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Capítulo 10 Desenvolvimento do sistema nervoso central e periférico Fred Sinowatz O sistema nervoso central (SNC) desenvolve-se do ectoderma assim que este se diferencia em ectoderma superficial e neuroectoderma. Algumas das características mais precoces do desenvolvimento do sistema nervoso já foram abordadas em relação à neurulação (Cap. 8) e serão brevemente recapituladas aqui, mais especificamente na discussão do desenvolvimento do SNC. O sistema nervoso periférico (SNP) se desenvolve em associação do SNC como o sistema de comunicação entre o SNC e o restante do corpo. Placa neural O desenvolvimento da placa neural, um espessamento do ectoderma que representa o primórdio do sistema nervoso, é induzido pela notocorda (Cap. 8), um grande centro axial de sinalização do tronco do embrião inicial. Subsequentemente, a placa neural se dobra e forma o tubo neural. Alguns dos mecanismos moleculares que norteiam este processo foram recentemente esclarecidos em camundongos. A notocorda, a qual está próxima da placa neural da linha média durante este estágio, libera a sonic hedgehog (Shh). Grande parte do ectoderma superficial de um embrião durante a gastrulação produz a Proteína Morfogenética Óssea 4 (BMP4). Esta proteína de sinalização previne o ectoderma dorsal de formar o tecido neural. Sob a influência do Fator Nuclear Hepático 3beta (HNF-3beta), as células da notocorda em desenvolvimento secretam noguina e cordina. Estas duas moléculas são potentes indutores neurais que bloqueiam a influência inibitória de BMP4 e então possibilitam que o ectoderma dorsal à notocorda forme tecido neural. Tubo neural O tubo neural é uma estrutura proeminente que domina a porção anterior (futuramente cefálica) do embrião. No texto que se segue iremos observar como o tubo neural precoce se desenvolve nos principais componentes morfológicos e funcionais do sistema nervoso maduro (Fig. 10-1). Antes da neurogênese, a placa 186 neural e o tubo neural são compostos por uma única camada de células neuroepiteliais (neuroepitélio). As células neuroepiteliais são altamente polarizadas ao longo do seu eixo apical-basal. Isto se reflete, por exemplo, na organização de suas membranas plasmáticas: certas proteínas transmembrana como a prominina-1 (CD133) são encontradas seletivamente na membrana plasmática apical. Fig. 10-1 Formação do tubo neural e cristas neurais. As áreas demarcadas com quadros em A–C estão aumentadas à direita (modificado de Rüsse e Sinowatz, 1998). A: 1: Notocorda; 2: Ectoderma superficial; B: 1: Notocorda; 2: Ectoderma superficial; 3: Sulco neural; 4: Placa 187 neural. C: 1: Notocorda; 2: Epitélio do sulco neural; numerosas mitoses ocorrem no epitélio neural; 3: Sulco neural; 4: Crista neural; D: 1: Notocorda; 2: Ectoderma superficial; 3: Tubo neural; 4: Cristas neurais, as quais neste estágio ainda são uma folha contínua de células. E: 1: Notocorda; 2: Ectoderma superficial; 3: Tubo neural; 4: Cristas neurais, as quais são segmentadas em grupos de células que dão origem a diversos tipos celulares. E: Células ependimárias; ZV: zona ventricular; ZM: zona marginal. Cortesia de Rüsse e Sinowatz (1998). Pouco após a indução, o epitélio da placa neural e do tubo neural inicial se organiza em um epitélio pseudoestratificado no qual os núcleos parecem estar localizados em várias camadas separadas por que eles se encontram em diferentes alturas no interior das células neuroepiteliais alongadas. Os núcleos se deslocam extensivamente no citoplasma conforme o ciclo celular progride (Fig. 10-2). A síntese de DNA (a fase S) ocorre nos núcleos localizados próximos à membrana limitante externa (a lâmina basal ao redor do tubo neural). Conforme estes núcleos se preparam para entrar em mitose eles migram através do citoplasma em direção ao lúmen do tubo neural, onde a mitose é completada. A orientação do fuso mitótico durante esta divisão é importante para o destino das células filhas. Se o plano de clivagem é perpendicular à superfície apical (interna) do tubo neural, as duas células filhas migram lentamente em direção à periferia do tubo neural, onde elas se preparam para uma nova rodada de síntese de DNA. Se, por sua vez, o plano de clivagem corre paralelamente à superfície interna do tubo neural, as duas células filhas têm destinos completamente diferentes. A célula filha mais próxima da superfície interna migra para longe muito vagarosamente e permanece como uma célula progenitora que ainda é capaz de fazer mitose. A célula filha que ficar mais próxima da superfície basal (membrana limitante externa) herda uma alta concentração do receptor Notch em sua superfície e pode agora ser chamada de neuroblasto. Os neuroblastos são células precursoras dos neurônios e começam a produzir processos celulares que finalmente se tornam os axônios e dendritos. 188 Fig. 10-2 Migração nuclear intercinética no interior do tubo neural. Dentro do epitélio pseudoestratificado do tubo neural, os núcleos que sintetizam DNA (fase S) estão localizados próximos da membrana limitante externa (MLE), mas depois se movem em direção à margem interna do tubo neural, onde ocorre a mitose. Cortesia de Rüsse e Sinowatz (1998). A migração nuclear intercinética no neuroepitélio é acompanhada por uma mudança na morfologia nuclear: o núcleo adota uma forma alongada através do eixo apical-basal quando a migração se inicia e se torna arredondado quando a migração para. Isto é consistente com a ideia de que o núcleo seja puxado por alguma maquinária citoesquelética. Os trabalhos iniciais sobre a migração nuclear intercinética indicavam o envolvimento de microtúbulos, uma ideia que é corroborada pela observação de que o posicionamento nuclear é um processo dependente de microtúbulos em muitos tipos celulares. Estudos recentes do gene lisencefalia 1 (LIS1) também apoiam esta ideia. Mutações no gene LIS1 humano são responsáveis pela lisencefalia tipo 1 (cérebro liso), uma grave malformação do cérebro com causa genética. A proteína LIS1 forma um complexo com a dineína e dinactina citoplasmáticas o qual se liga aos microtúbulos e perturba a dinâmica dos mesmos. Camundongos com expressão reduzida de LIS1 apresentam defeitos na migração nuclear intercinética das células neuroepiteliais e migração neuronal anormal. Adicionalmente aos microtúbulos, os filamentos de actina e miosina estão também provavelmente envolvidos com a migração nuclear intercinética das células neuroepiteliais. A citocalasina B, uma droga que inibe a polimerização de actina, bloqueia o processo, e a ablação da cadeia pesada II-B da miosina não muscular resulta em migração nuclear desordenada nas células. Linhagens celulares do sistema nervoso central 189 Durante o desenvolvimento, as células-tronco neurais dão origem a todos os neurônios do SNC de mamíferos (Figs. 10-3, 10-4, 10-5) e também a dois tipos de células macrogliais, os astrócitos e os oligodendrócitos. Geralmente, dois critérios são aplicados para definir uma célula como uma célula-tronco: autorrenovação e pluripotência (ou pelo menos multipotência). A autorrenovação indica que uma célula é capaz de se dividir por número ilimitado de vezes, cada qual resultando ou em duas células-tronco ou em uma célula-tronco e uma célula comprometida. A pluripotência ou multipotência implica que a célula pode dar origem a numerosos tipos de células diferenciadas – todos os tipos celulares do organismo de mamíferos no caso de pluripotência (Cap. 2). No entanto, este conceito deve ser de certa maneira modificado quando aplicado ao SNC: “células-tronco” neste contexto são células neurais que são autorrenovadoras, mas não necessariamente por um número ilimitado de divisões celulares e elas podem ser multipotentes ou unipotentes. Fig. 10-3 Linhagens celulares no sistema nervoso central em desenvolvimento. Cortesia de Rüsse e Sinowatz (1998). 190 Fig. 10-4 Origens de neurônios e vários tipos de células gliais. Neurônios, oligodendrócitos, astrócitos fibrilares e protoplasmáticos, e células ependimárias se originam de célulasneuroepiteliais. A micróglia (glia Hortega) se desenvolve de células mesenquimais. Fig. 10-5 A: Durante este desenvolvimento inicial, o epitélio do tubo neural consiste na zona ventricular (ZV), onde células neurais epiteliais sofrem mitoses, e na zona marginal (ZM), a qual contém processos alongados das células. B: Secção pelo tubo neural em estágio um pouco mais avançado que em A. As células neuroepiteliais, que já deixaram o ciclo mitótico, migram para longe do lúmen do tubo neural e formam uma camada celular intermediária (ZI: zona intermediária). As células neuroepiteliais que podem ser consideradas as células-tronco do SNC passam primeiro por divisões proliferativas simétricas, cada qual gerando duas células-tronco filhas. Estas divisões são seguidas por numerosas divisões assimétricas autorrenovadoras, cada qual resultando em uma célula-tronco filha e uma célula mais diferenciada tal qual uma célula progenitora. As células progenitoras neurais são tipicamente submetidas a divisões simétricas diferenciadoras que geram duas células pós-mitóticas prontas para a diferenciação terminal. As origens da maioria das células encontradas no SNC maduro podem ser rastreadas até as células-tronco multipotentes no interior do neuroepitélio precoce. Estas células sofrem muitas divisões mitóticas antes de amadurecerem em células progenitoras bipotentes, as quais dão origem ou a células progenitoras neuronais ou gliais. Esta bifurcação do desenvolvimento é acompanhada por uma alteração significativa na expressão gênica. Por exemplo, células-tronco 191 multipotentes expressam uma proteína do filamento intermediário chamada nestina. A expressão de nestina é regulada negativamente conforme descendentes das células progenitoras bipotentes se separam em células progenitoras neuronais, as quais expressam neurofilamentos e células progenitoras gliais, que expressam a proteína glial fibrilar ácida. As células progenitoras neuronais originam uma série de neuroblastos. Os mais precoces neuroblastos bipolares possuem dois processos citoplasmáticos delgados que entram em contato tanto com a membrana limitante externa quanto com o bordo luminal central do tubo neural. Ao retrair o processo interno, um neuroblasto bipolar perde o contato com a borda luminal interna e se torna um neuroblasto unipolar. Os neuroblastos unipolares acumulam uma grande quantidade de retículo endoplasmático rugoso (substância de Nissl) em seu citoplasma e então começam a emitir vários processos citoplasmáticos. Neste ponto, eles são conhecidos como neuroblastos multipolares, e suas atividades principais de desenvolvimento são enviar processos axonais e dendríticos e fazer conexões com outros neurônios e órgãos finais. Outra importante linhagem que se origina das células progenitoras bipotentes é a das células progenitoras gliais. As células progenitoras gliais continuam a passar por mitoses e sua progênie se separa em várias linhagens. Uma delas, a célula progenitora O-2A, é precursora de duas importantes linhagens de células gliais que por fim formam os oligodendrócitos e os astrócitos tipo 2, estes últimos são distinguidos pelo seu fenótipo antigênico dos astrócitos tipo 1, derivados de outra linhagem glial. Anatomicamente, os astrócitos podem ser divididos em astrócitos protoplasmáticos, encontrados na substância cinzenta, e astrócitos fibrosos encontrados na substância branca. A origem dos oligodendrócitos foi por muito tempo assunto de debates, mas estudos demonstraram que eles provavelmente provêm de células progenitoras localizadas na zona ventricular ventral ao lado da placa do assoalho. Desta região, eles se disseminam por todo o cérebro e medula espinhal, formando então as proteções de mielina ao redor de axônios na substância branca do SNC. A formação de precursores de oligodendrócitos depende de sonic hedgehog (Shh), produzida pelas células na notocorda, como um sinal indutor. Uma terceira linhagem glial possui uma história mais complexa. As células progenitoras radiais dão origem às células da glia radial, as quais atuam como fio-guia no cérebro para a migração de neurônios jovens. Quando os neurônios estão migrando ao longo das células da glia radial do feto, no período intermediário da gestação, eles inibem a proliferação das células da glia radial. Após a migração de células neuronais, as células da glia radial, agora livres da influência inibitória dos neurônios, reentram no ciclo mitótico e produzem uma progênie que pode se 192 transformar em um número de tipos celulares: algumas podem aparentemente cruzar por séries de linhagens e se diferenciar em astrócitos tipo 1. Outras se diferenciam em vários tipos de células gliais especializadas. Enquanto algumas podem até se tornar células ependimárias e neurônios. Outro tipo de célula glial do SNC não se origina do neuroepitélio. Estas células microgliais, as quais atuam como macrófagos com motilidade em seguida a lesões no SNC, são células derivadas do mesoderma que entram no SNC em conjunto ao sistema vascular e não são encontradas, portanto, no SNC em desenvolvimento até que este seja infiltrado por vasos sanguíneos. Se as células-tronco neurais e suas células progenitoras proliferam (por divisões simétricas) ou se diferenciam (pela divisão assimétrica) está proximamente relacionado às suas características epiteliais, especialmente sua polaridade apical- basal e duração do ciclo celular. Geralmente, o período de produção de neurônios precede aquele de gliogênese. O momento no qual o precursor de um neurônio passa por sua última divisão é caracterizado seu “aniversário”. As células neurogênicas na parte ventral da medula espinhal e do rombencéfalo são normalmente as primeiras a pararem de se dividir, seguidas pelos neurônios dorsais e intermediários. Os neurônios corticais no cérebro e cerebelo são as últimas populações a serem formadas. Eles continuam a proliferar até o terceiro ou quarto mês pós-parto no cão e o terceiro ano de vida em humanos. Em espécies precoces, incluindo gado e cavalos, a maioria dos neurônios corticais já está formada no momento do nascimento. Diferenciação histológica do sistema nervoso central Células nervosas Os neuroblastos surgem por divisão das células neuroepiteliais e, uma vez formados, perdem a capacidade de se dividirem (Fig. 10-4). Inicialmente, os neuroblastos desenvolvem dois processos e se estendem do lúmen do tubo neural até a membrana limitante externa. Quando eles começam a migrar para a camada intermediária, o processo central é retraído e os neuroblastos parecem temporariamente unipolares. Durante a diferenciação, mais adiante, vários processos citoplasmáticos pequenos se estendem do seu corpo celular. Um destes processos se prolonga rapidamente, formando o axônio primitivo, enquanto a arborização dos outros dá origem aos dendritos primitivos. Estas células podem ser chamadas agora de neuroblastos multipolares, os quais por fim se tornam neurônios multipolares maduros. Os axônios de neurônios na placa basal, os quais deixam a zona marginal no aspecto lateroventral da medula, formam a raiz ventral eferente da medula 193 espinhal. Os axônios de neurônios na placa alar penetram através da zona marginal da medula, de onde eles ascendem para níveis mais altos ou mais baixos para formarem os neurônios de associação. Células gliais A outra importante linhagem que se origina das células progenitoras bipolares é a das células progenitoras gliais (glioblastos), que são formadas por células neuroepiteliais após a produção de neuroblastos ser encerrada, e sua progênie se divide em vários tipos celulares. Um deles, a célula progenitora O-2A é a precursora de dois tipos de células gliais que por fim se diferenciam em astrócitos tipo 2 e oligodendrócitos. Foi demonstrado recentemente que os oligodendrócitos são derivados de células progenitoras localizadas na zona ventricular ventral. Deste local eles migram por toda a medula espinhal e cérebro, formando a bainha de mielina ao redor de processos neuronais. A formação de oligodendrócitosdepende da molécula de sinalização sonic hedgehog (Shh) produzida por células da notocorda. Em contraste às células de Schwann do sistema nervoso periférico, as quais só podem envolver apenas um axônio, os processos achatados de uma única célula oligodendroglial no sistema nervoso central podem mielinizar várias fibras nervosas. As bainhas de mielina começam a se formar na medula espinhal durante o período fetal tardio. Em geral, os tratos das fibras são mielinizados por volta do período que eles se tornam funcionais (Tabela 10-1). Tabela 10-1 Início da formação das bainhas mielínicas no sistema nervoso central e periférico Espécie Tecido Estágio da gestação Felino N. vestibular Dia 53 p.c. N. coclear Dia 57 p.c. N. óptico Dia 1-2 p.n. Suíno Medula espinhal Semana 8 p.c. (cervical) Semana 9 p.c. (lombar) Ovino N. oculomotor Dia 63 p.c. N. troclear N. vestibular N. hipoglosso N. trigêmeo (sens.) Dia 66 p.c. N. glossofaríngeo N. vago N. acessório 194 N. óptico Dia 78 p.c. N. trigêmeo (mot.) Dia 60 p.c. N. facial Dia 78 p.c. N. troclear N. abducente N. vestibular Dia 80 p.c. Medula espinhal Dia 60 p.c. Medula oblonga Mesencéfalo Cerebelo Dia 80 p.c. Telencéfalo Dia 100 p.c. Bovino Medula oblonga Semana 21 p.c. Medula espinhal Semana 16 p.c. N. abducente Semana 20 p.c. N. intermediofacial (mot.) N. coclear N. glossofaríngeo N. vago N. hipoglosso N. trigêmeo Semana 21 p.c. N. vestibulococlear Semana 16 p.c. N. acessório N. óptico Semana 24 p.c. p.n. = pós-natal; p.c. = pós-coito. Nem todas as células gliais da medula espinhal se originam do neuroepitélio. As células microgliais, que surgem na segunda metade do desenvolvimento fetal, são células altamente fagocíticas derivadas da mesoderme. Quando as células neuroepiteliais param de produzir neuroblastos, elas se diferenciam em células epiteliais ependimárias revestindo o canal central da medula espinhal. Com a geração de neurônios, o neuroepitélio é transformado em um epitélio com diversas camadas celulares. Com a mudança para neurogênese, as células neuroepiteliais regulam negativamente certas características epiteliais (em especial sua expressão de proteínas tight junctions) simultaneamente ao aparecimento de marcos astrogliais. Em essência, após o estabelecimento da neurogênese, as células neuroepiteliais dão origem a um tipo celular distinto, mas relacionado: as células da glia radial, que podem exibir propriedades residuais neuroepiteliais assim como astrogliais. As células da glia radial representam progenitores com destino mais restrito do 195 que as células neuroepiteliais e gradualmente as substituem. Como consequência, muitos dos neurônios no sistema nervoso central são derivados das células da glia radial. As propriedades neuroepiteliais que são mantidas pelas células da glia radial incluem a expressão de marcadores neuroepiteliais (tais como a proteína de filamento intermediário nestina) e a manutenção de uma superfície apical e características importantes de polaridade apical-basal (tal como uma localização apical de centrossomos e prominina-1). Assim como as células neuroepiteliais, as células da glia radial apresentam migração nuclear intercinética, com seus núcleos em processo de mitose na superfície apical da zona ventricular e migrando basalmente para completar a fase S do ciclo celular. No entanto, em contraste às células neuroepiteliais, as células da glia radial demonstram diversas propriedades da astroglia, tal como a expressão do transportador de glutamato específico de astrócitos (GLAST), proteína ligante de Ca2+ S100β e proteína glial fibrilar ácida. Ao contrário das células neuroepiteliais precoces, a maioria das células da glia radial possui um potencial de desenvolvimento limitado. Normalmente, elas geram apenas um tipo celular, ou astrócitos ou oligodendrócitos, ou mais comumente neurônios. Desenvolvimento da medula espinhal Com o início da diferenciação celular no tubo neural, o neuroepitélio se espessa e parece possuir camadas (Fig. 10-6). A camada mais próxima do lúmen do tubo neural é chamada de ventricular ou camada neuroepitelial. Ela permanece epitelial e exibe atividade mitótica. No entanto, conforme avança o desenvolvimento, a população de células proliferantes na camada neuroepitelial torna-se exausta e as células restantes diferenciam-se para formar o epêndima do canal central e o sistema ventricular do cérebro. 196 Fig. 10-6 Quatro estágios sucessivos no desenvolvimento da medula espinhal. A e B: 1: Neuroepitélio; 2: Canal central; 3: Notocorda; 4: Ectoderma superficial; 5: Placa basal; 6: Placa do teto; 7: Placa do assoalho; 8: Zona marginal; 9: Gânglio espinhal; 10: Corno dorsal (sensorial); 11: Nervo espinhal. C: 1: Neuroepitélio; 2: Canal central; 3: Notocorda; 4: Ectoderma superficial; 5: Placa basal; 6: Placa alar; 7 e 8: Corno intermediário; 9: Zona marginal; 10: Placa do teto; 11: Placa do assoalho; 12: Gânglio espinhal; 13: Raiz dorsal; 14: Nervo espinhal; D: 1: Epêndima; 2: Canal central; 3: Corno dorsal (sensorial); 4: Corno intermediário; 5: Corno ventral (motor); 6: Raiz dorsal (sensorial); 7: Nervo espinhal; 7’: Raiz ventral (motora); 8: Septo dorsal; 9: Fissura mediana; 10: Substância branca; 11: Gânglio espinhal. Cortesia de Rüsse e Sinowatz (1998). 197 A zona ventricular é rodeada pela camada intermediária ou do manto (Figs. 10-1, 10-5) a qual contém os corpos celulares dos neuroblastos pós-mitóticos e prováveis células gliais. Durante o amadurecimento da medula espinhal, a camada intermediária se torna a substância cinzenta, onde os corpos celulares dos neurônios estão localizados (Fig. 10-7). Fig. 10-7 Embrião porcino, Dia 16, secção transversa. 1: Primórdio da medula espinhal; 2: Notocorda; 3: Aorta dorsal; 4: Miótomo; 5: Dermátomo. Como os neuroblastos continuam a desenvolver axônios e dendritos, uma camada marginal (zona marginal) periférica é formada. Ela contém processos neurais, porém não corpos celulares e mais tarde forma a substância branca da medula espinhal. A adição contínua de neuroblastos à camada intermediária espessa o tubo neural ventral e dorsalmente em cada um dos lados (Figs. 10-6, 10-8). Os espessamentos ventrais são denominados placas basais. Eles contêm neurônios motores (fibras nervosas eferentes somáticas gerais) e neurônios autonômicos (fibras nervosas eferentes viscerais; Tabela 10-2). Os espessamentos dorsais, as placas alares, formam a área sensorial com neurônios recebendo estímulos da pele, articulações e músculos (fibras nervosas aferentes somáticas gerais), da faringe (fibras nervosas aferentes viscerais especiais), e das vísceras e coração (fibras nervosas aferentes 198 viscerais gerais). Um pequeno sulco longitudinal, o sulco limitante, marca o limite entre estas duas áreas (Fig. 10-6). As placas alares direita e esquerda estão conectadas dorsalmente sobre o canal central pela delgada placa do teto, as duas placas basais estão conectadas pela placa do assoalho, ventral ao canal central. As placas do teto e do assoalho não contêm neuroblastos, sendo que suas fibras nervosas servem primariamente para interligar um lado ao outro. Fig. 10-8 Embrião felino, 17 mm CCN. 1: Placa do teto; 2: Canal central; 3: Zona ependimária; 4: Zona marginal; 5: Placa do assoalho; 6: Gânglio espinhal; 7: Placa basal; 8: Placa alar. Tabela 10-2 Origem das estruturas no sistema nervoso central 199 A medula espinhal madura é organizada de forma semelhante ao padrão embrionário, exceto que as placas basais e alares se tornam subdivididas em componentes somáticos e viscerais. A transformação da medula espinhal embrionária para a madura (Fig. 10-9) resulta da proliferação, movimento celular assimétrico de neurônios imaturos na camada intermediária e o desenvolvimento de processos neuronais. Neste decurso, a camada intermediária adquire uma forma de borboleta, com cornos cinza proeminentes dorsal e ventralmente, ao redor do canal central. Adicionalmente aos cornos eferentes ventrais e aos aferentes dorsais, umapequena projeção lateral de substância cinzenta pode ser observada entre as colunas dorsal e ventral na região espinhal da torácica 1 (T1) até a lombar 2 (L2). Este é o corno lateral, que contém corpos celulares de neurônios autonômicos simpáticos (eferentes viscerais). 200 Fig. 10-9 Cão adulto, secção transversal através da medula espinhal. 1: Corno dorsal (sensorial); 2: Corno ventral (motor); 3: Funículo dorsal; 4: Funículo ventral; 5: Canal central; 6: Dura-máter; 7: Funículo lateral. A camada marginal evolui para a substância branca da medula espinhal, denominada desta forma em razão de seu aspecto esbranquiçado que resulta da predominância de axônios mielinizados. Esta camada externa contém tratos de axônios ascendentes e descendentes que são agrupados em feixes (funículos). Os funículos dorsais, laterais e ventrais estão separados pelas raízes nervosas espinhais eferentes que emergem da medula e raízes aferentes que penetram na medula (Fig. 10-9). Gânglios da raiz dorsal e nervos espinhais Assim como o descrito mais amplamente no Capítulo 8, as células da crista neural migram dos bordos das pregas neurais e dão origem a gânglios espinhais (gânglios da raiz dorsal) ou sensoriais dos nervos espinhais, assim como muitos outros tipos celulares, incluindo outros tipos de células dos gânglios (gânglios sensoriais, gânglios eferentes viscerais gerais do sistema simpático e parassimpático), células de Schwann, melanócitos, odontoblastos e mesênquima dos arcos faríngeos. Os neuroblastos dos gânglios espinhais desenvolvem dois processos, os quais prontamente se unem em formato de T (neurônios pseudounipolares). Ambos os 201 processos das células de gânglios espinhais possuem características estruturais de axônios, mas os processos periféricos podem ser funcionalmente classificados como um dendrito na maneira em que a condução no seu interior ocorre em direção ao corpo celular. Os processos que se estendem centralmente entram na porção dorsal do tubo neural e constituem a raiz dorsal aferente da medula espinhal. Na medula espinhal, eles formam sinapses com interneurônios dos cornos dorsais aferentes ou ascendem pelas camadas marginais para um dos centros cerebrais altos. Os processos que crescem perifericamente se unem às fibras da raiz ventral para formar o tronco do nervo espinhal, pelo qual eles terminam em receptores sensoriais. O tronco comum do nervo espinhal quase imediatamente se divide em um ramo dorsal e um ventral. Os ramos dorsais dos nervos espinhais inervam a musculatura axial dorsal, articulações vertebrais e a pele do dorso. Os ramos primários ventrais inervam os membros e a parede ventral do corpo, e formam os dois principais plexos nervosos, os plexos braquial e o lombossacral. Alterações posicionais da medula espinhal: ascensão da medula espinhal Inicialmente, a medula espinhal percorre toda a extensão do embrião com os nervos espinhais passando pelos forames intervertebrais nos níveis de sua origem. Mais adiante, no entanto, a coluna vertebral e a dura crescem mais rapidamente do que a medula espinhal, deixando a extremidade posterior da medula com o término gradualmente em um nível mais alto na coluna vertebral (Fig. 10-10). Este fenômeno é chamado de ascensão da medula espinhal. O crescimento desproporcional também força os nervos espinhais a percorrerem obliquamente da medula espinhal para os seus forames vertebrais correspondentes. 202 Fig. 10-10 Porção terminal da medula espinhal bovina em relação ao final da coluna vertebral em dois estágios (A: 3 meses de gestação, B: adulto) do desenvolvimento. 1: Segmentos da coluna espinhal, de cranial até caudal; 1-6: Parte lombar; I-VI: Parte sacral; 1-3: Parte coccígea; 2: Nervo espinhal; a: coluna vertebral; b: sacro; c: vértebras coccígeas; d: cauda eqüina. Cortesia de Rüsse e Sinowatz (1998). Em animais adultos a medula espinhal termina ao nível L2 até L3, dependendo da espécie. O saco dural circundante e o espaço subaracnoide se estendem mais posteriormente, geralmente até a sacral 2 (S2). Da extremidade posterior da medula espinhal, uma extensão glial e ependimária em forma de linha corre posteriormente, o fio terminal, o qual se liga ao periósteo das primeiras vértebras coccígeas. Os feixes de fibras nervosas que percorrem posteriormente no interior na coluna vertebral formam a cauda equina. Para se coletar fluido cerebroespinhal durante uma punção lombar, a agulha deve ser inserida nos níveis lombares inferiores, de 203 forma a se evitar atingir a porção mais baixa da medula espinhal. Desenvolvimento do cérebro Os dois terços anteriores do tubo neural desenvolvem o cérebro. A fusão das pregas neurais na região anterior e o fechamento do neuroporo anterior resultam na formação das três vesículas cerebrais primárias (Figs. 10-11, 10-12) das quais o cérebro evolui. Uma expansão na extremidade mais rostral do tubo neural forma a primeira vesícula cerebral, o prosencéfalo ou encéfalo anterior. As vesículas ópticas crescem como evaginações de cada lado do prosencéfalo. As duas regiões aumentadas do cérebro posteriores a esta se tornam o mesencéfalo e o rombencéfalo (segunda e terceira vesículas primárias cerebrais). O prosencéfalo se divide parcialmente em duas vesículas, o telencéfalo e o diencéfalo (Figs. 10-13, 10-14). As paredes laterais do telencéfalo logo se tornam abobadadas, antecipando os futuros hemisférios cerebrais. O diencéfalo permanece não dividido, localizado na linha média e conectado às vesículas ópticas que se expandem lateralmente. O rombencéfalo também se divide em porções rostral e posterior: o metencéfalo e o mielencéfalo, respectivamente (Figs. 10-14, 10-15). O metencéfalo dará origem à ponte e ao corpo trapezoide ventralmente, e ao cerebelo dorsalmente. O mielencéfalo forma a medula oblonga, a qual é a parte mais posterior do tronco encefálico e o conecta à medula espinhal (Figs. 10-14, 10-16). 204 Fig. 10-11 Embrião ovino com três vesículas cerebrais. 1: Prosencéfalo; 2: Mesencéfalo; 3: Rombencéfalo; 4: Placode ótico; 5: Coração; 6: Mesonefro; 7: Parede do corpo. 205 Fig. 10-12 Embrião felino, 10 mm CCN, secção longitudinal, estágio de três vesículas cerebrais. 1: Prosencéfalo; 2: Mesencéfalo; 3: Rombencéfalo com flexura pontina (seta); 4: Flexura cefálica; 5: Flexura cervical; 6: Primórdio da neuro-hipófise; 7: Bolsa de Rathke, primórdio da adeno-hipófise; 8: Cavidade oral primária; 9: Língua; 10: Coração; 11: Pulmão; 12: Mesonefro; 13: Intestino. Cortesia de Rüsse e Sinowatz (1998). 206 Fig. 10-13 Desenvolvimento do cérebro felino ao dia 18 (A), dia 22 (B) e dia 25 (C). A: 1: Prosencéfalo; 2: Mesencéfalo; Rombencéfalo; 4: Medula espinhal; 5: Vesícula óptica. B: 1: Telencéfalo; 2: Diencéfalo; 3: Mesencéfalo; 4: Rombencéfalo; 5: Infundíbulo; 6: Pedúnculo da vesícula óptica. C: 1: Primórdio do corpo mamilar; 2: Infundíbulo; 3: Hipotálamo; 4: Quiasma óptico; 5: Lâmina terminal; 6: Placa comissural; 7: Bulbo olfatório; 8: Hemisfério cerebral; 9: Teto do 3° ventrículo; 10: Tálamo; 11: Primórdio da epífise; 12: Comissura caudal; 13: Metatálamo; 14: Corpos quadrigêmeos; 15: Cerebelo; 16: Membrana tectória; 17: Flexura cervical; 18: Cruz cerebral; 19: Ponte; 20: Medula oblonga. Cortesia de Rüsse e Sinowatz (1998). Fig. 10-14 Embrião felino, 17 mm CCN, estágio do desenvolvimento cerebral em cinco vesículas, secção longitudinal, obtido de Rüsse e Sinowatz, 1998. 1: Telencéfalo; 2: Diencéfalo; 3: Mesencéfalo; 4: Metencéfalo; 5: Mielencéfalo; 6: Hipófise; 7: Língua; 8: Esôfago. Cortesia de Sinowatz e Rüsse (2007). 207 Fig. 10-15 Embrião porcino, dia 21.5, secção longitudinal através do metencéfalo e do mielencéfalo. 1: Placa do teto do 4° ventrículo; 2: Neurômeros do rombencéfalo; 3: Mielencéfalo. Cortesia de Rüsse e Sinowatz (1998). Fig. 10-16 Desenvolvimento do cérebro felino ao dia 33. 1: Bulbo olfatório; 2: Hemisfério cerebral; 3: Epitálamo; 4: Primórdio dos corpos quadrigêmeos; 5: Colículos caudais; 6: Cerebelo; 7: Membrana tectória; 8: Flexura cervical; 9: Medulaoblonga; 10: Ponte; 11: Cruz cerebral; 12: N. óptico. 208 Cortesia de Rüsse e Sinowatz (1998). As flexuras cerebrais O crescimento diferencial das cinco vesículas cerebrais secundárias (telencéfalo, diencéfalo, mesencéfalo, metencéfalo e mielencéfalo) dá origem às flexuras (Fig. 10- 12). Conforme ocorre o dobramento da cabeça, o mesencéfalo se dobra ventralmente para produzir a flexura mesencefálica (flexura cefálica). Uma segunda dobra ventral mais gradual entre o encéfalo posterior e a medula espinhal é denominada flexura cervical. No rombencéfalo, ocorre um pequeno dobramento dorsal, a flexura pontina. A flexura pontina está localizada na futura região pontina e causa um adelgaçamento do teto do encéfalo posterior. A princípio, o cérebro em desenvolvimento apresenta a mesma estrutura básica da medula espinhal, mas as flexuras produzem variações consideráveis no traçado de secções transversais em diferentes níveis do cérebro e nas posições relativas da substância branca e cinzenta. O sulco limitante se estende anteriormente apenas até a junção do mesencéfalo e diencéfalo. Portanto, as placas alares e basais, que são separadas pelo sulco limitante, são apenas reconhecíveis posteriormente a esta junção. No diencéfalo e telencéfalo, porém, as placas alares se tornam acentuadas e a placa basal regride. Rombencéfalo (encéfalo posterior) O rombencéfalo consiste no mielencéfalo, a vesícula cerebral mais posterior, e o metencéfalo, o qual se estende da flexura pontina para o istmo rombencefálico. Posteriormente, a flexura cervical demarca o mielencéfalo da medula espinhal em desenvolvimento. Mais adiante, esta junção é definida como o nível das raízes do primeiro nervo espinhal cervical, aproximadamente no forame magno. Mielencéfalo O mielencéfalo se assemelha à medula espinhal tanto em relação ao seu desenvolvimento quanto estruturalmente e se desenvolve na medula oblonga – a parte posterior do tronco encefálico. A medula oblonga funciona como um canal para os tratos entre a medula espinhal e as regiões mais altas do cérebro e também contém importantes centros para a regulação da respiração e batimentos cardíacos. O arranjo fundamental das placas alares e basais, as quais são separadas pelo sulco limitante como observado na medula espinhal, é mantido quase sem alteração, mas as paredes laterais são invertidas. Isto ocasiona uma expansão pronunciada da 209 placa do teto, fechando o canal central dorsalmente, e um alargamento do canal do quarto ventrículo. A placa do teto do mielencéfalo é reduzida a uma camada única de células ependimárias que está coberta por células mesenquimais formando a pia- máter. A proliferação ativa do mesênquima vascular produz numerosas invaginações em fundo de saco para o quarto ventrículo subjacente. Elas formam o plexo coroide, que produz o fluido cerebroespinhal. Como resultado, em vez de estarem arranjadas dorsoventralmente, as placas alares e basais passam a ficar dispostas no assoalho do encéfalo posterior como as páginas de um livro aberto, de modo que as áreas eferentes das placas basais tornam- se dispostas medialmente às áreas aferentes das placas alares. A cavidade desta parte do mielencéfalo (parte posterior do futuro quarto ventrículo) adquire um formato romboide. As placas basais, assim como na medula espinhal, contêm os núcleos (agregados de corpos celulares de neurônios) de nervos eferentes. De cada lado, estes núcleos estão arranjados em três grupos (Tabela 10-3). O primeiro é o grupo eferente somático geral medial, representado pelos neurônios dos nervos hipoglosso (XII) e acessório (XI), uma continuação cefálica do corno ventral da medula espinhal. Este grupo eferente somático geral se expande rostralmente para o mesencéfalo e é também denominado coluna motora eferente somática geral. O segundo grupo é o grupo eferente visceral especial intermediário, representado por neurônios que inervam músculos derivados dos arcos (branquiais) faríngeos (os nervos glossofaríngeo (IX), vago (X) e acessório (XI) que inervam a musculatura do terceiro e quarto arcos faríngeos). O terceiro, o grupo eferente visceral geral, é representado pelos neurônios do nervo vago (X) e glossofaríngeo (IX). Os axônios dos neurônios do vago suprem as vísceras torácicas e abdominais e o coração, enquanto os axônios dos neurônios do glossofaríngeo suprem a glândula parótida. Tabela 10-3 Regiões funcionais do cérebro e medula espinhal Placa alar (aferente ou sensorial) Aferente somático geral Estímulo da pele, articulações e músculos Aferente visceral especial Estímulo de papilas gustativas e faringe Aferente visceral geral Estímulo das vísceras e coração Placa basal (eferente motor ou autonômico) Eferente visceral geral Ligação autonômica entre o corno intermediário e as vísceras Eferente visceral especial Nervos motores para músculos estriados dos arcos branquiais Eferente somático Nervos motores para os outros músculos estriados que não os dos nervos 210 geral do arco branquial Os neuroblastos das placas alares no mielencéfalo migram para a zona marginal e formam áreas isoladas de substância cinzenta, os núcleos gráceis medialmente e os núcleos cuneiformes lateralmente. Estes núcleos estão associados aos tratos ascendentes correspondentes da medula espinhal no interior do funículo dorsal. Outro grupo de neuroblastos das placas alares migra ventralmente e forma os núcleos olivares. Ainda, outros neuroblastos das placas alares agrupam-se em núcleos que estão arranjados em quatro colunas de cada lado. Estas são, em ordem de lateral até medial: (1) aferente somática especial, recebendo impulsos da orelha interna; (2) aferente somática geral, que recebe estímulos da superfície da cabeça; (3) aferente visceral especial, recebendo estímulos das papilas gustativas, e (4) aferente visceral geral, a qual recebe impulsos das vísceras. Metencéfalo O metencéfalo representa a porção anterior do rombencéfalo (Figs. 10-17, 10-18). Ele se desenvolve em duas partes principais: a ponte, uma estrutura transversa que demarca a extremidade anterior da medula oblonga, e o cerebelo, uma estrutura de desenvolvimento recente do ponto de vista filogenético, mas tardia ontogeneticamente, que atua como centro de coordenação de postura e movimento. Foi demonstrado em camundongos que o desenvolvimento destas estruturas depende da expressão do gene engrailed-1 nesta área durante o início do desenvolvimento. 211 Fig. 10-17 Desenvolvimento pré-natal do cérebro e cerebelo bovino. A: dia 60; B: dia 65; C: dia 80; D: dia 120; E: dia 180. Cortesia de Rüsse e Sinowatz (1998). 212 Fig. 10-18 Desenvolvimento do metencéfalo bovino do dia 65 até o dia 120 da gestação; secções medianas. A: dia 65. 1: Ponte; 2: Medula oblonga; 3: Vermis; 4: Fissura pós-culminata; 5: Fissura uvulonodular; 6: Lobo floculonodular; 7: Plexo coroide do 4° ventrículo; 8: 4° ventrículo. B: dia 80. 1: Ponte; 2: Medula oblonga; 3: Lobo rostral; 4: Fissura pós-culminata; 5: Lobo caudal; 6: Fissura pós-piramidal; 7: Fissura floculonodular; 8: Lobo floculonodular; 9: 4° ventrículo; 10: Véu medular rostral; 11: Véu medular caudal; 12: Plexo coroide. C: dia 120. 1: Ponte; 2: Medula oblonga; 3: Gânglio trigêmeo; 3’: Núcleo sensitivo pontino dos n. trigêmeos; 3”: Núcleo do trato mesencefálico; 3’: Núcleo do trato espinhal dos n. trigêmeos; 4: Véu medular rostral; 5: Véu medular caudal; 6: Fissura pós-culminata; 7: Fissura pós-piramidal; 8: Pirâmide; 9: Úvula; 10: Fissura uvulonodular; 11: Lobo floculonodular. Cortesia de Rüsse e Sinowatz (1998). 213 O metencéfalo, tal qual o mielencéfalo, é caracterizado pelas placas basais e alares, mas com destinos diferentes de desenvolvimento. Assim como nas partes anteriores do mielencéfalo, a flexura pontina causa uma divergência das paredes laterais e, portanto, as placas alares novamente se situam laterais às placas basais, no lugar de estarem arranjadas dorsoventralmente. Cada placa basal do metencéfalo contém três grupos de neurônios motores: (1) o grupo eferente somáticogeral medial, que forma o núcleo do nervo abducente (VI); (2) o grupo eferente visceral especial intermediário, que dá origem aos núcleos dos nervos trigêmeo (V) e facial (VII), inervando a musculatura do primeiro e segundo arco faríngeo; e (3) o grupo eferente visceral geral que origina o núcleo do nervo facial (VII), suprindo as glândulas mandibulares e sublinguais. Alguns neurônios da placa alar migram ventralmente para formar os núcleos pontinos. Os axônios que partem dos neurônios no córtex cerebral terminam nos núcleos pontinos. Ventralmente, os axônios destes neurônios pontinos formam uma faixa superficial de fibras nervosas conhecidas como as fibras transversas da ponte. O cerebelo, um derivado da placa alar, é formado no teto do metencéfalo e é tanto estrutural quanto funcionalmente muito complexo (Fig. 10-17). Ele surgiu filogeneticamente como uma especialização do sistema vestibular e adquiriu outras funções importantes (como a orquestração da coordenação geral, e envolvimento nos reflexos auditivos e visuais) durante sua evolução. Tanto a morfologia do cerebelo quanto o arranjo espacial dos seus neurônios foram altamente conservados durante a evolução. As falhas do desenvolvimento do cerebelo causam anormalidades de locomoção e postura (Cap. 19). Os primórdios do cerebelo são os lábios rômbicos, regiões dorsolaterais das placas alares do metencéfalo. Foi descrito em camundongos que os lábios rômbicos se estendem entre os rombômeros 1–8, mas o próprio cerebelo é derivado apenas do lábio rômbico anterior (r1). As porções mais posteriores dos lábios rômbicos (r2–r8) dão origem às células precursoras migratórias que formam uma variedade de núcleos localizados ventralmente, incluindo-se os núcleos olivares e pontinos. Observados de cima, os lábios rômbicos parecem ser estruturas em formato de “V”. Sendo assim, os lábios rômbicos estão próximos uns aos outros na região anterior e mais afastados posteriormente, onde eles se unem ao mielencéfalo. Rostralmente, as extensões mediais dos lábios rômbicos estão fusionadas por um istmo. Como resultado de um maior aprofundamento da flexura pontina, os lábios rômbicos se comprimem anteroposteriormente e formam a placa cerebelar. Durante o período fetal precoce, o cerebelo em desenvolvimento se expande dorsalmente, formando uma estrutura semelhante a um haltere com uma fissura transversa dividindo-o em uma porção grande anterior e uma porção menor 214 posterior. A parte medial da região anterior dá origem ao vermis, e as áreas laterais se desenvolvem nos hemisférios do cerebelo. A região anterior cresce consideravelmente e mais tarde se torna o componente dominante do cerebelo maduro. Este aumento é caracterizado por um dobramento marcante da superfície, resultando em pregas próximas, transversas e paralelas – as folhas cerebelares. A porção posterior evolui para os lobos floculonodulares pareados. Eles são considerados como as estruturas filogeneticamente mais antigas do cerebelo e estão associados ao desenvolvimento do aparato vestibular. Inicialmente, a placa cerebelar consiste em camadas neuroepiteliais, intermediárias e marginais. Durante o início do período fetal as células do neuroepitélio migram pelas camadas intermediária e marginal para a superfície do cerebelo, onde elas são arranjadas em uma segunda camada germinal, a camada granular externa (Fig. 10-19). As células desta camada ainda são capazes de se dividir mitoticamente e mais adiante dão origem a vários tipos celulares, entre os quais células granulosas, células em cesto e células estreladas. As células granulosas são com grande vantagem a maior população formada pela camada granular externa. Fig. 10-19 Diferenciação histológica do cerebelo (secção sagital). A e B: Os neuroblastos migram do neuroepitélio (1) para a superfície do cerebelo e formam uma camada granular externa (2). As células desta camada retêm sua capacidade de se dividirem e formam uma zona proliferativa na superfície do cerebelo. C: Mais adiante no desenvolvimento, as células da camada granular externa dão origem a vários tipos celulares que migram em direção ao interior e passam pelas células de Purkinje em diferenciação (3). Elas dão origem às células granulares do córtex cerebelar definitivo. As células em cesto e estreladas são produzidas pelas células em proliferação na substância branca cerebelar. 4: Neurônios do núcleo dentado. 215 Cortesia de Rüsse e Sinowatz (1998). As células remanescentes na camada neuroepitelial se dividem e formam a camada germinativa interna. Os neuroblastos que se originam da camada germinativa interna migram para o hemisfério cerebelar onde eles se estabelecem em três grupos pareados logo acima do epêndima do quarto ventrículo, como precursores dos núcleos cerebelares (o núcleo dentado, núcleo interposto e núcleo fastigial), que são responsáveis por retransmitir sinais do e para o córtex cerebelar. As células da camada germinativa interna também migram em direção da camada granular externa, onde elas se diferenciam em células de Purkinje. Os corpos celulares das células de Purkinje se tornam alinhados em uma camada única abaixo da camada granular externa. Cada um destes neurônios desenvolve uma ampla arborização dendrítica superficial, em um plano único transversal ao eixo longitudinal do fólio. Em fetos bovinos, a camada de células de Purkinje já está desenvolvida no dia 100 da gestação. Após sua última divisão mitótica, as células granulares externas se tornam neurônios bipolares imaturos, e seus axônios correm em paralelo ao eixo longitudinal do fólio. Concomitantemente, os corpos celulares das células granulares externas sofrem uma segunda migração orientada para o centro, em direção ao interior do futuro cerebelo. No trajeto, estas células passam pela camada de precursores das grandes células de Purkinje e estabelecem inúmeras sinapses com eles (Fig. 10-19). Quando elas passam, as células de Purkinje formam uma espessa camada no córtex cerebelar denominada camada granular, a qual é mais larga sobre o centro de cada fólio e mais delgada ao redor dos sulcos entre eles. De cada célula granular, um único axônio percorre superficialmente e se bifurca na região dos dendritos das células de Purkinje. Estes axônios, chamados de fibras paralelas, atravessam as folhas cerebelares perpendicularmente ao plano das árvores dendríticas das células de Purkinje. Cada célula de Purkinje faz contato sináptico com centenas de milhares de fibras paralelas. Os mecanismos exatos que controlam a migração celular no cerebelo são amplamente desconhecidos, mas já foi estabelecido que um tipo especial de célula da glia (células da glia radial) guia a migração radial das células de Purkinje. A migração para o interior feita pelas células granulares externas esvazia a zona exterior do córtex cerebelar, a qual passa a ser referida como camada molecular. Desta maneira, na sua forma final o córtex cerebelar apresenta três camadas claramente separadas: uma camada molecular externa, a camada de células de Purkinje e uma camada granular interna (Fig. 10-20). 216 Fig. 10-20 Secção histológica do córtex cerebelar diferenciado de um cão adulto. 1: Camada molecular; 2: Camada de células de Purkinje; 3: Camada granular. O quanto o cerebelo se encontrará desenvolvido ao nascimento se correlaciona com a idade na qual o animal se torna capaz de ficar em pé e se locomover. Em carnívoros, grande parte da diferenciação do córtex cerebelar ocorre no período pós- natal. Filhotes de gatos e cães não andam de forma coordenada até cerca de 3 semanas pós-parto. Na época do nascimento, há apenas alguma estratificação da camada intermediária e na camada germinativa externa, onde as células ainda estão se dividindo ativamente. As outras camadas são formadas durante as duas primeiras semanas pós-natais, conforme se inicia a migração para o interior da camada germinativa externa. O pico de desenvolvimento da camada germinativa externa ocorre por volta de 7 dias e ela começa a se reduzir em tamanho por volta de 14dias pós-natais, assim que a camada granular definitiva se estabelece. A diferenciação da camada de células de Purkinje em gatos e cães é completada no vermis ao final do dia 30 pós-parto e no restante do cerebelo por volta de 10 semanas. Em bezerros e potros (precoces e capazes de permanecerem em pé e andarem cerca de uma hora após o nascimento) o cerebelo é muito mais diferenciado e funcional ao nascimento. Em fetos bovinos a camada germinativa externa surge por volta do dia 57 da gestação e alcança espessura máxima próximo ao dia 183. Embora a camada germinativa externa ainda seja reconhecível no momento do nascimento destas espécies, as três camadas definitivas do cerebelo maduro já estão aparentes. A camada germinativa externa se torna gradualmente ausente de células durante os primeiros meses pós-natais e por fim desaparece. Durante esse período, a capacidade funcional do cerebelo amadurece, evidenciada pelo aparecimento dos reflexos “aprendidos” (p. ex., reflexos posturais) e locomoção mais bem coordenada. 217 Mesencéfalo (encéfalo médio) O mesencéfalo (encéfalo médio) permanece como uma estrutura relativamente simples e as relações fundamentais entre as placas basais e alares são essencialmente preservadas. A parte do mesencéfalo dorsal ao aqueduto se torna o teto e forma os corpos quadrigêmeos, derivados das placas alares. Ventralmente ao aqueduto as placas basais formam o tegmento, o qual contém os núcleos eferentes dos nervos oculomotor (III; eferente somático geral e eferente visceral geral) e troclear (IV; eferente somático geral). Seus axônios suprem a maioria dos músculos extrínsecos que movem o globo ocular. Um núcleo eferente visceral especial relativamente pequeno, o núcleo de Edinger-Westphal, inerva o músculo do esfíncter pupilar do olho pelo nervo oculomotor (III). Ainda não está claro se os núcleos vermelhos e a substância negra são derivados da placa basal ou por migração dos neurônios da placa alar. Os neurônios da camada intermediária tanto das placas alares como basais contribuem para a formação reticular, um agregado de células nervosas concentradas em núcleos ao redor do aqueduto que se estende do mielencéfalo para o diencéfalo e está relacionado ao estado de consciência do animal. A camada marginal, associada a cada placa basal, cresce consideravelmente e forma a cruz cerebral. As cruzes (pedúnculos cerebrais) servem como vias para os axônios descendo do córtex cerebral para centros mais baixos no metencéfalo e medula espinhal. Estas fibras são corticonucleares e corticoespinhais (piramidais), respectivamente. Os neuroblastos das placas alares migram para o teto do mesencéfalo e formam protuberâncias longitudinais proeminentes, separadas por uma depressão medial rasa. Estas elevações são separadas por um sulco transversal que divide cada uma em colículos rostrais e caudais. Os colículos caudais são relativamente simples em sua estrutura e possuem funções auditivas. Os colículos rostrais apresentam uma arquitetura de estratificação mais complexa e são parte integral do sistema visual. Em vertebrados inferiores, os colículos rostrais atuam como centros de integração primários dos estímulos visuais. Em mamíferos os neurônios dos colículos rostrais enviam seus axônios para núcleos motores apropriados via os tratos tetoespinhais e tetobulbares. Os colículos rostrais estão envolvidos em movimentos oculares subconscientes. Em mamíferos superiores, a função dos colículos rostrais também depende de estímulo vindo do córtex visual. Lesões corticais produzem cegueira total aparente. Em pássaros, o lobo óptico, o equivalente dos colículos rostrais, provém todas as funções visuais. As conexões entre os colículos rostrais e caudais coordenam os reflexos visuais e auditivos. 218 Prosencéfalo (encéfalo anterior) O prosencéfalo é a mais anterior das três vesículas cerebrais primitivas. A parte anterior do prosencéfalo, o telencéfalo, forma os hemisférios cerebrais e os bulbos olfatórios. A parte posterior do prosencéfalo, o diencéfalo, dá origem ao epitálamo incluindo-se a glândula pineal, tálamo, metatálamo e hipotálamo, assim como a neuro-hipófise e os cálices ópticos. A cavidade que se desenvolve no interior do diencéfalo é o terceiro ventrículo. As cavidades no telencéfalo formam os ventrículos laterais. Todas as estruturas prosencefálicas (telencéfalo e diencéfalo) são consideradas derivadas das placas alares e do teto altamente modificadas, sem representação significativa das placas basais. Isto é corroborado pelo fato de o sulco limitante, o qual separa as placas alares e basais em vesículas cerebrais mais posteriores, não se estender anteriormente além do mesencéfalo. O interessante é que estudos moleculares em camundongos demonstraram que a sonic hedgehog (Shh), marcadora da linha média ventral, é expressa em partes ventrais do diencéfalo, denotando possível existência de uma placa basal, pelo menos nesta espécie. Diferenciação da região prosencefálica Os distintos padrões de expressão gênica influenciam fortemente a organização regional básica do prosencéfalo. Seis dos chamados prosômeros se estendem da junção prosencefálica-mesencefálica para a ponta anterior do prosencéfalo. Os prosômeros 1 até 3 (p1– p3, o mais posterior), tornam-se incorporados ao diencéfalo, e p2 e p3 contribuem significativamente com o tálamo. P4 até p6 contribuem tanto para estruturas diencefálicas quanto telencefálicas. A área basal de p4 até p6 se desenvolve nas principais regiões que integram as funções nervosas autonômicas e controlam a liberação de hormônios pela pituitária. As placas alares destes domínios se desenvolvem em estruturas que incluem o córtex cerebral, gânglios da base e vesículas ópticas. Conforme o desenvolvimento avança, a combinação de p2 e p3 realiza uma dobra acentuada posteriormente, para cima de p4 a p6. Em humanos foi demonstrado que um enorme crescimento da placa alar de p4 até p6 forma as vesículas encefálicas, as quais envolvem os demais prosômeros e formam, mais tarde, o córtex cerebral. Diencéfalo O desenvolvimento do diencéfalo é caracterizado pelo aparecimento de três pares de intumescências no aspecto medial da parede lateral do diencéfalo (Fig. 10-21). Elas 219 formam um primórdio epitalâmico dorsal, um talâmico intermediário e um hipotalâmico ventral de cada lado. O maior par de massas está representado pelo tálamo em desenvolvimento, que está separado por um canal, o sulco hipotalâmico, do hipotálamo situado ventralmente (Fig. 10-22). As massas hipotalâmicas, originalmente pareadas, se fundem mais adiante para formar uma única estrutura que se torna um grande centro regulatório. Ela se diferencia em várias áreas nucleares que controlam muitas funções homeostáticas básicas como o sono, temperatura corpórea, fome, balanço de fluidos e eletrólitos, comportamento emocional e atividade da pituitária. Os núcleos subtalâmicos pareados, os corpos mamilares, podem ser observados como protuberâncias distintas da superfície medioventral do hipotálamo. Fig. 10-21 Embrião porcino, dia 21,5. 1: Diencéfalo; 2: Retina; 3: Lente; 4: Epitélio pigmentado da retina; 5: Estomódeo. Cortesia de Rüsse e Sinowatz (1998). 220 Fig. 10-22 Embrião canino, 35 mm CCN, secção coronal. I e II: ventrículos laterais; III: terceiro ventrículo. 1: Tálamo; 2: Hipotálamo; 3: Corpo estriado; 4: Hemisférios cerebrais; 5: Plexo coroide; 6: Olho; 7: Cavidade nasal; 8: Sutura dos processos palatinos laterais; 9: Cavidade oral; 10: Língua; 11: Botões dentários; 12: Mandíbula. Cortesia de Rüsse e Sinowatz (1998). Os primórdios talâmicos altamente proliferativos gradualmente se projetam para o lúmen do diencéfalo. Em animais domésticos esta expansão é geralmente tão grande que as regiões talâmicas de ambos os lados se fusionam na linha média, formando a adesão intertalâmica ou massa intermédia. A região central do canal neural ventricular expandido do diencéfalo consequentemente se torna obliterada resultando em um terceiro ventrículo em formato de anel (Fig. 10-22). Ventralmenteà adesão, o terceiro ventrículo forma uma fenda vertical entre as paredes do hipotálamo em desenvolvimento que se estende em direção ventral para o pedúnculo da neuro-hipófise. Dorsalmente à adesão intertalâmica, o terceiro ventrículo está coberto pela placa do teto (reduzida a uma única camada de células ependimárias) e por mesênquima vascular. Esta camada combinada forma o plexo coroide do terceiro ventrículo e ventrículos laterais. No tálamo, tratos neurais de centros cerebrais mais altos fazem sinapses com aqueles de outras regiões do cérebro e tronco encefálico. Desta forma, o tálamo atua como um centro importante para retransmitir impulsos sensoriais (auditivos, visuais e táteis), em conjunto com sinais dos gânglios da base e cerebelo, para as áreas correspondentes do córtex cerebral. 221 No aspecto dorsolateral dos primórdios talâmicos, o metatálamo forma os corpos geniculados medial e lateral, estruturas que fazem conexão com os colículos rostrais e caudais, respectivamente, para retransmitir impulsos visuais e auditivos. Epífise (glândula pineal) A porção mais posterior da placa do teto do diencéfalo desenvolve um pequeno divertículo. No interior dele, a proliferação celular produz a epífise (incluindo a glândula pineal) como uma estrutura em formato de cone. O cone permanece aderido ao teto do diencéfalo pelas habênulas, dois finos pedúnculos de fibras nervosas que também contêm alguns aglomerados de neurônios (núcleos habenulares). As células neuroepiteliais se diferenciam em dois tipos celulares, os pinealócitos e as células gliais. Os pinealócitos desenvolvem processos celulares e liberam um hormônio, a melatonina, para os capilares ao seu redor ou para o fluido cerebroespinhal do terceiro ventrículo. A glândula pineal está envolvida no controle do ritmo circadiano. Na ausência de luz, ela produz melatonina, a qual possui atividade antigonadotrópica e inibe a função do eixo pituitário-gonadal em algumas espécies, como as éguas, mas tem efeito oposto em outras espécies, como em ovelhas (Cap. 3). A produção de melatonina pela glândula pineal está sob a influência do núcleo supraquiasmático do hipotálamo, que recebe informações da retina sobre o padrão diário de luz e escuridão. Dados recentes em animais de experimentação sugerem que é principalmente o núcleo supraquiasmático que controla o ciclo diário, e não o sinal da melatonina, como foi postulado anteriormente. Hipófise (glândula pituitária) A hipófise se desenvolve de duas partes consideravelmente separadas: (1) uma protrusão ectodérmica do estomódeo imediatamente à frente da membrana bucofaríngea, conhecida como bolsa de Rathke, formando a adeno-hipófise, e (2) um crescimento inferior ventral do diencéfalo, o infundíbulo, formando a neuro-hipófise. Quando o estomódeo é formado inicialmente, o ectoderma do seu aspecto dorsal está próximo do neuroectoderma ventral do diencéfalo (Fig. 10-23). No local da aposição, o ectoderma do estomódeo se espessa e invagina, formando a bolsa de Rathke (ou adeno-hipofisária). A extremidade distal desta bolsa cresce em direção do primórdio infundibular, dorsal e adjacente à bolsa de Rathke. Uma vez em contato próximo com a borda anterior do infundíbulo em formação, a bolsa se achata novamente enquanto ainda está anexada ao revestimento do estomódeo por um pedúnculo epitelial. A conexão é perdida alguns dias mais tarde e o epitélio na borda anterior da bolsa prolifera e passa a formar cordões e blocos de células. Observa-se uma menor proliferação na porção da bolsa de Rathke que está em 222 contato com a neuro-hipófise em desenvolvimento. A proliferação celular na borda rostral continua em grau variável, dependendo da espécie, e forma a adeno-hipófise. As células da adeno-hipófise circundam àquelas da neuro-hipófise em extensões variáveis, muito intensamente em suínos. Fig. 10-23 Desenvolvimento da hipófise felina (áreas delimitadas por quadros). A: 5 mm CCN. 1: Prosencéfalo; 2: Membrana bucofaríngea; 3: Estomódeo; B: 11 mm CCN. 1: Telencéfalo; 2: Diencéfalo; 3: Evaginação do infundíbulo do diencéfalo: primórdio da neuro- hipófise. 4: Bolsa de Rathke: primórdio da adeno-hipófise. C: 14 mm CCN. 1: Telencéfalo; 2: Diencéfalo; 3: Adeno-hipófise; 4: Neuro-hipófise; 5: Canal craniofaríngeo; 6: Osso esfenoide. Telencéfalo O desenvolvimento do telencéfalo é dominado por uma enorme expansão das vesículas telencefálicas, as quais dão origem aos dois hemisférios cerebrais que crescem superando completamente as partes anteriores do tronco encefálico (Figs. 10-17, 10-24). As paredes das vesículas telencefálicas rodeiam os ventrículos laterais em expansão, os quais são protrusões do terceiro ventrículo, comunicam-se com ele via os forames interventriculares. 223 Fig. 10-24 Embrião porcino, dia 21,5, secção sagital do telencéfalo. 1: Hemisfério cerebral; 2: Ventrículo lateral; 3: Gânglios da base; 4: Plexo coroide. Embora os hemisférios cerebrais se expandam muito durante o início da gestação, sua superfície externa permanece lisa. Mais adiante, eles são submetidos a dobramentos em vários níveis de organização e diversos sulcos e fissuras principais começam a aparecer. Ao término da gestação a superfície de cada hemisfério se torna dobrada e desenvolve sulcos (fendas) e giros (elevações) espécie-específicos, característicos do cérebro maduro. O padrão externo de sulcos e giros é produzido por um crescimento desigual do córtex e sua substância branca associada. Uma vastidão de eventos celulares internos determina como o telencéfalo funciona. Os detalhes vão além do escopo deste livro e apenas os princípios gerais serão discutidos aqui. Geralmente, o desenvolvimento funcional do telencéfalo se inicia com uma regionalização precoce seguida pela geração e migração direcionada de precursores neurais. A migração é radial e seu padrão é estabelecido em estágios bastante precoces do desenvolvimento embrionário. Os neuroblastos migram da camada ventricular, onde eles são formados, para a superfície externa das vesículas telencefálicas. Existem locais geneticamente predeterminados na camada ventricular do tubo neural que equivalem a áreas particulares da superfície dos hemisférios. Os neuroblastos que se originam em um determinado local e tempo de desenvolvimento irão se estabelecer em pontos definidos do futuro córtex. Esta equivalência depende de células especiais da glia (células da glia radial) que se estendem da camada ventricular do tubo neural para a área correspondente da superfície do hemisfério. Os neuroblastos em migração seguem os processos gliais para atingirem suas destinações específicas. Além da posição no interior do tubo neural, o tempo de migração influencia 224 fortemente o posicionamento de neurônios no córtex cerebral. No córtex maduro, os primeiros neurônios a se organizarem na superfície serão encontrados na camada mais profunda. Conforme mais neurônios deixam a camada ventricular, eles devem migrar pelas camadas de neurônios já presentes. Os últimos neurônios a compor são encontrados nas camadas mais superficiais do córtex cerebral (estratificação de dentro para fora do córtex cerebral). Assim que as células neuronais atingem sua posição final, processos axonais (e, um pouco depois, processos dendríticos) crescem delas para células-alvo específicas ao longo de caminhos estreitamente guiados. Os axônios de células piramidais, por exemplo, passam como grupos longos de fibras (a cápsula interna) entre os gânglios basais e percorrem até células eferentes somáticas gerais da medula espinhal. Na superfície ventral da medula oblonga, eles são observados como pirâmides, que são uma manifestação grosseira dos tratos corticoespinhais. Sendo assim, a posição tangencial de um neurônio no córtex cerebral é determinada pela sua origem na camada ventricular e, por sua vez, a camada na qual a célula por fim se localiza é fortemente influenciada pelo tempo tomado durante sua migração. O padrão de migração neuronal geneticamente predeterminado durante a formação do córtex cerebral provavelmentecontribui significativamente para o desenvolvimento das colunas neuronais organizadas em módulos que compreendem a unidade funcional e organizacional do córtex cerebral do cérebro maduro. Conforme o córtex cerebral se desenvolve, os axônios de seus neurônios fazem sinapses com outros neurônios nas seguintes formas: (1) com neurônios no interior do mesmo hemisfério, (2) com neurônios de outro hemisfério e (3) com neurônios de outras regiões do cérebro e medula espinhal. Os neurônios que fazem sinapses com neurônios do mesmo hemisfério são denominados neurônios de associação. Seus processos percorrem entre giros adjacentes (neurônios de associação curta) ou a giros mais distantes (neurônios de associação longa). Os neurônios com axônios que conectam regiões correspondentes dos dois hemisférios são classificados como neurônios comissurais. Aqueles com axônios que conectam o córtex a regiões mais profundas do SNC são chamados de neurônios de projeção. Baseando-se no seu desenvolvimento filogenético, o córtex cerebral pode ser subdividido em alocórtex, evolucionariamente mais antigo, e no mais recente neocórtex (Fig. 10-25). O alocórtex compreende o arquicórtex e o paleocórtex. O alocórtex apresenta uma ampla variedade de padrões histológicos em regiões diferentes, mas está caracterizado geralmente por três camadas histológicas (molecular, piramidal ou granular e polimórfica). O neocórtex, por sua vez, apresenta uma mais complexa estrutura histológica de cinco ou seis camadas. 225 Fig. 10-25 Embrião porcino, dia 21,5, secção coronal do telencéfalo. 1: Ventrículo lateral direito; 2: Ventrículo lateral esquerdo; 3: Neopálio; 4: Plexo coroide; 5: Arquipálio. Em carnívoros, as conexões principais entre os hemisférios estão completas a partir da terceira semana pós-natal, mas o amadurecimento total é prolongado até a sexta semana ou até depois, quando a mielinização das vias principais é completada. As vias eferentes somáticas gerais e as vias para propriocepção são as últimas a serem mielinizadas. As evidências anatômicas e funcionais mais claras dos processos de maturação pós-natal do cérebro advêm de um rápido crescimento dos hemisférios, ao aumento das proeminências dos giros e o aumento de complexidade do comportamento motor do animal durante as seis primeiras semanas pós-natais. Nas espécies precoces (ruminantes e cavalos) o córtex já atingiu maturidade funcional ao momento do nascimento. Arquicórtex (arquipálio) (Fig. 10-25) O arquicórtex consiste em giro geniculado, giro supracaloso, giro para- hipocampal assim como o giro hipocampal e o giro dentado, os quais são chamados coletivamente de formação hipocampal. O primórdio da formação hipocampal aparece cedo no desenvolvimento, na parede dorsomedial do telencéfalo, onde uma área restrita da parede ventricular evagina para o lúmen ventricular. A formação hipocampal passa então a ficar externa à fissura coroide. A continuação do desenvolvimento é postergada e a fase migratória dos neuroblastos não se inicia até mais tardiamente do período embrionário. Durante o período fetal, quando o neocórtex e a grande comissura, o corpo caloso, se desenvolvem, a formação 226 hipocampal retrai posteriormente, ao longo da parede dorsomedial dos hemisférios. Apenas pequenos resquícios, o indúsio gríseo e as estrias longitudinais permanecem no interior do sulco hipocampal. O hipocampo é deslocado no lobo temporal onde ele forma uma eminência que se projeta dorsalmente para o corno inferior do ventrículo lateral. O sistema eferente do hipocampo é o fórnix, o qual se curva sobre o tálamo para atingir os corpos mamilares ventralmente. Paleocórtex (paleopálio) O paleocórtex está localizado nos aspectos basais e mediais dos hemisférios. Ele compreende os bulbos olfatórios, tratos olfatórios, tubérculo olfatório e lobo piriforme. Expansões das regiões rostrais do telencéfalo formam os bulbos olfatórios. Eles recebem axônios de neurônios na mucosa olfatória, os quais formam sinapses complicadas com as células mitrais do bulbo olfatório, chamadas glomérulos olfatórios. Os axônios dos neurônios do bulbo formam o trato olfatório e fazem sinapses com os neurônios do córtex olfatório do hemisfério cerebral. Neocórtex (neopálio) O neocórtex compõe a maior parte do córtex cerebral. Ele é distinguido do alocórtex por possuir mais células nervosas em seis camadas histológicas. Durante sua formação, as células da camada ventricular migram superficialmente para formar a camada intermediária e mais tarde, uma camada subventricular adicional e a placa cortical. A placa cortical é estabelecida pela migração de neuroblastos formados na camada ventricular. As camadas 2 até 6 do córtex maduro são derivadas da placa cortical. Embora a estratificação do córtex seja completada durante o desenvolvimento fetal, o córtex cerebral não se torna funcional e morfologicamente maduro até mais tardiamente. Isto é especialmente evidente em carnívoros, mas também é verdadeiro em ungulados e equinos. A maturação funcional pós-natal envolve a chegada de fibras aferentes, mielinização de tratos importantes no SNC e preenchimento de conexões sinápticas intracorticais necessárias. Comissuras Conforme o córtex cerebral se desenvolve, processos neuronais fazem sinapses com neurônios no interior do mesmo hemisfério, entre o hemisfério esquerdo e direito (comissuras), e entre o hemisfério e outras regiões do SNC. As primeiras fibras comissurais são encontradas na comissura anterior, a qual consiste em axônios que conectam o bulbo olfatório e áreas do cérebro relacionadas de um hemisfério àquelas do lado oposto. A segunda comissura a se desenvolver é o fórnix ou comissura hipocampal. Seus axônios surgem no hipocampo e se convergem na lâmina terminal. As fibras continuam dali, formando um sistema em arco fora da fissura 227 coroide que percorre até o corpo mamilar e o hipotálamo. A comissura mais importante na vida adulta é o corpo caloso, o qual conecta as áreas não olfatórias do córtex dos hemisférios direito e esquerdo e é essencial para a coordenação de atividades entre os dois. Inicialmente, os axônios do corpo caloso formam um pequeno grupo de fibras na lâmina terminal. Em associação da expansão contínua do neopálio, ele se estende tanto anterior quanto posteriormente, arqueando-se sobre o teto delgado do diencéfalo. Em ungulados, o corpo caloso é bem desenvolvido ao nascimento, mas em carnívoros seu desenvolvimento continua mesmo durante o primeiro ano de vida. Em adição a estas três principais comissuras que se originam da lâmina terminal, existem outros grupos de fibras comissurais. Duas delas, as comissuras posterior e habenular se cruzam logo abaixo e rostralmente ao pedúnculo da glândula pineal, entre os hemisférios direito e esquerdo. Núcleos da base Adicionalmente à função de povoarem o córtex cerebral, os neurônios que se originam da camada intermediária das vesículas diencefálica e telencefálica formam agregados de corpos celulares chamados de gânglios da base. A base de cada vesícula telencefálica se espessa e forma uma eminência medial e lateral. A eminência medial, menor, que é derivada da vesícula diencefálica, está envolvida na formação do corpo amigdaloide. O globo pálido possui origem em uma área adjacente do diencéfalo. A eminência lateral, maior, é derivada da vesícula telencefálica e está envolvida com a formação do núcleo caudado e do putâmen. O núcleo caudado, o putâmen e outros núcleos da base formam coletivamente o corpo estriado. Os núcleos da base se desenvolvem primeiro próximo aos forames interventriculares, mas se tornam alongados e em formato de C conforme os hemisférios cerebrais crescem posteriormente. O núcleo caudado, particularmente, invagina para dentro do corno rostral e a parte central do ventrículo lateral. Ele também percorre para o interior do lobo temporal e se estabelece finalmente sobre o teto do corno inferior do ventrículo lateral. Com a histodiferenciação do córtex cerebral, muitas fibras nervosas convergem na área do corpo estriado, o qualse torna subdividido pela cápsula interna em dois componentes principais: o núcleo lentiforme, ventrolateralmente, formado pelo putâmen e pálido, e claustro; e o núcleo caudado, dorsomedialmente. Estas estruturas, que são componentes do agregado complexo de núcleos também são chamadas de gânglios da base, estão envolvidas no controle inconsciente do tônus muscular e movimentos corporais complexos. Sistema ventricular do cérebro Em contraste ao estreito canal central da medula espinhal, o lúmen do tubo neural se 228 expande na região do cérebro em desenvolvimento. Enquanto certas partes do cérebro tomam forma, o lúmen do tubo neural se expande em ventrículos bem- definidos, conectados por canais mais finos. Os ventrículos e canais são revestidos pelo epitélio ependimário, derivado da camada neuroepitelial, e são repletos de fluido cerebroespinhal. No interior de cada vesícula telencefálica se desenvolve um ventrículo lateral (Figs. 10-22, 10-24, 10-25). A cavidade central do telencéfalo e do diencéfalo forma o terceiro ventrículo, que circunda a adesão intertalâmica. O terceiro ventrículo está conectado a cada ventrículo lateral pelos forames interventriculares. Posteriormente, o terceiro ventrículo está conectado ao quarto ventrículo via o estreito aqueduto mesencefálico. A tela coroide, da qual o plexo coroide está suspenso no interior do lúmen ventricular, é formada por regiões ao longo do teto do diencéfalo, na parede medial de cada vesícula lateral, e no teto do terceiro e quarto ventrículos, que são compostos por células ependimárias e pia-máter vascular. A função primária do plexo é a produção de fluido cerebroespinhal, formado por meio da filtração do plasma sanguíneo, transporte ativo de certos componentes do plasma e atividade secretória das células ependimárias. Assim que é formado o fluido cerebroespinhal flui dos ventrículos laterais para o terceiro e, por último, para o quarto ventrículo. Grande parte do fluido escapa pelos dois ou três orifícios pequenos no teto do quarto ventrículo (duas aberturas laterais, os forames de Magendii, e uma abertura dorsal, o forame de Luschkae) e entra no espaço subaracnoide entre a pia-máter e a aracnoide. Isso permite que o fluido cerebroespinhal produzido pelo plexo passe para fora do lúmen do SNC e circule no interior das meninges de onde será absorvido por veias. Meninges No período embrionário e fetal, duas camadas do mesênquima envolvem o cérebro e a medula espinhal. Estas coberturas se desenvolvem em uma ectomeninge externa, derivada do mesoderma axial, e uma endomeninge mais delgada, considerada uma derivação das células da crista neural. A ectomeninge forma a forte dura-máter, composta de colágeno e fibras elásticas. A endomeninge se subdivide mais tarde em uma pia-máter delgada, a qual está em íntima aposição ao tecido neural, e uma aracnoide intermediária, uma camada não vascular delicada. A dura-máter e a aracnoide são separadas por um espaço subdural muito estreito, repleto de fluido. Em contrapartida à dura-máter da medula espinhal, a dura-máter do cérebro é composta por duas distintas camadas fibrosas: a camada externa se fusiona ao periósteo dos ossos do crânio em desenvolvimento; a camada 229 interior forma uma grande dobra, a foice cerebral, que separa os hemisférios cerebrais. Por que a camada exterior da dura-máter está fusionada ao periósteo dos ossos cranianos, nenhum espaço epidural é encontrado no crânio. Na medula espinhal, o espaço entre a dura-máter e a parede do canal vertebral em desenvolvimento, o espaço epidural, contém fluido, tecido conjuntivo frouxo, vasos sanguíneos e tecido adiposo, que dá suporte à medula espinhal e às raízes dos nervos espinhais. Sistema nervoso periférico Classificação dos nervos periféricos O sistema nervoso periférico (SNP), o qual se desenvolve de várias fontes, consiste nos nervos cranianos, espinhais, e viscerais, e os gânglios cranianos (Fig. 10- 26), espinhais, e autonômicos. Ele abrange as fibras nervosas eferentes (motoras) que conduzem impulsos para longe do SNC e fibras aferentes (sensoriais) que conduzem impulsos em direção ao SNC. Os nervos normalmente possuem ambos os tipos de fibras. Fig. 10-26 Nervos cranianos e seus gânglios em um embrião porcino de 12 mm CCN. 1: Telencéfalo; 2: Cálice óptico com lente; 3: Diencéfalo; 4: Mesencéfalo; 5: Pele; 6: Rombencéfalo; 7: Vesícula ótica. N. III: N. oculomotor; N. IV: N. troclear; N.V1: N. oftálmico do N. trigêmeo; N.V2: N, maxilar do N. trigêmeo; N.V3: N. mandibular do N. trigêmeo; GV: Gânglio trigeminal; N.VII: N. facial com gânglio geniculado; N.VIII: N. vestibulococlear; N.IX: N. glossofaríngeo com gânglio proximal e gânglio distal; N. X: N. vago com gânglio proximal e 230 gânglio distal; N. XI: N. acessório; N. XII: N. hipoglosso. I-III: Gânglios espinhais cervicais. Cortesia de Rüsse e Sinowatz (1998). Nervos eferentes assim como os aferentes do SNP podem também ser classificados como sendo somáticos ou viscerais (Tabela 10-2). Esta subdivisão se baseia caso um nervo periférico termine em tecidos derivados da esplancnopleura (i. e., tecido visceral), ou somatopleura (i. e., tecido da parede corporal). Os neurônios aferentes somáticos e eferentes somáticos gerais inervam músculos voluntários, tecido conjuntivo associado e estruturas nas quais o epitélio derivado do ectoderma esteja presente (pele, boca e órgãos sensoriais). Os neurônios eferentes somáticos gerais dão origem às fibras eferentes somáticas gerais ocupadas com os músculos voluntários derivados da somatopleura. Os neurônios aferentes somáticos podem dar origem a fibras aferentes somáticas especiais associadas à visão, audição e equilíbrio (apenas na região do cérebro), e as fibras aferentes somáticas gerais relacionadas aos demais impulsos aferentes somáticos. Os neurônios eferentes viscerais controlam o movimento de músculos voluntários derivados dos arcos faríngeos, músculos involuntários e glândulas dos tratos pulmonares e digestivos, e o sistema cardiovascular. Os neurônios eferentes viscerais dão origem a fibras eferentes viscerais especiais, associadas aos músculos dos arcos faríngeos (apenas na região do cérebro), e fibras eferentes viscerais gerais relacionadas às demais funções. Os neurônios aferentes viscerais se projetam dos mesmos tecidos assim como das papilas gustativas e mucosa olfatória. Novamente, os neurônios aferentes viscerais podem dar origem a fibras aferentes viscerais especiais associadas às papilas gustativas e mucosa olfatória (apenas na região cerebral), e fibras aferentes viscerais gerais ocupadas com as demais funções. Sistema eferente e aferente somático geral Os músculos voluntários do organismo são derivados do mesoderma paraxial. Os neurônios que inervam estes músculos estão localizados no corno ventral da substância cinzenta da medula espinhal ou no interior de discretos núcleos eferentes (motores) no tronco encefálico. Seus axônios, que são referidos como carreadores de fibras eferentes somáticas gerais projetam-se diretamente aos músculos-alvo. Os neurônios aferentes somáticos transmitem informações sobre estímulos físicos e químicos que afetam o animal. As fibras aferentes somáticas gerais conduzem informações de dois tipos: as fibras exterorreceptivas transmitem informações de diferentes receptores na pele, enquanto as fibras proprioceptivas carregam informações dos fusos musculares dos músculos voluntários e tecido conjuntivo 231 associado (fáscia e tendões) ou ligamentos e cápsulas articulares. Estes últimos proporcionam as informações necessárias para o controle da postura e movimento. Na cabeça, fibras aferentes somáticas também incluem nervos associados a receptores especializados dos sistemas ópticos, vestibulares e auditivos, e tais fibras são denominadas como fibras aferentes somáticas especiais. No tronco, os corpos celulares tanto de neurônios aferentes somáticos quanto viscerais (veja mais adiante) estão localizados em gânglios espinhais (Figs. 10-27, 10-28) associados às raízes dorsais dos
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