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1 UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ MBA EM GESTÃO ESTRATÉGICA DE PESSOAS Resenha Crítica de Caso Rodrigo Ferreira Queirós Trabalho da disciplina TEORIA DO DESENVOLVIMENTO ORGANIZACIONAL Tutor: Prof. Cesar Augusto L Pinheiro Betim 2020 http://portal.estacio.br/ 2 CIRQUE DU SOLEIL Referências: DELONG, Thomas J; VIJAYARAGHAVAN, Vineeta. Cirque du Soleil. Harvard Business School. Abril, 06, 2006. BRANDÃO, Norma C. C. Gestão de pessoas e Competências. O texto “Cirque du Soleil” de Thomas J. Delong e Vineeta Vijayaraghavan apresenta uma descrição intimista da experiência de gestão de pessoas na trupe circense canadense Cirque du Soleil. A companhia foi iniciada em 1984 a partir da reunião de artistas de rua numa cidade próxima à Quebec. Nos 17 anos que se seguiram a empresa cresceu consideravelmente, ampliando tanto a rentabilidade e valor de mercado assim como a qualidade e diversidade de seus produtos artísticos. Uma das características administrativas mantidas desce o início da empresa é a gestão centraliza. Foram realizadas tentativas de descentralização que se mostraram infrutíferas e ameaçaram uma descaracterização e desmembramento da trupe. O estilo administrativo de Guy Lalibertè (fundador, CEO e diretor-executivo do Cirque du Soleil), que lidava livre e diretamente com os funcionários e restringia o poder de decisão de investidores externos garantiu a manutenção do empreendimento. As principais características da gestão de pessoas realizada pela empresa artística são o bem-estar e o crescimento constante e concomitante da empresa e dos funcionários. O processo de admissão de novos artistas e funcionários considera além do talento as condições sociais, a capacidade em se mantar em constante crescimento profissional, de se relacionar num ambiente pluricultural e a generosidade de permitir que todos possam apresentar suas aptidões nas apresentações. Dentre os exemplos presentados no trabalho são pontuados a contratação de crianças mediante a possiblidade das mesmas serem acompanhadas pelos pais (quando esses existem) que ajudarão no crescimento pessoal das crianças e a admissão de artistas provenientes de regiões isoladas somente em grupo com a finalidade de evitar seu isolamento em meio a equipe. 3 Em se tratando do crescimento profissional, os salários aumentam conforme a empresa cresce com o trabalho do funcionário. Os artistas são incentivados a diversificarem suas técnicas artísticas e podem ascende para cargos de criação artística dos espetáculos. De forma geral, os funcionários da companhia recebiam salários inferiores comparados aos valores pagos pelas demais companhias. No entanto, à medida que a empresa se desenvolveu os salários cresceram. O ambiente de trabalho harmonioso é garantido pela oferta de moradia, alimentação e uma relação próxima entre a equipe gestora e os funcionários onde a primeira oferta suporte pessoal, transmitindo a segurança necessária aos artistas para produzirem seu ofício com a máxima excelência enquanto o segundo permite a existência de uma comunicação facilitada para a resolução de conflitos interpessoais e Uma parte considerável das atividades administrativas da trupe é dispendido com a gestão de pessoas. Martin Dumont, que dirigiu interinamente a turnê “Dralion” nos Estados Unidos afirma gastar metade do tempo de trabalho nessa tarefa. Em seu relato, a diretora de arte Alisson Crawford relembra que seu trabalho incluía adaptar os shows para que mesmo machucados os artistas pudessem participar e se sentirem incluídos na produção do espetáculo, além de posicionar-se ativamente na resolução de conflitos e oferecendo suporte emocional aos artistas. Marc Gagnon, vice presidente operacional, relata a importância de comunicação coorporativa construída tanto pela gerência quanto pelos funcionários e a construção um espírito comunitário entre todos. Dentro dessa perspectiva, as festas são utilizadas como instrumento de alívio das tensões e, mesmo nesse momento de distração, gestão acompanha os funcionários para evitar situações de assédio, brigas e garantir o retorno de todos para suas casas em segurança. Outra estratégia é a integralização da equipe do escritório central em Quebec, utilizando a localização e a organização espacial do prédio. O imóvel está localizado próximo à um dos maiores aterros sanitários da América do Norte. Essa fato por si só orgulha a equipe, uma vez que a presença do escritório foi capaz de modificar a realidade da comunidade carente nos arredores. No que se refere à disposição espacial dos espaços, os estúdios de ensaio e os escritórios permitem que todos possam se ver, se incentivar e compreender que todos são parte integrante dos espetáculos apresentados ao redor do 4 mundo. Outra forma de integralizar a equipe é unir cerimonialmente os funcionários para erguer a tenda do circo antes de se iniciar um novo espetáculo. Mesmo que todos construam o espetáculo, vários funcionários não assistem às apresentações. Por isso, a equipe gestora distribui ingressos e organiza carreatas para os locais onde as apresentações acontecem. Tal estratégia mostra-se tão eficaz que foi capaz de convencer diversos funcionários a desistirem de suas anunciadas demissões. Desta forma, o show produzido por todos se mantem no coração da empresa e daqueles que dela participam por “sentirem a magia do espetáculo”. Por outro lado, Vicent Gagnè, administrador de projetos multimídia, acredita que acompanhar uma turnê melhora a capacidade de gerência realizada a partir do escritório central. Segundo ele, seus colegas que passaram por essa experiência melhoraram sua capacidade de solucionar problemas com rapidez que tornavam-se menos resistentes às mudanças. Gagnon também relata que a experiência de trabalhar no Cirque é incomparável pela experiência de viver em constantemente avaliação e pelo grande reconhecimento e admiração que o público apresenta pela marca e pelo trabalho realizado pela equipe. Segundo ele, as saídas de funcionários ocorrem em decorrência da privação da vida pessoal por um longo, falta de adaptação à rotina de uma turnê ou pela frustração de não conseguir uma promoção pela inexistência de vaga desocupada. O produto, denominação controversa entre artistas e a equipe gestora para designar os espetáculos, entregue pela empresa é o coração da estratégia de marketing. A equipe busca entregar uma experiência única que cativa o espectador que trazem seus amigos para assistir os espetáculos seguintes em decorrência do fascínio causado pelo compartilhamento da própria experiência. Em nome da manutenção da liberdade artística, a empresa mantém o preços dos ingressos em valores não populares, porém acessíveis para pessoas de renda equivalente à Classe média, e um número reduzido de espetáculos. Essa é também uma estratégia de comercialização dos espetáculos que mantém o entusiasmo do público pela escassez. Outro ponto da estratégia é evitar ao máximo a massificação dos shows. Segundo Mario D’Amico, vice-presidente executivo de marketing, a produção seriada de espetáculos compromete a criatividade pela redução dos gastos com a produção e reduz o interesse do público pelo espetáculo. 5 O relato apresentado por Delong e Vijayaraghavan revela um exemplo claro de sucesso da aplicação da Gestão de Pessoas com base na Gestão por Competências. O fator crucial para o sucesso da estratégia é a percepção por parte do COE da companhia da necessidade da adoção de um modelo de gestão específico para o modelo de negócio da trupe. A adoção de um modelo tradicional destruiria o circo por desconsiderar as condições necessárias às competências humanas e técnicas da equipe. Outro fator de grande relevância no êxito da estratégia é sua sinergia com a atual dinâmica da sociedadedo conhecimento, valorizando os saberes dos membros da equipe para a construção do capital intelectual da empresa. Os conhecimentos e as competências técnicas e comportamentais necessárias para a manutenção do negócio estão distribuídos entre todos os funcionários e cada um desses conhecimentos e competências são valorizados, inclusive pela oferta de promoções quando há a existência de vagas compatíveis ao perfil do candidato. Quanto aos conhecimentos e competências técnicas, a trupe oferta e incentiva a constante atualização dos funcionários. Quanto às competências comportamentais a equipe gestora procura ofertar as condições necessárias para que elas se desenvolvam respeitando as especificidades de cada competência. Esse suporte acontece tanto pela oferta de conforto físico e de bem-estar geral, tanto pelo suporte psicológico e na resolução de problemas interpessoais. Outra estratégia assertiva utilizada como metodologia de gestão do Cirque du Soleli é a clareza das competências técnicas e comportamentais necessárias para se alcançar o objetivo esperado dos integrantes. A trupe contrata e mantem em seu quadro somente aqueles que possuem o perfil necessário em seu momento atual. Aqueles que se desligam na companhia podem ser readmitidos caso suas competências sejam adequadas e necessárias em um momento futuro. Desta forma, o Cirque mantêm ao seu modo um banco de talentos de ex-funcionários e, consequentemente, valoriza os conhecimentos trazidos e construídos por essa pessoa. A trupe também aplica de forma eficiente o modelo de Gestão de Competências ao mobilizar com eficiência as competências dos funcionários pela construção do sentimento de pertencimento. Dessa forma, a equipe gestora mantêm o grupo motivado a entregar o seu melhor trabalho, uma vez que todos compreendem que até mesmo a tarefa mais simples e que necessita de menor capacitação técnica é parte essencial para a criação da mágica 6 experienciada pelo público, e por eles mesmos quando assistem ao espetáculo, apresentado no picadeiro. O Cirque du Soleli demonstra na sua prática gestora importância e a eficiência de valorizar o principal patrimônio de qualquer empresa na contemporaneidade: o capital humano e o capital intelectual por eles produzido.
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