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Direito Civil IV - Posse

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POSSE
TEORIAS SOBRE A POSSE
	A posse tem natureza jurídica de direito real, pois é um interesse juridicamente protegido, tendo com dois de seus princípios a publicidade e visibilidade. As teorias sobre a posse são constituídas sobre o elemento material (corpus[footnoteRef:1]), que é a coisa, e o elemento imaterial (animus domini[footnoteRef:2]), que é a vontade. O primeiro é o contato material com a coisa, enquanto que o segundo é a vontade de ter a coisa para si, como se fosse dono. Com essa linha de pensamento, surgiram duas teorias sobre a posse: a subjetiva, de Savigny e a objetiva, de Rudolf von Ihering. [1: Corpus: TS = contato físico. TO = aparência de proprietário] [2: Animu dominis: intenção de ter a coisa como dono; querer ser dono] 
-TEORIA SUBJETIVA: O corpus não é a coisa em si, mas sim o poder físico que alguém tem sobre a coisa, podendo dispor fisicamente dela e defende-la de agressões de quem quer que seja. Já o animus é a intenção de ter a coisa como sua; exercer o direito de propriedade como se fosse o titular.
Nessa teoria, a detenção ocorre quando o sujeito tem o corpus, mas falta-lhe o animus; o sujeito tem a coisa em seu poder, mesmo ela estando em nome de outrem. A detenção também é chamada de posse natural. Assim, para Savigny, as relações possessórias (locação, comodatário, penhor, arrendamento...) são detenções, pois é ausente o elemento animus. Conclui-se que para a configuração de posse é preciso que haja os seguintes elementos: corpus + animus + affectio tenendi[footnoteRef:3]. Frisasse, caso o elemento animus esteja ausente, configura-se a detenção. [3: Affectio tenendi: vontade de agir em relação à coisa como habilmente o faz o proprietário.] 
-TEORIA OBJETIVA: No corpus não há a necessidade de exercício de poder físico sobre a coisa. Ele é a conduta externa do indivíduo (conduta de dono) em relação à função econômica da coisa, apresentando-se com aparência de proprietário. Por outro lado, o animus não é tão somente a intenção de dono, e sim a vontade de agir como proprietário (affectio tenendi). Nesse caso, para ter a posse, não é necessário ter o animus, pois apenas a aparência já caracteriza o indivíduo como possuidor. Assim, a posse é a visibilidade de domínio. Nessa teoria, diferente da subjetiva, as relações possessórias podem ser reivindicadas por aqueles que estão em contato com a coisa (comodatário, depositário...), pois mesmo tendo apenas o corpus, aqueles são considerados possuidores. Tal qual é a afirmativa de que o corpus e o animus estão intimamente ligados, desdobrando a conduta de dono.
	Para a teoria subjetiva, a detenção se configura quando não há o corpus não esta aliado ao animus, mas sim ao affectio tenendi. Por outro lado, para a teoria objetiva, a detenção (posse degradada) ocorre quando há algum obstáculo legal, ou seja, quando a lei desqualifica a posse. Ainda assim, no segundo caso, o corpus ligado ao affectio tenendi geram posse. A detenção pode ser exemplificada nos seguintes casos: o caseiro na casa em que trabalha (art. 1.198 CC), a domestica em relação aos utensílios da patroa, a mera permissão ou tolerância (art. 1.208 CC) e etc.
Nas duas teorias existem dois termos que muitas vezes são confundidos: ius possidendi[footnoteRef:4] e ius possesionis[footnoteRef:5]. O primeiro é o direito de possuir; faculdade de exercer posse, por já ser titular de uma situação jurídica. Enquanto o segundo é o direito originado de uma situação jurídica, independente da preexistência de uma relação. Exemplo: aquele que encontra um objeto e o utiliza não tem o ius possidendi, embora tenha o ius possessionis. Mesmo assim, existem situações onde o ius possessionis pode ser convertido em ius possidendi, como ocorre na usucapião. Em ambos os casos, o indivíduo tem sua posse protegida contra atos de terceiros. [4: Há título.] [5: Não há título.] 
	O nosso sistema jurídico adotou a teoria objetiva de Ihering (art. 1.196 CC), na qual a posse é caracterizada como a conduta de dono. Em outras, tem a posse é aquele que exerce, plenamente ou não, algum dos poderes inerentes à propriedade, que são usar, gozar (=dispor)¸ dispor e reivindicar. A posse, além do exercício de tais poderes, pode ser, também, a possibilidade de tal exercício. Podemos exemplificar tal afirmativa com o caso do sujeito que adquire posse de um imóvel sem o cultivar, explorar ou visitar, ou seja. 
CLASSIFICAÇÃO DA POSSE
A) POSSE JUSTA E INJUSTA (art. 1.200 CC): A justa é aquela que não foi admitida por meio de violência, clandestinidade ou precariedade. Já a injusta é aquela na qual houve um dos três defeitos.
i) VIOLENTA: Só é adquirida após cessado o ato de força (moral, física e ameaça). Ex: roubo.
ii) CLANDESTINA: Foi adquirida pelo ocultamento em reação àquele contra quem é praticado o apossamento. Pelo fato de ocultar-se do proprietário, mas ostentar-se frente aos demais, a clandestinidade é um defeito relativo. Ex: furto.
iii) PRECARIEDADE: Ocorre um abuso de confiança, pois quem tinha a obrigação de devolver a coisa não o faz; ocorre com o fim do contrato. Ex: Apropriação indébita.
A posse será injusta contra quem se pratica o ato (legítimo possuidor), mas perante terceiros será considerada justa, por isso ela pode ser suscetível de proteção contra aquele que vier a perturbá-la.
B) POSSE DE BOA-FÉ E DE MÁ-FÉ (art. 1.201 CC): As duas categorias são classificadas pela posição psicológica do possuidor. A posse de má-fé é aquela na qual o indivíduo tem consciência da ilegitimidade de seu direito; ele sabe da existência dos defeitos quando adquire a coisa. Por outro lado, a posse de boa-fé é o contrário, pois o indivíduo tem a convicção de que procede em conformidade com as normas, portanto é legítimo quanto à posse, mesmo que equivocadamente não o seja. 
C) POSSE COM JUSTO TÍTULO: O título refere-se à causa (elemento causador) da relação jurídica, enquanto o justo alude ao título hábil para a transferência da propriedade. Aquele que possui com justo título tem por si a presunção de boa-fé, que pode ser destruída com prova contrária. 
Aquele que recebe, por título hereditário, posse originária injusta, sem saber do seu defeito, não tem esse apagado, pois continua na mesma posse com os mesmos vícios. 
Todo título que não foi hábil a transferir o domínio, não é justo e, consequentemente, não gera presunção de boa-fé. 
D) POSSE AD INTERDICTA E AD USUCAPIONEM: A posse ad interdicta é aquela que pode ser defendida por interditos possessórios[footnoteRef:6], amparando o possuidor contra turbador ou esbulhador. Ela é alcançada pelos interditos apenas com a demonstração dos elementos essenciais que são a existência da posse e a moléstia à posse. Já na posse ad usucapionem além dos elementos essenciais será necessária a incidência de outros elementos acidentais, como a boa-fé, decurso de tempo suficiente, posse mansa e pacífica, justo título e etc. Com a existência de tais elementos, a posse fica suscetível a gerar direito de propriedade para quem a possuiu. [6: Ação judicial para a defesa ou recuperar a posse.] 
E) POSSE DIRETA E INDIRETA (art. 1.197 CC): As posses direta e indireta coexistem no tempo e no espaço, por isso não são autônomas. Elas são comportadas, apenas, pela teoria de Ihering, pois nela aquele que exerce qualquer uma das faculdades da posse, é considerado possuidor (posse = visibilidade de domínio). Elas surgem com o desdobramento jurídico da posse (locação, usufruto, depósito, comodato, penhor...). Com isso, por força de contrato, o titular do direito real “cede” a coisa e é chamado de possuidor indireto ou mediato e aquele que a recebe é denominado possuidor direto ou imediato. Esse último tem o contato físico com a coisa; a tem em seu poder, temporariamente, em virtude de direito pessoal ou real. Ambos podem defender sua posse contra terceiro, inclusive o direito o pode fazer contra o indireto. Ainda assim, os desdobramentos da posse podem ser sucessivos. Desse modo, o último integrante da relação do desdobramento sempre será o direto, como ocorre nos casosde sublocação. Podemos classificar o locatário e o comodatário como possuidor indireto e o locador e comodante como possuidor direito.
F) POSSE NOVA E VELHA: A primeira é aquela com menos de um ano e um dia e a segunda é posse de um ano e um dia ou mais. 
Não se deve confundir a posse nova e a posse velha, com a ação de força nova e a ação de força velha, respectivamente. Na posse, o tempo se refere à idade da posse, enquanto que na ação, leva-se em conta o tempo desde à ocorrência da turbação ou do esbulho [Por isso, o art. 924 CPC dispõe que a ação possessória poderá ser intentada quando a turbação/esbulho tiver sido praticado dentro de 1 ano e 1 dia. Caso passado esse prazo, o procedimento será pelo rito ordinário, sem direito à liminar, e podendo, ainda, perder caráter possessório].
COMPOSSE
	A posse exclusiva é aquela na qual apenas uma pessoa — física ou jurídica — é possuidora sobre a mesma coisa, tanto posse plena, quanto direta ou indireta. Por outro lado, a composse (art. 1.199 CC), também chamada de compossessão, ocorre o inverso. Nela, duas ou mais pessoas exercem, sobre a mesma coisa indivisa, os poderes inerentes à propriedade. A composse pode ser observada nos casos de condomínios, nos quais os condôminos são os compossuidores das áreas de uso comum (halls de entrada, corredores, portaria, elevadores, área de lazer e etc.), bem como nos casos de marido e mulher em regime de comunhão de bens, coerdeiros antes da partilha e etc.
Ressalta-se na relação interna, cada possuidor é titular do direito da propriedade. Assim, um indivíduo não tem a coisa por inteiro, mas ela se fraciona para que cada um a utilize separadamente, por cota ideal. Destarte, cada um deve utilizá-la de modo que não anule o direito do outro. Todavia, nas relações externas[footnoteRef:7], um compossuidor pode agir como se fosse o único dono da coisa. [7: Relações com aqueles que não são compossuidores; terceiros. ] 
A composse pode vir a cessar por meio da divisão da coisa, que pode ser amigável ou judicial. Nesse caso, cada sócio presume-se na posse da arte que lhe toca. Outro meio de cessação seria pela posse exclusiva de um dos sócios que, sem a oposição dos demais, isole a coisa e passe a utilizá-la com exclusividade, implicando, assim, uma divisão de fato.
Não se deve, no entanto, confundir composse com posses paralelas (posses múltiplas). Nesse ultimo caso, ocorre a concorrência ou sobreposição de posses, que é a existência de posses de natureza diversa sobre a mesma coisa.
AQUISIÇÃO DA POSSE
	A aquisição da posse se diferencia da aquisição da propriedade, pois a primeira é um estado de fato, não sendo necessário remontar à sua origem, enquanto que na segunda é necessário demonstrar a prova da origem ou o motivo que a engendrou. 
Os modos de aquisição da posse se aplicam, genericamente, de três formas: inter vivos (compra e venda, doação...) e mortis causa (herança, legado) e judiciais (arrematação, partilha em inventário, adjudicação e etc).
	Conforme disposto no art. 1.204 do Código Civil de 2002, “adquire-se posse desde o momento em que se torna possível o exercício, em nome próprio, de qualquer dos poderes inerentes à propriedade”.
	Os modos de adquirir a posse classificam-se em originários e derivados. Os primeiros são definidos como um estado de fato da pessoa, em relação à coisa, sem nenhuma existência de posse anterior, enquanto que os segundos pressupõem uma existência de posse anterior, transmitida ou transferida ao adquirente. Em tese, a posse originária é aquela que nunca foi de ninguém e a posse derivada é aquela que incide sobre uma coisa que já tinha dono, ou seja, era de uma pessoa e passou para outra.
	A aquisição da posse poderá ser efetuada (a) pela pessoa que a pretende. O agente pratica por si mesmo o ato gerador da relação jurídica possessória, instituindo a visibilidade do domínio e tornando-se ipso facto[footnoteRef:8] possuidor. Outro meio de aquisição é (b) por via de representante ou procurador. [8: Consequentemente; por isso mesmo; pelo mesmo fato.] 
AQUISIÇÃO ORIGINÁRIA DA POSSE
	Nesse modo de aquisição da posse, não há relação de causalidade entre a posse originária e a anterior; não há o consentimento do possuidor precedente. Desse modo, caso a posse anterior tenha vícios, esses não prevaleceram na nova posse. 
	Como toda regra tem uma exceção, essa e trazido pelo art. 1.207 CC. A segunda parte do dispositivo nos mostra que há a possibilidade do caráter com que a posse foi adquirida ser mantido. Isso só ocorrerá quando o sucesso singular unir a sua posse à de seu sucessor. Nesse caso, caso a posse tenha vícios, esses prevaleceram. 
A posse adquire-se, originalmente, pela apreensão da coisa, pelo exercício do direito ou pelo fato de se dispor da ousa ou do direto:
- APREENSÃO DA COISA: Ocorre com a apropriação da coisa “sem dono[footnoteRef:9], por ato unilateral do adquirente. Quando um indivíduo retira coisa de outrem sem sua permissão e o primitivo possuidor se omite, não reagindo imediatamente para defender sua posse ou por meio de interditos, configura-se, também, um caso de apreensão. A posse terá seus vícios dissipados, mesmo sendo injusta perante o primitivo possuidor, e terá proteção contra terceiros. No caso de bens móveis, além da existência de contato físico, é preciso que o possuidor desloque o bem para sua esfera de influência. [9: Res derelicta (coisa abandonada) e res nullis (coisa que não é de ninguém).] 
- EXERCÍCIO DO DIREITO: Um dos casos no qual a posse é adquirida pelo exercício do direito é o da servidão. Outro caso é dos direitos reais sobre coisas alheias. Ainda assim, é preciso muita atenção, pois não é o exercício de qualquer direito que constitui modo originário de aquisição da posse, mas somente aqueles direitos que podem ser objeto de relação possessória, como o caso da servidão, uso e etc. Exemplo: o cultivo de um campo abandonado é caracterizado como apreensão, mas a passagem constante de água por um terreno alheio constitui o exercício do direito.
- DISPOSIÇÃO DA COISA OU DO DIREITO: é um desdobramento do exercício do direito. Quando se dispõe da coisa ou do direito, é possível a induzir a condição de possuidor.
AQUISIÇÃO DERIVADA (BILATERAL) DA POSSE
Quando a posse decorre de uma relação jurídica, observa-se a aquisição derivada, ou seja, quando há consentimento do antigo possuidor e a posse é transferida/transmitida, diferente do que ocorre no modo de aquisição originário. Tal transmissão pode ser por meio da tradição ou da sucessão inter vivos e causa mortis:
- TRADIÇÃO: Esse é o ato de aquisição mais frequente no mundo e caracteriza-se por um acordo de vontades que acontece antes do ato da tradição, por isso é classificado como aquisição bilateral. A tradição é o ato de entrega/transferência da coisa, passando, assim, do antigo ao novo possuidor e pode ser verificada com a presença da i) entrega da coisa, ii) intenção de transferir e receber a coisa e iii) justa causa (negócio jurídico). Ela se divide em três espécies:
a) REAL: acontece com a entrega efetiva e material da coisa.
b) SIMBÓLICA: é um ato que traduz a alienação. Não se trata da entrega material da coisa, mas sim de um simbolismo que indica o propósito de transmitir a posse; demonstração de que o adquirente passa a ter a disponibilidade da coisa. Ex.: entrega das chaves de um apartamento ou um veículo. 
c) FICTA: é a tradição no caso do constituto possessório (cláusula constituti). Ex: quando o vendedor transfere a outrem o domínio da coisa, mas conserva-a, em seu poder, como locatário; esse vendedor perde a posse de dono e adquire a posse de locatário. Tal cláusula não se presume e, por isso, deve constar expressa. Com ela, a posse desdobra-se em direta e indireta. Em tese, na tradição ficta, aquele que tinha a posse plena da coisa, passa a possuí-la em nome de outrem, pois passa a ser o possuidor direto.
Outro modo de tradição ficta é por meio da traditio brevi manu. Nesse caso, ocorre o contrario do constituto possessório, pois o possuidor de coisa alheia passa a possuí-lacomo própria. Ex.:o arrendatário que adquire o imóvel arrendado, tornando-se proprietário. 
Em ambos os casos, o possuidor mantem o corpus da coisa e altera o animus.
	
- SUCESSÃO NA POSSE: De acordo com os arts. 1.206 e 1.207 CC, a posse pode ser adquirida em virtude de sucessão inter vivos e causa mortis, respectivamente. 
a) INTER VIVOS: Opera-se, em geral, a título singular e so casos mais comuns são os de compra e venda de alguma coisa e doação. A acsessio possessionis[footnoteRef:10] é facultativa. Por isso o comprador pode optar por unir sua posse a do antecessor (nesse caso os vícios permanecem) ou desligar sua posse da do antecessor, caracterizando nova posse (os vícios desaparecem). [10: Acessão da posse; posse adquirida de forma devrivada,] 
b) CAUSA MORTIS: Pode haver a sucessão universal, que é quando o herdeiro é chamado para suceder na totalidade da herança, fração ou porcentagem dela. Ex.: sucessão legítima, sucessão testamentária...
No caso sucessão a título singular, o testador deixa ao beneficiário um bem certo e determinado, denominado legado. Ex.: sucessão testamentária.
No título universal existe a successio possessionis[footnoteRef:11], enquanto que no título singular existe a accessio possessionis. [11: Sucessão da posse.] 
PERDA DA POSSE
	A perda da posse (art. 1.223 CC) dá-se nos casos de abandono, tradição, perda propriamente dia da coisa, destruição da coisa, colocação da coisa fora do comércio e posse de outrem, conforme veremos a seguir:
A) ABANDONO: Acontece quando o possuidor renuncia a posse, manifestando, voluntariamente, a intenção de largar a coisa. Ex.; quando o indivíduo joga alguma coisa sua na rua. Ainda assim, nem sempre o abandono de alguma coisa significa abandono (derelictio) de propriedade. Ex.: para se salvar de um navio que esta afundando, jogam-se diversas coisas ao mar e aquele que adquire essas coisas não é legítimo para tal. 
B) TRADIÇÃO: Há a intenção de transferir a posse a outrem. Quando ocorre a entrega da coisa, gera-se a demissão da posse e sua consequente perda. Trata-se de uma perda por transferência.
C) PERDA PROPRIAMENTE DITA DA COISA: Quando um bem determinado desaparece, involuntariamente, tornando-se impossível de encontra-lo e exercer o poder físico sobre ele. Se a perda da coisa se deu em casa, a posse não foi perdida. Caso aconteça na rua, há a perda da posse. Ex.: o pássaro que foge da gaiola; relógio que se perde a rua.
D) DESTRUIÇÃO DA COISA: Há o perecimento do objeto, extinguindo-se o direito. Tal perecimento pode resultar de acontecimento natural (ex.: cachorro que morre devido à idade avançada) ou fortuito (raio cai em cima de um cachorro e o mata). Ainda pode ocorrer devido à fato do próprio possuidor, como o motorista que bate o carro por imprudência, ou, também, por fato de terceiro.
Ainda assim, também perde-se a posse quando a coisa perde qualidades essenciais à sua utilização ou valor econômico. Ex.: campo invadido pelo mar.
E) COLOCAÇÃO DE COISA FORA DO COMÉRCIO: Bens que se tornaram inalienáveis ou inaproveitáveis.
F) POSSE DE OUTREM (solo corpore): É também a perda da posse o esbulho por terceiro que passa a possuir a coisa.
DIREITO REAL – DIREITO DE PROPRIEDADE
	No art. 1.225 CC, estão enumerados direito de propriedade que é o mais completo, conferindo ao seu titular os poderes de usar, gozar/fruir, dispor os direitos reais, concernente ao direito das coisas.	Dentro eles, há o e reivindicar a coisa. Quando todos esses elementos estiverem com uma pessoa, ela será chamada de proprietária plena.
	Por outro lado, a propriedade pode ser limitada quando algum ou alguns dos quatro poderes se incorporam no patrimônio de outra pessoa. Ex.: no usufruto, o direito de usar e gozar ficam com o usufrutuário e o nu-proprietário fica com o direito de dispor e reivindicar.
No inciso I do art. 1.225 CC esta o direito de propriedade. Nos demais incisos estão os direitos que são desdobramentos do I e são chamados de direitos reais menores. Nesse sentido, os direitos de gozo/fruição são aqueles previstos no inciso II ao VI (superfície, servidões, usufruto, uso, habitação e o direito do promitente comprador do imóvel). Enquanto os direitos de garantia estão no inciso VIII ao X (penhor, hipoteca e a anticrese).
Vale mencionar que no direito brasileiro, o contrato não basta para a transferência do domínio dos direitos reais, pois ele apenas criam obrigações e direitos.
	A legislação brasileira não define o que é propriedade, mas apenas limita-se a enunciar os poderes do proprietário, conforme art. 1.228 CC. Mesmo assim, com tais elementos pode-se atribuir uma definição ao direito de propriedade como sendo um poder jurídico atribuído a uma pessoa para usar, gozar, dispor e reivindicar um bem corpóreo ou não, em sua plenitude e dentro dos limites estabelecidos na lei.
	Nessa ideia, quando todos os já citados elementos constitutivos estiverem reunidos em uma só pessoa, ela será a titular da propriedade plena. Caso ocorra o fenômeno do desmembramento, um ou alguns dos poderes passarão para outra pessoa, e a propriedade será limitada. 
	A função social da propriedade esta prevista no art. 5o, XXII e XXIII da Constituição Federal, bem como no art. 1.228, §§ 1o,2o, 3o e 4o do CC. Portanto, deve haver o reconhecimento da supremacia do interesse público sobre o interesse particular, nas decisões com relação à propriedade.
ELEMENTOS CONTITUTIVOS DA PROPRIEDADE (art. 1.228)
A) USAR (jus utendi): É a faculdade de o dono servir-se da coisa e de utilizá-la da maneira que entender mais conveniente, com a condição de não alterar a sua substância. A utilização deve ser feita dentro dos limites legais e de acordo com a função social da propriedade. Tal elemento também permite ao dono a não utilização da coisa, deixando-a inerte em seu poder, podendo usá-la quando bem entender.
B) GOZAR/FRUIR (jus fruendi): é o poder de perceber os frutos naturais e civis da coisa e de aproveitar economicamente os seus produtos.
C) DISPOR (jus abutendi): compreende o poder de transferir a coisa; gravá-la em ônus; aliená-la a outra a qualquer título. É um dos mais importantes, pois mais se revela dono aquele que dispõe da coisa do que aquele que a usa.
D) REIVINDICAR (rei vindicatio): consiste no direito de reaver a coisa das mãos de quem injustamente a possuía ou detenha. Envolve a proteção específica da propriedade, que se perfaz pela ação reivindicatória.
PRINCÍPIOS
1) Direito absoluto: titular definitivo; sujeito ativo é o proprietário; sujeito passivo é erga omnes; se a propriedade for um bem imóvel, para se ter a oponibilidade erga omnes é preciso o seu registro no RI (registro de imóveis).
2) Extensividade (art. 1.229 e 1.230 do CC): propriedade abrange o solo, o subsolo e o espaço aéreo, dentro dos limites da razoabilidade
3) Perpetuidade: a propriedade permanece nas mãos do proprietário enquanto for de seu interesse, inclusive transmiti-lo aos seus herdeiros. Há exceção no caso da propriedade fiduciária, na qual se extingue independente da vontade do proprietário do bem. Outra exceção é a propriedade resolúvel, 
MODOS DE AQUISIÇÃO DA PROPRIEDADE IMOBILIÁRIA
A- REGISTRO DE TÍTULO
Segundo o art. 1.245 do CC, tal modo de aquisição ocorre entre vivos, havendo vínculo entre as partes. A escritura ou contrato deve ser levado a registro no Registro de Imóveis para ser válido. A prenotação (requerimento – protocolo) torna eficaz o registro. Logo, para o sistema imobiliário brasileiro, o registro tem natureza aquisitiva de domínio, produzindo efeito contra os negociantes e contra os terceiros.
Na hipótese de contrato de promessa de compra e venda, a súmula 84 do STJ admite, ainda que desprovida de registro, que um promitente comprador faça uso de embargos para defender tal posse. 
O registro gera os seguintes atributos:
˚publicidade: torna público a todos
˚veracidade
˚legalidade
˚obrigatoriedade
˚continuidade
˚força probatente: o registro serve como prova
˚prioridade
˚especialidade: registros específicos para os imóveis da região.
	O efeito do registro dotítulo é a aquisição de direitos reais (propriedade, servidão, hipoteca e etc.) e a legislação pertinente é a Lei de Registros Públicos (lei. 6.015/73)
ATOS DE REGISTRO DE IMÓVEIS
1- Matrícula: esta prevista entre os arts. 227 a 235 da LRP e é o registro inaugural do imóvel, especificando o estado do imóvel, tanto em seus aspectos físicos com jurídicos. Ela só pode ser cancelada mediante determinação judicial, desdobro (divisão de lotes) ou fusão.
2- Registro: pelo art. 167, I da LRP, todos os atos que influenciem no uso, gozo e disposição de um imóvel devem ser registrados.
3- Averbação: pelo art. 167, II da LRP, ocorrem as alterações em registros já existentes, referentes às alterações físicas ou jurídicas.
B- ACESSÕES IMOBILIÁRIAS 1:06:12
FONTES
Caio Mário da Silva Pereira – Instituições de Direito Civil Volume IV, Direitos Reais – Ed. Forense – 23ª edição, 2015 – Rio de Janeiro.
Carlos Roberto Gonçalves – Direito Civil Brasileiro 5, Direito das Coisas – Ed. Saraiva – 9ª Edição, 2014 – São Paulo.

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