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Livro Digital - Contexto Histórico-Filosófico da Educação II

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10/09/2020 Livro Digital - Contexto Histórico-Filosófico da Educação
https://livrodigital.uniasselvi.com.br/FIL17_contexto_historico_filosofico_da_educacao/unidade2.html?topico=1 1/37
ELEMENTOS DO CONTEXTO
HISTÓRICO-FILOSÓFICO
EDUCACIONAL MODERNO E
CONTEMPORÂNEO
• reconhecer o contexto histórico e �losó�co no qual os principais
pensadores da época renascentista e do Iluminismo formularam e
defenderam suas ideias e teorias;
• identi�car o impacto de instituições como as corporações de ofício,
universidades, o movimento da reforma religiosa, a formação do Estado
laico e a Revolução Industrial ao contexto educacional;
• relacionar as principais concepções teórico-�losó�cas e metodológicas
que passaram a ser defendidas e legitimadas em meio à comunidade
cientí�ca, nas instituições políticas e educacionais da época moderna;
• abordar as principais escolas e pensadores da educação do século XX,
bem como o contexto político, econômico e sociocultural que
propiciaram as condições para que as mesmas se desenvolvem.
Unidade 2 - Tópico 1 
10/09/2020 Livro Digital - Contexto Histórico-Filosófico da Educação
https://livrodigital.uniasselvi.com.br/FIL17_contexto_historico_filosofico_da_educacao/unidade2.html?topico=1 2/37
Tópico 1
DECLÍNIO DO
PENSAMENTO CRISTÃO
E O FORTALECIMENTO
DO HUMANISMO
MODERNO
Tópico 2
A FORMAÇÃO DO
SISTEMA LAICO DE
ENSINO NO OCIDENTE
CONTEMPORÂNEO
Tópico 3
OS DESAFIOS
EDUCACIONAIS NO
CONTEXTO DA PÓS-
MODERNIDADE
DECLÍNIO DO PENSAMENTO CRISTÃO E O
FORTALECIMENTO DO HUMANISMO MODERNO
Unidade 2 - Tópico 1 
10/09/2020 Livro Digital - Contexto Histórico-Filosófico da Educação
https://livrodigital.uniasselvi.com.br/FIL17_contexto_historico_filosofico_da_educacao/unidade2.html?topico=1 3/37
1 INTRODUÇÃO
Caro acadêmico! Os fundamentos do processo educativo no contexto histórico e
�losó�co que transcorreram entre o Renascimento e o Iluminismo podem ser
compreendidos cronologicamente como baixa Idade Média, que transcorreu entre
os anos �nais do século XV e que se estendeu até os últimos anos do século XVIII.
Algumas alterações e invenções ocorridas nos últimos 400 anos foram
responsáveis por uma nova forma dos seres humanos viverem. Antes do século
XV, vivíamos num mundo encravado, isto é, não havia trocas humanas e
comerciais perenes entre os diversos continentes. Porém, no século XV, as viagens
de Cristóvão Colombo, encontrando em sua rota o continente americano, e Vasco
da Gama, achando um novo caminho marítimo para alcançar as Índias, são os
re�exos de um mundo que se transformou, iniciando um processo de
ocidentalização do mundo (CHAUNU, 1978).
Em outras palavras, a partir do século XVI, os países da Europa Ocidental
começaram a impor as suas formas de organização social para os demais povos da
Terra, em um sistema de exploração colonial. Porém, outras transformações
ocorreram também nos campos político, religioso, artístico e cultural. No campo
político, tivemos o �m do Império Bizantino com a queda de Constantinopla em
1453, tomada pelos turcos otomanos, o que signi�cou um avanço da religião
islâmica nas fronteiras da Europa Ocidental.
No campo religioso, a Reforma Protestante, simbolizada pelos líderes Martinho
Lutero e João Calvino, rompeu com a autoridade do papa em todos os países
europeus, autoridade mantida apenas nos países da Europa no qual a Reforma
não prosperou, como nas penínsulas ibérica e itálica. No tocante aos aspectos
artísticos e culturais, o maior símbolo destes novos tempos no mundo ocidental foi
o Renascimento artístico e cultural, que teve como principal local a Itália dos Bórgia
e dos Médici, as principais famílias que patrocinavam as artes, o denominado
mecenato artístico.
A partir do movimento do Iluminismo, somado às transformações que ocorreram
a partir do século XVIII, ou da chamada Idade Moderna, caracterizada
especialmente pelos eventos da Revolução Francesa e a Independência dos
Estados Unidos da América e a Revolução Industrial, eis que se instaura uma nova
forma de pensar a vida em comunidade e de produzir o saber. Agora a
composição do Estado é laica, ou seja, ausente de integrantes do clero. A produção
do conhecimento deixou de ser tutelada e �nanciada pela Igreja, posição que vai
ser ocupada pelos grupos econômicos da burguesia, que vai favorecer que os
estudos de cunho cientí�co e não mais sobre os dogmas religiosos e as questões
teológicas.
Unidade 2 - Tópico 1 
10/09/2020 Livro Digital - Contexto Histórico-Filosófico da Educação
https://livrodigital.uniasselvi.com.br/FIL17_contexto_historico_filosofico_da_educacao/unidade2.html?topico=1 4/37
Segundo Ghiraldelli Jr. (1999), a �loso�a da educação moderna consistiu em uma
aliança entre a �loso�a do sujeito e a educação humanista, cuja preocupação
residiu em que o processo educativo garantisse a formação do sujeito racional,
autônomo e consciente, o que, por sua vez, foi forjado por meio de uma educação
monológica, verticalizada e autoritária, que valorizava métodos e concepções
teóricas frente à experiência e prática cotidiana.
Ao longo de mais de quase três séculos ocorreram muitas transformações do
ponto de vista político, econômico, social e cultural, assim como no que diz
respeito à mentalidade e ao imaginário, dos modos de viver, de morrer, de
transformar e elaborar as matérias-primas, o transportar, negociar e consumir os
produtos, de explicar os fenômenos da natureza e as questões da origem, sentido
e da �nitude humana.
No campo das ideias pode-se relacionar a invenção da imprensa e as práticas de
leitura: Trovadorismo, Renascença, Reforma, Contrarreforma, a superação dos
regimes de monarquia (antigo regime) pelos de repúblicas democráticas, os
primeiros processos de independência de colônias de metrópoles (E.U.A), a
Revolução Francesa, a Declaração dos Direitos Humanos, a laicização do Estado, a
secularização da sociedade (enfraquecimento das explicações sagradas/religiosas),
fortalecimento das ideias racionais, o princípio da dúvida, as investigações, os
métodos cientí�cos, a abordagem dialética, as concepções de tese, antítese e
síntese.
No contexto �losó�co registrou-se o recuo do pensamento escolástico e o avanço
de um pensamento menos especulativo e contemplativo. A partir da época
moderna, o campo �losó�co dedicou-se às questões práticas e almejava aplicação
em meio à sociedade daquele tempo, o que fez com que a teologia e a �loso�a
tradicional passassem a considerar outras áreas do conhecimento, tais como as
ciências exatas e naturais. A partir da época moderna, os experimentos cientí�cos,
o uso de métodos, os processos de observação, a formulação de hipóteses e
registros de deduções se �zeram cada vez mais presentes na produção do
conhecimento, ou seja, prevaleceu a visão cientí�ca e mecanicista do mundo.
Caro acadêmico! Ao longo desta unidade de estudos ilustraremos e teceremos
maiores de�nições e exempli�cações sobre este quadro que foi brevemente
apresentado. Prossiga na leitura com atenção e concentração.
2 O IMPACTO DAS GRANDES NAVEGAÇÕES E DA PRENSA DE
GUTTENBERG NO CENÁRIO EDUCACIONAL, POLÍTICO E SOCIAL
Nas áreas técnicas e cientí�cas ocorreram mudanças signi�cativas, como no
campo da navegação, o processo de manufatura e industrialização da produção, a
substituição do trabalho servil pelo trabalho assalariado, a troca natural e
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10/09/2020 Livro Digital - Contexto Histórico-Filosófico da Educação
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escambo pelo comércio �nanceiro, a gradual migração para as cidades da
população que residia no campo.
Por outro lado, pertencem ao mesmo período as práticas de colonização por parte
das nações europeias em regiões como a América, regiões ainda mais no interior
da África e Ásia, que, por sua vez, forneceriam matérias-primas e artigos de luxo.
Um dos processos de transformação do mundo ocidental durante a ruptura da
Idade Média para a Idade Moderna foi o perene desenvolvimento de contatos
entreos europeus e os povos americanos, africanos e asiáticos. Uma das razões
apontadas seria a existência, no sul de Portugal, de uma escola de navegadores, a
afamada “Escola de Sagres”.
É atribuída ao infante português D. Henrique (1394-1460) a idealização da escola.
Não se tratava de uma escola formal, foi uma escola que levava o lema de “O
talento de bem-fazer”. No estaleiro de Lagos, região de Algarve, se dava a
construção de embarcações. Toda vez que uma expedição era feita, relatórios e
registros deveriam ser redigidos a �m de servir de referência a melhorias e
ampliações ao que já existia em Sagres.
Chaunu (1978) apresenta que ocorreu forte especulação sobre a existência da
Escola propriamente dita e cogitava-se que tal escola não tenha existido, pois
acredita-se que as navegações foram possíveis pelo desenvolvimento empírico
(experimental) dos navegadores. A ideia de escola, porém, pode ser compreendida
de um modo amplo, isto é, um modo próprio dos portugueses em navegar pelos
oceanos.
As navegações ibéricas constituíram uma ação social que envolvia aprendizado
constante entre aprendizes-marinheiros e mestres de navegação. Em geral, este
aprendizado, na época, não era feito em uma escola de aprendizes-marinheiros,
mas sim no cotidiano de bordo em alto-mar. Além destes personagens, podemos
destacar os cosmógrafos, autores dos mapas que representavam as descobertas
marítimas.
1492 - A Conquista do Paraíso. Ridley Scott, França/Espanha,1992.
Filme que retrata a era das grandes navegações, a corrida marítima entre
Portugal e Espanha, os investimentos das cortes daqueles países na
descoberta, conquista e exploração de novas terras. A produção ilustra, em
especial, a trajetória de Cristóvão Colombo, o contato com as populações no
novo mundo e os choques e encontros culturais.
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Johannes Guttenberg, por volta dos anos de 1450, foi responsável pela invenção da
imprensa, que superou os problemas que haviam até então para com as
atividades de registro e comunicação de informações, documentos e demais
conhecimentos. Gumbrecht (1998) explica que a invenção da prensa possibilitou a
produção e a reprodução de livros em maior quantidade, em menor tempo, além
de descentralizar esta tarefa que antes somente era feita por copistas, domínios
que se resignavam no interior de mosteiros e igrejas.
Outras consequências podem ser deduzidas ainda, como a confecção das bíblias
que foram utilizadas na difusão da Reforma Protestante, agora traduzidas e
impressas fora dos domínios católicos. Por outro lado, logo a prensa foi utilizada
na emissão de notas bancárias, cédulas, cartas de crédito, normas, leis, salvo-
condutos, entre outros.
A prensa de Guttenberg a que a história atribui o mérito principal, não só pela
ideia dos tipos móveis, “a tipogra�a”, mas também pelo seu aperfeiçoamento, já
era conhecida e utilizada para cunhar moedas, espremer uvas, fazer impressões
em tecido e acetinar o papel. Pode ter sido na Casa da Moeda do arcebispo de
Mogúncia, onde tanto o pai como o tio eram funcionários, que Gutenberg
aprendeu a arte da precisão em trabalhos de metal.
Nos primeiros documentos impressos e produzidos contam-se várias edições do
“Donato” e bulas de indulgências concedidas pelo Papa Nicolau V. No início da
década de 1450, Guttenberg iniciou a impressão da célebre Bíblia de 42 linhas (em
duas colunas), publicada cinco anos mais tarde. Das cerca de 300 cópias da Bíblia
então produzidas, ainda existem cerca de 40.
Com a ocorrência de guerras, a imprensa se difundiu amplamente. O primeiro livro
impresso por Guttenberg foi uma Bíblia em latim, em uma versão impressa da
Vulgata de São Jerônimo, tradutor da Bíblia Católica ainda no século IV. Porém, não
foram apenas livros religiosos que passaram a ser publicados. As possibilidades de
se reproduzir diversos compêndios sobre as mais variadas questões, nos campos
do Direito, da Teologia e da Medicina, eram incalculáveis. Outra questão
importante que signi�cou uma profunda alteração no modo do homem ocidental
lidar com o conhecimento era relacionada à forma de se instruir.
A forma de as autoridades civis e eclesiásticas lidarem com os livros também foi
sendo alterada. Isto porque a difusão de conhecimento proporcionada através dos
livros poderia abalar os pilares ideológicos da sociedade ocidental. Instrumentos
organizacionais de censura foram desenvolvidos nas diversas monarquias. Este
órgão em Portugal tivera o nome de Mesa de Consciência e Ordens, e visava
impedir a publicação ou circulação de livros subversivos à ordem pública tanto no
reino quanto nas colônias. O Vaticano criou uma relação de livros que os �éis não
deveriam ler. O Índex papal era um dos símbolos máximos de intolerância do
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catolicismo em relação à liberdade de pensamento e fé. Liberdade esta que
também não era presente nos países protestantes.
A resposta da Igreja Católica diante do movimento de impressão de livros e
compêndios fora de seu controle foi lançar mão de algumas estratégias de censura
que visavam impedir a publicação e a circulação de livros considerados
subversivos aos dogmas religiosos e à ordem pública. Uma das formas de controle
foi a publicação do Index Librorum Prohibitorum (Índice de Livros Proibidos), mais
conhecido como Index, lista expedida pelo Vaticano, pelo papa Paulo IV, no ano de
1559, em que constavam os livros considerados proibidos.
A lista foi modi�cada ao longo do tempo, mas já estiveram inscritas nela obras de
pensadores e cientistas como Galileu Galilei, Nicolau Copérnico, Giordano Bruno,
Nicolau Maquiavel, Erasmo de Roterdã, Baruch de Espinosa, John Locke, Denis
Diderot, Blaise Pascal, Thomas Hobbes, René Descartes, Rousseau, Montesquieu,
entre outros escritores e romancistas.
CURIOSIDADE: INDEX
O Index deixou de existir no ano de 1966, com o Papa João Paulo VI, mas
até hoje é prática do Vaticano publicar uma noti�cação quando determinado
livro fere os principais dogmas da instituição. Dentre as obras que
recentemente foram noti�cadas pelo Vaticano tem-se os livros dos escritores
Dan Brown e J. K. Rowling.
A título de síntese, cabe ressaltar que um dos principais benefícios que a imprensa
trouxe foi a maior circulação de conhecimento através dos livros. Com isto, se
processou, no Ocidente, uma alteração nas práticas de leitura. Pois, com os antigos
pergaminhos, as leituras em geral eram feitas em voz alta, sendo o ato de ler uma
ação comunitária. Com a imprensa, a ideia de uma leitura individualista ganhou
corpo. Pois, em grande parte, o livro passou a ser lido de forma silenciosa.
3 ELEMENTOS DO CONTEXTO FILOSÓFICO E CIENTÍFICO DA
RENASCENÇA
A Renascença corresponde ao momento histórico, intelectual e artístico que se
desenrolou entre as épocas medieval e moderna. Alguns estudiosos estabelecem
em termos cronológicos o período transcorrido entre os anos de 1300 e 1650.
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Como o nome já sugere, tratou-se do renascimento dos antigos valores e modelos
de civilização que foram hegemônicos no passado, no passado da Grécia e Roma
clássica. O retorno aos padrões da antiguidade clássica signi�ca a invocação e
valorização dos ideais do humanismo (Homem) e da natureza, em detrimento das
concepções dogmáticas do teocentrismo, do divino e sobrenatural.
Corvisier (1976) explica que o teocentrismo almejava justi�car pela vertente
religiosa e divina as atividades e pesquisas cientí�cas e eruditas ao longo da Idade
Média. A nomenclaturade teocentrismo comporta a nominação de Theo, que
signi�ca Deus (Theo – em latim) era o centro de todas as preocupações
intelectuais. A partir do renascimento, entre os séculos XIV-XVII, os intelectuais
passaram a se preocupar com o entendimento cada vez mais natural do homem,
como um ser, uma espécie da natureza.
Foi neste período que as escolas �losó�cas cada vez mais estabelecem suas teses
e demarcam suas fronteiras, passando a exercer hegemonia em relação às demais
vertentes do pensamento; em especial, o tomismo e a escolástica passam a ser
criticados. No interior do pensamento religioso católico ocorria o enfraquecimento
do domínio papal, e, se não bastasse, no seio da própria Igreja ocorriam
divergências, como foi o caso dos impasses entre franciscanos e dominicanos.
Aquino (2013) aponta que na baixa Idade Média a �losofa aristotélica já se difundia
em meio à Inglaterra, sendo que Roger Bacon (1214-1294) foi um dos primeiros a
manifestar simpatia. Bacon defendia que teologia e conhecimento cientí�co
deveriam ser vistos como indissociáveis, e que, por sua vez, se fazia necessário
demonstrar interesse sistemático, total e absoluto, observação direta da realidade,
acompanhada de raciocínios, o que posteriormente possibilitou a formulação de
métodos experimentais.
Fatores históricos podem ser elencados como favorecedores deste cenário de
mudanças no campo �losó�co, tais como os impasses entre França e Inglaterra
que foram levados a cabo por meio da Guerra dos Cem Anos, epidemias como a
da peste bubônica e uma série de transformações políticas e econômicas, entre
elas o renascimento comercial.
Os “homens do Renascimento” reuniam interesses e preocupações para com
muitas áreas do conhecimento, tais como engenharias, astronomia, física,
anatomia, artes, �loso�a e política, ou seja, um indivíduo que percebia a natureza e
a realidade e a procurava compreender e explicar pelo viés da
interdisciplinaridade, por meio da associação de conhecimentos das mais
diferentes áreas, a título de exemplo é possível citar o italiano Leonardo da Vinci,
que atuou e deixou projetos na pintura, escultura, arquitetura, na engenharia,
recursos de guerra, entre outros.
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Uma das condições para que o Renascimento ocorresse foi o fato da prática do
mecenato. No caso italiano, o mecenato foi empreendido especialmente pela
Igreja católica. A Igreja Católica Apostólica Romana foi responsável por patrocinar
os artistas tais como Rafael, Leonardo da Vinci, Michelangelo, que produziram
obras para a decoração e preenchimento dos espaços no interior das Igrejas,
capelas, mosteiros e conventos em diversas cidades da Itália. Quando a
hegemonia dos dogmas católicos foi contestada, os patrocinadores das artes
foram a nobreza e a burguesia.
Burg, Fronza e Silva (2013) explicam que entre os séculos XV e XVI surgiu uma nova
espiritualidade e relação para com as coisas visíveis e não visíveis, os fenômenos
da natureza e do espírito. Um dos estudiosos que se destacou nesta perspectiva
do conhecimento e da ciência foi Giordano Bruno, que por meio do uso de um
microscópio, conseguiu propor que o planeta terra possuía forma redonda.
Porém, foi vítima da perseguição dos sensores da Igreja Católica, pois as teorias de
Giordano Bruno, contestavam os dogmas católicos, e estes o julgaram no tribunal
da Santa Inquisição e condenaram à morte na fogueira.
Nicolau Maquiavel foi outro grande nome do Renascimento italiano, foi
responsável por escrever a obra O príncipe, que discorre sobre as maneiras mais
adequadas pela qual um príncipe deve conduzir, administrar e manter o poder.
Trata-se de uma obra que ultrapassou a época renascentista e seguiu ao longo da
época moderna e contemporânea como um dos principais documentos acerta da
política e governabilidade de estados laicos.
Entre as principais teses contidas na obra de Maquiavel encontra-se a de que um
príncipe e/ou um governante devem estar atentos aos adversários, aos
companheiros e aliados, pois estes sem distinção, possuem ambições pelo poder e
facilmente podem conspirar contra o príncipe; uma guerra jamais deve ser adiada
e que em nome dos �ns, dos benefícios que são oferecidos, os meios não serão
questionados, pois todos compreendem e perdoam os custos que possam ter
exigido.
Aranha (1996) destaca também o francês Michel de Montaigne, que viveu ao longo
do século XVI. Também é reconhecido como um dos grandes nomes do
Renascimento. Em suas obras foi responsável por re�etir sobre a natureza
humana e deixou três escritos sobre os temas educacionais que são: da afeição
dos pais pelos �lhos, da pedantia e da educação das crianças. A autora relaciona
também os escritos de Erasmo de Roterdã, que foi responsável por escrever Elogio
da loucura e Manual do soldado cristão, obras em que exercitava seu pensamento
crítico com relação à sociedade feudal. Fez críticas ferrenhas ao clero e às
hierarquias no interior da Igreja, e advogava a favor dos valores humanistas, e na
compreensão do homem não meramente como um pecador, mas como um ser
em processo de conscientização e capaz de melhoramentos.
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10/09/2020 Livro Digital - Contexto Histórico-Filosófico da Educação
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Curto (1993) explica que os estudos e escritos de Erasmo ganharam amplos
alcances e adeptos. Martinho Lutero foi um dos leitores de Erasmo de Roterdã,
mesmo tendo rompido com seu pensamento anos depois. Em Portugal, o
pensamento de Roterdã se fez presente por meio de alguns intelectuais no Colégio
das Artes em Coimbra, que sem demora foram descobertos e rapidamente foram
censurados e expulsos do local. A substituição dos sacerdotes erasmistas foi
procedida com sacerdotes oriundos da ordem jesuítica recém-criadas a �m de
difundir os ideais religiosos católicos.
Outro estudioso renascentista, amigo de Erasmo de Roterdã, foi Thomas Morus,
intelectual inglês responsável por redigir a obra A utopia, na qual descrevia uma
sociedade imaginária desprovida de desigualdades sociais. A partir de a A utopia
foi possível designar como ‘utópicas’ ideologias, crenças, sociedades, correntes de
pensamento que almejavam alcançar estágios de sociedade e posturas do ser
humano diferentes dos registros históricos de guerra e das experiências de
injustiça, ignorância, opressão e dominação. No caso especí�co da educação é
possível reconhecer como utópicas as propostas educacionais que foram feitas
pelos pensadores do século XVI, em que estava presente as concepções de virtude,
bondade, justiça, equidade, liberdade, tolerância, amor e ética.
3.1 AS UNIVERSIDADES, AS CORPORAÇÕES DE OFÍCIO, AS GRAMÁTICAS E
O DECLÍNIO DO LATIM
As universidades e as corporações de ofício revelam quanto o processo educativo
medieval era estanque. Existia uma forte divisão entre o trabalho braçal e o
trabalho mental, assim como uma forte divisão entre as classes sociais. Com as
preceptorias ou nas antigas corporações de ofício, a relação de ensino-
aprendizagem era autoritária, pois de um lado tínhamos um personagem detentor
do saber – o mestre – e de outro lado um receptor de instruções – o aprendiz. O
exemplo cotidiano do mestre era a principal forma de o aprendiz poder aprender
o seu ofício. Porém, com a imprensa, a relação de saber começou a ser alterada,
pois os livros poderiam auxiliar os professores na tarefa educacional.
Teixeira (1977) explica que as corporações eram destinadas ao trabalho manual.
As universidades, ao trabalho intelectual. Porém, estas duas instituições,
separadas, se uniram em uma nova forma de pensar a universidade e a produção
de conhecimento. Este processo de união entre o saber mecânico e o
conhecimento acadêmico ocorreu no movimento intelectual conhecido como
Renascimento.
Na Renascença ocorreu o declíniodo latim e o fortalecimento das línguas
nacionais nas universidades e instituições governamentais dos países nascentes.
Em grande parte, os países surgem do declínio da frágil unidade representada pelo
Sacro Império Romano Germânico. Porém, as diversas regiões dos distintos países
Unidade 2 - Tópico 1 
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falavam diferentes dialetos. Por isso, o fato de se ter um único idioma nacional foi
também uma disputa política entre as províncias.
Burg, Fronza e Silva (2013) explicam que no �nal do século XV e meados do século
XVI foram redigidas gramáticas signi�cativas na Península Ibérica, como por
exemplo a Gramática da Língua Castelhana, escrita por espanhol Antônio Nebrija,
em 1492, e a Gramática da Língua Portuguesa escrita por Fernando Oliveira em
1536. A publicação e a difusão das gramáticas nacionais foram responsáveis pela
retomada do ensino nas línguas nacionais, e por outro lado pelo desprestígio e
detrimento do latim. Nos países protestantes, o declínio do latim foi também
agravado pelas questões teológicas e dogmáticas. Como já explicamos, as
alterações e in�uências religiosas no ensino ocorridas nos séculos XVI e XVII
ocorreram devido às transformações nas diretrizes religiosas oriundas da Reforma
Protestante.
O latim foi a língua o�cial do papado e de toda a ritualística católica enquanto a
Igreja católica era hegemônica no campo das ideologias religiosas. O latim foi
utilizado em cerimônias religiosas até o século XX, especialmente nos países
católicos. No chamado Antigo Regime, era comum o chamado direito divino dos
reis. Portanto, nos campos do direito e da administração, o latim se tornara um
idioma ainda muito solicitado, especialmente com uso de conceitos e termos
jurídicos e administrativos.
TERMOS LATINOS
Modus operandi: modo de operar, modo de proceder
Sine qua non: condição sem a qual, indispensável, essencial
Curriculum vitae: carreira de vida
In loco: no próprio local
In natura: de acordo com a natureza
Status quo: situação das coisas, estado atual
Tabula rasa: falta de experiência.
Como pudemos estudar, o conceito de Renascimento remete à ideia de retomada
dos valores greco-romanos da época clássica, porém agora, no que diz respeito às
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línguas em que os conhecimentos eram ministrados, ocorreu a substituição do
latim e do grego, tidas como línguas universais até então, pelas línguas dos países
europeus emergentes da Idade Média, como o francês, o alemão, o inglês, entre
outras. Assim, pode-se interpretar que ocorria todo um movimento político de
valorização das línguas nacionais e que desabilitava a ideia de uma única língua
que tendia ao internacionalismo como idioma e língua o�cial.
PARA REFLETIR:
Caro acadêmico! Nos tempos atuais, em meio à sociedade globalizada, observa-se
o enfraquecimento das línguas nacionais e/ou regionais e, em contrapartida, o
fortalecimento do idioma inglês como ferramenta de inclusão e acesso dos
indivíduos à internacionalização; porém, em outras sociedades e épocas históricas
o panorama se apresentava de forma diferente, outras línguas foram
hegemônicas. No caso do latim, pode-se dizer que ele permanece presente no
campo da teologia católica e do direito, que muito se utilizam ainda de expressões
deste idioma.
3.2 IMPLICAÇÕES DA REFORMA PROTESTANTE E DA CONTRARREFORMA
NO CAMPO RELIGIOSO E EDUCACIONAL
A Reforma Protestante foi um movimento religioso que ocorreu na Europa do
século XVI. Para melhor compreendermos este evento ligado às questões da fé,
devemos compreender o contexto social que possibilitou a alteração das ideias
dos indivíduos em relação às suas crenças. As principais questões conjunturais
ocorreram décadas anteriores. Trata-se da invenção da imprensa por Johannes
Gutemberg, que permitiu uma maior circulação de livros, da queda do
denominado Império Bizantino, conquistados pelos turcos otomanos, a conquista
de Granada pela Espanha e a Descoberta da América, o que possibilitou aos
europeus uma nova consciência em relação a sua presença no mundo.
Como já apresentamos anteriormente, a imprensa foi inventada por Johannes
Guttenberg, que desenvolveu uma máquina tipográ�ca que republicava diversas
folhas impressas, não sendo assim mais necessárias as ações dos copistas
medievais, que reproduziam os escritos com a sua caligra�a pessoal. Em um
universo de mentalidade fortemente cristã é simbólico que o primeiro livro
publicado por Guttenberg tenha sido justamente a bíblia. A impressão possibilitou
uma maior e mais ágil circulação de informações na Europa da segunda metade do
século XV.
Assim, as formas pelas quais os europeus passaram a compreender o mundo
estavam se alterando de forma rápida. Esta alteração das sensibilidades, porém,
não foi acompanhada por uma profunda alteração na teologia da cristandade
latina. No ocidente, grande parte do ensino ministrado pela Igreja continuava o
mesmo que em séculos anteriores. Com isto, novas formas de teologia e �loso�a,
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para além da escolástica e do nominalismo foram criadas ao longo dos séculos XVI
e XVII.
O evento principal a desencadear a Reforma foi a publicação, pelo monge
agostiniano Martinho Lutero, de 95 teses, na qual ele criticou alguns postulados
católicos romanos, em especial a venda de indulgências. O contexto para tal crítica
se relaciona à visita de um representante papal aos territórios de língua alemã,
Tetzel, que vendia o perdão dos pecados, a indulgência. Neste debate sobre a
salvação das almas, se desencadeou um processo de profunda alteração da vida
social, política e econômica de todo o mundo.
Em relação à Reforma Protestante, temos alguns vetores explicativos. O mais
popular, do lado católico, a�rma ter sido a Reforma uma revolta cometida por um
padre que desejava fugir do voto de celibato, causando grande desonra ao
ocidente cristão. Por sua vez, explicações de senso comum, do lado protestante,
a�rma ter sido a Reforma uma ação comandada por um servo de Deus, Martinho
Lutero, contra a corrupção e luxúria da igreja católica, cujo principal símbolo de
degradação seria o Vaticano e sua vida suntuosa. Tais explicações de senso
comum nos impedem de compreender as motivações da Reforma Protestante
assim como da Reforma Católica ou Contrarreforma.
Um segundo vetor explicativo indica a Reforma como um processo que é explicado
apenas pelo viés econômico e político da formação e fortalecimento de Estados
Nacionais ao longo do século XVI. Tal vetor explicativo é frágil, pois os principais
países envolvidos na Reforma e Contrarreforma, a Itália e a Alemanha, tiveram sua
unidade política apenas quatro séculos após o movimento reformador. Portanto, a
melhor compreensão da Reforma, segundo alguns especialistas católicos, como
Jean Delumeau (DELUMEAU; 1989), ou protestantes, como Timothy George
(GEORGE 1993), é compreendermos a teologia proposta pelos reformadores e
suas consequências políticas, sociais e econômicas.
Quatro foram os principais reformadores. Martinho Lutero, João Calvino, Ulrico
Zwinglio e Meno Simons. Duas foram as principais formas de relação com o
Estado: a reforma Radical e a Reforma Magisterial. E quatro as famílias de igrejas
que surgiram do movimento reformador: luteranos, anglicanos, calvinistas e
batistas.
FIGURA 17 - MARTINHO LUTERO
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FONTE: Disponível em: <www.luteranos.com.br>. Acesso em: 13 fev. 2017.
FIGURA 18 - JOÃO CALVINO
FONTE: Disponível em: <www.brasilescola.com.br>. Acesso em: 13 fev. 2017.
FIGURA 19 - ÚLRICO ZWINGLIO
FONTE: Disponível em: <www.wikipedia.com.br>. Acesso em: 13 fev. 2017.
FIGURA 20 - MENO SIMONS
FONTE: Disponível em: <http://quotesgram.com/menno-simons>. Acesso em: 13 fev. 2017.
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Começando nossa narrativa pelos reformadores, Martinho Lutero foi o principal
líder a iniciar o movimento. Sua principal proposição teológica está exposta no
pequeno livro Da Liberdade Cristã (LUTERO, 2001). Nele, apontou as principais
proposições teológicas seguidas pelas principais correntes do protestantismo.
Infalibilidade da bíblia, sacerdócio de todos os crentes, justi�cação pela fé e
salvação pela graça. Isto é, a bíblia, e não a tradição da igreja, deve ser o guia de fé
dos �éis, deste modo, todo o cristão é capaz de compreender a bíblia, e não
somente os sacerdotes.
A salvação é uma graça imerecida concedida por Deus, sendo impossível o homem
chegar próximo a Deus se não tiver fé. Estes postulados teológicos são, até o
presente, as principais características das doutrinas das igrejas protestantes ao
redor do globo. Também todo o aspecto exterior da fé foi abolido, como as rezas
decoradas, a intercessão pelos santos, a realização de jejuns periódicos e
peregrinações a lugares santos, que não são presentes no protestantismo.
João Calvino foi um reformador que atuou na França e na Suíça, mais
especi�camente na cidade de Genebra, da qual foi um dos principais líderes ao
longo de sua vida. Calvino escreveu uma das principais obras da teologia
protestante do século XVI, As Institutas da Religião Cristã.
Sua principal formulação foi a denominada teologia da predestinação. Por ela
Calvino a�rmou que alguns cristãos foram escolhidos por Deus para a salvação,
devido a Deus tudo conhecer. Deste modo, a graça irresistível de Deus seria a
principal diferença entre os escolhidos e os rejeitados pela cólera divina. Em
oposição à teologia de Calvino, no século XVII, surgiu o teólogo Jacob Armínio, para
quem a predestinação não ocorreria do modo explicado por Calvino, pois Deus
dotou o homem de livre-arbítrio. O debate entre calvinistas e arminianos se
estende através dos séculos.
Ulrico Zwinglio e Meno Simons são dois grandes nomes na formulação da teologia
protestante, porém, não tiveram o mesmo destaque que Lutero e Calvino. Zwinglio
era suíço e foi contemporâneo de Lutero. Suas teologias eram próximas, porém
discordaram no que tange à Ceia do Senhor, sendo a presença real de Cristo no
pão e vinho da celebração litúrgica o ponto crucial do debate.
Meno Simons era holandês e esteve vinculado ao movimento anabatista. Para os
anabatistas, a principal discordância com Lutero e Calvino era em relação ao
batismo de crianças, fato pelo qual os menonitas e demais grupos anabatistas
discordavam, a�rmando que apenas adultos poderiam ser batizados. Porém, a
principal diferença entre os anabatistas e os demais reformadores estava
vinculado à relação com o Estado.
A relação igreja Estado é fundamental para uma aprofundada compreensão da
Reforma, pois o termo protestante foi cunhado na Dieta de Espira, em 1529, na
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qual os príncipes alemães protestaram à perseguição de Lutero. Assim, a relação
igreja e Estado é importante para a compreensão da Reforma, que foi dividida em
dois grandes grupos pelo erudito George Willians: reforma magisterial e reforma
radical. Pela reforma magisterial se compreendem os reformadores que tinham
apoio dos magistrados. Isto é, dos juízes e em grande parte dos príncipes. Neste
grupo estão Lutero e Calvino.
Para a reforma radical, cujo grupo mais simbólico foram os dos anabatistas,
tivemos uma oposição radical ao Estado, sendo o grupo de reformadores radicais,
liderados por Tomaz Munzer, responsável por ações violentas nos principados
alemães, buscando efetivar o �m dos privilégios feudais. O movimento anabatista
teve dura perseguição dos príncipes, que apoiados por Lutero, dizimaram a
espada os radicais anabatistas. Mesmo Meno Simons, que vivia nos Países Baixos e
era paci�sta, sofreu forte perseguição.
Além destes grupos, outro importante polo da Reforma Protestante foi a Grã-
Bretanha. Nela tivemos o anglicanismo, o presbiterianismo, o metodismo e o
denominado puritanismo. A fundação da Igreja Anglicana está ligada ao fato do rei
inglês Henrique VIII desejar o divórcio de Catarina de Aragão, não autorizado pelo
papado. Em grande parte, a Igreja Anglicana manteve os rituais próximos da igreja
católica, com o diferencial dos padres contraírem matrimônio.
Na Escócia, um líder religioso, John Nnox, coordenou a fundação da Igreja
Presbiteriana, profundamente inspirada nos escritos de João Calvino. Entre os
povos de língua inglesa se destacou um grupo especial, os puritanos, que devido à
perseguição religiosa imigraram para os Estados Unidos da América. No século
XVIII, no interior do anglicanismo, surgiu um grupo reformador liderado pelos
irmãos John e Charles Wesley, que foram os inspiradores da igreja Metodista.
Também da Inglaterra, um grupo de refugiados ingleses partiu para a Holanda em
1608, fundando a Igreja Batista.
O movimento de reforma cristã teve um profundo impacto na história e na
�loso�a da educação. Isto porque a teologia da infalibilidade bíblica e do
sacerdócio universal, além da ampla divulgação das sagradas escrituras gerou um
impulso por alfabetização nos países europeus que aderiram à Reforma. Deste
modo, Lutero a�rmou ser dever do príncipe garantir a educação de todos os
cidadãos. Com isto, a alfabetização das massas ganhou um grande impulso. Outro
impulso ocorreu em relação ao ensino universitário, em especial nos países de
língua inglesa. Pois, parte das principais universidades dos Estados Unidos da
América, como o caso da prestigiada Universidade Harvard, surgiu como centro de
estudos na área de teologia. Deste modo, os países de maioria protestante tiveram
um maior capital cultural na disputa com os países que não passaram pelo
movimento reformador.
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Contudo, a a�rmação acima não implica a�rmar que os povos de maioria católica
não se preocuparam com as questões educacionais. Todavia, as preocupações
eram teologicamente motivadas em um sentido oposto. Para melhor compreender
a relação dos católicos com a educação, se faz necessário compreender o
catolicismo que foi formulado no Concílio de Trento.
A Igreja Católica Romana respondeu teologicamente às proposições dos
reformadores. Em relação à proposição da infalibilidade da bíblia, os teólogos
católicos apontaram que as escrituras deveriam ser interpretadas pelo magistério
da igreja. Assim, não havia sentido em se traduzir a Vulgata de São Jerônimo
(versão da bíblia católica) do latim para os idiomas nacionais. Em relação à
salvação como fruto da graça mediante a fé, a igreja compreendeu que graça e fé
deveriam ser acompanhadas de obras. Tal compreensão de vida de fé fora seguida
de algumas reformas, como a instituição de seminários para a formação do clero,
além do estabelecimento da primeira comunhão enquanto rito de iniciação da
criança nas lides da fé.
As principais articulações da relação entre fé e educação estavam ligadas às
ordens religiosas, pois foram as ordens dos agostinianos, beneditinos,
franciscanos, dominicanos e jesuítas as principais divulgadoras dos ideais
religiososcatólicos ao redor do mundo nos séculos subsequentes ao Concílio
Tridentino, os jesuítas, ordem fundada por Santo Inácio de Loyola, com grande
destaque na América Portuguesa, em especial na catequização dos Indígenas.
A principal cidade brasileira, São Paulo, surgiu como um colégio jesuítico fundado
para catequizar os indígenas. Não apenas na América Portuguesa os Jesuítas
tiveram grande destaque na educação. Também grande parte da elite dos países
europeus tivera educação jesuítica. Dentre estes, podemos nos lembrar que René
Descartes foi aluno de escola jesuíta na França do século XVII (SEBE, 1982).
FIGURA 21 - SANTO INÁCIO DE LOYOLA
FONTE: Disponível em: <http://arquidiocesedenatal.org.br>. Acesso em: 13 fev. 2017.
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Ao longo dos séculos XVI, XVII e XVIII surgiram novas ordens religiosas na Europa.
Algumas, como reformulação de antigas ordens, como os capuchinhos,
reformadores da ordem franciscana, e os agostinianos recoletos, reformadoras da
Ordem de Santo Agostinho. Também é deste período a Ordem do Oratório.
Entre os principais educadores católicos ligados à educação temos o nome de João
Batista de Lassale. Sacerdote francês, que fundou escolas para alfabetizar crianças
pobres, sendo considerado o padroeiro dos professores primários.
Em análise comparativa, tanto os países católicos quanto os países protestantes
investiram em educação. A principal diferença está na ênfase. Enquanto países
católicos investiram apenas na educação das elites, os países protestantes
investiram em educação para todos os indivíduos. Com isto, o número de
analfabetos entre os protestantes tendia a ser menor que dentre os católicos, com
repercussões grandes no desenvolvimento social e político dos países.
As disputas entre católicos e protestantes na Europa fora intensa ao longo dos
séculos XVI e XVII. Estas disputas, porém, se tornaram menores com a denominada
Pax de Wetsphalia, na qual encerraram as Guerras de Religião na Europa. Também
as disputas entre católicos e protestantes foram questionadas pelo pensamento
iluminista.
Caro acadêmico! No sentido de aprofundar os conteúdos e contextualizar a
trajetória de Lutero enquanto reformador religioso, procure assistir ao �lme que
sugerimos a seguir:
SUGESTÃO DE FILME:
LUTERO. Eric Til. Estados Unidos: 2004. 124 min
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=PlP-Xt4LLNg>. Acesso
em: 2 out. 2016.
4 PRINCÍPIOS CIENTÍFICOS E FILOSÓFICOS DA ÉPOCA MODERNA
Burg, Fronza e Silva (2013) explicam que mesmo diante de um quadro
desanimador com relação ao acesso e a real democratização do ensino que
perdurou até o século XIX, as transformações sociopolíticas ocorridas a partir do
século XVI, forneceram as condições necessárias para que a escolaridade média da
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população fosse ampliada, uma vez que boa parte da população analfabeta, agora
pode ter acesso à alfabetização.
Durante os séculos XV a XVIII, a humanidade passou por uma verdadeira revolução
do conhecimento, pois, em grande parte, os principais paradigmas que o homem
do Ocidente medieval se utilizava como verdades absolutas foram desmentidos.
Uma visão mítica do mundo se transformou de uma visão teocêntrica em uma
visão antropocêntrica. Isto é, ao invés de enxergar a presença divina em todos os
campos de atuação humana, os pensadores passaram a considerar apenas a razão
como forma máxima de se alcançar a verdade dos fatos.
Podemos a�rmar que houve um primeiro momento pelo qual o homem ocidental
passou a questionar as verdades estabelecidas pelos eruditos medievais. Durante
os séculos XV e XVI, alguns eruditos questionaram algumas verdades cristalizadas.
Podemos citar alguns homens que realizaram algumas façanhas. Harwey e Miguel
Servetto foram estudiosos pioneiros da anatomia humana, ao dissecarem alguns
cadáveres e descobrirem o processo de funcionamento da corrente sanguínea
humana. Servetto foi perseguido na Espanha por suas crenças religiosas. Fugiu
para Genebra, na Suíça, onde foi condenado à pena de morte por João Calvino,
devido à sua crença antitrinitariana. Isto é, Servetto não acreditava na ideia de
trindade.
Nicolau Copérnico e Galileu Galilei a�rmaram que a Terra era redonda. O que
estes cientistas revelaram eram a�rmações cientí�cas contrárias às ideias de
Lactâncio, erudito do século IV, para quem a Terra era plana. Com a Viagem de
Circunavegação de Fernão de Magalhães, se teve uma comprovação empírica de
que a Terra era uma esfera.
Em relação à astronomia, um dos principais cientistas foi Kepler, autor da lei de
gravitação dos planetas. Isto é, este astrônomo compreendeu que alguns planetas
giram em torno de outros, formando elipses, e muitos dos diversos planetas das
distintas galáxias giram em torno de diversas estrelas. Um exemplo é a Lua, que
gira ao redor do planeta Terra, que por sua vez, assim como outros planetas,
gravita ao redor do Sol, que por sua vez é uma estrela que irradia a luz que
mantém a vida em nosso planeta.
A ciência moderna se desenvolveu e consolidou ao longo dos séculos XVII, XVIII e
XIX, tratou-se de um conhecimento obtido de forma natural, independente e
desarticulado das dimensões sobrenaturais, mitológicas, mágicas e fantásticas da
realidade. É quando se acentua o distanciamento entre o campo da fé, do
espiritual, do religioso, do sagrado e do eterno (poder invisível) e o campo do
temporal, do método, do racional, do profano e do leigo (poder visível).
A ciência acabou por se tornar uma ideologia dominante – o cienti�cismo, uma
forma de saber superior, criada pelo positivismo no século XIX. A ciência resumia-
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se na busca pela verdade a qualquer custo, almejava extrair todos os segredos que
houvesse na natureza, e para tanto deveria proceder a uma rigorosa observação
empírica, lançando mão da imaginação, dos sentimentos e das emoções quando
investigava tanto os seres da natureza como os fatos e acontecimentos humanos.
A obra que ocupa o posto de marco-fundante da ciência ocidental sem sombra de
dúvidas foi o Discurso do método, redigida por René Descartes, que foi educado
em um colégio jesuíta e foi membro o�cial do exército francês. Nesta obra, o autor
trata da forma como se deve proceder quando que se quer alcançar a verdade
através dos recursos da razão. A obra de Descartes trata em especial de como o
homem pode ser sujeito responsável pela resolução dos próprios problemas,
agora sem precisar recorrer as explicações divinas e bíblicas. Discurso do método
foi publicado no século XVII e até os dias atuais permanece como sendo a célebre
obra do pensamento racional e cientí�co ocidental.
Caro acadêmico! No sentido de identi�car de forma sistematizada o pensamento
de René Descartes, observe com atenção o quadro a seguir:
QUADRO 1 - SÍNTESE DO PENSAMENTO DE RENÉ DESCARTES
Fonte: Os autores
Talvez o principal personagem da Revolução Cientí�ca que a Idade Moderna
vivenciou foi Isaac Newton. Assim como Miguel Servetto, Newton possuía profunda
fé religiosa e era antitrinitariano. Seu principal livro sobre questões religiosas trata
sobre as profecias de Daniel e do Apocalipse sobre o �nal dos tempos. Porém, não
foram as suas re�exões teológicas as principais contribuições ao pensamento no
Ocidente, mas sim suas re�exões sobre a natureza (CORVISIER, 1976).
Uma das lendas sobre a descoberta da lei da gravidade indica que Newton estava
debaixo de uma macieira e uma fruta madura havia caído sobre a sua cabeça. Este
fato havia funcionadocomo um despertar para a elaboração de suas descobertas
cientí�cas: as leis da física. A palavra física signi�ca em grego “natureza”. O que
Newton observou foi que a natureza possui mecanismos que se repetem. A estes
eventos repetitivos denominou lei. A lei da gravitação é uma das mais conhecidas,
assim como a lei de ação e reação.
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Alguns movimentos sociais, políticos e religiosos foram responsáveis pela
valorização da educação no mundo ocidental. Entre estes, já abordamos a
Reforma Protestante. Outro movimento que motivou alterações sociais e
educacionais foi o Iluminismo. De maneira geral, o Iluminismo, ou século das luzes
ou da ilustração, foi um movimento intelectual e cultural do século XVIII, que
almejava libertar o homem das crenças mitológicas e de toda herança dogmática
da época medieval. Defendia os princípios da razão crítica, do progresso, da
autonomia dos indivíduos e da liberdade de pensamento.
O Iluminismo não foi uma invenção da sociedade de sua época propriamente dita,
sustentava-se em bases teóricas que já haviam sido defendidas ainda na
Antiguidade e também na época da Renascença, porém encontrou no século XVIII
o melhor momento de alcance e amplitude. Dentre os principais intelectuais
iluministas, podemos nos lembrar de alguns nomes, como Voltaire, Rousseau,
Diderot, entre tantos outros pensadores.
Abbagnano (2007) descreve que é possível entender o Iluminismo como uma linha
�losó�ca que defende a razão como crítica e guia a todos os campos da
experiência humana. Kant (1724-1804) defende que o Iluminismo contou com o
empirismo como um grande aliado, ambos garantiram a abertura do domínio da
ciência e, em geral, do conhecimento, que por sua vez favoreceu à crítica da razão,
no sentido de que toda verdade poderia e deveria ser colocada à prova, e
eventualmente modi�cada, corrigida ou abandonada.
Os fundamentos teóricos que favorecem a ancoragem do movimento do
Iluminismo podem ser encontrados na física e sistematizados na obra de I. Newton
(1643-1727), ‘Princípios matemáticos de �loso�a natural, publicada em 1687; nas
pesquisas de Boyle (1627-1691), que encaminham a química como ciência positiva;
na obra de Bu�on (1707-1788) e de outros naturalistas, que assinalam as ciências
biológicas como responsáveis por explicar as etapas fundamentais de
desenvolvimento.
O empirismo foi o ponto de partida e o pressuposto da �loso�a defendida, por
exemplo, por Voltaire (1694-1778), Diderot (1713-1784) e D'Alembert (1717-1783).
A Enciclopédia continha o pensamento contrário aos privilégios que foram
reclamados posteriormente na Revolução Francesa, defendia a felicidade ou o
bem-estar do gênero humano, alcançados e desfrutados através de práticas
tolerantes e com fé no progresso. Estas noções enfraqueceram a ideia de
fatalidade histórica que impedia qualquer iniciativa de transformação da realidade.
Em relação às questões ligadas à educação, podemos compreender que o autor
que possuiu maior destaque dentre os �lósofos iluministas foi Rousseau. Este
destaque se deve ao seu principal livro relacionado à temática educacional, Emílio
(GADOTTI, s.d., p. 87-89). Uma das principais teses defendida por Rousseau é a de
que o homem nasce bom, porém o meio o corrompe. Esta ideia, a de que o
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homem nasce bom e é corrompido pelo meio foi uma das maiores in�uências do
iluminismo para as ideias pedagógicas nos séculos posteriores.
Isaac Newton, físico, matemático, �lósofo e teólogo inglês, �cou amplamente
conhecido com os três volumes de ‘Princípios matemáticos da �loso�a natural’,
nos quais constam as famosas Leis de Newton, que compõem os princípios da
mecânica e de todo o pensamento moderno. As Leis de Newton contêm o
princípio de ‘inércia’, em que todo corpo continua em seu estado (repouso ou
movimento) a menos que seja forçado a mudar; o princípio de ‘dinâmica’, em que a
mudança é proporcional à força atribuída; e o princípio de ‘ação e reação’, em que
para toda ação há sempre uma reação oposta e em igual proporção.
Immanuel Kant (1724-1804) tem sua produção intelectual e �losó�ca denominada
de �loso�a crítica, idealismo transcendental, que tinha como �nalidade estabelecer
um método cognitivo e uma doutrina da experiência pelo uso da razão que
suplantasse a metafísica racionalista dos séculos XVII e XVIII, que ele chamava de
sono dogmático. Kant foi leitor de Isaac Newton (1643-1727), John Locke (1632-
1704), Gottfried Wilhelm Leibniz (1646-1716) e David Hume (1711-1776).
Nos estudos de Kant percebe-se o forte afastamento da noção de que a
Providência divina representava um fator determinante da História, a ampla
defesa da ideia de racionalidade e de télos (�m/alvo) e de progresso, de que, se há
passos contínuos, conduziriam a humanidade à emancipação plena. A história,
guiada pela razão, seria a fonte maior a partir da qual se alcançaria a liberdade e a
perfeição humana. Estas intenções contagiariam a humanidade e se realizariam
em escala universal. A ideia de uma história universal se realizaria na conjugação
das forças do homem de posse e uso da razão apoiado nas disposições da
natureza.
Martinazzo (2010) explica que para Kant o sujeito, por meio da educação, pode sair
da menoridade na qual se encontra, e a educação seria a arte de transformar
homens em homens. Pelo processo educativo o “homem torna-se homem” com
capacidade re�exiva e autônoma para decidir com liberdade e sem depender de
condições exteriores para tal. Segundo Kant, a educação deveria durar “até o
momento em que a natureza determinou que o homem se governe a si mesmo”
(KANT, 1999, p. 32).
A �nalidade da educação moderna esteve centrada na construção de sujeitos
livres, autônomos e responsáveis, com plena capacidade de poder escolher
racionalmente os �ns adequados e, de forma livre e consciente, submeter-se aos
mesmos. Nas concepções modernas de educação, a busca da autonomia seria o
objetivo máximo da educação, e esta deveria ser fundamentada na razão.
Um dos mitos criados ao redor dos cientistas dos séculos XVI, XVII e XVIII é que eles
fossem ateístas. O que podemos observar nos seus escritos e nas suas ações
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sociais é que possuíam profunda fé em Deus e em geral eram cristãos convictos. A
que por vezes se opuseram foi contra o obscurantismo das elites eclesiásticas,
universitárias e políticas, que enxergavam nas descobertas do processo de
funcionamento do corpo humano ou da natureza que os circundava uma oposição
ou mesmo um risco ao poder que possuíam.
Estas mesmas elites eclesiásticas eram capazes de condenar diversas pessoas à
pena de morte por motivos fúteis, como se apresentou em muitos autos de fé da
Santa Inquisição. Muitos outros homens e mulheres foram acusados de bruxarias
ou de práticas diabólicas, mas se tratavam apenas de pessoas com pensamento
distinto do que os dispositivos de poder ensinavam como correto.
O contexto �losó�co que diz respeito à época moderna compreende pouco mais
de 200 anos, pode-se dizer que está circunscrito ao intervalo de tempo entre os
séculos XVI e XVIII. Franciotti (2009) argumenta que as formulações �losó�cas que
foram propostas neste período acabaram de ultrapassar a cronologia e o próprio
campo da �loso�a, tais como ‘penso, logo existo’, de Descartes; ‘o homem é
naturalmente bom, é a sociedade que o perverte’, proposta por Rousseau; e ‘o
coração tem razões que a própria razão desconhece’, formulada por Pascal.
No campo da compreensão e da posturado ser humano forja-se o conceito de
subjetividade como dimensão epistêmica do sujeito, como uma forma de
consciência, capaz de constituir as certezas, as verdades em todas as instâncias:
A subjetividade pode ser descrita por meio de “formas de consciência”: o eu, a
pessoa, o cidadão e o sujeito epistemológico. O eu é a identidade, formada das
vivências psíquicas; é a forma de consciência mais singular, pois as vivências
psíquicas são o que se tem de menos compartilhável. A pessoa é a consciência
moral; é o sujeito como juiz do certo e do errado, do bem e do mal. O cidadão é a
consciência política; o sujeito como o juiz dos direitos e deveres da vida na cidade. O
sujeito epistemológico é a consciência intelectual. O sujeito como juiz do verdadeiro
e do falso; o detentor da linguagem e do pensamento conceitual; trata-se da forma
de consciência mais universal (GHIRALDELLI JR., 1999, p. 23).
Entre os principais conceitos defendidos pelos pensadores modernos pode-se
relacionar a razão matemática, na condição de proporção e da relação das
grandezas entre si; a visão cientí�ca e mecanicista do mundo. Entre as
preocupações dos pensadores da época moderna estava a ideia de como
conhecemos as coisas, a realidade e o mundo; e, por sua vez, o limite das
faculdades e sentidos humanos, que poderia ser sanado com o uso de métodos
rigorosos e a razão no campo do raciocínio explicativo, que foram consolidados
por meio das escolas �losó�cas do empirismo e do racionalismo.
Observe no quadro a seguir como as duas escolas �losó�cas que perpassaram o
contexto educacional da época moderna podem ser sistematizadas:
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QUADRO 2 - SÍNTESE DAS PRINCIPAIS CORRENTES FILOSÓFICAS MODERNAS
Fonte: Os autores
Outra vertente dos pensadores foi a dos contratualistas, porém agora com
preocupações mais especí�cas do campo jurídico, político e da organização da
sociedade propriamente dita, no sentido de que a sociedade moderna, o Estado
civil, as constituições, as leis, os contratos forneciam as condições necessárias que
garantiriam a vida pací�ca, sem discórdia, em justiça e liberdade entre os
indivíduos e as sociedades. Observe que a seguir procuramos relacionar de
maneira esquemática o pensamento contratualista e quais foram os principais
simpatizantes:
QUADRO 3 - SÍNTESE DO PENSAMENTO CONTRATUALISTA
Fonte: Os autores
Thomas Hobbes (1588-1679) parte do conceito do Direito natural (Jus naturalismo),
cujo preceito ensina que todo homem tem direito à vida e ao que é necessário
para mantê-la, também (principalmente) à liberdade. Para ele, todos são livres,
ainda que uns sejam fracos e outros fortes. Um contrato social, conforme o Direito
Romano, só tem validade se ambas as partes forem livres e iguais e, por vontade
própria, consentem ao que está contratado, pactuado.
Para Hobbes, há três motivações intrínsecas no ser humano: a competição, a
descon�ança e a glória (a vaidade). O estado natural de guerra é porque todos se
imaginam poderosos, perseguidos e traídos, para tanto o Estado Civil moderno
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regulamentaria a vida, as regras do jogo/guerra e da liberdade, permitindo a todos
condições iguais na competição.
Caro acadêmico! Os autores das duas correntes �losó�cas modernas ainda serão
analisados com maior profundidade ao longo desta unidade. Para potencializar
seu conhecimento, esteja atento e reúna o maior número de elementos e
argumentos possíveis sobre cada um deles.
4.1 ELEMENTOS DO CONTEXTO EDUCACIONAL MODERNO: A EDUCAÇÃO
REALISTA DO SÉCULO XVII
Brug, Fronza e Silva (2013) explicam que a partir do século XVI, teólogos católicos e
os protestantes, teceram profundos debates, todavia foi o momento em que os
intelectuais idealistas entram no debate e passam a fundar escolas sob sua
orientação educacional. O italiano Vitorino Feltre, em 1428, foi convidado a
ministrar aulas junto à universidade de Veneza e Pádua, pelo príncipe de Mântua,
na qual pode fundar uma escola e permanecer nela até o seu falecimento.
Monroe (1979) descreve que Vitorino Feltre não chegou a deixar seus ideais
educacionais e pedagógicos registrados, porém é reconhecido como um dos
educadores renascentista pioneiros. Algumas das escolas que foram fundadas na
época da renascença destinavam-se especialmente à nobreza e podiam ser
encontradas nas cidades de Pádua, Veneza e Florença. Em outras regiões da
Europa como a Alemanha, passaram a existir escolas infantis que eram tuteladas
diretamente pelas cortes, leia-se: escola às elites; por outro lado ocorriam também
os ginásios, cujo fundador foi João Sturn.
A Idade Moderna foi o momento histórico de muitas transformações no que diz
respeito ao cenário político, econômico, cientí�co, intelectual e educacional. Em
meio a este contexto as primeiras escolas de alfabetização e educação primária,
que eram novidade no cenário educacional europeu, não passaram ilesas. As
primeiras escolas, nas quais a maior parte da elite europeia se alfabetizou,
contavam com preceptores, que supervisionavam, orientavam e acompanhavam
as atividades escolares.
O século XVI no campo intelectual é conhecido como humanista-renascentista, já
no campo artístico é reconhecido como o período barroco, já no campo
educacional se desenvolveu a tendência do realismo pedagógico.
Caro acadêmico! Não se esqueça de que os pensadores do Renascimento foram
chamados de ‘utópicos’, ou seja, que lançavam e almejavam teorias idealizadas e
de difícil realização. Logo o século seguinte, o século XVII, foi de compensação pelo
aspecto racional, metódico e realista, embasado pelo pensamento dos pesadores
como John Locke, João Amós Comenius e Francis Fenelon.
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John Locke (1632-1704), �lósofo e pensador britânico, preceptor dos �lhos do
conde de Shaftesburg, foi um estudioso que contribuiu na produção do
conhecimento que pretendia superar a tradição medieval. Se destacou nas áreas
da �loso�a, da economia, política, religião e educação. Seus estudos se inserem no
contexto histórico e �losó�co do pensamento pedagógico moderno e seus
pensamentos ganharam importância, pois foi o estudioso que defendeu o
empirismo, ou seja, que acredita que o conhecimento seja consequência da
experiência, que não existem ideias inatas, ou seja, ideias com as quais nós já
nascemos; ao invés disso, propôs que o que sabemos aprende-se tudo pelo
caminho da experiência. Criticou enfaticamente as ideias medievais, o descaso
atribuído às línguas vernaculares e aos cálculos, e ênfase atribuída ao latim.
Na obra de quatro volumes ‘Ensaio sobre o entendimento humano’, pensamentos
sobre a educação, apresentou a expressão latina pela qual �cou muito conhecido,
que é a de tábula rasa, que procurava explicar que o ser humano nasce como um
papel em branco e que vai sendo preenchido ao longo de sua vida. Foi defensor da
separação de poderes entre Igreja e Estado, ou seja, defendeu o Estado laico.
CONCEITO: ESTADO LAICO:
Casanova (1994) refere-se, histórica e normativamente, à emancipação do
Estado e do ensino público dos poderes eclesiásticos e de toda referência e
legitimação religiosa, à neutralidade confessional das instituições políticas e
estatais, à autonomia dos poderes político e religioso, à neutralidade do
Estado em matéria religiosa (ou a concessão de tratamento estatal
isonômico às diferentes agremiações religiosas), à tolerância religiosa e às
liberdades de consciência, de religião (incluindo a de escolher não ter
religião) e de culto.
Cambi (1999)explica que Locke teoriza sobre uma educação que se destinava
tanto a homens como a mulheres e que tinha por objetivo endurecer, regular e
moldar a delicadeza e os demasiados cuidados, que seria obtida por meio de uma
espécie de “educação do corpo”, este entendido como um vaso de argila (como se
exprime Locke), que impunha ajustes desde os modos de vestir, que deveriam
parecer nem leves nem pesados, ao mesmo tempo a robustez e a possibilidade da
vida "ao ar livre", válida tanto para os rapazes como para as moças” (CAMBI, 1999).
Para Locke, as capacidades e as competências do ser humano são inatas, mas o
conhecimento e as habilidades são construídos. Defendendo estas ideias,
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colocava-se contrário às noções de dom artístico.
Para Locke, o pensamento e a memória humana consistem em uma espécie de
tábula rasa a ser preenchida e o corpo como um vaso de argila, passível de
moldagem. Os estudiosos apontam que seus estudos e teorizações no campo da
educação destinam-se à Educação Física e recebe diversas críticas, pois seu
pensamento sugeria uma espécie de controle e atos de mutilação com relação ao
corpo com justi�cativa educativa.
QUADRO 4 - SÍNTESE DO PENSAMENTO DE JOHN LOCKE
Fonte: Os autores
Francis Fenelon (1567-1622) foi um bispo católico francês. E, assim como Locke,
trabalhou como preceptor de uma família nobre. No caso, Fenelon foi o
responsável pela instrução de um dos netos de Luiz XIV, o “Rei Sol”. Seu destaque
foi propor uma pedagogia para as mulheres. Como retrato da mentalidade da
época, acreditava que as moças deveriam se dedicar a conhecimentos religiosos e
morais, que as capacitassem para bem desenvolver suas funções sociais como
esposas e mães de famílias. As escolas para mulheres foram desenvolvidas na
França, sendo a de Saint-Cry um símbolo da educação feminina da monarquia
francesa antes da Revolução Francesa (ARANHA, 2006).
Outro importante pensador presente na história da educação ocidental é o tcheco
João Amós Comenius (1562-1670). Formado em Teologia, não conseguiu ser
ordenado sacerdote devido aos problemas políticos oriundos na Europa durante a
Guerra dos Trinta Anos, um dos con�itos militares oriundos das disputas
territoriais entre príncipes católicos e protestantes.
As suas re�exões sobre educação são marcadas por sua perspicácia em relação ao
amadurecimento dos seres humanos. Seus principais livros foram Pródomus da
Panso�a, no qual propunha a organização e ampliação do acesso ao ensino como
um modo de pôr �m às guerras. Em Porta aberta às línguas, propôs uma
inovadora metodologia para o ensino do latim. Porém, sua principal contribuição
para a tarefa educacional foi a Didática magna (1657) ou Grande didática.
Comenius compreendia o homem e suas fases de desenvolvimento da seguinte
forma:
Portanto, o que é inicialmente o homem? Uma massa informe e bruta. Depois,
assume o contorno de um pequeno corpo, mas sem sentidos e movimento. A seguir,
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começa a movimentar-se e por força da natureza vem à luz; pouco a pouco
manifestam-se os olhos, os ouvidos e os outros sentidos. Após um certo tempo
manifesta-se o sentido interno, quando ele percebe que vê, ouve e sente. A seguir
será manifestado o intelecto, apreendendo as diferenças entre as coisas; �nalmente,
a vontade, dirigindo-se a alguns objetos e fugindo de outros, assume papel de
governante (COMENIUS, 1997, p. 44).
Para Comenius (1997, p. 58), “nossa mente não apreende só as coisas próximas,
mas também aproxima de si as distantes (em lugar e tempo), alça-se às mais
difíceis, indaga as ocultas, descobre as veladas, esforça-se por investigar também
as imperscrutáveis: é algo in�nito e sem limite”. Portanto, dedicou-se em formular
um método universal que facilitaria o ensino do maior número de conteúdos e
conhecimentos, ensinar tudo e a todos (Omnes Omnia Omnimo), em que os
objetivos e os resultados seriam alcançados rápida e solidamente e de modo
satisfatório, e que se destinaria a um amplo público de interessados.
Criticava as formas enfadonhas e tortuosas de ensino e aprendizagem, bem como
a especialidade e restrição a determinados saberes e ofícios, assim como as
restrições de sexo (homens e mulheres), de classes sociais (agricultores,
comerciantes, operários, administradores) e aos que apresentavam sinais de
de�ciências (mental e outras debilidades), que acompanhavam as instituições
escolares da época. Enfatizava a necessidade de se subdividir o processo de ensino
em níveis e graus mediante a faixa etária dos estudantes, bem como abordava
questões de falta de interesse e motivação por parte dos estudantes.
Para Comenius (1997), a educação deveria observar os seguintes preceitos:
I. Começar cedo, antes da corrupção das inteligências.
II. Fazer a devida preparação dos espíritos.
III. Proceder às coisas gerais para as coisas particulares.
IV. Proceder às coisas mais fáceis para as mais difíceis.
V. Não sobrecarregar ninguém com demasiados trabalhos escolares.
VI. Proceder de forma lenta.
VII. Não constranger os espíritos a fazer aquilo que não desejam, permitir que seja
de forma espontânea, tendo em vista método e a idade ideal.
VIII. Ensinar todas as coisas, colocando-as imediatamente sob os sentidos.
IX. Dar ênfase à utilidade imediata dos conhecimentos.
X. Utilizar sempre com um só e o mesmo método.
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XI. Prezar por um andamento suave e agradável das atividades.
Comenius defendia que se devia saber tudo, mas não nos aspectos super�ciais e
vulgares dos saberes, antes os fundamentos, os princípios, as razões e os objetivos
dos principais conhecimentos da natureza e daqueles que o homem foi
responsável. Para tanto, classi�cou as coisas em três naturezas: objetos de
observação: o céu, Sol, Lua, as rochas, as estrelas, os fenômenos naturais, entre
outros; objetos de imitação: a ordem que rege o mundo, a natureza e o homem;
objetos de fruição: o não palpável, o metafísico, o imaterial, o divino, de natureza
simbólica e espiritual.
O que podemos compreender nestes pensadores realistas é a ideia da importância
da educação para o desenvolvimento humano. Porém, não apenas do ponto de
vista da utopia, do sonho de se viver em uma sociedade marcada pela perfeição. A
ideia educacional principal era um pouco mais prática, uma noção da necessidade
da educação na alteração de comportamentos e pensamentos no cotidiano dos
discentes. Muito mais que um sonho de sociedade, os autores em análise tiveram
em suas experiências pessoais a principal motivação para escrever seus livros.
As experiências pessoais de Fenelon e Locke como preceptores os motivaram a
pensar uma educação para as moças e de melhor qualidade. As di�culdades de
vivenciar uma guerra motivaram Comenius a escrever sobre a paz universal. Estas
são as razões principais de as re�exões destes intelectuais não serem teóricas,
mas, sim, metodológicas. Isto é, o método de ensino, as faixas etárias apropriadas
para o ensino de determinados conteúdos e quais os conteúdos a se ensinar
foram os pontos principais das re�exões dos pedagogos seiscentistas.
4.2 OS MANUAIS DE ETIQUETA E DE BONS COSTUMES
Burg, Fronza e Silva (2013) explicam que os manuais de etiqueta, as dietas e
cardápios variados e re�nados representam uma novidade aos homens do
Renascimento, mas a partir de então fazem parte das preocupações da vida
pública e privada da sociedade ocidental até os dias atuais. Por meio das
expressões, comportamentos e posturas nos momentosfestivos, em meios aos
baquetes e no cotidiano no interior dos palácios, as elites econômicas e políticas
a�rmavam-se por meio da demonstração de modos re�nados, so�sticados e
elegantes.
Elias (1993) explica que os autores renascentistas que já mencionamos antes nesta
unidade, Leonardo da Vinci e Erasmo de Roterdã foram, além de outras coisas, já
mencionadas anteriormente, autores de manuais de etiqueta e cardápios
gastronômicos. Nos manuais constavam desde noções de como os nobres
deveriam se portar e apresentar à mesa assim como cuidados higiênicos que
deveriam ser observados no cotidiano. A título de exemplo tem-se que não era de
bom tom escarar na mão direita e usar a mesma mão para pegar algum pedaço de
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carne. Neste contexto não se pode negligenciar a informação de que os artefatos
de garfo e faca representavam utensílios raros, que muitas vezes eram objetos de
disputas em heranças de pai para �lho.
Ribeiro (1990) explica que além das questões de etiqueta e bons costumes, havia
também segregações e distinções sociais que eram obtidas pelas questões de
honra, ou melhor pelas noções de status quo, ou seja, que se baseava na
importância e no reconhecimento que a família obtinha em meio à sociedade. O
status era obtido pela demonstração de boa apresentação nos bailes, cafés,
museus e galerias, por meio do uso de trajes elegantes, perucas, vestidos e demais
acessórios enobrecedores.
Burg, Fronza e Silva (2013) explicam que foi nas confrarias duelistas, que
funcionavam nos castelos e palácios da nobreza, que as regras de etiqueta e bons
costumes eram aprendidas; destinavam-se especialmente aos integrantes da elites
e nobres praticantes de esgrima. Além das atividades de esgrima, a montaria
representava outra atividade, quem quisesse se distinguir deveria apresentar
conhecimentos e demostrar habilidade.
Caro acadêmico! Observe com atenção o texto "Escolas Filosó�cas: um panorama",
escrito pelo professor Kevin Daniel dos Santos Leyser, pois contempla explicações
sobre as correntes �losó�cas que compõem a matriz do pensamento ocidental e o
pano de fundo �losó�co em que se desenvolveram os autores que já foram
mencionados até aqui e que ainda serão mencionados ao longo das próximas
unidades. Mas, para saber mais, prossiga na leitura.
LEITURA COMPLEMENTAR
ESCOLAS FILOSÓFICAS: UM PANORAMA
Kevin Daniel dos Santos Leyser
As escolas �losó�cas podem ser sistematizadas em quatro correntes de
pensamento, que são o idealismo, o realismo, o pragmatismo e o existencialismo.
O idealismo e o realismo derivam dos pensamentos e escritos dos antigos �lósofos
gregos, Platão e Aristóteles, que por sua vez já foram discutidas na Unidade 1. As
outras duas são mais contemporâneas, o pragmatismo e o existencialismo. No
entanto, os educadores que compartilham um desses conjuntos distintos de
crenças sobre a natureza da realidade atualmente aplicam cada uma dessas
�loso�as gerais em salas de aula. Vamos explorar cada uma dessas escolas
metafísicas de pensamento:
1- Idealismo: é uma abordagem �losó�ca que tem como princípio central que as
ideias são a única realidade verdadeira, a única coisa que vale a pena conhecer.
Unidade 2 - Tópico 1 
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Em busca da verdade, beleza e justiça que é duradoura e eterna, o foco está no
raciocínio consciente na mente. Platão, pai do idealismo, abraçou esta visão cerca
de 400 anos A.E.C., em seu famoso livro A República. Platão acreditava que havia
dois mundos. O primeiro é o mundo espiritual ou mental, que é eterno,
permanente, ordenado, regular e universal. Há também o mundo da aparência, o
mundo experimentado através da visão, do toque, do cheiro, do gosto e do som,
que está mudando, imperfeito e desordenado. Esta divisão é muitas vezes referida
como a dualidade da mente e do corpo. Reagindo contra o que ele percebia como
um foco excessivo na imediação do mundo físico e sensorial, Platão descreveu
uma sociedade utópica na qual a educação para o corpo e a alma seria toda a
beleza e perfeição da qual são capazes como um ideal. Em sua alegoria da caverna,
as sombras do mundo sensorial devem ser superadas com a luz da razão ou da
verdade universal. Para compreender a verdade, é preciso buscar o conhecimento
e identi�car-se com a Mente Absoluta. Platão também acreditava que a alma está
totalmente formada antes do nascimento e é perfeita e em harmonia com o Ser
Universal. O processo de nascimento veri�ca essa perfeição, de modo que a
educação exige que à consciência sejam trazidas ideias latentes (conceitos
totalmente formados).
No idealismo, o objetivo da educação é descobrir e desenvolver as habilidades e a
excelência moral de cada indivíduo para melhor servir à sociedade. A ênfase
curricular é assunto da mente: literatura, história, �loso�a e religião. Os métodos
de ensino centram-se no tratamento de ideias através de palestra, discussão e
diálogo socrático (um método de ensino que utiliza o questionamento para ajudar
os alunos a descobrir e clari�car o conhecimento). Introspecção, intuição, insight e
lógica são usados para levar à consciência as formas ou conceitos que estão
latentes na mente. O caráter é desenvolvido através da imitação de exemplos e
heróis.
2- Realismo: Os realistas acreditam que a realidade existe independentemente da
mente humana. A realidade última é o mundo dos objetos físicos. O foco desta
perspectiva está no corpo/objetos. A verdade, portanto, é objetiva – aquilo que
pode ser observado. Aristóteles, um estudante de Platão que rompeu com a
�loso�a idealista de seu mentor, é chamado o pai do realismo e do método
cientí�co. Nesta visão metafísica, o objetivo é compreender a realidade objetiva
através do escrutínio diligente e imparcial de todos os dados observáveis.
Aristóteles acreditava que, para compreender um objeto, sua forma última deveria
ser entendida, aquilo que não mudava. Por exemplo, uma rosa existe se uma
pessoa está ou não consciente dela. Uma rosa pode existir na mente sem estar
�sicamente presente, mas em última análise, a rosa compartilha propriedades
com todas as outras rosas e �ores (sua forma), embora uma rosa pode ser
vermelha e outra amarela. Aristóteles também foi o primeiro a ensinar a lógica
como uma disciplina formal, a �m de ser capaz de raciocinar sobre eventos e
aspectos físicos. O exercício do pensamento racional é visto como o �m último da
Unidade 2 - Tópico 1 
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humanidade. O currículo realista enfatiza o assunto do mundo físico,
particularmente a ciência e a matemática. O professor organiza e apresenta o
conteúdo sistematicamente dentro de uma disciplina, demonstrando o uso de
critérios na tomada de decisões. Os métodos de ensino centram-se no domínio
dos fatos e das competências básicas através da demonstração e da recitação. Os
alunos também devem demonstrar a capacidade de pensar criticamente e
cienti�camente, usando observação e experimentação. O currículo deve ser
abordado cienti�camente, padronizado e baseado em disciplina distinta. O caráter
é desenvolvido através da formação nas regras de conduta.
3- Pragmatismo (Experiencialismo): Para os pragmáticos, apenas as coisas que são
experimentadas ou observadas são reais. Nesta �loso�a americana do �nal do
século XIX, o foco está na realidade da experiência. Ao contrário dos realistas e
racionalistas, os pragmatistas acreditam que a realidade está em constante
mudança e que aprendemos melhor através da aplicação de nossas experiências e
pensamentos aos problemas, à medida que surgem. O

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