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METODOLOGIA DA DANÇA Bonine John Giglio Brito Expressão corporal Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Analisar os conceitos de expressão corporal. � Descrever processos de expressão corporal relacionados à infância e à vida adulta. � Identificar fontes/gatilhos para o trabalho da expressão corporal e da criatividade. Introdução A expressão corporal pode ser entendida como a manifestação por meio de movimentos de sentimentos pautados em vivências , ocorrendo pela locomoção conjunta e ordenada de músculos, ossos e tendões. Para que isso ocorra, o indivíduo que se expressa deve passar por uma série de momentos até chegar ao refinamento de seus movimentos. Esse processo de maturação do movimento acontece desde o princípio da vida e é finalizado apenas com a morte. Neste capítulo, você irá estudar os conceitos de expressão corporal e sua relação com o mundo, assim como os processos pelos quais o indivíduo passa para que a expressão corporal alcance diferentes níveis, identificando as fontes de aprendizado a se explorar no trabalho de expressão. Expressão corporal e seus conceitos A forma mais primitiva de comunicação humana ocorre pelo corpo. As expres- sões faciais e gestuais podem dizer muito sobre o que uma pessoa sente ou quer aparentar. Quando vemos alguém bocejando, podemos supor que a pessoa está cansada ou com sono apenas pelo gesto do bocejo. É por isso que dentro do aspecto das relações sociais com outros seres humanos a expressão corporal se faz presente, podendo denotar claramente diferentes estados de espírito. No âmbito da educação, a expressão corporal precisa ser considerada como prática pedagógica, a fim de orientar educandos a buscar um caminho para a execução de meios criativos. Tal orientação só é possível com a sensibilização e a conscientização dos movimentos, das posturas e das atitudes. Dessa forma, precisamos compreender que o resultado da nossa expressão é carregado de histórias, que são representadas pelas artes e por simbologias. Weil e Tompakow (2003, p. 25) afirmam que “[...] desde os tempos imemo- riais, usamos símbolos — mensagens sintéticas de significado convencional. São como ferramentas especializadas que a inteligência humana cria e procura padronizar para facilitar a sua própria tarefa — a imensa e incansável tarefa de compreender.” O compreender, segundo os autores, refere-se ao mundo que nos cerca de informações que precisam ser processadas a todo o instante. Ou seja, sentimos uma grande necessidade de entender o que acontece a nossa volta. A expressão corporal pela dança auxilia na construção da própria identi- dade e da percepção do outro. Assim, a dança oportuniza uma grande rede de relações, visto que o corpo se expressa e entra em contato com diferentes meios e experiências. Mas afinal, o que é expressão corporal? A expressão, seja pelo corpo ou pela linguagem, diz respeito à capacidade de demonstrar seus sentimentos para o outro. Quando essa expressão ocorre pelo corpo, ela é manifestada por gestos, posturas e movimentos, que são influenciados por aquilo que pensamos e sentimos. Entendemos os gestos como uma expressão do corpo que não precisa de palavras e que, portanto, pode representar algo: por exemplo, quando acenamos com as mãos para dar tchau, ou quando expressamos “sim” ou “não” com um movimento da cabeça. Mesmo sem ter sido dito que o “sim” representa o balanço da cabeça na vertical, e o “não” o balanço da cabeça na horizontal, sabemos o que cada um desses gestos representa. A postura diz respeito à utilização das articulações no espaço para fornecer equilíbrio e demonstrar algum gesto pelo corpo, o que ocorre em grande parte das artes representativas ou da cultura do movimento corporal (dança, música, teatro, jogos, esportes). O movimento resulta da associação entre os gestos e a postura, e a junção dos três corresponde à expressão corporal por essa movimentação do corpo, ou seja, é o resultado da projeção do corpo em relação ao espaço. Expressão corporal2 A expressão corporal de um jogador de futebol exige que ele faça um gesto (um chute a gol). Para que ele realize esse chute, precisa assumir determinada postura (contração muscular, de pé, articulação dos tornozelos) para que o movimento de chute a gol aconteça. O resultado do chute, a comemoração do gol ou o lamento por ter errado também fazem parte da expressão: o jogador pode demonstrar seu lamento por ter errado colocando as mãos na cabeça, ou se acerta o gol, corre e vibra com os braços em forma de comemoração. Silva e Schwartz (1999, p. 169 apud MARTINS; VOLSKI, 2014, p. 3) afirmam que “o corpo tem a capacidade de se manifestar, o que, na expres- são corporal, se apresenta através do vivido corporal. Este vivido corporal equivale à maneira pela qual o corpo apresenta-se disponível”. As expressões do movimento representam as vivências do corpo. O contato do corpo com o mundo ao redor proporciona novos aprendizados e novas possibilidades de se transmitir mensagens. Sobre isso, Silva comenta que: [...] as atividades expressivas objetivam, através de vivências corporais, dança e de outras manifestações, levar o homem, a mulher, a sentir o corpo próprio, ampliar sua sensibilidade, eliminar os limites, as influências e preconceitos determinados pelo ambiente cultural (SILVA, 1995, p. 93 apud MARTINS; VOLSKI, 2014, p. 3–4). Nesse sentido, a expressão corporal liberta dogmas e paradigmas cons- truídos por padrões culturais, libertando o corpo de amarras e propiciando a criatividade e as boas sensações. Klaus Viana, o introdutor da expressão corporal no Brasil, descreve a expressão como a redução da linguagem falada, o que resulta em um mundo de maiores possibilidades criativas: [...] o processo de expressão corporal na mesma medida em que vai desver- balizando, tornando as palavras cada vez mais sem sentido, vai ampliando a percepção visual, tátil e motora. O indivíduo vai aprender a existir em um mundo cada vez mais amplo, mais rico e mais complexo. Basta isso para alterar consideravelmente o sentido das palavras. Antes, as pessoas viviam na convicção de que o dizível é o mais importante ou é quase tudo. “Depois, elas percebem que o indizível é maior” (VIANNA, 1998, p. 3). 3Expressão corporal A comunicação pelo corpo nos abre a infinitas possibilidades corporais para além do eixo da linguagem falada. Para entendermos melhor os conceitos de expressão corporal, imagine um espetáculo de dança. A primeira coisa que notamos sobre os dançarinos é a ausência da fala: eles utilizam todo seu tempo e espaço com o corpo como possibilidades para transmitir uma mensagem ou passar alguma emoção. Ou seja, a expressão corporal na dança diz respeito aos movimentos que o corpo reproduz de forma livre e coordenada, capazes de comunicar ao es- pectador, que ao ouvir a música e observar o corpo dançante faz assimilações e dá um novo significado para aquela performance. Assim, podemos dizer que a expressão corporal é como a fala pelo mo- vimento do corpo. Na dança, o significado é importante para a expressão corporal, pois não diz respeito a uma palavra ou frase que exprime ou explica algo com exatidão. A expressão corporal é mais aberta para interpretações, ou seja, um movimento ou um gesto produzido pode ter múltiplos significados. Em um espetáculo, um dançarino é levantado por outro, e o dançarino que se encontra suspenso no ar pode estar interpretando a busca pela liberdade, ou a busca por novos rumos, ou apenas fazendo uma grande passagem de tempo. Dependendo do contexto, o movimento pode expressar diferentes significados. E é isso o que faz da expressão corporal uma linguagem tão rica. Processos de expressão corporal relacionados à infância Os ambientes educacionais são espaços onde a criança pode ter maior contato com demais crianças e é por esse contato que elas passam a experimentar pelo corpo, pois correm, pulam, brincame jogam, desenvolvendo uma linguagem única do seu repertório motor. Como em todas as outras fases da vida (adulto, adolescente, idoso), porém de maneira mais espontânea, a criança se expressa pelo corpo, e é por ele que ela explora o mundo e se relaciona com o outro, produzindo seu próprio conhecimento do mundo. Expressão corporal4 É na fase escolar que a criança passa pelo período pré-operacional de seu desenvolvimento motor, por isso a escola é o local onde as vivências se tornam inesquecíveis e o início da linguagem expressiva ocorre de forma compreensiva. É a partir disso que a criança passa a refletir sobre suas ações, conseguindo melhor elaborar sua linguagem e seu pensamento, concatenando suas ideias de acordo com suas vivências e contatos com os indivíduos e o meio ambiente, propiciando uma relação processual entre corpo e mente pelo movimento (BUENO, 1998). O processo de expressão corporal da criança se inicia na fase sensório- -motora, quando aparecem os primeiros reflexos, até o início das representações mentais, quando o reflexo se modifica de acordo com o contato exterior. No entanto, é na escola que suas maiores vivências ganham corpo e expressão. Por isso, a criança passa a ser compreendida como um sujeito histórico, que constrói a sua identidade no mundo de forma pessoal e coletiva pelas relações humanas e pela produção de cultura. A criança, então, precisa passar por processos de ações completas e in- tencionais que, pela prática, se tornam organizadas e coordenadas de forma a alcançarem objetivos pré-determinados “[...] com máxima certeza e mínimo de espaço” (WHITING, 1975, p. 53) Sendo assim, a criança precisa de confiança para trabalhar conforme a sua disponibilidade de espaço, de pouco ou muito tempo, muitos ou poucos objetos, determinadas regras e limites etc. A expressão corporal se inicia aliada aos movimentos de habilidades moto- ras, começando pelos movimentos rudimentares (estabilizadores, locomotores e manipulativos), passando pelos movimentos fundamentais, resultando em neuropadrões motores (GALLAHUE; OZMUN, 2005). Portanto, é possível que ao longo dessas fases utilizemos as habilidades motoras do movimento em favor da necessidade de expressão (correr quando está com medo, andar mais devagar quando está com dor ou pular muito quando está alegre). Na dança, isso ganha uma significação ainda maior, pois a criação de padrões de representação pelo movimento é um processo enriquecedor. Quando aliamos esse processo à escola, é possível ampliarmos mais a ideia de riqueza da expressão corporal (SCARPATO, 2001). O movimento é uma forma de expressão e comunicação do aluno e faz parte do processo de se tornar um cidadão crítico, participativo e responsável, capaz de se expressar em linguagens variadas, desenvolvendo a autoexpressão e aprendendo a pensar em termos de movimento (SCARPATO, 2001, p. 59). 5Expressão corporal É dentro da escola que se possibilita a interação entre movimento e produção de conhecimento, abandonando a velha concepção de escola do ensino pela caneta e pelo papel, considerando o correr, o pular e o brincar como formas de aprendizado fora dos padrões. É possível trabalhar a expressão corporal na escola de forma espontânea, considerando que a disciplina de educação física cumpre todos os requisitos para que a cultura corporal e sua expressão sejam valorizadas. Coletivo de Autores (1992) comenta que essa prática [...] desenvolve uma reflexão pedagógica sobre o acervo de formas de re- presentação do mundo que o homem tem produzido no decorrer da história; exteriorizadas pela expressão corporal: jogos, danças, lutas, exercícios ginás- ticos, esporte, malabarismo, contorcionismo, mimica e outros que podem ser identificados como forma de representações simbólicas de realidades vividas pelo homem, historicamente criadas culturalmente desenvolvidas (COLETIVO DE AUTORES, 1992, p. 38). Dessa forma, a educação física também contribui para a formação do adulto crítico e participativo. Após a fase sensório-motora, finaliza-se a socialização primária e a criança passa por uma fase de adaptação comportamental, buscando a aceitação por novos grupos e a adaptação a novos ambientes. As expressões corporais vão tomando novos contornos, visto que a necessidade de ser aceito entra em questão. Na adolescência, a expressão corporal passa por grandes questionamentos, adaptações, descobertas, o olhar se volta para si mesmo, para as descobertas do próprio corpo e as drásticas mudanças biológicas, aliadas ao impulso sexual e à expectativa de imagem que os outros podem criar sobre eles mesmos. É também na adolescência que a busca pela identidade nos leva a procurar expressões que melhor se encaixem a nossas personalidades, pois as severas mudanças e os processos conflituosos da adolescência ocorrem por conta da emoção. Logo, a comunicação não verbal nessa fase se torna uma maneira de estabelecer relações com o mundo. É nessa fase que se passa pela ressignificação da identidade e o adolescente precisa lidar com uma gama de mudanças, tanto físicas quanto psíquicas, que causam efeitos diretos na sua inserção social, política e cultural. O adolescente tenta se expressar corporalmente para que as coisas saiam de forma correta, ou seja, para ser aceito em um grupo que lhe dê a visibilidade e o respeito almejados (MACEDO; GOBBI; WASCHBURGER, 2009). Expressão corporal6 Toda essa experiência gira em torno de dois grandes acontecimentos: o rompimento da vida infantil e o início da vida adulta. As perspectivas, o corpo, as cobranças e as vontades mudam; velhos hábitos são abandonados e há novidades em todas as esferas sociais. Tendo em vista que a comunicação não verbal engloba gestos, posturas e movimentos, podemos dizer que na adolescência eles vão se moldando pela junção entre as experiências vividas do repertório motor e as difíceis escolhas sobre qual rumo tomar para se impor como um ser livre e de pensamento crítico. Sobre a comunicação não verbal, Oliveira (2010, p. 287) comenta que: Cada parte do corpo expressa conscientemente ou não, nossas crenças individu- ais ou coletivas, nossos desejos, nossas tradições culturais, nossas impressões mitológicas. Vasto é o campo do corpo simbólico e suas significações. Olhar para o corpo com outro olhar é perceber que nossas expressões refletem nossa alma. É perceber a interligação do físico e o psíquico. É perceber a beleza de enxergar nossa exteriorização corporal com nosso olhar interior, porque ela parte do próprio interior. É nessa perspectiva que o processo das expressões corporais na adoles- cência é construído. Na fase adulta, nossas expressões corporais são marcadas pela história do corpo e pela personalidade, ou seja, já adquirimos bastante experiência ao longo da vida e estamos prontos para novas relações sociais. O adulto também passa por alterações nas expressões corporais, como um comportamento mais sério devido ao ambiente de trabalho, a postura firme diante de um cargo, a firmeza para lidar com sacrifícios e tomadas de decisões etc. Mais tarde, começam os questionamentos sobre a morte, a chegada da aposentadoria traz a perda da funcionalidade social e biológica, ocorre um declínio corporal com o processo natural de envelhecimento. O corpo, chegando a sua finitude, carregado de histórias e experiências singulares, muda também de expressão. O que pode expressar um idoso cor- poralmente? Para buscarmos a resposta, precisamos rever toda sua trajetória de vida e respeitar a sua vivência cultural. Expressão corporal e manifestações da cultura corporal Em relação à cultura corporal, as buscas pelos processos de construção se tornam mais enriquecedores ainda. Isso porque a cultura corporal pode ser entendida como um ponto de encontro e interações nos âmbitos culturais, sociais e biológicos que o ser humano vivencia ao longo da vida. 7Expressão corporal Mas afinal, o que podemos considerar como elementos da culturacorporal? A dança, o circo, o teatro, jogos, práticas corporais laborais, lutas e o esporte estão inseridos na cultura corporal, , podendo ser considerados configurações da construção do sentido da vida humana. A forma como cada cultura se movimenta dá sentido à esfera na qual o indivíduo está inserido. Como o esporte, por exemplo, pode contribuir para o desenvolvimento das expressões corporais, em termos de cultura corporal? Sendo um dos maiores fenômenos socioculturais do mundo, fica claro que a magnitude do esporte ocorre devido a sua pluralidade de sentidos e significações dentro de uma importante esfera de expressão. Por exemplo, em um jogo de vôlei, duas culturas diferentes podem se encontrar na quadra. As vestimentas podem ser diferentes em razão da cultura em que os atletas se inserem e todo o processo histórico pelo qual cada atleta passou. No entanto, naquele momento se unem por um único propósito: a disputa por uma medalha de maneira honrada e cordial. A Figura 1ilustra um exemplo desse possível encontro. Figura 1. A egípcia Doaa Elghobashy e a alemã Kira Walkenhorst durante partida do vôlei de praia feminino, no Rio de Janeiro. Fonte: Nicholson (2016, documento on-line). Expressão corporal8 A expressão corporal passa por processos que acompanham o desenvol- vimento motor do ser humano, visto que é pelo movimento que a expressão corporal acontece, e é assim que passamos a entender que a cada fase nossas expressões acompanham nosso crescimento pessoal e nossa interação com o mundo. Você já pensou que o corpo também pode ser utilizado como “corpomídia”? Afinal, o corpo é uma mídia que comunica, recebe, processa e transmite informações. Quando a informação atinge o corpo, há uma interação mútua, e o resultado disso pode ser a dança, um vídeo, um gesto, uma expressão, uma foto, um grito, ou até mesmo a forma como nos vestimos. Portanto, o “corpomídia” sempre está em processo de elaboração de informações acerca do ambiente com o qual estamos interagindo e também sofre ajustes à realidade em que se está vivendo. Fontes e gatilhos para o trabalho da expressão corporal Expressar sentimentos e uma determinada carga de emoções pelo corpo deve ser uma tarefa difícil, pois deixa de lado a linguagem falada e dá voz à linguagem de outras partes do corpo. Pensando nessa dificuldade, também podemos pensar: como cada pessoa desenvolve sua expressão corporal? Qual foi a fonte e o processo que um dançarino criou para que o resultado final fosse uma incrível interpretação? A primeira resposta está na infância, período em que nossas expressões são formadas. Choramos quando estamos tristes, rimos quando nos contam algo engraçado, mancamos quando nos machucamos e corremos quando precisamos. Ou seja, tudo isso se refere à expressão corporal, e para que cada indivíduo tenha a sua expressão, é preciso ter em mente que a expressão corporal se refere ao estilo pessoal de cada um: ninguém ri, chora, ou anda e se expressa de maneira igual, cada um possui sua individualidade. Mas afinal, como nós, professores de educação física, podemos contribuir na formação da expressão? Como podemos ajudar a aflorar o pensamento criativo e a explorar as sensações que a pessoa que se expressa pode trans- mitir? Como dito anteriormente, os esportes são parte importante da cultura corporal e todos eles requerem expressões corporais significativas que servem 9Expressão corporal como meio de comunicação com o mundo exterior. O professor de educação física deve explorar todas essas áreas, levando em conta que nossa disciplina, dentro de um ambiente escolar, ultrapassa a necessidade de apenas se aprender a chutar uma bola ou a produzir sudorese de forma excessiva. Sendo assim, veremos como outros processos de cultura e expressão corporal podem ser trabalhados na expressão individual de cada aluno. Circo É uma companhia coletiva que reúne vários artistas das mais variadas es- pecialidades: malabaristas, palhaços, equilibristas, monociclistas. Podemos perceber a grande riqueza de informações que o circo pode trazer de uma só vez, assim como também a riqueza de possibilidades de se trabalhar com cada uma dessas especialidades, pois o aluno pode explorar os limites do corpo e ampliar seu repertório de sensações, que mais tarde serão traduzidas na expressão do corpo. No malabarismo, por exemplo, os alunos podem usar pequenas bolas e tentar fazer malabares com as mãos, trabalhando a percepção, a agilidade e a destreza manual. Pela performance de palhaços, é possível trabalhar uma infinidade de mímicas, caricaturas e jeitos de andar e interpre- tar. Na especialidade do equilibrista, as possibilidades também são bastante amplas, visto que o equilíbrio pode ser aproveitado na educação física com o trabalho de propriocepção, por exemplo. Os exercícios de equilíbrio podem ser mais tarde aproveitados nas danças e nos esportes. O monociclo, apesar de ser uma tarefa com poucos facilitadores dentro do ambiente escolar, pode se aliar às atividades de equilíbrio. Teatro É um conjunto de peças dramáticas para apresentação ao público, com o obje- tivo de proporcionar diversos tipos de emoção aos espectadores. A importância do teatro para a expressão corporal atinge o seu máximo, pois o ator doa seu corpo para experimentar e transmitir sensações. Por isso o teatro se torna fundamental para a expressão, já que desenvolve aspectos como a coordenação, a criatividade, a memorização e o vocabulário. Imagine que você peça aos seus alunos para encenar uma personagem fora de suas personalidades, pensando sobre como essa personagem fala, anda, come, ri, brinca, dorme etc. Dessa forma, o aluno trabalha sua expressão e criatividade. Expressão corporal10 Práticas corporais laborais É um exercício de integração social entre funcionários, alunos e público, sendo que o local de trabalho manual é o local onde mais acontece essa expressão. Por isso, a ginástica laboral traz uma série de exercícios e alongamentos que se assemelham ao ambiente de trabalho, prevenindo lesões e melhorando o rendimento de um funcionário. Imagine que um funcionário execute um movimento repetitivo no trabalho e, por conta disso, desenvolva algum tipo de patologia na região mais utilizada, como tendinite ou bursite. Para que esse quadro seja evitado ou para que seus riscos de saúde diminuam (em casos de mecanização dos estímulos da vida e depressão), a ginástica laboral se faz presente como um momento de saúde física e mental, pois proporciona que a comunicação do corpo tenha outros significados além dos movimentos constantes. Com isso, o corpo também experiência outros momentos e entra em contato com pessoas próximas. Jogos e esportes Os jogos podem ser considerados brincadeiras de domínio público. Existem jogos cooperativos, que têm o intuito de promover a interação e a coopera- ção do educando, e jogos competitivos, que buscam promover o espírito de competição entre seus adversários. Além disso, existem jogos tradicionais, que contam um pouco da história de determinada cultura, preservando a memória do seu povo. Agora imagine você, quanto aprendizado sobre diferentes culturas os alunos podem adquirir pelos jogos? É possível aprender diferentes costumes e movimentos em um mesmo jogo. Imagine a motivação e a determinação quando estes jogos se tornam uma disputa ou um objetivo de cooperação. Lembramos que o jogo vai além do campo: nos Estados Unidos, por exem- plo, existem equipes de torcida para os atletas, com uniformes, pompons e coreografias. No Brasil, as torcidas de futebol reverberam hinos, usam fogos de artifícios coloridos, batem palmas sincronizadas e fazem ondas. Cada um constitui uma maneira de se expressar dentro de uma cultura. 11Expressão corporal Lutas São disputas em que os oponentes se utilizam de técnicas e estratégias de desequilíbrio, contusão e força dentro de uma área de combate. As lutas se caracterizam por sua riqueza de detalhes, pois são bastantediversificadas: existem as lutas de combate, ataque e defesa, lutas folclóricas e artes marciais. Apesar de o homem lutar desde os primórdios por questões de sobrevivência, com o passar do tempo a luta foi ganhando outras significações e, assim, pode ser considerada parte constitutiva da memória do povo em que se insere. É possível colocar a luta como um facilitador na intermediação de contato entre o educando e a história do seu país e de outros povos, nações e culturas diferentes. No Brasil existem diversos tipos de luta, como a capoeira, o judô e o caratê, além da queda-de-braço e o cabo-de-guerra, cada uma oriunda de outras culturas. Esse tipo de manifestação cultural é importante para o indivíduo, pois incentiva o aprendizado sobre o respeito e os cuidados com o corpo do outro, fazendo-o conhecer a sua força, as suas fraquezas e também as suas estratégias de luta. Isadora Duncan, mãe da dança moderna ou contem- porânea, propôs o “sentir do movimento” na dança, revolucionando a possibilidade de o indivíduo utilizar os sentimentos humanos para se expressar, abandonando aquilo que considerava um “ballet inanimado”, liberando o corpo para uma dança mais orgânica. No vídeo disponível no link a seguir você pode conferir como ocorre a expressão corporal na dança contemporânea. https://qrgo.page.link/aoZcr Expressão corporal12 Em uma aula de dança na escola, a professora, com o intuito de trabalhar a expressão corporal, resolve apresentar aos seus alunos um vídeo de dança moderna e pede que eles o interpretem o seu significado. A professora mostrou aos alunos o vídeo disponível no link a seguir. https://qrgo.page.link/nWP12 Todos os alunos assistiram e relataram diferentes interpretações: um aluno pensou que eles fossem um casal de passarinhos e estavam bravos, querendo fugir, mas ele era muito grande e não conseguia sair da gaiola e, no final, ela decide ficar. Já outro aluno sugeriu que eles são amigos e queriam brincar, mas a brincadeira não estava dando muito certo, logo eles brigavam mais do que brincavam. Por fim, os alunos montaram a sua versão da história pela dança, em grupos de quatro pessoas, sem a necessidade da fala, apenas utilizando expressões corporais que os colegas mais uma vez precisaram interpretar o significado. Ao final, os alunos exerceram o pensamento crítico acerca dos movimentos, participando não só passivamente do processo de aprendizagem, mas também ativamente, tendo a livre interpretação para criar seu contexto. Como vimos anteriormente, a infância é um precioso momento em que o indivíduo tem maior possibilidade de captar fontes para melhorar sua expressão corporal. A cultura corporal, em todos os seus aspectos, possui movimentos de grande expressividade, possibilitando ao ser humano produzir diversos tipos de comunicação, dada a necessidade de sobrevivência em meio a uma sociedade coletiva de anseios e vontades. Essas expressões surgem por meio de gestos, posturas e ritmos que se ajustam em relação ao espaço e ao tempo, por conta da respiração e de movimentos de contração e relaxamento e, assim, resultam na forma como cada pessoa processa todas as informações e as expressa. Por fim, o corpo é um meio de comunicação não verbal potencial, em que além dos movimentos coordenados entre contração e relaxamento, ocorre sintonia com fatores externos ao ambiente, como as questões sociais que influenciam diretamente a maneira como cada um escolhe andar, se vestir e tomar decisões. Além disso, todos esses aspectos estão intimamente ligados ao desenvolvimento motor ao longo da vida, ou seja, quanto mais refinamos o nosso repertório motor, maiores são nossas possibilidades de expressão corporal. Assim, é possível compreender que de forma instruída (por meio de aulas) ou de forma natural (com as experiências da vida), as expressões corporais são fundamentais para o desenvolvimento da humanidade enquanto seres sociáveis e comunicáveis. 13Expressão corporal BUENO, J. M. Psicomotricidade: teoria e prática. São Paulo: Lovise, 1998. 175 p. COLETIVO DE AUTORES. Metodologia do ensino da educação física. São Paulo: Cortez, 1992. 119 p. (Coleção Magistério 2º Grau; Série Formação do Professor). GALLAHUE, D. L.; OZMUN, J. C. Compreendendo o desenvolvimento motor: bebês, crianças, adolescentes e adultos. 3. ed. São Paulo: Phorte, 2005. 585 p. MACEDO, M. M. K.; GOBBI, A. S.; WASCHBURGER, E. M. P. Marcas corporais na adoles- cência: (im)possibilidades de simbolização. 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