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Capítulo 9 - Placentação comparada - Embriologia Veterinária - Poul Hyttel

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Capítulo 9
Placentação comparada
Morten Vejilsted
Na cavidade uterina, o embrião é nutrido, inicialmente, pela secreção das glândulas
uterinas. Estes produtos são conhecidos como histotrofos ou leite uterino.
Entretanto, no decorrer do desenvolvimento, esta nutrição torna-se inadequada. Para
contrabalancear a insuficiência nutricional o próprio embrião estabelece uma
conexão entre os tecidos embrionários, os quais são vascularizados pelo próprio
embrião, e pelo sistema circulatório materno. Este fato permite ao embrião importar
nutrientes maternos do sangue, hemotrofo, e exportar seus próprios dejetos. Juntos,
histotrofos e hemotrofos são denominados embriotrofo. Para realizar as trocas
materno-fetais um órgão temporário, a placenta, é formado pela contribuição dos
tecidos embrionários e maternos. Como será explicado a seguir, a formação da
placenta (placentação) necessita sincronizar os locais de receptividade uterina e do
desenvolvimento embrionário.
Em roedores e primatas, os blastocistos eclodidos fixam-se no epitélio
endometrial e, devido à invasão natural do trofoectoderma nestas espécies, o embrião
penetra no epitélio e invade o tecido conjuntivo no qual ele se torna completamente
embebido. Este processo, pelo qual o embrião deixa o lúmen uterino, é conhecido
como implantação. Nos animais domésticos, entretanto, o embrião permanece
fixado à superfície endometrial interna ao longo de toda a gestação e, exceto nos
carnívoros, a placentação é não invasiva.
Desenvolvimento do concepto peri-implantação
Na maioria dos animais domésticos, o embrião alcança a cavidade uterina antes da
blastulação (Cap. 6). No fim da blastulação, o embrião consiste em uma esfera de
trofoectoderma circundando a massa celular interna e a cavidade blastocística
(Fig. 9-1). Quando atrelado à formação da placenta, o trofoectoderma é denominado
trofoblasto. Como a maioria dos tecidos extraembrionários, o trofoblasto é essencial
durante a vida intrauterina, entretanto, ele é expelido no parto como parte da
placenta.
162
Fig. 9-1 Desenvolvimento das membranas extraembrionárias apresentadas em seções
longitudinais progressivas dos embriões (A a F). 1: Massa celular interna; 2: Trofoectoderma; 3:
Cavidade blastocística; 4: Epiblasto; 5: Hipoblasto; 6: Mesoderma intrauterino; 7: Endoderma;
8: Mesoderma extraembrionário somático; 9: Mesoderma extraembrionário visceral; 10: Saco
vitelino primitivo; 11: Intestino primitivo; 12: Alantoide; 13: Saco vitelino definitivo; 14:
Celoma extraembrionário; 15: Cório; 16: Esplanopleura; 17: Fusão entre a parede do saco
vitelino e o cório permitindo a formação da placenta coriovitelina; 18: Cavidade amniótica: 19:
Mesoâmnio; 20: Corioalantoide permitindo a formação da placenta corioalantoide. G: Em
bovinos e suínos, o cório e a porção dorsal da parede do âmnio permanece fusionada no
mesoâmnio. H: Em equinos e cão, o alantoide circunda completamemte o âmnio.
163
No momento da eclosão da zona pelúcida, a massa celular interna diferencia-se
em epiblasto e hipoblasto (Fig. 9-1). O hipoblasto gradualmente forma um
revestimento interno do epiblasto e do trofoectoderma. Quando formada, a cavidade
fechada pode ser denominada saco vitelino primitivo, análogo ao saco vitelino
encontrado nos embriões de aves. O processo de gastrulação resulta no
estabelecimento das três camadas germinativas: endoderma, mesoderma e ectoderma
(Cap. 7). Durante este processo, o endoderma gradualmente desloca o hipoblasto
sob o epiblasto. Entretanto, o mesoderma extraembrionário divide-se nas lâminas
somática (ou parietal) e visceral (ou esplâncnica) revestindo o celoma
extraembrionário. O mesoderma somático extraembrionário associado a
trofoectoderma origina o cório, enquanto o mesoderma visceral juntamente com o
hipoblasto e endoderma formam a esplancnopleura. Por fim, do saco vitelino
primitivo (Cap. 7), as dobras do corpo do próprio embrião resultam na formação do
intestino primitivo e do saco vitelino definitivo. A parede do saco vitelino
definitivo estabelece uma fusão com o cório em algumas espécies para formar a
placenta coriovitelina.
O alantoide se desenvolve da evaginação do intestino posterior (Fig. 9-1). A
evaginação ocorre após a formação do saco vitelino definitivo e, devido a sua origem
no intestino posterior, sua parede é composta internamente pelo endoderma e
externamente pelo mesoderma visceral, as duas camadas juntas formam a
esplancnopleura. Os vasos sanguíneos são formados, incialmente, no mesoderma
visceral do saco vitelino, e este desenvolvimento permitirá posteriormente a
vascularização do mesoderma visceral associado ao alantoide (Cap. 12). Em
contrapartida, o mesoderma somático, incluindo aquele do cório, permanece
inicialmente avascular. Com o desenvolvimento embrionário, o alantoide
gradualmente expande-se no celoma extraembrionário, ocupando a maior parte da
cavidade embrionária. O corioalantoide é formado da junção da parede do cório e
do alantoide, o qual se torna gradualmente vascularizado dos vasos no mesoderma
visceral alantoico originando a placenta corioalantoide.
Mudanças no endométrio e reconhecimento materno da prenhez
Durante o período de livre movimentação do embrião na cavidade uterina, o útero
prepara-se para a placentação. Os estrógenos e a progesterona são os principais
hormônios produzidos nos ovários (Cap. 3). Os altos níveis de estrógenos são
secretados no sangue circulante durante o proestro e o estro (a fase folicular do ciclo
estral); a progesterona predomina durante os períodos subsequentes de metaestro e
diestro (fase luteal) quando o embrião move-se da tuba uterina para o útero. É nesta
164
fase do ciclo de produção de hormônios ovarianos que são estimuladas mudanças
marcantes no endométrio, o revestimento interno do útero.
Durante o proestro e o estro, o aumento dos níveis de estrógenos induz a
proliferação das glândulas uterinas e ingurgitamento do estroma uterino com sangue
(resultante de hiperemia e congestão) e fluido extracelular (edema). A genitália
externa, notavelmente a vulva, torna-se edemaciada, a qual pode ajudar no
diagnóstico do cio. Durante o metaestro, o edema endometrial diminui e alguns vasos
congestos rompem-se. Este fenômeno denominado metrorragia pode conter sangue e
corrimento vulvar, indicando, na vaca, que o estro já passou.
A proliferação das glândulas endometriais continua durante o metaestro, e
durante o diestro as glândulas alcançam um estado máximo de atividade secretória.
Consequentemente, a secreção de glândulas uterinas é maior durante os primeiro
onze dias de diestro, promovendo nutrição histotrófica ao embrião. Se a prenhez não
ocorrer, segue a involução do endométrio, resultando na regressão do corpus luteum
ou corpo lúteo.
A luteólise deverá ser evitada se a prenhez continuar. A manutenção do corpo
lúteo é baseada no reconhecimento materno da prenhez, no qual uma série de
eventos depende do desenvolvimento sincronizado do embrião e de um endométrio
receptivo. Para sinalizar a sua presença no útero, o embrião previne a luteólise
enquanto se sobrepõe, e, então, adere-se ao endométrio. A eficiência da sinalização
depende do grau de contato entre o trofoblasto e o endométrio, assegurado pelo
alongamento do concepto nos ruminantes e suínos e por migração intrauterina nos
equinos.
Em ruminantes, o corpo lúteo produz ocitocina assim como progesterona. A
ocitocina estimula o endométrio a sintetizar prostaglandina (PGF2α; Cap. 30) a
qual tem sido identificada como a principal causa da luteólise em ruminantes (assim
como em suínos e equinos). Nos ruminantes, o interferon-tau (IFN-t) é produzido
pelo trofoectodema, inibindo a formação de receptores de ocitocinas. Portanto, na
presença do embrião, a ocitocina não pode estimular a síntese de PGF2α e a luteólise
é evitada. Além disso, o IFN-t estimula a produção de histotrofo das glândulas
endometriais.
Os suínos utilizam outras estratégias para interromper os caminhos da luteólise.
Embora a ocitocina também seja produzida pelo corpo lúteo no suíno e promova
síntesede PGF2α endometrial. O estradiol é produzido pelo trofoectoderma entre os
dias 11 e 12 do desenvolvimento embrionário causando liberação de PGF2α no lúmen
uterino em vez do fluxo sanguíneo materno. No lúmen, a PGF2α é rapidamente
degradada. Além de modificar a secreção de PGF2α endócrina (circulação materna)
para exócrina (lúmem uterino), acredita-se que o estrógeno também estimule as
165
contrações miometriais facilitando a distribuição dos embriões dentro dos longos
cornos uterinos. Foi demonstrado que pelos menos quatro embriões devem estar
presentes a fim de evitar a luteólise no suíno.
Outra estratégia para a manutenção da prenhez é vista na égua. O contato
direto célula a célula entre o trofoblasto e o endométrio é evitado até o dia 21 pela
cápsula (veja a seguir) e é lentamente estabelecida após isto. A cápsula é capaz de
tornar o concepto esférico do equino para migração ao longo de toda a superfície do
endométrio entre 12 e 14 vezes por dia durante os dias 6 a 17 da prenhez a fim de
evitar a luteólise. Esta migração tem se mostrado essencial para a manutenção da
prenhez, entretanto, a natureza e o papel das trocas sinalizadoras com a égua ainda
não estão completamente identificados e compreendidos. Considerando que a égua já
reconhece a diferença entre o embrião e o ovócito não fertilizado na tuba uterina
(“permitindo” apenas os embriões passarem no útero), pode ser inapropriado aplicar
o termo reconhecimento da prenhez para equinos como até então é utilizado para
ruminantes e suínos.
Em carnívoros, também, um sinal para o reconhecimento materno da prenhez
foi identificado. Nos caninos os períodos de metaestro e dietro são longos. Em
condições normais estas fases do ciclo estral podem levar de 20 a 30 dias e, em
muitos casos, a cadela não prenhe desenvolve uma síndrome denominada
pseudoprenhez na qual o corpo lúteo mantém sua produção de progesterona por
longos períodos. Na maioria dos casos há uma reversão do quadro, mas algumas
vezes há uma necessidade de tratamento. Devido ao longo período do corpo lúteo, os
sinais embrionários para o reconhecimento da prenhez podem ser menos importantes
ou até desnecessários em cães. Portanto, o aumento dos níveis de hormônio pituitário
luteotrófico, a prolactina, parece ser responsável pela manutenção do corpo lúteo no
final da gestação de cadelas.
Classificação da placenta
Há grandes diferenças entre as espécies em relação ao início da placentação e,
portanto, como sua arquitetura final se desenvolve. Várias formas diferentes de
classificações da placenta, baseadas em uma variedade de critérios, foram propostas
ao longo dos anos. Uma delas é baseada na natureza dos tecidos extraembrionários
que contribuem para a formação da placenta, levando esta a ser classificada como
coriovitelina ou corioalantoide. Na placenta coriovitelina, a parede do saco
vitelino justapõe-se com o cório para formar uma área de trocas (Fig. 9-1). Nos
animais domésticos uma placenta coriovitelina funcional é vista somente nos
carnívoros e equinos. A placenta corioalantoide, considerada funcional primária
166
em todas as espécies domésticas, é estabelecida pela fusão entre a parede do
alantoide e do cório estabelecendo assim o corioalantoide. Nos suínos e ruminantes, o
saco vitelino involui 3 a 4 semanas após a concepção e nunca forma uma placenta
funcional.
Outra forma de classificação é baseada na estrutura da superfície corioalantoide
e suas interações com o endométrio. As áreas onde o corioalantoide interage com o
endométrio e se envolve na formação da placenta são denominadas cório frondoso.
Por sua vez, as áreas onde o corioalantoide está livre, não envolvido na formação da
placenta, de superfície lisa, são conhecidas como cório liso. Em suínos e equinos, o
cório frondoso é difuso, distribuído completamente na superfície coriônica e,
portanto, a placenta é categorizada como difusa. A área de superfície corioalantoide
suína é aumentada por dobras reveladas com pregas primárias e rugas secundárias,
e por isto denominada pregueada. Nos equinos, os vilos coriônicos são
aglomerados em numerosas “microzonas” especializadas, conhecidas como
microcotilédones, que se estendem nas criptas do endométrio, a placenta é também
denominada vilosa.
Em ruminantes, o cório frondoso é organizado em vilos coriônicos arborizados
semelhantes a grandes tufos visíveis macroscopicamente denominados cotilédones.
Sendo assim, a placenta é conhecida como cotiledonária, múltipla ou vilosa. Os
cotilédones combinados com projeções do endométrio denominadas carúnculas,
formam os placentônios, nos quais os vilos corioalantoides deste se estendem nas
criptas das carúnculas. O cório liso está presente entre os cotilédones.
Em carnívoros, o cório frondoso é organizado em uma ampla faixa estendida ao
redor do eixo longitudinal do embrião onde se formam lamelas. Este tipo de placenta
pode ser denominada zonária ou lamelar.
Uma terceira forma de classificação é baseada no número de camadas teciduais
que separam a circulação fetal e materna, deste modo, formando a barreira
placentária (Fig. 9-2). Existem três camadas de membranas extraembrionárias na
placenta corioalantoide: o endotélio revestindo os vasos sanguíneos alantoides; o
mesênquima corioalantoide, originado da fusão somática (coriônico) e visceral
(alantoico) do mesoderma; e o epitélio coriônico, ou seja, o trofoblasto. Entretanto,
o número de camadas retidas na porção materna da placenta varia com a espécie.
Antes da placentação, o endométrio apresenta três camadas que contribuirão para a
formação da barreira placentária: o epitélio endometrial, o tecido conjuntivo e o
endotélio vascular.
167
Fig. 9-2 A barreira placentária A: A placenta epiteliocorial na porca. B: A placenta
sinepiteliocorial da vaca. C: A placenta endoteliocorial da cadela. D: A placenta hemocorial da
camundonga. F: Componentes fetais da placenta; M: Componentes maternos da placenta; 1:
Epitélio endometrial; 2: Vasos fetais; 3: Endotélio fetal; 4: Trofoblasto; 5: Mesênquima; 6: Vasos
maternos; 7: Células binucleadas; 8: Células sanguineas vermelhas. A barreira placentária é
indicada pelas setas duplas.
Nos animais domésticos, o número de camadas maternas na barreira placentária
resulta em duas principais classes de placenta: a epiteliocorial e a endoteliocorial.
A primeira é encontrada em suínos, equinos e ruminantes. Os epitélios coriônico e
endometrial estão sobrepostos, e não há perdas de tecidos maternos. A placenta
epiteliocorial em ruminantes é modificada com células trofoblásticas especiais que
estabelecem uma fusão com as células do endométrio. A placenta também é
denominada sinepiteliocorial. Em carnívoros, por seu turno, a placenta é
endoteliocorial, pois o epitélio endometrial e o tecido conjuntivo são perdidos
durante a placentação, levando a um contato direto do trofoblasto com o endotélio
vascular materno. Em roedores e humanos, a redução da barreira placentária
materna é completa, levando um contato direto do trofoblasto com o sangue, sendo
assim denominada placenta hemocorial. O número de camadas de tecidos que
separam a circulação fetal e materna tem importantes implicações nas transferências
de imunoglobulinas e outras proteínas maternas para o feto e, consequentemente,
para o desenvolvimento do sistema imunitário no útero (Cap. 13).
Em carnívoros, a placenta endoteliocorial resulta da aderência entre os
componentes fetais e maternos da placenta. Como resultado, uma porção do
endométrio é lesada quando as membranas fetais e a placenta são expulsas no
nascimento. A porção lesada do endométrio é denominada decídua e este tipo de
placenta deciduada. A placenta em roedores e humanos também é deciduada. Em
contrapartida, a placenta de ruminantes, suínos e equinos é adeciduada.
168
Diferenças entre as espécies
Suínos
Os embriões passam para o estágio de 4 células no útero aproximadamente 2 dias
após a ovulação. O blastocisto eclodido sofre uma fase de extremo alongamento
durante os dias 10 a 14 do desenvolvimento coincidindo com a distribuiçãodos
embriões dentro dos longos cornos uterinos. O estradiol secretado pelo trofoblasto
leva ao reconhecimento materno da prenhez por volta dos dia 11 a 12 e a
implantação tem início por volta dos dias 13 a 14 no lado mesometrial do útero.
O saco vitelino é transitoriamente presente, mas involui em torno dos 20 dias
sem a formação de uma placenta coriovitelínica. Portanto, a placenta corialantoide
do suíno é difusa, pregueada, epiteliocorial e adeciduada. As áreas de trocas da
placenta são aumentas por dobras na forma de pregas (macroscópicas) primárias e
rugas (microscópicas) secundárias (Figs. 9-3, 9-4). Nas extremidades das membranas
fetais, o alantoide não se estende até o fim do cório, o qual forma extremidades
necróticas. A placenta difusa cobre inteiramente a superfície endometrial incluindo a
abertura das glândulas endometriais. Consequentemente, para a liberação das
secreções histotróficas acontecer, o corioalantoide forma cavidades semelhantes a
rosetas, aréolas, sobre a abertura das glândulas (Fig. 9-5).
169
Fig. 9-3 A placenta difusa na porca. 1: Corioalantoide; 2: Mesoâmnio; 3; Endométrio; 4:
Âmnio; 5: Alantoide; 6: Prega corioalantoide com rugas secundárias; 7: Miométrio.
Fig. 9-4 Placenta em baixa (A) e (B) em alta resolução. 1: Alantoide; 2: Epitélio endometrial
do alantoide; 3: Mesênquima; 4: Prega corioalantoide; 5: Endométrio; 6: Miométrio; 7:
Perimétrio; 8: Ruga corioalantoide; 9: Glândulas uterinas; 10: Vasos fetais; 11: Vasos maternos.
170
Fig. 9-5 Aréola na placenta de suínos. 1: Mesênquima; 2: Ruga corioalantoide; 3: Aréola; 4:
Endométrio; 5: Glândulas uterinas.
A formação do âmnio é seguida de uma persistência do mesoâmnio (Cap. 7),
Desse modo, os leitões são, em geral, nascidos descobertos de membrana fetal. O
alantoide começa a se formar por volta do dia 15, e devido à involução do saco
vitelino, ocupa o celoma extraembrionário, exceto pela área do mesoâmnio.
Ruminantes
Em geral, o embrião ruminante entra no útero no estádio de 8 a 16 células, 3 a 4 dias
após a ovulação. O blastocisto rapidamente elonga-se após a eclosão da zona
pelúcida. Nos bovinos, o concepto estende-se igualmente em ambos os cornos por
volta do dia 22 (Cap. 6). Uma maior quantidade de embriões parece estar localizada
no corno direito, reforçando o fato que a ovulação é mais comum no ovário direito e
que a migração embrionária não é tão pronunciada como nos suínos e equinos. O
reconhecimento materno da prenhez ocorre por volta do dia 12 a 13 (ovelha) e 16 a
17 (vaca), como um resultado da secreção de IFT-t pelo trofoblasto, e é seguido da
implantação nos dias 15 a 20 (ovelha) e 16 a 18 (vaca).
O saco vitelino está apenas transitoriamente presente, degenera-se brevemente
após a implantação ter iniciado. Desse modo, a placenta corioalantoide é
cotiledonária ou múltipla, vilosa, sinepiteliocorial e adeciduada.
A placentação ocorre pelo desenvolvimento dos vilos coriônicos em aposição às
proeminências endometriais carunculares formando cotilédones semelhantes a
171
botões, correspondendo à forma da carúncula. A carúncula e o cotilédone formam o
placentônio (Figs. 9-6, 9,7). Em vacas, 75 a 120 carúnculas estão presentes; na
ovelha entre 80 a 100.
Fig. 9-6 A placenta cotiledonária dos ruminantes. 1: Corioalantoide (cotilédone) formando
vilo; 2: Carúncula com criptas envolvendo os vilos; 3: Miométrio.
172
Fig. 9-7 Placentônio de vaca em baixa (A) e em alta (B) resolução. 1: Alantoide; 2: Epitélio
endodermal do alantoide; 3: Placentônio; 4: Endométrio; 5: Miométrio; 6: Mesênquima; 7:
Ramificação dos vilos corioalantoides.
Os placentônios são convexos em vacas, côncavos em ovelhas, e planos em
cabras. O trofoblasto cobre os cotilédones dando origem a uma única população de
células binucleadas gigantes produtoras de hormônio que migram e fusionam-se
com as células do epitélio endometrial (Fig. 9-2). Em pequenos ruminantes este
fenômeno de fusão, que origina a placenta sinepiteliocorial, ainda que mais
pronunciado, resulta em um sincício que substitui o epitélio materno.
A carúncula não possui abertura de glândulas uterinas, pois, o cório que parte
por entre os cotilédones não está fixado ao endométrio e não forma aréola. As placas
amnióticas, as quais são elevações epiteliais estratificadas ricas em glicoproteínas
no epitélio do âmnio, e os cálculos alantoicos, massas esbranquiçadas ou
acastanhadas de debris celulares circundados por mucoproteínas e minerais
provavelmente originados do intestino posterior fetal e do sistema urinário em
desenvolvimento, são comumente encontrados em vacas e ovelhas. Como nos suínos,
um mesoâmnio persiste, portanto, o bezerro nasce sem cobertura de membranas. As
membranas fetais são normalmente expulsas dentro de 6 a 12 horas, e mantidas após
o nascimento – a retenção das membranas por longos períodos – não é um fato
incomum.
Durante uma gestação clinicamente normal, a quantidade de fluido presente na
cavidade amniótica e alantoide é firmemente regulada. Entretanto, uma quantidade
excessiva de fluidos pode, algumas vezes, acumular em ambas as cavidades,
especialmente em vacas, resultando em hidroâmnio ou hidroalantoide. Assim, o
volume de fluido normal no âmnio e alantoide em vacas é de aproximadamente 15 a
20 litros respectivamente, em casos de hidroalantoide (a condição mais frequente)
173
um total de 100 a 200 litros pode acumular no alantoide. As razões para esta
condição incluem distúrbios vasculares na placenta em geral associados a
malformações gemelares e embrionárias. O interessante é que anormalidades
placentárias, incluindo hidroalantoide, são encontradas com frequência em prenhezes
resultantes de transferência de embriões clonados por transferência nuclear de
células somáticas (Cap. 21).
Equino
O embrião equino entra no útero, nos estágios de mórula ou blastocisto,
aproximadamente 6 dias após a ovulação. Somente embriões entram na cavidade
uterina; ovócitos não fecundados são retidos nas tubas uterinas por meio de reações
ainda não completamente elucidadas. A eclosão da zona pelúcida ocorre por volta do
dia 7 e 8 do desenvolvimento. Entretanto, mesmo antes da eclosão dentro da zona
pelúcida, uma cápsula glicoproteica elástica produzida em grande parte pelo
trofoectoderma circunda o blastocisto. Diferente de outras espécies, o concepto,
devido à presença da cápsula, permanece esférico durante a gastrulação até o
vigésimo primeiro dia quando a cápsula é perdida. A cápsula permite que o embrião
esférico atravesse todo o lúmen uterino do dia 6 ao décimo sétimo, promovendo os
sinais essenciais para a manutenção da prenhez. Esta extensa mobilidade é finalizada
pela fixação do embrião – um aumento do tônus uterino fixando o embrião na base
do corno uterino. O mesmo processo ocorre com o concepto equino no que se refere
ao tempo de fixação que este tem para posicionar-se adequadamente (orientar-se) no
útero, no qual o próprio embrião reveste a parede mesometrial, ou posiciona-se “para
baixo” como visto na ultrassonografia transretal antes do dia 40.
A placenta coriovitelina do equino se forma de uma estrutura proeminente, o
saco vitelino, que funciona como base para as trocas materno-fetais até
aproximadamente o quadragésimo segundo dia de gestação. A partir desta data o
saco vitelino involui e a placenta corioalantoide assume a função até o final da
gestação. A involução do saco vitelino persiste a termo e, devido a este fato, o cordão
umbilical torna-se mais longo no cavalo, medindo entre 50 a 100 cm ao nascimento.
O desenvolvimento da placenta é necessário para a formação da cinta
coriônica na junção entre o corioalantoide e o saco vitelino em torno do trigésimo
quarto dia (Figs. 9-8, 9-9). Esta estrutura consiste em uma faixa espessa de células
trofoblásticas que invade o endométrio, atravessa a barreira placentária e forma as
taças endometriais no endométrio. Estes agregados de células produzem o
hormônio gonadotrofina coriônica equina (eCG), conhecido como gonadotrofina
sérica da égua prenhe (PMSG). A eCG age como um estimulanteluteotrófico
174
mantendo tanto o corpo lúteo primário, quanto a formação do corpo lúteo
suplementar (acessório) (Cap. 3).
Fig. 9-8 Embrião equino durante a presença da cinta coriônica. A: Vista da ramificação
vascular. B: Seção do embrião. 1: Saco vitelino; 2; Seio terminal; 3: Cinta coriônica; 4:
Alantoide; 5: Âmnio; 6: Mesoderma com vasos; 7: Celoma extraembrionário.
Cortesia de Rüsse e Sinowatz (1998).
Fig. 9-9 Embrião equino aos 25 dias de prenhez, antes da formação da cinta coriônica. 1:
Seio terminal; 2: Local de formação da cinta; 3: Cobertura corioalantoide da cavidade
alantoide.
Foto: Keith Betteridge.
175
O desenvolvimento do âmnio se completa por volta do vigésimo primeiro dia.
Não há persistência de um mesoâmnio. Consequentemente, os potros podem
nascer recobertos pelo âmnio, fato que vem a potencializar riscos de sufocamento
caso a membrana não seja removida rapidamente. Entre o vigésimo ao quadragésimo
dia o alantoide expande-se na cavidade celomática extraembrionária (Figs. 9-8, 9-9).
O corioalantoide forma-se, e gradualmente desenvolve tufos de vilos corioalantoides,
microcotilédones, distribuídos difusamente, projetando-se nas reentrâncias
endometriais, as criptas. Todo o processo de placentação completa-se antes do
centésimo vigésimo primeiro dia. Os microcotilédones fetais e as criptas maternas
podem ser descritas como microplacentônios, ligeiramente semelhantes aos
arranjos vistos nos ruminantes. Como no suíno, no equino não há perda de
endométrio ao nascimento. A placenta do cavalo é difusa, vilosa, epiteliocorial e
adeciduada. Numerosas aréolas estão espalhadas entre os microcotilédones,
facilitando o aproveitamento do histotrofo (Figs. 9-10, 9-11).
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Fig. 9-10 Placenta difusa na égua. 1: Corioalantoide; 2: Endométrio, 3: Âmnio; 4: Alantoide;
5: Saco vitelino; 6: Microcotilédones corioalantoicos com vilos; 7: Taças endometriais; 8:
Endométrio com criptas envolvendo os vilos. 9: Miométrio.
177
Fig. 9-11 Placenta de égua em baixa (A) e em alta (B) resolução. 1: Alantoide; 2:
Microcotilédones; 3: Endométrio; 4: Glândulas uterinas; 5: Epitélio endodermal do alantoide; 6:
Vasos fetais.
Quando a égua concebe gêmeos, há uma redução da área endometrial disponível
para cada embrião durante a placentação. Este fato representa um problema, pois a
expansão de uma das placentas restringe o crescimento da outra resultando na morte
de um dos gêmeos ou de ambos. Portanto, o diagnóstico inicial da prenhez é
comumente realizado a fim de possibilitar a retirada de um dos gêmeos por redução
embrionária (ruptura transretal manual).
Como nos ruminantes, os cálculos alantoicos são frequentemente encontrados
flutuando na cavidade alantoide. No cavalo eles são particularmente grandes e
denominados hipomanes. As placas amnióticas ou pústulas também são bastante
observadas no âmnio.
Carnívoros
É difícil prever, precisamente, o tempo no qual ocorrem os eventos da gestação em
cadelas, pois a cópula ocorre antes da ovulação, e os espermatozoides permanecem
viáveis por longo tempo no trato genital feminino (Cap. 3). Na gata, ao contrário, o
momento da fecundação pode ser estimado precisamente, pois a ovulação é induzida
na cópula. Para ambas as espécies, os embriões parecem entrar no útero no estágio
de blastocisto, cerca de 6-8 dias póscópula. Os embriões de carnívoros não emergem
de seus revestimentos do mesmo modo que se expandem os blastocistos de
ruminantes e suínos claramente “eclodidos” da ainda óbvia zona pelúcida. Em vez
disso, o blastocisto de gatos, por exemplo, permanece envolvido em uma
membrana extremamente atenuada, muito parecida com a cápsula do equino,
178
entre os dias 12 e 15 após a cópula. Se este revestimento é muito modificado na zona
pelúcida, ou substituído por ela, ainda não foi estabelecido. O revestimento é
provavelmente um suporte à extensa migração do blastocisto no corno uterino no
qual permite o espaçamento do próprio embrião.
O reconhecimento materno da prenhez nestas espécies é provavelmente
desnecessário pela prevenção da regressão do corpo lúteo. A placentação começa em
torno do décimo sétimo ao décimo oitavo dia na cadela e no décimo segundo ao
décimo quarto dia na gata.
O saco vitelino inicialmente forma uma ampla placenta coriovitelina. Mais
tarde, a área central da placenta coriovitelina degenera-se resultando em uma
placenta coriovitelina transitória na periferia da estrutura inicial. A placenta
corioalantoide, entretanto, serve como principal base para as trocas materno-fetal.
Devido à aparência de uma cinta do cório frondoso, a placenta coriovitelina em
carnívoros é referida como sendo zonária (Fig. 9-12). No cório frondoso, o
trofoblasto origina duas diferentes populações de células: as células localizadas
basalmente denominadas células do citotrofoblasto e as células localizadas
superficialmente denominadas células do sinciotrofoblasto, as quais são formadas
pela fusão de muitas células trofoblásticas. O sinciotrofoblasto é altamente invasivo e
destrói tanto o epitélio endometrial como o tecido conjuntivo subjacente,
aproximando o trofoblasto ao endotélio materno, tornando a placenta dos carnívoros
endoteliocorial (Fig. 9-2). Além disso, como o tecido materno é perdido no parto, a
placenta é classificada como decídua. Como no suíno, a área de superfície do cório
frondoso é aumentada pelas dobras lisas denominadas lamelas. Estas estruturas
podem, dependendo da espécie de carnívoro, ser mais ou menos ramificada e
destorcida, resultando na formação do labirinto. A zona placentária é organizada no
interior da zona lamelar com a lamela corioalantoide, uma zona de junção
intermediária contendo a parte terminal da lamela, vasos maternos, debris celular e
secreções glandulares, e uma zona glandular contendo as projeções das glândulas
uterinas (Fig. 9-13). Em resumo, a placenta de carnívoros é zonária, lamelar ou
labiríntica, endoteliocorial e deciduada.
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Fig. 9-12 Placenta zonária da cadela. 1: Perimétrio; 2: Endométrio e miométrio; 3:
Corioalantoide; 4: Alantoide; 5: Saco vitelino; 6: Corioalantoide formando lamelas na zona
placentária; 7: Hematoma marginal.
Fig. 9-13 Placenta de marta. A: A área do quadrado está ampliada em “B”. 1: Alantoide; 2:
Zona lamelar; 3: Zona juncional; 4: Edométrio; 5: Hematoma marginal; 6: Zona glandular; 7:
Lamela individual da zona lamelar.
Nas margens da zona placentária, parte do endotélio materno degenera. No cão
e em martas, esta degeneração resulta na formação de um hematoma denominado
180
hematoma marginal. Na gata, os hematomas são posicionados mais irregulares. Em
ambas as espécies, o sangue contido serve como fonte de ferro. Devido a diferenças
na quebra de hemoglobina, os hematomas são verdes na cadela e marrom na gata. As
áreas periféricas à zona placentária, conhecidas como paraplacenta, são consideradas
não funcionais. A aréola não ocorre em carnívoros. Como nos equinos, um
mesoâmnio não persiste e então os recém-nascidos são normalmente cobertos pelo
o âmnio.
Roedores e primatas
A placenta de roedores e primatas será brevemente descrita por razões comparativas.
Nestas espécies, o trofoectoderma é altamente invasivo e então o blastocisto
penetra no epitélio endometrial localizando-se no tecido conjuntivo endometrial. O
termo implantação é bem adequado nestas espécies. Ao longo do desenvolvimento
do embrião, o trofoblasto diferencia-se em um citotrofoblasto interno e um
sinciotrofoblasto externo. O alantoide não se desenvolve e, portanto, não há
formação de uma placenta corioalantoide. Entretanto, a migração do mesoderma
visceral resulta em ampla vascularização da placenta, a qual toma a forma de um
disco, formando a placenta discoidal (Fig. 9-14). O termo “placenta” dá-se devido á
semelhança deste disco esponjoso com um bolo (placenta = bolo plano em latim).
181
Fig. 9-14 Placenta discoidal de primatas. 1: Perimétrio; 2: Endométrio e miométrio; 3:
Âmnio; 4: Cavidade uterina; 5: Espaço interviloso com sangue materno; 6: Endométrio; 7:
Miométrio.
No disco, o trofoblastoforma vilos com um núcleo de citotrofoblasto e uma
camada externa de sinciotrofoblasto. Mais tarde, o núcleo é invadido pelo
mesoderma carreando vasos sanguíneos. Devido à natureza invasiva do
sinciotrofoblasto, o tecido conjuntivo materno e o endotélio são removidos e os vilos
fetais cobertos de trofoblasto estão diretamente circundados pelo sangue materno
contido nos espaços intervilosos. Assim é estabelecida a placenta hemocorial (Fig. 9-
2). A placenta discoidal e a decídua são expulsas com o nascimento. Dessa forma, as
placentas de roedores e primatas são discoidais, vilosas, hemocorial e deciduada.
Prenhez ectópica
182
As gestações que ocorrem fora da tuba uterina são denominadas ectópicas. Embora
rara e fatal, a condição ocorre principalmente na tuba uterina e na cavidade
abdominal. As prenhezes tubáricas podem acometer mais de 95% de todas as
prenhezes ectópicas em humanos; ao contrário, este tipo de prenhez não ocorre nos
animais domésticos. Existe uma especulação se é devido ao ambiente tubárico
espécie-específica não favorável ao desenvolvimento embrionário ou interrupção dos
caminhos que conduzem ao reconhecimento materno da prenhez. O tipo abdominal
de prenhez ectópica pode ocorrer como resultado de um zigoto que entra na cavidade
abdominal e fixa-se no mesentério ou vísceras abdominais (forma abdominal
primária) ou, mais frequentemente, pela ruptura da tuba uterina ou útero seguido de
expulsão do embrião/feto (forma abdominal secundária). Na maioria dos casos, o
embrião/feto torna-se calcificado e é frequentemente encontrado por acaso.
Entretanto, tanto em ovelhas, quanto em gatas, a prole viva resultante da forma
secundária pode ser recuperada por cesariana, indicando que o desenvolvimento
completo a termo é possível de ocorrer fora da cavidade uterina.
Resumo
No interior do útero, o embrião é inicialmente nutrido pelo histotrofo das glândulas
uterinas. A placentação estabelece a base para uma absorção de nutrientes via
circulação sanguínea, o hemotrofo. Um importante evento de pré-implantação é o
reconhecimento materno da prenhez, mediado pelos sinais produzidos pelo
embrião. Próximo do momento da implantação, o embrião desenvolve múltiplas
membranas e cavidades. O revestimento externo do embrião consiste no
trofoectoderma com um revestimento interno do mesoderma extraembrionário
somático, construindo o cório. As dobras do cório resultam na formação do âmnio
envolvendo o embrião. O hipoblasto, recoberto com o mesoderma extraembrionário
visceral, fecha a cavidade denominada saco vitelino primitivo. O celoma
extraembrionário é encontrado entre o mesoderma embrionário somático e o
visceral. O endoderma está inserido na porção do saco hipoblástico e, com as dobras
anteroposterior e lateral do embrião, a porção do endoderma que reveste o saco
vitelino primitivo, forma o intestino primitivo, ao passo que a porção revestida com
hipoblasto forma o saco vitelino definitivo. Finalmente, o alantoide desenvolve-se
como uma consequência do intestino posterior e vem a ocupar a maior parte do
celoma extraembrionário. Com o tempo, o alantoide passa a circundar suavemente o
âmnio. Entretanto, em bovinos e suínos, um mesoâmnio, onde o âmnio e cório são
fixados, persiste.
Uma placenta coriovitelina temporária é formada pela interação da fusão do
183
saco vitelino e o cório com o endométrio no equino e no cão. A placenta
corioalantoide permanente é formada pela fusão entre o alantoide, o cório e o
endométrio. A placenta é classificada de acordo com sua aparência anatômica
(difusa, múltipla, zonária ou discoidal), suas características de superfície (vilos,
dobras, lamelas/labirinto), e pela espessura de barreias (epiteliocorial,
sinepitelicorial, endotelicorial ou hemocorial). No suíno, a placenta é difusa,
pregueada, epiteliocorial e adeciduada. Nos ruminantes, a placenta é
cotiledonária ou múltipla, vilosa, sinepitelicorial e adeciduada. No equino, a
placenta é difusa, vilosa, epiteliocorial e adeciduada. Nos carnívoros, a placenta
é zonária; lamelar ou labiríntica, endoteliocorial e deciduada. Em roedores e
primatas, a placenta é discoidal, vilosa, hemocorial e deciduada.
Leituras adicionais
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