Buscar

Prévia do material em texto

1 
O TRABALHO ESCRAVO NOS ENGENHOS 
O engenho operava durante vinte horas diárias, sem interrupção, 
levando os trabalhadores à exaustão. Poucos trabalhadores eram livres e 
tinham especialização para ocupar cargos técnicos, como de mestre de purgar. 
A grande maioria era formada por trabalhadores escravizados submetidos a 
uma jornada pesada e a condição sub-humana. Até 1670, chegavam a cada 
ano cerca de dois mi africanos escravizados à colônia portuguesa. A partir 
dessa data, esse número dobrou, passando a quase quatro mil anualmente. No 
final do século XVII, o total da população escravizada desde o inicio da 
colonização já ultrapassava a casa dos quinhentos mil. 
1. SOB O DOMÍNIO PORTUGUÊS:
Nos primeiros anos após a chegada de Cabral, portugueses e franceses 
utilizavam amplamente trabalho indígena na exploração comercial do pau-
brasil. Havia interesse dos dois lados: os nativos trocavam o pau-brasil e várias 
especiarias por mercadorias que colonizadores traziam de ugares distantes. 
Os europeus, por sua vez, não lhes impunham obrigações, não 
estabeleciam limites à sua liberdade e, como os nativos esperavam “pagavam” 
pelo trabalho com objetos de pouco valor. Já nesse período, porém, ocorriam 
episódios de apresamento de indígenas, que eram levados para trabalharem 
na Europa na condição de escravos. Com a implantação da lavoura de cana-de 
açúcar, tentou-se escravizar os nativos para trabalhar no cultivo da terra. 
Inicialmente, a pratica mais comum era utilizar os prisioneiros de guerra dos 
indígenas. Essa forma de obter trabalhadores escravos, permitida por lei 
chamava-se resgate e acabou incentivando as guerras entre os diferentes 
povos indígenas como meio de conseguir cada vez mais prisioneiros para 
trocá-los com os colonos. Mas o resgate, embora não tivesse desaparecido, foi 
logo superado por outra forma mais eficiente de obter mão de obra escrava: os 
ataques que os próprios colonos passaram a fazer contra os indígenas hostis, 
considerados inimigos dos portugueses – a chamada guerra justa. 
 
 
2 
 
Relação de poder: Catequização - Submissão forçada. 
 
 
Uma série de inconvenientes cercava o trabalho escravo dos nativos na 
lavoura. Para começar, em 1570 a Coroa Portuguesa proibiu a escravização 
dos indígenas. Uma das razões que levaram a essa decisão foi à posição dos 
jesuítas à submissão forçada dos ameríndios. Os jesuítas defendiam a 
catequização, argumentando que eles precisavam ser conduzidos ao senhor. 
No entanto, existia brechas na legislação que permitiam os colonos 
romper com a proibição da Coroa: como o resgate da guerra justa. Os 
indígenas também não aceitavam trabalhar na lavoura, opondo forte resistência 
ao trabalho sistemático imposto pelos colonos portugueses. Para eles, a 
disciplina que a atividade exigia violava sua cultura. Tentando escapar da 
opressão, muitos nativos migraram para outras regiões. Os que já haviam sido 
escravizados resistiam ao trabalho de varias formas: negando-se a trabalhar no 
ritmo exigido pelos colonos, ou simplesmente fugindo das plantações. 
A partir de 1550 os colonos, pressionados pela expansão da produção 
açucareira, passaram a recorrer cada vez mais à mão de obra africana, 
oferecida nos portos brasileiros pelos traficantes. Isso permitia uma certa 
regularidade no abastecimento de trabalhadores escravizados, o que não 
ocorria com a mão de obra indígena, cada vez mais difícil de conseguir. 
Ademais, os africanos, ao serem deslocados para um lugar estranho, 
tinham mais dificuldade do que os indígenas de resistir à escravidão ou de fugir 
dos engenhos. Além disso, os africanos não contavam com a proteção dos 
jesuítas nem das leis decretadas a partir de 1570, pela Coroa Portuguesa que 
proibiam a escravização indígena. Ao contrario, a submissão dos povos da 
África era vista como uma forma de purgar seus pegados e de convertê-los ao 
reino de Deus. Afinal, muitos deles tinham entrado em contato com a religião 
muçulmana, e na América poderiam ser catequizados. A substituição de um 
tipo de trabalhador por outro se fez aos poucos. Somente em 1600 o número 
de africanos superou o número de indígenas escravizados. 
 
 
 
 
 
3 
 
A Igreja e a escravidão. 
 
Assim, enquanto os indígenas eram defendidos pela Igreja, os africanos 
não tiveram a mesma sorte. No caso da colonização espanhola, até mesmo um 
humanista como o frei dominicano Bartolomé de Las Casas recomendava a 
introdução de trabalhadores africanos como forma de preservação dos 
indígenas. A mesma situação acabou ocorrendo no Brasil. 
Depois da chegada dos africanos, porém os indígenas continuaram a ser 
escravizados, embora em menor escala, principalmente nas áreas mais pobres 
ou em atividades menos lucrativas. Os colonos que não eram grandes 
proprietários de terras não podiam pagar o custo da mão de obra africana, cujo 
preço chegava a ser cinco vezes maior que o dos indígenas escravizados. Por 
isso, recorriam ao emprego permanente dos nativos, o que gerava constantes 
conflitos com os jesuítas, contrários à escravização indígena. 
 
2. O AFRICANO ESCRAVIZADO: 
 
Não foi difícil para os portugueses fazer uso do trabalhador africano em 
larga escala. Afinal, desde 1443 eles traficavam seres humanos da África para 
as ilhas do Atlântico e para a Europa. Esses trabalhadores escravizados eram 
originários de varias partes da África. Pertenciam a diversas etnias, com formas 
de organização social e manifestações culturais diferentes. Alguns 
apresentavam “notável progresso na agropecuária e no artesanato, 
principalmente no trabalho com metais, especialidade em que, sob alguns 
aspectos, se achavam mais adiantados do que os europeus da época”. 
Sabe-se que a escravidão já existia na África antes da chegada dos 
europeus, embora tivesse um significado diferente nas sociedades locais: só a 
guerra levava um povo a escravizar outro. A exploração europeia provocou 
completa mudança nesse quadro. Alguns povos africanos passaram a se 
especializar na captura de prisioneiros e se fortaleceram recorrendo à guerra e 
à venda dos capturados aos traficantes. Exemplo disso foi à fundação do 
Estado de Daomé, no século XVII, para movimentar o comércio de escravos. 
 
 
 
 
4 
 
O tráfico negreiro. 
 
Num primeiro momento, o comércio de africanos era feito por meio de 
escambo nas feitorias construídas em certos pontos do litoral da África. No 
entanto, com o início da colonização da América, no decorrer do século XVI, o 
tráfico se tornou mais complexo e passou a mobilizar lideres locais, que 
trocavam seus prisioneiros de guerra por diversas mercadorias, como 
aguardente e fumo produzidos na América. Uma vez comprados, os africano 
escravizados eram embarcados em navios – os chamados navios negreiros ou 
tumbeiros, enviados ao continente americano. 
As condições das viagens transoceânicas justificavam o nome - tumbeiro 
(de tumba ou túmulo) dado aos barcos. Comprimidos nos porões das 
embarcações, entre 100 e 400 africanos viajavam quase nus, sufocados pela 
falta de ar e torturados pela fome e pela sede. A tortura era lenta e prolongada: 
saindo, por exemplo, de Angola, o navio levava em média 35 dias para chegar 
a Pernambuco e 40 para alcançar a Bahia. Muitos morriam durante a travessia 
do Atlântico (calcula-se que cerca de 15% do total). 
 
3. ENTRE A RESIGNAÇÃO E A REVOLTA: 
 
Ao chegar à América, o africano deparava com um mundo que em tudo 
lhe era estranho e hostil. Com as relações familiares desfeitas antes do 
embarque para as terras desconhecidas – marido, mulher, pais e filhos eram 
separados e vendidos, seguindo destinos diferentes, nada restava da sua 
comunidade de origem. Abatido pelas perdas, o africano escravizado 
enfrentava ainda condições desumanas de trabalho nos canaviais ou 
alimentando as fornalhas nos engenhos. Ás mulheres cabia fazer todo o 
serviço domestico atender às necessidades das esposas e filhosdo senhor e 
satisfazer sexualmente seus donos brancos. Escravos e escravas viviam sob a 
ameaça constante de castigos físicos. 
De que modo reagiram esses homens e mulheres ao peso da 
escravização? Alguns com resignação, adaptando-se à cultura dos senhores e 
aceitando pacificamente a descriminação racial. Outros, porém, se revoltaram, 
feriam ou matavam os feitores e provocavam incêndios nos canaviais. Outros 
ainda entravam em depressão. Mas havia outra forma de reagir que levava a 
 
 
5 
 
ações coletivas e reafirmava os sentimentos de identidade étnica e cultural 
desses homens e mulheres. Por meio da fuga, os escravos reconquistavam a 
liberdade e reconstruíam formas comunitárias semelhantes às da África, no 
interior das quais podiam preservar o que restava de sua cultura. Essas 
comunidades chamavam-se quilombos, e seus habitantes quilombolas. 
A vida econômica dos quilombos se organizava em torno de atividade de 
comércio com os povoados mais próximos. 
 
Quilombo dos Palmares 
 
O mais famoso e duradouro quilombo do período colonial foi o de 
Palmares, localizado na serra da Barriga, no sul da capitania de Pernambuco. 
Admite-se que os primeiros fugitivos a se fixar ali tenham chegado por volta de 
1605. Palmares foi um estimulo à luta dos escravizados pela liberdade. Por 
isso as autoridades da colônia lançaram contra ele diversas expedições 
militares sem sucesso. Em 1692, forças comandadas pelo bandeirante paulista 
Domingos Jorge Velho lançaram-se contra o quilombo. Após muita resistência, 
Palmares foi destruída e seu líder, Zumbi, morto em 20 de novembro de 1695. 
Em homenagem a Zumbi, 20 de novembro é considerado o Dia Nacional 
da Consciência Negra, uma data especial, comemorada.

Mais conteúdos dessa disciplina