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Tópicos em Libras: Surdez e Inclusão

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Disciplina - Tópicos em libras: surdez e inclusão
Introdução
Os sistemas educacionais têm como desafio principal ultrapassar a idéia de que basta abrir as portas da escola para que a integração/inclusão aconteça sem que antes se encontre alternativas reais para o desenvolvimento das potencialidades desse aluno, cuidando também de oferecer alternativas de formação dos professores.
A escola, apesar da “boa vontade” de seus atores, reproduz em seu interior as ações preconceituosas e segregadoras praticadas na sociedade como um todo. Sabemos que o surdo tem direito a exercer a sua cidadania e ter acesso a tudo o que a sociedade moderna pode lhe oferecer.
Tendo em vista que a língua através da qual o surdo se expressa com maior facilidade é LIBRAS, e que os seus professores e os especialistas em surdez necessitam dessa língua para o atendimento em sala de aula e para o atendimento especializado, a divulgação da língua de sinais brasileira é fundamental na carreira desses profissionais e de todos os profissionais que compõem a sociedade contemporânea.
Objetivos
 Enfoque e conteúdo inserem-se no contexto das discussões acerca da sociedade inclusiva, destacando em especial as adequações de instituições e suas propostas às políticas públicas de inclusão vigentes e o conjunto de documentos que lhe dão substrato. Dentre estas, privilegia-se, aqui, o Decreto 5626/2005.
Bibliografia
• Básica:
FERNANDES, Eulália (org). Surdez e bilinguismo. Porto Alegre: Mediação, 2005.
QUADROS, Ronice M de & KARNOPP, Lodenir Becker. Língua de Sinais Brasileira: estudos linguísticos. Porto Alegre: ARTMED, 2004.
RAJAGOPALAN, K & SILVA, Fábio. L. A linguística que nos faz falhar: investigação crítica. São Paulo, Parábola, 2004.
RAMOS, Clélia. LIBRAS: a língua de sinais dos surdos brasileiros. Disponível em . Acessado em 28/06/2008.
RIBEIRO, Alexandre do Amaral. “Anotações sobre língua, cultura e identidade: um convite ao debates obre políticas linguísticas”. In: INES, Informativo Técnico-científico Espaço. Rio de Janeiro, n25/26, p.26, janeiro-dezembro, 2006
SÁ, Nídia Regina Limeira de. Cultura, poder e educação de surdos. São Paulo: Paulinas, 2006.
Tópicos em Libras: surdez e inclusão / Aula 1 - Diferença, inclusão e identidade na sociedade contemporânea
Introdução
Adquirir noções instrumentais da língua de sinais não é o único objetivo deste curso. A língua de sinais é utilizada por sujeitos sinalizantes (surdos ou ouvintes que dominam a língua de sinais brasileira) em contextos específicos de interação cujo histórico aponta para preconceitos e mal-entendidos acerca das diferenças como um todo e da identidade do surdo na sociedade.
Você já viu um grupo de surdos conversando? Pôde perceber a riqueza linguístico-comunicacional por detrás daqueles movimentos que parecem estranhos aos ouvintes? Pois então, a partir de agora você irá conhecer um pouco mais sobre a língua de sinais brasileira: seus usuários, seus costumes e formas como lidam com o mundo.
Nesta primeira aula, você deverá abrir os seus horizontes em relação a um mundo diferente, o mundo da língua de sinais e dos sujeitos sinalizantes. Vamos começar?
Começando a trabalhar
Que tal começarmos esta disciplina já com uma parte prática? Muitas vezes os ouvintes acreditam que as palavras em LIBRAS são construídas letra a letra, mas isso não é bem verdade. Entretanto, para muitas palavras, especialmente nomes de pessoas e lugares, as letras do alfabeto compõem uma palavra da mesma maneira como ocorre em qualquer língua.
Datilologia (alfanumérico)
Vídeo 
No vídeo ao lado, você assiste a um surdo sinalizando as letras do alfabeto manual da Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS). Ao final, ele também irá sinalizar os números de 0 a 9.
Aproveite para rever quantas vezes quiser, pois esse é o seu primeiro contato com a LIBRAS como ouvinte, para aprender o "bê-á-bá" da comunidade surda.
LIBRAS em prática - Primeiro passo
Vídeo
Neste vídeo, você verá uma série de sinais (nome, sinal, idade, casa/morar, onde) aplicados fora de contexto, somente para você conhecer as palavras usadas na apresentação pessoal.
Informação Cultural (IC): Nas comunidades sinalizantes é hábito apresentar-se não somente informando o nome, mas também com um SINAL. Esse SINAL pode ser entendido como uma espécie de “batismo” dentro dessas comunidades. Cada pessoa tem um SINAL próprio que faz referência a alguma característica particular dela (somente referência física; física com a primeira letra do nome; um evento marcante etc.).
LIBRAS em prática - Segundo passo
Vídeo
Neste vídeo, você viu os sinais aplicados dentro de frases, em contextos de uso efetivo da língua. No primeiro vídeo, as palavras estavam isoladas; neste, elas são empregadas em situações práticas de comunicação em LIBRAS.
Informação Linguística (IL): as frases em Libras, muitas vezes, omitem algumas palavras que são usadas; em outras palavras, são construções sintéticas, econômicas. Lembre-se: Libras não é a tradução de língua portuguesa. Quer um exemplo? Em português, dizemos “qual é o seu nome?”. Em LIBRAS basta usar as palavras “seu” + “nome” e a interrogação é marcada pela expressão facial gramatical.
Entendendo o cenário
Faremos, nesta primeira aula, algumas considerações sobre inclusão, identidade e diferença, principalmente no âmbito dos estudos sobre surdez e língua de sinais.
Ao verificarmos a história da educação de surdos e também de como a sociedade os tratou, verificaremos uma série de equívocos que vão desde considerar a pessoa surda um “deficiente mental”, em sentido mesmo pejorativo, até obriga-los a métodos educativos que visavam apagar as diferenças entre surdos e ouvintes, impondo aos surdos a língua e a cultura oral.
Foto 1
Para saber mais sobre essas estratégias para a inclusão, leia Lei de Libras e o decreto que a regulamenta.
Mitos sobre as pessoas surdas e sobre a Libras
VOCÊ SABIA?
As pessoas surdas não são mudas. O termo “surdo-mudo” é fruto de um equívoco do passado. Os surdos têm, salvo exceção, o aparelho fonador preservado. Se aparentemente não falam, isso se deve a dificuldades impostas pela memória auditiva e não percepção do som que emitem. Por isso, não se deve falar “surdo-mudo”.
Vamos começar, então, refletindo um pouco sobre a sociedade contemporânea e suas “novas” formas de relacionamento, construção de identidade e preservação da cultura; em especial, as influenciadas pela chamada globalização. Para tal, é necessário que se investiguem as relações entre língua, cultura e sociedade.
A sociedade contemporânea reivindica uma revisão das próprias formas de se pensar a língua, o papel e lugar da(s) ciência(s) política(s) que a tomam como objeto. Nesse sentido, a sociedade é convocada a enfrentar as constantes incompletudes, provocadas por um mundo globalizado, onde o global e o local se interpenetram e as diferenças não se encaixam na “completude” (Bauman, 2005).
Mundo moderno, comunicação e identidade
Vídeo
As novas formas de relacionamento (através da internet, chat etc.) e o intercâmbio cultural são significativamente mais velozes e dinâmicos do que no passado. Além da internet, o celular é hoje um aparelho quase que indispensável à sobrevivência na sociedade urbana. Este aspecto atinge inclusive as pessoas surdas, cujo uso do celular é bastante frequente, tornando-se um excelente meio de comunicação para esse grupo social.
Uso de tecnologias móveis na educação e inclusão de surdos
Além disso, a própria disciplina que você está fazendo neste exato momento faz parte da evolução tecnológica que permite a comunicação a qualquer hora e em qualquer lugar, como você pôde observar no vídeo acima.
Através dessas novas relações, o local e o global passaram a se interpenetrar constantemente, dificultando sua identificação e tornando incoerente um conceito de identidade (linguística e cultural) que não seja o mesmo para qualquer indivíduo; em outras palavras, uma identidade fluida, comum a todos.
Mas será que somos iguais?
Estudos Culturais e identidade surda
Língua e identidade para os surdos
Esse fenômeno da crisede identidade pode ser observado em vários setores da sociedade. Em relação aos surdos e às comunidades sinalizantes não é diferente. Após vários anos de total exclusão e subjugamento a padrões culturais inerentes a uma vida tipicamente ouvinte, os surdos – conduzidos pelas pesquisas na área da linguística, da educação e outras – puderam reconhecer-se como seres dotados de uma língua. Suas comunidades linguísticas apresentam peculiaridades culturais a elas inerentes.
Os surdos passam então a afirmar suas identidades com base, principalmente, em características linguísticas e culturais. Devido aos longos anos de uma experiência não favorável ao seu reconhecimento, foi necessária a criação de associações diversas, a produção de discurso de defesa e luta, entre outros, que garantissem esse espaço na sociedade.
Desfazendo mitos e preconceitos
Assim, fazer da “identidade” uma tarefa e um objetivo do trabalho de toda uma vida pode ser considerado um ato de libertação: libertação da inércia dos costumes tradicionais, das autoridades imutáveis, das rotinas pré-estabelecidas e das verdades inquestionáveis. A exacerbação disso levou, por um lado, a conquistas imprescindíveis, mas, por outro, a equívocos prejudiciais. Por isso, propomos agora um esquema para que você possa rever algumas informações consideradas “verdadeiras”:
Preconceito X Preconceito
Muito surdos passaram a negar veementemente a possibilidade de aprendizado da língua portuguesa, uma vez que, para muitos, isso significaria uma perda de sua “identidade surda”.
Ouvinte X Surdo
O novo olhar da sociedade sobre a surdez, evidentemente, não pode e não deve implicar subordinação, no sentido de se concluir que há uma comunidade melhor e superior a outra. No entanto, não se pode esquecer que a categoria “surdo” tem seu significado construído a partir da oposição “ouvinte” e vice-versa. Mesmo que se possam admitir diferentes dimensões de significados para essas categorias, o que se tem constantemente é que surdos e ouvintes são comumente tomados como um sendo o contrário do outro.
Surdez e a Língua Portuguesa
É bom, por exemplo, que o surdo autorize a si mesmo a escrever em português, sem medo de “perder” sua identidade. Daí, a necessidade de se repensar as formas de discutir “identidade surda” no campo da surdez. Não se pode, em nome da defesa de uma causa, intensificar implicitamente o aumento das dificuldades do surdo em relação à língua portuguesa. Uma coisa é dizer que o surdo tem a Libras como L1 (ou língua nativa), outra coisa é, baseado em uma visão biologizante, fazê-lo acreditar que não tem capacidade para aprender língua portuguesa.
O Surdo e a Relação Familiar
Sempre é bom lembrar que a maioria dos surdos é filho de pais ouvintes e possui uma família de ouvintes. A despeito do fato de que muitas famílias o renegam ou demoram a aceitá-lo como ser capaz, não se pode propor que os surdos simplesmente ignorem a existência de suas bases familiares, sejam elas quais forem.
Atividade
Para finalizar esta aula, propomos a você um desafio. Abaixo você dispõe de alguns termos importantes utilizados nessa aula e a descrição deles. Leia atentamente a descrição e tente encaixar ao termo correto.
• INES;
• Sinal;
• Inclusão;
• Sinalizante;
• Integração;
• Libras.
•______________: Conjunto de ações que visam incluir pessoas portadores de necessidades (educativas) especiais na sociedade como um todo, mas que para tal promove modificações/adaptações também da parte da sociedade para receber e incluir essas pessoas.
•______________: Conjunto de ações que visam integrar pessoas portadoras de necessidades (educativas) especiais à sociedade sem, contudo, exigir mudanças da sociedade.
•______________: Neste curso, refere-se ao elemento linguístico que corresponde aos itens lexicais formadores do léxico da língua de sinais.
•______________: Refere-se a toda pessoa que domina a língua de sinais e é dela usuário no seu cotidiano.
•______________: Sigla referente a Língua Brasileira de Sinais. Trata-se da língua de sinais utilizada por grande parte dos surdos brasileiros que a têm como primeira língua. A língua brasileira de sinais foi reconhecida como meio legal de comunicação entre pessoas das comunidades de surdos brasileiros através da Lei 10436 de 24 de abril de 2002.
•______________: Instituto Nacional de Educação de Surdos, fundado em 1857 pelo Imperador D. Pedro II sob orientação do professor francês Ernest Huet.
GABARITO
Inclusão: Conjunto de ações que visam incluir pessoas portadores de necessidades (educativas) especiais na sociedade como um todo, mas que para tal promove modificações/adaptações também da parte da sociedade para receber e incluir essas pessoas.
Integração: Conjunto de ações que visam integrar pessoas portadoras de necessidades (educativas) especiais à sociedade sem, contudo, exigir mudanças da sociedade.
Sinal: Neste curso, refere-se ao elemento linguístico que corresponde aos itens lexicais formadores do léxico da língua de sinais.
Sinalizante: Refere-se a toda pessoa que domina a língua de sinais e é dela usuário no seu cotidiano.
LIBRAS: Sigla referente a Língua Brasileira de Sinais. Trata-se da língua de sinais utilizada por grande parte dos surdos brasileiros que a têm como primeira língua. A língua brasileira de sinais foi reconhecida como meio legal de comunicação entre pessoas das comunidades de surdos brasileiros através da Lei 10436 de 24 de abril de 2002.
INES: Instituto Nacional de Educação de Surdos, fundado em 1857 pelo Imperador D. Pedro II sob orientação do professor francês Ernest Huet.
Resumo do conteúdo
Acredita-se ser de grande relevância tomar a atitude política de referir-se aos surdos, pelos menos àqueles que declaram ter a LIBRAS como L1, com maior frequência, como “sujeitos sinalizantes”. Este termo não precisaria ser restrito a pessoa surda em si, mas aqueles que por sua história de vida percebem sua identidade construída em um contexto de uso de língua de sinais. Se for um surdo sinalizante, esse sujeito não precisará ter medo de usar a sua própria língua, nem se sentirá incapaz de dominar a língua de outros grupos, mesmo que sejam essas de outra modalidade e que, por isso mesmo, apresentem desafios aparentemente instransponíveis. Esse sujeito não é um surdo deficiente; é um sujeito dotado de capacidade linguística.
Tópicos em Libras: surdez e inclusão / Aula 2 - Especificidades da língua de sinais e os parâmetros que regem a formação de sinais e o uso da LIBRAS
Introdução
A partir desta aula, nos aprofundaremos na gramática e na língua de sinais propriamente dita.
O que você entende por gramática?
Quando relembramos nossos tempos de colégio, nos vêm à mente as aulas de língua portuguesa e as “chatices” (pelo menos para a maioria) das regras gramaticais.
Mas não é bem assim...
Sem maiores aprofundamentos, podemos entender gramática no contexto da capacidade linguística:
Em segundo lugar, há que se pensar em gramática como um sistema mentalmente compartilhado entre os usuários de uma língua, cujo funcionamento e estrutura não dependem de uma educação formal para serem aprendidos.
Isto equivale a dizer, por exemplo, que qualquer falante, mesmo alguém considerado analfabeto, possui uma gramática (um conjunto de regras em sua mente), a qual aprendeu no convívio com a sua comunidade linguística.
Atividade proposta
Acompanhe a história de uma criança de 3 anos que ainda não foi alfabetizada, e só teve contato com a língua portuguesa através da interação com os pais e com outros parentes. Ao final, iremos fazer uma pergunta para você responder. Vamos começar?
· Clarissa é uma menina muito curiosa. Adora brincar, como toda criança, e diverte a todos com suas primeiras palavras. Aos poucos, ela está desenvolvendo as primeiras frases da língua, como “qué mamá”, “dodói nenê fiz”, bem como descobrindo o significado das palavras.
· Durante uma viagem da família, todos foram a uma fazenda no interior do Estado. Clarissa estava muito feliz porque, pela primeira vez, iria ver os bichos que ela só conhecia por intermédiode filmes e desenhos infantis.
· Logo no primeiro dia, Clarissa ficou louca ao ver uma vaca. Ela sabia muito bem que bicho”era esse, já que sua mãe explicava a ela que o leite que ela toma todo dia vinha daquele animal. Além disso, Clarissa tinha vários bichinhos de pelúcia que representavam esse animal. Não foi surpresa que de sua boca saiu a seguinte frase: “Mãe, óia a VACA”.
· Ao caminhar mais um pouco, Clarissa se deparou com um bicho que parecia com a vaca, mas que ela percebera não ser a mesma coisa. Surpreendentemente, ela se virou para a mãe e disse: “Mãe, óia o VACO”.
Considerando que todo ser humano é dotado de capacidade linguística, e que o funcionamento e estrutura de uma determinada língua não dependem de uma educação formal para serem aprendidos, responda:
Clarissa usou de um recurso gramatical para criar uma palavra nova (no caso, a palavra “VACO”)?
Resposta - Sim. Realmente ela usou parte do sistema linguístico (a distinção entre gêneros masculino e feminino), que é um recurso gramatical acionando pela capacidade linguística. Ainda que tal palavra não exista na língua portuguesa, o fato de ela ter assim pronunciado demonstra que ela soube distinguir masculino de feminino e soube adaptar o recurso morfológico (a letra “o”, modelo para a formação do gênero masculino na língua portuguesa) em sua construção.
E a língua de sinais?
A língua de sinais, a exemplo de qualquer língua oral, tem uma gramática própria, constituída por um conjunto de regras presente na mente dos seus usuários.
Poderemos ter a tendência a acreditar que a língua de sinais seja uma espécie de “língua oral sinalizada”. Em consequência disso, acabaremos acreditando que o léxico (dicionário mental), os aspectos sintáticos, semânticos, pragmáticos e quirológicos da LIBRAS constituem um emaranhado de sinais, aleatoriamente utilizados, que mais parecem uma língua oral mal falada.
Sintáticos - Princípios e regras que produzem as sentenças gramaticais de uma língua, através da combinação de palavras e de elementos funcionais (tempo, concordância, afixos etc.).
Semânticos - Relativo ao significado ou ao sentido das unidades linguísticas.
Pragmáticos - Relativo à ação, capacidade de agir mediante determinado contexto.
Quirológicos - Refere-se à comunicação através de sinais feitos com os dedos.
Por isso, podemos afirmar que os surdos, como qualquer ouvinte, possuem uma língua, na medida em que, dotados desta capacidade linguística, decodificam logicamente o mundo, organizando-o em suas mentes, através dos recursos físicos e mentais dos quais dispõem.
Assim, sua capacidade linguística exterioriza-se, formando uma língua específica que, ao invés de sinais orais e auditivos, usa sinais espaciais e visuais, valendo-se do pleno funcionamento de sua visão, de suas mãos e do restante do corpo como um todo.
Basta aprender os sinais que já estamos nos comunicando?
Na LIBRAS, os níveis de descrição da língua são os já conhecidos
sintático, semântico, pragmático. Em função da língua de sinais
usar as mãos como principal canal de manifestação, temos ainda
o nível quirológico que diz respeito justamente ao aspecto
manual em si.
VOCÊ SABIA?
Desfazendo mitos...
A LIBRAS não é uma língua universal, conforme muitos pensam. Cada país tem a sua própria língua de sinais. Além disso, há variações regionais dentro de cada país. Assim, podemos citar: a ASL (American Sign Language), a LSF (língua de sinais francesa), a Língua de Sinais Urubu Kaapor (Maranhão, Brasil) etc.
Começando a começar...
Uma boa descrição da língua de sinais não pode ser feita, naturalmente, a partir da mesma lógica utilizada para a descrição de línguas orais. Afinal, a modalidade linguística é totalmente diferente. No entanto, existem parâmetros que regem o uso da língua de sinais. Costuma-se apresentar cinco parâmetros que possibilitam entender a formação dos sinais e as bases para os seus usos durante a produção discursiva.
Vamos conhecer esses parâmetros?
Vídeo.
Combinações que constituem os parâmetros da Libras
EXPRESSÃO FACIAL E/OU CORPORAL
Alguns sinais só podem ser diferenciados a partir da observação da expressão facial que acompanha a sua produção de acordo com o contexto discursivo. Em termos de configuração das mãos, de movimento, ponto de articulação e orientação, os sinais correspondentes à palavra e a expressão “triste” e “por exemplo” são praticamente os mesmos. A expressão facial que denota tristeza e pedido são cruciais para diferenciá-los no contexto discursivo.
CONFIGURAÇÃO DAS MÃOS
Trata-se do “formato” que a mão ou as mãos assumirão na momento da produção de sinais. Existem mais de quarenta formatos em que as mãos podem ficar configuradas, além do alfabeto manual. É importante conhecer as configurações existentes para que haja precisão na produção do sinal e para que se possa obter maior domínio na aplicação dos sinais em contextos específicos, como no uso de classificadores, por exemplo. Sinais como os correspondentes às palavras “Itália”, “bobo”, “fluminense (time esportivo)”, ”evitar”, entre outros, possuem a mesma configuração de mãos.
PONTO DE ARTICULAÇÃO
Mesmo se a configuração das mãos estiver correta, o sinal pode não ser compreendido se, acaso, não for feito no adequado ponto do espaço em relação ao corpo. Este ponto pode ser relativo a alguma parte do corpo que é tocada no momento da produção do sinal. Ou, então, relativo a um espaço neutro (vertical ou horizontal). Sinais correspondentes às palavras em português “sábado” e “aprender”, embora, tenham a mesma configuração e movimento, são articulados em pontos diferentes em relação ao corpo.
MOVIMENTO
A produção de um sinal pode exigir um movimento específico ou nenhum tipo de movimento. Isto pode estabelecer diferenças semânticas e/ou gramaticais. Os números ordinais, por exemplo, diferenciam-se dos cardinais pelo movimento feito em sua produção. O movimento é um parâmetro bastante complexo, pois pode abarcar uma série de formas e de direções diferentes, identificáveis a partir da maneira (contínuo, refreado, de retenção), da frequência, do tipo (de contato, de contorno, etc.) e direcionalidade. Os sinais correspondentes a “sábado” e “aprender”, citados anteriormente, exigem um “abrir e fechar das mãos repetidamente”, enquanto que o verbo “pensar” não exige nenhum tipo de movimento.
ORIENTAÇÃO
No momento da produção do sinal, as palmas das mãos estão voltadas para uma determinada direção, a essa peculiaridade dá-se o nome de orientação. Essa direção é crucial para determinar, por exemplo, o uso sintático-semântico de alguns verbos. Se considerarmos verbos como “emprestar” e “pedir emprestado”, logo percebermos que a orientação das mãos determinará o sujeito da ação.
COMENTÁRIOS
Como se pode perceber, o desenvolvimento de habilidades necessárias para atingir fluência na língua de sinais exige a ampliação e intensificação de competência relativa à consciência corporal. Um usuário de LIBRAS precisa perceber para que direção aponta, como seu corpo está posicionado, aprendendo a dominar os movimentos em favor de uma construção frasal satisfatória para o cumprimento de sua intenção discursiva. Não basta conhecer os sinais, é preciso saber aplicar a eles e ao discurso os parâmetros da língua de sinais.
Assim, percebeu-se que um sinal é produzido a partir da combinação de elementos espaciais, visuais e motores.
Elementos esses que determinam:
Aalém disso, é preciso considerar a posição do corpo e a expressão facial que acompanham a produção desse sinal para que ele seja plenamente entendido em seu contexto de produção.
Libras em prática
Neste vídeo, você viu uma série de sinais (saudação, despedida etc.) aplicados fora de contexto, somente para você conhecer as palavras usadas nas formas de cumprimento mais usuais.
Informação Cultural (IC): Se você reparou bem, o sinal cuja legenda era "Como vai você?”, em português, tem a transcrição do sintagma em LIBRAS "Saúde B-E-M". Isso porque tal forma de construir a frase é pragmática, na LIBRAS equivale a perguntar “Como vai você?“ em português.
Vídeo 1Neste vídeo, você viu os sinais aplicados dentro de frases, em contextos de uso efetivo da língua. No primeiro vídeo, as palavras estavam isoladas; neste, elas são empregadas em situações práticas de comunicação em LIBRAS.
Informação Linguística (IL): algumas palavras podem ser sinalizadas de forma diferente, dependendo de alguns aspectos (como a pessoa que sinaliza, por exemplo). É o caso da palavra MÃE que, se sinalizada por uma criança, terá um sinal; se sinalizada por um adulto, será outro.
Vídeo 2
Resumo do conteúdo
A relação entre língua, gramática e Libras;
Os parâmetros que regem a comunicação em língua de sinais.
Tópicos em Libras: surdez e inclusão / Aula 3 - Políticas linguísticas e educacionais
Introdução
Nesta aula, convidamos você a conhecer e a refletir sobre a existência e sobre a necessidade de constante formulação e reformulação de políticas linguísticas e educacionais.
Discriminar, excluir indivíduos ou grupos em função de determinados usos da linguagem ou em nome da preservação de certas identidades: essas são questões que vêm emergindo em polêmicas geradas na atualidade. Tais questões trazem para o centro das discussões a vida política da linguagem e o caráter ético inerente aos estudos científicos da linguagem, suas aplicações políticas e educacionais.
Inclusão ou preconceito?
Antes de iniciarmos a discussão sobre esse tema, assista ao vídeo ao lado sobre um sistema inclusivo de educação.
Vídeo
Parece oportuno pensar em que medida políticas (educacionais, linguísticas), no afã de defender minorias linguísticas e preservar a língua, podem ser transformar em práticas sutis de preconceito. Afinal, políticas linguísticas e políticas de línguas, expressas em leis, projetos de lei e outros tipos documentos oficiais, refletem contextos sócio-históricos e servem não apenas como dado, mas também como pano de fundo para uma discussão sobre o preconceito no contexto brasileiro.
Não é raro detectar, tanto nos discursos sobre o direito à diferença quanto naqueles que procuram proteger grupos sociais, atitudes preconceituosas e certa crença de estarem os seus propositores investidos de autoridade suficiente para avaliar o grau e intensidade do problema do outro. Uma atitude que implicitamente reforça aquelas ideias contra as quais o próprio grupo parece lutar.
Vídeo
Perguntas que não querem calar
Perspectivas de política linguística na sociedade
É preciso perceber que as políticas também nomeiam e categorizam indivíduos a partir de determinado ponto de vista.
Vídeo
Perspectivas de política linguística na educação
Para saber mais sobre o conteúdo abordado até aqui, leia os seguintes textos:
· Carta para o Terceiro Milênio
Esta Carta foi aprovada no dia 9 de setembro de 1999, em Londres, Grã- Bretanha,
pela Assembleia Governativa da REHABILITATION INTERNATIONAL, estando Arthur
O’Reilly na Presidência e David Henderson na Secretaria Geral. A tradução foi
feita do original em inglês pelo consultor de inclusão Romeu Kazumi Sassaki.
Nós entramos no Terceiro Milênio determinados a que os direitos humanos de cada
pessoa em qualquer sociedade devam ser reconhecidos e protegidos. Esta Carta é
proclamada para transformar esta visão em realidade.
Os direitos humanos básicos são ainda rotineiramente negados a segmentos
inteiros da população mundial, nos quais se encontram muitos dos 600 milhões de
crianças, mulheres e homens que têm deficiência. Nós buscamos um mundo onde
as oportunidades iguais para pessoas com deficiência se tornem uma consequência
natural de políticas e leis sábias que apoiem o acesso a, e a plena inclusão, em
todos os aspectos da sociedade.
O progresso científico e social no século 20 aumentou a compreensão sobre o valor
único e inviolável de cada vida. Contudo, a ignorância, o preconceito, a
superstição e o medo ainda dominam grande parte das respostas da sociedade à
deficiência. No Terceiro Milênio, nós precisamos aceitar a deficiência como uma
parte comum da variada condição humana. Estatisticamente, pelo menos 10% de
qualquer sociedade nascem com ou adquirem uma deficiência; e
aproximadamente uma em cada quatro famílias possui uma pessoa com
deficiência.
Nos países desenvolvidos e em desenvolvimento, nos hemisférios norte e sul do
planeta, a segregação e a marginalização têm colocado pessoas com deficiência
no nível mais baixo da escala socioeconômica. No século 21, nós precisamos insistir
nos mesmos direitos humanos e civis tanto para pessoas com deficiência como para
quaisquer outras pessoas.
O século 20 demonstrou que, com inventividade e engenhosidade, é possível
estender o acesso a todos os recursos da comunidade ambientes físicos, sociais e
culturais, transporte, informação, tecnologia, meios de comunicação, educação, 
justiça, serviço público, emprego, esporte e recreação, votação e oração. No
século 21, nós precisamos estender este acesso que poucos têm para muitos,
eliminando todas as barreiras ambientais, eletrônicas e atitudinais que se
anteponham à plena inclusão deles na vida comunitária. Com este acesso poderão
advir o estímulo à participação e à liderança, o calor da amizade, as glórias da
afeição compartilhada e as belezas da Terra e do Universo.
A cada minuto, diariamente, mais e mais crianças e adultos estão sendo
acrescentados ao número de pessoas cujas deficiências resultam do fracasso na
prevenção das doenças evitáveis e do fracasso no tratamento das condições
tratáveis. A imunização global e as outras estratégias de prevenção não mais são
aspirações; elas são possibilidades práticas e economicamente viáveis. O que é
necessário é a vontade política, principalmente de governos, para acabarmos com
esta afronta à humanidade.
Os avanços tecnológicos estão teoricamente colocando, sob o controle humano, a
manipulação dos componentes genéticos da vida. Isto apresenta novas dimensões
éticas ao diálogo internacional sobre a prevenção de deficiências. No Terceiro
Milênio, nós precisamos criar políticas sensíveis que respeitem tanto a dignidade
de todas as pessoas como os inerentes benefícios e harmonia derivados da ampla
diversidade existente entre elas.
Programas internacionais de assistência ao desenvolvimento econômico e social
devem exigir padrões mínimos de acessibilidade em todos os projetos de
infraestrutura, inclusive de tecnologia e comunicações, a fim de assegurarem que
as pessoas com deficiência sejam plenamente incluídas na vida de suas
comunidades.
Todas as nações devem ter programas contínuos e de âmbito nacional para reduzir
ou prevenir qualquer risco que possa causar impedimento, deficiência ou
incapacidade, bem como programas de intervenção precoce para crianças e
adultos que se tornarem deficientes. Todas as pessoas com deficiência devem ter
acesso ao tratamento, à informação sobre técnicas de autoajuda e, se necessário,
à provisão de tecnologias assistivas e apropriadas.
Cada pessoa com deficiência e cada família que tenha uma pessoa deficiente
devem receber os serviços de reabilitação necessários à otimização do seu bem-
estar mental, físico e funcional, assim assegurando a capacidade dessas pessoas
para administrarem sua vida com independência, como o fazem quaisquer outros
cidadãos.
Pessoas com deficiência devem ter um papel central no planejamento de
programas de apoio à sua reabilitação; e as organizações de pessoas com
deficiência devem ser empoderadas com os recursos necessários para compartilhar
a responsabilidade no planejamento nacional voltado à reabilitação e à vida
independente.
A reabilitação baseada na comunidade deve ser amplamente promovida nos níveis
nacional e internacional como uma forma viável e sustentável de prover serviços.
Cada nação precisa desenvolver, com a participação de organizações de e para
pessoas com deficiência, um plano abrangente que tenha metas e cronogramas
claramente definidos para fins de implementação dos objetivos expressos nesta
Carta.
Esta Carta apela aos Países-Membros para que apoiem a promulgação de uma
Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência como
uma estratégia-chavepara o atingimento destes objetivos.
No Terceiro Milênio, a meta de todas as nações precisa ser a de evoluírem para
sociedades que protejam os direitos das pessoas com deficiência mediante o apoio
ao pleno empoderamento e inclusão delas em todos os aspectos da vida. Por estas
razões, a CARTA PARA O TERCEIRO MILÊNIO é proclamada para que toda a
humanidade entre em ação, na convicção de que a implementação destes
objetivos constitui uma responsabilidade primordial de cada governo e de todas
as organizações não governamentais e internacionais relevantes.
· Artigo sobre Língua, Cultura e Identidade.
Este texto encontra‐se publicado na Revista Espaço (Informativo técnico‐
científico do INES) sob o n.25/26, 2006. 
Anotações sobre língua, cultura e identidade: um convite ao debate sobre Políticas Linguísticas.
Resumo
Este artigo se pretende um convite à discussão sobre políticas lingüísticas e suas relações com o modo como as pessoas concebem a língua, cultura e identidade em suas vidas. A língua tem uma vida social e política a qual é comumente negligenciada por algumas crenças, em especial, quando o assunto é língua e seu papel na sociedade. Isto porque a língua é frequentemente vista como um dom natural e por isso mesmo fora da questão ética. Neste artigo é sustentada a idéia de que tal posição não é apropriada e que discutir a língua implica, sim, discutir seu lugar na vida social e política dos indivíduos. 
 A proposta deste artigo é fomentar o debate sobre políticas linguísticas a partir das possíveis relações entre língua, identidade e cultura. Para tal, relata situações do cotidiano dos falantes/cidadãos brasileiros, bem como resgata alguns fatos históricos que, embora pouco divulgados, podem auxiliar na compreensão do lugar da língua na vida política e social da nação. Ao final, a título de se compreender a extensão e consequências inerentes aos atos políticos relacionados à língua, propõe‐se uma reflexão sobre amplitude das políticas linguísticas no país (o caso da LIBRAS) e fazem‐se alguns comentários sobre as políticas de inclusão. Apontar para tais fenômenos, neste texto, não significa discuti‐lo com profundidade, 1 Doutor em Linguística pela Unicamp. Mestre em Letras e Especialista em Psicopedagogia Diferencial pela PUC/RJ. Professor de Pedagogia do Instituto Superior Bilíngue do INES. Este texto encontra‐se publicado na Revista Espaço (Informativo técnico‐científico do INES) sob o n.25/26, 2006. Mas mostrar o quanto é importante admitir a vinculação língua‐identidade‐cultura‐educação‐cidadania e suas implicações políticas. 
Não é raro encontrar, em conversas informais entre amigos e familiares, diferentes posicionamentos pessoais sobre a adequação ou não de determinados usos linguísticos e sobre o quanto àqueles usos (citados nas referidas conversas) lhes são motivo de vergonha e/ou chacota. Essa situação relativamente recorrente torna‐se de grande relevância quando o assunto é “o absurdo de uma determinada pessoa ter usado certa construção linguística considerada errada ou deselegante”. Isto acontece, em especial, ao se considerar a posição social de quem fala. 
Há também situações em que se observa um certo descaso para com o uso e usuários de línguas visuais – como a Libras – uma vez que para a maioria da população trata‐se – equivocadamente – de simples gestos. Assim, tampouco é raro encontrar interlocutores que juram serem “os gestos utilizados por surdos” universais. Para esses, seria óbvio que os surdos do mundo inteiro pudessem se comunicar sem problemas. Ao que parece, essas pessoas olham para o surdo – na melhor das hipóteses ‐ como um ser universalmente deficiente, de modo que se tornaria desnecessário pensar na dimensão sócio‐cultural de um bem imaterial como a língua de uma comunidade (de surdos) constituída por sujeitos sinalizantes. De fato, mitos diversos acerca da língua (sua concepção/definição e formas de uso) parecem influenciar essa tendência no comportamento das pessoas em geral. Para a maioria da população, discutir a língua é discutir seus usos “corretos e/ou incorretos” a partir das normas encontradas na Gramática Normativa. Dificilmente, tomam consciência das implicações sócio‐ culturais e identitárias inerentes à existência e aos usos linguísticos, tampouco de sua pluralidade legítima. Uma outra dimensão que costuma lhes fugir com certa frequência é a dimensão social e política da língua. A idéia generalizada é a de que tal discussão é sem importância, ou minimamente, sem aplicação imediata para a vida das pessoas. Haveria, nessa perspectiva, assuntos mais relevantes ‐ social e politicamente ‐ como a “fome da população”, os “altos impostos”, “a corrupção dos políticos”, etc. Para esses, a língua é algo natural (no sentido mesmo biológico e hereditário) a tal ponto que questões éticas e políticas não lhe são pertinentes. Lembre‐se aqui que a questão ética vem à tona, exclusivamente, no momento em que se reconhece a possibilidade de ação do homem. A natureza não pode ser responsabilizada pelos seus atos... Este texto encontra‐se publicado na Revista Espaço (Informativo técnico‐ científico do INES) sob o n.25/26, 2006. A relação entre língua(gem), sociedade e cultura é inegável a partir do momento em que se reconhece a existência de uma sujeito da linguagem. Nenhum enunciado é produzido destituído de intenção, tampouco sua produção e significado podem ser entendidos em separado do contexto sócio‐histórico de sua produção. Há uma dimensão claramente social e política da linguagem. Embora não se neguem aqui seus aspectos cognitivos e biológicos, não se pode dizer que qualquer estudo sobre a língua(gem), seu funcionamento e padrões seja isento de dimensão política. Isto é verdadeiro tanto para o caso em que se olham para as contribuições de lingüistas quanto para os esforços declaradamente políticos de se controlar, preservar, regulamentar e legitimar certos usos linguísticos.
Dentre os mitos e crenças existentes sobre a língua – capazes de influenciar os pensamentos/comportamentos, anteriormente destacados, pode‐se citar a crença de que há uma forma linguística melhor que a outra e de que no Brasil “fala‐se” apenas uma língua. Há também a crença de que a língua portuguesa é muito difícil, quase impossível de ser aprendida. Esse pensamento parece verdadeiro e recorrente para maioria da população, o que pode se detectado quando o assunto é o uso português feito por falantes/ouvintes nativos. A situação fica mais visível quando se encontram crenças inadequadas entre, não somente aqueles que são desinformados sobre a Língua de Sinais Brasileira como também entre os que parecem ter algum conhecimento sobre as condições e capacidade de surdos aprenderem português. Isto acontece, em parte, porque fatores históricos de formação do País revelam a existência de um grande esforço para dominar uma língua de além‐mar e, portanto neste sentido, estrangeira. O brasileiro não é – em termos da construção de sua identidade linguística e em seu imaginário – um nativo de sua própria língua. Para uma boa parte da população, há a crença de que a língua portuguesa somente é bem falada em Portugal... Lá sim é que se fala bem o português (Bagno, 1999). Sobre a história da língua portuguesa no Brasil interessa, primeiramente, lembrar que aos índios, aos descendentes de imigrantes que, em suas comunidades, muitas vezes não falam senão a língua de seus antepassados e aos surdos, que constituem comunidades com peculiaridades próprias é reconhecida e assegurada, pela Constituição Federal, a nacionalidade brasileira. Assim, reconhecendo suas formas próprias de comunicação, é inadequado dizer que no Brasil se fala uma única língua ou, ainda, que apenas o português é a língua dos brasileiros, pois isso implica o esquecimento ou mesmo a exclusão de alguns brasileiros e suas formas de comunicação. Ainda hoje se falam mais de 180 línguas no Brasil. Este texto encontra‐se publicado na Revista Espaço (Informativo técnico‐ científico do INES) sob o n.25/26, 2006. Além disso,o que popularmente se acredita como sendo uma única língua não é, nem de longe uniforme/ homogêneo. A visão popular de língua, por desconhecimento e não necessariamente por má fé e/ou atitude intencionalmente preconceituosa, confunde a partir de generalizações diversas o conceito de língua. Inicialmente, parte–se da idéia de que língua é algo, só e somente só, falado ou escrito no sentido de que para haver/usar língua é preciso emitir som ou ser capaz de escrever. 
A questão da concepção de língua passa comumente por idéias aprendidas desde a mais tenra idade. Os cidadãos aprendem que no Brasil se fala uma única língua, que ela é muito difícil – talvez mesmo a mais difícil do mundo. Isto se procura, em geral, “provar”, por exemplo, mostrando a existência de palavras como manga e saudade, etc. Quanto à palavra manga é preciso lembrar que fenômenos como o da existência de uma “mesma palavra” que assuma significados diversos não é, de maneira alguma, privilégio da língua portuguesa. Quanto à palavra saudade, ainda que não se possa dizer que sua origem etimológica e composição semântica apontem para exatamente a mesma idéia (como não acontece tampouco na relação entre a infinidade de outras palavras de línguas diferentes quando comparadas), indica–se aqui uma pesquisa mais apurada sobre a existência, por exemplo, de palavras como “Sehnsucht” (saudade) e de verbos como “sehnen” (sentir saudade) em alemão. O que se deseja com essa indicação é um convite a uma análise mais profunda das implicações provocadas por afirmações do tipo: “a palavras saudade só existe em português”. Afinal, o que isso significa de fato? Parece acertado dizer que há implicações políticas implícitas em afirmações como essas que visam destacar determinado aspecto sócio‐cultural. Muitos acreditam ainda que por uma espécie de milagre ou concessão divina em um país de dimensões continentais como o Brasil fala–se a mesma língua. A língua dita portuguesa, no entanto, que se fala no Brasil precisou de uma série de ações sócio‐políticas para ser “padronizada” e se “firmar” conforme se conhece na atualidade. Silva (1995) ao estudar as relações entre língua e inquisição no Brasil analisa a história da língua portuguesa a partir de dados sobre a vida do Padre Manuel da Penha do Rosário, pertencente a Congregação de Nossa Senhora das Mercês. Esse padre, em sua missão de catequizar os índios no Brasil, utilizava–se de línguas indígenas, contrariando as determinações D’ El Rei de Portugal. Dessa maneira, e por isso mesmo, é convocado a comparecer diante do Santo Ofício para defender–se de acusações pelo uso de línguas indígenas ao catequizar os índios. Essas acusações foram feitas pelo Marquês de Pombal e seus aliados. O padre, no entanto, escreve um documento, respondendo às questões propostas pelo Santo Ofício. Este texto encontra‐se publicado na Revista Espaço (Informativo técnico‐científico do INES) sob o n.25/26, 2006. Dentre os seus argumentos estavam: a ineficácia de se tentar explicar o evangelho ou ensinar algo que fosse da doutrina em português a um alunado indígena que nada conhecia da língua portuguesa. Naturalmente, para ser entendido o evangelho e a doutrina era indispensável empregar o idioma indígena. Assim se expressa Pe Manuel da Penha do Rosário:
Verdade é que a maior parte dos párocos presentes, porque não sabem falar a língua oficial dos índios, ainda que dela tenham algum conhecimento e inteligência, e outros, porque só aprenderam quanto lhes bastasse para dizerem missa, e não para se exercerem em um o ministério de pregar, apenas se contentam, ou per si ou por algum rapaz, com lhes repetirem aquelas orações comuns e perguntas ordinárias dos mistérios divinos, em língua portuguesa e do mesmo modo que nas escolas, quando meninos, as decoraram materialmente. E o fazem assim tão sem proveito dos índios que, perguntados eles de mim, o que pedem no padre‐nosso e na ave‐maria, dizem que não sabem. E se passo a inquirir o que está em a hóstia consagrada, me respondem uns que (é) Santa Maria e outros que os fígados de Cristo Senhor Nosso. Mas nem por isso deixam de se haverem com eles, em os confessionários e fora deles, em língua vulgar. E para isto procuram aprender as palavras mais necessárias, em que tudo sabe Deus que não minto... .(Rosário apud Silva,1995:11). 
A coerência dos seus argumentos provou que não fazia sentido, no caso da evangelização, o uso da língua portuguesa, enquanto os índios não a compreendessem. O que o padre reivindica, na verdade, é o direito que cada indivíduo tem de ser instruído e de usar a língua de sua própria comunidade. Vale lembrar que esse documento foi escrito no auge da influência pombalina. No entanto, o padre formulou de tal forma sua defesa que não só foi absolvido como ganhou o direito de conduzir uma paróquia em uma comunidade indígena, podendo colocar em prática as suas idéias e ideais. Bastante à frente de sua época, o referido padre trazia à tona a discussão sobre políticas linguísticas encontrada mais tarde na Declaração Universal dos Direitos Linguísticos e, por exemplo, nas intermináveis discussões sobre o direito dos surdos sinalizantes a serem educados em língua de sinais. Na Declaração Universal dos Direitos Lingüísticos são reivindicados direitos como os de preservação manutenção da cultura e língua próprias de cada comunidade e o de ter respeitado a língua de cada comunidade ou grupo lingüístico. A visão de língua apresentada nesse documento é a de “resultado da confluência e da interação de uma multiplicidade de Este texto encontra‐se publicado na Revista Espaço (Informativo técnico‐ científico do INES) sob o n.25/26, 2006. fatores: político‐jurídicos; ideológicos e históricos; demográficos e territoriais; económicos e sociais; culturais; lingüísticos e sociolingüísticos; interlingüísticos; e, finalmente, subjetivos”.
Ao contrário do que se costuma pensar, portanto, falar sobre língua implica sim encetar uma discussão sobre políticas lingüísticas, uma vez que não existe uma língua homogênea e única em nenhum país do mundo nem há uma definição única para o que seja língua. Esse bem imaterial é heterogêneo, vivo, dinâmico e, embora se possam encontrar teorias que tomem a língua como um objeto de dimensão puramente estrutural, a língua é constitutiva do ser humano – um ser social e político. As concepções de língua que vierem ou não a ser adotadas por essa ou aquela teoria terão conseqüências para a vida política e social desses falantes. Tais conceitos podem alterar as formas como as pessoas constroem suas identidades enquanto falantes de uma língua e cidadãos de um país. Não é de se menosprezar, por exemplo, a situação (indesejável) em que a LIBRAS (língua brasileira de sinais) é considerada apenas um conjunto de gestos sem status de língua. Um surdo nascido no Brasil é, salvo casos específicos da lei, um brasileiro que não tem a língua portuguesa como língua materna. Se a população e mesmo alguns estudiosos e políticos insistem que a língua portuguesa é a única língua legítima de um brasileiro, que falar da situação política, social e cultural de surdos, índios e outros grupos que podem ser brasileiros sem ter como língua materna o português? 
Contudo, a afirmação anterior não pretende dar a idéia de que os surdos devam simplesmente ignorar a língua oficial do seu país. Os surdos sinalizantes têm direito a língua portuguesa e precisam conhecê‐la e dominá‐la para efeitos de melhor acesso à vida política e social da sociedade em seu entorno cuja composição inclui também a sua família. Há que se pensar também que a língua brasileira de sinais não é a única língua dos surdos brasileiros. Há comunidades indígenas com alto índice de ocorrência de surdez que possuem uma língua de sinais própria. Esses surdos também são brasileiros. Por fim, não se pode discriminar os surdos oralizados que, por ventura, não tenham ou não queriam ter a língua de sinais como L1. As questões levantadas pelo estudo de políticas linguísticas são interessantes, não somente do ponto de vistada informação sobre fatos históricos e sobre os processos de gramatização e padronização da língua nacional. São interessantes também pelo fato de permitirem discussões sobre identidade linguística e cultural no Brasil. A partir de estudos em políticas linguísticas são questionadas ações como as inerentes à tendência de se reduzir a diversidade e favorecer atitudes contrárias à pluralidade cultural, evitando o pluralismo linguístico.
São discussões possíveis na área de Políticas linguísticas aquelas sobre projetos de lei como o do Deputado Aldo Rebelo que restringia o uso de palavras estrangeiras no Brasil; as que Este texto encontra‐se publicado na Revista Espaço (Informativo técnico‐ científico do INES) sob o n.25/26, 2006. tratam das denúncias contra preconceito linguístico; as que propõem reflexões sobre o reconhecimento de Libras como meio oficial de comunicação da comunidade de surdos, as que estudam movimentos como o “Deaf Power” e “Resistência Surda”, entre outras. Por último, é possível ainda usufruir das contribuições sobre políticas linguísticas para se pensar as políticas de inclusão (no âmbito da educação ou não) no país. Qual o significado da inclusão em termos do lugar que a inclusão ocupa na sociedade e na educação? Ao que veio, para onde vai? Para que tipo de educação/sociedade pretende conduzir o projeto de inclusão? Pensar sobre essa questão impulsiona a formulação de algumas outras inerentes ao contexto. Uma delas refere‐se ao “risco” existente no fato de que um indivíduo precise, antes de tudo, ser reconhecido como excluído para que, então, a sociedade e a educação (em nome das novas demandas de uma sociedade dita inclusiva) venham a propor princípios e estratégias de inclusão. Inclusão que visa a incluir quem? Onde? Parece sempre útil lembrar que ao se propor a inclusão de alguém se está afirmando que essa pessoa (embora tenha o direito) não é reconhecida como fazendo parte efetiva do contexto em que se deseja incluí‐la. Dessa maneira, esforços são desempenhados para que – sem forçar a “natureza” do indivíduo e respeitando as suas diferenças, façam adequações no ambiente‐ alvo para que se possa proceder à inclusão. Movidos a partir de que tipo de crença sobre o outro e respaldados sobre que princípio e autoridade propõem‐se ações no sentido da inclusão? Essa reflexão é importante se não se quiser criar uma sociedade de “ex‐alguma coisa”: ex‐drogados, ex‐excluído. 
Muitos podem questionar a necessidade e pertinência ou não das reflexões, ora propostas, mas parece correto afirmar que não se deseja olhar para o indivíduo aprendente como se de repente tivesse a sociedade conseguido, por bondade, salvar a sua vida do caos. Há que se encontrar alternativas para não somente estancar a discriminação, mas para resignificar a existência e o papel de indivíduos ditos diferentes na sociedade. Tal objetivo exige,necessariamente, uma reengenharia nas formas de se conceber e comportar diante da situação de inclusão. Essa visão interessa, pois o que parece ser adequado é um “despertar” da sociedade para o fato dos aprendentes/cidadãos serem todos dotados de grande capacidade cada qual em sua especificidade (sem por isso estar impedido de desenvolver‐se em outras áreas). As especificidades/características de cada um, inclusive as lingüísticas, não podem – em nome da valorização da língua e do cidadão ‐ se tornar elementos formadores de guetos. Este texto encontra‐se publicado na Revista Espaço (Informativo técnico‐
científico do INES) sob o n.25/26, 2006. 
· Documento de Acessibilidade de Surdos;
Ler também: 
• Decreto 5.626/05;
• Decreto 3.298/99;
• Lei de LIBRAS – Lei 10.436/02;
Atividade proposta
Assista a um pequeno trecho do filme "Meu adorável professor" (título original: Mr. Holland). Trata-se de uma produção norteamericana lançada em 1995 e dirigida por Stephen Herek. A história versa sobre um jovem compositor que decide lecionar para juntar dinheiro e poder terminar uma sinfonia que vinha compondo.
Procure identificar o conceito de "deficiência" retratado no filme.
Vídeo
Resposta - O filme retrata o drama de ter um filho surdo que precisa de assistência, mas esta deve ser primeiramente da família, com aceitação e amor, mostrando como é importante que o surdo não seja afastado da sociedade.
Atividades
Na história da educação de surdos, podem ser observadas posturas que vão desde o oralismo até o bilinguismo. Dos princípios inerentes a essa última, pode-se concluir que:
a) ( ) O domínio cognitivo depende exclusivamente de uma língua.
b) ( x ) O fato de LIBRAS ser a primeira língua dos surdos não significa que sejam incapazes de aprender português.
c) ( ) Sem necessidade de dominar uma língua natural, criam-se bases para o desenvolvimento cognitivo.
d) ( ) Não é necessário dominar uma língua para garantir melhores recursos cognitivos de aprendizagem.
Resumo do conteúdo
Políticas de inclusão e sua relação com preconceito; Questões que devem nortear a tomada de decisão na adoção de Políticas acerca da surdez.
Tópicos em Libras: surdez e inclusão / Aula 4 - Cultura em comunidades sinalizante
Introdução
Viemos aprendendo um pouco sobre a língua de sinais brasileira e também levantando questões relativas às políticas linguísticas e educacionais no Brasil, pensando nos sujeitos sinalizantes e nas implicações das ações de inclusão propaladas pela sociedade atual. Para que essas ações pudessem ter início, foram necessários movimentos que promoveram debates polêmicos e ações afirmativas a favor do reconhecimento do sujeito surdo como um ser diferente da maioria ouvinte da população e dotado de capacidade linguística, de educabilidade, potencial profissional e intelectual, etc.
Vídeo
No vídeo ao lado, você assiste a uma interpretação artística do Hino Nacional.
Cultura surda?
A sociedade passou a ser apresentada, e continua paulatinamente a ser, à língua, aos hábitos, às diferenças e semelhanças com os ouvintes, às necessidades (educativas) especiais dos sujeitos surdos.
Aqueles sujeitos que até então eram vistos como deficientes auditivos limitados em suas capacidades, passam a ser reconhecidos como sujeitos (surdos) complexos, com identidade própria e com um conjunto de hábitos, transmitidos principalmente através da sua língua, ao qual tem se convencionado chamar de “cultura surda”.
Embora bastante recorrente, o termo “cultura surda” ainda é alvo de muita polêmica. Para além da dificuldade habitual de se definir o que é ou não é cultura, os sujeitos surdos estão – quer queiram, quer não - inseridos em uma comunidade ouvinte e convivem com esses ouvintes, trocando experiências diariamente.
Vídeo
VOCÊ SABIA? Não há um país, estado, cidade ou mesmo bairro de surdos. O que se pode encontrar com facilidade são associações e instituições que constituem uma espécie de reduto das ditas “comunidades surdas”, embora essas comunidades não estejam restritas a esses ambientes, suas atividades e formas de interação.
Cultura a partir da relação familiar
Os sujeitos surdos são, em sua grande maioria, filhos de pais ouvintes. Situação que provoca, por maior a rejeição que tenha sofrido da família ou a falta de conhecimento sobre língua de sinais e surdez, algum tipo de interação com o que é conhecido como “cultura ouvinte”.
Há também os casos em que pais surdos têm filhos ouvintes, o que pode provocar um redimensionamento de condutas e valores não no sentido de abandonar ou renegar a “cultura surda”, mas de estabelecer novas relações e interesses em relação à “cultura ouvinte”.
Vídeo
Ensinar LIBRAS ou ensinar a oralizar?
Muitos surdos são oralizados. Em função do método educativo utilizado durante a sua formação (durante muitos anos optou-se pelo chamado Oralismo nas escolas especializadas), alguns surdos simplesmente não compartilham os mesmos hábitos dos surdos que dominam a língua de sinais.
Sua identidade é construída a partir de outra realidade linguística e cultural e, por vezes, podem chegar mesmo a sofrer certa discriminação dentro das ditas “comunidades surdas”. Para ampliaros conhecimentos a esse respeito, é interessante fazer a leitura do Manifesto dos Surdos Oralizados.
· Manifesto dos Surdos Oralizados:
“Exmos. Srs. Senadores da República, A recente legalização da LIBRAS (Língua Brasileira de Sinais) como linguagem única e exclusiva dos surdos é, sem dúvida, um passo importante para a vida de muitos surdos e uma abertura sem precedentes para a discussão da situação legal do surdo no Brasil. Não resolve, porém, os nossos problemas mais importantes, que vão além do que muitos estão acostumados a ver. Antes de qualquer suposição, queremos deixar bem claro, neste texto, que nada temos contra a LIBRAS. Não sei se V. Exas. sabem da existência dos surdos oralizados. Estes comunicam‐se oralmente, sem problemas, embora alguns tenham dificuldade na fala e entendem por leitura labial. Como podem ver, nós, surdos oralizados, por nos comunicarmos oralmente, não usamos língua de sinais. Nada temos contra a língua de sinais, a oralização foi uma opção exclusivamente nossa e de nossos pais, sem menosprezarmos e negarmos nossa surdez, como muitos psicólogos e educadores de surdos gostam de afirmar. Nós, mais do que ninguém, sabemos que somente a oralização amplia nossas possibilidades e iniciativas como qualquer ser humano e, por isso mesmo, acreditamos que somente o oralismo é capaz, como um todo, de nos incluir na sociedade, sem sermos marginalizados. Por este motivo, não concordamos com o fato de a língua de sinais ser a língua exclusiva e única do surdo. Sabemos perfeitamente que a língua de sinais é uma fonte de comunicação para aqueles surdos que, por motivos diversos, não alcançaram a oralização. Que motivos seriam estes? A demora para realizar o diagnóstico da surdez (diagnóstico tardio), o que dificulta em muito a oralização, uma vez que "queima" as etapas naturais do desenvolvimento da fala da criança; a falta de informação por parte dos pais sobre a Surdez: quais as possibilidades e métodos de reabilitação da fala e do entendimento para a criança; a falta de dinheiro para financiar um tratamento fonoaudiólogo e compra de aparelhos auditivos; incompetência de profissionais da área de saúde; e, até mesmo, a opção dos próprios pais, por acharem que o filho deva conviver com seres "iguais". Todos esses motivos podem ser resolvidos pelo Poder Público se efetivamente houver uma vontade política determinante. Só não vemos o motivo para aprendermos uma língua que não nos será de utilidade e com a qual não nos identificamos. É quase a mesma coisa que sermos obrigados a aprender Latim, uma língua morta. E como o restante da sociedade não conhece LIBRAS, como também não sabe falar Latim, o máximo que estamos conseguindo com essa medida legal "humanitária" é criar mais uma diferença entre nós e os ouvintes ‐ donde, certamente, nascerá mais um preconceito ‐. Não somos favoráveis ao sectarismo. Acreditamos numa sociedade heterogênea, onde as diferenças possam conviver, sem conflitos, permeando, com isso, o ideal da prevalência da característica mais intrínseca da humanidade: a diversidade. Só assim, nós aprenderemos e amadureceremos como pessoa. E só convivendo com pessoas diferentes, é que aprenderemos Este material encontra‐se na íntegra no blog do SULP (Surdos Usuários da Língua Portuguesa): http://www.saci.org.br/index.php?modulo=akemi&parametro=1062 (Consultado em 10/12/2008) a sermos tolerantes com as diferenças. Na nossa opinião, a língua de sinais favorece a formação de guetos, uma vez que nossa sociedade, majoritariamente ouvinte, não sabe língua de sinais. E a maioria dos surdos acaba se excluindo, formando grupos sectários, no intuito de defesa de seus interesses. A nossa maior preocupação é com atitudes generalizadas e falta de informação sobre a surdez.
O grande problema da surdez não é a falta de comunicação, é a falta de informações por parte da sociedade. Lendo um comentário da DD. Senadora do PT‐AL, Senadora Heloísa Helena, por ocasião da aprovação da legalização da LIBRAS, notamos o pedido para que o Senado tivesse suas sessões plenárias transmitidas para todo o país também na língua dos surdos, isto é, em LIBRAS. Onde ficam os surdos oralizados, que não sabem língua de sinais? A posição mais correta seria um pedido de colocação de legenda, e obrigar a que todas as redes de televisão coloquem legendas em suas programações, o que vai universalizar a comunicação para o surdo que sabe ler ‐ seja sinalizado ou oralizado. Por motivos citados acima, encaramos que a legalização da LIBRAS, embora caracterize um avanço por levantar a problemática do surdo, não irá resolver os problemas mais graves de informação e de comunicação. Além do uso de legenda obrigatória nas transmissões via televisão, todo local público que faz uso de alto‐falantes, como aeroportos, rodoviárias, ferroviárias, por exemplo, deveriam fazer uso de mensagens legendadas. Já houve surdos que perderam seu meio de locomoção por não ouvirem através de alto‐falante sobre a mudança de portão de embarque, ou de horário, ou de plataforma. No campo do ensino superior, mais especificamente em provas de vestibulares, deveria‐se seguir o mesmo padrão dos concursos públicos. Não precisamos de reserva de vagas para deficientes. Queremos concorrer com os ouvintes em igualdade de condições, para que não sejamos recebidos com preconceito pelos demais alunos. Nos moldes dos editais para concursos públicos, deveríamos ser aprovados com os pelos menos 50% de acertos. Afinal, se a regra vale para concursos públicos, por que não para provas de admissão à Universidade? Devemos prestigiar aqueles que, por mérito, querem optar por integrar a sociedade, serem bem recebidos pelos próximos. No campo da inclusão de deficientes físicos no mercado de trabalho, a legislação que trata de reserva de 5% das vagas de empregos nas empresas privadas ou públicas para as minorias deveria ser mais bem regulamentada. A idéia aqui é tornar esta lei a mais específica possível no caso dos surdos, de forma que não se permita às empresas se aproveitarem da brecha legal para contratarem surdos somente como estagiários por causa dos custos, por exemplo. Aliás, outro fato que impede as empresas de contratarem surdos formados é a "convicção" dos administradores de que nós, surdos, por possuirmos uma limitação sensorial (a surdez), não podemos crescer na carreira. Para evitar esse tipo de atitude mal intencionada por parte das empresas, é interessante propormos a V.Exas. que, além de aumentar as cotas de inclusão de surdos no mercado de trabalho, estabelecessem tais cotas em separado: uma para os surdos estagiários e outra para os surdos formados com registro na CLT ‐ Consolidação das Leis do Trabalho. Aliás, que essa idéia seja válida também para outros tipos de deficiências. Este material encontra‐se na íntegra no blog do SULP (Surdos Usuários da Língua Portuguesa): http://www.saci.org.br/index.php?modulo=akemi&parametro=1062 (Consultado em 10/12/2008) Queremos aqui esclarecer que sempre defendemos o reconhecimento das pessoas surdas como capazes de ter livre arbítrio sobre suas vidas e sua carreira, capazes de auto‐determinar suas decisões e escolhas, contrariamente à opinião dos assim conhecidos como "donos‐de‐ surdos", pessoas que se intitulam especialistas em surdez, criadores de teses mirabolantes sobre a situação dos surdos, e que querem manter o poder e o controle sobre a comunidade surda, com o monopólio da profissão de "intérpretes" em LIBRAS, o que conduz à dependência dos surdos não oralizados. Para nós, o surdo, ORALIZADO e NÃO ORALIZADO, ao menos tem que saber ler e escrever corretamente, fazer uso da linguagem literária sem restrições, poder usar dos meios modernos de comunicação, como possuir, por exemplo, um e‐mail, poder participar de cursos de aprimoramento profissional e se qualificar, adequadamente, como qualquer cidadão, para enfrentar o mercado de trabalho. Isso é INCLUSÃO! Deixar de ter os conhecimentos prévios e básicos de informática, bem como noções básicas de inglês, é se condenar à exclusão do mercado de trabalho. Outroprojeto mais polêmico e caro, mas que pretendemos lutar para sua aprovação, é o de o Governo Federal custear o tratamento fonoaudiólogo e os aparelhos auditivos para crianças surdas cujos pais comprovem não ter condições financeiras para fazê‐lo. A assistência ao deficiente auditivo é necessária logo após o resultado positivo do teste de surdez feito na maternidade (ver portaria número 432, datada de 14 de novembro de 2000). Quanto mais cedo o tratamento começa, melhor é o resultado. Se na área de AIDS, somos o grande exemplo para o mundo, devido aos remédios, distribuídos de graça, por que não sermos o grande exemplo para o mundo, na área de surdez? A maioria dos surdos oralizados é proveniente de familias de médio poder aquisitivo, com possibilidades de obtenção de informações mais atualizadas sobre a surdez e seus efeitos no desenvolvimento da criança e, de maneira geral, com recursos para financiar uma educação adequada, mais cara, sem dúvida. 
Indispensável é o diagnóstico precoce para detectar a surdez em recém‐nascidos, visando uma melhor eficiência na sistematização dos projetos de Saúde Pública voltados para a divulgação da informação aos pais sobre as possibilidades e os métodos disponíveis para a reabilitação das alterações auditivas. Através do Teste do Pezinho para a detecção de alguns tipos de surdez genética e o do Teste da Orelhinha (ver em www.craf.com.br/lei.htm), ambos já praticamente exigidos por lei em muitos hospitais de alguns dos principais municípios do país, como Campinas/SP, Rio de Janeiro/RJ, Ribeirão Preto/SP e Brasília/DF, os profissionais de saúde podem orientar os pais de bebês surdos. Mais uma vez, ressaltamos que essa questão é de suma importância, visto que quanto mais cedo se fizer o diagnóstico precoce da surdez, mais estaremos contribuindo para a estimulação de pequenos resíduos auditivos que a criança surda ainda possuir e, por conseguinte, crescendo a possibilidade de a criança surda poder trabalhar melhor sua voz e a compreensão da linguagem falada. Não somos mais privilegiados que os surdos que fazem uso da língua de sinais. Também temos muitas dificuldades na sociedade ‐ sofremos os mesmos preconceitos. Temos dificuldade de conseguir empregos, de alcançar altos postos na sociedade. Temos dificuldades de acompanhar os outros alunos nas escolas e de competir para entrar numa Universidade. Uma Este material encontra‐se na íntegra no blog do SULP (Surdos Usuários da Língua Portuguesa): http://www.saci.org.br/index.php?modulo=akemi&parametro=1062 (Consultado em 10/12/2008) vez enfrentados todos esses desafios, na maioria das Universidades, os professores não respeitam nossa deficiência. Como fazemos leitura labial, alguns dão aula virados para o quadro e trocam dias de provas e testes e objeto de trabalhos sem qualquer aviso escrito, embora os surdos oralizados, ao ingressarem na faculdade, procurem se identificar e explicar ao corpo docente suas dificuldades e necessidades. Nós, surdos oralizados, não somos poucos no Brasil. Talvez muitos deles estejam escondidos, por acharem que não passam pelas mesmas dificuldades dos surdos sinalizados ou por se acomodarem diante das dificuldades, achando tudo isso uma coisa natural. É cada vez maior o número de surdos oralizados devido ao aprimoramento do tratamento fonoaudiólogo e do aumento de aparelhos auditivos potentes. Estes dois itens são úteis ao sucesso da oralização e, claro, o sucesso na oralização depende principalmente da força de vontade do próprio surdo e do apoio psicológico e financeiro da família. Finalizando e resumindo nossa mensagem, a legalização da língua de sinais não nos ajuda, nem resolve nossas dificuldades. Seria como uma obra de fachada, de aparência humanitária. Os surdos não precisam somente de demonstração de humanitarismo do Poder Público. Precisam de um apoio mais direcionado, mais eficaz, mais positivo, mais competente. O que adianta colocar um intérprete de LIBRAS em cada serviço público? Melhor usar esta verba para colocar uma fonoaudióloga em cada escola! Nada adianta nos encaminhar ao aprendizado de uma língua que visa excluir e separar as pessoas. E estamos aqui, pela primeira vez na História, reivindicando direitos, bens muito mais importantes do que simplesmente legalizar uma língua de sinais, que nos estigmatiza e nos faz dependentes. Como V.Exas. puderam constatar, temos problemas muito mais sérios do que simplesmente "legalizar" a língua de sinais. "Queremos viver tudo e fora de guetos. E se não sabemos por onde vamos, sabemos que por aí não vamos". Assinamos embaixo nós, surdos oralizados, agradecidos antecipadamente pela atenção, (...)”
Cultura surda ou cultura dos surdos?
Como se pode perceber só pela diversidade existente entre os surdos, uma definição exata sobre o que é “cultura surda” é difícil e mesmo a sua existência ou não é causa de polêmica. Há, inclusive, para alguns pesquisadores diferença entre “cultura surda” e “cultura dos surdos”.
Cultura surda
A cultura surda surge de maneira mais ou menos involuntária, apoiada pelas escolas especializadas da atualidade, mas que ultrapassam o espaço físico, abrangendo o social e imaginário, uma vez que se solidificou a partir da noção de LIBRAS como uma língua igual a outra qualquer.
Cultura dos surdos
A cultura dos surdos surge como tendo sido criada pelas antigas instituições dos surdos que os isolavam e tentavam promover uma “higienização social”.
Libras e outras línguas de sinais
Ademais, precisamos nos preocupar com a afirmação “a língua de sinais é a língua da comunidade surda brasileira”, pois – como já mencionado em outras aulas – no Brasil existem surdos que têm como língua materna outra língua de sinais (Urubu-Kaapor) que não a LIBRAS.
Nomenclatura adotada neste curso
Daí, optarmos neste curso por utilizar expressões como “sujeito sinalizante”, “sinalizante” (podendo abranger todos os que dominam a língua de sinais e sejam seus usuários assíduos, embora que na maioria das vezes estejamos nos referindo aos surdos que têm a língua de sinais brasileira como língua materna ou L1), “comunidade de sinalizantes”, “cultura de sinalizantes”.
A cultura surda no cotidiano
Atividade proposta
Vídeo
Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=A469S2rmnhI
A partir de seus conhecimentos adquiridos até o momento, responda: que parte da língua brasileira de sinais a jovem está ensinando?
Resposta - A jovem está sinalizando os números, incialmente de 1 a 10; depois, parte do 10 para construir o 11, o 12...
Resumo do conteúdo
Relação entre cultura, ouvinte, ouvinte sinalizante, surdo oralizado e surdo sinalizante;
Algumas particularidades relacionadas aos aspectos culturais no que concerne à cultura surda e à LIBRAS.
Tópicos em Libras: surdez e inclusão / Aula 5 - Aspectos sociolinguísticos da língua de sinais
Introdução
Ao analisarmos as características principais dos seres humanos, logo destacamos o fato de que o homem é dotado de faculdade da linguagem. Isto o diferencia dos demais seres em função da complexidade dessa faculdade em relação à de qualquer outro ser. Aquilo que chamamos de faculdade da linguagem diz respeito a um sistema inato que, quando ativado, possibilidade o surgimento das diferentes línguas que conhecemos.
Língua e linguagem
Antes mesmo de falarmos pela primeira vez, já possuímos um sistema mental através do qual estruturamos nosso pensamento, nosso conhecimento de mundo.
Isso quer dizer que se uma criança nasce no Japão, a faculdade de aprender japonês é a mesma de uma criança que nasce no Brasil.
Apenas cada criança irá desenvolver a língua específica do meio em que vive.
Se perguntarmos às pessoas mais próximas o que elas entendem por língua, poderemos encontrar uma variedade de respostas que apontam para visões diferenciadas de língua. Cientificamente, também diversas relações são estabelecidas.
Vídeo
Podemos, por isso, estabelecer várias perspectivas para descrever a linguagem que privilegiam alguns de seus aspectos, suas formas de manifestação etc.
Nesta aula, ressaltamos os aspectos sociolinguísticosdas línguas de sinais. Em outras palavras, fazemos referência às relações entre linguagem e sociedade que podem nos ajudar a entender as línguas (de sinais) como valores, produtos de um determinado grupo. Essas possíveis relações nos permitem levantar algumas questões.
Aspectos sociolinguísticos
Iremos ver agora alguns aspectos que relacionam a língua à sociedade:
Variação linguística
Em português, existem diversas manifestações de variação linguística, como a variação histórica (escrevia-se farmácia com [ph], por exemplo) e a variação regional.
E em LIBRAS, isso também ocorre?
Como já dito, a língua de sinais não é universal. Não só não é universal como tampouco é homogênea, existindo manifestações diversas de acordo com região, idade, sexo, tempo, status social e estilo.
A LIBRAS apresenta todas essas variações como qualquer outra língua.
Alguns falantes dizem “aipim”, outros “mandioca”, outros “macaxeira”.
Vídeo
Padronização
Toda a língua passa por um processo de padronização que diz respeito à escolha de uma das suas manifestações dialetais como sendo a representante de todas as outras formas.
Isto se dá a partir de critérios sócio-políticos, econômicos e culturais, e não propriamente linguísticos. Além disso, esse processo é facilitado por instrumentos como dicionários, gramáticas, livros, mídia etc.
Mas e a língua de sinais? Há uma escrita para ela? Há uma forma de padronização da língua de sinais? Quais seriam os agentes de padronização da língua de sinais?
Imagine um jornal: há uma preocupação em se falar uma determinada variação considerada “de mais prestígio”, por exemplo.
Famílias de Línguas
Existem vários tipos de línguas de sinais que apresentam semelhança entre si.
O português, por exemplo, é originado das línguas latinas, que por sua vez são originadas do latim vulgar.
Já em relação à LIBRAS, é derivada em parte da língua de sinais francesa, por isso é semelhante a outras línguas de sinais da Europa.
Precisamos lembrar que LIBRAS não é a pura gestualização da língua portuguesa, pois em Portugal existe uma língua de sinais diferente da LIBRAS, por exemplo.
Usuários e minorias linguísticas
Se observarmos o fato de os surdos não constituírem um grupo étnico, nós poderíamos tender a não perceber as comunidades sinalizantes como minorias linguísticas.
No entanto, se considerarmos a modalidade linguística, a quantidade, os lugares, associações onde se reúnem, teremos uma comunidade linguística específica. Por isso, inclusive, as comunidades sinalizantes conseguem ter uma forma natural e não coercitiva de comunicação.
Tais comunidades, dado às relações estabelecidas com a maioria ouvinte, podem ser entendidas como uma minoria linguística.
Que tal um pouco de gramática?
Vejamos agora algumas palavras sinalizadas por Nilton Câmara. Mais especificamente, estamos falando de adjetivos e substantivos. Na próxima tela, você irá fazer uma atividade na qual será pedido que indique as palavras correspondentes aos sinais. Por isso, assista ao vídeo abaixo quantas vezes quiser.
https://www.facebook.com/niltoncamaralibras
Sinais e palavras correspondentes
Vídeo
Fonte: https://youtu.be/NKZ5rBjruXM
1. Bonito
2. Feio
3. Alegre
4. Triste
5. Saudade
6. Desculpa
7. Cansado
8. Banheiro
Atividade proposta
Vídeo
Fonte: https://youtu.be/EynKM1YvQEk
Selecionamos ao lado alguns sinais correspondentes a algumas palavras. Sua tarefa será escrever a sequência correta das palavras que foram sinalizadas pelo intérprete.
Abaixo, há uma caixa para você digitar sua resposta. Após escrever, veja o gabarito da atividade.
Resposta - Feio, Alegre, Banheiro.
Resumo do conteúdo
Relação entre língua, linguagem e sociedade;
Algumas particularidades relacionadas aos aspectos sociolinguísticos de LIBRAS;
Algumas palavras e seus respectivos sinais.
Tópicos em Libras: surdez e inclusão / Aula 6 - Algumas categorias gramaticais da libras: pronomes, advérbios, adjetivos
Introdução
Em Libras, podemos identificar basicamente as mesmas categorias gramaticais já conhecidas pelo estudo das línguas orais, como pronome, adjetivo etc. Precisamos, no entanto, estar atentos para as formas de funcionamento e uso de cada uma delas dentro do discurso, pois se trata de uma língua cuja modalidade é viso-espacial. Isso provoca modificações no conceito de cada uma delas.
Vídeo
Categorias gramaticais
Lembra-se das aulas de português? Quando aprendemos o funcionamento de uma língua, estamos estudando as partes que compõem uma frase e a relação entre essas partes e o discurso. Que tal retomarmos brevemente esse estudo?
Em LIBRAS, podemos identificar basicamente as mesmas categorias gramaticais já conhecidas pelo estudo das línguas orais, como pronome, adjetivo etc.
Precisamos, no entanto, estar atentos para as formas de funcionamento e uso de cada uma delas dentro do discurso, pois se trata de uma língua cuja modalidade é viso-espacial. Isso provoca modificações no conceito de cada uma delas.
O sistema pronominal
O sistema pronominal da língua brasileira de sinais, a exemplo do português, é formado por três pessoas do discurso. Dependendo da configuração de mãos utilizada e de direção para qual aponta no espaço, as pessoas do discurso podem ser especificadas. Podem aparecer tanto no singular quanto no plural.
Sistema pronominal em português (pessoas do discurso)
Vídeo
Atenção
Observação: Lembre-se que pessoa do discurso refere-se à forma pronominal cuja função é a de indicar: a) aquele que fala (emissor); b) para quem fala (destinatário); c) de quem se fala (não faz parte da interlocução).
O sistema pronominal em LIBRAS: pronomes pessoais
Vídeo
Fonte: https://youtu.be/JopHULn4ihI
Em LIBRAS, o sujeito da ação pode apontar alternadamente para o interlocutor e para si próprio, mãos formando o número dois, para significar “nós dois”. Da mesma forma, pode-se especificar tanto a primeira quanto a segunda e terceiras pessoas em três pessoas, quatro pessoas, plural, etc.
Nas frases em LIBRAS o sujeito pode ser omitido (no caso das primeira e segunda pessoas) desde que o contexto possibilite identificá-lo. No caso da terceira pessoa, essa não será apontada se, mesmo estando presente, não for intenção do usuário ressaltar a sua presença por motivos culturais como, por exemplo, isso ser ou não falta de educação.
Pronomes pessoais, na sequência do vídeo:
a) “eu”;
b) “tu/você”;
c) “ele/ela”;
d) “nós”.
O sistema pronominal em LIBRAS: pronomes demonstrativos e advérbios de lugar
Vídeo
Fonte: https://youtu.be/nd4Q66uBBuU
Em termos de sinais utilizados, essas duas categorias não apresentam diferença, sendo possível diferenciá-las apenas a partir do contexto. As relações estabelecidas são as mesmas da norma padrão encontrada em boa parte das línguas orais, a saber: este/isto/aqui, esse/isso/aí, aquele/aquilo/lá.
No vídeo, vemos três pronomes demonstrativos/advérbios de lugar:
a) “este” (indica o lugar em relação à primeira pessoa);
b) “esse” (indica o lugar em relação à segunda pessoa);
c) “aquele” (indica o lugar em relação à terceira pessoa).
O sistema pronominal em LIBRAS: pronomes interrogativos
Vídeo
Fonte: https://youtu.be/54OqStMA2HQ
Os pronomes como QUE e QUEM (que + pessoa ou quem) são utilizados no início ou final da frase, dependendo do contexto. QUANDO pode ser especificado em relação ao passado ou ao futuro, dependendo da direção do movimento da mão.
No vídeo temos:
a) “quem”;
b) “quando”;
c) “onde”;
d) “por que”;
e) “o que”;
f) “como”.
O sistema pronominal em LIBRAS: pronomes possessivos
Vídeo
Fonte: https://youtu.be/gKHKWFr_9UA
Os possessivos não apresentam concordância de número (pelo menos não em relação ao objeto) e nem de gênero.
Concordam sempre em relação à pessoa do discurso.
Eles são:
a) “meu”;
b) “teu/seu”;
c) “dele”;
d) “nosso”.
Advérbios de tempo
Vídeo
Fonte: https://youtu.be/LQTtjronR5s
São utilizados como uma espécie de marca sintática para indicar o tempo verbal na frase. Em geral, ficam no início da frase.
No vídeo temos, na sequência:
a) “ontem”;
b) “hoje”;
c) “amanhã”;
d) “agora”.
Adjetivos
Vídeo
Fonte: https://youtu.be/kbj6TSyyWwE
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