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Instrumentalização Científica Instrumentalização Científica Organizado por Universidade Luterana do Brasil Universidade Luterana do Brasil – ULBRA Canoas, RS 2017 Prof. Dr. Laíno Alberto Schneider Prof. Ms. Cosme Luiz Chinazzo Juliana Vargas Patrícia Noll de Mattos Alexandre Cruz Berg Prof. Ms. Alexandre Moroni Márcia Castiglio da Silveira Conselho Editorial EAD Andréa de Azevedo Eick Ângela da Rocha Rolla Astomiro Romais Claudiane Ramos Furtado Dóris Gedrat Honor de Almeida Neto Maria Cleidia Klein Oliveira Maria Lizete Schneider Luiz Carlos Specht Filho Vinicius Martins Flores Obra organizada pela Universidade Luterana do Brasil. Informamos que é de inteira responsabilidade dos autores a emissão de conceitos. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem prévia autorização da ULBRA. A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na Lei nº 9.610/98 e punido pelo Artigo 184 do Código Penal. Dados técnicos do livro Diagramação: Jonatan Souza Revisão: Geórgia Píppi É com muita satisfação que estamos apresentando a você um livro com-posto por dez capítulos. Fazemos um convite para refletirmos sobre o papel da ciência e da Universidade na vida pessoal e profissional. Primeiramente, é fundamental que se tenha claro o que se entende por Instrumentalização Científica. Nesse sentido surgem as questões: O que significa instrumentalizar? O que é e caracteriza a postura científica? No decorrer dos capítulos aprofundaremos essas questões. Para início de compreensão: é característico da instrumentalização o aparelhamento que confere ao sujeito a base de melhorar a sua relação com o entorno. As- sim, como a instrumentalização providencia o que se faz necessário para a compreensão do processo. Dessa forma, se quero escrever um artigo, preciso reunir as condições que tornem tal situação possível. Se por um lado a instrumentalização confere o domínio das técnicas e habilidades, o aspecto científico é identificado a partir do momento em que se apresenta, segue um protocolo de fundamentações e comprovações. Portanto, é da especificidade da Instrumentalização Científica, auxiliar no aprimoramento e na equiparação do pesquisador conferindo potencialida- de na feitura de apresentação de um estudo com qualidade. Para a construção do livro de Instrumentalização Científica, uma equi- pe de professores organizou o livro em dez capítulos. O primeiro contem- plará o papel da Universidade no fazer ciência. Será que a ciência faz ou procura fazer o que a sociedade de hoje precisa? No capítulo dois, a parada obrigatória é no debate sobre o conhecimento científico. O que é conhecimento, o que é ciência e como o conhecimento científico auxilia na elaboração dos seus postulados? Apresentação Apresentação v A partir do debate sobre o conhecimento científico entra na conversa o próximo capítulo sobre os fundamentos da pesquisa científica. O que é um fundamento e como ele se relaciona com a pesquisa científica? Será que a pesquisa científica é definitiva? Essas são questões que serão objeto do capítulo três. No capítulo seguinte, iremos notar que existem vários tipos de pesquisa e para cada uma delas se faz necessário um olhar e postura diferentes no processo de aprendizagem e estudos. Com a compreensão do que sejam os tipos de pesquisa, abrimos a possibilidade para no capítulo cinco nos depararmos com a temática da metodologia da pesquisa, ou seja, que caminhos estamos seguindo ou precisamos adotar para se chegar ao ob- jetivo. Com o entendimento de se alcançar um denominador comum, es- tamos diante de um capítulo que vai nos dar os pontos básicos para trilhar o caminho que é o projeto de pesquisa. Como organizar e planejar o que se quer fazer. Esse será o objeto básico nesse capítulo, pois o projeto visa exatamente isso. Já no sétimo capítulo, o objeto de discussão será a temática da pesqui- sa online. Vive-se hoje um espaço de grande influência das mídias sociais e saber valer-se delas será o ponto básico do capítulo. As fontes são confi- áveis, a questão da credibilidade será o ponto central do capítulo. O que significa e representa ser ético? Como é ser ético na pesquisa? são algumas das questões de estudo nesse capítulo. Usar fonte de outra autoria sem citá-la é ser ético? No fechamento do livro a atenção estará voltada ao capítulo sobre a comunicação na pesquisa, ou seja, a partir do momento em que se pes- quisa, se constrói o conhecimento e a aprendizagem de como comunicar o resultado desse momento para os outros. Eis a discussão do capítulo. Com a provocação de Rubem Alves, na obra “Entre a ciência e a sapi- ência”, concluo a apresentação da presente obra Pensa-se, comumente, que a tarefa de um político é administrar o país: pôr a casa em ordem, construir coisas novas, conser- vi Apresentação tar coisas velhas, cuidar das finanças, da saúde, da seguran- ça, da justiça, dos meios de comunicação, incluída, inclusive, a administração dos meios de escolarização existentes, coisa sob a responsabilidade do ministério da educação. Discordo. Existe uma diferença qualitativa entre aquilo que fazem os ministérios administrativos e aquilo que o ministério da educação deve fazer. A diferença entre eles é simples. Os ministérios administrativos cuidam do hardware do país. Eles lidam com a ‘musculatura’ nacional. O ministério da educação tem a seu cuidado o sof- tware do país. Ele cuida da ‘inteligência’ nacional. Seu objetivo é fazer o povo pensar. Porque um país – ao contrário do que me ensinaram na escola – não se faz com as coisas físicas que se encontram em seu território, mas com os pensamentos de seu povo (ALVES, 2001, p. 24)1. Como estamos fazendo e produzindo ciência na Universidade? Será que os processos adotados contemplam uma formação de qualidade e ética? Vamos conversar sobre essa relação no decorrer dos capítulos do livro e do desenvolvimento da disciplina. Você está sendo convidado e convoca- do para esse diálogo. Espero e desejo que seja proveitoso e auxilie no seu desenvolvimento de competências e habilidade. Prof. Dr. Laíno Alberto Schneider ALVES, Rubem. Entre a ciência e a sapiência.: o dilema da educação. 6. ed. São Paulo: Loyola, 2001. 1 O Papel da Universidade no Fazer Ciência ............................1 2 Conhecimento Científico .....................................................23 3 Fundamentos da Pesquisa Científica....................................45 4 Tipos de Pesquisa ...............................................................64 5 Metodologia da Pesquisa ....................................................83 6 Projeto de Pesquisa ...........................................................104 7 Pesquisa Online ................................................................123 8 Credibilidade das Fontes...................................................138 9 Ética na Pesquisa ..............................................................154 10 Comunicação na Pesquisa ................................................173 Sumário Prof. Dr. Laíno Alberto Schneider1 Capítulo 1 O Papel da Universidade no Fazer Ciência1 1 Formação acadêmica em filosofia e antropologia. Formado em filosofia pela FAFIMC, em 1987. Pós-graduado em 1991, como mestre em Antropologia Filosófica pela PUCRS. Doutor em Filosofia pela UPS (Salamanca - Espanha), 2000, e o reconhecimen- to pela UFRGS, em 2006, como Doutor em Antropologia Social. Educador e pesqui- sador da ULBRA desde 1991. Coordenador geral da Educação a Distância da Ulbra nos anos de 2009 e 2010. Coordenador no ano de 2011 no Programa Permanente de Acessibilidade da ULBRA. Membro do CEP da ULBRA. Membro titular do CONSUN. Coordenador Institucional do PPA da Instituição. Membro da Comissão da ABED. 2 Instrumentalização Científica Introdução A universidade é o espaço e a instituição onde a sociedade, como um todo, pode e deveria ter o seu laboratório de apren- dizagem, poisé nela que as fronteiras do pensar precisam es- tar abertas e que se aprenda a discutir ideias e não pessoas. Como são as ideias que movem as pessoas, é fundamental que as universidades tenham claro que nela não pode existir espaço para doutrinamentos e, sim, que tenhamos espaços para revisar e refletir o tipo de sociedade e ciência que que- remos. Você está sendo convidado e provocado para pensarmos e refletirmos sobre o papel da universidade no fazer ciência que queremos e precisamos. Para trilharmos esse caminho, come- çaremos o percurso discutindo a produção e a gestão de co- nhecimento. Será que o conhecimento que se produz e o que se precisa e mais, na produção desse conhecimento: como e quem fará gestão? Queremos uma gestão participativa e, se sim, como será feita. Logo em seguida vamos parar para analisarmos o sentido da construção crítica do conhecimento. Para que serve o conhecimento e como ele será utilizado no espaço profissional, pessoal e social? Será que o que estamos aprendendo ou discutindo é o que deveria ser trabalhado? A partir da análise crítica sobre o conhecimento, vamos refletir sobre a ciência diante da perspectiva da universidade. Afinal, qual é e qual deveria ser o papel da universidade diante a ciência? Buscando pensar sobre essa realidade passaremos a verificar como, em função do que pode e deveria ser de- senvolvido na universidade, ela pode ser o grande agente de Capítulo 1 O Papel da Universidade no Fazer Ciência 3 transformação da sociedade. Nesse sentido, que papel a uni- versidade deve ocupar? São essas questões que irão nos orientar no decorrer do desenvolvimento do capítulo. Vamos refletir e pensar como a universidade pode e deve participar do processo da discussão sobre a ciência. Que tenhamos bons motivos para avançar nas ideias. Que a jornada seja produtiva! 1.1 A produção e gestão do Conhecimento Uma das tarefas que a universidade se impõe é a de produzir conhecimento a partir das informações existentes. Para sobreviver, as universidades têm de estar ao serviço destas duas idéias mestras - sociedade de informação e economia baseada no conhecimento - e para isso têm de ser elas próprias transformadas por dentro, por via das tecnologias da informação e da comunicação e dos novos tipos de gestão e de relação entre trabalhadores de conhecimento e entre estes e os utilizadores ou consu- midores. (SANTOS, 2005, p. 28-9) É no espaço universitário que nos deparamos com uma diversidade de experiências que cada um apresenta e traz. Tra- balhar nesse gerenciamento é algo complexo e que exige das instituições habilidades e competências para administrar tais situações. 4 Instrumentalização Científica As informações são os pontos de partida para que seja possível administrar essas experiências e transformá-las em algo capaz de ser sustentado. Como existe uma variedade de dados nas informações, saber trabalhar com elas exige da Universidade uma habilidade toda especial, pois é fundamen- tal que se aprenda a discutir ideias e não pessoas. O momen- to pode parecer para alguns fácil, mas é a primeira questão que precisa ser assumida e construída como central, pois é na universidade que o espaço da diversidade de ideias precisa ser buscado, pois é o espaço de aprendizagens e testes das experiências defendidas. É a partir dessas informações que cada pessoa vai cons- truindo a sua memória que é capaz de documentar o que no cenário vivo se está testemunhando. Graças a isso é que cada pessoa é uma memória da história que aí está sendo escrita. Talvez nem todos sejam ouvidos e escutados para contar a sua versão, mas são essas informações que a universidade precisa aprender a ouvir para contar e analisar. 1.2 A construção crítica do conhecimento É no mergulho e no aprofundamento dos detalhes que o co- nhecimento requer e apresenta os seus critérios. Com muita frequência as informações são vistas como um segundo plano na construção do conhecimento, mas em essência é somente em função das informações que se podem elaborar as críticas. Capítulo 1 O Papel da Universidade no Fazer Ciência 5 Então, o que significa ser crítico? Na perspectiva grega: é a arte de discernir, separar e julgar. Ora, se somos conta- minados com a vestimenta de um juiz, não podemos tomar decisões circunstanciais e oportunas. É por isso que o conheci- mento exige rigor e reflexão, pois a verdade é um processo de eterno desvelamento. Descobrir algo que até então não tinha sido revelado é o espírito que a construção crítica do conheci- mento universitário exige. As informações diversas requerem um exame cuidadoso, pois: Professor é aquele que aprende ensinando e nesse senti- do, a grande lição do processo científico é a de acabar com o autoritarismo dos mestres e transformar todos, mestres e discípulos, em alunos. Ambos precisam apren- der a reformular problemas, pois estes não se apresen- tam por si mesmos. (PAVIANI, 2005, p. 102) Conhecimento é o ato ou efeito de conhecer, é ter ideia ou noção de alguma coisa. É o saber, a instrução e a informação. Compreender e entender que esses momentos são complexos e que exigem rigor, auxiliam demonstrando que pode ser con- tada de várias formas, pois, a partir das informações de cada ator do cenário, o olhar de cada um é descoberto segundo a sua condição. O mesmo, reunindo melhores condições que o outro, será capaz de examinar as situações. É por isso que a construção do conhecimento precisa passar pelo crivo da críti- ca. Visto que para julgar ou analisar algo, algumas condições, assim como para ser crítico, exige estrutura e base. 6 Instrumentalização Científica Estou ouvindo “Eu não existo sem você”, de Tom Jobim. Só posso ouvi-la por causa da ciência. Foi a ciência que, com teorias e medições, construiu meu computador. Foi ela que, com teorias e medições, produziu o cd, tradu- zindo a música em entidades eletrônicas definidas. Mas um engenheiro surdo poderia ter feito isso. Porque as redes da ciência não pegam música. Pegam entidades eletrônicas quantificáveis. Assim, um cientista que fosse também um filósofo, ao declarar “Isso não é científico”, estaria simplesmente confessando: “Isso, as redes da ci- ência não conseguem pegar. Elas deixam passar. Seria necessário outra rede...”. (ALVES, 2001, p. 103) Ser crítico, essencialmente, é isso, ou seja, por mais orga- nizado ou científico, sempre existe espaço para novas desco- bertas e releituras. Dessa forma, a Universidade precisa ser um ambiente capaz de provocar novas reflexões. Assim como para Sócrates que afirmava: “Só sei que nada sei”, a verdade jamais está dada ou é definitiva. Alimentar esse espírito é pri- mordial e central no espaço acadêmico. Para a construção científica do conhecimento se faz ne- cessário entender que a verdade não é exclusiva e nem úni- ca, pois existem momentos em que é necessário saber remar, assim como em outros é fundamental acreditar e ter fé. Nem sempre é possível a prova, mas aprender a buscar as respostas é o constante desafio que precisamos aprender na Universida- de. Precisamos do rigor, mas também precisamos do tempo, amadurecimento e maturidade. Aprender que todas as etapas compõem o cenário do conhecimento, é ser capaz de com- preender e de aceitar outras versões. A construção científica Capítulo 1 O Papel da Universidade no Fazer Ciência 7 do conhecimento exige a sabedoria de quem mais aprendeu no processo, não na chegada, mas na partida e durante a jornada. Será que é possível afirmar: “As ideias ou as minhas convic- ções são iguais as suas?” É diante de tais indagações que se faz necessário a crítica, pois são elas que nos possibilitam a revisão de paradigmas. Revisar as convicções é uma tarefa que precisa estar presente sempre, pois não pode existir espaço para a arrogância de se pensar que a verdade é absoluta e definitiva. A ciência é muito boa – dentro de seus precisos limites. Quando transformada na única linguagem para se co- nhecero mundo, entretanto, ela pode produzir dogmatis- mo, cegueira e, eventualmente, emburrecimento. (ALVES, 2001, p. 115) Compreender que o conhecimento se constrói de múltiplas formas e perspectivas, como as religiosas, filosóficas, senso comum, mítico e científico, é ser capaz de entender que uma música é muito mais capaz do que a harmonia. Uma coisa é saber tocar piano e outra é ser capaz de se emocionar diante da harmonia que é tocada. A construção do espírito crítico do conhecimento precisa nos apresentar a essa lição. O mesmo motivo que emociona a uma pessoa, para outra pode ser de- monstração de imaturidade. Como explicar isso? 8 Instrumentalização Científica 1.3 Uma reflexão sobre a ciência Olhando a perspectiva da ciência, o senso comum quer nos ensinar que a ciência é exata e precisa! Mas será que ela real- mente é? Será que o olhar da ciência social é igual aos outros modelos da ciência? Talvez seja parecido no seu processo, mas é diverso no seu olhar. A ciência é uma forma particular de conhecer o mun- do. É o saber produzido através do raciocínio lógico associado à experimentação prática. Caracteriza-se por um conjunto de modelos de observação, identificação, descrição, investigação experimental e explanação teóri- ca de fenômenos. O método científico envolve técnicas exatas, objetivas e sistemáticas. Regras fixas para a for- mação de conceitos, para a condução de observações, para a realização de experimentos e para a validação de hipóteses explicativas. O objetivo básico da ciência não é o de descobrir verdades ou de se constituir como uma compreensão plena da realidade. Deseja fornecer um conhecimento provisório, que facilite a interação com o mundo, possibilitando previsões confiáveis sobre acontecimentos futuros e indicar mecanismos de controle que possibilitem uma intervenção sobre eles. (FONSECA, 2002, p. 11-2) A partir da definição de Fonseca podemos nos questionar: Por que se é ciência o conhecimento é provisório? Assim como os nossos conhecimentos são, sobretudo, uma constante mu- dança, visto que sempre estamos agregando algo novo no já existente, o entendimento sobre a verdade e da ciência está Capítulo 1 O Papel da Universidade no Fazer Ciência 9 em eterno processo. Por vezes, tem-se a ideia de que a ciência é precisa e definitiva, mas isso não passa de uma visão errô- nea da própria ciência, pois a partir das novas descobertas, novos processos são desencadeados. O conhecimento é provisório pelo fato de que as leituras que são feitas sobre os cenários serem constantemente desve- ladas. A tarefa que a essência se impõe é a tarefa da atenção e da busca à verdade como meta. Claro que a ciência parte da realidade, isto é, de uma construção para, a partir desse momento, ir em busca do que aparece. Na medida em que os conhecimentos forem sendo ampliados, a identificação sobre as situações vão abraçando novas perspectivas. Ampliando-se o conhecimento sobre determinada realidade, pessoa, objeto de despertar da curiosidade, apresenta novos mecanismos de encontro. A ideia central da ciência precisa ser esta constante vigi- lância com o que aparece, pois a verdade nunca se mostra no seu todo. Essa descoberta requer a atenção e o cuidado com os processos, visto que a ciência requer processos sistêmicos e estruturados. Outra questão que se poderia fazer é: Como a ciência pode facilitar a interação com o mundo? Ora, na medida em que se vai entendendo o que está acontecendo no entorno, as ações que o entorno requer também podem ser assimiladas e adotadas. 10 Instrumentalização Científica Outro aspecto central que a ciência possibilita é a com- preensão e a consciência dos limites dos nossos olhares sobre a realidade. A velocidade das informações desencadeia nas pessoas um olhar de não mais certeza, mas de necessidades de constantes revisões e ajustes. Confiar na ciência é possível, mas com convicção de que a explicação apresentada não mais conta a história do que precisa ser contado. A ciência, como tal, é confiável até o momento em que a ciência que se tem sobre a realidade for aquela, a partir do momento, em que ela não mais explica o que está acontecendo, existe a necessidade de atualização. O registro dessa memória é a tarefa que se impõe na Uni- versidade, ou seja, documentar as informações que os atores desse cenário podem contar é essencial para que a produção do conhecimento seja possível. Mas a questão que nasce neste momento é: como isso pode ser feito? Esse processo pode e deve ser feito a partir da pesquisa e da extensão. É a partir do conhecimento do cenário e de seu registro que o legado, que vai sendo apresentado, demonstra a história do grande papel que a universidade pode dar. Por isso, é no aproveitamento das informações dos mais diversos atores que podemos recontar o que se passou e como a histó- ria precisa ser contada. A mais rica biblioteca, quando desorganizada, não é tão proveitosa quanto uma bastante modesta, mas bem or- denada. Da mesma maneira, uma grande quantidade de Capítulo 1 O Papel da Universidade no Fazer Ciência 11 conhecimento, quando não foi elaborada por um pen- samento próprio, tem muito menos valor do que uma quantidade bem mais limitada, que, no entanto, foi de- vidamente assimilada. Pois é apenas por meio da com- binação ampla do que se sabe, por meio da compa- ração de cada verdade com todas as outras, que uma pessoa se apropria de seu próprio saber e o domina. Só é possível pensar com profundidade sobre o que se sabe, por isso se deve aprender algo; mas também só se sabe aquilo sobre o que se pensou com profundidade. (SCHOPENHAUER, 2005, p. 39) Construir conhecimento requer exatamente esse rigor, pois gerenciar e organizar a diversidade exige a compreensão do que aí se apresenta. Organizar uma biblioteca requer critérios e diretrizes, assim como a produção e a gestão do conheci- mento. Aprender a ouvir, escutar para ter as várias versões sobre o fato é uma tarefa que a universidade deve contar. Só que para tal condição precisa ar ao cenário dos atores, através da extensão para organizar através da pesquisa as informa- ções que se transformam ou podem se transformar no produto chamado conhecimento. No entanto, podemos nos dedicar de modo arbitrário à leitura e ao aprendizado; ao pensamento, por outro lado, não é possível se dedicar arbitrariamente. Ele pre- cisa ser atiçado, como é o fogo por uma corrente de ar, precisa ser ocupado por algum interesse nos assuntos para os quais se volta; mas esse interesse pode ser pura- mente subjetivo. (SCHOPENHAUER, 2005, p. 39) 12 Instrumentalização Científica Essa subjetividade e objetividade é aprender a produzir e a gerenciar o conhecimento. Aprender a contar essas memórias é aprender a compartilhar as versões dos atores dos cenários para, a partir disso, filtrarmos o que é pertinente. Por isso, o conhecimento precisa de gestão, ou seja, existe uma lógica que precisa ser contada para ser descoberta. A pesquisa científica dentro da universidade desempe- nha papel importante não só na produção de novos co- nhecimentos, mas também na sua capacidade de tornar acessíveis aos seus estudantes os avanços contínuos do saber. Assim, o cientista moderno deve ser também um decodificador, e a importância da universidade cresce à medida que aumenta a sua capacidade de decodificar e abranger um número crescente de especialistas nas di- versas áreas do saber. (MEIS, 1996, p. 33) Os constantes ajustes que são processados na interação das informações com o conhecimento evidenciam-se a partir do momento em que novos produtos são apresentados como resposta. A descoberta desses novos caminhos que, aliás, apontam novos horizontes, vão possibilitando novos saberes e novas leituras das realidades. Se o ponto de partida do conhecimento é a informação, o da sabedoria é a capacitação de análise e avaliação. Dessa forma, se afirma: Essa atitude foi sábia ou não, pois ela de- monstra, como passar do tempo, que não foi só uma atitude revestida de aprendizagem e significados. No momento em que se constata essa identidade, é que nos deparamos com a Capítulo 1 O Papel da Universidade no Fazer Ciência 13 sabedoria nas ações, ou seja, aprendemos a decodificar o que se aprende. Agora no momento em que se passa que a verdade ou aquele momento é único e absoluto, precisamos nos dar conta de que na relação de aprendizagem o que precisa acontecer não está dado e que, de forma mágica, não se passa para o outro o que se sabe. Podemos até por falta de reflexão ou de avaliação pensar de outra forma, mas nesse sentido a ênfase deixa de ser construção e descobertas e passa a ser de estag- nação e dogmatismos. A ênfase principal desta forma de ensinar continua sen- do a de transmitir ao aluno o maior número possível de informações e, dentro desta perspectiva, espera-se que, ao completarem seus cursos universitários, os estudantes estejam a par dos conceitos atuais das suas respectivas áreas profissionais. Entretanto, a explosão do saber dos últimos anos tornou esta tarefa impossível e, na reali- dade, não sabemos ainda como preparar os estudantes de forma a torná-los capazes de lidar de forma eficiente com a grande quantidade de novas informações gerada a cada ano, condição essencial para uma atuação de ponta. (MEIS, 1996, p. 33-34) Por mais incrível que possa parecer essa afirmativa é fun- damental se dar conta que no texto, palestra, pesquisa passam informações e para essas se transformarem em conhecimento, se faz necessário uma construção. O ponto de partida são as informações, mas elas não podem ser o ponto de chegada, visto que os filtros que precisam ser feitos mudam conforme 14 Instrumentalização Científica a interação, espaços e tempos. Desta forma, o que a ciência precisa é da compreensão de que o conhecimento não está dado e, se aparentemente para estar, requer a reflexão e uma nova avaliação e exame. Aprender esse ofício é o que a universidade precisa desper- tar e construir no seu espaço educacional. 1.4 A transformação da sociedade É a partir dos novos conhecimentos que precisam ser aprendi- dos e compartilhados que o espírito de transformação precisa estar presente, pois a produção do conhecimento não é algo para ficar escondido, mas precisa ser divulgado e comparti- lhado. O aprender a trabalhar em equipe a partir das demandas e necessidades sociais deve ser a base dentro do espaço Uni- versitário. A universidade continua formando uma sociedade indus- trial ou, na melhor das hipóteses, pós-industrial, já foi ou pelo menos vem sendo substituída pela sociedade infor- macional, na qual o trabalho e a estrutura ocupacional não podem ser considerados como sendo o resultado de uma evolução linear, a sucessão histórica dos seto- res primários e secundários às atividades terciárias. Pelo contrário, há uma mudança fundamental a partir da divi- são tecno-organizacional do trabalho a uma matriz mais complexa de unidades de produção e atividades diretivas Capítulo 1 O Papel da Universidade no Fazer Ciência 15 que ordenam a lógica do sistema ocupacional inteiro. (CASTELLS, 1996, p. 12) Todas as conquistas são importantes e fundamentais para a sociedade e as pessoas. A partir do momento em que pode- mos notar que a Universidade é um espaço de debate, cres- cimento, formação e que o espírito de mudança se instaura, começa aí o espírito necessário de empreendedor das trans- formações sociais. Se, como afirmava Einstein, a “idiotice é querer resultados diferentes com as mesmas práticas”, então é hora de pensarmos que as ações precisam ser outras para po- dermos colher novos resultados. Assim como a própria palavra “transformação” nos apresenta uma perspectiva de ação e de modificação. Essa mudança só é possível se forem buscados novos modelos e a Universidade é o espaço para começar esse processo. A universidade deve retomar seriamente a questão de sua função social na tensão da cultura e da profissiona- lização. É preciso encontrar um novo equilíbrio entre a formação técnico/profissional e a formação humanista/ cultural. Para isso, é necessário que a universidade leve a sério, em todas as áreas de atuação, sua função cultu- ral. Não se trata apenas de abrir pequenos espaços no currículo para a abordagem de temas humanísticos ou de artes, mas de ampliar com todo o rigor o conceito de formação acadêmica. Isto implica uma revisão profunda da prática acadêmica à qual estamos acostumados atu- almente. (GOERGEN, 1998) Na esfera social, como podemos constatar na afirmativa da citação, é que se apresenta o compromisso das Universida- 16 Instrumentalização Científica des no contexto atual, pois estão aí os espaços que precisam ser ocupados. São inúmeras as possibilidades. Um exemplo concreto está no próprio tripé da razão da Universidade que é ensino, pesquisa e extensão. Essa ordem está sendo alterada hoje por extensão, pesquisa e ensino, ou seja, as questões sociais precisam ser discutidas, pesquisadas e amadurecidas dentro dos espaços dos cursos. Se existir uma desconexão en- tre a sociedade e a Universidade, no contexto atual, não po- demos mais aceitar esse abismo, pois a Universidade precisa ser o grande agente provocador e fomentador de uma outra sociedade, onde as pessoas e a sociedade possam usufruir do resultado buscado na extensão, pesquisa e ensino. É dentro dessa perspectiva que os papeis centrais da Uni- versidade precisam ser: a. Formação profissional. Formar o profissional não é só o conteúdo da matriz curricular, mas, sobretudo, a formação humana e ética, pois assim como se quer um profissional competente no que ele faz, também se exige que esse profissional seja um ser humano corre- to, ético e compromissado com o respeito e dignidade humana. b. Formação política. Eis outro papel importante dentro da universidade que precisa ser desenvolvido e traba- lhado, ou seja, que na formação alimenta-se o espírito de aceitar outros pontos de vista e se seja capaz de se aprender a discutir ideias sem discutir pessoas. Essa articulação política é aprender a administrar pontos de vista. Capítulo 1 O Papel da Universidade no Fazer Ciência 17 c. Formação cidadã e social. Na formação cidadã o que precisa ser trabalhado é o respeito e a observância dos direitos e deveres de todas e todos, pois cidadão não é quem vive só na cidade, mas, sobretudo, quem aprende a conviver com as diferenças e diversidades. d. Gestora de informações e construção de conhecimen- tos. Ser gestora é ser capaz de administrar e implan- tar as informações que se fundamentam ou não. É no espaço da Universidade que as informações precisam ser produzidas e examinadas, pois são elas o grande combustível de conhecimento. e. Desenvolvimento do espírito cooperativo e participa- tivo. Eis um dos grandes desejos dentro do espaço educacional, ou seja, como trabalhar em equipe, fa- zendo com que todos participem e sejam agentes? A UNESCO, em um dos seus pilares, exige que as pes- soas precisam aprender a CONVIVER e não só viver em grupo. Nesse sentido, as atividades de extensão, pesquisa e ensino, precisam buscar não um momento para “inglês ver”, mas um espírito de responsabilidade e compromisso. Não posso assinar algo que não com- preendo. Certamente poderíamos enumerar outros papeis da Uni- versidade, mas eis um desafio que pode ser completado a par- tir dessas provocações iniciais. A transformação da sociedade acontece a partir do mo- mento em que os mais diversos atores sociais participam dos processos e, em função dessa participação, empoderam no 18 Instrumentalização Científica sujeito a conquista emancipatória, isso significa que a Uni- versidade cumpre a sua tarefa inicial de construir um cidadão voltado não ao individualismo, mas com a noção de respon- sabilidade do que é ser profissional e, como tal, fazer ciência. Recapitulando A partir desse capítulo, a ideia básica e central que seprecisa buscar na Universidade é a de competência, ou seja, de estar preparado para os desafios que a sociedade e a profissão exi- gem. Para isso, são necessárias as competências, ou seja, ser ético, humanista e respeitador dos direitos das pessoas. Administrar o conhecimento examinando-o é uma cons- tante e aprender isso na Universidade é alcançar as sandálias da humildade, pois como já nos ensinou Sócrates: “Uma vida não examinada não merece ser vivida” e “só sei que nada sei”. Se essas lições forem aprendidas, o papel da Universidade se realizará. Um grande abraço e até a próxima jornada temática! Referências ALVES, Rubem. Entre a sapiência e a ciência. O dilema da educação. 6. ed. São Paulo: Editora Loyola, 2001. Capítulo 1 O Papel da Universidade no Fazer Ciência 19 CASTELLS, M. Fluxos, redes e identidades: Uma teoria crítica da sociedade informacional. In: Novas Perspectivas Crí- ticas em Educação. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996. FONSECA, J. J. S. Metodologia da pesquisa científica. For- taleza: UEC, 2002. Apostila. GOERGEN, Pedro. Ciência, sociedade e universidade. Educ. Soc., Campinas, v. 19, n. 63, p. 53-79, Aug. 1998 . Dis- ponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_ arttext&pid=S0101-73301998000200005&lng=en&nrm =iso>. Acesso em: 28 ago. 16. MEIS, L. de e LETA, J. O perfil da ciência brasileira. Rio de Janeiro: Ed. UFRJ, 1996. PAVIANI, Jayme. Problemas de filosofia da educação: o cul- tural, o político, o ético na escola, o epistemológico no ensino. 7. ed. Caxias do Sul: Edues, 2005. SANTOS, Boaventura de Sousa. A Universidade no século XXI: para uma reforma democrática e emancipatória da Universidade. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2005. SCHOPENHAUER, Arthur. A arte de escrever. Porto Alegre: L&PM, 2005 Atividades 1) Na perspectiva grega: é a arte de discernir, separar e jul- gar. O conceito se referre a qualidade de ser: 20 Instrumentalização Científica a) Crítico. b) Honesto. c) Pontual d) Acrítico. e) Justo. 2) Qual é o filósofo que afirma “só sei que nada sei”? a) Aristóteles. b) Descartes. c) Sócrates. d) Platão. e) Santo Agostinho. 3) Por que o conhecimento é provisório? a) Pelo fato de as leituras que são feitas sobre os cená- rios serem constantemente desveladas. b) Pelo fato de as leituras que são feitas sobre os livros serem constantemente descobertas. c) Pelo fato de as cópias que são feitas sobre os cenários serem raramente desveladas. d) Pelo fato de as leituras que são feitas sobre os cenários serem rígidas. e) Pelo fato de as leituras não serem feitas de forma cons- tante. Capítulo 1 O Papel da Universidade no Fazer Ciência 21 4) Qual é o principal requisito para se construir conhecimen- to? a) Estudo. b) Conversa. c) Rigor d) Persistência. e) Conexão. 5) Assinale a 2ª coluna de acordo com a 1ª. a) Formação política. ( ) Respeitar a observância dos direitos e deveres de todas e todos, pois cidadão não é quem vive só na cidade, mas, sobretudo, quem aprende a conviver com as diferenças e diversidades. b) Formação cidadã e social. ( ) Um profissional como um ser humano correto, ético e compromissado com o respeito e dignidade humana. c) Formação profissional. ( ) Segundo a UNESCO, em um dos seus pilares, exige-se que as pessoas precisem aprender a CONVIVER e não só a viver em grupo. d) Gestora de informações e construção de conhecimentos. ( ) Aprender a administrar pontos de vista. e) Desenvolvimento do espírito cooperativo e participativo. ( ) Ser capaz de administrar e implantar as informações que se fundamentam ou não. 22 Instrumentalização Científica A sequência correta é: a) B- D- E- A- C b) B- C- E- D - A c) A - C- E- B- D d) A- C- B- A- D e) B- C- E- A- D Conhecimento Científico1 1 Possui graduação de Licenciatura Plena em Filosofia pela Faculdade de Filosofia Nossa Senhora da Imaculada Conceição – Viamão/RS; Especialização Sensu Lato em Administração Educacional; Mestrado em Educação pela UFRGS. Atualmente é professor na Universidade Luterana do Brasil - ULBRA - Canoas/RS, na modalidade EAD, atuando em vários cursos e na modalidade presencial ministrando a disciplina de Instrumentalização Científica. Prof. Ms. Cosme Luiz Chinazzo1 Capítulo 2 24 Instrumentalização Científica Introdução Neste capítulo iremos abordar sobre o conhecimento científi- co, partindo da concepção de que o homem é o único animal que faz a pergunta do “por quê?” que questiona sobre a sua existência, sobre o cosmo. Essa inquietação perante o univer- so o torna um ser singular, complexo e inquieto por natureza. Como já afirmava Aristóteles apud Zilles: “Todos os homens têm, por natureza, o desejo de conhecer” (1994, p. 15). Existem múltiplas formas de conhecer, por isso um objeto poderá ser analisado por diferentes olhares, e sobre determi- nado objeto poderão ser construídas diferentes compreensões, desse modo, na segunda parte desse capítulo vamos identifi- car e estudar cinto tipos diferentes de conhecimento. 2.1 O que é conhecimento? O conhecimento está presente no nosso cotidiano de forma muito natural, desde cedo somos instigados e alertados pelos nossos pais, parentes, professores ... a conhecer. Desse modo, vamos recebendo as informações e adquirindo uma compre- ensão sobre as coisas do mundo, sobre as relações humanas sobre as questões sociais, culturais, políticas que estão aconte- cendo e acontecem no nosso entorno. Mas as questões perti- nentes são: O que é conhecer? É possível o conhecimento? O que é verdade? Como é produzido o conhecimento? Capítulo 2 Conhecimento Científico 25 É importante mencionar que desde a Antiguidade muitos pensadores pré-socráticos já se preocupavam com o proble- ma do conhecimento humano e com a verdade. Esse conhe- cimento era chamado de filosofia da natureza, que tinha a preocupação em compreender de forma racional a natureza das coisas e do homem e dos deuses. A epistemologia1 ou teoria do conhecimento é um ramo da filosofia “que indaga pela possibilidade, origem, essência, limites, pelos elementos e pelas condições do conhecimento”. Composta de dois termos gregos – episteme “ciência” e logia “conhecimento” – a palavra epistemologia significa conheci- mento filosófico sobre a ciência. Como seu próprio nome indica, a teoria do conhecimen- to tem como objetivo explicar ou interpretar filosoficamente o conhecimento humano. Busca um critério de certeza sobre o conhecimento, ou seja, a adequação entre o objeto do conhe- cimento e seu conteúdo, a coerência entre o pensamento e a realidade por ele intencionada. Etimologicamente, da língua francesa temos connaissance que quer dizer conhecimento: con quer dizer com e nais- sance significa nascer. Logo, conhecimento = nascer com. Assim, no ato de conhecer, o sujeito conhecedor nasce como ser pensante e, concomitantemente com ele, nasce o objeto que ele pensa e conhece. O processo de produção do conhe- cimento mostra aos homens que eles jamais são alguma coisa pronta, na medida em que estão sempre nascendo de novo, 1 O termo epistemologia é usado pelos anglo-saxões. Entre os povos de língua neolatina, a teoria do conhecimento é também chamada de gnosiologia. 26 Instrumentalização Científica quando têm coragem de se mostrarem abertos diante da rea- lidade. Em outras palavras, o homem é um ser aberto para o conhecimento. Para que exista o ato de conhecer, é indispensável o rela- cionamento de dois elementos básicos: sujeito e objeto. Con- forme a corrente filosófica, será dada maior ênfase ao SUJEI- TO ou ao OBJETO, assim, sabemos que os racionalistas2 dão maior importância ao sujeito, enquanto que os empiristas3 dão maior importância ao objeto. O ato de conhecer envolve o dualismo sujeito e objeto, onde encontram-se frente a frente. Nesse dualismo encontra- mos a essência do conhecimento. Esse é o resultado da re- lação entre os dois elementos. É relação e ao mesmo tempo correlação, porque o sujeito só ésujeito para um objeto e o objeto só é objeto para um sujeito. Mas tal correlação não é reversível, pois ser sujeito é algo completamente distinto de ser objeto. E a função do sujeito é a de apreender o objeto, e a função do objeto é de ser apreendido pelo sujeito. O sujeito, no caso que nos interessa aqui, é o ser huma- no que construiu a faculdade da inteligibilidade, construiu um interior capaz de apropriar-se simbólica e representa- tivamente do exterior, conseguindo, inclusive, operar de 2 Racionalismo é uma corrente filosófica que dá a prioridade à razão, como instru- mento na construção do conhecimento, onde a razão é mais importante do que os sentidos no ato conhecer. 3 Empirismo é uma corrente filosófica que dá prioridade aos sentidos como via para a obtenção do conhecimento. A palavra empirismo significa experiência. Como dizia John Locke, nada existe na mente do ser humano que não tenha sua origem nos sentidos. Capítulo 2 Conhecimento Científico 27 forma abstrata com seus símbolos e representações. O objeto é o mundo exterior ao sujeito, que é representado em seu pensamento a partir da manipulação que executa com eles. (LUCKESI, 1995, p. 16) Nesse tocante se impõe um questionamento filosófico e científico, ou seja, é possível o homem apreender o objeto? Historicamente formaram-se três versões filosóficas sobre essa questão: ceticismo, dogmatismo e criticismo. O CETICISMO é uma corrente filosófica que iniciou no século IV a.C com o filósofo Górgias que dizia: “o ser não existe; se existisse, não poderíamos conhecê-lo; e se pudés- semos conhecê-lo, não poderíamos comunicá-lo aos outros” (GÓRGIAS apud COTRIM, 2010, p. 161). Em outras palavras, o homem não tem a possibilidade de conhecer a verdade. O DOGMATISMO é um termo usado pela filosofia, que vem do grego e significa opinião, na qual acredita que o ho- mem pode atingir a verdade absoluta e indiscutível. Filosofica- mente são pensamentos contrários ao ceticismo, acredita na possibilidade de o homem conhecer a verdade. O CRITICISMO surgiu com a proposta de superar as diver- gências entre ceticismo e dogmatismo. A proposta de refletir a questão do conhecimento com critérios que conduzem a uma análise com fundamentação teórica para fins de se obter um conhecimento. O conhecimento é a compreensão inteligível da realidade exterior que no interior do homem forma um pensamento abs- trato, que lhe permite expressar como é, por que é, a realida- 28 Instrumentalização Científica de. Permitindo assim, uma ação e uma adequação do homem sobre essa mesma realidade. Sem dúvida, conhecer é sempre um ato desafiador em busca de sentidos e significados das coi- sas, é esclarecer o que estava duvidoso, é clarear o que estava obscuro, é iluminar o que estava na escuridão. 2.2 Tipos de conhecimento Existem várias formas de descrever a realidade, ou seja, so- bre um mesmo objeto ou sobre uma determinada situação as análises e as interpretações poderão tomar rumos diferentes e específicos. Há uma multiplicidade de tipos de conhecimen- tos possíveis, por questões didáticas, passamos a caracterizar apenas cinco, quais sejam: mito, senso comum, teológico, fi- losófico e científico. 2.2.1 O conhecimento mítico O ser humano, desde os tempos mais remotos, sempre bus- cou explicações para compreender os fenômenos do mundo e a sua própria existência. Mesmo antes de inventar a escri- ta, os seres humanos já buscavam explicações dos fenômenos da natureza com o intuito de aquietar suas angústias e suas dúvidas perante o desconhecido. O mito é considerado, his- toricamente, a primeira forma narrativa de explicação e com- preensão sobre a origem do mundo, do homem e dos deuses. O mito constitui uma compreensão espontânea e intuitiva de o homem situar-se no mundo. São expressões que estão Capítulo 2 Conhecimento Científico 29 vinculadas às questões emocionais, sentimentais e afetivas vi- venciadas no cotidiano, portanto, não constituem compreen- sões racionais e nem científicas. Não são oriundas de reflexões conduzidas com rigor de um método científico. No entanto, não são desprezíveis, pois constituem verdades intuídas que representam o mundo real de uma determinada situação. Uma leitura apressada nos faria entender o mito como uma maneira de explicar a realidade ainda não justifica- da pela razão. Sob esse enfoque, os mitos seriam lendas, fábulas, crendices e, portanto, uma forma menor de co- nhecimento, prestes a ser superado por explicações mais racionais. No entanto, o mito é mais complexo e mais rico do que supõe essa visão redutora. Mesmo porque não são só os povos “primitivos” que elaboram mitos, a consciência mítica persiste em todos os tempos e culturas como componente indissociável da maneira humana de compreender a realidade. (ARANHA, 2003, p. 72) As explicações míticas fundamentam-se nas tradições e nas questões culturais que regulam a vida dos seres humanos de uma determinada comunidade. O mito não é uma expressão delirante de um narrador, nem é uma simples mentira, mas traduz um modo de vida humana que está inundada de sen- timentos, de intuições, de angústias, de medos etc., são os sentimentos mais genuínos do ser humano perante o mundo desconhecido. 30 Instrumentalização Científica 2.2.1.1 Método do mito As explicações míticas, dos povos primitivos, eram realizadas através de narrações que passavam de geração para gera- ção de forma oral. “A voz desempenha um papel primordial nas sociedades orais, nas quais as palavras são dotadas de um poder mágico. [...] as sociedades primitivas creem basi- camente no que se fala e no que se ouve” (MATTAR, 2015, p. 35). Tais narrativas sempre constituíam representações da realidade vivenciada, ou seja, narravam os acontecimentos mais significativos e que traduziam traços de identificação cul- tural. As narrativas míticas forneciam suporte para conduzir a continuidade da vida em comunidade, vinculando os mem- bros dessa comunidade a um passado histórico no qual todos se identificavam e acomodavam suas inquietudes. Portanto, a comunicação oral tinha a função de aquietar as angústias psí- quicas do homem e, também, de memorizar os aprendizados e os registros da cultura. As sociedades orais em geral são nômades. Nelas, a lin- guagem sonora e a audição são essenciais, e a memória é a única maneira de registrar o conhecimento. A infor- mação transmitida pela voz de uma forma poética, por meio de repetições, fórmulas rítmicas, métricas, rimas etc. Os poemas homéricos, por exemplo, eram recitados e decorados de geração para geração. Nesse sentido, as sociedades orais implicam um envolvimento mais pro- fundo das pessoas e uma consciência mais intensa do contexto em que ocorre a comunicação. (MATTAR, 2015, p. 35-6) Capítulo 2 Conhecimento Científico 31 A verdade do mito é uma verdade autêntica, isto é, sua origem está intimamente ligada às tradições constituídas e pra- ticadas por sucessivas gerações que orientavam suas vidas a partir de valores, regras, narrativas que cultivavam e idealiza- vam como modelo para as diferentes atividades humanas. 2.2.2 O conhecimento do senso comum O conhecimento do senso comum também é denominado como conhecimento “popular” ou “vulgar”. “A forma ordiná- ria de o homem criar suas representações é através do senso comum, que surge da necessidade de resolver problemas ime- diatos da vida cotidiana. É, portanto, uma forma espontânea e assistemática de representar a realidade, sem aprofundar os fundamentos da mesma através de um método adequado” (DVORANOVSKI, 1997, p. 20). Esse conhecimento está pre- sente no dia a dia de todas as pessoas sem necessidade de realizar maiores investigações ou reflexões. 2.2.2.1 Principais características do senso comum  Superficialidade e imediaticidade – limita-se nas evidên- cias concretas com o que aparece num primeiro mo- mento, não se preocupa em levantar hipóteses e ultra- passar as aparências;  Emotividade e subjetividade– restrito aos aspectos das percepções sensoriais, afetivas e emoções vivenciadas no cotidiano, depende das elaborações individuais de cada pessoa, não opera uma sistematização que pos- sa aplicar o conhecimento de forma geral ou universal. 32 Instrumentalização Científica Não chega a sintetizar uma compreensão mais aprofun- dada;  Acriticidade - não se preocupa em investigar as causas utilizando métodos e técnicas adequadas com critérios para conhecer, averiguar a ‘verdade’, ou seja, aceita a primeira explicação, não procede com questionamentos que exijam aprofundamento, nem investigação das cau- sas e consequências;  Valorativo – fundamenta-se a partir de parâmetros de valores ligados à subjetividade de quem avalia e deter- mina sua validação, muito particularizada;  Fatalidade – com frequência atribui ou projeta os acon- tecimentos no destino ou em Deus;  Dogmaticidade – “a Dogmaticidade se apresenta como uma espécie de ‘porto seguro’, no qual o indivíduo se ancora e permanece com medo de se aventurar. No ‘porto seguro’, o indivíduo se abriga em suas próprias ideias, noções e valores. Sua concepção de mundo re- siste a modificações.” (DVORANOVSKI, 1997, p. 22);  Falibilidade – em função das características descritas acima, dependendo de sua aceitação e aplicação, o senso comum poderá induzir ao erro;  Fragmentação - o senso comum produz conhecimentos fragmentados, soltos, ou seja, sua validade e aplicação é particularizada, não pode ser aplicado de forma uni- versal. Capítulo 2 Conhecimento Científico 33 2.2.2.2 Método do senso comum Os procedimentos de produção do conhecimento do senso comum são muito semelhantes ao método de construção do conhecimento mítico, ou seja, origina-se de forma espontânea baseado nas experiências vivenciadas no cotidiano. Um procedimento muito usual no senso comum é a com- paração ou a dedução casual, é comum expressar-se das se- guintes formas: “sempre foi assim, então, assim continuará”; “deu certo para fulano, então, vai dar certo para mim”. Outro procedimento muito corrente no senso comum é da veracidade da palavra falada e/ou escrita, normalmente se expressa das seguintes formas: “porque fulano falou assim ...”; “porque todos estão dizendo assim ...”; “está escrito no jor- nal”. Também é frequente no senso comum atribuir créditos aos sentidos, por isso são frequentes justificativas como: “eu vi com meus próprios olhos”; “eu estava lá”; “eu percebi que”. Devemos salientar que o senso comum é um conhecimen- to que apresenta determinadas fragilidades, no entanto, não pode, nem deve ser desconsiderado. Na verdade, muitas das suas compreensões tornam-se o ponto de partida para investi- gações científicas, filosóficas ou teológicas. 2.2.3 Conhecimento teológico Manifestações de caráter religioso são encontradas em todas as culturas, desde os primórdios da humanidade. Evidentemen- te, tais manifestações são expressas de formas diversificadas, 34 Instrumentalização Científica no entanto, em todas elas encontramos a mesma essência, a relação do ser humano com o sagrado. 2.2.3.1 Método do conhecimento teológico A teologia trabalha a partir das diretrizes da fé, fundamenta seus argumentos a partir do dom sobrenatural da fé. O dom da fé confere luz especial à mente humana. O pressuposto fundamental do conhecimento religioso é que “DEUS EXISTE” e tem ciência infinita, tem poder infinito, portanto, tem poder de se comunicar com os homens, fazen- do-os participantes de seus próprios conhecimentos (RUIZ, 2002, p. 105). Uma das maneiras de Deus se comunicar com os homens foi a revelação, isto é, falou aos profetas que transmitiram aos outros humanos. E o que Deus revelou está escrito nos livros sagrados que compõem a Bíblia. Os seguidores do conhecimento religioso acreditam que tudo que está escrito na Bíblia constitui a ciência divina reve- lada aos homens e que os conhecimentos contidos na Bíblia são autênticos e verdadeiros, pois foram escritos através da inspiração divina. O conhecimento teológico, através do ato de fé, supõe e fundamenta-se na existência de Deus e em sua magistral au- toridade e poder, a esse tipo de aceitação e ato de fé deno- minamos de dogma. Dogma é uma verdade aceita como in- contestável, ou seja, aceita-se sem impor questionamentos e/ ou levantar hipóteses. Portanto, o conhecimento religioso não Capítulo 2 Conhecimento Científico 35 se define por uma atitude analítica, racional ou científica, mas atende e responde as questões importantes da vida humana, principalmente, na esfera da afetividade e da ética, pois a reli- gião estabelece princípios éticos e critérios de justiça. 2.2.4 O conhecimento filosófico O conhecimento filosófico surgiu na Antiga Grécia quando os pensadores gregos começaram a pensar o mundo, o homem e os deuses com base na capacidade racional do ser humano. Na Grécia antiga a razão tornou-se o instrumento primordial para analisar e interpretar a realidade, assim a filosofia foi se constituindo como ciência que procura encontrar a verdade através da razão. Filosofia é uma palavra grega que significa “amor à sabedoria” e consiste no estudo de problemas funda- mentais relacionados à existência, ao conhecimento, à verda- de, aos valores morais e estéticos, à mente e à linguagem. 2.2.4.1 Método do conhecimento filosófico Conforme descrito acima, o instrumento primordial da filosofia é a razão. O termo RAZÃO deriva da palavra LOGOS, que significa contar, reunir, juntar, calcular. Esses verbos sempre reivindicam a capacidade de refletir e estabelecer relações. Estamos falando da reflexão realizada com método sistemati- zado que resulta em argumentos claros e com lógica racional fundamentada. A razão é o instrumento que possibilita desvendar o verda- deiro ser das coisas, é ela que possibilita estabelecer, analisar e refletir sobre as múltiplas relações existentes entre as coisas 36 Instrumentalização Científica que são objetos de investigação, assim, pela capacidade ra- cional, o pesquisador poderá reunir, separar, calcular para es- tabelecer relações e análises exaustivas e aprofundadas para descrever as coisas como elas são na sua essência. A principal exigência do método racional é que as argu- mentações sejam lógicas e convincentes no plano racional, ou seja, sem a necessidade de apelar para graças divinas, recorrem unicamente para as capacidades da razão humana. Em outras palavras, é um conhecimento que sustenta sua ar- gumentação na coerência e na lógica do raciocínio. 2.2.4.2 Características da filosofia A principal característica da filosofia é a atividade da reflexão. Reflexão no sentido de retomar, reconsiderar os dados dispo- níveis, voltar para trás visando retornar com nova concepção. Saviani (1975) conceitua a filosofia como uma reflexão e nos convence que uma reflexão, para ser considerada como filosófica, deve observar três requisitos: deve ser radical, rigo- rosa e de conjunto. - RADICAL: no sentido de que o filósofo deve se aprofun- dar, ir às raízes das questões, isto é, não pode aceitar explicações ou respostas superficiais. - RIGOROSA: o filósofo deve proceder com rigor, isto é, ter método de investigação para justificar suas argumen- tações com uma coerência lógica e convincente. Capítulo 2 Conhecimento Científico 37 - DE CONJUNTO: a filosofia procura manter uma análise para investigar as questões dentro de uma visão universal, busca produzir conceitos e teorias que sejam aplicáveis dentro de uma abrangência globalizante, mantém uma perspectiva de totalidade. Enquanto que outras ciências se fixam em particularidades, a filosofia busca o todo. É importante mencionar que o conhecimento filosófico se caracteriza por ver o todo da questão e não somente uma par- te desse todo, como também não é um conhecimento fecha- do e absoluto. Uma das principais características do método filosófico são os questionamentos, as perguntas, para muitos filósofos as perguntassão mais importantes do que as respos- tas. “E talvez uma das características da questão filosófica seja o fato de suas respostas, ou tentativas de respostas, jamais esgotarem a questão, que permanece assim com sua força de questão, a convidar outras respostas e outras abordagens possíveis” (IGLÉSIAS, 1991, p. 12). Para Chauí (2003), uma das características da atitude filo- sófica é negativa, isto é, saber dizer um não ao senso comum, aos pré-conceitos, aos pré-juízos, às experiências simplórias do dia a dia, ao estabelecido. É colocar entre parênteses nos- sas crenças para poder interrogar quais são as causas e qual é o seu sentido. Outra característica da atitude filosófica é positiva, isto é, uma interrogação sobre o que são as coisas, as ideias, os fa- tos, as situações, os comportamentos, os valores, nós mesmos. É também uma interrogação sobre o porquê disso tudo e de nós, e uma interrogação sobre como tudo isso é assim e não 38 Instrumentalização Científica de outra maneira. O que é? Como é? Por que é? Essas são as indagações fundamentais da atitude filosófica. A face negativa e a face positiva da atitude filosófica cons- tituem o que chamamos de atitude crítica (CHAUÍ, 2003, p. 18). 2.2.5 Conhecimento científico O conhecimento científico se apresenta com a pretensão de desvendar a dinâmica interna dos fenômenos, identificar e conhecer os elementos específicos que compõem cada fenô- meno, busca a real constituição do objeto investigado, preten- de atingir o fenômeno nas suas causas, “na sua constituição íntima, caracterizando-se, desta forma, pela capacidade de analisar, de explicar, de desdobrar, de justificar, de induzir ou aplicar leis” (RUIZ, 2002, p. 96). 2.2.5.1 Método do conhecimento científico Na base do conhecimento científico encontramos o método experimental. A experimentação se desenvolve através de pro- cedimentos rigorosos que permitem ao pesquisador manipular e controlar as variáveis do fenômeno investigado. Os resul- tados de uma experimentação sempre são demonstrados de forma concreta, o pesquisador tem condições reais de provar e comprovar seus argumentos. Salientamos para o detalhe que o método experimental pode ser aplicado nas mais diversas áreas do conhecimento Capítulo 2 Conhecimento Científico 39 humano, ou seja, sua aplicação não fica restrita apenas para ambientes de laboratórios. 2.2.5.2 Características do conhecimento científico Â É programado, sistemático, metódico e orgânico, orde- na os enunciados de forma lógica estabelecendo as in- terligações e subordinações existentes entre os mesmos. (RUIZ, 2002, p. 97); Â É crítico, rigoroso, objetivo e exige demonstração e com- provação dos resultados apresentados. (RUIZ, 2002, p. 97);  Nasce da dúvida e se consolida na certeza das leis de- monstradas, justifica e demonstra os motivos e funda- mentos de sua certeza. (RUIZ, 2002, p. 97);  Procura as relações entre os componentes do fenômeno para enunciar as leis gerais constantes que regem estas relações. (RUIZ, 2002, p. 97);  Estabelece leis válidas para todos os casos da mesma espécie que venham a ocorrer nas mesmas condições. (RUIZ, 2002, p. 97);  Fundamenta-se na objetividade e na evidência dos fa- tos; e porque essa objetividade e evidência são demons- tradas experimentalmente ou logicamente, adquire um caráter objetivo de validade geral. (RUIZ, 2002, p. 101). 40 Instrumentalização Científica 2.2.5.3 Ciência e método Muito frequentemente o método científico é apresentado como uma “receita” para se fazer ciência, inclusive com etapas deli- mitadas. Sabemos que muitos já escreveram textos mais pro- fundos sobre o assunto, mas aqui estão algumas explicações e informações sobre o método científico. Os cientistas aprende- ram a destacar e determinar certas regras por meio da tentati- va e do erro ao longo de toda a história da ciência. Existem métodos e existem técnicas, todos nós sabemos. Porém, quando tomamos de um modo muito amplo, os dois termos podem proporcionar pequenas confusões entre si. No entanto, raciocinando com maior rigor sobre o significado de cada um deles, pode-se notar a existência de uma diferença fundamental entre ambos. Método = significa caminho para chegar a um fim ou pelo qual se atinge um objetivo. Técnica = é a maneira de fazer da forma mais hábil, segu- ra, perfeita algum tipo de atividade, arte ou ofício. Fazendo uma simples comparação pode-se dizer que o método é a estratégia da ação. O método indica o que fazer, é o orientador geral da atividade. A técnica é a tática da ação. Ela resolve o como fazer a atividade, soluciona a maneira es- pecífica e mais adequada pelo qual a ação se desenvolve em cada etapa. Assegura a instrumentalização específica da ação em cada etapa do método. Esse, por seu turno, estabelece o caminho correto para chegar ao fim, por isso é mais amplo, mais geral. Capítulo 2 Conhecimento Científico 41 Embora os procedimentos variem de uma área da ciência para outra, consegue-se determinar certos elementos que dife- renciam o método científico de outros métodos. Primeiramente, os pesquisadores propõem hipóteses para explicar certos fenô- menos, e então desenvolvem experimentos que testam essas previsões. Então, teorias são formadas juntando-se hipóteses de uma certa área em uma estrutura coerente de conhecimen- to. Isso ajuda na formulação de novas hipóteses, bem como coloca as hipóteses em um conjunto de conhecimento maior. No dizer de Cervo (2007, p. 30-31), “existe, pois, um mé- todo fundamental idêntico para todas as ciências, que com- preende um certo número de procedimentos ou operações científicas levadas a efeito em qualquer tipo de pesquisa. Estes procedimentos (...) podem ser resumidos da seguinte maneira: a) formular questões ou propor problemas e levantar hipó- teses; b) efetuar observações e medidas; c) registrar tão cuidadosamente quanto possível os dados observados com o intuito de responder às perguntas for- muladas ou comprovar a hipótese levantada; d) elaborar explicações ou rever conclusões, ideias ou opi- niões que estejam em desacordo com as observações ou com as respostas resultantes; e) generalizar, isto é, estabelecer conclusões obtidas a to- dos os casos que envolvem condições similares; a gene- ralização é tarefa do processo chamado indução; 42 Instrumentalização Científica f) prever ou predizer, isto é, antecipar que, dadas certas condições, é de se esperar que surjam certas relações. Mesmo assim, o método pode e deve ser adaptado às di- versas ciências, à medida que a investigação de seu objeto impõe ao pesquisador lançar mão de técnicas especializadas”. Portanto, podemos dizer que a importância do método é evidente. O método tem como fim disciplinar o espírito, ex- cluir de suas investigações o capricho e o acaso, adaptar o esforço a empregar segundo as exigências do objeto, deter- minar os meios de investigação e a ordem da pesquisa. Ele é, pois, fator de segurança e economia. Mas não é o suficiente a si mesmo, e Descartes exagera a respeito da importância do método, quando diz que as inteligências diferem apenas pelos métodos que utilizam. O método, ao contrário, exige, para ser fecundo, inteligência e talento. Ele lhes dá a potência, mas não os substitui jamais. Em suma, a ciência, através de seu método científico, busca a verdade. Os resultados científicos não são verdades abso- lutas, os cientistas estão permanentemente questionando sua própria verdade. E toda a pesquisa é sempre um convite para que outros pesquisadores questionem a precisão. Recapitulando Ao produzir conhecimento o ser humano apropria-se do ob- jeto que conhece, concomitantemente, essa posse torna-o um ser consciente e com possibilidades de avançar para além das Capítulo 2 Conhecimento Científico 43 realidades concretas, consequentemente, pode produzir sua existência com liberdade, visando atingir sempre novos status de realização pessoal e humana. Qualquer tipode conhecimento, se for bem usado, pode- rá ser muito útil para a humanidade, também é verdade que qualquer um deles, se for usado de forma inadequada, poderá provocar incalculáveis consequências desastrosas para os se- res humanos e para o planeta terra. Referências ARANHA, Maria Lúcia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pi- res. Filosofando: Introdução à Filosofia. 3. ed. revisada. São Paulo: Moderna, 2003. CERVO, Amado Luiz; BREVIAN, Pedro Alcino; SILVA, Roberto da. Metodologia Científica. 6. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2007. CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. 13. ed. São Paulo: Ática, 2003. COTRIM, Gilberto; FERNANDES, Mirna. Fundamentos de Fi- losofia. São Paulo: Saraiva, 2010. DVORANOVSKI, Clovis. As relações homem-mundo e a pro- dução de conhecimento. In: JOHANN, Jorge Renato. In- trodução ao Método Científico: conteúdo e forma do conhecimento. Canoas: ULBRA, 1997. 44 Instrumentalização Científica IGLÉSIAS, Maura. In: REZENDE, Antonio (Org.). Curso de Fi- losofia. 4. ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1991. LUCKESI, Cipriano Carlos; PASSOS, Elizete Silva. Introdução à Filosofia. São Paulo: Cortez, 1995. MATTAR, João. Introdução à Filosofia. São Paulo: Pearson, 2015. RUIZ, João Álvaro. Metodologia Científica: Guia para eficiência nos estudos. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2002. SAVIANI, Dermeval. Educação Brasileira. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 1975. ZILLES, Urbano. Teoria do Conhecimento. Porto Alegre: EDI- PUCRS, 1994. Atividades 1) Por que o homem é o único animal que faz a pergunta do porquê? 2) O que é o conhecimento? 3) Qual é a função do mito? 4) Qual seria a consequência se um indivíduo baseasse sua existência no senso comum? 5) Qual é a diferença entre método e técnica? Prof. Dr. Laíno Alberto Schneider1 Capítulo ? Fundamentos da Pesquisa Científica1 1 Formação acadêmica em filosofia e antropologia. Formado em filosofia pela FAFIMC, em 1987. Pós-graduado em 1991, como mestre em Antropologia Filosófica pela PUCRS. Doutor em Filosofia pela UPS (Salamanca - Espanha), 2000, e o reconhecimen- to pela UFRGS, em 2006, como Doutor em Antropologia Social. Educador e pesqui- sador da ULBRA desde 1991. Coordenador geral da Educação a Distância da Ulbra nos anos de 2009 e 2010. Coordenador no ano de 2011 no Programa Permanente de Acessibilidade da ULBRA. Membro do CEP da ULBRA. Membro titular do CONSUN. Coordenador Institucional do PPA da Instituição. Membro da Comissão da ABED. Prof. Dr. Laíno Alberto Schneider1 Capítulo 3 46 Instrumentalização Científica Introdução Estamos diante de um capítulo e de uma situação em que, pri- meiramente, nos questionamos sobre o que são Fundamentos, pois é diante dessa compreensão que podemos nos lançar no estudo sobre a pesquisa científica. Vamos lá! Fundamento é tudo aquilo que dá base e solidez ao que está em análise. É o princípio sobre o qual se apoia ou se sus- tenta. É a ação que explica a atitude. Se por um lado a funda- mentação é a base de tudo, é essencial que se verifique os pe- rigos que podem ser identificados naqueles fundamentos, pois uma posição dogmática pode fazer com que os fundamentos dificultem as transformações ou mudanças. Se por um lado o fundamento é a base, o alicerce - é importante revisá-los, pois é nesse sentido que o presente capítulo vai enfocar a temática. Logo no início do capítulo vamos refletir sobre o que é a pesquisa científica. Será que estamos atentos com aquilo que se faz e como se faz? Essa vai ser a questão que vai mergulhar nesse tópico. Em seguida será demonstrado como a relação entre teoria e prática se completam. Diante do seu olhar da ci- ência, você é mais prático ou teórico? É mais empírico ou dog- mático? Eis as questões que serão trabalhados nesse tópico. No tópico seguinte será demonstrado como a investigação científica precisa alinhar-se com a interdisciplinaridade. O que é investigação? Como definir interdisciplinaridade? Será que investigar é complexo? Qual é a função da interdisciplinarida- de? Depois de compreender esses dois aspectos, voltaremos a Capítulo 3 Fundamentos da Pesquisa Científica 47 nossa atenção para o papel e a importância do método e da técnica na pesquisa. Será uma satisfação caminharmos ao longo do capítulo e nos depararmos sobre a temática dos fundamentos da pesqui- sa científica. Será que somos mais conservadores ou flexíveis na busca das respostas? Vamos juntos descobrir. 3.1 O que é a pesquisa científica Afinal, o que é pesquisa científica? O primeiro aspecto que surge a partir da questão é que pesquisa é ir em busca. Fazer os filtros e tentar encontrar alguma explicação para o que se investiga. Nesse sentido a pesquisa nos dá a ideia de busca, de não se conformar com aquilo que está dado e, em vista disso, vai levantar informações que possibilitem a justificativa do que passa a ser objeto de investigação. No momento em que a questão se refere à pesquisa cien- tífica, se faz necessário a observação de todo um rigor, visto que: O conhecimento científico é produzido pela investigação científica, através de seus métodos. Resultante do apri- moramento do senso comum, o conhecimento científico tem sua origem nos seus procedimentos de verificação baseados na metodologia científica. É um conhecimento objetivo, metódico, passível de demonstração e compro- vação. O método científico permite a elaboração concei- tual da realidade que se deseja verdadeira e impessoal, 48 Instrumentalização Científica passível de ser submetida a testes de falseabilidade. Con- tudo, o conhecimento científico apresenta um caráter provisório, uma vez que pode ser continuamente testado, enriquecido e reformulado. Para que tal possa acontecer, deve ser de domínio público. (FONSECA, 2002, p. 11) O que é esse aprimoramento do senso comum? No cotidiano estamos acostumados a certos procedimen- tos, mas que na sua maioria das vezes estão limitados de en- tendimento e justificativas. A partir do momento em que se começa a investigar os motivos, o porquê daquilo, dá-se início a investigação e, como tal, a partir do momento em que se consegue provar o que se está afirmando, as ações começam a ser aprimoradas e, com elas, não se aceita mais qualquer procedimento. Assim como o senso comum, passa a se apresentar um processo de repetição, precisa-se ter cuidado para que os pro- cessos investigativos também não se transformem em dogmas eternos. É diante dessa perspectiva, que a pesquisa científica busca constantemente elementos, releituras dos cenários. Como toda atividade racional e sistemática, a pesqui- sa exige que as ações desenvolvidas ao longo de seu processo sejam efetivamente planejadas. De modo ge- ral, concebe-se o planejamento como a primeira fase da pesquisa, que envolve a formulação do problema, a es- pecificação de seus objetivos, a construção de hipóteses, a operacionalização dos conceitos etc. Em virtude das implicações extracientíficas da pesquisa, consideradas na seção anterior, o planejamento deve envolver tam- Capítulo 3 Fundamentos da Pesquisa Científica 49 bém os aspectos referentes ao tempo a ser despendido na pesquisa, bem como aos recursos humanos, materiais e financeiros necessários à sua efetivação. (GIL, 2007, p. 19) Na pesquisa científica existe um processo de planejamento e organização, o que por outra instância oferece a ideia de que a pesquisa exige toda uma elaboração e base. Realizar um estudo deve levar em conta o tempo, pois para ser possível fazer determinada pesquisa, se faz necessário que o período que se dispõe seja analisado. Além de se avaliar o tempo que se dispõe, é fundamental que na pesquisa científica se tenha presente o local em que a pesquisa é feita, pois cada local segue um ritual próprio e, também, requer recursos e condições para poder ser executado. Da mesma forma que a pesquisa de campo, pois essa pesquisa necessita avaliar todo o contexto e possibilidades para fazer a pesquisa. Em função dessa ritualização,uma pesquisa científica de- verá ser composta de três fases, que conforme PITTA e CAS- TRO (2016) são o planejamento, execução e divulgação. Na primeira fase, temos: A pesquisa científica deverá ser composta de três fases: planejamento, execução e divulgação. A primeira fase, o planejamento, é composta por cinco itens: a) ideia bri- lhante (a pergunta da pesquisa); b) plano de intenção (o resumo do projeto de pesquisa); c) revisão da literatura; d) teste de instrumentos e de procedimentos; e) projeto de pesquisa. (PITTA e CASTRO, 2016) 50 Instrumentalização Científica O resultado alcançado na pesquisa científica passa, neces- sariamente, por essas fases, pois no planejamento entra em todo o processo de organização, viabilidade, possibilidade, tempo, referencial teórico, recursos e tudo o mais que envolve essa fase. É no momento de execução que muitas vezes surgem as necessidades de revisões e dos ajustes, pois sempre alguns aspectos que não estavam previstos se apresentam e exigem adequações e adaptações. Há momentos em que, inclusive, se faz necessário retornar ao ponto de partida, pois o que tinha sido planejado não estava contemplando essas situações. É na execução que os procedimentos éticos, as metodologias e técnicas precisam ser observados para que se alcançar o que foi proposto. É a execução o momento da prática da pesquisa. Sendo ela desenvolvida no laboratório, cenário social ou, ain- da, o momento da fundamentação teórica - é o momento em que as perícias são procuradas. Toda a atenção e rigor nesse momento fortalecem a possibilidade do sucesso dos resultados da execução. É após a leitura e pesquisa que é chegado o momento de pensar na divulgação dos resultados e a publicação também não pode ser de qualquer modo, pois se faz necessário que os resultados sejam divulgados, observando todo o rigor das re- vistas, livros, sites e ABNT. Além da necessidade do texto e da estruturada pesquisa, precisa-se observar o caráter científico e acadêmico na divulgação. Capítulo 3 Fundamentos da Pesquisa Científica 51 3.2 A relação entre prática e teoria A pesquisa como um todo é um longo processo de aprendi- zagem, pois em cada etapa e momento, aspectos novos são apresentados e possivelmente aprendidos. Pesquisa significa diálogo crítico e criativo com a realida- de, culminando na elaboração própria e na capacidade de intervenção. Em tese, pesquisa é a atitude do “apre- ender a apreender” e, como tal, faz parte de todo pro- cesso educativo e emancipatório. (DEMO, 1993, p. 80) A relação que o pesquisador precisa apresentar no desen- volvimento da sua pesquisa requer observar uma constante in- teração com o objeto de estudo. É no diálogo que se abre a possibilidade de se aprender ou ainda de se responder, pois na medida em que se vai dialogando, o que está acontecendo é um momento de interação. A realidade que se quer captar é a mesma para todos, mas para captar é preciso concepção teórica dela, que pode ser diferente em todos, dependendo do que se de- fine por ciência, por método, ou do ponto de partida e do ponto de vista, ou da ideologia subjacente, ou de cir- cunstâncias so ciais condicionantes ou condicionadas por interesses históri cos dominantes. Se numa teoria nunca está inclusa a realidade toda, mas tão-somente a manei- ra de a conceber, muito menos seria pensável encerrar em manifestações empíricas. A importância da herme- nêutica está precisamente no reconhecimento de que a interpretação é inevitável. A realidade como tal não de- 52 Instrumentalização Científica pende da interpretação para existir: existe com ou sem intérprete. Mas a realidade conhecida é inevitavelmente aquela interpretada. Caso contrário, seria ininteligível a disputa teórica entre quadros interpretativos diferentes e mesmo contraditórios. (DEMO, 2006, p. 21) Ou seja, o ponto de observação, a realidade é a mes- ma, mas as analogias e interpretação demonstram a estrutura teórica, as informações e o conhecimento que um apresenta nessa jornada. Em cada pesquisa, no amadurecimento que se vai colhendo, que se demonstra a robustez da relação entre a teoria e a prática, ou não, pois há momentos que pelo repertó- rio teórico, tais experiências nem precisam ser feitas, testadas, pois a aprendizagem acumulada já apresenta o veredito. As- sim que por outros momentos o processo pode ser inverso. O importante na teoria é o elemento conceitual, abstrato que po- dem conduzir em uma direção ou outra. Nesse sentido, poder conciliar a teoria com a prática é aproximar o que se pensa com a exemplificação. A pesquisa prática — que nunca pode ser bem-feita sem teoria, método e empiria — é modo salutar de pro dução de conhecimento, que possui ainda a vantagem de puxar para o cotidiano a ciência. Pode resvalar facilmente para o senso comum, mas pode adquirir tonalidades muito criativas da sabedoria e do bom senso. Pesquisa prática não significa apenas a noção de aplicabilidade concre- ta, porque seria irônica uma teoria não-aplicável, mas sobretudo a prática como parte integrante do processo científico como tal. Conseqüência disso será que prática deve ser estritamente cur ricular, não fazendo sentido a Capítulo 3 Fundamentos da Pesquisa Científica 53 noção truncada de estágio. Pesquisa prática quer dizer “olhos abertos” para a reali dade, tomando-a como mes- tra de nossas concepções. (DEMO, 2006, p. 28) Se por um lado a teoria questiona, por outro a prática de- monstra o olhar e a compreensão do que se tinha. É compli- cado afirmar o que vem antes, se é a teoria ou a prática, mas o fundamental é que elas precisam dialogar para evidenciar o processo de aprendizagem. Por um lado as coisas estão dadas de uma forma, agora a partir do momento em que questiona essa realidade, começa- -se a observar de outra forma o processo. As diversificações na busca do saber e do conhecimento, segundo caracteres e potenciais humanos, originaram contingentes teóricos e práticos diferentes a serem des- tacados em níveis e espécies. O homem, em seu ato de conhecer, conhece a realidade vivencial, porque se os fe- nômenos agem sobre os seus sentidos, ele também pode agir sobre os fatos, adquirindo uma experiência pluridi- mensional do universo. De acordo com o movimento que orienta e organiza a atividade humana, conhecer, agir, aprender e outros conhecimentos, se dão em níveis di- ferenciados de apreensão da realidade, embora estejam inter-relacionados. (TARTUCE, 2006, p. 5) Assim como existe um único caminho para se chegar a determinado lugar, a ciência e cada pesquisador vai apresen- tando, na pesquisa, o seu caráter pessoal, a sua aprendizagem do que deu certo ou não. 54 Instrumentalização Científica Cada pessoa tem alguma vivência diferenciada em relação a outra, e isso precisa ter espaço na pesquisa. São essas aprendizagens e vivências que enriquecem o processo da pesquisa. Nesse sentido, o diálogo entre os pes- quisadores, assim como entre a ciência e a prática, é funda- mental para se entender e compreender a complexidade dos fundamentos da pesquisa científica. A ciência é todo um conjunto de atitudes e atividades racionais, dirigidas ao sistemático conhecimento com objetivo limitado, capaz de ser submetido à verificação [...] A ciência é um conjunto de conhecimentos racionais, certos ou prováveis, obtidos metodicamente, sistematiza- dos e verificáveis, que fazem referência a objetos de uma mesma natureza. (LAKATOS & MARCONI, 1991, p. 80) Logo, na ciência não existe dono da verdade. Aliás, a ver- dade nunca está só com uma pessoa, ciência ou sociedade. Cada sociedade, pessoa e ciência pode se aproximar e contar um pouco de sua leitura momentânea da verdade e da apren- dizagem. Para se chegar a alguma verdade, provisória, sempre se faz necessário a recusa de muitas outras possibilidades. A ciência, portanto, é um processo sem fim, pois em cada momento no- vas descobertas precisam ser superadas. Capítulo 3 Fundamentos da Pesquisa
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