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AULA 03

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Prévia do material em texto

Definição 
Explicação das importantes mudanças ocorridas em 
âmbito mundial, pois o que foi vivido no passado 
ainda está presente na contemporaneidade. 
Esclarecimento de como a aliança entre Educação e 
Renascimento inaugurou a ideia de modernidade e 
construiu a cultura ocidental diante do embate: 
tradição versus pensamento moderno. 
Propósito 
Entender o mundo contemporâneo a partir do 
reconhecimento da modernidade, do pensamento 
renascentista e dos embates com a religião. Buscar o 
passado que nos identifica a fim de apontar a origem 
de nossa língua, de nossa história e os caminhos que 
marcam nossa maneira de pensar a Educação. 
 
Objetivos 
Módulo 1 
Conceituar modernidade 
para a História 
Módulo 2 
Reconhecer a Educação 
no Renascimento 
Módulo 3 
Identificar o movimento 
da Reforma, da 
Contrarreforma e o 
modelo de educação 
jesuítica implantado no 
Brasil 
Módulo 4 
Distinguir as linhas do 
pensamento pedagógico 
na modernidade 
 
 
1º Módulo 
Conceituar modernidade 
para a História 
Introdução 
Quantas vezes escutamos, em nosso dia a dia, o uso da expressão moderno se 
referindo a algo novo ou diferente? Mas, de onde vem exatamente essa ideia 
sobre o que é moderno? 
 
É importante analisarmos mais detalhadamente o conceito de moderno para compreendermos como ele 
interfere na Educação que conhecemos. Moderno e seu derivado, modernidade, não são apenas palavras; são 
conceitos e, por isso, podem ter múltiplos significados. 
 
Invenção da sociedade ocidental 
Neste vídeo, os professores Flávia Miguel e Rodrigo Rainha debatem conceitos importantes para a construção 
do entendimento sobre o Ocidente e a modernidade. Vamos assistir! 
 
Assista ao vídeo no material online. 
Origens 
A origem da ideia de moderno como novo surge de uma construção histórica. Tradicionalmente, os 
historiadores convencionaram dividir a História em eras para melhor compreendê-la e ensiná-la. Essa proposta, 
que chamamos de linha do tempo, foi muito utilizada como método de estudo, sobretudo no século XIX, pelos 
positivistas. 
 
 
 
Nesse recurso, vemos que a História começa na Idade Antiga com o aparecimento da escrita. Isso se 
fundamenta na premissa da tradição europeia de que povos sem escrita não teriam história, por isso, Pré-
História. 
 
Essa concepção justifica, por exemplo, o estudo dos povos indígenas 
e africanos ter sido relegado durante tanto tempo. 
 
Após a Idade Antiga, surgiu a Idade Média, considerada a Idade das Trevas. Esse termo surge no período 
renascentista, já na Idade Moderna. Os historiadores desse período não viam um valor na Idade Média, 
entendendo-a simplesmente como uma fase entre a cultura clássica e a moderna. Daí a visão, equivocada, de 
que a Idade Média havia sido um período de estagnação e obscurantismo. 
O Moderno surge em oposição ao Medieval. O Novo e o Velho. Essa ideia se populariza, e temos ainda 
dificuldade em compreender que o moderno é algo concebido em seu próprio tempo. Nesse caso, seguindo a 
convenção, entre os séculos XV e XVIII. 
 
Moderno 
novo 
× Medieval 
velho 
 
Embora ainda utilizemos o recurso da linha do tempo - que atualmente possui 
diversos usos, desde histórico até biográfico – é sempre importante fazê-lo de 
forma crítica, entendendo que representa apenas convenções. 
 
Um período histórico não começa e termina com um único evento, por mais importante e significativo que ele 
seja. O conhecimento e a cultura são frutos de um acúmulo, que ocorre ao longo dos séculos. Temos, portanto, 
em nosso modo de viver, contemporâneo, diversos legados de períodos anteriores, dos quais alguns são 
notórios enquanto outros são menos evidentes. 
Como exemplo, podemos citar a nossa percepção estética, que é claramente derivada da cultura clássica, 
greco-romana. Com certeza gostos, culturas e ideais de beleza se alteram, porém de modo lento e sempre 
deixando resquícios. 
 
Qual delas chamou sua atenção 
de forma mais imediata? 
 
A Pietá, esculpida por Michelangelo no século XV, é 
influenciada pela estética greco-romana. 
 
A urna marajoara feita pelos povos indígenas 
brasileiros é do período pré-cabralino e nela se 
destacam as técnicas de pintura e escultura que 
fariam da arte marajoara uma das mais importantes 
da América. 
 
Seu olhar provavelmente foi direcionado para a primeira imagem, enquanto na segunda é possível que 
tenha havido um certo estranhamento. Isso acontece porque parte significativa de nossa “educação 
estética” esteve voltada para os padrões europeus e não para o continente americano. 
 
Essa construção estética que observamos foi articulada durante a Idade Moderna, período em que parte da 
sociedade ocidental como conhecemos se estruturou. 
 
 
 
 
 
Veja como Deus pode ser retratado de formas diversas. 
 
 
Idade 
Antiga 
Os fenômenos do mundo 
e da vida humana eram 
explicados pela 
mitologia. Havia deuses 
que se encarregavam de 
manter a ordem da Terra 
e seu funcionamento. 
Imagem de Apollo da 
Antiguidade. 
 
Idade 
Média 
Os deuses deram lugar a 
um único Deus cristão, 
em torno do qual o 
mundo medieval se 
organizava 
culturalmente. 
A Imagem de Deus 
Esculpida na Igreja de 
Vitória em Portugal. 
 
Idade 
Moderna 
O saber científico 
começa a ganhar espaço. 
Iluminura do 
racionalismo medieval, 
considerado o 
movimento pai da 
modernidade. 
 
Idade 
Contemporânea 
Consolida o saber 
científico. 
O homem que produz 
conhecimento, aqui 
representado por 
Copérnico e a tensão 
entre as tradições 
religiosas e Deus. 
 
Período Moderno 
A Idade Moderna foi um período de intensos questionamentos e rupturas. Não que, subitamente, tudo se fez 
novo e tudo que era ultrapassado tenha desaparecido. Mas, aos poucos, surgem novas formas de ver o mundo, 
novas maneiras de explicar aquilo que se vive. 
O ser humano é questionador por natureza; e esse desejo de aprender, sobre si e sobre o ambiente em que 
vive fortalece e consolida a criação de instituições escolar. Em cada tempo histórico, esse aprendizado teve um 
fundamento, uma forma de organização. 
Importante 
Perceba que o fato da Ciência começar a se estruturar como fonte de conhecimento na modernidade não 
faz, de forma alguma, com que a questão religiosa seja deixada de lado ou esquecida. A religião, em geral, 
e o cristianismo, em particular, assumem novos papéis na ordem social que se altera progressivamente. 
 
Consolidação do moderno 
Dois elementos foram fundamentais para que a Idade Moderna se consolidasse: 
 
Família 
A família passou, no século XX, a ser objeto 
privilegiado de diversos estudos por ser 
fundamental para a inserção e o 
desenvolvimento do indivíduo na sociedade. 
Com a decadência do feudalismo, um processo 
que levou séculos, as cidades passaram a 
recuperar sua importância comercial, com o 
estabelecimento de feiras e a intensificação do 
comércio, e aquele que nelas vivia – o burguês – 
passou a ser sinônimo de comerciante. À medida 
que alcançava prosperidade financeira, o burguês 
criava para si um novo tipo de família. Seus filhos 
deveriam ser instruídos e educados para 
continuarem seu ofício e assumirem seus 
negócios. 
Escola 
A construção de um ambiente governamental 
que tinha função de dar formação de maneira 
estruturada aos alunos é um fenômeno 
moderno. Ainda que existissem escolas – ou 
espaços que tendemos a atribuir o nome de 
escolas – no mundo grego, romano e na Idade 
Média, a ideia de um prédio fundamental, com 
funções públicas para formação dos sujeitos em 
níveis diversos é nova. 
Mais ainda, se antes dependia-se de professores 
particulares ou iniciativas da Igreja passamos a 
falar de modelos previstos em lei, mantidos pelo 
Estado e com funções de preparar o sujeito para 
o Estado. Veremos mais sobre a escola – por seus 
aspectos práticos – no próximo módulo. 
 
Se antes apenas as criançasde origem nobre eram alvo de alguma educação estrutural, agora também se 
começa a educar fora da nobreza. Um dos principais estudiosos da questão familiar, Philippe Ariès (1914-1984), 
afirma que: 
 
“Os pais não se contentavam mais em pôr filhos no mundo, em estabelecer apenas alguns 
deles, desinteressando-se dos outros. A moral da época lhes impunha proporcionar a todos 
os filhos (no fim do século XVII, até mesmo às meninas), e não apenas ao mais velho, uma 
preparação para a vida.” 
(ARIÈS,1986, p.277) 
 
Essa estrutura familiar, que se tornou uma das características da modernidade, fez com que surgisse outro 
conceito que modificaria definitivamente as relações sociais: a infância. Retomando Ariès (1986), no medievo 
não havia uma grande separação entre as idades, e as crianças eram tratadas como pequenos adultos. 
Até então, não houvera grande preocupação com as crianças, seu desenvolvimento, aprendizado ou bem-estar. 
A mortalidade infantil no medievo era acentuada, a mobilidade social, improvável. Se o destino de uma criança 
era repetir – se tivesse sorte – o ofício de seu pai, a educação formal, letrada, não fazia sentido. 
Foram a modernidade e a retomada do letramento como algo a ser apreciado que modificaram, pouco a pouco, 
esse cenário. A criança deixou de ser um “adulto em miniatura” e tornou-se um indivíduo com necessidades 
próprias e sobre o qual ampliam-se as expectativas familiares. 
A modificação da forma como a infância era entendida reflete uma alteração no comportamento social, e a 
escola, elaborada a partir de então, traduz essa mudança. O sentido de aprendizado passa a se estruturar em 
torno de uma proposta didática que, por sua vez, constitui o cerne de diversas disciplinas e saberes 
organizados. 
Agora vamos conhecer um pouco mais sobre Educação e Modernidade com o Professor Rodrigo Rainha: 
 
 
Ouça o podcast no material online. 
 
Veremos, a seguir, como esses saberes se conformam a partir da perspectiva de movimentos caros à 
modernidade: o Renascimento, a Reforma e a Contrarreforma. 
 
2º Módulo 
Reconhecer a Educação 
no Renascimento 
Renascimento 
O Renascimento, movimento intelectual ocorrido no final da Idade Média e durante a Idade Moderna, é um 
tema que tem sido exaustivamente estudado. Não só pela sua importância na concepção da história intelectual 
do Ocidente, mas também pelas rupturas que provocou na organização do conhecimento até então 
estabelecido. 
Quando falamos em Renascimento, imaginamos a arte do período e seus representantes, como Michelangelo e 
Leonardo da Vinci. 
Essa é a face mais popular do movimento e tem sido constantemente recuperada em filmes e obras literárias 
de ficção. Não que esse aspecto seja irrelevante; longe disso, a questão estética e cultural é um dos 
fundamentos da ideologia renascentista. Contudo, é preciso desfazer o equívoco de que esse é o principal 
aspecto de toda a movimentação intelectual gerada pelos cientistas, artistas e filósofos do período. 
 
Dica 
Assista ao filme O Mercador de Veneza, baseado na obra de William Shakespeare, que apresenta uma 
narrativa envolvente, instigante e ainda nos ambienta na Veneza renascentista. Quer saber mais e 
conhecer o texto original? Acesse o Explore+ e leia o livro digital. 
 
Renascimento e Arte 
Neste vídeo os professores Rodrigo Rainha e Flávia Miguel debatem conceitos importantes para a construção 
do entendimento sobre a Arte no Renascimento. Vamos assistir! 
 
Assista ao vídeo no material online. 
 
O Renascimento não é apenas um. Por ser multifacetado, ele pode ser pensado em aspectos distintos 
(comercial, urbano, científico e cultural), os quais estão interligados e juntos compõem um quadro de mudanças 
extraordinárias e de grande movimentação intelectual que marcaria definitivamente o campo da Educação. 
 
A dinâmica do Renascimento é expressa em um movimento de rupturas e continuidades. Por um lado, há 
a retomada de valores clássicos que passaram a ser discutidos e aperfeiçoados, não só do ponto de vista 
estético – a arte renascentista recupera em grande medida a arte clássica –, mas também do ponto de 
vista político e filosófico. 
 
 
É necessário atentar para a ideia de retomada que tão frequentemente se utiliza ao discutir esse momento. 
Essa “retomada de valores” não é, sob nenhuma circunstância, uma mera transposição. Historicamente, não é 
possível fazer uma transposição sem alteração de um período histórico para outro. 
Um bom exemplo é a transformação das tecnologias e como elas impactam o mundo. Se antes os livros eram 
belos e coloridos feitos nos scriptoria, com a prensa de Gutenberg sua produção foi acelerada e houve o 
aumento de leitores. 
 
 
 
 
 
 
Saiba mais 
Vamos utilizar o pensamento do filósofo Heráclito de Éfeso, que viveu no século V a.C., para 
compreendermos melhor essa impossibilidade. Ele afirmava que uma pessoa jamais se banharia duas 
vezes no mesmo rio, pois suas águas nunca são as mesmas; estão sempre fluindo. Da mesma forma, a 
humanidade muda todos os dias: suas ideias, concepções, gostos e opiniões são impermanentes. Em 
essência, o pensamento de Heráclito traduz a ideia de mutação constante. 
Quando se recuperam valores ou modos de pensar que existiram no mundo clássico greco-romano, eles 
são adaptados ao pensamento moderno, ou seja, a um tempo diferente daquele em que foram 
originalmente concebidos. Portanto, por mais que o pensamento renascentista traga para a modernidade 
conceitos clássicos, como a ideia de cidadão, ele o faz de acordo com seu próprio tempo e não apenas 
reproduzindo o que se entendia como cidadão na Antiguidade. 
 
O Renascimento foi um terreno fértil para que se discutisse a condição humana. As mudanças no modo de vida 
da população, a substituição progressiva do sistema feudal pela centralização política, a recuperação e 
dinamização do comércio trouxeram novos questionamentos ao indivíduo moderno e, dentre eles, qual era a 
natureza humana de fato e, sendo ela estabelecida, qual o papel do Estado no seu controle. 
À medida que o Feudalismo, fundamentado na fragmentação de poder, era substituído pela centralização 
política, tornava-se importante compreender o Estado que derivaria dessa centralização. 
Vejamos alguns pensadores que retrataram essa mudança. 
Pensadores 
O pensamento educacional no Renascimento e no movimento intelectual que o segue, o Iluminismo, se 
estrutura apoiado em diversos autores. Analisaremos dois diferentes pensadores para compreendermos suas 
ideias e como eles influenciaram o campo da educação. 
 
1. Comecemos pelo italiano Nicolau Maquiavel (1469-1527), autor de uma das 
principais obras de política já produzidas, O Príncipe; um manual de política 
escrito no século XVI, que expunha suas principais ideias acerca da arte de 
governar. 
 
 
Importante 
De sua obra-prima nasceu o termo maquiavélico, que adquiriu o sentido de luta e manutenção do poder 
a qualquer custo. 
Os estudiosos da obra de Maquiavel contestam amplamente esse sentido porque - apesar de ter 
afirmado que os fins justificam os meios - há ressalvas e condicionantes, como a ideia de justiça e bem 
comum, também trabalhadas pelo filósofo. 
 
Quais as funções de um rei e suas obrigações com o povo? 
Quais os limites impostos ao soberano, se é que deve haver limites? 
 
Esses questionamentos estão no cerne da obra de Maquiavel e, em busca dessas respostas, o filósofo discorre 
extensamente sobre a natureza humana, o Estado e o papel da Educação. 
 
Note que não é ainda a ideia de educação formal como mais tarde seria 
estruturada, mas uma educação prática, para a vida em sociedade. 
 
Maquiavel e outros pensadores que o sucederam entendiam que o ser humano em estado natural tende a ser 
selvagem. Sem um Estado e leis que o regulem, ele é dominado por suas paixões e seus desejos, tomando para 
si aquilo que cobiça sem que haja consequências ou punições. Essa natureza torna impossívela vida em 
sociedade, pois - sem disciplina e regulamentos, além de uma figura de autoridade para impor, mesmo que 
com o uso da força - não haveria a ordem social. 
A educação dá-se pelo exemplo. Cabe ao governante educar pelo exemplo para que se construa o sentido da 
cidadania e formem-se bons cidadãos. Como colocam Oliveira e Rubim (2012): 
 
“Depreende-se das reflexões de Maquiavel que ele concebe o ser humano como agente de 
seus atos, portanto capaz de escolher seu caminho, pelo fato de possuir livre arbítrio, mas 
precisa de um direcionamento que o ajude a fazer as escolhas corretas. Esse direcionamento 
pode ser realizado por meio do exemplo do governante, pela educação e com boas leis.” 
(OLIVEIRA e RUBIM, 2012) 
 
É importante percebermos que esse sentido de educação pelo exemplo é uma das primeiras concepções de 
educação da modernidade. Na ausência de um formalismo, o mestre torna-se exemplo daquilo que deve ser 
aprendido. Essa ideia de mestre e discípulo, de aprendizado pelo exemplo, já existia na Antiguidade entre as 
primeiras escolas filosóficas, onde também se debatia a natureza humana e seu comportamento social. Esse é 
um exemplo de retomada de valores clássicos, adaptados por Maquiavel ao mundo moderno. 
A Educação para Maquiavel estava, inegavelmente, vinculada à virtude. Mas ele não é o único pensador 
moderno que entendia a educação dessa maneira. 
 
1. O sentido de virtude aparecia em outras propostas pedagógicas, como a do 
filósofo inglês John Locke (1632-1704). 
 
Autores contratualistas 
O pensamento de Locke faz parte do que chamamos de autores contratualistas. 
 
Esses pensadores acreditavam na existência de um contrato social que seria, de forma bastante 
resumida, um contrato tácito entre Estado e indivíduo. Para ter direito à vida em sociedade, à 
manutenção da propriedade e à garantia da vida e da segurança, o indivíduo abriria mão de seu direito 
fundamental, a liberdade, legando ao Estado o direito de prender, julgar e punir com a privação da 
liberdade e, em casos extremos, da vida para garantir o bem comum. 
A despeito de considerar Deus como fundamental para o desenvolvimento das sociedades, Locke 
condena a participação da Igreja em assuntos de Estado. Durante a Idade Média e boa parte da Idade 
Moderna, Igreja e Estado funcionavam como um e, não raro, a Igreja Católica possuía prerrogativas de 
Estado, como julgar e punir. 
Podemos tomar como exemplo o processo da Inquisição, que teve início na Europa do século XII. A 
despeito de seu caráter religioso, os inquisidores eram dotados de amplos poderes políticos, podendo 
prender, conduzir julgamentos, proceder investigações, punir e até condenar à morte. 
 
Apesar de os renascentistas questionarem e criticarem a Igreja como instituição, entendiam-na separada da fé 
em Deus. Os movimentos do Renascimento não eram ateus, mas colocavam em xeque as instituições e a forma 
como elas se relacionavam. 
O racionalismo renascentista permitiu que essas discussões ocorressem. Esse princípio buscava compreender 
o mundo por meio da observação dos fenômenos, recusando explicações simplistas ou de caráter religioso. 
Mesmo os questionamentos simples, possuíam anteriormente, respostas teológicas. 
 
A partir do momento em que o ser humano se dedica a estudar o mundo que o cerca a partir de outro olhar 
que não seja o religioso, diferentes explicações tornam-se possíveis, e a Ciência começa a se estruturar como 
fonte legítima de conhecimento. 
A Física, a Química, a Medicina e a Botânica passam a oferecer novas formas de compreender o mundo. Essas 
ciências se baseiam no empirismo, na observação dos fenômenos. 
O empirismo foi um dos pilares da modernidade e, como pensamento, está presente até nossos dias. 
Locke fundamentou dinâmicas pautadas na liberdade e na condição social de formação do sujeito. A 
partir desses fundamentos, formulou uma série de propostas pedagógicas que acreditou serem importantes 
para estabelecer princípios educacionais sólidos e bem-sucedidos. Essas propostas foram reunidas em sua obra 
Alguns pensamentos sobre a Educação, produzida em 1693. 
 
Para Locke, a educação possuía um caráter eminentemente moral. De nada adianta a um indivíduo 
dominar os princípios da Ciência se isso não o torna uma pessoa e um cidadão melhor. Vemos aí uma 
sofisticação da premissa maquiavélica de educação virtuosa posto que, também segundo Locke, a 
Educação deve servir a um propósito maior. 
 
A preocupação com o mestre, que Locke chama de tutor, é constante: 
 
“O preceptor não deve ser somente um indivíduo bem educado; é preciso que conheça o 
mundo, os costumes, os gostos, as loucuras, as mentiras, as faltas do século em que o 
destino tem lançado, sobretudo, o país em que vive. É preciso que saiba fazer conhecer e 
descobrir tudo isso a seus discípulos, à medida que estes se capacitam para compreender; 
que os ensine a conhecer os homens e seus caracteres; que descubra a careta com que 
disfarçam com frequência seus títulos e suas pretensões; que faça distinguir o que está 
oculto no fundo dessas aparências.” 
 (LOCKE, apud BALABAN, 2012) 
 
Educar pelo exemplo, educação para cidadania. Esses princípios são fundamentais para compreender a 
Educação no Renascimento. A eles, Locke acrescenta um outro viés, herdado das concepções greco-romanas: a 
saúde e o desenvolvimento físico. Locke demonstra cuidado no aperfeiçoamento moral e físico do ser humano. 
Renascimento ou Iluminismo? 
Você já deve ter notado que é muito comum confundir o pensamento Renascentista com o Iluminista. Embora o 
primeiro tenha acontecido nos séculos XV e XVI e o segundo no século XVIII, parece que são a mesma coisa. Não 
são! Contudo, são inegáveis as influências e continuidades na ruptura desses pensamentos. 
A razão e a empiria renascentista eram alguns dos pilares do movimento iluminista, que ocorreu no século 
XVIII. Esse período ficou conhecido como Século das Luzes, em oposição às trevas que obscureciam a razão. 
Cada vez mais razão e ciência passaram a ser vistas como fontes de conhecimento, e aumentava a necessidade 
de se educar com base nos princípios da empiria e da razão. 
Um de seus principais representantes, no que toca ao debate acerca do conhecimento e do aprendizado, foi 
Immanuel Kant (1724-1804). 
Sua proposta fundamentava-se na seguinte ideia: 
 
Todo conhecimento deve ser questionado afastando, 
cada vez mais, o conhecimento científico do teológico. 
 
Partindo desse princípio, Kant foi além; defendia que devemos criticar a própria razão e que nem mesmo ela é 
imune a erros. Sobre a pedagogia kantiana, Silva (2007) afirma que: 
 
“A pedagogia expressa na filosofia kantiana, embora fiel aos ideais iluministas, é, ao mesmo 
tempo, uma crítica a esses mesmos ideais. Para Kant, a razão jamais deve prescindir de uma 
crítica de sua própria capacidade. A preocupação essencial do filósofo com a educação 
insere-se no campo da moral, posto que o ser humano não nasce moral, mas torna-se por 
meio da educação, cuja função primordial consiste em fazer despertar a reflexão crítica no 
aluno. A formação do caráter na pedagogia kantiana assenta-se no cultivo da boa vontade, 
cujo fundamento é o imperativo categórico que, por meio do exercício crítico da razão, une o 
subjetivo e o objetivo, o individual e o coletivo numa mesma ordem.” 
(SILVA, 2007) 
 
Vamos conhecer um pouco mais sobre Educação e Renascimento com o Professor Rodrigo Rainha: 
 
 
Ouça o podcast no material online. 
 
 
3º Módulo 
Identificar o movimento da Reforma, 
da Contrarreforma e o modelo de 
educação jesuítica implantado no Brasil 
Religião no Renascimento 
Apesar da Idade Moderna ter sido marcada pelo enaltecimento da razão, o quesito religioso não deixou de ser 
importante. Seria um equívoco enorme imaginar que suas manifestações não estavam em meio à religião. 
Se na Idade Média a religião era o centro do conhecimento e da vida em sociedade,na Idade Moderna ela se 
modificou e adquiriu novo sentido. 
Isso ocorre, em parte, devido às transformações, como os movimentos renascentistas, e pelo movimento de 
Reforma Religiosa. As obras de Michelangelo são encontradas no Vaticano e não chegaram lá por acidente! 
Veja: se as ideias mudaram, a vida social mudou, tornando-se mais individualista, e o próprio conceito de 
Ciência se alterou; certamente a religião, parte tão importante da cultura ocidental, também sofreu mudanças. 
No caso da Igreja Católica, as propostas de mudança remontam ainda à Idade Média. Ao longo do tempo, a 
Igreja se tornara uma grande proprietária de terras, acumulando imensa riqueza e poder. Sua soberania e 
influência política na maior parte dos reinos europeus entrava em contradição com aquilo que era pregado pela 
Bíblia, sobretudo no que diz respeito ao Novo Testamento. 
O papel primeiro da Igreja, salvar almas, foi, na visão de seus críticos, sendo deixado de lado. 
A Arte é um bom relevo do poderio da Igreja e da contradição de sua força social. Essa representação foi 
feita de muitas formas, contudo uma das melhores é absorver toda a dor e a contradição nos detalhes 
das obras de Caravaggio. A perspectiva, a Arte, a serviço da crença. 
 
À medida que a instituição enriquecia, afastava-se das questões espirituais e se aproximava do campo da 
política. 
Reforma Religiosa 
Não havia uma separação entre Igreja e Estado. Isso significa que a Igreja podia prender e julgar aqueles 
que, segundo seu entendimento, cometessem crimes de fé, como renegar princípios católicos. A despeito do 
temor que as punições provocavam, diversos pensadores, chamados de reformistas, questionavam a conduta 
da Igreja Católica, o que desencadeou, na Idade Moderna, na chamada Reforma Religiosa. 
 
Um dos primeiros pensadores a questionar a doutrina e a conduta da Igreja Católica foi Jan Hus (1369-1415), 
ainda no século XIV. Para Hus, a Igreja devia se aproximar de seus fiéis e, por essa razão, defendia que as 
missas deviam ser celebradas na língua de cada povo. 
A modificação do idioma para facilitar a compreensão da missa (naquela época, as missas eram rezadas 
somente em latim, idioma que a população não compreendia) tornou-se um tema constante para os 
reformistas, os quais acreditavam que dessa maneira poderiam aproximar os fiéis da prática religiosa. 
Embora houvesse punições severas, elas não impediram o movimento reformista. Diversas contradições eram 
apontadas pelos críticos da Igreja: 
• Comércio de relíquias 
• Enriquecimento ao invés da caridade 
• Venda de indulgências 
• Adoração de santos 
• Celibato 
 
Importante 
A condenação da usura, do enriquecimento pelo lucro, incomodava particularmente a burguesia, 
que tinha aí sua fonte de riqueza. Além disso, era visto como contraditório a Igreja ser uma instituição 
rica, mas não permitir que a população também o fosse. À medida que essas contradições se tornavam 
mais evidentes, os reformistas foram ganhando apoio não só das classes burguesas, mas também de 
alguns governantes, reis e príncipes, cujo poder era cerceado pela interferência eclesiástica. 
 
Atuação de Lutero 
É nesse contexto que as reformas de Martinho Lutero (1483-1546), considerado o Pai da Reforma Protestante, 
ganham força. Daquilo que via como contradição, era a venda de indulgências um dos principais alvos de suas 
críticas. 
Sua recusa em retroceder em suas críticas o fez ser excomungado em 1521. Sua defesa da salvação somente 
pela fé, no entanto, o fez ser acolhido em principados dos quais se tornou protegido. 
As propostas teológicas de Lutero logo se espalharam, em parte, devido a uma invenção que modificou o 
mundo intelectual: a imprensa. A impressão de livros permitiu que a Educação ganhasse corpo e que a leitura, 
antes restrita, começasse a ser popularizada. O reformista traduziu a Bíblia para o alemão, aumentando assim o 
número de pessoas com acesso à sua doutrina. 
 
Martinho Lutero e a Reforma Protestante provocaram uma enorme mudança na Educação, posto que na 
Idade Média cabia apenas à Igreja Católica o papel de ensinar, além de ela monopolizar a produção de 
livros. 
 
 
Dica 
Assista ao filme O Nome da Rosa, de 1986, baseado no romance homônimo do crítico literário italiano 
Umberto Eco; No filme, é possível ver o scriptorium de um mosteiro medieval, onde os monges se 
dedicavam à cópia dos livros permitidos pela Igreja. 
 
 
Lutero estimulava o desenvolvimento da Educação a fim de que não fosse restrita à elite e à nobreza, mas 
alcançasse a população para que esta pudesse ler a Bíblia livremente, permitindo-lhe se aproximar de Deus e 
de sua própria salvação. 
 
Contrarreforma 
A Reforma Protestante provocou a resposta da Igreja Católica, conhecida como Contrarreforma Católica. Foi 
realizado então o Concílio de Trento, que começou em 1545, cujas competências eram: 
• Reforçar a autoridade do Tribunal da Inquisição (que existia desde o século XIII) 
• Estabelecer o Index Librorum Prohibitorum (uma lista de livros que deveriam ser abolidos e cuja leitura 
era proibida) 
• Enfatizar a autoridade papal (segundo a doutrina, o papa era infalível, o que era criticado pelos 
reformistas) 
• Constituir os seminários para promover e controlar a formação do corpo eclesiástico 
 
Importante 
Não podemos esquecer que o século XVI foi o século da Expansão Marítima. Os reinos europeus se 
lançaram ao mar a fim de conquistar novas terras e chegaram ao continente americano, habitado por 
povos que desconheciam o cristianismo. Para a Igreja, a conversão dos povos nativos da América era 
fundamental para manter seu corpo de fiéis e consolidar sua influência no novo continente. 
 
É importante explicar que uma historiografia vista mais de perto observa que não podemos considerar a 
Contrarreforma como uma resposta pura e simples, mas sim como a consolidação de um processo que a Igreja 
já experimentava: retomar seus preceitos conservadores, rompendo ciclos de “devassidão” muito atribuídos a 
papas como Rodrigo Borgia, recuperando os mandamentos que marcam a Igreja. 
A fundamentação teológica da Igreja é que, se houve perda de fiéis, foi porque alguns fundamentos, caminhos, 
precisavam ser recuperados, os desvios combativos. 
A fé precisava ser quente, pregada; ainda que o ideal das missões militares do período das cruzadas não 
devesse mais existir, seu sentido missionário – cumprir e atender uma missão – deveria ser alcançado. 
 
 
Reforma e Contrarrefoma 
Neste vídeo, Rodrigo Rainha e Flavia Miguel debatem a Reforma e a Contrarreforma. Vamos assistir! 
 
 
Assista ao vídeo no material online. 
Os jesuítas 
Santo Inácio de Loyola (1491-1556) deixou a Autobiografia com a qual podemos conhecer um pouco mais de 
suas inspirações. Na obra, sobre a Educação, ele afirma: 
 
“exercitava-se em dar exercícios espirituais e a declarar a doutrina cristã, e com isso fazia-se 
fruto para a glória de Deus. E houve muitas pessoas que chegaram a grande conhecimento e 
gosto de coisas espirituais.” 
(AUTOBIOGRAFIA, Santo Inácio de Loyola) 
 
O exercício do ensinar e do aprender não podia ser para si, mas para conduzir, para levar os outros à divindade, 
à salvação. O princípio máximo jesuítico era ensinar o caminho da salvação e, para isso, era necessário ser 
educado, direcionado. 
Os jesuítas eram considerados uma ordem militar. Sua missão era converter os povos não cristãos e desde 
sua origem aproximaram-se da Educação, seguindo o que ficou conhecido como metodologia inaciana, em 
referência ao fundador da ordem, Inácio de Loyola. Sua pedagogia estava fundamentada no Ratio Studiorum, 
publicado em 1599. 
 
Saiba mais 
Os jesuítas chegaram ao Brasil com o Governo Geral, em 1549, portanto, antes da publicação do Ratio 
Studiorum. Nos primeiros anos da presença jesuíta, destaca-se a atuação do padre Manoel da Nóbrega 
(1517-1570), que criou os aldeamentos, locais onde os índios de diferentes etnias eramagrupados a fim 
de serem catequizados. 
 
Não podemos esquecer que a prática pedagógica jesuíta possuía um objetivo: converter os não cristãos. Além 
disso, a visão do europeu sobre o indígena era extremamente etnocêntrica, desconsiderando que esses povos 
tinham sua própria cultura e formas diversas de organização. 
 
 
Os primeiros ensinamentos jesuítas focavam o domínio da língua portuguesa pelos indígenas, o estudo 
da doutrina católica e, posteriormente, o aprendizado de um ofício. Os jesuítas viviam junto aos índios, 
nos aldeamentos, para coordenar e manter o processo de catequese. Surgem então os chamados 
colégios jesuítas, aos quais se deve a fundação de cidades como São Paulo, cujo núcleo de povoamento 
inicial se deu através do colégio fundado por Manoel da Nóbrega e José de Anchieta, denominado Colégio 
de São Paulo de Piratininga. 
 
Com o estabelecimento do Ratio Studiorum, os jesuítas ganharam uma importante ferramenta pedagógica. 
Esse manual determinava não só os conteúdos e as disciplinas que deveriam ser ministrados, mas se detinha 
de forma detalhada na própria prática docente que seria aplicada pelos membros da ordem. 
 
José de Anchieta e a Educação no Brasil 
Anchieta foi um dos precursores do processo de educação no Brasil, estando no entorno da fundação de 
algumas das principais cidades, como Rio de Janeiro, e ativo em Salvador e São Vicente. Organizou missões 
entre os Tapuias e coordenava as terras e ações jesuíticas no Brasil. 
O modelo de constituir missões e colégios nos quais os membros do corpo jesuítico se organizavam e 
estruturavam a sua presença foi outra marca importante, sendo Anchieta figura vital para entender a fundação 
da cidade de São Paulo (ainda chamada de marco zero), com o estabelecimento do colégio jesuíta na cidade. 
No Rio de Janeiro, os jesuítas ocupavam o Morro do Castelo e possuíam algumas grandes propriedades de 
terra, nas quais mantinham um sistema econômico e sua busca de troca e catequização dos indígenas. Chama a 
atenção a variedade dessas atuações ao longo de todo litoral, sendo considerados salvadores e inimigos, 
aliados do governo e grupos perigosos ao longo de nosso período colonial. Por quê? Onde existia interesse na 
escravização de indígenas, como nas fronteiras do Norte e de São Paulo, sua atuação era vista como um 
problema, um empecilho econômico. Em áreas de conflito, o seu uso como interlocutores era visto como uma 
possibilidade de ocupação e dinamização com o território. 
Anchieta é notório pelas práticas empreendidas. O volume de cartas trocadas entre ele e a sede da ordem na 
França, permite-nos perceber o cotidiano. Anchieta é precursor também do estudo do vocabulário Tupi, criando 
um dicionário, o que demonstra a tentativa que somente muitos anos depois veríamos ser defendida em nossa 
República. A catequese e a tentativa de levar o texto de forma didática é outro elemento importante, com a 
adoção do teatro e das dinâmicas do lúdico para entendimento. 
 
 
 
 
 
 
 
Importante 
É importante frisar que o Ratio Studiorum foi um dos primeiros planejamentos pedagógicos e escolares da 
educação ocidental, tendo influenciado a Pedagogia séculos depois de sua elaboração. Constitui-se de 
uma sistematização inédita de métodos, teorias, procedimentos curriculares que se tornaram um dos 
pilares da pedagogia moderna. 
A despeito do objetivo catequético, o Ratio Studiorum teve como fundamento a formação do indivíduo, 
considerando aspectos como virtude e caráter, aliando as Artes Liberais e as Letras, unindo campos como 
Retórica e Gramática, além da Teologia. Coube, portanto, aos jesuítas, o primeiro modelo educacional 
brasileiro, que influenciou, de uma forma ou de outra, todos os demais que o seguiram. 
 
Vamos conhecer um pouco mais sobre os Jesuítas com o Professor Antônio Giácomo: 
 
 
Ouça o podcast no material online. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
4º Módulo 
Distinguir as linhas do pensamento 
pedagógico na modernidade 
 
Pedagogos 
Neste vídeo, Rodrigo Rainha e Flávia Miguel debatem o papel dos pedagogos na história da educação moderna. 
Vamos assistir! 
 
Assista ao vídeo no material online. 
A Pedagogia na modernidade 
A Idade Moderna trouxe uma preocupação com a natureza do conhecimento, o que levantou alguns 
questionamentos: 
• Qual o método de aprendizagem mais eficiente? 
• Como acontece o aprendizado? 
• O aprendizado se dá somente por aquilo que aprendemos ao longo da vida? 
• Nascemos com algum conhecimento? 
• Nascemos como telas em branco? 
 
Apesar de terem sido formulados há séculos, alguns desses questionamentos ainda não possuem uma resposta 
consensual. É o caso do conhecimento inato. Nascemos com algum tipo de conhecimento ou somos uma 
tabula rasa como dizia John Locke? 
 
Saiba mais 
A expressão em latim tabula rasa tem o sentido de “folha de papel em branco”. Busque saber mais sobre 
esse conceito de Locke e aprofunde seus conhecimentos! 
 
Você consegue reparar que nossa forma de ver, 
pensar e discutir a Educação tem muita influência desse momento? 
 
Essa época trouxe modelos que ainda nos guiam e ofertam possibilidades de vivenciar a Educação. 
Vamos conhecer essa herança! 
Como educar 
Se, na Idade Média, não houve uma grande preocupação em sistematizar a Educação para todos, de modo 
geral, a partir de então se começa a pensar qual a melhor e mais eficiente forma de educar. 
O pensamento moderno foi muito importante para se debater a natureza do conhecimento. A disciplina, tão 
importante na Idade Média e na educação religiosa, seria rediscutida, sendo revista como o principal fator do 
aprendizado. 
 
Importante 
Não houve uma ruptura definitiva. Os projetos pelo racionalismo e pela empiria influenciaram o processo 
iluminista, passaram a se digladiar e acabaram se unindo. 
 
Autores 
Para entender esse projeto, precisamos conhecer um autor muito importante: Johann Heinrich Pestalozzi (1746-
1827). Ele escreveu depois do início do movimento que marcou a modernidade, porém tornou-se um ícone 
desse movimento por não estar preso à dinâmica do pensamento iluminista francês, mas às demais correntes 
filosóficas presentes na sociedade. 
 
Saiba mais 
No final do século XVIII, a Suíça foi invadida pela França durante as chamadas Guerras Napoleônicas. Essa 
invasão provocou um aumento no número de crianças órfãs. Pestalozzi reuniu as crianças para que 
fossem cuidadas e educadas, desenvolvendo algumas de suas ideias mais significativas a partir de então. 
 
Para Pestalozzi, o afeto seria um dos principais componentes do processo educacional. É o amor que estimula 
a criança a aprender, preenchendo-a de dentro para fora. Sua teoria comparava a escola a uma casa. Uma 
casa bem organizada funciona a partir do amor e da disciplina. 
A disciplina não seria o principal fator do aprendizado, mas sim o afeto. O que não quer dizer que ela fosse 
deixada de lado, apenas não seria obtida a partir de castigos e punições. 
Antes de se dedicar à Educação, Pestalozzi tentou ser agricultor, tarefa na qual não obteve sucesso. Essa 
curta experiência permitiu que ele comparasse a criança à semente, referindo-se ao potencial que 
esta teria se bem cuidada. 
 
Os valores e o desenvolvimento moral seriam, em sua perspectiva, mais importantes do que somente o 
conteúdo que pudesse ser aprendido. O aprendizado se dá pela prática e pelo exemplo dos mestres. Pestalozzi 
entendia que alunos e mestres deveriam compartilhar todos os aspectos da vida, frequentemente vivendo no 
mesmo lugar e estimulando o pensamento autônomo, o que faria da criança um indivíduo racional e moral. 
Suas ideias, extremamente avançadas, encontraram eco e se tornaram o fundamento de práticas educacionais 
que aboliram, progressivamente, a disciplina de forma repressora e violenta, buscando uma educação mais 
autônoma e harmônica. 
Se a afetividade de Pestalozzi se afastava do caráter científicoproposto pela Idade Moderna, não podemos dizer 
o mesmo das teorias de Johann Friedrich Herbart (1776-1841). Ao compartilhar a ideia de Locke sobre a tabula 
rasa, entendendo que nascemos desprovidos de conhecimento e o vamos adquirindo ao longo da vida, Herbart 
via a Educação como uma ciência. 
Coube a Herbart a tarefa de cientificizar a Pedagogia, dotando-a de métodos, formas de medir e de avaliar o 
conhecimento obtido. Um aspecto fundamental – e revolucionário – em sua obra foi a aproximação com a 
Psicologia, ciência que, no início do século XIX, ainda engatinhava. 
Assim como Pestalozzi, Herbart também defendia que o objetivo final do processo educativo era a formação 
moral e não meramente conteudista, mas entendia que a forma para chegar a esse objetivo era distinta da 
afetividade proposta por Pestalozzi. Sua proposta se dividia em três procedimentos fundamentais: 
 
Governo 
Controle comportamental. 
A criança deveria educar seu 
comportamento. Os primeiros 
educadores, neste caso, eram 
os pais e depois os 
professores. 
Instrução 
O processo de aprendizado 
era baseado nos interesses e 
nas aptidões do educando. 
Para Herbart, a instrução 
moral e intelectual eram parte 
de um único processo, 
formando um indivíduo pleno. 
Disciplina 
Fundamentada na autonomia. 
Cabia ao próprio aluno 
manter-se fiel aos princípios 
aprendidos e focar na 
aquisição do conhecimento. 
A disciplina era vista como 
uma virtude a ser 
desenvolvida. 
 
Dos três processos, a instrução - o processo de aprendizado propriamente dito - seria o mais importante. Não 
podemos desvincular a pedagogia científica de Herbart do seu contexto de produção. 
Herdeira da tradição iniciada por Kant acerca da racionalidade e da razão, essa pedagogia é fruto das 
transformações intelectuais ocorridas entre os séculos XVIII e XIX. A Idade Moderna era baseada no 
individualismo enquanto a Pedagogia, progressivamente, voltava-se para uma concepção mais coletiva, o 
aprender como prática social. 
 
Importante 
Tanto Herbart quanto Pestalozzi trabalharam o aprendizado como algo individual, particular, o que a 
Pedagogia contemporânea tende a rejeitar como objetivo final do processo educativo. 
 
A criança saiu do adulto em miniatura, na Idade Média, para o sujeito do pensamento pedagógico nos séculos 
XVIII e XIX. Essa premissa se torna mais evidente ao estudarmos o pensamento de um dos mais notáveis 
discípulos de Pestalozzi, o alemão Friedrich Wilhelm August Fröbel (1782-1852). 
 
Assim como Pestalozzi, Fröebel foi criado na doutrina protestante, o que influenciou sobremaneira seu 
pensamento. Desenvolveu várias ideias de Pestalozzi, criando o primeiro segmento educacional voltado 
totalmente para a criança, o que chamamos de jardim de infância. 
 
A ideia de jardim vem do princípio de a prática do educador ser semelhante à do jardineiro, que cuida de suas 
plantas até que alcancem seu total desenvolvimento. A expansão das potencialidades da criança seria 
alcançada não somente pelo aprendizado rígido, mas por uma proposta lúdica. 
Fröebel foi quem primeiro entendeu o brincar como uma forma de aprender e desenvolveu a ludicidade 
como ferramenta pedagógica. Ainda preso ao individualismo da modernidade, Fröebel propôs o 
desenvolvimento autônomo, não vinculado a uma prática coletiva, embora focasse também na moralidade 
como objetivo do processo de aprendizagem. 
 
É interessante notar que esses pensadores 
têm em comum a ideia de uma educação prática. 
 
Que o aprendizado só ocorre através do fazer e que a teoria, sozinha, é algo vazio. Essa característica está muito 
ligada à modernidade, em que a ideia do “saber fazer” se desenvolve dotando a Educação de seu caráter 
prático. 
 
Evolução não linear da Educação 
Os fatores culturais renascentistas contribuíram para a busca de uma melhor forma de educar. Embora os 
desdobramentos históricos desse movimento não tenham seguido uma linearidade, ora sendo influenciados 
pela Ciência, ora pela religião, também não se pode dizer que sofreram um ruptura definitiva; ainda somos 
guiados por alguns desses modelos quando vivenciamos a Educação. 
Para ajudá-lo a entender melhor como o modo de ver a Educação foi influenciado ao longo da História pelo 
contexto de cada época, faça o download do esquema. 
 
evolucao.pdf
Conclusão 
Considerações Finais 
Falamos sobre Renascimento ou de modernidade? De ambos! Modernidade é um termo genérico criado para 
definir o momento de ruptura e afirmação do poderio Europeu. 
Apesar de sua construção, ele é cheio de contradições, que você acompanhou ao longo deste tema. Então, uma 
vez que, no século XV – XVI, a Europa inaugura uma ruptura do pensamento, conhecida como Renascimento, 
descortina-se um conjunto enorme de possibilidades. Ao mesmo tempo, o campo religioso se coloca em 
disputa na Reforma × Contrarreforma, chegando até o Brasil e marcando a questão jesuítica. 
A Educação é influenciada e passa a ser uma métrica ocidental, valorizada, que aponta para o entendimento do 
nosso mundo. O Renascimento foi a pedra angular que inaugurou uma profunda mudança de nosso mundo. 
 
Conteudista 
Flavia Miguel de Souza 
http://lattes.cnpq.br/0912710185538910 
 
Referências 
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ABBAGNANO, N. Dicionário de Filosofia. Rio de Janeiro: Martins Fontes, 2012. 
ALBUQUERQUE, C. Preparados para atuação docente? Curitiba: APPRIS, 2016. 
AMES, J. L. Maquiavel e a educação: a formação do bom cidadão. Trans/Form/Ação, São Paulo, 31(2): 137-152, 
2008. Disponível em: http://www2.marilia.unesp.br/revistas/index.php/transformacao/article/view/986/889. 
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ARIÈS, P. História social da criança e da família. Rio de Janeiro: Guanabara, 1986. 
BALABAN, J. P. Concepção de Educação no Pensamento de John Locke. Disponível em: 
https://egov.ufsc.br/portal/conteudo/concep%C3%A7%C3%A3o-de-educa%C3%A7%C3%A3o-no-pensamento-
de-john-Locke. Acesso em: 31 jan. 2020. 
CAMBI, F. História da pedagogia. São Paulo: UNESP, 1999. 
COMBY, J. Para ler a História da Igreja. Tomo 1. São Paulo: Edições Loyola, 2001. 
http://lattes.cnpq.br/0912710185538910
LOCKE, J. Alguns pensamentos sobre a Educação. Lisboa: Edições 70, 2019. 
MAQUIAVEL, N. Discursos sobre a primeira Década de Tito Lívio. São Paulo: Martins Fontes, 2007. 
NASCIMENTO, C. T. et al. A construção social do conceito de infância: uma tentativa de reconstrução 
historiográfica. In: LINHAS, Florianópolis, v. 9, n. 1, p. 4, n. 18, jan. / jun. 2008. Disponível em: 
http://www.periodicos.udesc.br/index.php/linhas/article/viewFile/1394/1191. Acesso em: 31 jan. 2020. 
NISKIER, A. Filosofia da educação: uma visão crítica. São Paulo: Loyola, 2001. 
OLIVEIRA, T.; RUBIM, S. R. F. Reflexões sobre a influência de Maquiavel na educação e na formação do Estado 
Moderno. In: Educação em Revista. Belo Horizonte, v. 28, n. 1, p. 131-156, mar. 2012. 
SILVA, L. Kant e a Pedagogia. In: Revista Inter Ação, 32(1), 33-45. 2007. 
TODOROV, T. O espírito das luzes. São Paulo: Barcarolla, 2008. 
 
Explore+ 
1. Acesse o site do museu do Vaticano e faça um tour virtual. Perceba como a cultura renascentista – crítica 
ao pensamento religioso – manifesta-se fortemente nos espaços da cultura religiosa. 
2. Pesquise na internet sobre a cidade de Ouro Preto-MG, capital do Barroco, e veja a Arte misturando os 
elementos renascentistas, a tradição colonial brasileira e a influência da Igreja; projetos concorrentes 
que se criam e acabam impactando a Educação. 
3. Para aprofundar seu conhecimento, leia os artigos a seguir: 
• O jogo e o desenvolvimento infantil na teoria da atividade e no pensamento educacional de Friedrich 
Fröebel, de Alessandra Arce. 
• Uma leitura não tradicional de Johann Friedrich Herbart: autogoverno pedagógico e posição ativa do 
educando, de Claudio A. Dalbosco. 
• A noção de tabula rasa em Locke (p. 251-256), de Giorlando Madureirade Lima. 
4. Procure assistir ao vídeo: Os Primeiros Tempos: A Educação pelos Jesuítas, da UNIVESP. 
5. Inspirado pelo contexto da época? Viva um pouco dessa experiência por meio da obra O mercador de 
Veneza, de William Shakespeare.

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