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Chinweizu-O PAN-AFRICANISMO DO PODER NEGRO para o século XXI

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1 
 
 
2 
 
Esta singela seleção de artigos do Dr. Chinweizu 
abarca reflexões práticas e críticas acerca do Pan-
Africanismo. Fortemente ancorado nos escritos e nos 
feitos do Honorável Marcus Garvey, Chinweizu 
propõe o Pan-Africanismo do Poder Preto atrelado ao 
objetivo da criação urgente de um superestado – 
uma superpotência central - na África Negra, assim 
ele se opõe à unificação continental com os Árabes 
do Norte da África e questiona os rumos do 
intitulado Pan-Africanismo Continentalista. (2020) 
 
 
 
Sobre o Autor: 
Chinweizu é um estudioso afrocêntrico não 
filiado institucionalmente, vive em Lagos, Nigéria. 
Um historiador e crítico cultural, seus livros 
incluem: The West and the Rest of Us (1975),(1987); 
Invocations and Admonitions (1986); Decolonising the 
African Mind (1987); Voices from Twentieth century 
Africa (1988); Anatomy of Female Power (1990). Ele 
também é co-autor de Towards the Decolonization of 
African Literature (1980). 
3 
 
Dr. CHINWEIZU - Seleção de Artigos: 
O PAN-AFRICANISMO DO PODER NEGRO para 
o século XXI 
 
Sumário 
- O Último Conselho de Nyerere para a África 
Negra: Recuo do Pan-Africanismo Continentalista 
para o Subsaariano ................................................ 4 
- A Nação Africana? ........................................ 14 
- Segurança Coletiva ....................................... 23 
- Marcus Garvey e o Movimento do Poder Negro: 
legados e lições para a África Negra contemporânea
 ............................................................................ 50 
- Reparações e a Guerra Pan-Africana contra o 
Genocídio ........................................................... 106 
 
Fonte: artigos selecionados a partir do 
Compilado de Ambakisye-Okang Dukuzumurenyi, 
Ph.D. 
Sugestões e dúvidas, contato no blog: 
insurreicaocgpp.blogspot.com.br 
4 
 
- O Último Conselho de Nyerere para a 
África Negra: Recuo do Pan-Africanismo 
Continentalista para o Subsaariano 
 
Por Chinweizu (2009) 
 
Opinião 
Kwame Nkrumah era famoso por defender um 
governo para todo o continente africano; pelo que ele 
projetou como os Estados Unidos da África, e as 
vezes chamado de Governo da União da África ou 
União dos Estados Africanos. Seu slogan era "A 
África deve unir-se". Essa foi sua posição pública até 
sua morte em 1972. 
No entanto, foi relatado por nada menos que 
Amilcar Cabral que Nkrumah estava pensando em 
modificar sua posição antes de morrer no exílio. É 
significativo que, antes de morrer, Nkrumah tenha 
dito a Cabral: "Cabral, digo uma coisa, nosso 
problema da unidade africana é muito importante, 
realmente, mas agora, se eu tivesse que começar de 
5 
 
novo, minha abordagem seria diferente". (Cabral, 
Return to the Source: 91) 
Como não temos registro de mudanças reais na 
abordagem de Nkrumah, devemos sustentar que sua 
posição não modificada foi sua última posição sobre 
o assunto. Então Nkrumah viveu e morreu como 
continentalista; um defensor dos Estados Unidos da 
África. 
Com Nyerere é diferente. Há evidências em suas 
próprias palavras de que ele era um continentalista 
em 1963, assim como Nkrumah; e que, em 1997, 
dois anos antes de sua morte, ele recuou em público 
sua posição do pan-africanismo continentalista para 
o pan-africanismo subsaariano. 
1- 1963: Nyerere, lembrando-se em 1998, disse: 
"Kwame e eu nos encontramos em 1963 e 
discutimos a Unidade Africana. Discordamos sobre 
como alcançar os Estados Unidos da África. Ainda 
assim, nós dois concordamos com os Estados 
Unidos da África, conforme necessário."—(Ikaweba 
Bunting (1998) 'The Heart of Africa. Entrevista com 
Julius Nyerere sobre o anticolonialismo 'citada em 
"Unidade africana: sentindo-se com Nkrumah, 
6 
 
pensando com Nyerere", Chambi Chachage (2009-04-
09)) 
2- Em seu discurso em que comemorava 75 anos 
de idade em 1997, Nyerere enfatizou os seguintes 
pontos: 
A) "O Norte da África faz parte da Europa e do 
Oriente Médio." 
B) "A África ao sul do Saara está por sua própria 
conta... A liderança africana, a futura liderança 
africana, terá que ter isso em mente. Você estará por 
sua conta..." 
C) "Os pequenos países da África [sul do Saara] 
devem [...] se unir... Se não podemos avançar em 
direção a Estados-nação maiores, pelo menos vamos 
avançar em direção a uma maior cooperação". 
D) "A África ao sul do Saara está isolada. 
Portanto, para se desenvolver, terá que depender 
basicamente de seus próprios recursos. Recursos 
internos, nacionalmente; e a África terá que 
depender da África. A liderança do futuro terá que se 
reinventar, tentar executar políticas de máxima 
autossuficiência nacional e máxima autossuficiência 
7 
 
coletiva. Eles não têm outra escolha. (Vocês não 
têm)" 
Nyerere deu um conselho de despedida de um 
mais velho sábio, a África Negra deve se tornar 
autossuficiente e seguir sozinha; não confiar nos 
árabes ou europeus, americanos, japoneses, 
indianos ou em qualquer outro povo, pois nenhum 
deles tem interesse em ajudar o desenvolvimento da 
África Negra. O fato de estarmos por nossa conta 
significa que a África Negra deve se organizar por si 
mesma. 
Em outras palavras, devido à nossa situação 
única e separada no mundo, os negros africanos 
deveriam, de fato, se livrar do problema e da 
confusão que Nkrumah criou 40 anos atrás, ao nos 
juntar em um abraço aos árabes do Norte da África 
em sua busca por unificação continental. 
Uma implicação do conselho de Nyerere é que 
nós, africanos negros, nos retiremos da UA (União 
Africana) afro-árabe, do EU da África (Estados 
Unidos da África), etc. e organizemos nosso próprio 
aparelho coletivo, apenas para negros, para resolver 
nossos problemas peculiares. 
8 
 
Em 1963, Nyerere, assim como Nkrumah, 
considerava todo o continente africano como uma 
única unidade geopolítica, e os árabes do Norte da 
África, juntamente com os negros no sul do Saara, 
eram um único grupo constituinte. 
Mas em 1997, Nyerere deixou claro que 
considerava a África ao sul do Saara, a África Negra, 
uma unidade geopolítica distinta, bastante separada 
em sua identidade e destino do Norte Árabe da 
África. 
Nesse discurso de 1997, Nyerere enfatizou 
repetidamente que estava falando sobre a África ao 
sul do Saara, e não de todo o continente. E sua 
razão para considerar os Árabes do Norte da África 
como um povo à parte, um povo com uma 
identidade e destino diferentes é a seguinte: 
"O norte da África está para a Europa o que o 
México está para os Estados Unidos. Os norte-
africanos que não têm emprego não irão para a 
Nigéria; eles estarão pensando na Europa ou no 
Oriente Médio, por causa dos imperativos da 
geografia e da história, da religião e da linguagem. O 
9 
 
Norte da África faz parte da Europa e do Oriente 
Médio ". 
Podemos nos perguntar, o que o levou a mudar 
de opinião? Sua razão, como declarada em 1997, é 
puramente geopolítica e baseada nas prováveis 
realidades do século XXI. Não tem nada a ver com o 
fato de os árabes amarem ou odiarem os negros; 
nada a ver com as relações históricas passadas entre 
árabes e negros africanos. Assim, mesmo aqueles 
que pensam que os árabes são nossos "irmãos" e 
melhores amigos, precisam considerar a posição 
final de Nyerere sobre a questão da unidade ou 
aliança afro-árabe. 
Mesmo que eles sejam nossos "irmãos" e 
melhores amigos, é do nosso interesse geopolítico 
evidente não nos apegarmos a eles no século XXI. 
Sua história, suas circunstâncias, suas aspirações e 
seu destino são diferentes dos nossos. 
É significativo que o argumento de Nyerere para 
cuidarmos separadamente de nossos próprios 
negócios não se baseie na história de nossas 
relações com os árabes. Alguns negros africanos 
acham que, devido à aliança anti-imperialista afro-
10 
 
árabe da segunda metade do século XX, uma aliança 
pela qual os árabes deram ajudaà África Negra 
durante as lutas de libertação, devemos, em 
gratidão, tratar os árabes como parte de nós 
mesmos, ou pelo menos como nossos amigos e 
aliados permanentes. 
Nyerere sabia mais sobre a ajuda árabe do que 
qualquer outra pessoa, desde que coordenou essa 
ajuda em seu cargo de presidente do Comitê de 
Libertação da OUA. 
Mas, apesar de tudo isso, Nyerere está indicando 
que nosso interesse no século XXI exige que 
desistamos da ideia de confiar ou nos identificar 
com os árabes. Não devemos reconhecer amigos 
permanentes nem inimigos permanentes, apenas 
nossos interesses permanentes. Nyerere insistiu que 
nosso interesse no século XXI é distinto do interesse 
dos árabes do norte da África. 
Devemos aceitar esse fato, tirar as conclusões 
necessárias e agir sobre elas. Qualquer que seja a 
ajuda que os árabes deram às lutas anticoloniais na 
África Negra, não é necessário ignorar a realidade da 
divergência de interesses no século XXI. 
11 
 
Nyerere está apontando um aspecto essencial de 
nossa realidade que deve ser o alicerce de nosso 
comportamento: Existe o tempo de estarmos por 
nossa própria conta. E esse tempo para a África 
Negra é o século XXI. 
Somos abençoados com o fato de Nyerere ter 
vivido o suficiente e ter falado seu pensamento final, 
para que não precisemos especular sobre onde ele 
teria chegado nessa questão. 
Com a sabedoria da experiência e no final de 
uma longa vida, ele chegou à conclusão de que 
devemos seguir nosso próprio caminho e com 
autoconfiança. E acho que é isso que devemos fazer 
se estivermos sãos. 
 
Mas será provável que Nyerere seja atendido? 
Certamente não pelos malucos negros (nigger 
crazies), cujo complexo de inferioridade os torna 
patologicamente aterrorizados com as associações 
apenas de negros. Para entender como é improvável 
que os nkrumahistas e outros continentalistas 
aceitem o conselho de Nyerere, precisamos apreciar 
o desejo psicológico que o continentalismo satisfaz. 
12 
 
O continentalismo é a contraparte política do 
integracionismo social, e ambos pertencem ao 
mesmo complexo de patologias que o clareamento e 
alisamento de pele: todas são tentativas 
desesperadas de abandonar a agora raça negra 
impotente e se juntar à agora mais poderosa raça 
branca. 
Os continentalistas, como todos os 
integracionistas compulsivos, são vítimas 
psicológicas do dogma da supremacia branca de que 
os negros não podem conseguir nada sem a 
orientação dos brancos. Como Amos Wilson 
explicou, eles foram intimidados pela história 
eurocêntrica; pelas realizações infladas da Europa. 
Toda essa conversa sobre as grandes realizações 
dos europeus, da grande raça branca, os intimidou. 
E eles inconscientemente dizem para si mesmos: "Ei, 
é melhor ficarmos com essas pessoas brancas 
porque, se as perdermos, voltaremos à barbárie e ao 
primitivismo. Os negros não se estabelecem por 
conta própria!" 
13 
 
Inconscientemente, eles são levados a procurar 
companhia branca e a temer e fugir de qualquer 
grupo apenas de negros. 
Sem autoconfiança e sem confiança na raça 
negra, estão patologicamente agarrando qualquer 
palha branca para não se afogarem. 
Se os europeus não estão disponíveis, eles 
buscam a próxima melhor coisa: os árabes brancos. 
Daí a ânsia pelo continentalismo. O subconsciente 
negrofóbico deles está insistentemente dizendo a 
eles: "Sem brancos, não podemos cuidar de nossos 
próprios negócios. Não podemos ficar sozinhos e 
nem seguir por nós mesmos. Nós vamos estragar 
tudo.” 
Essa é a mensagem negrofóbica que eles 
recebem do subconsciente niggerizado; a mensagem 
que os leva a se agarrar desesperadamente aos 
brancos. Essa é a mentalidade que impedirá os 
continentalistas de seguir os conselhos de Nyerere 
sobre a autodeterminação dos negros africanos. 
 
 
14 
 
- A Nação Africana? 
A raça negra será exterminada se não construir 
uma superpotência negra na África até o final deste 
século 
Por Chinweizu (2009) 
 
Existe uma nação africana? Cadê? Existem 
nações africanas? Se sim, onde estão? 
Eu afirmo que a nação africana não existe e 
nunca existiu. Existe a raça africana, no entanto, 
não é uma nação. Existem muitas nações africanas, 
porém são essas que aprendemos a difamar 
chamando-as de tribos. Essas chamadas tribos eram 
as verdadeiras nações da África pré-colonial. O que 
hoje em dia se chama de nações africanas, não são 
nações; cada uma é apenas um país sob a jurisdição 
de um Estado. Está na moda chamá-los de Estados-
nação, mas isso é, na melhor das hipóteses, uma 
cortesia. 
Por que é importante determinar se a África 
Negra é ou não uma nação? Fingir que a África 
Negra é uma nação quando não é seria tão ilusório 
15 
 
quanto se apoiar em uma bengala sem perceber que 
é feita de gelo. Quando as coisas esquentam, o gelo 
se derrete e você se apoia no ar. Como alternativa, se 
um construtor não possui blocos de cimento e, 
desesperado, decide chamar montes de areia da 
praia pelo nome de blocos de cimento, ele logo 
descobrirá que não pode seguir o curso dos montes 
de areia como se fosse um bloco de verdade. Por 
falta dos fatores que fazem a população se unir a 
uma nação, a nação africana, sendo uma pseudo-
nação, se desintegraria sob pressão, como um 
pedaço de gelo no clima quente. Por exemplo, 
suponha que você tivesse um exército da chamada 
nação africana. E metade do seu exército fosse de 
muçulmanos negros, cada um dos quais disse em 
seu coração: “Sou muçulmano e adoro Alá e sigo o 
caminho do Profeta Muhammad (que a paz esteja 
com ele). Eu não tenho nenhum relacionamento com 
você, exceto que sua pele é preta. O árabe mais claro 
está mais perto de mim do que você. Se houvesse 
guerra entre muçulmanos de qualquer tom de cor e 
o mais negro dos negros, estarei do lado dos 
muçulmanos.” Se um exército negro africano está 
16 
 
cheio dessas pessoas, que chance tem de defender a 
África Negra dos árabes? Tal é o perigo da moda de 
fingir que existe uma nação africana quando, de 
fato, ela ainda não existe. Todos nós devemos levar a 
sério o aviso de Nyerere: "Não faz parte da 
transformação do sonho em realidade fingir que as 
coisas não são o que são." – [Nyerere, “Dilemma of 
the PanAfricanist”,‖ in Langley ed., Ideologies, .p. 
347] 
Agora voltando à pergunta: a África é uma 
nação? Ao tentar responder a essa pergunta 
cientificamente, e não sentimentalmente, seríamos 
ajudados partindo das seguintes afirmações de três 
disciplinas diferentes: antropologia cultural, 
historiografia e biologia. 
Vamos primeiro para a antropologia cultural 
através de Cheikh Anta Diop: 
“A identidade cultural de um povo [está] 
centrada em três componentes: linguísticos, 
históricos e psíquicos”. [Diop, em Great African 
Thinkers, p.268]. 
Ainda segundo Diop, o fator psíquico é o domínio 
de poetas, cantores, contadores de histórias. 
17 
 
Observe o exemplo dos irmãos Grimm que, 
colecionando contos populares alemães em seus 
contos de fadas de Grimm, lançaram as bases 
psíquicas da identidade nacional alemã; também 
observe o papel do épico Kalevala na promoção da 
identidade nacional na Finlândia; também o papel 
do épico de Mahabharata na promoção da 
consciência nacional indiana e o papel da lenda de 
William Tell na identidade nacional da Suíça. Da 
mesma forma, o Antigo Testamento tem sido uma 
âncora indispensável para a identidade judaica; para 
os japoneses, o Nihon gi ou Crônicas do Japão, que 
foi compilado em 720 dC e o Kojiki ou Registros de 
Assuntos Antigos, que foi compilado em 712 dC, 
com suas coleções de mitos, lendas, relatos 
históricos, canções, costumes, adivinhações e 
práticas mágicas do Japão antigo, forneceram a base 
psíquica da identidade nacional japonesa. 
Em seguida, vamos para a historiografia de 
Jacques Barzun: 
“Do que consiste uma nação? Grande parte da 
resposta a essapergunta é: memórias históricas 
comuns;... uma linguagem comum, um núcleo de 
18 
 
memórias históricas com heróis e vilões;... uma 
nação é forjada em unidade por sucessivas guerras e 
pela passagem do tempo... É preciso uma guerra 
nacional para unir as partes, dando a indivíduos e 
grupos memórias de uma luta em comum. 
Desnecessário acrescentar que o nacionalismo só 
pode surgir quando uma nação nesse sentido pleno 
surgir.” [Jacques Barzun, Dawn to Decadence, pp. 
775, 776, 695, 435] 
Finalmente, vamos para a etologia, a ciência 
biológica do comportamento animal, através de 
Robert Ardrey: 
“Uma nação biológica é um grupo social... que 
possui uma área contínua de espaço como 
propriedade exclusiva, que se isola de outras do seu 
tipo por meio de antagonismos externos e que, 
através da defesa conjunta de seu território social, 
alcança liderança, cooperação e capacidade para 
ação combinada. Não importa muito se essa nação é 
composta por 25 indivíduos ou 250 milhões. Não 
importa muito se estamos considerando o verdadeiro 
lêmure, o macaco uivante, o anu-de-bico-fino, a 
cidade-estado grega ou os Estados Unidos da 
19 
 
América. O princípio social permanece o mesmo.” 
[Robert Ardrey, The Territorial Imperative, pp. 210-
211] 
O que Diop, Robert Ardrey e Jacques Barzun 
juntos nos dizem é que uma nação é formada por 
linguagem compartilhada, memória histórica de 
lutas realizadas em conjunto e um corpo 
compartilhado de mitos, lendas, épicos, músicas 
etc., e demonstra sua nacionalidade por 
antagonismo externo e defesa de seu território 
comum. 
Não é preciso muita reflexão para entender o fato 
de que, por esses critérios, ainda não existe uma 
nação africana, e nunca houve. A nação africana, 
embora falada em alguns círculos pan-africanistas, 
permanece apenas uma aspiração. As línguas são 
diversas; não existe um corpo compartilhado de 
mitos, lendas, épicos, músicas etc; e a consciência 
histórica nunca foi fomentada. 
Sem surpresa, não nos comportamos como uma 
nação. Não defendemos nosso território conjunto. Se 
já existisse uma nação africana hoje, ela teria 
manifestado sua nacionalidade ao defender 
20 
 
coletivamente as partes do território negro africano 
comum que estão sendo atacadas pelos árabes no 
último meio século, como na Mauritânia e no Sudão. 
Em particular, um exército totalmente negro-
africano teria ido defender o povo de Darfur do 
ataque árabe desde que a limpeza étnica começou lá. 
Mas o resto da África Negra deixou os mauritanos e 
os afro-sudaneses à sua sorte, como se fossem 
estrangeiros, e tal fatalidade não nos interessou. 
O teste comportamental da defesa territorial à 
parte, o contraste entre Índia, China, Arábia, por um 
lado, e a África negra, por outro, deve destacar o fato 
de que a África não é e nunca foi uma nação. A Índia 
estava politicamente unificada no século IV aC e 
compartilhava uma cultura comum há séculos, 
mesmo antes disso; A China foi politicamente 
unificada no século III aC e desde então tem 
compartilhado uma história e cultura comuns. Os 
árabes se tornaram uma nação através de Maomé 
quando finalmente, e pela primeira vez, 
compartilharam a mesma religião e liderança 
política, e depois se dispersaram, numa explosão de 
agressão imperial, da península Arábica e se 
21 
 
espalharam para ocupar as terras do Golfo Pérsico 
para o oeste até a costa atlântica de Marrocos. 
Assim, os árabes se tornaram uma nação há 14 
séculos e compartilham uma consciência histórica 
comum desde então. Por outro lado, foi apenas no 
século XX, com a conquista e colonização europeia 
de toda a África, que os negros africanos começaram 
a pensar em si mesmos como uma nação. E eles 
ainda precisam estar unidos política e 
culturalmente, sem falar na religião. 
Cada um desses países negros africanos de hoje 
não é uma nação, mas um núcleo inicial (noyau), ou 
seja, "uma coleção de indivíduos mantidos juntos 
por animosidade mútua, que não poderiam 
sobreviver se não tivessem amigos para odiar". 
Todos os países da África Negra de hoje são 
povoados por pessoas de muitas nações pré-
coloniais e são como um campo de refugiados no 
qual as populações de muitas nações genuínas 
foram reunidas à força. 
O que seria necessário para se tornar nações 
esses campos de concentração coloniais que os 
europeus construíram no final do século XIX 
22 
 
durante sua luta para conquistar a África? E o que 
seria necessário para transformar a raça africana em 
uma nação? Lições podem ser aprendidas com os 
Ashanti, os Zulus, a Índia, a China. Uma luta 
compartilhada contra nossos inimigos árabes seria 
um bom começo para uma consciência histórica 
comum. 
Mas seria muito útil tentar transformar a África 
Negra em uma nação tardiamente? Acho que não. As 
tarefas diante de nós neste século XXI podem ser 
realizadas sem que a África Negra se torne uma 
nação. Promover a união negra africana através de 
vários métodos é mais viável e desejável. Seria muito 
mais fácil transformar a SADC (Comunidade de 
Desenvolvimento da África Austral) e a CEDEAO 
(Comunidade Econômica dos Estados da África 
Ocidental) em nações, em superpotências modernas, 
do que começar a fazer o que a Índia e a China 
fizeram há três milênios por conquista. 
 
23 
 
- Segurança Coletiva 
Por Chinweizu (2009) 
 
É absolutamente surpreendente, bastante 
trágico e um grande pecado de omissão, que a 
segurança coletiva não tenha sido explicitamente o 
objetivo primordial do pan-africanismo desde 1958. 
Para um povo cujos problemas nos últimos 2500 
anos (desde a queda dos Faraós do Egito Negro para 
os persas brancos em 525 aC) resultaram de sua 
incapacidade de proteger suas fronteiras e garantir 
suas terras, populações, sociedades, culturas, 
valores, etc., alcançar a segurança coletiva deveria 
ter sido e ainda deve ser a principal preocupação. 
Além da repetida demanda de Nkrumah por um Alto 
Comando Africano; e da menção de Azikiwe, em 
1962, sobre a necessidade de alguns arranjos para a 
segurança coletiva; e a menção de Haile Selassie a 
essa necessidade em seu discurso de 1963 na 
inauguração da OUA, não encontrei nos registros 
nenhum outro tratamento que tenha relação com o 
assunto. Nkrumah, Azikiwe e Selassie realmente 
24 
 
levantaram a questão da segurança coletiva; no 
entanto, eles fizeram isso de uma forma a-histórica, 
a forma errada. 
A questão do "nunca mais" 
Considere um homem que acabou de escapar, 
meio ferido, da toca de um bando de leões famintos. 
Se ele é sábio, sua primeira ordem de negócios é 
fazer votos de “nunca mais!” e se perguntar como ele 
escapou dali em primeiro lugar, e depois tomar 
medidas para nunca mais cometer aquele erro. Se 
ele não fizer isso, se não aprender com sua 
experiência angustiante, ele é estúpido e merece se 
tornar o jantar para o próximo leão que aparecer em 
seu caminho. Ao não se perguntar e responder que 
“nunca mais”, a geração de “independência” da 
África Negra decepcionou a África Negra e nos 
desviou. 
Infelizmente, como a geração de "independência" 
não possuía a orientação sankofa ancestral, a 
questão da segurança coletiva não foi colocada na 
forma histórica correta, pois a nossa experiência 
passada permitiria apontar uma resposta para o 
futuro. 
25 
 
O Alto Comando Africano que Nkrumah incitou 
não foi suficientemente longe para resolver o 
problema fundamental. Estava limitado a "um Alto 
Comando Africano que poderia resistir... a atos que 
ameaçavam a integridade territorial e a soberania 
dos Estados africanos". [Revolutionary Path, p.345]; 
planejaria “uma guerra revolucionária e iniciaria 
uma ação” para que a África fosse libertada em 
breve. [Revolutionary Path, p.482]. Não era uma 
doutrina que colocava ou respondia à abrangente 
questão histórica de como caímos em uma história 
de escravização, conquista e colonialismoem 
primeiro lugar, e como poderíamos garantir que 
nunca mais se repetisse. 
Unidade para segurança e sobrevivência 
Desde 1958, o pan-africanismo tornou a unidade 
africana seu principal projeto. Agora, o motivo usual 
para a unificação voluntária dos estados é 
segurança e sobrevivência. No entanto, o pan-
africanismo tem sido estranhamente obtuso sobre a 
questão da segurança e sobrevivência para seu 
público. Não encontro Nkrumah, Padmore, Diop, 
Azikiwe e os demais defensores da unificação 
26 
 
continental em nenhum lugar articulando [e devo 
ser corrigido] o argumento de que o objetivo 
primordial da unificação continental é a 
sobrevivência e a segurança dos africanos. Se eles 
fizessem, pensassem bem no assunto e se 
preocupassem em educarem-se sobre a natureza das 
relações históricas afro-árabes dos últimos dois 
milênios, eles seriam simplesmente suicidas ou 
insanos por terem proposto uma unificação de 
árabes e africanos sob um Continente-Estado. 
Nem mesmo Nkrumah, para quem a unificação 
parece uma panaceia, [observe seu longo catálogo de 
benefícios que ele disse que traria], considerou 
adequado incluir segurança e sobrevivência, 
explícita ou implícita, entre suas razões para 
advogar a unificação continental. À luz das ambições 
árabes articuladas e demonstradas na África nos 
últimos 1.500 anos, qualquer unificação de negros 
africanos com os colonos árabes colonizadores na 
África seria tão suicida para os negros como uma 
unificação entre ratos e gatos seria para ratos. 
Nossa situação perigosa 
Considere esta verdadeira história do Sudão: 
27 
 
"A disputa pelo petróleo", Victoria Ajang começa, 
”tornou-se uma questão de vida ou morte para mim 
em 1983. Naquele ano, o governo iniciou seu 
programa para canalizar petróleo de nossas terras 
no sul até o norte. Os estudantes da minha cidade 
ficaram bastante chateados com o fato de nossos 
recursos serem desviados pelo governo e, portanto, 
realizaram uma marcha de protesto do lado de fora 
da escola local. Mas o governo não toleraria isso. 
"Numa noite de verão, as forças da milícia do 
governo subitamente invadiram nossa vila. 
Estávamos em casa relaxando, à noite, quando 
homens a cavalo com metralhadoras invadiram, 
atirando em todos. Vi amigos caírem mortos na 
minha frente. Enquanto meu marido cuidava de 
nossa filha Eva, eu corria com os poucos bens que 
podia carregar. Ao nosso redor, vimos crianças 
sendo [atingidas] no estômago, na perna, entre os 
olhos. Contra o céu escuro, vimos as chamas das 
casas que os soldados haviam incendiado. Os gritos 
das pessoas presas dentro das casas encheram 
nossos ouvidos enquanto queimavam até a morte. 
Nosso povo estava sendo transformado em cinzas”. 
28 
 
A história de Victoria Ajang sobre o que 
aconteceu com sua vila ilustra os perigos que eles se 
expõem a quem não toma medidas para garantir sua 
segurança. Eles estarão relaxando e se divertindo 
quando seus inimigos fizerem um ataque surpresa e 
os destruírem. Essa é a situação em que os negros 
africanos se permitem viver a 2500 anos e se 
recusam a tomar medidas para impedir isso. 
Uma pergunta não feita 
Duas perguntas vitais deveriam ter sido feitas e 
respondidas em 1958 pela Conferência de Todos os 
Povos Africanos (All-African People‘s Conference), a 
saber: (a) "Como libertaremos o restante da África 
Negra do colonialismo?". (Felizmente, isso foi 
realmente perguntado e respondido) e (b) "Como 
garantir que nunca mais seremos escravizados, 
conquistados e colonizados por alguém?" (Isso, 
infelizmente, não foi questionado e permanece sem 
questionamento e sem resposta até hoje). Em vez de 
assumir a segunda tarefa, fomos desviados para 
outras coisas. Nas próprias palavras de Nkrumah: 
“Antes de 1957, deixei claro que as duas 
principais tarefas a serem empreendidas após o fim 
29 
 
do domínio colonial em Gana seriam o processo 
vigoroso de uma política pan-africana para promover 
a Revolução Africana e, ao mesmo tempo, a adoção 
de medidas para construir o socialismo em Gana". 
[Path, p.125] 
No desejo de estabelecer uma nova ordem social 
- aparentemente sem se preocupar em como se 
protegeria de nossos inimigos - Nkrumah começou a 
construir o "socialismo científico" em Gana; Nyerere 
começou a construir o socialismo africano (Ujamaa) 
na Tanzânia; Kaunda começou a construir o 
humanismo africano na Zâmbia; Houphouet Boigny 
começou a construir o capitalismo na Costa do 
Marfim; e outros começaram a construir outros 
sistemas nos outros países, mas ninguém achou 
oportuno fazer a pergunta primordial da segurança 
coletiva africana, a saber: "Como garantir que nunca 
mais seremos escravizados, conquistados e 
colonizados por alguém?" Essa pergunta deveria ser 
formulada por qualquer nova ordem social que eles 
se propusessem a construir, mas não o fizeram. 
Qual é o resultado hoje? 
30 
 
Consequências da falta de foco histórico na 
segurança coletiva 
Vários erros muito caros resultaram dessa nossa 
falta de atenção adequada [sankofa] à nossa 
segurança coletiva. 
A] Nossa busca pela unidade africana foi 
equivocada em três aspectos: 
A1] Procuramos unir um território - todo o 
continente africano - que é grande demais para 
nossas necessidades de segurança. 
A2] Ao não descobrir quem são nossos inimigos 
históricos, incluímos nossos inimigos árabes entre 
aqueles com os quais buscamos nos unir; 
A3] Ao não entender nossos requisitos de 
segurança, falhamos em realizar seriamente a 
industrialização. 
B] Mesmo que ainda reconheçamos que eles 
foram nossos inimigos históricos durante os séculos 
do comércio de escravos e do colonialismo, falhamos 
em perceber que os europeus não deixaram de ser 
nossos inimigos com o fim do colonialismo político 
[1957-1994]. Em nossa amnésia e tolice, tratamos 
nossos inimigos europeus brancos históricos como 
31 
 
nossos melhores amigos, como nossos mentores em 
desenvolvimento e agora como nossos chamados 
"parceiros de desenvolvimento"; e tratamos nossos 
inimigos árabes históricos como nossos irmãos e 
aliados africanos e, assim, nos deixamos totalmente 
despreparados para seus ataques inimigos, por 
exemplo: 
B1] A explosão da AIDS na África Negra pela 
Organização Mundial da Saúde (OMS) e pelos EUA 
nos pegou totalmente de surpresa; 
B2] Por 50 anos, permitimos que as instituições 
imperialistas europeias - a ONU, a OMC, e 
especialmente a troika FMI - Banco Mundial - 
Acordo Geral de Tarifas e Comércio (GATT em 
inglês), e nossos “ex-colonizadores” europeus nos 
ensinassem e nos orientassem para o mau 
desenvolvimento e a pobreza crônica. 
B3] Por 50 anos, falhamos em reconhecer e 
resistir coletivamente ao expansionismo colonialista 
árabe e ao racismo contra os africanos negros, bem 
como à escravização persistente dos africanos 
negros pelos árabes. 
32 
 
Por 50 anos, por falta de um interesse explícito e 
apropriado em nossa segurança coletiva, deixamos 
de atender ao princípio estratégico fundamental: 
Conheça o seu inimigo e a si mesmo, e em cem 
batalhas você nunca será derrotado. [-Sun Tzu] 
Se tivéssemos procurado conhecer nossos 
inimigos brancos, o que teríamos aprendido com 
nossos próprios sábios que já os haviam estudado? 
Teríamos aprendido o seguinte: 
"A atitude da raça branca é subjugar, explorar e, 
se necessário, exterminar os povos mais fracos com 
quem eles entram em contato." (Marcus Garvey) 
“No relacionamento com a raça negra, os 
europeus são psicopatas.” (Bobby Wright) 
“Mulheres e homens negros, quando vocês 
deixarão de se desviarem pelo caminho que leva ao 
extermínio da raça negra?” (Azikiwe) 
Durante 50 anos, devido à nossa falta de foco em 
nossa segurança coletiva, pagamos um alto preço 
com a AIDS, não apenas os milhões que morreram 
com ela, mas também as consequências 
multigeracionais das deslocações sociais causadas 
33 
 
pelamorte de pais e o abandono de milhões de 
bebês como órfãos da AIDS. 
Por 50 anos, devido à nossa falta de foco em 
nossa segurança coletiva, também pagamos um alto 
preço pela guerra econômica travada sobre nós pelas 
potências europeias que nos colocaram em sua 
armadilha da dívida e nos empobreceram. 
Por 50 anos, devido à nossa falta de foco em 
nossa segurança coletiva, também pagamos um 
preço muito alto nos milhões de mortos ou 
escravizados pelos árabes e nas terras que eles 
apreenderam dos negros africanos. 
"Moralidade pacifista" e nossa falta de 
consciência em segurança? 
Devemos observar que não foram apenas os 
líderes que deixaram de fazer a pergunta vital sobre 
nossa segurança coletiva; toda a geração de 
"independência" parece ter falhado em fazê-la. Eles 
não suspeitavam dos mestres coloniais que haviam 
escravizado, conquistado e explorado a África Negra 
por séculos; e até agora não suspeitamos dos 
europeus e dos árabes, e é por isso que damos às 
ONGs acesso descontrolado às nossas aldeias, sem 
34 
 
monitorá-las rigorosamente para garantir que não 
subvertam nossa sociedade ou cultura. Quando um 
comportamento é desenfreado em uma sociedade, é 
útil procurar uma explicação na cultura. Eu acho 
que essa falta suicida de consciência em segurança 
está arraigada em nossa cultura. 
Cheikh Anta Diop, em sua teoria dos dois 
berços, lista a "moral pacifista" como um dos traços 
das culturas do berço do sul das quais a África 
Negra faz parte. 
Nkrumah, ao elogiar a Personalidade Africana, 
disse: “Temos presentes de riso e alegria, amor pela 
música, falta de malícia, ausência de desejo de 
vingança por nossos erros, coisas de valor intrínseco 
em um mundo doente de injustiça, vingança, medo e 
ânsia.” — [Revolutionary Path, p.114] 
Esses traços da personalidade africana não são 
uma virtude no mundo como ele é. O mundo exige 
uma "moral guerreira", não uma "moral pacifista". 
Foi Steve Biko quem observou e, corretamente, 
pensou que "não somos uma raça que suspeita". 
Alguns podem pensar que essa característica é 
uma virtude, mas não é. Pode ser uma virtude na 
35 
 
"moral pacifista", mas é um vício na "moral dos 
guerreiros". E o mundo em que vivemos exige "moral 
dos guerreiros". 
Para ilustrar a mentalidade de guerreiro que nos 
falta, aqui está uma história de Meiji Japão: 
Em um hospital japonês, o último paciente da 
noite, um menino com menos de quatro anos, é 
recebido por enfermeiros e cirurgiões com sorrisos e 
lisonjas gentis, às quais ele não responde de 
maneira alguma... Ele está com medo e com raiva - 
especialmente com raiva - por se encontrar em um 
hospital hoje à noite: alguma pessoa indiscreta 
garantiu que ele estava sendo levado ao teatro; e ele 
cantou de alegria no caminho, esquecendo a dor do 
braço; e isto não é o teatro! Existem médicos aqui - 
médicos que machucam pessoas. . . Ele deixa-se 
despir e faz o exame sem estremecer; mas quando 
lhe dizem que ele deve se deitar sobre uma mesa 
baixa, sob uma lâmpada elétrica, ele pronuncia um 
enfático "Não!"... A experiência herdada de seus 
ancestrais assegurou-lhe que deitar na presença de 
um possível inimigo não é bom; e pela mesma 
sabedoria fantasmagórica ele adivinhou que o 
36 
 
sorriso do cirurgião tinha a intenção de enganar... 
“Mas será tão agradável em cima da mesa!” Observa 
persuasivamente uma jovem enfermeira; “Veja o 
lindo tecido vermelho!” “Não!” Repete o garotinho - 
ainda mais cauteloso com esse apelo ao sentimento 
estético... Então eles colocaram as mãos sobre ele - 
dois cirurgiões e duas enfermeiras - o levantaram 
habilmente, levaram-no à mesa com o pano 
vermelho. Então ele grita seu pequeno grito de 
guerra - pois ele tem um bom estoque de luta - e, 
para o espanto geral, luta com mais coragem, apesar 
do braço quebrado. Mas eis que um pano branco 
molhado desce sobre seus olhos e boca, e ele não 
pode chorar, e há um cheiro doce e estranho em 
suas narinas, e as vozes e as luzes flutuam muito, 
muito longe, e ele está afundando, afundando, 
afundando na escuridão ondulada... Os membros 
leves relaxam; por um momento o peito se agita 
rapidamente, na última luta dos pulmões contra o 
anestésico paralisante: então todo movimento para... 
(De Lafcadio Hearn, Writings from Japan, 
editado por Francis King, Harmondsworth: Pengiun, 
1984, p. 164) 
37 
 
O povo da geração "independência" não teve a 
suspeita que foi exibida por aquele menino japonês! 
Nem a adquirimos até hoje. 
Nossa tragédia 
Por que digo que é trágico não termos tornado a 
segurança coletiva nossa principal preocupação? Se 
tivéssemos feito da segurança coletiva nossa 
preocupação primordial, isso teria nos forçado a 
responder corretamente à pergunta: unidade para 
quem? Teríamos investigado para determinar 
aqueles inimigos dos quais precisamos nos proteger; 
e isso nos obrigaria a examinar a história de nossas 
relações com os árabes e com os europeus. E, tendo 
verificado que os árabes são nossos inimigos 
mortais, não teríamos buscado a união continental 
com eles. Essa é uma maneira pela qual nossa falta 
de clareza sobre a questão de quem são nossos 
inimigos históricos nos custou caro. 
Basta considerar a longa guerra no Sudão entre 
os árabes negros que estão entrincheirados no poder 
em Cartum e os africanos negros do sul do Sudão. A 
África Negra teria se mobilizado e vencido a guerra 
há muito tempo se tivéssemos uma doutrina e um 
38 
 
órgão de segurança coletiva. Nesse caso, o genocídio 
em Darfur não teria surgido. Da mesma forma, a 
escravização dos negros africanos na Mauritânia 
pelos árabes brancos teria terminado com a 
intervenção coletiva da África Negra. Além disso, a 
atual campanha árabe para apreender um cinturão 
das fronteiras do Sahelian que se estende do Senegal 
ao Mar Vermelho teria sido verificada. O mesmo 
acontece com a ambição árabe de apreender toda a 
bacia do Nilo, até o sul de Kampala. 
Essa falta de definição de quem são nossos 
inimigos coletivos também nos impediu de estar em 
guarda contra os europeus. Muitos de nós nem 
sequer reconhecem que os europeus sejam nossos 
inimigos, apesar de terem nos escravizado, 
colonizado e explorado por muitos séculos. Como 
não estamos em guarda contra eles, permitimos que 
eles entrem e saiam sem vigilância em nossos 
países, e foi assim que eles entraram e nos infligiram 
a AIDS usando vacinas infectadas pela AIDS para 
vacinar 97 milhões de negros africanos em uma 
suposta campanha para erradicar varíola. 
Então o que fazemos agora? 
39 
 
Eliminar traços de moralidade pacifista 
Como Cabral nos ensinou, precisamos lutar 
contra nossas próprias fraquezas. Como indiquei, 
uma das nossas fraquezas é a nossa moral pacifista. 
Manifesta-se em nossa falta de suspeição, com 
nossa falta de malícia, com uma ausência do desejo 
de vingança por nossos erros, especialmente erros 
recebidos pelas mãos dos brancos. 
Diop apontou que a função mais essencial que 
uma cultura deve servir é a sobrevivência [Great 
African Thinkers, p. 244] Como vimos, a moral 
pacifista de nossa cultura tem sido pouco adaptativa 
e nos expôs a muitos perigos letais. Precisamos 
reparar nossa cultura. Precisamos desenvolver uma 
nova cultura africana que reduza a mentalidade 
pacifista e inculque uma mentalidade de guerreiro 
em todas as crianças desde os quatro anos de idade. 
Mas essa mudança pode ser efetuada? Sim, pode. 
Basta considerar o que Shaka fez, em apenas dez 
anos, com suas reformas. De fato, em apenas um 
dia assustador, ele eliminou a covardia da nação 
Zulu. Portanto, se começarmos as coisas 
corretamente, podemos mudar de uma moral 
40 
 
pacifista para uma moral guerreira, mesmo em uma 
geração. Essa é uma tarefa para o nosso sistema 
educacional. Precisamos mudar nossos métodos de 
criação dos nossos filhos e adotar algum equivalente 
funcional daeducação samurai que produziu aquele 
menino japonês de quatro anos. Então devemos 
complementar isso enfatizando as artes marciais e o 
jogo de xadrez nas escolas. Deveríamos, em seguida, 
finalizar instituindo serviço militar obrigatório para 
todas as pessoas de 18 anos. É improvável que os 
produtos desse sistema tenham uma mentalidade 
pacifista ou sejam obtusos sobre segurança coletiva. 
Pode ser útil indicar o básico de uma educação 
samurai como um modelo do que devemos 
reproduzir funcionalmente. 
Uma educação samurai 
“Mas os filhos de samurais eram severamente 
disciplinados naqueles dias: e aquele de quem 
escrevo tinha pouco tempo para sonhar. O período 
de carícias foi dolorosamente breve para ele. Mesmo 
antes de investir em seu primeiro hakama, ou calça 
- uma grande cerimônia naquela época -, ele foi 
desmamado o mais longe possível da influência 
41 
 
afetuosa e ensinado a verificar os impulsos naturais 
da afeição infantil. Pequeno camarada, perguntavam 
a ele ironicamente: 'Você ainda precisa de leite?' se o 
vissem sair com a mãe, embora ele pudesse amá-la 
em casa tão demonstrativamente quanto quisesse, 
durante as horas em que poderia passar ao lado 
dela. Estas não foram muitas. Todos os prazeres 
inativos foram severamente restringidos por sua 
disciplina; e até confortos, exceto durante doenças, 
não lhe eram permitidos. Quase a partir do 
momento em que ele pôde falar, foi ordenado a 
considerar o dever norteador da vida, o autocontrole 
como o primeiro requisito de conduta, a dor e a 
morte não importam no sentido egoísta. 
“Havia um lado mais sombrio nessa disciplina 
espartana, projetada para cultivar uma severidade 
fria para nunca ser relaxada durante a juventude, 
exceto na intimidade do lar. Os meninos foram 
habituados a paisagens de sangue. Eles foram 
levados para testemunhar execuções; esperava-se 
que não mostrassem emoções e, em seu retorno 
para casa, eram obrigados a reprimir qualquer 
sentimento secreto de horror, comendo 
42 
 
abundantemente arroz cor de sangue com uma 
mistura de suco de ameixa salgado. Coisas ainda 
mais difíceis podem ser exigidas a um garoto muito 
jovem - ir sozinho à meia-noite para o local da 
execução, por exemplo, e trazer de volta a cabeça 
como prova de coragem. Pois o medo dos mortos era 
considerado menos desprezível em um samurai do 
que o medo do homem. A criança samurai prometeu 
não temer nada. Em todos esses testes, o 
comportamento exigido era a impassibilidade 
perfeita; qualquer arrogância teria sido julgada tão 
severamente quanto qualquer sinal de covardia. 
Quando o menino cresceu, ele foi obrigado a 
encontrar seus prazeres principalmente nos 
exercícios corporais que eram os preparativos 
iniciais e constantes dos samurais para a guerra - 
tiro com arco e cavalgadas, luta livre e esgrima. 
Camaradas foram arranjados para ele; mas esses 
eram jovens mais velhos, filhos de retentores, 
escolhidos por suas capacidades de ajudá-lo na 
prática de exercícios marciais. Era dever deles 
também ensiná-lo a nadar, a manejar um barco, a 
desenvolver seus jovens músculos. Entre esse 
43 
 
treinamento físico e o estudo dos clássicos chineses, 
a maior parte de cada dia era dividida por ele. Sua 
dieta, embora ampla, nunca foi delicada; suas 
roupas, exceto em tempos de grande cerimônia, 
eram leves e grossas; e não foi permitido o uso do 
fogo apenas para se aquecer. Enquanto estudava 
nas manhãs de inverno, se suas mãos esfriassem 
demais para usar o pincel, ele receberia ordem para 
mergulhá-las na água gelada para restaurar a 
circulação; e se seus pés estivessem entorpecidos 
pelo gelo, ele seria instruído a correr na neve para 
aquecê-los. Ainda mais rígido foi seu treinamento na 
etiqueta especial da classe militar; e ele logo foi 
levado a saber que a pequena espada em seu cinto 
não era um ornamento nem um brinquedo. Foi-lhe 
mostrado como usá-la, como tirar a própria vida a 
qualquer momento, sem retroceder, sempre que o 
código de sua classe o ordenasse¹. 
*** 
¹Essa é realmente a cabeça do seu pai? um 
príncipe certa vez perguntou a um menino samurai 
com apenas sete anos de idade. A criança percebeu 
imediatamente a situação. A cabeça recém-cortada 
44 
 
colocada diante dele não era de seu pai: o daimyo 
havia sido enganado, mas era necessário mais 
engano. Assim, o rapaz, depois de saudar a cabeça 
com todos os sinais de pesar reverente, cortou de 
repente as próprias entranhas. Todas as dúvidas do 
príncipe desapareceram diante daquela prova 
sangrenta de piedade filial; o pai fora-da-lei 
conseguiu escapar; e a memória da criança ainda é 
honrada no drama e na poesia japonesa. 
*** 
“Também na questão da religião, o treinamento 
de um garoto samurai era peculiar. Ele foi educado 
para reverenciar os deuses antigos e os espíritos de 
seus ancestrais; ele foi bem educado na ética 
chinesa; a ele foi ensinado algo sobre filosofia e fé 
budista. Mas ele também foi ensinado que a 
esperança do céu e o medo do inferno eram apenas 
para os ignorantes; e que o homem superior deve ser 
influenciado em sua conduta por nada mais egoísta 
do que o amor de direito para o seu próprio bem, e o 
reconhecimento do dever como uma lei universal. 
“Gradualmente, à medida que o período da 
infância amadureceu para juventude, sua conduta 
45 
 
foi menos sujeita a supervisão. Ele ficou cada vez 
mais livre para agir segundo seu próprio julgamento, 
mas com pleno conhecimento de que um erro não 
seria esquecido; que uma ofensa grave nunca seria 
totalmente perdoada; e que uma repreensão 
merecida devia ser mais temida do que a morte. Por 
outro lado, havia poucos perigos morais contra os 
quais protegê-lo. O vício profissional foi então 
estritamente banido de muitas cidades-castelo 
provinciais; e mesmo o lado não moral da vida que 
poderia ter sido refletido no romance e no drama 
popular, um jovem samurai pouco sabia. Ele foi 
ensinado a desprezar essa literatura comum 
atraente às emoções mais suaves ou às paixões, 
como leitura essencialmente não masculina; e o 
teatro público era proibido para sua classe.² Assim, 
naquela inocente vida provinciana do Velho Japão, 
um jovem samurai poderia crescer excepcionalmente 
de mente pura e de coração simples. 
Então cresceu o jovem samurai a respeito de 
quem essas coisas foram escritas - destemido, 
cortês, abnegado, desprezando o prazer e pronto a 
46 
 
qualquer momento para dar sua vida por amor, 
lealdade ou honra.” 
*** 
²As mulheres samurais, pelo menos em algumas 
províncias, podiam ir ao teatro público. Os homens 
não podiam, sem cometer uma violação das boas 
maneiras. Mas, nos lares de samurais, ou nos 
arredores do yashiki, foram realizadas algumas 
apresentações particulares de um personagem em 
particular. Os artistas eram os personagens 
errantes. Conheço vários shizoku velhos e 
encantadores que nunca foram a um teatro público 
em suas vidas, e recusam todos os convites para 
assistir a uma apresentação. Eles ainda obedecem 
às regras de sua educação samurai. 
*** 
(Extraído de A Conservative in Lafcadio Hearn, 
Writings from Japan, 
pp.291-293) 
Se aprendermos com a educação samurai, não 
podemos permitir que nossos filhos sejam criados no 
Canal O e assim por diante. 
47 
 
Uma mudança em nosso conceito de 
segurança 
Além de incutir uma mentalidade de guerreiro 
em todos os negros africanos, precisamos mudar 
nosso conceito ainda colonial de segurança. 
A noção colonial de segurança era a segurança 
do estado colonial e das empresas do povo que veio 
explorar e oprimir. Essa foi a doutrina de segurança 
que concebeu o exército colonial como um apoio à 
polícia, ou seja, como um exército a ser usado para 
controle de distúrbios e expedições punitivas. Essa 
doutrina foi herdada pelos estados neocoloniais e 
não foi alterada. [Na Nigéria, foi aplicada pelos 
britânicospara reprimir a insurreição das mulheres 
Aba e, recentemente, por Obasanjo para acabar com 
os povos inquietos de Odi e Zaki Biam]. 
Na África neocolonial, observou-se que um 
pequeno exército, incapaz de servir como um 
instrumento eficaz da política externa, tende a "olhar 
para dentro" - a intervir na política doméstica; e que, 
em geral, as forças africanas são destacadas apenas 
contra seu próprio povo em seus próprios países. 
Além disso, como Nyerere observou em 1961, "se um 
48 
 
estado africano está armado, então, realisticamente, 
só pode estar armado contra outro estado africano". 
[Ver Opoku Agyeman, Africa‘s Persistent Vulnerable 
Link to Global politics, pp. 18, 19, 20, 23] 
Esses exércitos de segurança interna podem 
defender a África Negra contra a Liga Árabe, ou a 
Bélgica, a França ou o Reino Unido, e contra a 
OTAN? 
Aqui está a sugestão de Azikiwe em uma 
Convenção Africana sobre Segurança Coletiva. 
Isso deveria fazer provisões seguintes: “um pacto 
multilateral de defesa mútua...; um Alto Comando 
Africano...; uma doutrina de não intervenção na 
África, nas mesmas linhas da Doutrina Monroe no 
Hemisfério Ocidental. Esta doutrina deve deixar 
claro que o estabelecimento ou a existência 
continuada de qualquer território colonial no 
continente africano, por qualquer poder europeu ou 
americano, asiático ou australiano, será considerado 
não apenas um ato hostil, mas um ato de agressão 
contra o acordo dos Estados Africanos; uma 
Declaração Pan-Africana de Neutralismo “[isto é, 
desalinhamento]... —[Azikiwe, (1962) ―Future of 
49 
 
Pan-Africanism‖ in Langley ed., Ideologies, pp.321-
322] 
Precisamos adotar e desenvolver essa linha de 
pensamento. A segurança deve estar contra nossos 
inimigos externos: árabes, europeus e quem quer 
que seja; e contra as aptidões inimigas, existentes e 
potenciais. Por isso, precisaremos monitorar a 
capacidade inimiga à medida que ela mudar, para 
não nos encontrarmos preparados para nos defender 
contra armas obsoletas e nos preparando para a 
última guerra, por assim dizer. 
Além disso, nosso conceito de segurança deve 
ser ampliado muito além da segurança militar para 
incluir segurança econômica, alimentar, sanitária e 
ideológica, já que estamos sendo atacados pelos 
árabes ou europeus em todas essas áreas. De fato, 
precisamos de uma segurança coletiva de um tipo 
total - segurança contra todos os meios possíveis de 
ataque, atualmente conhecidos e potenciais, e 
contra todos os possíveis inimigos. 
 
 
 
50 
 
 
 
 
 
- Marcus Garvey e o Movimento do 
Poder Negro: legados e lições para a África 
Negra contemporânea 
Por Chinweizu (2008) 
 
Para evitar desperdiçar o tempo de alguém, 
deixe-me esclarecer com quem não estou falando, 
pois como Confúcio disse: "Não há sentido em que 
as pessoas se aconselhem juntas e sigam caminhos 
diferentes". (Analects XV: 40) 
Minha audiência consiste apenas daqueles 
negros africanos que desejam que o povo negro 
africano sobreviva. Se você é um negro africano, mas 
não se importa se o povo negro africano sobreviva ou 
não, não tenho nada a dizer ou discutir com você. 
Então, não continue lendo. Apenas vá embora. 
Mas se você deseja que o povo negro africano 
sobreviva, com dignidade, segurança e prosperidade, 
51 
 
assim como os povos branco ou amarelo desta terra, 
seja bem-vindo! Temos assuntos vitais para discutir. 
Desde que os europeus brancos começaram a 
invadir a África no século XV para escravizar os 
cativos negros; desde que árabes brancos invadiram 
o Egito em 640 dC; e, de fato, desde que os persas 
brancos conquistaram o Egito Negro em 525 aC, a 
principal questão para os negros africanos é: 
Como os negros africanos podem se organizar 
para sobreviver no mundo, com segurança e 
respeito? 
Essa questão permaneceu sem resposta por 25 
séculos. Hoje devemos enfrentá-la e respondê-la 
corretamente para as condições deste século XXI, ou 
pereceremos. 
O pan-africanismo é uma ideologia composta 
pelas ideias mais importantes vindas da raça negra 
até agora em nossa busca pela libertação do 
imperialismo e do racismo, e pela melhoria de nossa 
condição no mundo; continua a ser o veículo das 
esperanças e aspirações dos africanos negros por 
autonomia, respeito, poder e dignidade. Essa 
ideologia está embutida no pensamento de nossos 
52 
 
progenitores intelectuais, de Boukman do Haiti a 
Biko da África do Sul. Esses pensadores incluem 
gigantes como Dessalines, Blyden, Sylvester 
Williams, Casely-Hayford, DuBois, Garvey, Padmore, 
Nkrumah, C.L.R. James, Azikiwe, Malcolm X, Aime 
Cesaire, Cheikh Anta Diop, Cabral e Nyerere. 
Havia três principais vertentes do pan-
africanismo no século XX: a de DuBois, a de Garvey 
e a de Nkrumah. Cada uma dessas vertentes visava 
realizar a emancipação da África Negra da 
dominação branca, mas diferiam no que definiam 
como o público a ser emancipado e no projeto pelo 
qual essa emancipação seria perseguida. Em outras 
palavras, eles diferiram em suas respostas às duas 
perguntas principais: emancipação para quem? E de 
que maneira? 
Para DuBois [1868-1963], o grupo eram os 
negros (povos negros) da África e a diáspora negra 
nas Américas; e o projeto era abolir a linha de cores 
e integrar socialmente os negros aos brancos. 
Para Garvey [1887-1940], o foco era todos os 
povos negros do mundo, onde quer que estivessem; 
e os meios para alcançar a emancipação era a 
53 
 
construção de uma superpotência negra na África, 
uma superpotência industrial que seria 
“suficientemente forte para proteger os membros de 
nossa raça espalhados por todo o mundo e obrigar o 
respeito das nações e raças da Terra... 
Para Nkrumah [1909-1972], o campeão do 
continentalismo, o público era, como na OUA, os 
habitantes do continente africano, árabes e negros 
juntos, mas sem a diáspora negra; e o meio para 
alcançar a emancipação seria construindo o 
socialismo, integrando os estados neocoloniais do 
continente em um estado continental com um único 
governo continental. 
DuBois foi pioneiro, com limitações inevitáveis 
no trabalho de um pioneiro. Garvey deu um grande 
salto à frente de DuBois; e Nkrumah deu um grande 
salto para trás de Garvey e DuBois. Por que eu digo 
isso? DuBois acertou no público e errou no projeto; 
Garvey acertou no público e no projeto; Nkrumah 
errou no público e no projeto também. Mas esse é 
um tópico para outra ocasião. 
Minha tarefa hoje é apresentar a vocês o legado 
de Marcus Garvey. Começarei com um resumo do 
54 
 
que ele fez e depois entrarei no que nos legou e, em 
seguida, nas lições que devemos aprender com ele. 
[NOTA: todas as referências de página são para 
Amy Jacques Garvey, ed., Philosophy and Opinions 
de Marcus Garvey, Nova York: Atheneum, 1992. 
Com uma introdução por Robert A. Hill] 
O que Garvey fez 
Entre 1910 e 1914, Garvey viajou para 
investigar, em primeira mão, a condição dos negros 
nos países do Caribe e da América Central, bem 
como na Europa. Em suas próprias palavras, 
enquanto estava em Londres em 1914, depois de ter 
viajado por quase metade da Europa, Garvey 
perguntou: 
“Perguntei: ‘Onde está o governo do negro?’ 
‘Onde está o seu rei e o seu reino?’ ‘Onde está o 
presidente, o país e o embaixador, o exército, a 
marinha, os homens de grandes negócios?’ Não 
consegui encontrá-los e depois declarei: ‘Ajudarei a 
criá-los’.” [F&O,II:126] (F&O, Filosofia e opiniões, do 
Honorável Marcus Garvey) 
E ele se propôs a ajudá-los a executar a 
possibilidade do Poder Negro em um mundo 
55 
 
dominado em todo lugar pelo poder branco. Por seu 
próprio relato, dado em 1925 nos EUA, ele tinha, 
entre 1914 e 1922, “despertado a mente do negro a 
todas as possibilidades de um futuro, de um jeito ou 
de outro. Fizemos tudo o que era humanamente 
possível para despertar a consciência nos negros 
adormecidos em todo o país,nas Índias Ocidentais e 
em todo o mundo. . . ”[P. lxxvii] 
Através da organização que ele fundou, a 
Universal Negro Improvement Association (UNIA) 
[Associação Universal de Melhoria do Negro] e seus 
auxiliares, e através de negócios, convenções e 
desfiles, Garvey colocou diante dos olhos dos negros 
as possibilidades políticas, econômicas, militares, 
religiosas e sociais do Poder Negro. Encenando nas 
ruas de Harlem, Nova York, despertou a imaginação 
dos negros ao redor do mundo. O impacto da 
aparição de Garvey foi sentido em toda parte. Nas 
palavras de Adam Clayton Powell, ele havia 
despertado uma consciência racial que fazia o 
Harlem se sentir ao redor do mundo. [p. xix] 
Ele fez sua audiência imaginar coisas em que 
nunca haviam pensado, coisas em que haviam 
56 
 
sofrido lavagem cerebral para considerar impossível 
os negros fazerem. É claro que ele não construiu o 
Poder Negro, mas, ao colocar no palco os símbolos 
de um Império Negro, ele desencadeou um sonho e 
motivou a próxima geração de negros a atualizá-lo. 
O garveyismo inspirou Zik na Nigéria, Nkrumah 
em Gana [pp.xxxviii-xlv]. Seu trabalho foi 
acompanhado e lido no Quênia, Gana, Namíbia, 
África do Sul. Isso influenciou Harry Thuku, um dos 
primeiros nacionalistas no Quênia, alguns na ANC 
na África do Sul, e os mais velhos de Sam Nujoma 
na Namíbia pertenciam às filiais da UNIA na 
Namíbia. A Nação do Islã de Elijah Muhammad foi 
fortemente influenciada por Garvey, e Malcolm X era 
filho de garveyistas. Tais homens e seus seguidores, 
nas gerações seguintes a Garvey, tornaram-se 
discípulos e atualizadores do sonho proposto por 
Garvey. 
O poder branco, é claro, via perigo para si 
próprio nas ações de Garvey, e tentava astutamente 
matar o sonho desacreditando Garvey. Mas era tarde 
demais. O sonho já estava implantado nas mentes 
dos negros de todo o mundo. Prender Garvey depois 
57 
 
que seu show foi realizado foi como fechar a porta do 
estábulo depois que o cavalo disparou. 
Enquanto Garvey apenas dramatizava o Poder 
Negro, Dessalines o havia realizado no Haiti um 
século antes. O poder branco rapidamente destruiu 
o exemplo haitiano e tentou erradicar toda a 
memória dele. O Haiti precisou fracassar, para que o 
poder branco fosse mais seguro, sustentando a 
mentira de que os negros não podem se governar. 
Pela mesma razão, a egiptologia anexou o Egito 
Negro dos Faraós à civilização branca. O exemplo 
inspirador de Garvey foi desacreditado. Da mesma 
forma, o potencial inspirador do programa de 
Industrialização de Nkrumah, contido no Plano de 
Desenvolvimento de Sete Anos que ele lançou em 
1964 - e simbolizado pelo Projeto Rio Volta, com seu 
complexo de usinas hidrelétricas e barragem 
Akosombo e a fundição de alumínio em Tema – 
também teve de ser desacreditado. 
O legado de Garvey 
Vou descrever três aspectos do legado de Garvey, 
as coisas que ele deixou para nós: 
58 
 
(I) o exemplo de sua prática como construtor de 
instituições; 
(II) suas ideias profundas; 
(III) os projetos que ele definiu para seus 
sucessores implementarem. 
I: Sua prática como construtor de 
instituições: 
Garvey foi um construtor inovador de uma nação 
futurista que nos incentivou a criar nosso próprio 
futuro. Como ele disse: “Temos uma história bonita 
e criaremos outra no futuro que surpreenderá o 
mundo.” [I, 7] 
Seu trabalho foi fundado em uma análise não 
sentimental de nossas realidades históricas globais. 
Ele prospectou problemas que seriam 
emboscados para nós no futuro e criou soluções 
para evitá-los: por exemplo, o problema do 
extermínio da raça negra pela raça branca. 
Ele era um empresário versátil, um construtor 
de instituições. Aqui estão alguns delas: 
- Instituições políticas: A UNIA, com suas mil 
(992) filiais e vários milhões de membros em todo o 
59 
 
mundo, e suas Convenções Internacionais Anuais 
dos Povos Negros do Mundo; 
- Instituições comerciais: Black Star Line; 
Editora Universal; Negro Fábricas Corporation; o 
jornal Mundo Negro; o projeto de plantação de 
borracha na Libéria (que o governo liberiano 
entregou à Firestone); 
- Instituições sociais: Enfermeiras da Cruz 
Negra; A Igreja Ortodoxa Africana; Os juvenis; 
honras de pares e cavaleiros [II, 313]; 
- Instituições paramilitares: Guarda Africana 
Real [II 97]; Corpo de Motor Africano; A Legião 
Africana Universal; 
- Projeto de colonização: O projeto de “retorno à 
África” que procurou construir quatro 
assentamentos na Libéria, começando com uma 
cidade no rio Cavalla, a um custo projetado de US $ 
2 milhões [II, 380, 390] 
- Instituições de ensino: Escola de Filosofia 
Africana, Toronto, 1937 
II: Suas ideias: 
As grandes ideias de Garvey incluíram: 
60 
 
1- Princípio de Raça Primeiro - Acreditamos na 
autoridade suprema de nossa raça em todas as 
coisas raciais. ”[II, 137]: Você pode fazer nada menos 
do que ser primeiramente e sempre um negro, e 
então tudo o mais se ajeitará. ”[Fundamentalismo 
africano] 
2- Privacidade e autonomia racial - Exigimos o 
controle completo de nossas instituições sociais sem 
interferência de qualquer raça ou raças estrangeiras. 
”[II, 140] 
“Se moramos em nosso próprio distrito, 
dominaremos e governemos esses distritos. Se 
tivermos maioria em nossas comunidades, vamos 
administrá-las. Formamos a maioria na África e 
devemos naturalmente nos governar lá. ”[II, 122]; 
3- Autonomia intelectual - “Temos direito a 
nossas próprias opiniões e não somos obrigados ou 
vinculados pelas opiniões de outros.” 
[Fundamentalismo africano] 
4- Autossuficiência - “A UNIA ensina à nossa 
raça a autoajuda e autoconfiança ... em todas as 
coisas que contribuem para a felicidade e o bem-
estar humano.” [II, 23] 
61 
 
“Confio que você só viverá hoje quando perceber 
que é dono de seu próprio destino, dono de sua 
própria sorte; se há algo que você deseja neste 
mundo, é para você atacar com confiança e fé em si 
mesmo que ira alcançá-la. ”[I, 91]; 
"Uma raça que depende exclusivamente de outra 
para sua existência econômica, cedo ou tarde 
morrerá". [I, 48] 
5- Construção de uma nação - O negro precisa 
de uma nação e um país próprio, onde possa 
mostrar melhor sua própria habilidade na arte do 
progresso humano. ”[II, 23] 
“O . . . plano da UNIA [é] o de criar na África 
uma nação e um governo para a raça negra. ”[II, 40] 
6- Empreendedorismo - Por que a África não 
deveria dar ao mundo seu Rockefeller preto, 
Rothschild e Henry Ford? Agora é a oportunidade. 
Agora é a chance de todo negro se esforçar para 
alcançar um padrão comercial e industrial que nos 
torne comparáveis aos homens de negócios bem-
sucedidos de outras raças. ”[II, 68] 
“Ir trabalhar! Vá trabalhar na manhã de uma 
nova criação... até que você tenha... alcançado o 
62 
 
auge do auto progresso e, a partir desse pináculo, 
conceda ao mundo uma civilização própria...” [II, 
103] 
7- Industrialização - a raça só pode ser salva 
através de uma base industrial sólida. ”[I, 8] 10 
“Estar satisfeito em beber o resto do progresso 
humano não demonstrará nossa aptidão como povo 
para existir ao lado de outros, mas quando, por 
nossa própria iniciativa, lutarmos para construir 
indústrias, governos e, finalmente, impérios, então e 
somente então, enquanto raça, provaremos ao nosso 
criador e ao homem em geral que estamos aptos a 
sobreviver e capazes de moldar nosso próprio 
destino. ”[I, 8] 
*** 
Garvey baseou seu trabalho em uma análise 
profunda das realidades históricas globais, conforme 
ilustrado pelas seguintes doutrinas sobre (A) as 
características do mundo e (B) as particularidades 
do negro: 
(A) Características mundiais: 
1) Os caminhos da raça branca - A atitude da 
raça branca é subjugar, explorar e, se necessário, 
63 
 
exterminar os povos mais fracos com quem eles 
entram em contato. Eles subjugam primeiro, se os 
povos mais fracos se defenderem;depois explora, e 
se não for suficiente a SUBJUGAÇÃO nem a 
EXPLORAÇÃO, o outro recurso é o EXTERMINIO. ”[I, 
13] 
2) Propaganda— “Entre alguns dos métodos 
organizados usados para controlar o mundo está a 
conhecida e chamada PROPAGANDA. A propaganda 
fez mais para derrotar as boas intenções de raças e 
nações do que até a guerra aberta. A propaganda é 
um método ou meio usado pelos povos organizados 
para converter outros povos contra a sua vontade. 
Nós da raça negra estamos sofrendo mais do que 
qualquer outra raça do mundo com propaganda - 
propaganda para destruir nossas esperanças, 
nossas ambições e nossa confiança em nós mesmos. 
”[I, 15] 
3) Força – “Os poderes opostos ao progresso dos 
negros não serão influenciados por meros protestos 
verbais da nossa parte. É claro que a pressão pode 
se afirmar de outras formas, mas, em última análise, 
qualquer influência exercida contra os poderes 
64 
 
opostos ao progresso negro deve conter o elemento 
FORÇA para cumprir seu objetivo, pois é evidente 
que esse é o único elemento que eles reconhecem. 
”[I, 16] 
“Mencionei a vocês que o armamento mais forte 
é a organização, e não grandes armas e bombas. 
Mais tarde, podemos ter que usar algumas dessas 
coisas, pois parece que alguns povos não conseguem 
ouvir uma voz humana a menos que algo esteja 
explodindo nas suas proximidades. Algumas pessoas 
dormem muito profundamente quando se trata de 
direitos humanos, e você precisa tocá-las com algo 
mais do que nossa voz humana comum. ”[II, 112] 
4) Conheça o seu inimigo - "Enxergar o seu 
inimigo e conhecê-lo é parte da educação completa 
do homem" [I, 17] 
5) Preconceito – “O preconceito pode ser 
influenciado por diferentes razões. Às vezes, o 
motivo é econômico e, às vezes, político. Você só 
pode obstruí-lo com progresso e força. ”[I, 18] 
“Enquanto os negros ocuparem uma posição 
inferior entre as raças e nações do mundo, por mais 
tempo os outros serão preconceituosos contra eles, 
65 
 
porque será proveitoso para os outros manterem o 
sistema de superioridade. Mas quando o negro, por 
sua própria iniciativa, se elevar de seu estado 
inferior ao mais alto padrão humano, ele estará em 
posição de parar de implorar e orar, e assim exigir 
seu lugar que nenhum indivíduo, raça ou nação será 
capaz de negá-lo.” [I, 26] 
6) Defesa - raças e povos são salvaguardados 
apenas quando são fortes o suficiente para se 
protegerem. ”[II, 107] 
7) Poder - A única proteção contra a INJUSTIÇA 
do homem é o PODER físico, financeiro e científico. 
”[I, 5] 
“O poder é o único argumento que satisfaz o 
homem. [...] O homem não é satisfeito ou movido por 
orações ou petições, mas todo homem é movido por 
esse poder de autoridade que o obriga a fazer mesmo 
contra sua vontade. ”[I, 21, 22] 
(B) Fraquezas da raça negra: 
1) Uma falta geral - A raça precisa de homens 
de visão e habilidade. Homens de caráter e acima de 
tudo homens de honestidade, e isso é tão difícil de 
encontrar. ”[I, 49] 
66 
 
2) Traidores no topo - O traidor de outras raças 
geralmente se limita ao indivíduo medíocre ou 
irresponsável, mas, infelizmente, os traidores da 
raça negra geralmente são encontrados entre os 
homens de alto nível educacional e na alta 
sociedade, os companheiros que se chamam de 
líderes. ”[I, 29] 
3) Falta de respeito pela autoridade interna - 
O negro na civilização ocidental... tem pouco ou 
nenhum respeito pela autoridade racial interna. Não 
se pode confiar nele para executar uma ordem dada 
por um superior de sua própria raça... Essa falta de 
obediência às ordens e à disciplina impede o 
progresso real e valioso da raça. ”[II, 292] 
4) Os intelectuais - É impressionante quão 
desleal e egoísta é o intelectual negro médio, da 
geração que está passando, para a sua raça. [Ele] é a 
maior fraude e obstáculo ao progresso real da raça. 
Ele foi educado com a psicologia e perspectiva 
erradas... [e] misturar-se com os brancos é a sua 
maior ambição. ”[II, 286] 
67 
 
5) Os políticos negros - Os imprudentes e 
egoístas políticos negros venderam a raça de volta à 
escravidão. ”[II, 103] 
6) Os negros ricos - Os ricos são egoístas e 
tolos, e seu principal objetivo na vida é imitar os 
brancos e, o mais rápido possível, buscar sua 
companhia com a esperança de absorção social 
transpondo a linha racial. ”[II, 88] 
7) Deslealdade entre os negros bem-sucedidos 
- Nos últimos 50 anos, foram perdidos bilhões de 
dólares pela raça negra devido à deslealdade dos 
negros bem-sucedidos, que preferiram doar suas 
fortunas a membros de outras raças, do que legá-las 
para instituições e movimentos próprios dignos para 
ajudar seu próprio povo. ”[II, 92] 
Essas ideias sobre as realidades forneceram a 
base para as prescrições de Garvey visando 
solucionar os problemas da raça negra. 
A África de Garvey: 
É importante tomar nota do lugar da África nas 
ideias de Garvey. Alguns têm deturpado a ideia de 
África de Garvey, sequestrando-o para apoiar os 
Estados Unidos da África de Kadhafi. Por exemplo, o 
68 
 
professor Molefi Asante declarou [em um e-mail de 
31 de março de 2007]: "Apoio os Estados Unidos da 
África como a visão de Nkrumah e Garvey antes 
dele". 
Vou mostrar que o professor Asante está errado. 
O de Garvey era um pan-africanismo da raça 
negra, um pan-negrismo ao qual ele era 
inequivocamente dedicado. Desafio qualquer pessoa 
a reproduzir qualquer passagem onde ele possa ser 
corretamente interpretado como falando pelos 
negros e pelos invasores / colonos árabes brancos 
escravizadores dos negros na África. Aqui estão 
alguns exemplos das referências de Garvey 
descrevendo o que ele queria fazer na África. 
II, 37: Estabelecer uma nação na África para os 
negros 
II, 39: Uma nação africana para negros 
II, 40: Criando na África uma nação e um 
governo para os negros 
II, 48: Restauração da África para os povos 
negros do mundo 
II, 49: Pátria nacional dos negros na África 
69 
 
II, 81: Promoção de uma nação negra forte e 
poderosa na África 
II, 230: Dar ao negro um país próprio na África 
II, 253: Para fundar e desenvolver uma nação 
para a raça na África 
Eu afirmo que nada disso pode ser interpretado 
corretamente como referência à construção na África 
de uma união continental de árabes e negros, com 
um governo da união continental. Para Garvey, a 
África era a terra natal dos negros, um lugar para os 
negros fazerem grandes coisas por si mesmos. 
A ideia de Garvey sobre o negro - quem ele 
incluiu entre os negros: 
“Eu sou negro. Não peço desculpas por ser 
negro. ”[I, 212] 
“Nós [da UNIA] estamos determinados a unir os 
400.000.000 de negros do mundo com o objetivo de 
construir uma civilização própria. E nesse esforço, 
desejamos reunir os 15.000.000 dos Estados 
Unidos, os 180.000.000 na Ásia, as Índias 
Ocidentais e as Américas Central e do Sul e os 
200.000.000 na África. Estamos buscando a 
70 
 
liberdade política no continente africano, a terra de 
nossos pais.” [II, 95] 
“Quando falamos de 400.000.000 de negros, 
pretendemos incluir vários milhões da Índia, 
descendentes diretos daquele antigo estoque africano 
que uma vez invadiu a Ásia. ”[II, 82] 
Nenhuma menção na palavra árabe, seja na 
África ou na Ásia! Garvey estava preocupado 
exclusivamente com os negros e o que eles deveriam 
fazer na África; nunca com os árabes e os negros 
fazendo alguma coisa juntos, muito menos se 
unindo sob um governo continental. 
III: Os principais projetos de Garvey: 
Garvey teve dois projetos primordiais: 
1] Ajudar a criar governos, presidentes, 
embaixadores, exércitos, marinhas, etc. 
2] O projeto de uma superpotência negra na 
África 
Na década de 1920, Garvey, depois de 
diagnosticar a perspectiva global dos negros, 
prescreveu o remédio para seus problemas quando 
disse: 
71 
 
“Os povos negros do mundo devem se concentrar 
no objetivo de construirpara si uma grande nação 
na África... [de] criar para nós mesmos um 
superestado político... um governo, uma nação 
própria, forte o suficiente para proteger os membros 
de nossa raça espalhados por todo o mundo e 
obrigar o respeito das nações e raças da terra...” 
[P&O, I: 68; II: 16; I: 52] 
Enquanto o primeiro projeto de criação de 
governos negros foi alcançado em todo o mundo na 
segunda metade do século XX, começando com a 
Gana de Nkrumah em 1957 e concluindo com a 
África do Sul de Mandela em 1994, o segundo nem 
sequer foi tentado. 
*** 
O desafio do exemplo de Garvey: 
Tendo vislumbrado o que Garvey fez há um 
século, o que seu exemplo nos desafia a fazer neste 
século. Quais lições devemos aprender com o 
exemplo dele? 
Considere a variedade de tirar o fôlego dos 
projetos de Garvey: A UNIA, com cerca de mil filiais e 
milhões de membros em todo o mundo; negócios que 
72 
 
variavam de uma empresa a vapor, a restaurantes e 
lavanderias; projetos de colonização para construir 
cidades na Libéria; um projeto maciço de plantação 
de borracha na Libéria; grandes convenções anuais 
de um mês; uma denominação da igreja; 
equipamentos paramilitares; etc. Tudo em um 
espaço de dez breves anos! 
Garvey tentou fazer tudo de uma vez, e é por isso 
que ele é Garvey, o Grande. E de longe o maior líder 
dos negros no século XX. 
Eu afirmo que o desafio para os negros africanos 
no século XXI é desenvolver o legado de Garvey 
seguindo seu exemplo, abraçando suas ideias e 
implementando seu projeto de uma superpotência 
negra na África. 
Nós, pessoas comuns, devemos fazer a parcela 
que pudermos desse todo; mas devemos formar um 
movimento que garanta que todas as dimensões do 
projeto de construção de uma nação/ elevação da 
raça, que ele foi pioneiro, sejam realizadas. 
Afirmo que o que é necessário para o século XXI 
é um novo pan-africanismo com duas características 
fundamentais inspiradas no legado de Garvey: 
73 
 
[a] um pan-africanismo que possa curar a África 
Negra da fraqueza e impotência que tornaram 
possível a escravidão, o colonialismo e o racismo; 
uma impotência que hoje nos expôs ao extermínio - 
como através da explosão da AIDS e outras armas 
biológicas de destruição em massa que visam 
apenas pessoas de pele negra; e destruindo nossa 
segurança e autonomia alimentar, obrigando-nos a 
usar sementes GM (geneticamente modificadas); e 
através das políticas de empobrecimento impostas 
pelo regime do FMI-Banco Mundial da OMC. 
[b] um pan-africanismo que aborde os problemas 
cotidianos das massas negras africanas, em casa e 
no exterior. 
Eu afirmo que não precisamos de nenhum tipo 
de pan-africanismo que não possua essas duas 
características, pois não ajudaria os negros 
africanos a recuperar sua dignidade ou a sobreviver 
fisicamente. 
Lições de Garvey para o novo pan-
africanismo: 
Ao construir um novo pan-africanismo orientado 
para as massas, moldado pelo projeto de 
74 
 
superpotência negra de Garvey, faríamos bem em 
aplicar as seguintes lições do arsenal de métodos e 
ideias de Garvey. 
1) Devemos estudar minuciosamente o mundo e 
proceder a ação a partir de uma análise 
fundamental e abrangente de nossas realidades 
históricas globais. 
2) Deveríamos acabar com o hábito ancestral de 
não discernir quando o perigo se aproxima; e criar o 
hábito de prospectar perigos e problemas futuros e 
fornecer soluções bem antes de sua chegada às 
nossas portas. 
3) Deveríamos insistir em um público monoracial 
pan-negro. 
4) Devemos insistir, em todas as coisas, na 
consciência racial, na autoconfiança racial e na 
autonomia racial. 
5) Devemos assumir total responsabilidade por 
nossa sobrevivência, hoje, amanhã e no futuro mais 
distante - Garvey estava preocupado com nossa 
situação 500 anos no futuro. 
A mãe de todos os problemas na África Negra: 
a falta de um forte estado central: 
75 
 
Antes de prosseguir com o esboço do 
aprimoramento do pan-negrismo de Garvey no 
século XXI, deixe-me começar considerando os 
principais problemas que o garveyismo se propôs a 
resolver, problemas que ainda estão muito 
presentes. 
Em 1922, Garvey articulou corretamente o que 
chamou de "Solução verdadeira para o problema dos 
negros" quando disse: 
“Estamos determinados a resolver nosso próprio 
problema, resgatando nossa Pátria África das mãos 
de exploradores estrangeiros e fundando lá um 
governo, uma nação nossa, forte o suficiente para 
dar proteção aos membros de nossa raça espalhados 
por todo o mundo e obrigar o respeito das nações e 
raças da terra. ”[P&O, I 52] 
Essa é uma declaração sucinta da solução para 
o problema fundamental que tem atormentado a 
África Negra desde que o Egito Negro dos Faraós foi 
conquistado por invasores brancos, há 2.500 anos! 
É a solução de todos os problemas da África Negra, 
que não tem um estado central forte. Mas essa 
solução, embora tão claramente articulada, foi 
76 
 
ignorada nos últimos 50 anos, durante os quais 
poderia e deveria ter sido implementada. Em 
algumas outras elaborações de sua solução, Garvey 
falou da necessidade de criar "para nós um 
superestado político" [II, 16] 
Para quais problemas do negro esse 
superestado, esse forte estado central, seria a 
solução? Esses eram os problemas de (a) 
sofrimentos e humilhações dos negros e (b) 
perspectiva de seu extermínio pela raça branca. 
Garvey os resumiu: 
(a) Sobre o primeiro problema, Garvey disse: 
“Eles lincham ingleses, franceses, alemães ou 
japoneses? Não. E por quê? Porque essas pessoas 
são representadas por grandes governos, nações e 
impérios poderosos, fortemente organizados. Sim, e 
sempre prontos para derramar a última gota de 
sangue e gastar o último centavo no tesouro 
nacional para proteger a honra e a integridade de 
um cidadão lesado em qualquer lugar. ”[I, 52] 
Algumas de nossas pessoas podem pensar que o 
problema do linchamento de um século atrás 
acabou. Não! Apenas lembre-se de Jena! Ainda 
77 
 
existem muitos casos de negros sendo mortos com 
impunidade pela polícia em todas as partes do 
mundo, de negros sendo economicamente linchados 
pelo perfil racial e outras ilegalidades; de 
linchamento judicial, no qual os negros são 
desproporcionalmente presos por delitos cometidos 
por negros e brancos. Em todo o mundo, vidas 
negras ainda são consideradas sem valor. Os negros 
ainda são vítimas em todo o mundo. Eles continuam 
sendo um povo marcado para a destruição. 
(b) Sobre o segundo problema, Garvey disse: 
 “O negro está morrendo... Só há uma coisa para 
salvar o negro, e isso é uma realização imediata de 
suas próprias responsabilidades. Infelizmente, 
somos o povo mais descuidado e indiferente do 
mundo! Somos indiferentes e irresponsáveis... É 
estranho ouvir um líder negro falar nessa tensão, 
pois o curso usual é a lisonja, mas eu não lisonjearei 
vocês para salvar minha própria vida e a de minha 
própria família. Não há valor na bajulação... Devo 
lisonjear vocês enquanto vejo todos os outros povos 
se preparando para a luta de sobrevivência, e vocês 
ainda sorrindo, comendo, dançando, bebendo e 
78 
 
dormindo no seu tempo, como se ontem fosse o 
começo da era do prazer? Eu preferiria estar morto a 
ser um membro de sua raça sem pensar no dia 
seguinte, pois pressagia o mal para quem não pensa. 
Como não posso lisonjear vocês, estou aqui para 
dizer enfaticamente que, se não nos reorganizarmos 
seriamente como povo e enfrentarmos o mundo com 
um programa de nacionalismo [negro] africano, 
nossos dias na civilização estão contados, e será 
apenas uma questão de tempo em que o negro 
estará tão completo e complacentemente morto 
quanto o índio norte-americano ou o bosquímano 
australiano.” [F&O, II: 101-102]... 
 “Se nos sentarmos supinamente e permitirmos 
que a grande raça branca se eleve em número e 
poder, isso significará que em outros quinhentos

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