. É tocando objetos que são cadeiras que formamos o 
conceito pré-lingüístico cadeira que aparece nas práticas lingüísticas como ‘cadeira’. 
Esse conceito teria uma estrutura prototípica, ou seja, se definiria por um conjunto 
de traços partilhados por todos os membros do conjunto – um objeto de quatro 
pernas, por exemplo. 
Como se vê, a semântica é tratada dentro de mais de uma corrente teórica, 
sendo a Semântica Formal, a Semântica da Enunciação e a Semântica Cognitiva as 
 
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5
 
três vertentes que compõe o atual quadro dos estudos do significado no Brasil. 
Assim, buscaremos nas próximas seções apresentar uma descrição de cada uma 
dessas perspectivas. 
 
1.1. A Semântica Formal 
A Semântica Formal foi um dos primeiros referenciais teóricos e partiu da 
consideração de que as sentenças se estruturam logicamente. As bases para esta 
forma de tratamento do significado estão nas relações lógicas desenvolvidas por 
Aristóteles. 
Aristóteles desenvolve um tipo de raciocínio dedutivo em que se evidencia a 
existência de relações de significado que se dão independentemente do conteúdo 
das expressões. Esse raciocínio, conhecido como silogismo, consistia no seguinte 
processo: se formos capazes de garantir a validade de duas premissas, poderíamos 
concluir a terceira. Um exemplo clássico de silogismo pode ser assim descrito: 
 
(1) Premissa 1 – Todo homem é mortal; 
 Premissa 2 – Platão é um homem; 
 Premissa 3 – Logo, Platão é mortal. 
 
A relação lógica (ou formal) expressa no exemplo acima está inserida, na 
verdade, numa relação de conjuntos. O conjunto dos homens está contido no 
conjunto dos mortais; se Platão é um componente do conjunto dos homens, então 
ele é necessariamente um componente do conjunto dos mortais. Assim, estabelece-
se relações entre termos (homem/mortal) sem que se atente para o seu significado, 
o que implica que independente das expressões que compõem as relações, o 
raciocínio será sempre válido. 
A Semântica Formal, tal como é concebida hoje, deve muito a um matemático 
e lógico alemão chamado Gottlob Frege (1848-1925). As maiores contribuições de 
Frege à semântica foram o estabelecimento da distinção entre sentido e referência e 
do conceito de quantificador. De acordo com esse autor, o estudo científico do 
significado só é possível se diferenciarmos os seus diversos aspectos para reter 
apenas aqueles que são objetivos. É com esse raciocínio que ele exclui da 
 
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semântica o estudo das representações individuais que uma dada palavra pode 
provocar. Quando ouço a palavra árvore, por exemplo, formo uma idéia de árvore 
que é apenas minha, pois tem a ver com minha experiência subjetiva no mundo; 
minha árvore pode ser uma jaboticabeira, como a de uma outra pessoa pode ser a 
de um ipê ou simplesmente a de uma árvore seca. Essas representações 
individuais, não passíveis de inspeção, portanto, são transferidas à Psicologia e a 
Semântica acaba por restringir seus estudos aos aspectos objetivos do significado. 
O sentido de um nome próprio como ‘rainha dos baixinhos’ é o que nos 
possibilita chegar a um certo objeto no mundo de conhecimento público, a Xuxa - a 
referência. Dessa forma, tem-se que o sentido é o que nos permite chegar a uma 
referência no mundo. É a partir dessa distinção apresentada por Frege que podemos 
explicar a diferença entre: 
 
(2) A rainha dos baixinhos é a rainha dos baixinhos. 
(3) A rainha dos baixinhos é a estrela da globo. 
 
Enquanto a sentença expressa em (2) é uma verdade óbvia que independe 
dos fatos no mundo, a sentença (3) apresenta uma relação de igualdade que 
necessita ser verificada no mundo. Assim, se pudermos, de fato, estabelecer que 
‘rainha dos baixinhos’ é o mesmo objeto que ‘estrela da globo’, aprendemos, então, 
uma verdade sobre o mundo: que podemos nos referir à Xuxa de pelo menos duas 
maneiras diferentes. A sentença (3) expressa uma verdade sintética, isto é, uma 
verdade que só pode ser apreendida pela inspeção de fatos no mundo, por isso, 
diferentemente da verdade expressa em (2) cujo grau de informatividade é zero, ela 
pode nos proporcionar um ganho real de conhecimento. 
É somente com a distinção entre sentido e referência que somos capazes de 
explicar a diferença entre as sentenças (2) e (3), pois embora ambas tenham a 
mesma referência, elas expressam pensamentos diferentes. Se o sentido é o 
caminho que nos permite chegar à referência, quando descobrimos que dois 
caminhos levam à mesma referência, aprendemos algo sobre esse objeto, 
adquirimos conhecimento sobre o mundo. Quando tomamos consciência da 
igualdade, descobrimos dois sentidos para alcançar a mesma referência. Uma 
 
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mesma referência pode, pois, ser recuperada por meio de vários caminhos. 
Considere, por exemplo, a cidade do Rio de Janeiro. Podemos nos referir a ela por 
meio de diferentessentidos: a cidade do Rio de Janeiro, a cidade maravilhosa, Rio 
de Janeiro, a capital do Estado do Rio de Janeiro. 
Frege, ao apresentar a sua proposta sobre a distinção entre sentido e 
referência, recorre a uma analogia que consistia num telescópio apontando para a 
lua. A lua é a referência uma vez que sua existência e propriedades independem 
daquele que a observa, no entanto, ela pode ser olhada a partir de diferentes 
perspectivas e a cada ângulo de observação pode-se apreender algo novo sobre 
ela. A imagem da lua alcançada pelas lentes do telescópio é comum a qualquer 
pessoa, é a essa imagem compartilhada que é chamada sentido. Se, por outro lado, 
mudamos o telescópio de posição, vemos uma face diferente da mesma lua, 
alcançamos o mesmo objeto a partir de outro sentido. 
É o sentido o que nos permite chegar a um objeto no mundo (uma referência), 
mas é esse objeto no mundo que nos permite estabelecer um juízo de valor, ou seja, 
avaliar se o que dizemos é verdadeiro ou falso. Assim, o que torna uma dada 
premissa verdadeira não está na linguagem, mas nos fatos do mundo. 
Para Frege, um nome próprio deve ter sentido e referência. Rio de Janeiro e 
Capital do Estado do Rio de Janeiro são dois nomes próprios, porque têm sentido e 
nos permitem falar sobre um objeto no mundo, a cidade do Rio de Janeiro. Os 
nomes próprios são saturados porque expressam um pensamento completo e 
podemos, a partir deles, identificar uma referência. No entanto, há expressões que 
são incompletas e que, portanto, não nos permite chegar a uma referência. Esse é o 
caso da expressão ‘ser capital de’. Esse termo, por não expressar um pensamento 
completo, não serve para alcançarmos uma referência. Veja os exemplos abaixo: 
 
(4) Belo Horizonte é a capital de Minas Gerais. 
(5) Florianópolis é a capital de Santa Catarina. 
 
Essas duas sentenças são nomes próprios porque expressam um 
pensamento completo e têm referência. Já o termo ‘a capital de’, que se repete nas 
duas sentenças, é uma expressão insaturada. Para expressar um pensamento 
 
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completo, a oração deve ser preenchida tanto no espaço que a antecede quanto no 
que a sucede. Esses lugares vazios são chamados argumentos e a expressão 
insaturada chama-se predicado. Nesse caso, especificamente, tem-se um predicado 
de dois lugares, porque há dois lugares a serem preenchidos por argumentos: 
argumento 1 é a capital de argumento2. 
Esse contraste entre funções incompletas, que precisam ser preenchidas por 
argumentos, e funções completas diz respeito à capacidade de referenciação. Isso 
quer dizer que uma oração insaturada precisa ser completada por argumentos para 
ser um nome próprio e, com isso, ter como referência um valor de verdade. 
O predicado pode ser preenchido por um nome próprio como ocorre nos 
exemplos apresentados como pode também ser preenchido por um outro tipo de 
argumento, a expressão quantificada ou quantificador. Uma oração quantificada é 
aquele que apresenta uma expressão quantificada que indica certo número de 
elementos, é o caso de: 
 
(6) Todos os homens são mortais. 
(7) Há uma garrafa dentro da geladeira. 
 
As palavras grifadas exercem um papel de quantificação, isto é, traçam limites 
à aplicação das propriedades expressas pelas demais palavras. 
Um quantificador age sobre a informação aplicada a um predicado. Assim, em 
(6), a sentença seria interpretada como uma informação de que a propriedade “se é 
homem é mortal” tem uma aplicação universal, ou seja, o predicado ‘ser mortal’ se 
aplica a todos os elementos que compõem o predicado ‘ser homem’. Por sua vez, a 
sentença (7) seria interpretada como significando que há exatamente um objeto que 
realiza a propriedade de ser garrafa e estar dentro da geladeira. 
A interação dos quantificadores entre si, com a negação e com o plural, dá 
origem a ambigüidades de um tipo particular, conhecidas como ambigüidades de 
escopo. Considere a sentença: “O João não convidou só a Maria”. Essa sentença 
possui duas interpretações possíveis: (1) o João só não convidou a Maria ou (2) o 
João não só convidou a Maria, mas também outras pessoas. A diferença entre as 
duas interpretações ocorre devido a combinação dos operadores não e só: ou o não 
 
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tem escopo sobre o só, gerando não só, ou o só é que tem escopo sobre o não, 
produzindo só não. 
Um outro elemento importante com relação ao papel dos nomes próprios, diz 
respeito às descrições definidas e indefinidas. As descrições são sintagmas 
nominais que tem por núcleo um substantivo comum. Da mesma forma que os 
nomes próprios, as descrições servem para constituir os objetos do mundo em 
referentes. Muitos objetos não têm nome próprio, aí, freqüentemente, optamos por 
utilizar as descrições. Também quando o objeto possui um nome próprio podemos 
optar por usar as descrições, já que essas têm a vantagem de apontar 
características relevantes dos próprios objetos. 
A maneira mais comum de se fazer referência a algum objeto consiste 
justamente em se usar uma descrição indefinida na primeira referência e descrições 
definidas (ou pronomes anafóricos) nas referências seguintes. Veja o exemplo: 
 
 (8) Era uma vez um rei1 que tinha uma bela filha2. Certo dia, o rei1 chamou a 
filha2 e falou... 
 
Uma descrição se compõe, como pode se observar nos exemplos, de um 
artigo (definido ou indefinido) e um substantivo comum. As descrições definidas são 
aquelas que se iniciam por artigo definido, enquanto que as descrições indefinidas 
são aquelas que começam com o artigo indefinido. O artigo definido carrega uma 
marca de dêixis, o que significa dizer que ele remete à situação em que a sentença é 
proferida. 
Outra relação de sentido da qual tratou Frege, diz respeito à pressuposição. 
Observe as orações abaixo: 
 
(9) Pedro parou de bater na mulher. 
(10) Pedro batia na mulher, no passado. 
(11) Pedro não bate na mulher, atualmente. 
 
As orações (10) e (11) apresentam, separadamente, duas informações que 
aparecem juntas na oração (9) e representam uma situação que ocorreu no passado 
 
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(Pedro batia na mulher) e outra situação que ocorre no presente (Pedro não bate na 
mulher). Esses desdobramentos de interpretação da oração (9) são possíveis devido 
à presença do verbo parar de, que acompanhado do verbo bater indica que num 
dado momento do passado Pedro batia na mulher e que no momento atual isso não 
ocorre. 
Para Frege, essa pressuposição de existência faz parte das condições de 
verdade da sentença, mas não do seu sentido. Isso quer dizer que uma sentença 
como em (9) expressa um pensamento completo, mas para atribuirmos a ela um 
valor de verdade pressupomos a existência de uma entidade da qual pressupomos 
algo. Essa pressuposição existencial não é semântica, e como forma de defender 
essa idéia, Frege levanta que se a pressuposição fosse semântica,a negação da 
sentença seria ambígua. Então, uma sentença como “Pedro não parou de bater na 
mulher” significaria, caso a pressuposição fosse semântica, que ou não existe um 
Pedro ou o Pedro não parou de bater na mulher. No entanto, a negação não tem 
escopo sobre o sujeito, isto é, não negamos a existência de alguém que é o Pedro, 
mas negamos a afirmação de que ele parou de bater na mulher. Ou seja, a 
pressuposição de que existe alguém que se chama Pedro se mantém inalterada na 
negação, o que evidencia que essa não se confunde com o conteúdo da sentença. 
Pensando, no entanto, na possibilidade da não-existência de um sujeito 
(Pedro, no exemplo acima), Frege apresenta a seguinte solução: sentenças que se 
referem a seres ou coisas que não têm existência real, ou seja, sentenças cuja 
pressuposição de existência é falsa, têm sentido, mas não têm referência. Dessa 
forma, elas não são nem verdadeiras e nem falsas. 
Um outro estudioso, conhecido como Bertrand Russell, propôs uma outra 
solução, a partir da consideração do artigo definido o enquanto quantificador. 
Partindo da afirmação de que os quantificadores podem se combinar, ao se 
considerar que o artigo definido é um quantificador, pode-se inferir que o operador 
não incide sobre a proposição ou sobre parte da proposição, alterando-lhe o valor de 
verdade, estabelecendo-se, então, relações de escopo. 
A noção de escopo ajuda-nos a compreender a negação como uma operação 
significativa que não afeta necessariamente todos os conteúdos da oração em que 
ocorre. 
 
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Apesar das diferentes formas de se abordar o fenômeno, a Semântica Formal 
considera que há pressuposição quando tanto o valor de verdade quanto a falsidade 
da sentença dependem da verdade da sentença pressuposta. 
O estabelecimento do conceito de pressuposição foi marcante, principalmente 
no que tange aos estudos do significado, o que levou, na década de 70, a uma 
ampla gama de estudos sobre o tema. E, posteriormente, ao surgimento de um outro 
modelo, a Semântica da Enunciação. 
 
1.2. A Semântica da Enunciação 
Segundo Ducrot, um dos maiores estudiosos da Semântica da Enunciação, a 
forma de tratamento da linguagem pela Semântica Formal é inadequada, porque se 
baseia num modelo informacional em que o conceito de verdade é externo à 
linguagem. Na Semântica Formal, a linguagem é um meio para chegarmos a uma 
verdade que está fora da linguagem, o que nos permitiria tratar de questões relativas 
ao mundo e, com isso, adquirir um conhecimento sobre ele. Ducrot não acredita que 
o conceito de referência em Frege esteja realmente cercado de realismo. Para ele, é 
o nosso conhecimento de lua que depende do sentido. Fazendo uso da metáfora do 
telescópio de Frege, Ducrot apresenta sua crítica dizendo que quando vemos a 
mesma lua a partir de pontos de vista diferentes, não vemos luas diferentes. Embora 
sutil, essa diferença é necessária para a distinção entre semânticas objetivas, que 
postulam uma ordem no mundo que dá conteúdo à linguagem, e as semânticas 
relativistas, que acreditam que não há uma ordem no mundo que seja dada 
independentemente da linguagem e da história. A Semântica da Enunciação 
acredita que a linguagem constitui o mundo e, por isso, se insere na perspectiva 
relativista. 
Para a Semântica da Enunciação, a referência não é mais do que uma ilusão 
criada pela linguagem. Para essa perspectiva, estamos sempre inseridos na 
linguagem e se há elementos, como os dêiticos, termos referenciais (pronomes, 
artigo definido), que nos dão a sensação de estar fora da língua, essa sensação é 
apenas ilusória. Para Ducrot, a linguagem é um jogo de argumentação enredado em 
si mesmo; não falamos sobre o mundo, falamos para construir um mundo e a partir 
dele tentar convencer nosso interlocutor da nossa verdade. Dessa forma, a verdade, 
 
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que na Semântica Formal era tida como um atributo do mundo, passa a ser relativa 
à comunidade que se forma na argumentação. A linguagem, dessa forma, adquiri 
um caráter dialógico ou argumentativo, uma vez essa passa a funcionar como um 
jogo discursivo construído para convencer o outro de nossa verdade. 
A Semântica da Enunciação, como temos descrito, apresenta uma concepção 
de linguagem que a distancia sobremaneira da Semântica Formal. Essa diferença de 
concepção tem conseqüências importantes quando se observa a forma como o 
fenômeno lingüístico é tratado em uma e outra abordagem. Com relação à 
pressuposição, por exemplo, a Semântica da Enunciação por considerar que a 
linguagem não se refere, acredita que a pressuposição é criada pelo e no próprio 
jogo de encenação que a linguagem constrói. É porque falamos de algo que esse 
algo passa a ter a sua existência no quadro criado pelo próprio discurso, e é por isso 
que atualmente o conceito de pressuposição é substituído no interior da abordagem 
enunciativa pelo conceito de enunciador. 
 Na Semântica da Enunciação, um enunciado se constitui de vários 
enunciadores que formam o quadro institucional que referenda o espaço discursivo 
em que o diálogo vai se desenvolver. Um enunciador presente no enunciado situa o 
diálogo no comprometimento de que o ouvinte aceite esse conteúdo pressuposto de 
forma que negá-lo seria o mesmo que romper o diálogo. 
Como forma de exemplificar a atuação da Semântica Enunciativa, 
apresentamos novamente a sentença apresentada em (8) Pedro parou de bater na 
mulher. O que foi descrito como pressuposição passa a ser chamado de enunciador. 
Assim temos: 
 
(12) Pedro parou de bater na mulher. 
 E1: Pedro batia na mulher, no passado. 
 E2: Pedro não bate na mulher, atualmente. 
 
Nessa enunciação, o locutor põe em cena um diálogo entre dois 
enunciadores, apresentados acima como E1 e E2, o que dá um caráter polifônico ao 
enunciado. É como se duas vozes falassem: um enunciador que afirma que Pedro 
 
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batia na mulher, o que constitui o pressuposto, e, outro, que diz que ele não bate 
mais na mulher, o posto. 
Para a Semântica Formal, a negação de (12) não seria ambígua, porque não 
há duas formas lógicas. Já para a Semântica da Enunciação, o problema da 
ambigüidade estrutural pode ser tratada a partir do conceito de polissemia. O que 
significa dizer que há diferentes tipos de negação, expressos por uma série de 
enunciadores. No exemplo acima, pode-se dizer que se negamos a fala do primeiro 
enunciador, o pressuposto, realizamos uma negação polêmica; já se negamos o 
posto, a negação ganha outro caráter, passando a ser considerada uma negação 
metalingüística. Há assim, a presença de uma série de enunciadores e diferentes 
tipos de negação. Veja: 
 
(13) O presidente do Brasil não é sociólogo. 
(13’) E1: Há um presidente do Brasil. 
 E2: Ele é sociólogo. 
 E3: E1 é falsa. 
(13”) E1: Há um presidente do Brasil. 
 E2: Ele é sociólogo.E3: E2 é falsa. 
 
A hipótese da Semântica da Enunciação é a de que entre as pressuposições 
não há uma diferença estrutural, mas uma diferença entre tipos de negação. Assim, 
a pressuposição passa a ser tratada tendo como base a hipótese da polifonia e, 
portanto, da existência de diferentes enunciadores, e a ambigüidade se desfaz pela 
determinação de diferenças de uso das palavras: o não-polêmico e o não-
metalingüístico. 
Além da negação polêmica e da negação metalingüística apontadas acima, 
Ducrot distingue um terceiro tipo de negação, a negação descritiva. Nesse tipo de 
negação, o locutor descreve um estado no mundo negativamente; portanto, na sua 
enunciação não há um enunciador que retoma a fala de um outro enunciador 
 
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negando-a. Um dado de negação descritiva ocorre quando se descreve um estado 
do mundo utilizando a negação: Não há um único pássaro no céu. 
A negação fica, então, entendida como um fenômeno de polissemia que se 
defini por identificar usos distintos que não relacionados. 
Um dos pontos chave da Semântica da Enunciação está no fato de esta 
possibilitar a descrição de fenômenos que envolvem gradação, os quais resistem ao 
tratamento formal. Exemplos como: 
 
(14) João comeu pouco. 
(15) João comeu um pouco. 
 
Não são passíveis de receber uma análise formal, por outro lado, percebemos 
que as orações não se equivalem. Para a Semântica da Enunciação, a diferença 
entre as duas orações ocorre devido a um encadeamento discursivo distinto. A 
hipótese é a de que os dois operadores, pouco e um pouco, direcionam 
diferentemente uma mesma escala de comer que vai de comer muito a não comer. 
 
1.3. A Semântica Cognitiva 
A Semântica Cognitiva é um modelo teórico bastante recente, tendo seus 
primeiros desenvolvimentos datados da década de 1980. Foi a partir de então que 
tomou-se consciência de que todo fazer é necessariamente acompanhado de 
processos de ordem cognitiva. 
Para esse modelo, o significado é central na investigação sobre a linguagem. 
Assim, acredita-se que a forma deriva da significação, uma vez que é a partir da 
construção de significados que aprendemos. Tal concepção acaba por inserir a 
Semântica Cognitiva entre os estudos funcionalistas da linguagem. 
A Semântica Cognitiva, da mesma forma que a Semântica da Enunciação, se 
opõe à Semântica Formal, a qual prega que o significado se baseia na referência e 
no entendimento da verdade como correspondência com o mundo. A Semântica 
Cognitiva acredita que o significado não tem nada a ver com a relação entre 
linguagem e mundo, ao contrário, ela acredita que o significado é motivado. A 
 
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significação lingüística, nesse sentido, emerge de nossas significações corpóreas, 
dos movimentos de nossos corpos em interação com o meio que nos circunda. 
A Semântica Cognitiva, por não considerar a hipótese da referência, se 
aproxima muito da abordagem proposta pela Semântica da Enunciação. No entanto, 
a Semântica Cognitiva se distancia da abordagem enunciativa por não considerar 
que a referência é constituída pela própria linguagem e que esta trata-se de um jogo 
de argumentação. 
George Lankoff, o criador e maior pesquisador dos aspectos cognitivos da 
significação, define essa abordagem como realismo experiencialista, levantando 
assim a hipótese de que o significado é natural e experencial. Ele sustenta essa 
proposta através da constatação de que o significado se constrói a partir de nossas 
interações físicas, corpóreas com o meio ambiente em que vivemos. Dessa forma, o 
significado deixa de ter um caráter exclusivamente lingüístico. 
Dentro desse referencial teórico, são nossas ações no mundo que nos 
permitem apreender esquemas de imagem e espaço e são esses esquemas que 
dão significado às nossas expressões lingüísticas. Assim, a criança, durante o 
processo de aquisição, aprenderia primeiramente esquemas de movimento, isso 
ocorreria quando, por exemplo, a criança se move várias vezes em direção a certos 
alvos. Com esse esquema, surgido de nossa experiência corpórea com o mundo, 
aporta o significado de nossas expressões lingüísticas sobre o espaço. 
Nossos deslocamentos de um lugar para outro (ponto de partida – percurso – 
chegada) que ocorrem ainda antes de aprendermos a falar estruturam um esquema 
de imagem ou imagético. Esse esquema denominado por Lankoff de CAMINHO, 
pode ser representado da seguinte forma: 
 
A (fonte do movimento) B (alvo do movimento) 
 
Além do esquema CAMINHO, muitos outros esquemas seriam derivados 
diretamente de nossas experiências corpóreas com o mundo. Por exemplo, o 
RECIPIENTE, esquema de estar dentro e fora de algum lugar; o BALANÇO, 
esquema aprendido durante nossos ensaios de estar de pé. Veja algumas 
sentenças instanciadas por esquemas de CAMINHO e de RECIPIENTE: 
 
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(16) Fui da portaria à cobertura. 
(17) Estou em São Paulo. 
 
Para a abordagem cognitiva, o que dá sentido à sentença (16) é a presença 
de um esquema imagético CAMINHO, e da mesma forma, o que daria sentido à 
sentença (17) seria a presença do esquema imagético RECIPIENTE. Esses 
esquemas guardariam uma memória de movimentação ou de experiência e seria 
justamente essa memória o que ampararia nosso falar e pensar. Assim, o significado 
deixaria de ser um fenômeno puramente lingüístico para ser tratado como uma 
questão de cognição. 
Os esquemas passam a ocupar um lugar central nos estudos da Semântica 
Cognitiva, no entanto, nem todos os nossos conceitos seriam apreendidos a partir de 
esquemas imagéticos. Haveriam, ainda, certos conceitos de domínio da experiência 
que dependeriam de mecanismos de abstração. Dentre esses mecanismos, dois 
seria prioritários: a metáfora e a metonímia. A metáfora funcionaria como um mapa 
entre o domínio da experiência e outro domínio, como o tempo, por exemplo. Assim 
em uma sentença como “De ontem pra hoje, esfriou muito”, percebe-se um conceito 
de tempo que se estrutura a partir de um esquema espacial de CAMINHO. Essa 
sentença seria metafórica porque nelas o tempo é conceituado a partir de 
correspondências com o esquema espacial. 
A metáfora, para a Semântica Cognitiva, é o processo cognitivo que nos 
permite mapear esquemas, aprendidos diretamente pelo nosso corpo, em domínios 
mais abstratos, cuja experimentação é indireta. 
A propriedade fundamental da metáfora é preservar as inferências do domínio 
fonte sobre o domínio alvo, desde que não haja violação da estrutura inerente ao 
domínio alvo. Se mapearmos o esquema CAMINHO no tempo, podemos esperar 
que neste domínio se estabeleça uma organização espacial em que as inferências 
do espaço se mantêm. Isso é tratado como Hipótese de Invariância. 
Além de explicar as inferências, a Hipótese de Invariância procura justificar o 
fato de que há aspectos que não são mapeados. Isso quer dizer quepodemos 
mapear o espaço no tempo, mas certas relações espaciais serão bloqueadas por 
 
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causa da própria estrutura do tempo. É por isso que não podemos dizer, por 
exemplo, “chegou embaixo da hora”. 
Um exemplo de análise a partir da Semântica Cognitiva, apresentado por 
Oliveira (2004), é a descrição do conectivo mas. Essa descrição se inicia realizando-
se um levantamento das várias possibilidades de uso do termo. O passo seguinte é 
fazer uma pesquisa etimológica com vistas à recuperação da história do conectivo. 
Repare na sentença “Pedro não está triste, mas ensimesmado”. Etimologicamente, 
mas deriva da expressão latina magis quam que estabelecia a comparação de 
superioridade: isso é mais do que aquilo. Acreditando-se que os usos mais antigos 
são mais próximos do físico, seria, então, o esquema corporal de BALANÇO que dá 
sustentação ao mas: pesamos duas coisas e a balança pende para uma delas. No 
exemplo a balança tenderia ao ensimesmado mais do que ao triste. 
Além dos esquemas imagéticos, há outros elementos fundamentais aos 
estudos semânticos de base cognitiva, são esses as categorias de nível básico. 
Essa noção de categorias básicas é também cara a Semântica Formal. Para 
esse modelo, um termo genérico, como homem, por exemplo, não se refere a um 
indivíduo em particular, mas a todos os indivíduos que possam ser alcançados por 
meio de certas propriedades. Assim, sabemos que Platão pertence à classe dos 
humanos porque ele tem propriedades que só os humanos têm. Essas propriedades 
recebem o nome de intensão e é o que nos permite chegar a uma classe de objetos 
do mundo, a essa classe denominamos extensão. No exemplo (1), repetido abaixo: 
 
 Todo homem é mortal; 
 Platão é um homem; 
 Logo, Platão é mortal. 
 
O termo homem tem como extensão os vários seres humanos no mundo, as 
entidades extralingüísticas. Quanto à intensão, ou seja, as propriedades essenciais, 
no entanto, surgem controvérsias. Afinal, quais seriam as características essenciais, 
comuns, a todos os indivíduos que compõe a classe dos seres humanos? A 
Semântica Formal apresenta as características ‘ser bípede’ e ‘ser implume’ como as 
propriedades distintivas dos seres humanos. Essas propriedades realmente parecem 
 
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abarcar todos os seres humanos, mas, no entanto, a universalidade dessas 
propriedades pode ser discutida, tendo em vista a possibilidade de existirem 
humanos de apenas uma perna. 
Quem tratou mais profundamente da questão das categorias foi o filósofo 
Ludwig wittgenstein em um livro chamado Investigações Filosóficas. Esse filósofo 
demonstra, a partir das inúmeras possíveis propriedades do conceito de jogo, que 
uma única propriedade não é suficiente para delimitar uma classe. Foi com essa 
constatação que ele propôs que as categorias se organizam por relações de 
semelhanças de família. Os usos de uma mesma palavra se assemelham da mesma 
forma que os membros de uma família, não é necessário, pois, que os membros de 
uma mesma família, partilhem uma mesma propriedade. 
Levando em conta essas constatações de Wittgenstein, a Semântica 
Cognitiva se distancia da noção clássica de categoria e, então, aponta evidências 
psicológicas que levam á conclusão de que não categorizamos por meio do 
estabelecimento de propriedades necessárias e suficientes. 
Para a Semântica Cognitiva, os conceitos se estruturam por protótipos. Isso 
quer dizer que quando fazemos classificações, nos escoramos em casos que são 
exemplares, ou seja, nos ancoramos naqueles casos que são mais reveladores de 
categorias. É por isso que se pedirmos que alguém nos dê um exemplo de pássaro, 
dificilmente alguém dirá pingüim. Dessa forma, tem-se que as categorias se 
estruturam por meio de um caso mais prototípico que se relaciona via semelhanças 
com os outros membros. O pingüim estaria, pois numa posição mais periférica 
enquanto membro da categoria PÁSSARO e na posição central estaria 
provavelmente o pardal ou o beija-flor. 
A aquisição de categorias ocorreria, de acordo com a perspectiva cognitiva, 
com as crianças adquirindo primeiro as categorias de nível médio, já que é com esse 
tipo de categoria que temos contato físico direto. As categorias de nível básico, 
diferentemente, são aprendidas diretamente por não indicarem categorias mais 
abstratas e nem mais específicas. É por isso que adquirimos primeiro e diretamente 
categorias como mesa e gato e, apenas mais tarde, adquirimos, através do processo 
de metonímia, as genéricas como móvel e animal e as particulares como mesa de 
centro e siamês. 
 
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Como vimos, a metáfora tem o importante papel de criar mapas sobre o 
domínio da experiência e um outro domínio. Também a metonímia, exerce uma 
função importante no processo cognitivo. É a metonímia o processo cognitivo que 
permite criar relações de hierarquias entre conceitos. Assim, a metáfora e a 
metonímia ocupam um lugar central na teoria, sendo responsáveis pela extensão 
dos esquemas em direção à abstração. 
Com relação à abordagem cognitiva das pressuposições, a hipótese é a de 
que na interpretação formamos espaços mentais, estruturas conceituais que 
descrevem como os falantes atribuem e manipulam a referência. Assim, na 
sentença: 
 
(18) A Rainha da França teve a cabeça cortada. 
 
Criamos um espaço mental em que a Rainha da França se refere ao 
personagem histórico. Se, por outro lado, a sentença é acrescida do termo ‘Em os 
Três Mosqueteiro’, abrimos um novo espaço mental em que Rainha da França não 
se refere ao personagem histórico, mas ao ficcional: 
 
 (19) Em os três Mosqueteiros, a Rainha da França teve a cabeça cortada. 
 
Para Semântica Cognitiva a pressuposição não estabelece referência com 
entidades no mundo e também não são procedimentos argumentativos. Para esse 
modelo, as pressuposições são, antes, entidades mentais ou, ainda, significados 
que se transferem de um espaço mental para outro. Assim, na sentença (9) Pedro 
parou de bater na mulher, haveria dois espaços mentais: um em que está a 
pressuposição de que Pedro batia na mulher e um outro em que ele parou de bater 
na mulher. Nessa concepção, a negação agiria sobre a transferência ou não de um 
espaço mental para outro: se negamos o primeiro espaço mental construindo, assim, 
uma sentença como Pedro nunca bateu na mulher, a pressuposição não é 
transportada para o segundo espaço mental. Por outro lado, se Pedro bateu na 
mulher um dia, a pressuposição é carregada para o segundo espaço mental e a 
negação incide sobre o fato de Pedro ter parado de bater na mulher. 
 
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20
 
1.4. Algumas Considerações 
Nessa seção buscamos apresentar uma descrição das teorias semânticas 
presentes nos estudos lingüísticos contemporâneos. Vimos que cada modelo teórico 
apresenta como base uma diferente concepção de linguagem que implica em 
diferentes formas de se conceber a relação entre linguagem e mundo. Enquanto 
para a Semântica Formal essa relação se dá a partir da distinção entre sentido e 
referência; para a Semântica da Enunciação, a linguagem constitui o mundo; e já 
para a Semântica Cognitiva, o significado não tem nada a ver com a relação entre 
linguagem e mundo, ao contrário, ele seria motivado. 
A semântica, enquanto objeto de estudo, não é um tema fechado em si, mas, 
pelo contrário, participa de estudos que, mesmo não tendo como foco base a 
semântica, apresentam um componente semântico. É esse o caso dos estudos que 
têm como fim a construção de gramáticas textuais. 
A essa chamada semântica do texto cabe explicar a representação da 
estrutura do significado de um texto ou de um segmento deste, particularmente as 
relações de sentido que vão além do significado das frases tomadas isoladamente, 
como ocorre na pressuposição, por exemplo. 
É a essa interface entre o texto e a semântica que trataremos no tópico 
seguinte. 
 
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UNIDADE 2 - LINGÜÍSTICA TEXTUAL 
 
A Lingüística Textual é o ramo da lingüística que toma o texto como objeto de 
estudo. Seu surgimento enquanto campo de estudos da lingüística, embora recente, 
é difícil de ser definido. Isso porque essa ciência não passou por um 
desenvolvimento homogêneo, ela, na verdade, surgiu de forma independente em 
vários países e com propostas teóricas diversas. O que mais frequentemente tratado 
quanto às fundamentações teóricas dessa disciplina é que houve pelo menos três 
importantes momentos, sem que, no entanto, possamos estabelecer uma cronologia 
que indique a passagem de uma proposta à outra. 
Em um primeiro momento, os estudiosos do texto se interessavam 
predominantemente pela análise transfrástica, ou seja, por fenômenos que não 
conseguiam ser explicados pelas teorias sintáticas ou semânticas que ficassem 
limitadas ao nível da frase. 
Nesse tipo de análise, parte-se da frase para o texto. A principal preocupação 
estava nas relações que se estabelecem entre as frases e os períodos de forma a se 
construir uma unidade de sentido. A partir desse tipo de estudo, observou-se a 
ocorrência de fenômenos que poderiam ser explicados através das teorias sintáticas 
ou semânticas. Um desses fenômenos pode ser exemplificado através da co-
referenciação. Veja-se o exemplo abaixo: 
 
(20) Joana foi ao teatro. Ela não gostou da peça. 
 
Nesse trecho, a relação entre nome e pronome, na perspectiva textual, não é 
de simples substituição. O uso do pronome está fornecendo ao ouvinte/leitor 
instruções de conexão entre a predicação que se faz com o pronome (não gostou da 
peça) e o próprio nome em questão. Esse movimento contribuiria para a construção 
da imagem do referente (Joana) por parte do ouvinte. É por conta da coerência entre 
as predicações que sabemos que o pronome ‘ela’ se refere a ‘Joana’. Porém, a 
presença do mecanismo de co-referenciação, sozinho, não seria capaz de garantir a 
interpretação da seqüência enquanto um texto. 
Foi através de exemplos como o descrito acima que se percebeu que certos 
fenômenos só poderiam ser tratados a partir da análise da relação entre orações. 
 
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Tendo como referência essa constatação, essa linha de pesquisas concentrou seus 
estudos em fenômenos de ocorrência mais ampla que a de uma frase (fenômenos 
transfrásticos) como a pronominalização, a seleção de artigos (definidos ou 
indefinidos), a concordância entre tempos verbais, a relação tópico-comentário e 
outros. 
Vale ressaltar que nesse período o conceito de texto era o de “uma seqüência 
pronominal ininterrupta” e sua principal característica era o múltiplo referenciamento. 
No entanto, essa concepção de texto, e conseqüentemente os objetos de análise, 
passou por modificações, uma vez que se percebeu a existência de conexão entre 
enunciados realizada sem a presença de um conector. Observe as sentenças que se 
seguem: 
 
(21) Não fui ao seu casamento: enviei-lhe o presente. 
(22) Não fui a seu casamento: tive um contratempo. 
(23) Não fui a seu casamento: não posso dizer como foi a cerimônia. 
 
No exemplo (21), pode-se perceber, mesmo em a presença o conectivo mas, 
a relação adversativa expressa. Em (22) sabemos que é a relação explicativa, 
implicada pelo conector porque, a que se estabelece entre o primeiro e o segundo 
enunciado. Em (23), sabemos que é a relação conclusiva, normalmente expressa 
pelo conector portanto, a que se estabelece entre os enunciados. 
A ausência dos conectores nos exemplos de (21) a (23) sem prejuízo do 
sentido fez com que passasse a se considerar que nesses casos é o ouvinte/leitor 
que constrói o sentido global da seqüência, estabelecendo mentalmente as relações 
argumentativas adequadas entre os enunciados. A necessidade de se considerar o 
conhecimento intuitivo do falante/ouvinte na construção do sentido global do 
enunciado e o fato de nem todo texto apresentar o fenômeno da co-referênciação 
fez com que se inaugurasse uma nova linha de pesquisa dentro dos estudos do 
texto, como o objetivo de elaborar gramáticas textuais. 
Esse segundo momento da Lingüística Textual, provocado principalmente 
pela ascensão da gramática gerativa proposta por Chomsky, teve como objetivo a 
 
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descrição da competência textual do falante, ou seja, a construção de gramáticas 
textuais. 
Nas primeiras propostas de elaboração de gramáticas textuais, o objetivo era 
o de transformar o texto no objeto da Lingüística. Apesar da ampliação do objeto de 
estudos da ciência da linguagem, ainda se acreditava na possibilidade de se mostrar 
que o texto possuía propriedades que diziam respeito ao próprio sistema abstrato da 
língua. Dessa forma, as primeiras gramáticas textuais representavam um projeto de 
reconstrução do texto como um sistema uniforme, estável e abstrato. O texto, nesse 
período, era considerado como uma unidade teórica formalmente construída, o que 
o colocava em lugar de oposição ao discurso, unidade funcional, comunicativa e 
intersubjetivamente construída. 
A principal inovação causada pelos autores desse período foi a consideração 
de que não há uma continuidade entre frase e texto porque há, entre eles, uma 
diferença de ordem qualitativa e não quantitativa, já que a significação de um texto 
constitui um todo que é diferente da soma das partes. 
O texto passou a ser visto, então, como a unidade lingüística mais elevada, a 
partir da qual seria possível chegar, por meio da segmentação, a unidades menores 
a serem classificadas.A segmentação e a classificação de um texto em unidades 
menores deveria sempre considerar a função textual dos elementos individuais, ou 
seja, que tipo de papel cada elemento desempenha em uma dada configuração 
textual. 
Passou-se a postular, também, a existência de uma competência textual à 
semelhança da competência lingüística chomskyana. Todo falante nativo de uma 
língua teria a capacidade de distinguir um texto coerente de um aglomerado 
incoerente de enunciados, competência que é especificamente lingüística. Em 
outras palavras, qualquer falante é capaz de parafrasear, de resumir um texto, de 
perceber que está completo ou incompleto, de atribuir-lhe um título, ou de produzir 
um texto a partir de um título dado. 
Nesse contexto, acredita-se que todo falante possuiria três capacidades 
textuais básicas: a) capacidade formativa – que permitiria a produção e 
compreensão de textos inéditos, além de possibilitar a avaliação quanto à formação 
de um texto; b) Capacidade transformativa – permitiria a reformulação de um texto, 
 
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seja através da paráfrase ou do resumo; c) capacidade qualificativa – permitiria a 
tipificação de um texto, ou seja, a classificação em descrição, narração, 
argumentação, etc. 
As tarefas básicas de uma gramática do texto, segundo Koch (2006: 5) seriam 
as seguintes: 
a) verificar o que faz com que um texto seja um texto, ou seja, determinar 
seus princípios de constituição, os fatores responsáveis pela sua 
coerência, as condições em que se manifesta a textualidade; 
b) levantar critérios para a delimitação de textos, já que a completude é uma 
de suas características essenciais; 
c) diferenciar as várias espécies de textos. 
 
Essas tarefas constituíram a base da construção das gramáticas textuais. No 
entanto, durante o trabalho prático de realização desse ambicioso projeto, as tarefas 
enumeradas não conseguiram ser executadas a contento, apesar de todos os 
esforços de vários lingüistas. 
A maior contribuição dessa linha de pesquisa se concentrou, no entanto, na 
possibilidade de deslocamento da questão: do tratamento formal à constituição de 
uma teoria. Ao invés de se ocupar em dar um tratamento formal ao objeto ‘texto’, os 
estudiosos começaram a elaborar uma teoria do texto, que, ao contrário das 
gramáticas textuais, cuja preocupação era meramente descritiva, propõe a 
investigação da forma como se dá a constituição, o funcionamento, a produção e a 
compreensão dos textos em uso. 
Nesse terceiro momento da teoria, o texto passa a ser estudado dentro do 
seu contexto de produção, passando esse a ser entendido não como um produto 
acabado, mas como um processo, resultado de operações comunicativas e 
processos lingüísticos em situações sociocomunicativas. 
O âmbito de investigação, nessa linha de estudo, estende-se do texto ao 
contexto, entendido como o conjunto de condições externas da produção, recepção 
e interpretação de textos. Segundo Marcurschi, um dos maiores estudiosos da 
Lingüística Textual, no final da década de 70, a palavra de ordem não era mais a 
gramática do texto, mas a noção de textualidade, definida como um modo múltiplo 
de conexão ativado toda vez que ocorrem eventos comunicativos. 
 
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Nesse novo quadro, a Lingüística Textual passa a ser entendida como uma 
disciplina essencialmente interdisciplinar. 
Se o objeto da Lingüística Textual é essencialmente o texto, torna-se 
fundamental que se trave uma discussão a respeito do conceito de texto. 
 
2.1. Conceito de Texto 
Como buscamos mostrar na seção anterior, a Lingüística Textual passou, 
durante seu processo de evolução, por constantes reformulações. Cada uma dessas 
reformulações, além de alterar o objeto e a metodologia de estudos, carregava em 
seus fundamentos alterações que diziam respeito à concepção de texto. Nessa 
seção, buscaremos, então, apresentar algumas dessas concepções que 
acompanharam o processo de evolução da teoria até o conceito mais reconhecido e 
atual no que tange aos estudos da Lingüística Textual. 
Os conceitos de texto durante os períodos da análise transfrástica e das 
gramáticas textuais variaram desde “unidade lingüística superior à frase” até 
“complexo de proposições semânticas”. A concepção de texto que subjazia a todas 
essas definições era a de um texto como uma estrutura acabada e pronta, como um 
produto de uma competência lingüística. 
A melhor definição de texto, para esse período, seria a de um termo que 
abrange tanto textos orais quanto escritos que tenham como extensão mínima dois 
signos lingüísticos, sendo que um pode ser suprimido pela situação, no caso de 
textos de uma só palavra. Dessa forma, percebe-se uma maior ênfase no aspecto 
material formal do texto. 
O texto era tido como uma unidade que, apesar de teoricamente poder ser de 
tamanho indeterminado, é, normalmente, delimitada, com um início e um fim mais ou 
menos explícitos. E o objeto privilegiado de estudos era a coesão, muitas vezes 
equiparada à coerência. 
No segundo momento da Lingüística Textual, o texto não é mais encarado 
como uma estrutura acabada, mas como parte de atividades mais globais de 
comunicação. A definição de texto passa, então, a considerar que é a produção 
textual é uma atividade verbal, o que significa dizer que os falantes, ao produzir um 
 
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texto, estão realizando atos de fala. Todo ato de produção de enunciados produz no 
interlocutor um determinado efeito, pretendido ou não pelo locutor. 
Também considera-se que a produção textual é uma atividade verbal 
consciente, ou seja, uma atividade por meio da qual o falante dará a entender seus 
propósitos, sempre levando em conta as condições em que tal atividade é 
produzida. Nessa concepção, o sujeito falante possui um papel ativo na mobilização 
de certos tipos de conhecimentos, de elementos lingüísticos, de fatores pragmáticos 
e interacionais, ao produzir um texto. 
Essa concepção de texto leva, ainda, em consideração a atividade 
interacional que envolve a produção textual, isto é, os interlocutores estão 
obrigatoriamente envolvidos nos processos de construção e compreensão de um 
texto. 
Na verdade, o que buscamos demonstrar nessa seção é que há uma certa 
dificuldade na conceituação da unidade “texto”, havendo, assim, um grande número 
de definições de se divergem por momento histórico da matéria como também por 
diferentes intenções com relação ao objeto. Podemos, no entanto, transcrever 
resumidamente algumas dessas concepções apresentadas por Koch (2006: XII): 
 
1. texto como uma frase complexa ou signo lingüístico mais alto na hierarquia 
do sistema lingüístico (concepção de base gramatical); 
2. texto como signo complexo (concepção de base semiológica); 
3. texto como expansão tematicamente centrada de macroestruturas 
(concepção de base semântica); 
4. texto como ato de fala complexo (concepção debase pragmática); 
5. texto como discurso “congelado”, como produto acabado de uma ação 
discursiva (concepção de base discursiva); 
6. texto como meio específico de realização da comunicação verbal (concepção 
de base comunicativa); 
7. texto como processo que mobiliza operações e processos cognitivos 
(concepção de base cognitivista); 
8. texto como lugar de interação entre atores sociais e de construção 
interacional de sentidos (concepção de base sociocognitiva-interacional). 
 
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2.2. A construção textual do sentido 
Nesta seção, serão apresentados sete critérios de construção textual do 
sentido, dois centrados no texto: a coesão e a coerência; e cinco centrados no 
usuário: situacionalidade, informatividade, intertextualidade, intencionalidade e 
aceitabilidade. 
 
2.2.1. A Coesão textual 
Designa-se por coesão a forma pela qual os elementos lingüísticos presentes 
na superfície textual se interligam, se interconectam, por meio de recursos também 
lingüísticos, de modo a formar uma unidade de nível superior à da frase, que dela 
difere qualitativamente. 
Comumente se postula a existência de cinco formas de coesão: a referência, 
a substituição, a elipse, a conjunção e a coesão lexical. Veja abaixo a descrição 
dessas formas de coesão: 
 
1. Referência – em que um signo lingüístico se relaciona a um objeto 
extralingüístico. Ela pode ser situacional e textual. 
A textual pode ser: 
- anafórica: quando retoma algo que já foi dito. 
- catafórica: quando antecipa algo que ainda não foi expresso. 
Ex.: Isto eu te digo: não trabalho de graça. 
 
2. Substituição – colocação de um item no lugar de outro ou de uma oração. 
Pode ser nominal (feita por meio de pronomes pessoais, numerais, indefinidos, 
nomes genéricos como coisa, gente, pessoa) e verbal (o verbo ‘fazer’ é substituto 
dos causativos, ‘ser’ é o substituto existencial). 
Ex.: Vá buscar as crianças na escola. Elas saem às 17h. 
 
3. Elipse – omissão de um item lexical recuperável pelo contexto, ou seja, a 
substituição por zero (Ø). Pode ocorrer elipse de elementos nominais, verbais e 
oracionais. 
Ex.: As meninas preferiram sorvete. Os meninos não (Ø). 
 
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4. Conjunção – tem natureza diferente das outras relações coesivas por não 
se tratar simplesmente de uma relação anafórica. Os elementos conjuntivos são 
coesivos não por si mesmos, mas indiretamente, em virtude das relações 
específicas que se estabelecem entre as orações, períodos e parágrafos. Essas 
diferentes relações conjuntivas possuem uma série de equivalentes estruturais. 
Os principais tipos de elementos conjuntivos são: advérbios e locuções 
adverbiais; conjunções coordenativas e subordinativas; locuções conjuntivas, 
preposições e locuções prepositivas; itens continuativos como então, daí etc. 
Para se obter a coesão, é importante a escolha de conectivo adequado para 
expressar relações semânticas; o mesmo conectivo pode expressar relações 
semânticas diferentes: é, pois, preciso saber reconhecê-las. A omissão de 
conectivos, embora admissível, só deve ser feita quando a relação semântica estiver 
bem clara para evitar a ambigüidade (a não ser que seja intencional). 
Ex.: O ladrão saiu correndo do banco. Depois vieram os policiais. 
 
5. Coesão lexical – é obtida pela reiteração de itens lexicais idênticos ou que 
possuem o mesmo referente. Inclui-se aí também o uso de nomes genéricos cuja 
função coesiva está no limite entre as coesões lexical e gramatical, nomes esses 
que estão a meio caminho do item lexical, membro do conjunto aberto e do item 
gramatical, membro de um conjunto fechado. Gramaticalmente, (determinante + 
nome geral) funcionam como itens de referência anafórica; lexicalmente, são 
membros superordenados (hiperônimos) agindo como sinônimos de itens a eles 
subordinados (hipônimos). 
Ex.: Comprei violetas e petúnias. As flores estão enchendo a sala de perfume. 
 
As definições acima apontadas perduraram durante muito tempo nos estudos 
da textualidade. No entanto, alguns desses elementos sofreram alterações recentes. 
A distinção entre referência e substituição, por exemplo, era bastante questionável. 
Esses fatos levaram à classificação dos recursos coesivos em dois grandes grupos, 
responsáveis pelos dois grandes movimentos de construção do texto: a 
remissão/referência e a coesão seqüencial, realizada de forma a garantir a 
continuidade do sentido. No primeiro grupo ficaram incluídas a referência, a 
 
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substituição e a elipse, bem como parcela significativa da coesão lexical; ao passo 
que o segundo passou a englobar a outra parcela da coesão lexical. 
A necessidade de dividir a coesão lexical pelos dois grupos deve-se ao fato 
de ela envolve dois mecanismos: a reiteração e a colocação. A reiteração, que se 
realiza por meio de repetição de um referente textual pelo uso dos mesmos itens 
lexicais, sinônimos, hiperônimos, nomes genéricos e expressões nominais, tem a 
mesma função dos demais recursos de remissão textual; já a colocação, permite que 
se faça o texto progredir, garantindo, simultaneamente, a manutenção do tema. 
A coesão seqüencial diz respeito aos procedimentos lingüísticos por meio dos 
quais se estabelecem diversos tipos de relações semânticas e/ou pragmático-
discursivas entre os segmentos do texto, à medida que o texto progredi. Esta 
interdependência é garantida, em parte, pelo uso dos diversos mecanismos de 
seqüenciação existentes na língua e, em parte, pelo que se denomina progressão 
tópica. 
 
2.2.2. A Coerência textual 
A noção de coerência textual ganhou mais enfoque a partir do momento em 
que se percebeu que o sentido do texto não está no texto em si, mas depende de 
fatores de ordem diversa: lingüísticos, cognitivos, socioculturais, interacionais. Esses 
elementos acabaram por demonstrar que não há textos incoerentes em si, porque 
não há regras de boa formação de textos, como há para as frases, que se apliquem 
a todas as circunstâncias. A textualidade de um texto vai depender muito mais dos 
usuários de um texto, locutor e receptor, e da situação. 
Charolles, um dos maiores estudiosos do texto, defende que a coerência de 
um texto é um princípio de interpretabilidade, o que significa dizer que todos os 
textos seriam, em princípio, aceitáveis. Um texto poderia ser incoerente, porém, se 
não estivesse de acordo com determinada situação comunicativa. Dessa forma, o 
texto seria incoerente se seu produtor não soubesse adequá-lo à situação, levando 
em conta intenção comunicativa, objetivos, destinatário, regras socioculturais, outros 
elementos da situação, uso de recursos lingüísticos etc. 
O conhecimento da situação comunicativa mais ampla contribui para a 
focalização, que pode ser entendida como a perspectiva pela qual as entidades 
 
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evocadas no texto passam a ser vistas. Essas perspectivas afetam não só aquilo 
que o produtor diz, mas também o que o leitor/ouvinte interpreta. 
 
2.2.3. Considerações: Coerência e Coesão textuais 
Qualquer falante de uma determinada língua consegue distinguir um texto 
coerente de um aglomerado incoerente de enunciados. 
Se sabemos intuitivamente não só distinguir entre textos e não-textos mas 
também que nossa produção lingüística se dá com textos e não com palavras 
isoladas, não sabemos, porém, definir intuitivamente o que faz com que um texto 
seja um texto, e nem há unanimidade quanto à essa questão. 
O termo “texto” pode ser tomado em duas acepções: Texto em sentido amplo, 
designando toda e qualquer manifestação da capacidade textual do ser humano 
(uma música, um filme, uma escultura, um poema etc.), e, em se tratando de 
linguagem verbal, temos o discurso, atividade comunicativa de um sujeito, numa 
manifestação de comunicação dada, englobando o conjunto de enunciados 
produzidos pelo locutor (ou pelo locutor e interlocutor, no caso dos diálogos) e o 
evento de sua enunciação. 
O texto consiste, então, em qualquer passagem falada ou escrita que forma 
um todo significativo independente de sua extensão. Trata-se, pois, de um contínuo 
comunicativo contextual caracterizado por fatores de textualidade dentre eles, a 
coesão e a coerência. 
Coesão e coerência constituem fatores importantes da textualidade. Há 
autores que distinguem dois níveis de análise, correspondendo a coesão e a 
coerência, embora a terminologia possa ser diferente (coesão/coerência, coerência 
microestrutural/coerência macroestrutural - Charolles). 
Há autores que consideram a coerência e a coesão em níveis diferentes de 
análise. A coesão, manifestada no nível microtextual, refere-se aos modos como os 
componentes do universo textual, isto é, as palavras que ouvimos ou vemos, estão 
ligados entre si dentro de uma seqüência. 
A coerência, por sua vez, manifestada em grande parte macrotextualmente, 
refere-se aos modos como os componentes do universo textual, isto é, os conceitos 
e as relações subjacentes ao texto de superfície, se unem numa configuração, de 
 
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maneira reciprocamente acessível e relevante. Assim a coerência é o resultado de 
processos cognitivos operantes entre os usuários e não mero traço dos textos. 
Assim, coesão e coerência constituem fenômenos distintos pelo fato de: 
� Poder haver um sequenciamento coesivo de fatos isolados que não tem 
condição de formar um texto (a coesão não é suficiente nem necessária para formar 
um texto). Um exemplo da fala de uma criança: 
(24) O pai da Maria trabalha num supermercado. 
O supermercado que minha mãe vai é longe. 
Eu gosto de ir ao supermercado porque minha mãe me deixa empurrar o 
carrinho. 
 
Nesse caso não temos um texto, apesar de haver uma coesão relativamente 
forte no encadeamento das sentenças, mas as relações de sentido não unificam 
essa seqüência. 
Outro fator que implica distinção entre coesão e coerência é o de: 
� Poder haver textos destituídos de coesão, mas cuja coerência se dá ao nível 
da coerência: 
 
(25) Mariana é artista de circo. 
Alice é uma das dez dançarinas brasileiras que fazem parte do Bolshoi. 
João é violinista. 
Todos os filhos de Madalena são artistas. 
 
Isso nos permite chegar a algumas conclusões: 
1) A retomada de elementos não é o único meio de se constituírem relações 
interfrásicas (não é condição necessária para a coerência). 
2) A coerência não deve ser buscada unicamente na sucessão linear dos 
enunciados, mas, sim, numa ordenação hierárquica. No exemplo dado, o último 
enunciado, de ordem superior, garante a textualidade. 
3) A coerência não é independente do contexto pragmático no qual o texto está 
inserido, isto é, não é independente de fatores, tais como, escritor/locutor, 
leitor/alocutário, lugar e tempo do discurso, ou, como diz Marcuschi, “o texto deve 
 
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ser visto como uma seqüência de atos de linguagem e não como uma seqüência de 
frases de algum modo coesa”. 
 
2.2.4. Situacionalidade 
A situacionalidade, segundo Koch (2006), pode ser considerada em duas 
direções: da situação para o texto e do texto para a situação. 
Na direção da situação para o texto, a situacionalidade refere-se ao conjunto 
de fatores que tornam um texto relevante para uma situação comunicativa em curso. 
Nesse caso, busca-se determinar em que medida a situação comunicativa, tanto o 
contexto imediato de situação, como o entorno sócio-político-cultural em que a 
interação está inserida, interfere na produção/recepção do texto. É essa situação 
comunicativa que determina escolhas em termos de grau de formalidade, regras de 
polidez, variedade lingüística a ser empregada, tratamento a ser dado ao tema, além 
de outros da mesma ordem. 
No sentido do texto para a situação, percebe-se que o texto tem reflexos 
importantes sobre a situação. Ao construir um texto, o produtor reconstrói o mundo 
de acordo com suas experiências, seus objetivos, propósitos, convicções, crenças. 
O interlocutor, por sua vez, interpreta o texto tendo como parâmetro seus propósitos, 
convicções e perspectivas. O texto estabelece, assim, uma mediação entre o mundo 
real e o mundo reconstruído no texto. 
 
2.2.5. Informatividade 
A informatividade se refere à distribuição da informação no texto e, também, 
ao grau de previsibilidade (redundância) com que a informação nele contido é 
veiculada. 
Quanto à distribuição da informação, é preciso que haja um equilíbrio entre 
informação dada e informação nova. Um texto em japonês para um falante de 
português, por exemplo, tem grau de informatividade de 100% e, por isso, se torna 
incompreensível. Nesse caso, faltam âncoras necessárias para o processamento, a 
leitura é cognitivamente impossível. A organização ideal do texto se faz pela 
combinação de dois movimentos: um de retroação, por meio do qual se retoma a 
 
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informação anteriormente introduzida; e um de progressão, que se ancora na 
informação dada (retroação) para introduzir a informação nova. 
Quanto ao grau de previsibilidade da informação, tem-se que um texto será 
menos informativo o quanto for previsível a informação que traz. Há, assim, graus de 
informatividade: um texto em que a informação seja toda apresentada de forma 
previsível terá baixo grau de informatividade; se a informação é introduzida de forma 
menos esperada, haverá grau médio de informatividade; e se toda a informação for 
apresentada de maneira imprevisível, o texto terá um grau máximo de 
informatividade e exigirá

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