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ÍNDICE
APRENDIZADO DIÁRIO
MUDANÇAS ACELERADAS
EXPERIÊNCIA NO COMBATE A ENDEMIAS E PANDEMIAS
PLANEJAMENTO E AÇÃO RÁPIDA
CRISE FINANCEIRA VAI IMPACTAR AS UNIVERSIDADES
TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO: COVID19 E ALÉM
COVID-19: ESTRESSE E BEM-ESTAR PSICOLÓGICO
USANDO A TECNOLOGIA PARA OS CUIDADOS DE SAÚDE DURANTE E APÓS A COVID-19
A ESTRATÉGIA ALEMÃ CONTRA O COVID-19
LOCKDOWN NA CORÉIA DO SUL E A REAÇÃO DO PÚBLICO SOBRE AS MEDIDAS
COMO EVITAR NOVAS PANDEMIAS COM A TECNOLOGIA?
Educação
Comunicação
Avaliação dinâmica
Primeira Categoria
Rastreamento de Contato
Infodemia
Perspectivas
Segunda Categoria
Conselho aos médicos brasileiros
Prevenção: triagem de sintomas
Insights epidemiológicos
Telemedicina
Treinamento
Terceira Categoria
Risco de estresse pós-traumático ou crescimento de estresse pós-traumático?
Mitigação: Rastreamento de Contato
TECNOLOGIA E INOVAÇÃO A FAVOR DA EDUCAÇÃO MÉDICA
ABERTURA LENTA E GRADUAL
UM RECADO AOS MÉDICOS
MUDANÇAS DE PARADIGMAS
AS LIÇÕES DE TAIWAN E DO REINO UNIDO
PARA O COMBATE AO CORONAVÍRUS NO BRASIL
INOVAÇÃO, COOPERAÇÃO E MUDANÇA DE PARADIGMAS:
OS DESAFIOS AO ENSINO DA MEDICINA NA PANDEMIA DO CORONAVÍRUS
USO DE TECNOLOGIA PARA CUIDADOS DE SAÚDE DURANTE
E APÓS A COVID-19
PSICOLOGIA E BEM-ESTAR DE MÉDICOS,
PACIENTES E POPULAÇÃO EM GERAL
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AS LIÇÕES DE TAIWAN E DO REINO UNIDO
PARA O COMBATE AO CORONAVÍRUS NO BRASIL
A pandemia do Coronavírus tem sido enfrentada de diferentes formas pela comunidade 
médica no mundo. Enquanto na Ásia, Taiwan lançou mão de experiências anteriores com 
pandemias e endemias, no continente europeu, o Reino Unido apostou no fortalecimento 
e sistematização de seu serviço público de saúde. É o que nos conta os especialistas 
ouvidos no webinar promovido pela Afya em parceria com a startup irlandesa IHeed.
No tempo em que a curva de contágio do Coronavírus no Brasil segue acelerada, outros 
países do mundo já conseguiram frear a velocidade da infecção em maior ou menor escala, 
cada um a seu modo. É o caso da ilha de Taiwan. O país passou praticamente ileso pela 
pandemia, registrando módicos 440 casos, e menos de 10 mortes. Outros países, como 
Itália, Espanha e Reino Unido seguiram caminhos opostos, com alta taxa de infecção e 
letalidade, mas agora começam a dar os primeiros sinais de que o pior já passou. 
Para entender um pouco melhor as estratégias adotadas por Taiwan e Reino Unido a 
Afya, em parceria com a startup de educação médica irlandesa IHeed, organizou um 
webinar para tratar sobre os recursos e infraestrutura necessárias no enfrentamento da 
Covid-19 nesses países. Os convidados foram Brian Chang, secretário-geral em exercício 
da associação médica de Taiwan e secretário honorário de médicos de família da região 
Ásia-Pacífico e Salman Rawaf, pediatra com formação em saúde pública, diretor do Centro 
de Colaboração da OMS para educação e treinamento em saúde pública. Ele também é 
conselheiro da OMS para atenção primária em saúde, sistemas de saúde, educação médica 
e recursos humanos em saúde. O painel foi mediado por Julio de Angeli, VP de Inovação e 
Educação Continuada da Afya, com participação do Dr. Tom O’Callaghan, CEO da IHeed, 
e do cardiologista Dr. Rafael Munerato.
VOCÊ PODE ACOMPANHAR O WEBINAR COMPLETO AQUI.
https://www.youtube.com/watch?v=JvF--NNFfB4&t=1s
02
APRENDIZADO DIÁRIO
A Covid-19 surgiu na província de Wuhan, na China, em dezembro de 2019. De lá para 
cá, muito tem sido estudado sobre o vírus e a doença causada por ele. Em apenas alguns 
meses, o vírus se espalhou com força pelo país asiático e tomou o mundo, de forma que 
poucos países estavam preparados para enfrentar essa nova ameaça de saúde. Salman 
conta que a Europa e o Reino Unido, particularmente, subestimaram a capacidade do 
vírus no início. “Temos muitos recursos de saúde pública no Reino Unido, e ainda assim, 
fomos tomados de surpresa pelo Coronavírus, pela intensidade do contágio, pelo grande 
número de casos e pela fatalidade da doença”, avalia o conselheiro da OMS. 
Ele revela que assim que o vírus começou a infectar pessoas no Reino Unido o país não tinha 
leitos de UTI nem respiradores suficientes para atender a demanda crescente. Nem mesmo 
protocolos haviam sido estabelecidos. “No início da pandemia nós mesmos acabamos 
cometendo alguns erros, como a questão das máscaras, se deveríamos recomendar ou 
não o uso. As pessoas achavam que não sabíamos o que estávamos fazendo, o que gerou 
medo na população”, lembra o médico. O aprendizado veio com o enfrentamento diário ao 
vírus. “Não há especialistas no vírus, estamos aprendendo enquanto a pandemia progride 
e isso foi um problema para o Reino Unido, até que criamos um comitê de aconselhamento 
técnico especial”, explica. Esse comitê passou então a fornecer dados e diretrizes para a 
ação do governo britânico.
Hoje Taiwan serve como exemplo para o mundo no enfrentamento à doença, mas no 
início da pandemia o governo local também cometeu erros e aprendeu com eles. O 
controle migratório inicialmente focou todos os esforços nos aeroportos, controlando 
temperatura corporal dos passageiros e separando pessoas com sintomas. Ainda assim 
os casos continuaram aumentando. Algum tempo depois as autoridades perceberam que 
falharam ao não realizar o devido controle dos portos, nos navios de carga e cruzeiros. Um 
aprendizado que ajudou a controlar os números nas semanas seguintes.
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PLANEJAMENTO E AÇÃO RÁPIDA
A primeira medida tomada no Reino Unido foi preparar o sistema de atenção básica 
de saúde para receber os primeiros pacientes e orientá-los. “Estabelecemos uma linha 
telefônica dedicada para aconselhamento de pessoas que tinham sintomas para que eles 
tivessem informações antes de ir ao médico”, conta. Para ele, fortalecer a atenção básica 
é importante para aliviar os demais serviços, pois quanto menos pacientes com sintomas 
leves procurando hospitais, mais pacientes graves podem ser tratados. 
Em Taiwan o secretário-geral Brian Chang conta que a preparação para enfrentar a pandemia 
extrapolou o sistema de saúde e chegou ao controle das fronteiras. O país, uma pequena 
ilha acessível apenas de avião ou barco, imediatamente estabeleceu uma forte política de 
controle migratório. A ilha também estabeleceu uma reorganização do setor produtivo para 
que indústrias voltassem a sua capacidade instalada para a produção de equipamentos de 
proteção. “Quando soubemos do vírus em dezembro, iniciamos uma negociação com o 
governo para a produção de máscaras e demais EPÌs, envolvemos a comunidade médica 
no planejamento de políticas públicas e recomendamos às autoridades para que fizessem 
o controle de fronteira”, detalha Chang. Por lá, o Congresso também aprovou rapidamente 
medidas legais temporárias para permitir a telemedicina e desafogar o sistema de atenção 
básica de saúde. 
Chang lembra que o sucesso 
do controle do vírus depende 
de uma forte atuação do poder 
público e a sua capacidade de 
se comunicar com a população. 
“Medidas fortes demonstram que 
o governo está numa posição 
de liderança, que vai proteger o 
povo contra a doença e isso fez 
com que as pessoas confiassem 
nas ações do governo”, explica 
o secretário taiwanês. “Temos 
consultores infectologistas muito 
experientes e reconhecidos. 
Eles trabalham juntos com 
os demais órgãos de saúde, 
fazemos coletivas de imprensa, 
comunicamos o que vamos fazer, 
reportamos estatísticas. Com 
isso, as pessoas não entram em 
pânico”, argumenta Brian Chang.
04
EXPERIÊNCIA NO COMBATE A ENDEMIAS E PANDEMIAS
Embora poucos se lembrem, há quase 20 anos uma epidemia de SARS, a Síndrome 
Respiratória Aguda Grave, impactou a China e chegou à pequena ilha de Taiwan. O ano 
era 2003. Durante aquela epidemia autoridades de saúde e a população adquiriram 
experiências que permanecem até hoje. Chang acredita que o baixo número de casos no 
país é fruto do aprendizadodesse período.
ABERTURA LENTA E GRADUAL
Salman acredita que enquanto a vacina ou um remédio eficiente não estiverem disponíveis, 
a melhor forma de prevenção será o distanciamento social. Para ele é preciso convencer 
a população sobre as medidas de isolamento e combater as notícias falsas que permeiam 
as redes sociais e imprensa sobre o Coronavírus. O especialista, que aconselha o governo 
britânico, apresenta algumas medidas para o relaxamento da quarentena. Ele lembra que 
o objetivo de todas as medidas recomendadas até agora são para conter o avanço do 
vírus e evitar o colapso do sistema de saúde. “Quanto mais rígidas as medidas melhores 
os resultados”, pontua.
Aprendemos a trabalhar com EPIs, as pessoas aprenderam que 
podem usar máscara para se proteger, a utilizar álcool para 
higienizar as superfícies, a lavar as mãos com detergentes para 
se livrar do vírus. Esse hábito da população foi importante para 
que nós tivéssemos sucesso precoce por aqui com o Coronavírus
“
“
explica o 
secretário-geral.
Reduzir a taxa de infecção/duplicação1
Garantir a capacidade do sistema de saúde para o atendimento dos casos existentes2
Ter capacidade de rastrear novos casos e acompanhar a evolução dos pacientes3
A pandemia de H1N1, em 2009, também deixou lições. ”Soubemos como identificar os 
casos rapidamente dessa vez e fazer o isolamento adequado para controlar a disseminação 
do vírus”, celebra Chang.
05
Determinadas medidas vão continuar a restringir a liberdade de ir e vir mesmo após o 
controle da doença, como a redução de aglomerações no transporte público, a capacidade 
de restaurantes, bares e demais espaços de interação social. É isso que o conselheiro da 
OMS acredita. “Precisamos aceitar que a economia mundial vai ser diferente nos próximos 
meses e anos, que vamos ter corte nos salários, que impostos extras serão cobrados para 
manter o tecido social dos países, que a escola vai ser diferente”, lembra Salman. Na 
sua avaliação, grupos de grande risco, como idosos e pessoas com comprometimento 
imunológicos ficarão mais tempo em isolamento.
UM RECADO AOS MÉDICOS
Os médicos e demais profissionais da saúde são os profissionais mais importantes do 
mundo hoje. Isso está ficando cada vez mais claro à medida que a pandemia avança. Os 
convidados lembram, porém, que eles precisam se cuidar antes de cuidar do paciente. “Vocês 
precisam se proteger e isso não é fácil. Proteger-se não só do vírus, mas do burnout, da 
pressão mental”, recomenda Salman. “Vocês precisam entender, como médicos, que vocês 
são homens e mulheres que fazem um trabalho maravilhoso e vocês precisam continuar no 
front, então cuidem de si mesmos”, finaliza Salman Rawaf. “Os médicos agora são heróis, 
acreditem em vocês mesmos, tudo vai passar e se protejam até mesmo antes de tratar os 
pacientes”, expressa Chang. Aos estudantes, o secretário-geral taiwanês passa o recado: 
“você tem sorte por ser aluno de medicina nesse momento. O aprendizados que você terá 
agora vai lembrar daqui 20 anos”.
06
INOVAÇÃO, COOPERAÇÃO E MUDANÇA DE PARADIGMAS: 
OS DESAFIOS AO ENSINO DA MEDICINA NA PANDEMIA DO CORONAVÍRUS
Inovação tecnológica, cooperação entre universidades e capacidade de mudar paradigmas 
educacionais são as grandes lições que a pandemia do Coronavírus dão para todos os 
stakeholders envolvidos no ensino e prática da medicina no mundo hoje. A Afya e a statup 
irlandesa IHeed ouviram especialistas de diversas partes do planeta para entender como 
será o panorama da educação médica no mundo pós-pandemia.
A pandemia do Coronavírus, em apenas alguns meses, transformou o ensino e a prática 
da medicina de uma forma que não se via há décadas. Esse é o grande consenso que os 
especialistas ouvidos no webinar promovido pela Afya Educacional e o IHeed, startup de 
educação médica da Irlanda, expuseram no painel sobre as mudanças na educação médica 
realizado no dia 5 de maio. E vai continuar mudando ainda mais se depender da avaliação 
dos estudiosos convidados: Mary Horgan, infectologista da Royal College of Physicians of 
Ireland, Sudhesh Kumar, professor da Warwick Medical School e Karan Khemka, sócio da 
Pantheon Group, consultoria especializada no setor educacional. O painel foi mediado por 
Julio de Angeli, VP de Inovação e Educação Continuada da Afya, com participação do Dr. 
Tom O’Callaghan, CEO da IHeed, e do cardiologista Dr. Rafael Munerato.
VOCÊ PODE CONFERIR O WEBINAR COMPLETO AQUI.
https://www.youtube.com/watch?v=NARx1okMFh8&t=31s
07
MUDANÇAS ACELERADAS
Um carro acelerando de 0 a 200 quilômetros por hora, foi dessa forma que a infectologista 
Mary Horgan definiu a intensidade das mudanças na medicina impostas pela crise do 
Coronavírus no mundo. “Fizemos mudanças muito rápidas que deveríamos ter feito antes, 
mas tínhamos dificuldades pela questão da aceitação do uso da tecnologia pelos professores 
e alunos. Mentalidade que está sendo transformada a cada momento”, surpreende-se a 
infectologista. É o que aponta também Sudhesh Kumar. “Mudanças que sempre quisemos 
fazer nas universidades estão agora acontecendo”, celebra ele. Essa necessidade de inovar 
“na marra” mexeu muito com a medicina, área tradicionalmente conservadora e pouco 
afeita a mudanças bruscas. “Eu, que trabalho há anos com educação médica sei que o 
setor sempre foi o mais resistente a mudanças, com razão, claro. Contudo, há hoje um 
consenso de que as regras eram muito rígidas e todos precisam estar mais abertos a 
mudanças”, avalia Karan Khemka.
A razão é a nova realidade imposta a professores, estudantes e gestores educacionais 
diante das recomendações de combate à pandemia propostas pela Organização Mundial 
da Saúde (OMS), principalmente o isolamento físico como forma de reduzir a velocidade de 
contágio da doença. Faculdades de medicina em todo o mundo tiveram que interromper 
suas atividades presenciais e adaptar as aulas de forma on-line em apenas algumas semanas, 
algo impensável para muitas instituições de ensino há um semestre atrás. Situação essa 
que trouxe consigo enormes desafios. 
Tivemos que agir de maneira inovadora, principalmente na pós-
graduação, no momento de avaliar os alunos, sobretudo na 
interação com o paciente. Identificamos que muitas habilidades 
podem ser avaliadas nos alunos mesmo sem um paciente na sua 
frente, como a compaixão e a empatia, que são muito importantes 
na formação médica
“
“
relata a 
infectologista Mary Horgan.
O professor Kumar relata que a mudança não está restrita ao ambiente on-line. Ele mesmo 
propôs à instituição em que leciona que os alunos pudessem estar presentes no front de 
combate à Covid-19, observando de perto e aprendendo práticas importantíssimas para 
sua formação, o que, segundo ele, demonstra a necessidade urgente da cooperação entre 
universidades e serviços de saúde na formação dos futuros médicos.
08
CRISE FINANCEIRA VAI IMPACTAR AS UNIVERSIDADES
A pandemia parece se comportar como um tsunami, com uma primeira onda levando vidas 
e colapsando os sistemas de saúde pelo mundo. Depois com uma segunda onda varrendo 
a economia global. Nesse contexto as universidades não vão passar ilesas, avalia Karan 
Khema. “Estamos prestes a entrar em um período de grandes dificuldades financeiras 
e sociais, o que vai impactar muito o nosso trabalho. Neste momento de dificuldade, as 
instituições mais bem-sucedidas serão as mais inclusivas”, reflete. Ele indica que é preciso 
escalonar a capacidade do ensino de medicina nas instituições. Khema diz que as atenções 
hoje estão voltadas para as grandes e renomadas universidades, muito exclusivistas. A 
evolução seria um modelo de ensino em que as instituições tradicionais, com os seus 
renomados professores, colaborassem para que a educação médica de qualidade chegasse 
a mais pessoas.
A infectologista Horgan acrescenta que a crise econômica vai colocar em xeque não 
só a educação médica, bancada na maior parte dos países desenvolvidos pelo estado, 
mas a demanda social por uma medicina melhor. “Os contribuintespagam para que nós 
forneçamos a melhor educação para os profissionais da saúde e querem de volta a melhor 
medicina. Também não seria surpresa se o Estado passasse a cobrar mais para os melhores 
médicos das instituições financiadas por ele”, sugere Mary. 
Karan lembra que os EUA criaram um pacote de US$3 trilhões para o combate ao Coronavírus 
em apenas algumas semanas, o que demonstra a força do Estado para investir nas pessoas. 
“A crise da Covid demonstra que se a sociedade quiser, o Estado pode financiar um futuro 
melhor para todos nós, em que todas as pessoas possam receber educação. O dinheiro 
existe”, pondera.
09
TECNOLOGIA E INOVAÇÃO A FAVOR DA EDUCAÇÃO MÉDICA
Os especialistas sugerem que a tecnologia trabalhe a favor da democratização do acesso 
à educação médica, como também à modernização da forma de ensino e prática da 
medicina. “Os médicos não estão sendo treinados para o uso de big data, por exemplo, 
tecnologia que é comum usarmos quando vamos planejar uma viagem para entender o 
clima, o trânsito, e cruzar informações para tomar decisões. E não estamos tratando disso 
nas universidades”, alerta Karan. Para ele, a inclusão do ensino da telemedicina e demais 
tecnologias nas universidades vai abrir uma porta para o desenvolvimento de diversas 
outras ferramentas digitais de apoio à prática médica. 
O professor Sudhesh relata que tem testado uma abordagem de ensino focado no caso do 
paciente, trazendo o aluno para o hospital, o que permite um trabalho interdisciplinar que 
agrega muito ao seu conhecimento. Ele também acredita que os médicos de excelência, 
que já atuam nos hospitais, podem ser capacitados para se tornarem grandes professores 
neste modelo.
A interdisciplinaridade vai ao encontro de outro consenso entre os especialistas do painel: 
é necessário que o ensino da medicina converse com outras áreas do conhecimento, como 
a administração e a tecnologia da informação, por exemplo.
Os alunos precisam aprender sobre telemedicina, modelos 
de negócio. Devemos formar líderes não só na área médica, 
como também em gestão e negócios. Isso não é algo que exige 
contato com paciente. Devemos tentar identificar habilidades na 
tecnologia, nos negócios, nas humanas e incorporar na formação 
médica
“
“
aponta
Mary Horgan.
E se a medicina pudesse ser ensinada com o mesmo dinamismo que as técnicas de 
programação? Karan lembra durante o painel o modelo de bootcamps que estão se 
tornando cada vez mais comuns em centros de tecnologia da informação dos EUA. Neste 
modelo, o aluno participa de uma imersão de 12 semanas para conhecer e se especializar 
em determinada tecnologia, muitas vezes dentro das próprias empresas que vão o recrutar 
no futuro. Por que ideias assim não surgem na educação médica?, questiona.
10
MUDANÇAS DE PARADIGMAS
A resposta pode estar na forma como o ensino da medicina tem sido concebido nas 
últimas décadas. “Não há ímpeto de inovação”, crítica Karan. Para o sócio da Pantheon, a 
necessidade levará muitos gestores a considerarem a inovação não mais um complemento, 
mas parte fundamental da educação médica:
Esse novo modo de pensar deve chegar até os órgãos reguladores também, hoje 
considerado um grande oponente dos novos paradigmas educacionais na área da saúde. 
Mary lembra que são esses órgãos que garantem os padrões de qualidade da medicina 
ensinada e praticada em todo mundo, mas é preciso rever conceitos. “No caso da medicina 
é importante que tenhamos médicos qualificados, claro, mas temos que incluir inovação 
nessa receita”, pondera a infectologista. 
Sudhesh e Karan já vislumbram essa transformação dos reguladores em partes da Ásia e 
do Oriente Médio. A própria pandemia do Coronavírus muda, aos poucos, a mentalidade 
dentro desses órgãos. “As agências regulatórias precisam estar abertas para a inovação”, 
opina o professor da Warwick. “E onde mais há demanda por formação médica, as agências 
devem estar abertas a essas novas formas de educar”, acrescenta.
Acredito que as universidades nos próximos 5, 10 anos vão entender 
que a tecnologia da informação é a mais importante área do 
conhecimento
“ “
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USO DE TECNOLOGIA PARA CUIDADOS DE SAÚDE 
DURANTE E APÓS A COVID-19
Se a pandemia do Coronavírus parou o mundo real, aquele que podemos tocar e sentir, o 
mesmo não podemos dizer dos espaços digitais. Nunca a tecnologia foi tão importante 
para manter as atividades humanas em funcionamento. Esse tema foi assunto do webinar 
realizado em 7 de maio no YouTube da Afya com os mediadores Tom O Callaghan, CEO 
e Fundador da IHeed, médico da família e um dos principais empresários de educação 
médica da Irlanda. Estavam presentes também os convidados professor Tan Tze 
Lee, docente adjunto da escola de medicina de Singapura, reitor da College of Family 
Physicians, e o professor Alain Labrique, diretor fundador da John Hopkins University 
Global Health´Initiative.
TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO: COVID19 E ALÉM
Educação
Apesar de estarmos vivendo uma época de pandemia, Tan Tze Lee acredita que temos 
o benefício de contar com a tecnologia da informação para nos ajudar a gerenciar essa 
crise e seguirmos além dela. Contando com isso, usou as experiências que presenciou em 
Singapura, relacionando a Tecnologia da Informação com o novo coronavírus. Para isso, 
dividiu seu discurso em três partes: educação, Covid-19, e o rastreamento de contato e 
telemedicina.
Anualmente, a escola em que o professor Tan Tze Lee leciona forma aproximadamente 
700 alunos. Com a COVID-19, os programas de formação foram afetados.
Desde janeiro de 2020, houve uma restrição aos profissionais de saúde que trabalhavam 
em mais de uma instituição – muitos trabalhavam em instituições públicas e privadas, e 
não poderiam realizar mais esse trânsito entre unidades e, com isso, os cursos seriam cada 
vez mais afetados. A partir de fevereiro, o isolamento social foi oficialmente implementado 
no país, fazendo com que medidas novas precisassem ser tomadas.
Os cursos são conhecidos por levarem uma didática tradicional e, 
com a pandemia, chegou-se a um questionamento: deveriam adiar 
os cursos ou usar a tecnologia e tentar teleconferências?
?
12
Então, começaram a usar o software Zoom, algo que eles já estavam habituados a usar 
para outras finalidades, por ser fácil de ser usado, acessível, possível de colocar grupos 
grandes de pessoas em uma única chamada e, também, dividir as salas em pequenos 
grupos.
Mas, ao mesmo tempo, foi percebido que ainda não havia conhecimento de como trabalhar 
com esta ferramenta. No começo, a equipe reunia 3 pessoas: um presidente, um moderador 
e um suporte técnico. Além da equipe, usaram câmeras e microfones de baixo custo e 
internet de banda larga.
Com isso, eles conseguiram dar sequência às aulas de mestrado, com mais de 500 alunos 
participando, com feedbacks positivos dos alunos.
No geral, fizeram uma pesquisa no programa e descobriram que o feedback foi positivo, 
com 90% de aprovação no vídeo como boa ou excelente, 80% de aprovação na qualidade 
do áudio como boa ou excelente. O conteúdo entregue também foi avaliado com 80 a 
90% de aprovação entre bom e excelente.
Considerando os órgãos de educação do país, o conselho de educação médica fez algumas 
mudanças nos requisitos para os programas de pós-graduação. Então, qualquer webinar 
feito sobre a COVID-19 pode ser feito a qualquer momento, o que atribuiu muito ganho 
para a instituição e para os alunos.
COM ISTO, CONCLUIU-SE QUE:
Ensino à distância chegou para ficar;
O conteúdo entregue foi bem aceito;
Foi possível realizar uma boa supervisão dos alunos;
Mantiveram um bom padrão nos programas de pós-graduação;
Precisamos estabelecer mais processos de interação e inovação.
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Rastreamento de Contato
Telemedicina
Em Singapura, existe um aplicativo chamado TraceTogether. Ele faz uso de Bluetooth e 
ajuda no monitoramento de pessoas que possam ter tido algum contato com pacientes 
em potencial infectados pela COVID-19. Após um tempo, a Austrália seguiu o exemploe 
criou um aplicativo chamado COVIDSAFE.
O aplicativo lançado em Singapura é gratuito e está disponível para outros países que 
queiram utilizar nos seus contextos. O aplicativo ajudou muito na crise, já que médicos do 
mundo todo conseguiram usar a plataforma para trabalhar juntos e ajudar uns aos outros.
Uma das questões que ainda preocupa em relação ao rastreamento é a privacidade 
de dados. No TraceTogether, conseguiu-se aplicar um ID temporário para cada um dos 
colaboradores, para protegê-los contra possíveis hackeamentos.
A adesão do público vem crescendo, já ultrapassando o número de 1 milhão de usuários. 
Lee acredita que muitos ainda não usam por ser um aplicativo de uso voluntário, mas 
entende que ainda irá ter maior adesão da população ao longo do tempo.
O professor Lee diz que já fazem uso da Telemedicina há alguns anos em Singapura. Ele 
lista alguns componentes-chave para que seja possível fazer uso do serviço:
A telemedicina que Lee utiliza, segundo ele, ainda é muito rudimentar – ainda há a 
interferência do uso de telefonia no processo. Porém, agora, entende que é necessário 
fazer o atendimento face a face e que o celular ainda traz poucas informações. Sobre 
os atendimentos, Lee afirma que só atende pacientes que já são deles e com doenças 
crônicas, como diabetes e que ainda é necessário pesquisar e estudar para poder oferecer 
serviços mais abrangentes. 
Desenhar o objetivo do uso desse serviço;
Um módulo de videoconsulta;
Um módulo de pagamento;
Um módulo de testes e parâmetros laboratoriais;
Um módulo de receitas e medicamentos que precisam ser entregues;
Segurança cibernética.
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Recentemente, Lee teve contato com um dispositivo de fabricação israelense que era 
possível checar a temperatura, fazer a escuta e acredita que seria ideal que a população o 
tivesse para a situação atual. Então, com isso, o Professor entende que a consulta presencial 
ainda é a melhor maneira para tratar casos crônicos, já que, então, para uma telemedicina 
totalmente completa, os pacienteis precisariam contar com equipamentos em casa que 
nem sempre eles possuem.
Ele ainda levanta a questão dos idosos, de como o relacionamento desses pacientes 
com smartphone é diferente e é necessário pensar em outros passos para melhorar esse 
processo e, também, atentar-se às questões de segurança das informações do usuário.
Conselho aos médicos brasileiros
Antes de entrar na fase principal da COVID-19 em Singapura, entenderam que estavam 
tomando contato com algo novo, por isso, o principal era se proteger – como máscaras 
cirúrgicas e a higienização correta. Usar os EPIs é extremamente importante – não só os 
médicos, como toda a equipe.
O segundo conselho que Lee deu diz respeito aos pacientes que estão com algum problema 
respiratório e podem estar com a COVID-19 e que, por vezes, não parecem estar doentes. 
É importante manter estes pacientes isolados mesmo quando apresentam melhora, já que 
eles ainda podem infectar outras pessoas.
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USANDO A TECNOLOGIA PARA OS CUIDADOS
DE SAÚDE DURANTE E APÓS A COVID-19
O professor Alain Labrique começa a sua apresentação com os dados de evolução do 
coronavírus e analisa que deveríamos usar as tecnologias que temos para combater a 
pandemia atual e outras epidemias. Labrique traz como exemplo a própria telemedicina e 
formação remota de profissionais da saúde que o Professor Lee já havia mencionado. 
Ele aponta que existem alguns domínios de utilidade que ele acredita que são muito 
importantes quando falamos do uso de celulares e tecnologia, aliados à saúde contra o 
coronavírus:
Comunicação
- Informação, desinformação e informação perdida;
- Treinamento / Telemedicina;
Prevenção
- Triagem de sintomas
Mitigação
- Rastreamento de contato
Insights epidemiológicos.
Comunicação
Usando dados da Virgínia, ele percebeu que, por conta da pandemia, as consultas de rotina 
despencaram e, também, a procura por vacinas. Com isso, ele entende como é importante 
a disseminação da telemedicina.
Como exemplo, ele traz os cuidados de pré-natal, que podem ser feitos pela telemedicina, 
mesmo ainda sem muita estrutura. Nos EUA, segundo ele, durante esta emergência pública, 
as diretrizes da telemedicina estão sendo alteradas, o que dá suporte aos pacientes para 
continuarem as suas consultas mesmo durante a pandemia.
Ele entende, ainda que, por se tratar de uma emergência, é necessário entender quais 
medidas de restrição regulatórias podem ser “afrouxadas” para que os médicos consigam 
atender aos pacientes da melhor forma possível.
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Infodemia
Treinamento
Além de tratar o caso como pandemia, devemos, também, segundo o Professor Labrique, 
tratar como uma Infodemia – ou seja, algo parecido com uma pandemia de informações, 
que podem ser reais ou fake news, que são amplamente disseminadas também nesse 
fator tecnologia. Segundo ele, é irônico pensarmos que a própria Wikipédia lançou uma 
página sobre as teorias da conspiração sobre a COVID-19, o que faz com que o trabalho 
dos médicos e profissionais de saúde pública sejam mais difíceis.
Os profissionais da saúde precisam estar bem treinandos e bem informados. A própria 
Organização Mundial da Saúde já criou materiais para que esses profissionais possam 
acessar de maneira gratuita e terem uma fonte segura de informações.
!
Os alunos e corpo docente da Johns Hopkins criaram conteúdos, disponíveis com tradução 
para mais de 21 línguas, que contam com mais de 5.000 visualizações desde 14 de abril de 
17 países. Esses conteúdos foram criados para ajudar a disseminar informações verdadeiras 
e confiáveis sobre o coronavírus.
Acredito, então, que devemos 
mostrar a população como 
ter o acesso a informação 
correta, e que ela possa utilizar 
e compreender; esta medida 
deve ser tomada rapidamente 
no Brasil.
“
“
completa Labrique.
Prevenção: triagem de sintomas
Devemos lembrar que há uma proliferação de soluções. Agora, temos mais de 140 soluções 
digitais para combate a COVID-19, sobre prevenção, tratamento, diagnóstico e outros 
materiais de suporte.
O PROFESSOR DISPONIBILIZOU A LISTAGEM DESTES APLICATIVOS AQUI.
Outras plataformas, como Facebook 
e Twitter, lançaram ferramentas para 
que informações falsas sejam brecadas, 
marcando as organizações e instituições 
competentes para poder solucionar 
qualquer dúvida presente na postagem 
original e tentar, assim, diminuir a 
disseminação de notícias falsas, além de 
fazer com que as pessoas fiquem mais 
bem informadas.
https://tinyurl.com/covidtechnology
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Mitigação: Rastreamento de Contato
O rastreamento de contato é um dos pilares da epidemiologia de doenças infecciosas. 
Quando temos um vírus respiratório ou outro patógeno que está se disseminando pela 
população, precisamos conseguir interromper a disseminação dessa doença para fazer 
com que a taxa de transmissão fique abaixo de 1. O papel dos smartphones nisso é acelerar 
este processo, nos permitindo identificar todos os indivíduos que foram expostos a um 
caso em potencial, impedindo a disseminação do vírus na população suscetível.
A Google e a Apple trazem exemplos sobre como isso pode ser feito. Em uma história 
fictícia, contam o encontro de Bob e Alice. Eles se encontraram e tiveram uma conversa 
de cerca de 10 minutos. Os celulares dos dois trocam informações e guardam em seus 
respectivos sistemas que houve este encontro. Alguns dias depois, Bob descobre que está 
infectado e atualiza seu telefone, mandando essas informações para a nuvem. Então, com 
a autorização do Bob, esta informação é disseminada para todos aqueles aparelhos que 
sincronizaram algum tipo encontro, ajudando a identificar os pacientes que tiveram um 
contato com pessoas já comprovadamente infectada. Alice, então, recebe uma notificação 
de quais ações ela deve tomar. Esse sistema garante que não seja possível ter os dados do 
paciente, mas ajuda a avisar a população de quem pode estar infectado.
Existe um debate muito grande sobre como essas informações serão compartilhadas, já 
que muitos entendemque o rastreamento deve ser apenas da informação sobre a doença 
para auxiliar a população, e não sobre os dados da pessoa em si, pensando na segurança 
da informação do usuário.
Outra solução baseada em tecnologia é a criação de callcenters para criar um canal seguro 
de troca de informações e de auxílio sobre a epidemia, desde os sintomas até o isolamento 
social – é uma outra forma de desafogar os médicos e os hospitais.
Segundo ele, essas são as 10 principais soluções digitais que estão sendo avaliadas pela 
Johns Hopkins e promete trazer, brevemente, um relatório sobre elas:
Outra tecnologia disponível é colocar um bot (chat), para fazer a triagem, poupando recursos 
humanos durante a pandemia. Google, Microsoft e o CDC já possuem esta tecnologia.
18
Voltando a falar sobre a privacidade do usuário, o Professor diz que é necessário se inspirar 
na Coréia do Sul, que tem uma regulamentação a parte em momentos de emergência, 
para que o poder público possa usar informações que, em tese, seriam privadas, mas que 
podem salvar vidas durante epidemias.
Insights epidemiológicos
Os celulares constantemente compartilham informações com as redes e com os 
fornecedores de telecomunicações, que já possuem muitas informações por meio das torres 
de celulares. As torres conseguem rastrear exatamente por onde um indivíduo andou e 
quanto tempo ele ficou em um lugar, por exemplo. Com esses dados, foi possível observar 
que o movimento das pessoas nos Estados Unidos caiu 87% nas primeiras semanas de 
isolamento social. Agora, também por conta das manifestações das pessoas pedindo para 
que o isolamento acabe, esta porcentagem está caindo, nos mostrando que as pessoas 
estão começando a circular novamente.
O Google tornou estes dados disponíveis, por meio de relatórios para a comunidade. 
O professor trouxe dados do Brasil, que diz que desde 19 de março, quando os dados 
começaram a ser divulgados, houve uma diminuição no número de práticas recreativas e 
em locais de trabalho, mas houve pouca diminuição nas movimentações entre residências. 
Os dados estão todos disponíveis no Google.
Outro dado importante que o Professor 
traz é que a diferença econômica não 
afetou tanto a circulação das pessoas – 
quando o presidente Trump, nos Estados 
Unidos, pediu para as pessoas ficarem em 
casa, a queda de circulação dos pobres e 
ricos foi parecida, e bastante expressiva, 
porém alerta que as pessoas com 
condição financeira menos privilegiada 
ainda possuem mais riscos, pois acabam 
trabalhando em serviços que exigem que 
eles saiam de casa, fazendo com que seja 
uma parcela da população mais propensa 
a ser infectada pelo vírus.
Ele finaliza dizendo que precisamos pensar 
nesses dados e como trazer essas questões 
para debates para que possamos encontrar 
soluções, principalmente enxergando o 
todo com foco no contexto brasileiro.
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COMO EVITAR NOVAS PANDEMIAS COM A TECNOLOGIA?
A conversa foi finalizada com um pequeno debate sobre como evitar novas pandemias 
com auxílio da tecnologia. O professor Labrique disse que precisamos pensar naquilo 
que é possível ser feito e naquilo que devemos fazer, sobretudo pensando na inteligência 
artificial e no machine learning. Ele acredita que é possível fazer esta mineração de diferente 
padrões, seja sobre informações, ou sobre diferente sintomas. Comentou ainda, porém, 
que a tecnologia não é a única base para combater novas pandemias que, na verdade, o 
maior investimento deve ser feito em educação, para melhor preparar as gerações futuras 
para enfrentar de maneira correta uma pandemia como esta que estamos vivendo.
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PSICOLOGIA E BEM-ESTAR DE MÉDICOS, 
PACIENTES E POPULAÇÃO EM GERAL
Ainda no dia 7 de maio a Afya transmitiu uma conferência sobre saúde mental de médicos e 
pacientes com os mediadores Julio De Angeli, diretor executivo da Afya, Tom O Callaghan, 
da IHeed, e o Doutor Rafael Munerato, cardiologista que também é membro do conselho 
da Afya. 
Para conversar sobre o tema, estavam presentes três convidados:
O professor Cirian O’Boyle, que é diretor fundador do centro de psicologia positiva e 
saúde do Royal College of Surgeons da Irlanda. Além de suas funções clínicas e de ensino, 
ele também atua como psicólogo consultor a instituições da Irlanda e de outros países. Ele 
é respeitado nas áreas de psicologia positiva, bem-estar e à promoção da resiliência em 
tempos desafiadores. O professor da Sungkyunkwan University, Lee. E, por fim, o professor 
Alberto Arbex, professor e pesquisador em endocrinologia, saúde pública e obesidade na 
Afya, aqui no Brasil. Ele foi cientista convidado em Harvard e trabalhou na Alemanha, país 
que vem sendo elogiado pelo controle da COVID-19.
COVID-19: ESTRESSE E BEM-ESTAR PSICOLÓGICO
O encontro começou com uma apresentação do 
Professor O’Boyle, que introduziu comentando 
que há alguns princípios chave de estresse 
e bem-estar psicológico no que tange aos 
profissionais de saúde e a maneira deles de lidar 
com a situação da pandemia. Ele acredita que 
vivemos dois surtos: o do vírus e dos problemas 
comportamentais e do estresse em geral;
Os profissionais da saúde que estão dando 
suporte ao COVID-19, além de estarem 
vulneráveis ao risco de contrair o vírus, estão 
também abertos ao impacto de uma variedade 
de estressores que podem causar problemas 
de saúde mental, e o tipo desses estressores 
estarão relacionados diretamente ao momento 
da pandemia. Ou seja, cada momento da 
pandemia gera um tipo diferente de estresse.
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Trabalhar sob pressão extrema;
Ter de tomar decisões extremamente difíceis;
Decidir como alocar os recursos escassos para pacientes que estão em 
estado grave;
Prover assistência para diversos pacientes em estados graves com recursos 
inadequados;
Trabalhar fora da sua rotina normal;
Risco de injúria moral.
Balancear as necessidades da sua própria saúde física e mental com a 
necessidade dos pacientes;
Alinhar o dever com as famílias, amigos e pacientes.
POSSÍVEIS ESTRESSORES RELACIONADOS A ESSE TIPO DE TRABALHO:
ELE TAMBÉM TROUXE ESTRESSORES HUMANOS, QUE SÃO:
O professor quis ressaltar, especificamente, o estressor do risco de injúria moral. É o tipo 
de angústia psicológica que acaba resultando das ações ou falta de ações que acabam 
violando o código moral ou ético de um indivíduo. A falta de recursos, muitas vezes, pode 
colocar os médicos, enfermeiros e profissionais da saúde nessa situação. Estas questões 
podem levar a sentimentos de raiva, vergonha, culpa e até nojo que podem causar depressão, 
transtorno traumático pós-estresse, até ideação suicida.
Sobre a literatura que aborda como conseguimos enfrentar esse tipo de desafios, nós 
podemos resumir as principais categorias nessas três:
a formação do profissional antes do surto vai acabar possibilitando que o médico 
realize seu trabalho de maneira eficaz e de maneira competente, fazendo com 
que o enfrentamento do desafio seja melhor.
1º
uma estratégia mais pessoal, que seria adotar uma mentalidade de enfrentamento 
proativo, isto é, assumir ali o controle da situação, engajar-se em comportamentos 
proativos, aceitar a situação e se permitir enfrentar os pensamentos mais 
traumáticos.
3º
a sua resiliência é aumentada quando há apoio da família, amigos mas, 
principalmente, dos seus colegas e gestores do hospital.
2º
22
Primeira Categoria
Segunda Categoria
Quando pensamos na abordagem pessoal, que as pessoas precisam para lidar com 
esse momento, é necessário pensar no que é a mentalidade. A mentalidade é uma lente 
psicológica a partir da qual nós simplificamos quantidades enormes de informação a 
respeito do mundo e a respeito de nós mesmo.
O segundo elemento diz que a nossa resiliência aumenta pelo suporte social, pelo apoio 
dos amigos, família, colegas e gestores, isso diz respeito às organizações onde se trabalha 
– eles têm de oferecer suporte à equipe que está trabalhando. Alguns hospitais já contam 
com uma equipe exclusiva para isso, com reuniões pós-plantões para que as pessoas 
possamconversar, por um tempo curto, sobre aquele plantão que acabou de terminar, por 
exemplo.
Abraçar os desafios;
Persistir diante dos contratempos;
Ver o esforço como parte da jornada;
Aprender com as críticas;
Encontrar lições e inspirações na resiliência do outro;
Apoiar-se na sua vocação para a área da saúde.
PARA TANTO, O PROFESSOR APRESENTOU UMA LISTA QUE ELE ENTENDE 
COMO UMA JORNADA PARA O CRESCIMENTO DA MUDANÇA DESSA 
MENTALIDADE:
23
Terceira Categoria
Risco de estresse pós-traumático ou crescimento de estresse pós-traumático?
A terceira é sobre a mentalidade de enfrentamento proativo. Para esta categoria, o professor 
recomendou um curso que está disponível no centro de estresse de Standford.
Neste ponto, o professor sugeriu a visita ao site www.viacharacter.org, que é muito baseado 
em evidências e pesquisa – todas as pessoas que alimentam o site são psicólogos – e nele 
você pode fazer uma análise do seus pontos fortes, por meio de um teste. Depois, ele te 
dá o resultado, contando quais são os seus cinco principais pontos fortes. Estes aspectos 
principais irão ajudar na sua própria percepção do “eu”, fazendo com que o usuário fique 
mais empolgado ao descobri-los.
Ao identificá-los, o ideal é que a pessoa tenha consciência desses pontos quando precisar 
passar por algum tipo de desafio – como a pandemia, por exemplo – e usar esses pontos 
O CURSO ESTÁ DISPONÍVEL AQUI.
E ESSE CURSO SE BASEIA EM TRÊS PILARES:
Reconhecer o nosso estresse;i
Apropriar-se do próprio estresse;ii
Usar a energia do estresse.iii
http://www.viacharacter.org
https://mbl.stanford.edu/intervations-toolkits/rethink-stress-intervention/
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fortes o máximo que puder. Segundo ele, é necessário também estar consciente sobre 
as forças complementares aos seus pontos fortes. “É preciso dar espaço, por parte dos 
gestores, para que os outros possam usar os seus próprios pontos fortes”.
Por fim, para este tema, o professor ainda indicou o livro Posttraumatic growth, de Richard 
G. Tedeschi, Jane Shakespare-Finch, Kanako Taku e Lawrence G. Calhoun.
A ESTRATÉGIA ALEMÃ CONTRA O COVID-19
O professor Alberto Arbex, trouxe como a Alemanha está construindo uma história de 
sucesso no combate contra o novo coronavírus.
Primeiro, o professor analisa os dados das mortalidades da Alemanha em comparação a 
outros países da Europa, indicando um número muito menor do país germânico. Também, 
traz dados dos novos casos no país, que vêm diminuindo desde o começo de abril. Para 
ele, uma das grandes responsáveis por estes números é a primeira-ministra do país, Angela 
Merkel, que também é cientista, sendo PhD em química quântica. Este fato seria um 
facilitador para os alemães seguirem os conselhos da autoridade pública, pois se sentem 
seguros ao seguir as indicações de uma cientista.
Além da confiança na governante e nas medidas baseadas e estruturadas na ciência, o 
fato da aderência alta ao lockout (com taxas de 90 a 95%) também foi essencial para os 
números tão positivos. É importante frisar que, mesmo durante todas as medidas, todas as 
operações consideradas essenciais continuaram funcionando. Houve, também, a criação 
de um gabinete de crises, composto, também, por filósofos, o que o professor acredita ser 
extraordinário.
Outro ponto importante 
foi a alta testagem. Desde 
janeiro, foram cerca de 160 
mil testes por semana. O 
número saltou meses depois, 
chegando a 800 mil testes 
semanais, com contato por 
telefone para anunciar cada 
caso individualmente e fazer 
perguntas básicas para fazer 
o rastreamento de vírus.
!
25
Avaliação dinâmica
Perspectivas
Sobre este assunto, o professor pontuou sobre como estamos tratando sobre um perfil 
desconhecido, e como é necessário relatórios diários para médicos, centros de saúde e 
população. Com tanto preparo, eles acabaram conseguindo receber pacientes de outros 
países, como Itália, França e Espanha.
A primeira-ministra do país entende, segundo Arbex, que a 
primeira fase foi concluída, mas que a pandemia ainda não 
acabou, então é necessário continuar com algumas medidas 
e cautelas. O próximo passo, ainda segundo a primeira-
ministra, é um aplicativo de rastreamento, o que gerou grande 
debate sobre a privacidade de informações individuais, já 
que os alemães não gostam deste controle de informação 
– eles querem que a informação seja descentralizada e que 
não fique armazenada na nuvem, e sim no próprio aparelho 
das pessoas, o que já está sendo criado. E, por fim, nas 
perspectivas, seria a criação de uma vacina até o outono 
do hemisfério norte – algo em torno de 6 a 8 meses.
O que fica muito forte no discurso do professor é a 
importância da liderança em casos como esse, de como a 
liderança pode modificar um cenário, dependendo de como 
é aplicada.
Rastreio antecipado dos primeiros casos, começando em 28 de janeiro;
Poucos casos perdidos: o tratamento antecipado salvou vidas;
Prevenção ativa de grupos vulneráveis – médicos iam até a casa dos 
pacientes para aplicar vacina contra pneumonia (pneumococcus);
Médicos foram às casas dos pacientes para fazer testes para o Corona, 
quando necessário;
Forte sistema de saúde, com todos os equipamentos necessários;
Uso da telemedicina.
ALÉM DISSO ARBEX DESTACOU OUTROS PONTOS:
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O último a falar foi o professor coreano, Lee. Ele trouxe a sua experiência no combate 
ao coronavírus na Coréia do Sul a partir da evolução dos dados e confirma que a maior 
preocupação hoje, é a transmissão silenciosa do vírus dentro da comunidade, que ainda 
pode vir acontecer.
Esta preocupação vem, principalmente, por conta do rastreamento. Quando há contágio 
por meio da comunidade, apenas 6% consegue ser rastreada, o que pode dificultar ainda 
mais a prevenção.
Por lá, Lee afirma que não houve lockdown em todos os lugares da Coréia, mas o forte 
distanciamento social e aderência às recomendações da OMS fizeram com que os números 
do país se apresentassem de forma quase mágica – recomendações como máscaras, 
distanciamento de 2 metros e lavagem das mãos. Outro ponto importante foi o respeito 
em relação ao funcionamento de apenas serviços essenciais.
A taxa de hospitalização também foi muito baixa, já que o país contava com um centro de 
cuidados especiais – o país acumula cerca de 255 mortes no país por conta do coronavírus. 
Aos poucos, estão voltando as atividades normais, mas ainda respeitando o distanciamento 
de 2 metros e planos estão sendo feitos para que a volta seja segura.
Sobre a reação do público, em específico, e o impacto na vida das pessoas, o professor 
disse que os coreanos, de maneira geral, por estarem bem informados, reagiram bem às 
medidas tomadas pelo governo e, principalmente, respeitando essas medidas. Um ponto 
importante levantado é que há algum tempo, a Coreia passou por outras epidemias – a 
última foi em 2015 – então a população já entendia a importância de se adaptar a isso. 
Quando as coisas começaram a piorar em fevereiro, por conta das experiências anteriores, 
o governo conseguiu agir rapidamente com ações eficazes, como alta testagem do novo 
coronavírus.
Para finalizar, o professor dissertou a respeito do que a Coreia fez para aumentar a moral 
e a esperança durante este tempo de crise. Todos os dias, os médicos levavam dados à 
população (pessoas em isolamento, pessoas infectadas etc.), então esta comunicação 
considerada honesta – contando também com rastreamento de contato – e diária e a 
importância dos EPIs fez com que todos tivessem confiança nas autoridades e acreditassem 
que o governo estava fazendo um bom trabalho.
Quando a pandemia estava em seu pico, a Tecnologia da Informação se apresentou 
como aliado – o que também trouxe preocupação sobre a privacidade de dados, mas, 
diferentemente de outros países, a população aceitou ter seus dados enviados ao governo 
durante a epidemia pois entendeu que essas informações poderiam ajudar no combate do 
COVID-19. Tudo que foi coletado, as autoridades estão deletando, em respeito à população. 
Com isso, a populaçãoabraçou a causa e reportou diariamente como estavam os seus 
estados de saúde, o que ajudou muito no combate ao coronavírus.
LOCKDOWN NA CORÉIA DO SUL E A REAÇÃO DO PÚBLICO 
SOBRE AS MEDIDAS
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atendimentos em diferentes especialidades, seja presencialmente ou por meio de 
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