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PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO AULA 6 Profª Daiane Lolatto 2 CONVERSA INICIAL Nesta aula, será estudado o planejamento tributário da pessoa física, quando tem participação societária e quando não tem, como a redução do INSS pago pelos sócios, redução do valor do pró-labore e aumento da distribuição e venda de imóveis dos sócios. As pessoas jurídicas tendem a utilizar mais o planejamento tributário em suas atividades do que as pessoas físicas, pois as obrigações acessórias são maiores. O interesse das pessoas físicas em planejar aumenta em meados de abril, quando o prazo para envio da declaração do imposto de renda encerra. No entanto, o planejamento deve ser realizado no ano vigente para gerar economia no ano seguinte, visto que existem ações para diminuir o fato gerado do tributo. É o caso das deduções para a fonte pagadora das contribuições previdenciárias, utilização de imóvel residencial para exercício de atividade profissional, ganho de capital isento, venda de imóveis residenciais, entre outros. A função do planejador financeiro é demonstrar aos seus clientes como registrar e avaliar a situação financeira durante o exercício social, até mesmo com uma planilha contendo o fluxo de caixa pessoal que proporciona avaliar e planejar as entradas e saídas de dinheiro. Este é outro campo de atuação do profissional de finanças. CONTEXTUALIZANDO O contribuinte de classe média é o mais onerado pelo fisco. A alíquota aplicada sobre a renda é de até 27,5%, se houver ganho de capital terá um custo de até 15%, pagamento de INSS sobre o salário de até 11%, mais os tributos IPTU, IPVA, ITBI, ITR, contribuições sindicais, de exercício da profissão etc. A pessoa física, de forma indireta, ainda paga ICMS, IPI, ISS, PIS e Cofins. Nesse sentido, qual é a relação da carga tributária com o cálculo do Índice de Retorno de Bem-Estar à Sociedade (IRBES)? Saiba mais Brasil é o país que proporciona pior retorno em serviços públicos à sociedade: Disponível em: <https://ibpt.com.br/noticia/2595/CNPL-Brasil-e-o- Pais-que-proporciona-pior-retorno-em-servicos-publicos-a-sociedade>. Acesso em: 16 fev. 2020. 3 TEMA 1 – PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO NA PESSOA FÍSICA, QUANDO TEM PARTICIPAÇÃO SOCIETÁRIA E QUANDO NÃO TEM O Imposto de Renda das Pessoas Físicas (IRPF) é um tributo de competência da União, que tem como fato gerador a aquisição da disponibilidade econômica ou jurídica de renda e proventos de qualquer natureza, conforme disposto no Código Tributário Nacional (CTN), art. 43. A renda é o produto do capital, do trabalho ou de ambos. Os proventos de qualquer natureza constituem os aumentos patrimoniais não classificados como renda. A cobrança do IRPF ocorre mediante a entrega da declaração anual, seja em relação ao valor do imposto a pagar ou em relação ao valor que o contribuinte tem a restituir. As alíquotas do IRPF variam em razão da geração de renda, princípio da isonomia. Até determinada renda, o contribuinte é isento do imposto e não precisa prestar contas ao fisco. As demais pessoas físicas devem elaborar a declaração de ajuste anual. A declaração anual da pessoa física é fundamentada em documentos que comprovam o fato gerador. A renda pode ser comprovada por meio de informe de rendimentos, holerites, extratos bancários, dentre outras formas e as despesas, mediante comprovantes de pagamentos, recibos e notas fiscais. As despesas médicas, odontológicas, pagamento de seguros de saúde, planos de saúde, são dedutíveis na apuração anual do imposto. Existem duas formas de tributação, isto é, utilizando as deduções previstas na legislação tributária ou utilizando o desconto de 20% do valor dos rendimentos tributáveis na declaração, limitado a R$ 16.754,34 para o ano de 2019. A tabela do imposto de renda deve ser acompanhada anualmente. No caso da pessoa física que possui participação societária, também há a necessidade de informar na declaração. 1.1 Pessoa física com participação societária De acordo com a Receita Federal (2019, p. 24), a pessoa física não estará obrigada a entregar a declaração em razão de ser titular ou sócio de empresa, exceto se preencher os requisitos constantes na Instrução Normativa n. 1.871/2019, art. 2º. 4 Se a pessoa física for obrigada a declarar o imposto de renda, deverá informar a propriedade das cotas na ficha de bens e direitos da sua declaração com o código 32 "Cotas ou quinhão de capital”. Nesse campo, devem ser informados o número de cotas, o valor inicial, o nome e o CNPJ da empresa. Os rendimentos auferidos pela empresa declarados na pessoa física podem ser decorrentes de pró-labore ou de dividendos. O pró-labore significa pelo trabalho e constitui o salário dos administradores. Essa forma de remuneração não é obrigatória, ficando a cargo dos proprietários decidir em aderir ou não. Essa informação deve constar nos rendimentos tributáveis recebidos, sujeitos à tabela progressiva do imposto de renda. No caso da distribuição de dividendos, há uma vantagem, ou seja, os valores declarados como lucros ou dividendos estão isentos de imposto de renda para a pessoa física, conforme RIR/2018, art. 35, inciso IV. No entanto, no caso do Microempreendedor Individual (MEI), não obrigado à escrituração contábil, deve-se aplicar a regra de presunção e informar na declaração apenas o lucro presumido como isento. Então, o registro na ficha de rendimentos isentos e não tributáveis será realizado na linha 05 “Lucros e dividendos recebidos pelo titular e seus dependentes” ou na linha 09 “Rendimento de sócio ou titular de microempresa ou empresa de pequeno porte optante pelo Simples Nacional”, conforme a situação. Dessa forma, o contribuinte que tenha recebido como pessoa jurídica deve declarar os ganhos como pessoa física. Os rendimentos decorrentes da participação societária serão descritos como pró-labore ou lucro nos respectivos campos da declaração. TEMA 2 – REDUÇÃO DO INSS PAGO PELOS SÓCIOS De acordo com a Lei n. 8.212/91, art. 12, os contribuintes individuais são segurados obrigatórios da Previdência Social. Estes representam os empresários, trabalhadores autônomos e equiparado a trabalhador autônomo. A contribuição do contribuinte individual é calculada com base na remuneração obtida em uma ou mais empresas ou pela realização de suas atividades por conta própria durante o mês. As empresas contratantes utilizarão a alíquota de 20% para efetuar o desconto da contribuição previdenciária dos contribuintes individuais. O contribuinte que prestar serviço a uma ou mais empresas poderá descontar da 5 sua contribuição mensal 45% da contribuição patronal da contratante, realmente recolhida ou declarada, limitada a 9% sobre o salário de contribuição. Isso quer dizer que o valor da contribuição não ultrapassará a 11% sobre o serviço prestado, por exemplo, determinado segurado se filiou ao Regime Geral de Previdência Social (RGPS) na condição de contribuinte individual. Durante o mês, prestou serviços a duas empresas. Recebeu da empresa A R$ 1.000,00 e da empresa B, R$ 600,00. A contribuição à Previdência Social, considerando a dedução permita por lei, será de: Quadro 1 – Redução do INSS pago pelos sócios Descrição R$ Remuneração auferida pelo segurado no mês 1.600,00 Contribuição individual (sem dedução) – R$ 1.600,00 x 20% 320,00 Contribuição patronal – empresa "A" – R$ 1.000,00 x 20% 200,00 Contribuição patronal – empresa "B" – R$ 600,00 x 20% 120,00 Possibilidade de dedução – (R$ 200,00 + R$ 120,00) x 45% 144,00 Limite de dedução – R$ 1.600,00 x 9% 144,00 Contribuição do segurado – R$ 320,00 – R$ 144,00 176,00 Saiba mais Formas de pagar e códigos de pagamento – Contribuinte individual/Facultativo. Disponível em: <https://www.inss.gov.br/servicos-do- inss/calculo-da-guia-da-previdencia-social-gps/forma-de-pagar-e-codigos-de-pagamento-contribuinte-individualfacultativo/>. Acesso em: 16 fev. 2020. Os profissionais autônomos devem atentar à contribuição previdenciária para não sofrer retenção indevida. Conforme mencionado por Crepaldi (2017, p. 298), o profissional autônomo “deve informar a todas as empresas onde trabalha os valores descontados nas demais, para não ultrapassar o limite de contribuição daquele mês”. O limite máximo do INSS aplica-se aos contribuintes individuais e aos empregados. No demonstrativo de pagamentos, deve constar os valores da remuneração, do desconto, a sua identificação (inclusivo número do CNPJ) e o número de identificação do contribuinte individual no INSS. 6 2.1 Pró-labore versus plano de previdência privada A adesão ao plano de previdência privada pode trazer economia aos sócios, pois ao invés de pagar diretamente na forma de pró-labore, pode ser pago por meio de previdência privada. Segundo a Lei n. 8.212/91, art. 28, alínea p, parágrafo 9º, não integram o salário de contribuição o valor das contribuições efetivamente pago pela pessoa jurídica relativo a programa de previdência complementar. Assim, não haverá a retenção de 11% do INSS e o contribuinte deixará de reter 27,5% do IRRF, pois o RIR/2018, art. 67, determina que as contribuições privadas são dedutíveis da base de cálculo do imposto de renda. No entanto, as deduções estão limitadas a 12% do total dos salários dos empregados e da remuneração dos dirigentes da empresa vinculados ao referido plano, conforme art. 75 do RIR/2018. Situação 1 Pró-labore mensal: R$ 7.000,00 Encargos INSS (20% empresa) = R$ 1.400,00 IRRF = R$ 879,00* Total da tributação 1 = R$ 2.279,00/mensais *Base de cálculo do IRRF/tabela 2019: R$ 7.000,00 menos INSS 11% retido (sobre o teto do INSS) R$ 642,34 = R$ 6.357,66. Situação 2 Alteração realizada na forma de remuneração: Pró-labore R$ 5.600,00 e plano de previdência privada: R$ 1.400,00 Encargos após a alteração realizada: INSS (20% empresa) = R$ 1.120,00 IRRF = R$ 501,24* *Base de cálculo do IRRF/tabela 2019: R$ 5.600,00 menos INSS 11% retido R$ 616,00 = R$ 4.984,00. Total da tributação 2 = até R$ 1.621,24/mensais Diferença entre as situações 1 e 2 = até R$ 657,76 mensais ou R$ 7.893,12/ano. 7 2.2 Planejamento tributário na previdência privada O planejamento tributário na previdência proporciona economia tributária aos contribuintes. Crepaldi (2017, p. 299) relata O conceito de previdência, para muitos, ainda significa acumular riqueza para a aposentadoria, isto é, uma forma de investimento de longo prazo, com o objetivo de garantir uma renda mensal no futuro. No entanto, a previdência pode ser utilizada para outros objetivos, tais como planejamento fiscal, sucessório ou até mesmo como um simples investimento — o que a torna um produto bastante atrativo. Os planos de previdência complementar devem ser estudados com profundidade. Existem no mercado o Plano Gerador de Benefícios Livres (PGBL) e o Vida Geradora de Benefícios Livres (VGBL). Segundo Crepaldi (2017, p. 299), “o PGBL é ideal para quem declara o IR no formulário completo, pois todas as contribuições realizadas no plano podem ser deduzidas da base de cálculo do IR até o limite de 12% da renda bruta anual” e o VGBL é indicado para “investidores que fazem declaração pelo formulário simplificado ou já contribuíram com o montante de 12% da renda tributável”. TEMA 3 – REDUZIR O VALOR DO PRÓ-LABORE E AUMENTAR A DISTRIBUIÇÃO O pró-labore se trata de uma espécie de salário pago aos proprietários ou administradores da empresa em troca de suas atividades laborais. A distribuição de lucros consiste em uma forma de remuneração independente das atividades laborais e somente haverá distribuição, se houver lucro. Nesse sentido, a tributação dependerá da forma de remuneração adotada. A legislação do imposto de renda e da previdência social determina a não incidência tributária sobre a distribuição de lucros. Em contrapartida, o pró-labore tem incidência de IRRF e INSS. Saiba mais Pró-labore. Disponível em: <http://www.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/ufs/ap/artigos/como-definir-o- valor-da-retirada-de-pro-labore-dos- socios,6570ace85e4ef510VgnVCM1000004c00210aRCRD>. Acesso em: 16 fev. 2020. 8 Sendo assim, é recomendável diminuir o pró-labore e aumentar a distribuição de lucros. A competência para escolher a forma de remuneração é dos proprietários, sendo os critérios estabelecidos no contrato social ou no estatuto social. Não existe regra específica para definir o montante de pró-labore ou de distribuição de lucros, mas a decisão refletirá na carga tributária. 3.1 Reflexo tributário do pró-labore O ônus tributário sobre pró-labore é significativo, impactando no resultado da empresa. Ao optar por essa forma de remuneração, os proprietários devem estar cientes das seguintes obrigações tributárias: Quadro 2 – Tributos sobre pró-labore Tributos Carga tributária IRRF Pode representar até 27,5% do valor total do pró-labore – Tabela progressiva do imposto de renda INSS Pode representar até 11% do valor total do pró-labore– Tabela da previdência INSS patronal Representa aproximadamente 20% do valor total do pró-labore O pagamento de férias e gratificações natalinas ficarão a cargo dos proprietários decidirem, devendo constar em documento registrado. Então, a fim de calcular o pró-labore, deve-se: considerar a atividade desenvolvida pelos sócios e administradores na empresa; equiparar a remuneração dos sócios e administradores ao valor de mercado para a atividade desenvolvida; relacionar o custo total dos tributos incidentes sobre o valor líquido; especificar a forma de pagamento no contrato social ou estatuto social. O estudo da carga tributária sobre o pró-labore é essencial para comparar a distribuição de lucros e definir qual é a forma mais vantajosa. 3.2 Reflexo tributário da distribuição dos lucros A distribuição dos lucros depende de uma contabilidade regular e precisa. A distribuição ocorre por meio da apuração do resultado do exercício e está isenta do INSS e do imposto de renda. De acordo com a Instrução Normativa RFB n. 1.700, de 2017, a isenção da distribuição dos lucros limita-se ao valor da base de cálculo do IRPJ, 9 diminuída de todos os impostos e contribuições a que estiver sujeita a pessoa jurídica. O contribuinte também tem o direito à isenção, uma vez que a empresa pagou tributos sobre o faturamento e é vedada a bitributação. Esta forma de remuneração demanda profissionais qualificados para elaborar o Balanço Patrimonial e a Demonstração do Resultado do Exercício e recomenda-se que a empresa tenha uma reserva de lucros para utilizar como distribuição, caso seja necessário. 3.3 Diferenças entre pró-labore e distribuição de lucros Destaca-se, no Quadro a seguir, as diferenças existentes entre pró-labore e distribuição de lucros. Quadro 3 – Diferenças entre pró-labore e distribuição de lucros de forma geral Critério Pró-labore Distribuição de lucros Obrigatoriedade Deve ser pago como se fosse salário Depende da geração de lucros Periodicidade Mensal Mensal se houver lucro comprovado Incidência Incide INSS e IR sobre o pagamento Não há a incidência de INSS e IR Valores Estipulado com base no mercado Depende da geração de lucros Beneficiários Somente terá direito aquele que exerce atividade profissional na empresa Todos aqueles que compõem a sociedade De forma geral, estas são as diferenças significativas do pró-labore e da distribuição de lucros. Assim como nas operações de remuneração, os sócios ao realizem venda de imóveis para obtenção de renda, deverão estudar a situação e planejar a tributação incidente. TEMA 4 – VENDA DE IMÓVEIS DOS SÓCIOS A venda de bens pessoais por parte dos sócios de empresa executada não representa fraude fiscal,desde que a transferência ocorra antes da desconsideração da personalidade jurídica. Essa operação pode ser caracterizada fraude, em razão da falta de pagamento das dívidas com terceiros e pode ser anulada pelo Superior Tribunal de Justifica (STJ). Segundo disposto no RIR/2018, art. 35, inciso VI, alínea c, quando a pessoa física vende o imóvel e aplica o produto da venda na aquisição de outro imóvel residencial localizado no país, em um prazo de 180 dias, estará isento da 10 tributação do imposto de renda. O ganho de capital dessa operação também é isento conforme art. 133, inciso III. O imóvel residencial consiste em uma unidade construída em zona urbana ou rural com a finalidade de moradia. Caso a aplicação do produto da venda nesse imóvel residencial não seja integral, a parcela do ganho não aplicada será tributada. A falta de pagamento sobre a parcela do ganho que excede a aplicação implicará em juros de mora, apurados a partir do segundo mês seguinte ao do recebimento do valor ou da parcela do imóvel vendido e multa de mora ou de ofício, apurada a partir do segundo mês subsequente, caso o imposto não seja pago até 30 dias após o prazo de 180 dias da formalização do contrato. O benefício da isenção do imposto de renda sobre a venda de imóvel somente poderá ser utilizado a cada cinco anos, contados a partir da data da formalização do contrato de venda ou quando realizada a venda de mais de um imóvel residual, à data da primeira operação de venda. A isenção do imposto de renda se aplica inclusive aos contratos de permuta de imóveis residenciais e à venda ou compra de imóvel residencial em construção ou na planta. Entretanto, o benefício pode ser extinguido em casos específicos. 4.1 Extinção do benefício na venda de imóvel residencial O benefício de isenção do imposto de renda não é aplicado nas operações de venda de imóveis residenciais com a finalidade de quitar, total ou parcialmente, débito remanescente de compra a prazo ou a prestação do imóvel de posse do alienante. A regra é mesmo para a venda ou compra de terreno e para a compra apenas de vaga de garagem ou de boxe de estacionamento, conforme Instrução Normativa RFB n. 599/2005, art. 2º, parágrafo 11. Com relação às despesas de corretagem, a referida instrução estabelece que “não integram o produto da venda, para efeito do valor a ser utilizado na aquisição de outro imóvel residencial, as despesas de corretagem pagas pelo alienante”. 11 4.2 Redução do ganho de capital O RIR/2018, art. 134, parágrafo 5º, dispõe que o valor pago de corretagem pode ser utilizado para reduzir a base de cálculo tributável da operação de venda de imóvel residencial com ganho de capital. Outra forma de reduzir o ganho de capital na venda de imóveis é incluir as despesas com reparos e conservação ao valor do bem, desde que ocorra o aumento da vida útil com a devida comprovação e que as partes e peças substituídas não tenham sido depreciadas. Dessa forma, a pessoa física ao vender um imóvel deve planejar os ganhos decorrentes dessa operação e as formas para reduzir a tributação, vantagem do planejamento fiscal na pessoa física. TEMA 5 – PLANEJAMENTO FISCAL NA PESSOA FÍSICA O planejamento tributário é mais comum para as pessoas jurídicas. No entanto, diversas medidas podem ser adotadas, a fim de reduzir a carga tributária na pessoa física. O contribuinte sofre a incidência de até 27,5% sobre a renda e proventos de qualquer natureza, até 11% de INSS, mais as contribuições sindicais e taxas de exercício da profissão. E, indiretamente pagam tributos sobre a aquisição de bens e serviços de consumo (ICMS, IPI, ISS, PIS e Cofins). Nesse sentido, serão estudadas a seguir algumas formas lícitas de reduzir esses tributos. 5.1 Deduções para a fonte pagadora As deduções para a fonte pagadora são apresentadas na Declaração do Imposto sobre a Renda da Pessoa Física (DIRPF). A pessoa física poderá optar pelo desconto simplificado ou pela declaração completa. Segundo o art. 3º da Instrução Normativa RFB n. 1.871/2019, a pessoa física pode optar pelo desconto simplificado, equivalente à dedução de 20% do valor dos rendimentos tributáveis na Declaração de Ajuste Anual, limitado a R$ 16.754,34. Na declaração completa, as deduções podem se referir aos dependentes, INSS retido, contribuição de previdência privada no limite de 12% da renda 12 tributável, pensão alimentícia judicial quando houver obrigatoriedade de a fonte pagadora reter. 5.2 Da exclusão na hipótese de aluguel de imóveis O RIR/2018, art. 42, dispõe que não será considerado como rendimento bruto, no caso de aluguéis de imóveis: Art. 42 I - o valor dos impostos, das taxas e dos emolumentos incidentes sobre o bem que produzir o rendimento; II - o aluguel pago pela locação de imóvel sublocado; III - as despesas pagas para cobrança ou recebimento do rendimento; e IV - as despesas de condomínio. No material disponibilizado pela Receita Federal, Perguntas e Respostas – Imposto de Renda da Pessoa Física, na questão 411, esclarece-se que podem ser deduzidas as despesas com aluguel, energia, água, gás, taxas, impostos, telefone, telefone celular, condomínio, quando o imóvel utilizado para a atividade profissional é também residência. O Parecer Normativo CST n. 60, de 20 de junho de 1978, permite a dedução da quinta parte dessas despesas. Situação A: Imóvel alugado Suponha-se que as despesas decorrentes do imóvel alugado utilizado pelo contribuinte individual seja: Quadro 4 – Dedução de imóvel alugado Despesas R$ Aluguel 2.000,00 Energia 560,00 Água e esgoto 200,00 ITPU 180,00 Condomínio 600,00 Total 3.540,00 Parcela dedutível (1/5) 708,00 Situação B: Imóvel próprio Suponha-se que as despesas decorrentes do imóvel próprio utilizado pelo contribuinte individual seja: 13 Quadro 5 – Dedução de imóvel próprio Despesas R$ Energia 560,00 Água e esgoto 200,00 ITPU 180,00 Condomínio 600,00 Total 1.540,00 Parcela dedutível (1/5) 308,00 Não fazem parte da dedução os reparos, a conservação e recuperação do imóvel. 5.3 Deduções anuais As deduções anuais devem ser comprovadas via documentos, recibos, cópias dos cheques nominais emitidos etc. As despesas dedutíveis para fins de apuração do IRPF anual referem-se às despesas médicas, odontológicas, seguro-saúde, planos médicos, dentre outras. Dessa forma, é imprescindível que o contribuinte organize a documentação no ano corrente, para que, no ano seguinte, possa realizar o preenchimento da declaração corretamente. O fisco tem exigido informações cada vez mais detalhadas e a responsabilidade por essas informações é do contribuinte. 5.4 Ganho de capital isento O ganho de capital é isento, conforme disposto pelo RIR/2018, art. 133, quando decorrer da alienação de bens e direitos de pequeno valor, em que o preço unitário de alienação, no mês em que esta se realizar, seja igual ou inferior a: Art. 133 a) R$ 20.000,00 (vinte mil reais), na hipótese de alienação de ações negociadas no mercado de balcão; e b) R$ 35.000,00 (trinta e cinco mil reais), nas demais hipóteses; A legislação também impõe limites: Art. 133 § 1º O limite a que se refere o inciso I do caput será considerado em relação: I - ao bem ou ao direito ou ao valor do conjunto dos bens ou dos direitos da mesma natureza, na hipótese de alienação de diversos bens, alienados no mesmo mês; II - à parte de cada condômino, na hipótese de bens em condomínio; e 14 III - a cada um dos bens ou dos direitos possuídos em comunhão e ao valor do conjunto dos bens ou dos direitos da mesma natureza, alienados no mesmo mês, na hipótese de sociedade conjugal. Os bens e direitos descritos na legislação referem-se àqueles que possuem as mesmas características entre si. Tratando-se de imóveis deve adotar as regras supracitadas. TROCANDOIDEIAS O planejamento tributário é mais comum para as pessoas jurídicas. No entanto, diversas medidas podem ser adotadas a fim de reduzir a carga tributária da pessoa física. Depois de compreender as formas de realizar o planejamento tributário para pessoa física e para pessoa jurídica, é possível afirmar que o planejamento é mais importante para as empresas? NA PRÁTICA O contribuinte comprou um apartamento por R$ 200.000,00 há cinco anos e vendeu o imóvel por R$ 300.000,00 em 2018. Sendo assim, o contribuinte terá de pagar Imposto de Renda em 2019? Qual é o montante a ser pago? A resposta esperada para essa questão pode ser encontrada ao final deste material, após a seção Referências. FINALIZANDO A carga tributária da pessoa física no Brasil é uma das mais altas do mundo e com menor retorno à sociedade. A representatividade é de aproximadamente 32% do PIB (Produto Interno Bruto), isto é, o governo detém um terço do que é produzido no país. A fim de garantir a sobrevivência, os contribuintes devem estudar formas de reduzir o ônus tributário. Dentre as possibilidades existentes, tem-se a redução do INSS pago pelos sócios, remuneração por meio da distribuição de lucros, venda de imóveis dos sócios sem ganho de capital, dentre outras. Para realizar o planejamento, faz-se necessário um profissional técnico para evitar que não ocorram desembolsos infundados e para garantir que a informação seja disponibilizada com integridade para o fisco. As sanções fiscais têm sido cada vez mais recorrentes. 15 REFERÊNCIAS BRASIL. Decreto n. 9.580, de 22 de novembro de 2018. Regulamenta a tributação, a fiscalização, a arrecadação e a administração do Imposto sobre a Renda e Proventos de Qualquer Natureza. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2018/decreto/D9580.htm>. Acesso em: 16 fev. 2020. ______. Lei n. 8.212, de 24 de julho de 1991. Dispõe sobre a organização da Seguridade Social, institui Plano de Custeio, e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8212cons.htm>. Acesso em: 30 de out. 2019. ______. SISTEMA NORMAS GESTÃO DA INFORMAÇÃO. Instrução Normativa RFB n. 1.700, de 14 de março de 2017. Diário Oficial da União, Brasília, 16 mar. 2017. Disponível em: <http://normas.receita.fazenda.gov.br/sijut2consulta/link.action?idAto=81268>. Acesso em: 21 fev. 2020.. ______. SISTEMA NORMAS GESTÃO DA INFORMAÇÃO. Instrução Normativa RFB n. 599, de 28 de dezembro de 2005. Diário Oficial da União, Brasília, 30 dez. 2005. Disponível em: <http://normas.receita.fazenda.gov.br/sijut2consulta/link.action?visao=anotado& idAto=15526>. Acesso em: 21 fev. 2020. ______. SISTEMA NORMAS GESTÃO DA INFORMAÇÃO. Instrução Normativa RFB n. 1.871, de 20 de fevereiro de 2019. Dispõe sobre a apresentação da Declaração de Ajuste Anual do Imposto sobre a Renda da Pessoa Física referente ao exercício de 2019, ano-calendário de 2018, pela pessoa física residente no Brasil. Diário Oficial da União, Brasília, 22 de fevereiro de 2019. Disponível em: <http://normas.receita.fazenda.gov.br/sijut2consulta/link.action?visao=anotado& idAto=98886>. Acesso em: 21 fev. 2020. CREPALDI, S. Planejamento tributário. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2017. IBPT. CNPL: Brasil é o País que proporciona pior retorno em serviços públicos à sociedade. 19 jun. 2017. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2018/decreto/D9580.htm 16 <https://ibpt.com.br/noticia/2595/CNPL-Brasil-e-o-Pais-que-proporciona-pior- retorno-em-servicos-publicos-a-sociedade>. Acesso em: 21 fev. 2020. RECEITA FEDERAL. Perguntas e Respostas – Imposto de Renda da Pessoa Física IRPF 2019. Disponível em: <http://receita.economia.gov.br/interface/cidadao/irpf/2019/perguntao/perguntas -e-respostas-irpf-2019.pdf>. Acesso em: 21 fev. 2020. 17 GABARITO Segundo disposto no RIR/2018, art. 35, inciso VI, alínea c, quando a pessoa física vende o imóvel e aplica o produto da venda na aquisição de outro imóvel residencial localizado no país em um prazo de 180 dias, estará isento da tributação do imposto de renda. Se não for empregado todo o valor para a aquisição de um novo imóvel, a diferença será tributada em 15%, isto é, R$ 15.000,00.
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