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1 NÚCLEO DE PRÁTICA JURÍDICA - EPII Campus Duque de Caxias – RJ. Aluna: Clarissa de Oliveira Leopoldino Matricula n°: 201512219381 Campus: Duque de Caxias Disciplina: EpII Coordenação do Núcleo de Práticas Jurídicas: Marcílio Cunha Atividade: Parecer Jurídico – (DIREITOS HUMANOS) PARECER JURÍDICO SOBRE APLICAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS NA ATUAÇÃO DA POLÍCIA MILITAR NA PANDEMIA DO COVID-19 EMENTA: DIREITOS HUMANOS. DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA. CONSTITUIÇÃO FEDERAL. ABORDAGEM POLICIAL. DIREITO CRIMINAL. PANDEMIA. COVID-19. INTERESSADO: MARCÍLIO CUNHA DATA: 29/05/2020 1- RELATÓRIO Trata-se de Parecer sobre abuso de poder exercido pela Policia no qual viola direitos garantidos pela Carta Magna. As condições da presente análise envolvem a abordagem da Policia ao comerciante José, que por estar passando por necessidades para manter sua subsistência e o sustento de sua família diante dos tempos de pandemia do Novo CoronaVirus, resolveu abrir sua loja para atender pedido de um cliente. Mesmo descumprindo o Decreto do Estado, o Sr. José por estar passando por dificuldades financeiras abre sua loja, mas segue todas as recomendações e medidas de segurança, como uso de mascara de proteção para evitar possível contaminação. Ocorre que, a situação mencionada veio a tomar uma maior proporção, pois na referida abordagem de forma incisiva os policiais insistem no fechamento da loja. Apos fechar a loja, os policiais informam ao Sr. José, que o mesmo será algemado e encaminhado à Delegacia Policial. Descontrolado emocionalmente, levando o Sr. José a uma convulsão, por ser portador de epilepsia. E ainda assim foi levado, algemado pelos policiais. UNIDADE DUQUE DE CAXIAS É o Relatório, passa-se ao parecer opinativo. 2- FUNDAMENTOS JURÍDICOS O Direito relacionado ao objeto do presente parecer, vem primordialmente estruturado na Constituição Federal de 1988 juntamente com a Declaração Universal dos Direitos Humanos, em especial no artigo 1° e 5° da Carta Magna e no artigo 5° da Declaração dos Direitos Humanos, que assim dispõem: Artigo 5º – “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo- se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade.” Alinhado ao caso concreto, podemos observar que vários diretos do Sr. José foram violados, tais como; direito a dignidade, violação do seu domicílio, direito a integridade física, prisão arbitrária. DIREITO A DIGNIDADE Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: III - a dignidade da pessoa humana; VIOLAÇÃO DE DOMICÍLIO Artigo 5° da CF - XI - a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial; DIREITO A INTEGRIDADE FÍSICA Artigo 5° da CF - III - ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante; PRISÃO ARBITRÁRIA Artigo 5° da CF - LXI - ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada de autoridade judiciária competente, salvo nos casos de transgressão militar ou crime propriamente militar, definidos em lei; Vivemos num país com leis consideradas avançadas do ponto de vista político e jurídico, o que pode ser usado por nós como uma grande estratégia para se alcançar a Cidadania. No entanto, estamos mais do que nunca convencidos de que as leis só cumprirão o seu papel fundamental à medida que forem verdadeiramente utilizadas como meio de garantia dos direitos. O uso da força policial de forma incisiva e desprepara acaba violando direito que em tese deveriam ser invioláveis, principalmente pelo Estado, que é quem deveria nos garantir a aplicação dessas normas garantidoras. Contudo, o estado de saúde do Sr. José agrava ainda mais o método de interpelação dos agentes policiais, sendo extremamente desnecessário o uso das algemas, uma vez era clara a falta de risco que o Sr, José causaria aos policiais. O indiscriminado e excessivo uso das algemas viola, ademais, o princípio da presunção de inocência (art. 5º., LVII). Neste sentido, conferir Roberto Delmanto Junior. Este autor cita, a propósito, Sérgio Marcos de Moraes Pitombo: “o uso abusivo de algemas se constitui em prática atroz, bestial ou aviltante, podendo chegar à tortura.” Devem ainda ser indicados dois pactos internacionais, ambos promulgados pelo Brasil, que também proclamam o respeito à integridade física e moral dos presos, o que impede a utilização indiscriminada de algemas: Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos (Decreto 592, de 06 de julho de 1992 – art. 10) e Convenção Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de São José da Costa Rica, promulgado pelo Decreto 678, de 06 de novembro de 1992 – art. 5º.). Sobre a validade, no plano interno, destes documentos internacionais, veja-se o art. 5º.,§ 2º. da Constituição Federal: Artigo 5º- § 2º - Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte. A propósito, Fábio Konder Comparato ensina que “a tendência predominante, hoje, é no sentido de se considerar que as normas internacionais de direitos humanos, pelo fato de expressarem de certa forma a consciência ética universal, estão acima do ordenamento jurídico de cada Estado. (…) Seja como for, vai-se afirmando hoje na doutrina a tese de que, na hipótese de conflitos entre regras internacionais e internas, em matéria de direitos humanos, há de prevalecer sempre a regra mais favorável ao sujeito de direito, pois a proteção da dignidade da pessoa humana é a finalidade última e a razão de ser de todo o sistema jurídico.” É o chamado princípio da prevalência da norma mais favorável. Segundo Perez Luño, “este processo de afirmação internacional dos direitos humanos (…) abre – apesar de tudo – uma esperança em uma humanidade definitivamente livre do temor em ver constantemente violados seus direitos mais essenciais.” Ou seja, diante do extremo abuso de autoridade exercida pela policia diante do fato de descumprimento do Decreto Estadual que impede a abertura de estabelecimentos comerciais que não se encaixam em serviços essenciais, e que ainda com o descumprimento eminente não justifica a ação da policia ao caso. Devendo deixar claro que o Sr. José é portado de epilepsia, e no ato da prisão teve uma crise epilética, e ainda assim algemando-o e o encaminhando à Delegacia. A melhor técnica jurídica para o caso em questão é buscar o amparo judicial em uma Ação Civil buscando indenização pelo Dano Moral causado ao Sr. José, que tinha o único objetivo com a abertura de sua loja, que era garantir alimento para sustentar seus filhos, conforme precedente sobre o tema: APELAÇÕES CÍVEIS. ABUSO DE AUTORIDADE. RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO. DANO MORAL CONFIGURADO. PEDIDO DE AUMENTO DO QUANTUM INDENIZATÓRIO. VALOR ADEQUADO. 1. O Estado é responsável pelos danos decorrentes de atos ilícitos praticados pelos seus agentes (art. 37, § 6º. da CF), configurado ao caso ocorrência de abuso de autoridade. Isso porque os milicianos adentraram em residência particular sem consentimento do morador e na ausência de mandado de busca e apreensão, tendo, ainda, abordado e algemado o autor com outros dois adolescentes (Lei n.º 4.898/65, art. 3º, “ b” ). 2. Deriva do ato arbitrário praticado a caracterização do dano moral, consubstanciado no abalo aos atributos próprios da personalidadeda vítima, tais como auto-estima, honra, credibilidade, tranqüilidade, etc. 3. O quantum fixado na origem, a título de dano moral, mostra-se adequado à espécie ao contemplar a recomposição devida com compensação pecuniária compatível com a gravidade do ilícito e seus consectários. Ademais, o Juízo a quo, devido à proximidade dos fatos narrados no caderno processual, está mais aparelhado para bem decidir o valor mais razoável de fixação indenizatória, ante a inocorrência nos autos de qualquer manifestação de valor excessivo ou arbitrário. 4. Apelações conhecidas e desprovidas. (TJ-DF - APC: 20110112043153, Relator: SILVA LEMOS, Data de Julgamento: 16/12/2015, 5ª Turma Cível, Data de Publicação: Publicado no DJE : 28/01/2016 . Pág.: 150) APELAÇÃO CÍVEL. SUBCLASSE RESPONSABILIDADE CIVIL. DANO MORAL. PODER PÚBLICO. RESPONSABILIDADE OBJETIVA. ABORDAGEM POR POLICIAIS DA BRIGADA MILITAR. ABUSO DE AUTORIDADE CONFIGURADO. DEVER DE INDENIZAR CARACTERIZADO. SENTENÇA REFORMADA. 1, Considerando que a prova testemunhal deixa clara a ocorrência de abuso de poder por parte dos policiais, resta configurado, assim, o dever de reparar do Estado do Rio Grande do Sul, aferido sob a sistemática da responsabilidade objetiva, nos termos do art. 37, § 6º, da Constituição Federal. 2. Caso em que não se justificava a abordagem, a voz de prisão e, muito menos, a imposição de algemas ao autor. Apelação provida, por maioria. (Apelação Cível Nº 70063210264, Nona Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Iris Helena Medeiros Nogueira, Julgado em 25/03/2015). (TJ-RS - AC: 70063210264 RS, Relator: Iris Helena Medeiros Nogueira, Data de Julgamento: 25/03/2015, Nona Câmara Cível, Data de Publicação: Diário da Justiça do dia 06/04/2015). Ademais, este é o entendimento majoritário na doutrina: Para José Afonso da Silva, “a dignidade da pessoa humana é um valor supremo que atrai o conteúdo de todos os direitos fundamentais do homem, desde o direito à vida.” Célia Rosenthal Zisman anota ainda que “a consciência da dignidade do homem, a evolução da humanidade que se verifica com a aceitação da necessidade de respeito do homem como pessoa, leva ao entendimento de que a dignidade depende do respeito aos direitos fundamentais por parte de cada indivíduo da sociedade e também por parte do Estado.” 3- CONCLUSÕES Considerando todo o abordado, mesmo com o evidente descumprimento do Decreto Estadual pelo Sr. José, nada justifica a abordagem extremamente despreparada dos agentes policiais. São eminentes as violações dos Direitos Constitucionais e violação dos Direitos Humanos, que deveria ser aplicada principalmente pelo poder do Estado, nesse caso figurado nos agentes Policiais. Diante de todo o exposto, deve ser proposta uma Ação de Responsabilidade Civil com pedido de Indenização pelos Danos Moais causados pelos agentes. Valendo lembrar que, nenhum valor auferido compensará os danos sofridos pelo Sr. José, que foi humilhado perante todos. Duque de Caxias, 29 de Maio de 2020 Nome e Assinatura do advogado
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