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_OS POTENCIAIS DANOS CAUSADOS PELO CRIME DE MOEDA FALSA - Bernardo Bihr Lopes

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COMPLEXO DE ENSINO SUPERIOR DE SANTA CATARINA - CESUSC FACULDADE CESUSC 
CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO
BERNARDO BIHR LOPES
OS POTENCIAIS DANOS CAUSADOS 
PELO CRIME DE MOEDA FALSA
FLORIANÓPOLIS
JUNHO, 2020.
Bernardo Bihr Lopes
OS POTENCIAIS DANOS CAUSADOS 
PELO CRIME DE MOEDA FALSA
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Graduação em Direito da Faculdade CESUSC como requisito à obtenção do título de Bacharel em Direito.
Orientador: Prof. Dr. Ruben Rockenbach Manente
Florianópolis
Junho, 2020.
Bernardo Bihr Lopes
Os Potenciais Danos Causados pelo Crime de Moeda Falsa
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Graduação em Direito da Faculdade CESUSC como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Direito, sendo submetido à Banca Examinadora e considerado aprovado em __/__/____.
_________________________________
Prof. Dr. Ruben Rockenbach Manente
Professor Orientador
_________________________________
Prof. Esp./MSc./Dr. ………………………
Membro da Banca Examinadora
________________________________
Prof. Esp./MSc./Dr. ………………………
Membro da Banca Examinadora
AGRADECIMENTOS
Aproveito a oportunidade para agradecer, em primeiro lugar, a meus pais, Sérgio e Eva, e minha irmã, Mônica, que me apoiaram incondicionalmente até aqui, me incentivando a seguir em frente independentemente dos desafios encontrados pelo caminho, me dando apoio de todas as formas possíveis para que fosse possível a realização desta conquista. 
Também gostaria de agradecer meus chefes, em especial o Dr. Cyd Carlos da Silveira, e colegas de trabalho, por todos os aprendizados que obtive até então e pela excelente experiência de estágio que estou tendo no Poder Judiciário de Santa Catarina.
Nos últimos anos, durante a Faculdade, tive o prazer de conhecer e ter aulas com excelentes professores, aos quais agradeço profundamente por todo o conhecimento que adquiri. Dentre eles, não posso deixar de agradecer especialmente ao Professor Dr. Ruben Rockenbach Manente, pelas memoráveis aulas de Direito Penal e Criminologia, pelo convite que me fez para ser um dos membros fundadores e Coordenador do Núcleo de Execução Penal da Faculdade Cesusc, grupo em que aprendi muito, além da aceitação de meu convite para ser meu orientador do presente trabalho, o qual se tornou bem mais fácil e agradável com suas contribuições.
Agradeço, por fim, à Associação Filatélica e Numismática de Santa Catarina, entidade à qual sou associado desde 2012, bem como a todos os numismatas com quem tive contato desde então e que contribuíram para o desenvolvimento do presente trabalho.
RESUMO
O presente trabalho consiste na análise de como o crime de moeda falsa, previsto no art. 289 do Código Penal, pode causar danos de diversas espécies a nossa sociedade. Busca-se, para tanto, apresentar as características do crime em análise, diferenciando a conduta e o objeto estudado de outras similares (a exemplo do estelionato e da moeda falsificada), fazer uma retrospectiva histórica e legislativa acerca do tema no Brasil, para que seja possível a verificação de como a prática de fraudes envolvendo dinheiro circulante se aperfeiçoou ao longo do tempo. Trabalharemos a Convenção de Genebra de 1929, um dos tratados internacionais que influenciou a redação de nossa norma vigente quanto ao crime de falsificação monetária. Assim, trabalharemos a partir de análise histórica, numismática, jurídica e econômica, utilizando de bibliografia e jurisprudência sobre o tema, verificando como a prática do crime de moeda falsa pode afetar nossa sociedade nos âmbitos econômico, nas relações sociais e nos interesses governamentais acerca do dinheiro circulante em nosso país.
Palavras-chave: moeda falsa; direito penal; fé pública; meio circulante; numismática.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO	8
2 NOÇÕES INTRODUTÓRIAS ACERCA DO CRIME DE MOEDA FALSA	10
2.1 CONCEITOS DE “MOEDA” E “MOEDA FALSA”	11
2.1.1 As moedas virtuais e sua natureza jurídica	12
2.2 PERÍODO COLONIAL E IMPERIAL	13
2.2.1 O conhecimento das primeiras falsificações e seus efeitos no numerário nacional e na legislação	14
2.2.2 Principais técnicas de fraude ao erário utilizadas à época	15
2.2.2.1 O cerceio	15
2.2.2.2 A necessidade de mais numerário e a importação de moeda falsa	16
2.2.2.3 A falsificação monetária interna	17
2.2.3 O ouro e as casas de fundição	19
2.2.3.1 Revolta Felipe dos Santos	21
2.2.3.2 Inconfidência Mineira	22
2.3 A FÉ PÚBLICA DO DINHEIRO NA ÉPOCA COLONIAL E IMPERIAL E A LEGISLAÇÃO APLICADA	23
3 LEGISLAÇÃO E TRATADOS VIGENTES E A PENA NOS CRIMES DE MOEDA FALSA	27
3.1 OS TIPOS DE PENA PREVISTOS EM NOSSO ORDENAMENTO JURÍDICO	27
3.1.1 Pena privativa de liberdade	27
3.1.2 Pena de multa	31
3.1.3 Pena restritiva de direitos	32
3.2 A CONVENÇÃO DE GENEBRA	33
3.3 O CÓDIGO PENAL DE 1940	35
3.3.1 O crime de moeda falsa e o art. 289 do Código Penal	36
3.3.1.1 Ressalvas acerca da aplicabilidade do art. 289 do Código Penal	39
3.3.2 Os crimes assimilados ao de moeda falsa	43
4 O DANO E A INSEGURANÇA POTENCIALMENTE CAUSADOS PELO CRIME DE MOEDA FALSA	45
4.1 O OBJETO JURÍDICO DO CRIME DE MOEDA FALSA	45
4.2 O REAL - MOEDA EM CURSO LEGAL NO BRASIL	46
4.2.1 A elaboração e o contexto histórico de sua implantação	47
4.2.2 A legislação relacionada e órgãos e instituições relevantes	48
4.3 CARACTERÍSTICAS E ELEMENTOS DE SEGURANÇA DO REAL	51
4.4 O CONCEITO DE “DANO”	52
4.4.1 Danos econômicos	53
4.4.2 Danos sociais	54
4.4.3 Danos relacionados aos interesses estatais	55
5 CONCLUSÃO	57
REFERÊNCIAS	59
1 INTRODUÇÃO	
O presente trabalho aborda os potenciais danos causados pelo crime de moeda falsa, previsto no artigo 289 de nosso Código Penal, partindo de uma análise histórica acerca dos meios de fraude e legislações dos períodos colonial e imperial, e estudando a legislação vigente, bem como tratados internacionais que buscam o combate ao referido crime.
O crime de moeda falsa é um crime contra a fé pública, assim previsto no Código Penal, que atenta contra os interesses estatais, e, em segunda ordem, aos interesses sociais, tendo em vista que a sociedade pode ser prejudicada em suas relações comerciais a partir da aludida conduta. 
A falsificação monetária é praticada desde a criação da moeda como meio de pagamento. E tendo em vista o interesse estatal em manter o monopólio e controle sob a produção do dinheiro circulante, a conduta já foi tipificada em diversas épocas, com várias espécies de sanções, como será abordado em nosso estudo. No Brasil, as moedas falsas começaram a circular na mesma época do início da circulação monetária, a partir do início da colonização, ainda no século XVI, já havendo previsões de sanções para a prática do ato pela lei portuguesa aqui aplicável.
Tendo em vista que após mais de 4 séculos de prática do crime de falsificação monetária e criminalização do ato sem sucesso absoluto, como pode-se ver pela jurisprudência recente dos tribunais federais, torna-se importante estudos acerca do tema para que se possa tomar medidas mais adequadas para o combate à prática. Ao final do presente trabalho pretende-se verificar: quais os potenciais danos causados pelo crime de moeda falsa em âmbito social, econômico e no tocante aos interesses estatais?
Para tanto, dividiremos nosso estudo em três capítulos, para facilitar o entendimento acerca do tema, analisando na doutrina e na jurisprudência de tribunais federais e superiores para que possamos chegar à resposta do nosso problema de pesquisa.
Inicialmente, revisaremos as normas vigentes no período colonial e imperial, verificando os meios de fraude ao erário praticados à época, para verificar os avanços que ocorreram, tanto em termos normativos, quanto na falsificação monetária.
Em seguida, adentraremos no estudo da norma atualmente vigente em nosso país, a partir da análise das penas previstas em nosso sistema penal, da análise da Convenção de Genebra de 1929, a qual influenciou a redação do artigo 289 do Código Penal e é considerado ainda hoje um documento importante no tocanteao combate à falsificação monetária.
Ao final, faremos uma breve análise acerca do Real, moeda vigente no Brasil desde 1994 e verificaremos os potenciais danos causados pela conduta de falsificação monetária no âmbito econômico, social, e no tocante aos interesses governamentais relacionados à produção monetária.
2 NOÇÕES INTRODUTÓRIAS ACERCA DO CRIME DE MOEDA FALSA
No presente capítulo teremos como objetivo analisar brevemente os principais conceitos e classificações de relevância para tratar do assunto “crime de moeda falsa”. Serão abordados, assim, os conceitos de moeda e moeda falsa, o conhecimento das primeiras falsificações, as técnicas de fraude ao erário e falsificação utilizadas no período colonial e imperial do Brasil, e as casas de fundição.
Assim, analisaremos, a partir daqui, como a prática do crime de moeda falsa evoluiu ao longo da história de nosso país. Trata-se de um estudo importante, a fim de se verificar os processos históricos envolvendo o fato delituoso, bem como as formas de prevenção e punição utilizadas observando a aplicabilidade da norma vigente à cada época ao fato jurídico.
Paulsen (2018, p. 233-234) afirma que a Constituição atribui à União a função de emitir moeda, tarefa essa que deve ser executada com exclusividade pelo Banco Central, cabendo à Casa da Moeda a emissão das cédulas, moedas, selos postais e fiscais, bem como títulos da dívida pública federal.
O artigo 21, inciso VII, da Constituição da República assim prevê: “Art. 21. Compete à União: (...) VII - emitir moeda.
Já o artigo 48, inciso XIV do mesmo diploma normativo assim dispõe: 
Art. 48. Cabe ao Congresso Nacional, com a sanção do Presidente da República não exigida esta para o especificado nos arts. 49, 51 e 52, dispor sobre todas as matérias de competência da União, especialmente sobre: (...) XIV - moeda, seus limites de emissão, e montante da dívida mobiliária federal.
O artigo 164 da Constituição ainda dispõe que a competência para a emissão de moeda deve ser exercida exclusivamente pelo Banco Central.
Podemos analisar, a partir dos referidos destaques que é interesse da União que a moeda circulante tenha confiabilidade e aceitação por todos no território nacional, cabendo, portanto, à Justiça Federal o julgamento dos crimes relativos aos fatos tipificados em lei envolvendo a matéria.
Observa-se que existe preocupação do Poder Público em tutelar a fé pública em nosso meio circulante buscando garantir maior confiabilidade em nossa moeda e segurança nas relações consumeristas, ao passo que nosso Poder Legislativo tipificou o ato de falsificação monetária em nosso Código Penal no artigo 289. Destaca-se, no entanto, que não basta a existência da lei para que sejam coibidos os tais atos, havendo a necessidade de ampla fiscalização e controle por parte dos entes públicos para coibir a prática do ato delituoso.
2.1 CONCEITOS DE “MOEDA” E “MOEDA FALSA”
A palavra “moeda” pode ser definida com diferentes sentidos, de acordo com o contexto em que estiver sendo utilizada. Entretanto, no presente trabalho, utilizaremos a seguinte definição, feita por Ponciano (2000, p. 23-24):
No sentido jurídico-penal, moeda significa a peça metálica ou o papel moeda emitido pelo Estado, diretamente ou por órgão autorizado, que tenha curso determinado pela lei, no país ou no estrangeiro. O papel-moeda é um papel de crédito público. A moeda metálica é uma peça cunhada em algum tipo de metal. Ambos circulam como moeda por determinação legal e são emitidos pelo Estado ou por banco oficial legalmente autorizado.
A definição da autora foi escolhida na abordagem do presente trabalho por se tratar da mais abrangente e mais próxima à definição utilizada por nossos legisladores para a classificação no tipo penal ao que se enquadra o artigo 289 do Código Penal.
Destaca-se que moedas falsas se distinguem de moedas falsificadas, ao passo em que as primeiras são fabricadas necessariamente no tempo de sua circulação e com o objetivo de ludibriar terceiros no comércio comum. Já as segundas, por sua vez, poderiam ser falseadas a qualquer tempo, e teriam o objetivo de enganar colecionadores. O art. 289 trata somente sobre moedas falsas. As moedas falsificadas, por sua vez, podem ser enquadradas em outros delitos, como por exemplo o estelionato.
No presente trabalho analisaremos somente as moeda falsas e que sejam falsificações-fabricação, ou seja, as peças com o intuito de fraudar o erário à época em que circularam e classificadas pelo crime previsto no artigo 289 do Código Penal atualmente vigente e tenham sido totalmente cunhadas ou fundidas em sua fabricação pelos falsificadores, não tendo sido utilizada outra peça original para sua confecção. 
Segundo art. 289 do Código Penal também são consideradas falsificações para fins de crime todas as peças com valor facial adulterado com o fim de obter vantagem econômica ilícita, a qual trata de falsificação-alteração[footnoteRef:0]. No entanto, por se tratar de uma espécie menos comum de delito, essa não será abordada com profundidade no presente estudo. [0: Classificação de Greco (2017, p. 597-598).] 
2.1.1 As moedas virtuais e sua natureza jurídica
As moedas virtuais, também conhecidas com o nome de criptomoedas, são uma espécie de dinheiro digital. Segundo Pena (2019, p. 01), não há sistema centralizado de controle sobre suas trocas, o que as torna diferentes das moedas reais, que são controladas pelos órgãos competentes, como Banco Central.
A moeda virtual mais conhecida é o bitcoin, mas existem diversas outras, com diferentes cotações e formas de mineração a partir de dados da web. A obtenção dessas moedas pode se dar a partir da compra através de carteiras virtuais, ou da mineração[footnoteRef:1]. Acerca do referido processo, Pena (2019, p. 01) explica: [1: Acerca do processo de mineração, podemos destacar que para sua realização é necessário computador com alta capacidade de processamento. O objetivo da máquina, segundo Massadar (2018, p. 01) é encontrar a chave que criptografa as cadeias de códigos de transações. Quando um minerador encontra um bloco válido, recebe uma recompensa em moedas virtuais.] 
{...} os softwares empregados para garantir a legitimidade das trocas comerciais entre carteiras virtuais necessitam do apoio para conseguirem operar. Dessa forma, tudo o que os mineradores precisam fazer é “emprestar” a capacidade de processamento de seus computadores para manter a cadeia de blocos funcionando corretamente. Quanto maior a capacidade da ajuda, maior é o retorno {...}. (Grifo no original).
No tocante às criptomoedas, podemos destacar que elas não possuem órgão competente ou autoridade vinculada à sua emissão ou fiscalização. Assim, não há o interesse da União em julgar demandas envolvendo tais objetos.
A falsificação de criptomoedas não se enquadra nos crimes previstos no artigo 289 do Código Penal, tendo em vista que esse trata exclusivamente de peças físicas (moeda metálica ou papel moeda). No entanto, é possível tipificar a conduta da seguinte forma:
Evidentemente, tendo os Bitcoins valor econômico, já se tornaram alvo de crimes, os quais são de difícil tipificação tendo-se em vista que não há muitos relatos precisos sobre os modi operandi dos criminosos. Já se falou em falhas sistêmicas que permitiram a transferência não autorizada dos Bitcoins, em estelionatos em razão do pagamento para aquisição de produtos que jamais foram entregues e o simples “desaparecimento” do agente que custodiava as criptomoedas. Resta, portanto, a dúvida se houve furtos, apropriações indébitas, estelionatos ou outros crimes, restando a certeza de que há pessoas sofrendo vultosos prejuízos, com notícias de que as perdas já superaram a casa de um bilhão de Reais. (CRESPO, 2015, p. 01).
Analisando o referido entendimento acerca do tema, vemos que a conduta de falsificar, furtar, ou apropriar-se de forma indevida de criptomoedas alheias pode ser penalizada, porém de acordo com crimes correspondentes (não o de moeda falsa, visto que esse somente é aplicável às peças fisicamentecambiáveis), e é de competência da Justiça Estadual, tendo em vista que não há órgão regulamentador da confecção de moedas virtuais, não havendo, portanto, interesse da União em tutelar tal bem.
2.2 PERÍODO COLONIAL E IMPERIAL
Acerca do período de início da falsificação monetária em nosso país, Pellizari (2018, p. 10) destaca:
A falsificação monetária é uma prática tão antiga quanto à própria criação da moeda como meio de pagamento, que ocorreu quando foi substituído o sistema de escambo (troca de mercadorias), por um meio no qual se atribuiu valor a um ―pedaço de metal, para que através desse fossem realizadas as operações comerciais. Desde essa troca o Estado se encarregou de comandar e monopolizar essa emissão e, consequentemente, o combate a tal crime também se tornou um interesse estatal.
Ao longo do tempo decorrido desde o início das primeiras falsificações monetárias em nosso país, diversas legislações já entraram em vigor para tentar combater a prática, que, no entanto, ainda verifica-se rotineira, a partir de dados da jurisprudência da Justiça Federal, que cotidianamente analisa casos envolvendo crimes de moeda falsa e a ele assimilados.
Em sua obra, Prober (1946, p. 05-13) afirma que desde o início da circulação das primeiras moedas no Brasil são conhecidas técnicas de fraude ao erário das mais diversas, envolvendo desde o cerceio (remoção de metal precioso a partir das bordas da peça para uso próprio), passando por fábricas de moeda clandestina, até encomenda de moedas falsas advindas da Europa, a fim de colocá-las em circulação em nosso território.
Assim, observa-se que os crimes de moeda falsa e a ele assimilados vêm ocorrendo há bastante tempo em nosso país, com diversas técnicas de fraude ao erário, sempre com o objetivo de lucro dos falsificadores. Assim, nos próximos tópicos passaremos a abordar as técnicas utilizadas em cada período histórico de nosso país, e seus efeitos econômicos e legislativos, a fim de fazer um breve contexto histórico acerca desse tema. Isto torna-se essencial para o aprofundamento do estudo com os casos de falsificações atuais, a fim de verificar similaridades e evitar que tenhamos mesmos problemas que em outros períodos históricos.
2.2.1 O conhecimento das primeiras falsificações e seus efeitos no numerário nacional e na legislação
Como visto anteriormente, as primeiras moedas falsas a circularem em nosso território circularam no mesmo período que o início da as primeiras moedas autênticas em nosso país, ou seja, a falsificação de nosso numerário é tão antiga quanto sua existência.
Diversas foram as tentativas de Portugal para coibir as falsificações, desde o período colonial, como por exemplo, a redução do valor facial das moedas, para que se tornasse menos vantajosa sua confecção. Entretanto, como tal medida não surtiu a eficácia almejada e a quantidade e qualidade das falsificações era cada vez superior, o Reino decidiu por autorizar a circulação das moedas falsas, em meados do século XVI, como se legítimas fossem.
Nesse ponto, observa-se que a Coroa tinha a preocupação de que a moeda circulante gozasse de fé pública, de que as emissões fossem mais controladas, entretanto que devido à insistência dos falsários e dificuldades de se distinguir as peças originais das falsas, acabou cedendo, permitindo a circulação das peças inautênticas.
Podemos perceber que desde a época colonial o Brasil adotou alternativas legislativas para tentar diminuir o número de moedas falsas circulantes, sem a devida conscientização da população acerca do tema, de como distinguir as moedas autênticas das falsas e dos transtornos que a falsificação monetária pode causar à economia.
2.2.2 Principais técnicas de fraude ao erário utilizadas à época
Durante o período colonial e imperial, como citado anteriormente, já eram conhecidos diversos métodos de falsificação monetária e de fraude ao erário, os quais contaram com diversos aperfeiçoamentos. A partir desse fato, buscaremos, nos próximos parágrafos, aprofundar nosso estudo acerca de tais técnicas utilizadas, buscando também fazer uma breve explanação acerca da legislação aplicada à época, a fim de contextualizar o leitor acerca da evolução legislativa e histórica, importantes para entender as circunstâncias da falsificação monetária, tanto historicamente, quanto na atualidade.
2.2.2.1 O cerceio
Uma das técnicas utilizadas era o cerceio, segundo a Bentes Coins & Art (2014, p. 01). Tal técnica consistia em aparar o rebordo das moedas de metal nobre, a fim de obter ilicitamente quantidade de metal nobre das moedas em pó. O ato foi praticado por bastante tempo em nosso território, e várias foram as medidas tomadas para tentar coibi-lo, tais como passar a serrilhar o rebordo das circulantes, para que caso fossem cerceadas o ato ficasse evidente; a promulgação de leis que penalizassem, de diversas formas quem praticasse o cerceio, aplicando-se desde a diminuição do valor facial das moedas, chegando ao ponto de serem somente aceitas pelo valor de peso do metal nobre e aplicação de sanções penais para os cerceadores.
Acerca da prática, Prober (1946, p. 07) diz provavelmente foi o modo mais primitivo de ludibriar o Fisco, introduzido no Brasil pelos colonos portugueses. Relata o autor:
Trata-se do seguinte: Os portadores de moedas de prata e de ouro e mais tarde autênticos compradores e açambarcadores de moedas, passavam uma lima fina nos bordos das pelas, retirando por este processo considerável quantidade de limalha de prata e ouro, que então vendiam (PROBER, 1946, p. 07).
O cerceio nem sempre foi facilmente detectável, tendo em vista que a quantidade de metal subtraída das moedas não era, em diversas ocasiões, suficientemente relevante para causar estranheza a quem a recebesse. Assim, o dano e a pessoa que o praticou por muito tempo passaram despercebidos.
Apesar das diversas leis e atos normativos envolvendo o cerceio de moedas no período colonial, a situação continuou ocorrendo, principalmente devido à dificuldade na detecção e na fiscalização de tal ato e da falta de mecanismos mais eficazes para combatê-lo. 
Prober (1946, p. 10-11) afirma que, na época, para evitar o cerceio, diversas medidas foram tomadas pela Coroa Portuguesa, como redução do valor das moedas circulantes conforme seu peso, gravação na borda das peças para que se percebesse mais facilmente que quando a peça fosse cerceada, bem como pena aos que fossem pegos praticando o cerceio.
No entanto, nenhuma dessas medidas funcionou completamente para a normalização da situação, que, segundo a Bentes Coins & Art (2014, p. 01), só veio a ocorrer gradativamente, sobretudo a partir de 1822, com a publicação do Decreto de 17 de junho, o qual determinou que todas as peças cerceadas de ouro fossem recolhidas, sendo pago valor de compensação por peso de metal ao dono. 
Depois dessa época, houve maior controle governamental acerca da situação, as moedas de ouro já não circulavam com tamanha quantidade em nosso território, tendo em vista seu alto valor e o desvio de grandes quantidades desse metal para a Europa e a economia já estava mais estabilizada em nosso território, não sendo o ato praticado com tanta frequência.
2.2.2.2 A necessidade de mais numerário e a importação de moeda falsa
Outro meio comum de fraude ao erário ocorrido desde o período colonial foi a importação de moedas falsas para circulação em nosso território. A prática foi bastante frequente, sobretudo no período colonial, como destaca Pelizzari (2018, p. 17):
O século XVII foi marcado pela abundante circulação de moedas falsas. Tais práticas já eram comuns na Europa, e no Brasil não poderia ser diferente. As moedas eram cunhadas de maneira clandestina no Brasil e fora dele. Sendo introduzidas aqui. A grande parte dessas moedas falsas tinham como procedência outros países. 
Os principais motivos da utilização de tais técnicas de fraude ao erário à época eram a busca por melhoria da condição econômica de nosso território e maior circulação de riqueza, tendo em vista a escassez de moeda circulante e, posteriormente,com as casas de fundição, a tentativa de se esquivar da obrigação de pagar tributos à Colônia, de acordo com a fonte citada no parágrafo anterior.
Com a economia ruim e as dificuldades em nosso território, uma das saídas mais fáceis encontradas para amenizar a situação foi a importação de moeda falsa para que circulasse em nosso território. Destaca-se que a qualidade de cunhagem das peças era tão alta que dificilmente, no comércio comum, se conseguia distinguir as moedas originais cunhadas pela Coroa Portuguesa das moedas falsas adquiridas de países estrangeiros como Peru e Holanda. 
Ressalta-se que na época colonial, devido às condições da economia brasileira, as moedas tinham pouca circulação em nosso território, pois nossa economia tinha base escravagista, havendo, assim, pouca circulação monetária entre a população, sobretudo de moedas de valores elevados.
No entanto, o fato de haver pouca circulação monetária em nosso território e de a economia se restringir ao meio de produção escravista, acabou por desencadear um entrave ao desenvolvimento da economia colonial, e nesse sentido, a elite de nosso território buscava mais moedas em circulação e uma melhora na economia, algo que não ocorria na prática.
2.2.2.3 A falsificação monetária interna
Na época colonial e imperial, apesar de o território brasileiro não poder ser considerado dos territórios mais desenvolvidos, havia pessoas que aqui contavam com tecnologia para confeccionar moedas falsas. Já na época colonial, havia regiões que produziam grande quantidade de moedas falsas para circulação interna, buscando evitar a cobrança de tributos sobre o ouro cobrados pela Coroa Portuguesa.
Um dos locais onde a prática era mais abundante era região da Serra do Paraopeba, tanto que hoje em dia a região tem o nome de Serra da Moeda. Acerca do assunto, podemos analisar o seguinte relato:
No final dos anos de 1720, se estabeleceu no Vale do Paraopeba, aos pés da atual Serra da Moeda, em Minas Gerais, um grupo liderado por Inácio de Souza Ferreira, no intuito de erigir uma fábrica de barras e moedas de ouro falsas. Eram quase 100 homens, entre brancos e negros, nascidos em diferentes partes do império português, que se instalaram ali, naqueles matos ermos e fechados, servindo-lhes a serra do Paraopeba (atual serra da Moeda) de imensa muralha natural. (GUIMARÃES, 2008, p. 01).
Assim, pode-se perceber que, mesmo com a fiscalização da Coroa Portuguesa ocorrida à época, com as altas penas, que previam a morte dolorosa com confisco de todos os bens, várias pessoas se arriscaram para tentar conseguir melhores condições de vida e uma economia mais próspera para nosso território. Para evitar tais penas, o grupo planejou estrategicamente seu plano, como podemos extrair do seguinte trecho:
Foi exatamente para driblar o fisco da Coroa Portuguesa, que foi criada para fazer a Casa de Fundição Falsa, na encosta, da então Serra do Paraopeba. Por volta do ano de 1720, a casa de moedas falsas, passou a funcionar, graças aos cunhos que foram roubados de casas de fundições oficiais da Coroa.
A casa também era conhecida como “Fortaleza”, pois possuía um grande aparato bélico, que mantinha, os vizinhos e curiosos afastados. (MOEDA, p. 01). (Grifos no original).
O grupo estava bem preparado para o trabalho. De acordo com Guimarães (2008, p. 01), sua dissolução só ocorreu no ano de 1731, por ofensivas do ouvidor geral Diogo Cotrim de Souza que ressaltou que a capacidade de cunhagem de moedas do bando podia superar as casas de fundição oficiais.
Guimarães (2008, p. 02) ainda destaca que em outras partes do Brasil houve casos similares ao de Paraopeba. Em São Paulo e no Rio de Janeiro, ex-funcionários das Casas de Fundição utilizaram-se de sua posição para tomarem conhecimento necessário e terem acesso às ferramentas adequadas para cunhagem de moedas, e, com cúmplices, praticaram o crime de moeda falsa. Segundo o autor, inclusive o Governador das Minas à época chegou a se envolver como peça chave para o funcionamento do esquema de cunhagem das peças falsas encobrindo ações ilícitas.
A partir do exposto até então, podemos observar que desde o período colonial as técnicas de fraude ao erário foram bastante diversificadas no território brasileiro. 
A seguir, passaremos a analisar as casas de fundição, sua implantação em nosso território, os interesses da Coroa Portuguesa, o processo de extração do ouro e a situação econômica dos territórios envolvidos à época.
2.2.3 O ouro e as casas de fundição
Segundo Renger (2006, p. 94), a descoberta do ouro no Brasil fora reportada na lápide de Brás Cubas, fundador da cidade de Santos, na qual é possível encontrar os seguintes dizeres “{...} descobriu ouro de metais no ano de 1560 {...} faleceu no ano de 1592”.
A partir da descoberta do metal precioso em nosso território, grandes disputas começaram a ocorrer, a fim de extrair a maior quantidade possível do mineral para importar para a Europa. Com o trecho do artigo de Mendonça e Uchoa (2013, p. 03), podemos ter ideia de quão grande era a procura pelo metal: 
Deu-se início, então, principalmente a partir de 1697, à corrida do ouro. Chegavam, ao Brasil, cerca de dez mil pessoas por ano, e não apenas de Portugal, mas também de várias ilhas do Atlântico. A saída de Portugal para o Brasil chegou a ser proibida, não tendo muita efetividade, entretanto. (Mendonça; Uchoa, 2013, p. 03)
Destaca-se que a Coroa Portuguesa optou, à época por liberar aos colonos portugueses a exploração do ouro, inclusive ofertando mão-de-obra necessária a quem buscasse fazer tal atividade, porém cobrava tributos bastante altos.
A extração do ouro, segundo Chaves (2018, p. 01), podia ser feita de duas maneiras: a lavra, que era a grande extração com ampla utilização de mão de obra escrava; e a faiscação, que consistia na pequena extração feita pelos mineradores, geralmente nos mesmos locais, mas após a lavra. O ouro encontrado no Brasil, segundo o autor, era o ouro de aluvião, predominantemente, localizado ao fundo dos rios.
Sousa (n.d., p. 01) afirma que Portugal enfrentava uma crise econômica forte desde o século XVII, assim teria buscado todos os meios possíveis de arrecadação de impostos no Brasil. O autor destaca que em 1702 teria sido instituída a Intendência das Minas, instituição que objetivava fiscalizar os locais de extração do ouro.
De acordo com Renger (2006, p. 94), o primeiro regimento das Minas foi instituído em nosso território no ano de 1603, normatizando questões como a cobrança de tributos incidentes sobre a extração de ouro, fiscalização das minas por parte de supervisores de confiança da Coroa, bem como a instituição de casas de fundição, a fim de facilitar o controle sobre a mineração.
Apesar da edição de tal documento, a Coroa Portuguesa não ficou satisfeita com os resultados obtidos e os colonos que aqui viviam também não estavam satisfeitos com a alta carga tributária instituída, no entanto, não tinham com o evitar a exploração.
Renger (2006, p. 96) destaca, na mesma obra supracitada, que em 1618 houve a publicação de novo regimento que regulamentou as minas de São Paulo e São Vicente. No documento, afirma o autor, que a Portugal menciona a obrigatoriedade de fiscalização das minas, bem como penas para quem extraísse ouro e não pagasse o tributo em dia.
Na época, a Coroa Portuguesa nomeou diversas pessoas de confiança para cargos de importância na fiscalização das minas. A organização dos estabelecimentos tornou-se bastante complexa, com diversos cargos e funções, a fim de garantir que o trabalho fosse executado de acordo com o estabelecido pela Colônia. De acordo com Costa (2013, p. 113), havia, no ano de 1735, 6 cargos de nomeação instituídos. 
Os cargos supracitados, de acordo com o autor referido foram: a) Intendente; b) Fiscal; c) Tesoureiro; d) Escrivão; e) Meirinho; f) Limpador do Ouro. Cada um deles tinha funções claramente definidas para que todo o trabalho fosse executado de acordo com o determinado pela Coroa. 
No entanto, mesmo com a fiscalização pesada feita pela Colônia, parte consideráveldo ouro extraído em nosso território acabava por ser desviada de forma ilegal, sem ser devidamente quintada. Assim, tendo em vista a dificuldade em tributar a quantidade de ouro extraída, a Coroa passou a tributar a mão de obra e vendas em geral. Segundo Costa (2013, p. 108-114), tal sistema foi adotado entre 1735 e 1750. Tal sistema de tributação ficou conhecido como Capitação.
Sem sucesso à adoção do referido sistema de tributação, a Colônia voltou a adotar o quinto para cobrança de impostos sobre o ouro extraído em nosso território, porém com a possibilidade de derrama, ou seja, cobrança forçada de qualquer contribuinte, até que fosse atingido patamar mínimo instituído.
Observa-se que ao longo do período histórico compreendido entre a descoberta do ouro e o fim do ciclo devido à sua escassez foram adotadas diversas medidas de fiscalização, tributação e prevenção à evasão do metal sem que fosse tributado, todas a fim de gerar riqueza à Colônia.
Tais medidas nem sempre foram bem recebidas pelos colonos que em nosso território viviam. Em alguns casos, causaram revoltas sociais e aumentavam o estímulo por buscas de escapar da alta carga tributária instituída pela Colônia.
Em seguida falaremos acerca das principais revoltas da população contra a exploração aurífera em nosso território, o contexto em que se deram e resultados por elas obtidos, tendo em vista que a Coroa Portuguesa à época do período colonial fiscalizava rigorosamente o território brasileiro a fim de evitar o cometimento de quaisquer atos considerados ilícitos, porém, em diversas ocasiões deixava o povo insatisfeito com a situação econômica e social. Buscaremos verificar o histórico em que os conflitos se deram, analisando os fatores ensejadores das manifestações, para que possamos entender melhor como funcionava a sociedade na época, bem como a Coroa lidava com os problemas tidos em nosso território.
2.2.3.1 Revolta Felipe dos Santos
Segundo Ramos (2005, p. 01), o movimento aconteceu em 1720, no ano seguinte após a implantação de casas de fundição na região de Minas Gerais. A revolta, também conhecida pelo nome de Revolta de Vila Rica foi liderada por Felipe dos Santos e reivindicava o fechamento das casas de fundição, a redução da carga tributária e o fim dos monopólios do fumo, sal, aguardente e gado.
Além do fechamento das Casas de Fundição, outra reivindicação do grupo relacionada à economia era a de maior circulação monetária em nosso país, sobretudo das moedas de ouro, que eram escassas e circulavam somente nas mãos de pessoas de alta classe social. Grande parte das peças cunhadas no nobre metal eram diretamente exportadas a Portugal ou utilizadas para pagamento de dívidas externas.
O movimento ocorrido não foi expressivo, sendo controlado pela Coroa Portuguesa em poucos dias.
Curado (2019, p. 01), afirma que Felipe dos Santos reuniu algumas pessoas, sobretudo comerciantes, em frente ao Palácio do Governador para fazer as reivindicações pretendidas. Diz que a revolta se estendeu por um mês, quando o então Governador, Conde de Assumar, concordou em conceder os pedidos do grupo.
No entanto, logo após a tensão baixar e os rebeldes largarem suas armas, esses foram surpreendidos com uma emboscada montada pelo próprio Governador que havia aceito as propostas. Curado (2019, p. 01), afirma que as residências dos revoltosos foram queimadas a mando do Governo, os envolvidos foram presos, e o líder do movimento (Felipe dos Santos) foi morto.
Após o movimento a situação da fiscalização e cobrança de tributos por parte da Coroa Portuguesa só ficou pior. Ramos (2005, p. 01) afirma que para que a Portugal tivesse mais controle da região, pouco tempo após a revolta foi criada a Capitania de Minas Gerais.
Como resposta às reivindicações da população de maior circulação de moedas de ouro em nosso território, Fritzen (2007, p. 14), relata que no ano 1722 a Coroa Portuguesa cunhou, em Lisboa, para circulação na região das Minas, moedas de valor facial de 20 e 40 réis, em cobre, com a legenda em latim “AES USIBUS APTIUS AURO”, que traduzida ao português significa “o cobre é mais apropriado ao uso do que o ouro”.
2.2.3.2 Inconfidência Mineira
Segundo o Inconfidência (n.d., p. 01), a Inconfidência Mineira, também conhecida como Conjuração Mineira ocorreu no estado de Minas Gerais no ano de 1789 tendo como principal causa derrama, imposto cobrado sobre o ouro, sobre o qual já falamos anteriormente. Afirma ainda a fonte supracitada que tal movimento foi bastante relevante para a sociedade na época, pois significou a luta do povo pela liberdade.
Bezerra (n.d., p. 01) afirma que outros fatos que contribuíram para a revolta foram as ideias iluministas difundidas na época em países europeus e trazidas ao nosso território por estudiosos e a independência dos Estados Unidos, país no qual também houve movimentos contra o sistema fiscal da metrópole.
Assim, observa-se que parte da população tinha anseios de independência e vontade de se ver livre do sistema controlador que a Colônia pregava em nosso território. No entanto, o movimento acabou por não prosperar, como observa-se do seguinte trecho:
Em 18 de maio de 1789, alguns dos inconfidentes foram informados de que a conspiração contra Portugal tinha sido descoberta. O Visconde de Barbacena recebeu seis denúncias a respeito de uma conspiração em curso nas Minas Gerais. A denúncia mais importante foi realizada por Joaquim Silvério dos Reis. (Silva, n.d., p. 01 - grifos no original).
Após as denúncias, Silva (n.d., p. 01) afirma que foi determinada a suspensão da derrama e a prisão e interrogatório de todos os envolvidos. Houve condenações diversas que abrangeram desde degredo até pena de morte. Destaca ainda o autor que a condenação mais conhecida, comentada até os dias recentes é a de Tiradentes, que foi esquartejado e teve as partes de seu corpo espalhadas pela estrada entre o Rio de Janeiro e Minas Gerais e sua cabeça colocada em exposição em praça pública.
Analisando os fatos históricos, observa-se que a Coroa repreendeu fortemente os revoltosos, no entanto, estabeleceu limites mais benéficos à população quanto à cobrança dos tributos, extinguindo a derrama e atendendo, assim, a principal reivindicação do grupo.
2.3 A FÉ PÚBLICA DO DINHEIRO NA ÉPOCA COLONIAL E IMPERIAL E A LEGISLAÇÃO APLICADA
Na época colonial e imperial o dinheiro circulante já deveria gozar de fé pública, cabendo sempre à autoridade competente autorizar sua emissão, bem como determinar o órgão que deveria cunhar as peças para circulação.
Ponciano (2000, p. 43-44), ressalta que já na legislação colonial eram previstas penas bastante graves para os falsificadores de moedas. Quem fosse pego praticando tal ato poderia sofrer pena de morte no fogo e confisco de todos os seus bens.
A legislação vigente no território brasileiro à época era a mesma do território português, tendo em vista a colonização ocorrida aqui. Tal regra se estendia a todas as colônias de Portugal.
As Ordenações Afonsinas, primeiras normas de Portugal que foram aplicadas ao Brasil, já previam a tipicidade para a conduta de falsificar moedas circulantes à época. Observa-se do seguinte trecho:
El Rey Dom Affonso, o quarto de muita louvada memória em seu tempo fez ley em essa forma que se segue.
Se o nosso moedeiro, ou outro, moeda falsa fizerem, e dele forem vencidos, talhem-lhe os pés e as mãos, e percam quanto ouverem (COIMBRA, Ordenações Afonsinas, Livro 5º, Título V).
Assim, observa-se que a Coroa Portuguesa já preocupava-se desde o início da colonização com a conduta da falsificação monetária, procurando instituir leis que desestimulassem sua prática, bem como de outras condutas que causassem dano ao erário, tais, a exemplo do cerceio, sobre o qual já mencionamos anteriormente.
Na legislação editada posteriormente, as Ordenações Manuelinas, foram ampliadas as possibilidades de aplicação de pena para o crime de moeda falsa.
Moeda falsa é cousa muito prejudicial na Republica, e portanto merecem ser gravemente punido os que nisso forem culpados, pelo qual mandamos quetodo aquelle, que falsa moeda fizer, ou a isso der favor, ajuda ou conselho, ou for dello sabedor, e o não descobrir, morra morte natural de fogo, e todos os seus bens sejam confiscados para a Coroa do Reino (COIMBRA, Ordenações Manuelinas, Livro 5º, Título VI).
A legislação supracitada ainda classificou a moeda como falsa se não fosse cunhada a mando da Coroa Portuguesa, mesmo que com material e forma idênticos aos da moeda original. 
As penas graves cabíveis nos crimes de falsificação monetária no período colonial demonstram o quão importante era a garantia de que o dinheiro que circulasse no território português e suas colônias fosse original, tanto pela garantia da ordem econômica e jurídica, tendo em vista que somente à Coroa cabia a cunhagem de moedas, quanto pela arrecadação de tributos advindos dessa atividade.
As Ordenações Filipinas, que também regeram Portugal e suas colônias em período anterior à independência do Brasil e posterior às Ordenações Manuelinas também tipificava a conduta nos seguintes termos:
Moeda falsa he toda aquella, que não he feita per mandado do Rei, em qualquer maneira que se faça, ainda que seja feita daquella materia e forma, de que se faz a verdadeira moeda, que o Rei manda fazer: porque conforme a Direito ao Rei somente pertence faze-la, e a outro algum não, de qualquer dignidade que seja. E por moeda falsa ser cousa muito prejudicial na Republica, e merecem ser gravemente castigados os que nisso forem culpados, mandamos que todo aquelle, que moeda falsa fizer,ou a isso der favor, ajuda ou conselho, ou for dello sabedor, e o não descobrir, morra morte natural de fogo, e todos os seus bens sejam confiscados para a Coroa do Reino . (COIMBRA, Ordenações Filipinas, Livro 5º, Título V)
Observa-se que no período colonial houve, com a evolução da legislação, um endurecimento das penas previstas, bem como maior aplicabilidade a elas nos casos de falsificação monetária. Nas Ordenações Afonsinas a pena não era prevista nos casos de cerceio e a morte era sem utilização de fogo, medida prevista nas ordenações seguintes.
No entanto, destaca-se que todas as Ordenações previram pena de confisco de bens. Tal ação, segundo Pelizzari (2018, p. 14) visava compensar os valores perdidos pela Coroa Portuguesa com a falsificação, assim, sempre foram cumuladas às penas físicas sofridas pelos falsários. 
Com a independência do Brasil, ocorrida em 1822, a situação em nosso país sofreu algumas modificações. Passamos de Colônia de Portugal a ser Império do Brasil, regidos por legislação própria.
Em 1830 foi instituído o primeiro Código Criminal do Brasil independente (Lei de 16 de Dezembro de 1830). Na época o referido diploma também tipificou a conduta de falsificação monetária nos seguintes termos:
Art. 173. Fabricar moeda sem autoridade legitima, ainda que seja feita daquella materia, e com aquella fórma, de que se faz, e que tem a verdadeira, e ainda que tenha o seu verdadeiro, e legitimo peso, e valor intrinseco.
Penas - de prisão com trabalho, por um a quatro annos, e de multa correspondente á terça parte do tempo, além da perda da moeda achada, e dos objectos destinados ao fabrico.
Se a moeda não fôr fabricada da materia, ou com o peso legal.
Penas - de prisão com trabalho, por dous a oito annos, e de multa correspondente á metade do tempo, além da perda sobredita. (BRASIL, 1830)
No caso, observa-se que nosso país deixou de adotar pena de morte para o crime em questão, mas ainda adotou penas graves de prisão com trabalho, multa e confisco da moeda falsa.
O Código Criminal do Império vigorou até 1889, quando houve a ruptura do sistema imperial e o Brasil transformou-se numa República, adotando o sistema governamental utilizado até os dias atuais. No ano seguinte foi editado novo código criminal, que vigorou até o final de 1941, ano em que diploma atual foi editado. Essa norma vigente atualmente será devidamente estudada a partir do próximo capítulo.
3 LEGISLAÇÃO E TRATADOS VIGENTES E A PENA NOS CRIMES DE MOEDA FALSA
No presente capítulo estudaremos as normas atualmente vigentes em nosso país que regulamentam o nosso sistema penitenciário e como elas são aplicáveis ao crime de moeda falsa, os institutos que envolvem tais diplomas e como são interpretados e aplicados, considerando a legislação interna e os tratados internacionais que o Brasil é signatário.
3.1 OS TIPOS DE PENA PREVISTOS EM NOSSO ORDENAMENTO JURÍDICO
No Brasil a legislação prevê para condutas tipificadas na legislação penas privativa de liberdade, restritiva de direitos ou de multa, cabendo a cumulação de mais de uma delas, a depender da previsão legal e do caso concreto.
Segundo Manso (2016, p. 01)
A pena é uma sanção penal, imposta pelo Estado, ao indivíduo que praticou uma conduta tipificada como crime. Tem por finalidade fazer com que esse delinquente pague por sua conduta ilícita, criminosa, com uma pena e como forma de retribuição e a fim de evitar que novos delitos sejam cometidos por outros membros da sociedade, bem como reinserir o condenado ao convívio social.
De acordo com o trecho, podemos perceber que as finalidades do instituto se dividem em evitar o cometimento de futuros crimes, bem como que o indivíduo pague pelo mal que praticou.
Nos próximos tópicos analisaremos de forma breve as espécies de pena previstas em nosso ordenamento jurídico, verificando quando cada uma pode ser aplicada, seus requisitos e objetivos.
3.1.1 Pena privativa de liberdade
A pena privativa de liberdade, também conhecida como pena de prisão é regulamentada pelos artigos 674 a 685 do Código de Processo Penal e, a depender do crime e das circunstâncias em que o fato ocorreu, pode ocorrer em três regimes: o fechado, no qual o reeducando cumpre a sanção em presídio de segurança máxima ou média; o semiaberto, no qual o detento cumpre a reprimenda em colônia penal agrícola ou estabelecimento similar; e o regime aberto, no qual o preso tem a possibilidade de frequentar trabalho ou cursos durante o dia e deve recolher no período noturno.
Os regimes iniciais de cumprimento são fixados na sentença penal condenatória de acordo com o crime cometido e as circunstâncias do fato delituoso. Há possibilidade de progressão de regime, a depender do tempo de pena cumprido (requisito objetivo) e do comportamento do reeducando (requisito subjetivo), a fim de buscar sua reinserção na sociedade de forma gradual e segura. Tais dados são analisados pelo juiz da execução, de acordo com as informações observadas ao longo do cumprimento da sanção.
Também pode existir a regressão de regime, prevista no art. 118 da Lei de Execução Penal, nos casos em que o reeducando, durante o cumprimento da pena praticar fato definido como crime doloso ou falta grave ou sofrer condenação por crime anterior, cuja pena somada ao restante da pena em execução torne incabível o regime.
A fixação da pena privativa de liberdade deve ser feita em 3 fases pelo magistrado, seguindo os critérios estabelecidos pelo Código Penal, os quais explanaremos brevemente nos próximos parágrafos. 
Na primeira fase, deve ser fixada a pena-base, que deve ter como critério o art. 59 do Código Penal e não pode ser menor que a pena mínima, nem maior que a pena máxima cominada prevista para o fato típico previsto. São analisadas pelo magistrado 8 circunstâncias que podem aumentar ou diminuir o tempo de pena, desde que dentro dos limites legais. São elas: a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social, a personalidade do agente, os motivos as circunstâncias, as consequências do crime e o comportamento da vítima. Não há regra definida por lei acerca de como o juiz deve quantificar o aumento ou diminuição por cada uma dessas circunstâncias, no entanto, é estabelecido que deve haver fundamentação para qualquer uma dessas condutas. Destaca-se que o ponto de partida para o cálculo da pena é a pena mínima in abstrato para a conduta praticada. Inexistindo circunstâncias desfavoráveis, a pena-base deve permanecer no mínimo legal ao final da primeira fase. O rol de circunstâncias do art.59 é exaustivo, não podendo o juiz aumentar ou diminuir a pena na primeira fase por outro motivo se não um dos ali elencados.
Na segunda fase, o juiz deve considerar as agravantes e atenuantes previstas nos artigos 61 e 62 e 65 e 66 do Código Penal, respectivamente. Elas são de aplicação obrigatória, porém não se pode cumular uma qualificadora com a mesma agravante, pois isso viola o princípio do non bis in idem. As agravantes são descritas no Código Penal de forma taxativa, enquanto as atenuantes, admitem extensão do rol previsto. Eis o que diz o Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (2019, p. 01).
As agravantes genéricas prejudiciais ao réu estão previstas nos arts. 61 e 62 do Código Penal em rol taxativo, não se admitindo analogia in malam partem. Contrariamente, as atenuantes genéricas, favoráveis ao acusado, encontram-se descritas em rol exemplificativo.
Ou seja, para a aplicação das atenuantes, o magistrado não precisa restringir-se às previstas no rol do art, 65 do Código Penal. O próprio artigo 66 do referido diploma diz que havendo circunstância relevante, anterior ou posterior ao crime, embora não prevista em lei, a pena poderá ser atenuada.
Na terceira e última fase, o juiz deve atentar-se às causas de diminuição ou aumento de pena. Tais hipóteses não são encontradas em rol taxativo, podendo ser encontradas tanto na Parte Geral, quanto na Parte Especial do Código Penal. De acordo com Cera (2011, p. 01), ao efetuar o cálculo da pena na terceira fase dosimétrica, o juiz não precisa respeitar o mínimo e o máximo da pena cominada em abstrato para a fixação, podendo ser a reprimenda, dessa forma, fixada abaixo do mínimo legal cominado previsto para o tipo penal ou acima do máximo por ele previsto. A autora ainda destaca que a própria lei fixa o quantum a ser diminuído ou aumentado. Exemplo pode ser encontrado no artigo 121, § 1º, do Código Penal, o qual prevê causa de diminuição de pena nos seguintes termos: “§ 1º Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral, ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço”.
De acordo com a gravidade do crime cometido e a previsão legal aplicável, a pena de prisão prevista pode ser de reclusão, detenção, ou prisão simples (caso a infração seja uma contravenção penal). Todas implicam no encarceramento do delinquente, porém a reclusão pode prever cumprimento de pena inicial no regime fechado, semiaberto ou aberto, e a detenção pode prevê-lo somente nos dois últimos, cabendo a aplicação da regressão de regime (nos casos elencados no art. 118, incisos I e II e § 1º da Lei de Execução Penal. 
Já a prisão simples prevê o cumprimento de pena somente nos regimes aberto e semiaberto, não havendo assim, o rigor penitenciário. As regras norteadoras de cumprimento da sanção condenatória no aludido regime são elencadas no art. 6º da Lei de Contravenções Penais (Decreto-lei nº 3688/41):
Art. 6º A pena de prisão simples deve ser cumprida, sem rigor penitenciário, em estabelecimento especial ou seção especial de prisão comum, em regime semi-aberto ou aberto. 
§ 1º O condenado a pena de prisão simples fica sempre separado dos condenados a pena de reclusão ou de detenção.
§ 2º O trabalho é facultativo, se a pena aplicada, não excede a quinze dias.
No regime aberto, devido à falta de estabelecimentos adequados para o cumprimento de pena e altos custos envolvidos, é comum que o apenado trabalhe ou estude durante o dia e se recolha em sua própria residência no período noturno e em dias de folga. O juiz designa o local de recolhimento no ato da sentença, bem como demais condições que devem ser cumpridas pelo apenado.
O art. 52 da Lei de Execução Penal prevê o Regime Disciplinar Diferenciado, cabível a presos provisórios ou definitivos, desde que tenham cometido crime doloso e causem subversão ou risco à ordem jurídica interna do estabelecimento prisional, cabendo ainda sua aplicação nos casos em que haja fundada suspeita de participação do preso em organização criminosa. O aludido regime poderá ter duração máxima de 02 anos, podendo haver renovação da sanção caso haja cometimento de outra falta grave ao longo do período de cumprimento de pena. O reeducando deve é alojado em cela individual, tendo direito a visita quinzenal de até duas pessoas sem contato físico e monitoradas pelos agentes de segurança, pelo período máximo de duas horas, e tem direito a somente duas horas diárias de banho de sol. A lei ainda prevê que o conteúdo de sua correspondência pode ser revistado pelos agentes.
Há um ponto importante ainda não mencionado sobre a pena privativa de liberdade, o qual foi destaque no artigo de Silva, Azevedo e Rosa (2015, p. 01): “O preso conserva todos os direitos não atingidos pela perda da liberdade, impondo-se a todas as autoridades o respeito à sua integridade física e moral. Art. 38, CP. Tais direitos encontram-se do artigo 40 aos 43 da LEP”.
Ou seja, mesmo durante o cumprimento de pena privativa de liberdade, o reeducando possui todos os outros direitos constitucional e legalmente garantidos a ele, desde que que não confrontem os princípios adotados pelo regime punitivo em que se encontre.
3.1.2 Pena de multa
A pena de multa é aplicável quando expressamente prevista para o tipo penal em análise e tem suas regras gerais descritas nos artigos 49 a 52 do Código Penal. Ela pode ser prevista e aplicada de forma isolada, cumulada à pena de prisão, ou de forma alternativa à pena de prisão, a depender do crime em análise e do caso concreto.
COIMBRA (2008, p. 01) destaca os principais pontos da referida sanção:
A pena de multa, também conhecida como pena pecuniária, é uma sanção penal (não é tributo), consistente na imposição ao condenado da obrigação de pagar ao fundo penitenciário determinada quantia em dinheiro, calculada na forma de dias-multa, atingindo o patrimônio do condenado.
Podemos analisar, de acordo com o destaque, que, diferentemente da pena privativa de liberdade, que visa atingir o corpo e a mente do reeducando, a multa visa atingir seu patrimônio, sendo tal arrecadação revertida ao fundo penitenciário, de acordo com o art. 49 do Código Penal. 
Coimbra (2008, p. 01) ainda ressalta o entendimento jurisprudencial de que a multa deve ser fixada pelo magistrado em duas fases, as quais explanaremos brevemente em seguida.
A primeira fase consiste na análise das circunstâncias judiciais previstas no art. 59 do Código Penal e o magistrado deve fixar um número de dias-multa entre 10 e 360, de acordo com as o resultado obtido. Ou seja, quanto mais favoráveis as circunstâncias ao acusado, mais próximo a 10 deve ser o número de dias-multa fixado na sentença.
Na segunda fase, o juiz deve fixar um valor entre 1/30 e 5 vezes o maior salário mínimo mensal vigente à época dos fatos para o pagamento. 
O valor deve ainda ser atualizado por índices de correção monetária. Acerca do tema, Prado (2016) assevera: 
A execução será coercitiva.
O art. 51 do Código Penal, após a alteração dada pela Lei nº 9.268/1996, passou a considerar que transitada em julgado a sentença condenatória, a multa será considerada dívida de valor, aplicando-se-lhe as normas da legislação relativa à dívida ativa da Fazenda Pública, inclusive, no que concerne às causas interruptivas e suspensivas da prescrição.
É, portanto, vedado converter a pena de multa em pena privativa de liberdade.
Ou seja, a pena de multa deve ser cumprida com prestação pecuniária, cabendo ajuizamento de execução fiscal em caso de não-cumprimento da obrigação fixada pelo juízo.
O pagamento voluntário pode ser efetuado em até 10 dias após a intimação do réu acerca do trânsito em julgado da sentença penal condenatória.
A depender do caso concreto, considerando as condições financeiras do réu e após a oitiva de parecer do Ministério Público, o magistrado poderá conceder pedido do condenado para que o pagamento seja efetuado em parcelas mensais.
A cobrança dos valores devidos poderáser efetuada diretamente através de descontos em folha de pagamento, caso o condenado esteja trabalhando de forma registrada e em liberdade, desde que os valores não incidam sobre recursos indispensáveis ao sustento próprio e de sua família.
3.1.3 Pena restritiva de direitos
A pena restritiva de direitos é prevista nos arts. 43 a 48 do Código Penal e consiste na privação de direitos do condenado em detrimento da privação da liberdade.
De acordo com o Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (2018, p. 01), a pena restritiva de direitos é uma espécie de pena alternativa, tendo em vista que em vez de cumprir pena restritiva de liberdade, o condenado pode, cumpridos os requisitos legais, sofrer somente a limitação de alguns direitos como forma de cumprimento de pena.
Os tipos de restrição de direitos cabíveis para são determinados pelo juiz e devem ser enquadrados no rol de incisos do art. 43 do Código Penal, que assim dispõe:
Art. 43. As penas restritivas de direitos são:
I - prestação pecuniária; 
II - perda de bens e valores; 
III - limitação de fim de semana. 
IV - prestação de serviço à comunidade ou a entidades públicas; 
V - interdição temporária de direitos; 
VI - limitação de fim de semana. 
Assim, podemos ver que há diversos tipos de sanções que podem ser previstas como alternativas para cumprimento à pena privativa de liberdade, porém, a substituição dessa somente cabe se a pena fixada não for superior a 4 (quatro) anos e não tenha havido prática de violência ou grave ameaça no ato criminoso; se o ato tiver sido praticado de forma culposa, independentemente da pena fixada; se o réu não for reincidente em crime doloso e se o réu não tiver maus antecedentes.
Diferentemente da pena de multa, as penas restritivas de direito não podem ser cumuladas com pena privativa de liberdade (salvo nos casos expressamente previstos em lei), no entanto é possível sua cumulação com a de multa, conforme previsto nos parágrafos do art. 44 do Código Penal.
Na sentença o juiz deve fazer a fixação da pena privativa de liberdade, observando todos os critérios a ela estabelecidos pelo Código Penal, e ao final, preenchidos os requisitos já mencionados, proceder à substituição dessa por uma ou mais medidas restritivas de direito, conforme o caso concreto.
A substituição da pena é obrigatória aos casos em que é cabível, sendo vedada ao juiz a prática de qualquer ato discricionário quanto a esse ponto.
Pode existir, ainda, a “substituição da substituição”, assim chamada por Delmanto et al. (2015, art. 43, item 4.2), que consiste no fato de que a prestação pecuniária pode ser substituída por prestação de outra natureza, conforme o art. 43, § 2º do Código Penal, desde que haja concordância do beneficiário.
3.2 A CONVENÇÃO DE GENEBRA
Em 20 de abril de 1929 foi realizada em Genebra (cidade da Suíça), uma convenção que reuniu líderes mundiais de diversas nações e discutiu a repressão à falsificação de moedas em âmbito internacional. O Brasil ratificou a referida Convenção por meio do Decreto nº 3.074 de 14 de setembro de 1938.
O documento considera “moeda” tanto as moedas metálicas como o papel-moeda (cédulas) que tenham curso legal, segundo o art. 2º.
A Convenção prevê em seu art. 3º que devem ser punidos os atos fraudulentos de falsificação e adulteração de moeda, quaisquer que sejam os meios utilizados para a obtenção do resultado; a introdução dolosa de moeda falsa em circulação; os atos destinados à colocação em circulação de moedas sabidamente falsas; as tentativas dos referidos atos, bem como os de participação internacional; e os atos fraudulentos de fabricar, receber, bem como a obtenção de instrumentos ou objetos destinados à fabricação de moeda falsa ou alteração de moedas. 
O documento previu em seu art. 5º que não deveria haver distinção entre as penas para falsificação de moeda nacional ou estrangeira, desde que em curso legal. Tal situação ocorreu para que todos os países apoiassem o combate à falsificação monetária de forma recíproca.
O art. 9º da Convenção estabeleceu que os estrangeiros que tenham cometido no exterior os atos previstos no art. 3º e se encontrarem em território de outra nação cuja legislação admita a o princípio da perseguição de infrações cometidas no estrangeiro, devem ser punidos como se houvessem cometido o ato no território desse país. A obrigação de perseguição ocorre após a negativa de extradição por razões não relacionadas com o ato praticado.
Há previsão, conforme o art. 10, de que a prática de qualquer das infrações previstas no art. 3º, já anteriormente mencionadas, podem causar a seu autor sua extradição do território estrangeiro onde se encontre, devendo essa ser concedida de acordo com o direito do país requerido.
A Convenção regulamenta ainda que todos os instrumentos e objetos utilizados na cunhagem de moedas falsas, bem como as próprias peças, devem ser devidamente apreendidos e confiscados, devendo ser remetidos ao governo ou banco de emissão monetária quando requisitadas, devendo permanecer fora de uso.
Há, no art. 12, regulamentação sobre a pesquisa acerca do tema “moeda falsa”, devendo essa ser organizada numa repartição central que tenha contato com os órgãos emissores, as autoridades policiais e as repartições centrais de outros países, devendo centralizar as informações acerca do tema buscando facilitar a pesquisa, prevenção e repressão ao crime de moeda falsa. 
Observa-se que a Convenção de Genebra de 1929 impôs uma série de regras para a tipificação da conduta, aplicação de pena, regulamentando diversas questões importantes sobre o tema, visando maior controle estatal e diminuição do número de moedas falsas em circulação, com maior padronização da estratégia a ser adotada para combate ao crime.
O pacto supracitado foi bastante relevante para a regulamentação do tema em nosso Código Penal de 1940, legislação penal vigente até os dias atuais no Brasil sobre a qual passaremos a analisar mais a fundo nos próximos tópicos.
3.3 O CÓDIGO PENAL DE 1940
O Código Penal atualmente vigente em nosso país foi publicado em 7 de dezembro de 1940, entrando em vigor em 1º de janeiro de 1942. 
Segundo Rocha (2019, p. 01), o objetivo do referido diploma normativo é estabelecer regras de caráter punitivo, a fim de sancionar e desestimular a prática de condutas que atentem contra o tecido social.
Nosso Código Penal é dividido em duas partes: a Parte Geral, que prevê conceitos gerais sobre crime, aplicação das penas, prescrição, dentre outros conceitos relevantes para a área do Direito Penal; e a Parte Especial, que conta com a tipificação de diversas condutas, com suas devidas descrições e penas cominadas.
Martins (2014, p. 01) afirma que existem 3 teorias acerca da função da pena: a Absoluta, que acredita na pena como um castigo, sendo somente uma consequência/resposta Estatal pelo ato delituoso praticado; a Relativa, que acredita na pena como uma forma de prevenir novos delitos; e a mista, unificadora ou eclética, que aderiu a ambas as teorias, pregando que a pena possui tanto a finalidade de retribuir ao infrator o mal por ele causado, mas também de prevenir outros crimes.
Ainda há, segundo Martins (2014, p. 01), uma subdivisão da Teoria Relativa. Ela pode contemplar a prevenção geral, que visa que terceiros ao verem a punição sendo aplicada sejam desestimulados a praticar o ato delituoso; ou especial, que consiste na reeducação do delinquente, buscando com que ele não volte a cometer o mesmo ato.
Nosso Código adotou a teoria eclética, ou seja, nosso sistema penal deveria, segundo os princípios legais, ter como base a pena não somente como uma resposta ao infrator, mas também um método ressocializador, tendo em vista que após o tempo de cumprimento, o retorno à sociedade ocorrerá.
A seguir passaremos a analisar os principais artigos que tratam acerca do crime de moeda falsa no Código Penal Brasileiro, verificando como nosso sistema prevê sanção ao fato delituoso em estudo.
3.3.1 O crime de moeda falsa e o art. 289 do Código Penal
O Crime de moeda falsa é tratadopor nosso Código Penal em seu artigo 289. O referido dispositivo trata acerca de diversos assuntos no que tange à falsificação monetária, tendo a seguinte redação:
Art. 289 - Falsificar, fabricando-a ou alterando-a, moeda metálica ou papel-moeda de curso legal no país ou no estrangeiro:
Pena - reclusão, de três a doze anos, e multa.
§ 1º - Nas mesmas penas incorre quem, por conta própria ou alheia, importa ou exporta, adquire, vende, troca, cede, empresta, guarda ou introduz na circulação moeda falsa.
§ 2º - Quem, tendo recebido de boa-fé, como verdadeira, moeda falsa ou alterada, a restitui à circulação, depois de conhecer a falsidade, é punido com detenção, de seis meses a dois anos, e multa.
§ 3º - É punido com reclusão, de três a quinze anos, e multa, o funcionário público ou diretor, gerente, ou fiscal de banco de emissão que fabrica, emite ou autoriza a fabricação ou emissão:
I - de moeda com título ou peso inferior ao determinado em lei;
II - de papel-moeda em quantidade superior à autorizada.
§ 4º - Nas mesmas penas incorre quem desvia e faz circular moeda, cuja circulação não estava ainda autorizada.
Como podemos observar, o caput do referido dispositivo nos traz a conduta de falsificação monetária com possibilidade de fabricação ou alteração da peça a ser circulada. A alteração, como já mencionado no tópico 2.1 do presente trabalho, trata-se de prática menos rotineira, consistindo na mudança de características de moedas já circulantes para que pareçam ter maior valor, ou subtrair parte de seu material. Já a fabricação, trata-se de prática mais comum, que consiste na produção integral da peça a ser posta em circulação, sem que se use como base outra moeda circulante.
Ainda pode-se destacar que se da alteração de uma moeda ocasionar-se diminuição de seu valor ou alteração somente em outras imagens da peça, o entendimento é de que não configura-se o crime, tendo em vista que não há nenhum potencial enriquecimento do autor do fato.
A conduta tipificada no caput do artigo 289 do Código Penal e sua pena cominada seguiram o disposto no artigo 5º da Convenção de Genebra, como já vimos no tópico 3.2, tendo em vista que o tratado internacional veda que os países estabeleçam penas diferenciadas para conduta de falsificação de moeda circulante nacional ou estrangeira, devendo, dessa forma, ambas as condutas terem penas equivalentes. No Brasil, a pena pode variar de 3 a 12 anos de reclusão e multa, a depender das circunstâncias da prática do fato.
Segundo Ponciano (2000, p. 56), para que seja caracterizada a falsificação, não é necessário que a peça seja idêntica a uma original, porém, é preciso que seja capaz de ludibriar o homem médio, classificado pela autora como pessoa atenta e vigilante, mas que não seja exímia conhecedora da área.
O sujeito ativo capaz de praticar a conduta prevista no caput do art. 289 do Código Penal pode ser qualquer pessoa, tendo em vista que se trata de um crime comum, não exigindo, assim, características especiais do agente para que o pratique.
Ponciano (2000, p. 58) afirma que há dois sujeitos passivos na conduta tipificada. O primeiro é o Estado, tendo em vista que ele deve ter controle acerca das moedas produzidas. O segundo é a pessoa que recebeu a moeda falsa como se autêntica fosse.
Para a caracterização do crime, é necessário que haja dolo na conduta do agente. Ou seja, ele deve ter a vontade livre e consciente de falsificar a moeda, sabendo que essa tem curso legal no Brasil ou no exterior.
França (2013, p. 15) afirma que o crime de moeda falsa é formal, não exigindo, assim, a produção de efeito concreto para sua caracterização, bastando, o dano potencial que a conduta oferece. Podemos ressaltar que a tentativa é punível, tendo em vista o dano potencial que a ação poderia causar.
Pellizzari (2018, p. 62) destaca os objetivos da criminalização da falsificação monetária: 
Criminalizar tal conduta leva a credibilidade na autenticidade da moeda e na segurança de sua circulação. O dinheiro tem papel fundamental nas relações comerciais, econômicas e sociais, e por tanto, o Estado deve protegê-lo, já que a falsificação causa sérios danos às relações elencadas. 
Assim, podemos analisar pelo referido trecho que a criminalização das condutas elencadas no art. 289 do Código Penal busca, sobretudo, a segurança monetária e estabilidade nas relações econômicas e comerciais.
O parágrafo 1º do artigo 289 do Código Penal refere-se ao ato de importar, exportar, adquirir, vender, trocar, ceder, emprestar, guardar ou introduzir em circulação moeda falsa. Para a caracterização do ato típico, também é necessário que haja dolo na conduta do agente. 
Ponciano (2000, p. 67) ressalta que as condutas tipificadas no parágrafo 1º do art. 289 também admitem tentativa, tendo em vista que é possível sua realização em diversas etapas até a execução.
O parágrafo 2º do art. 289 do referido dispositivo trata de uma conduta considerada menos grave que as anteriores, tendo em vista que o agente que a pratica recebe a moeda como se verdadeira fosse e após descobrir acerca de sua falsidade a repassa, a fim de evitar prejuízo próprio. Para a caracterização da conduta, Ponciano (2000, p. 75) destaca ser necessário que o agente tenha recebido a moeda sem que saiba de sua falsidade; restitua-a à circulação e tenha conhecimento acerca da falsidade após o recebimento da peça, mas antes de restituí-la ao mercado.
A tentativa da conduta anteriormente mencionada é possível, caso por circunstâncias alheias à sua vontade o agente não consiga repassar a moeda falsa após saber se tratar de peça desse tipo.
O parágrafo 3º do Código Penal tipifica a conduta de fabricação de moeda em desconformidade às determinações legais, sendo elas as características de qualidade/peso para as moedas e quantidade para as cédulas. O crime em questão, é dessa forma um crime funcional, tendo em vista que somente um funcionário de instituição que emite moeda pode praticá-lo. O sujeito passivo é o Estado, tendo em vista que o ato descrito tem potencial para prejudicá-lo, bem como à sociedade.
Ponciano (2000, p. 83) afirma que para a caracterização da conduta anteriormente descrita não é necessário que o agente proceda com o intuito de lucro, bastando que tenha consciência de que esteja praticando ato em desacordo com a determinação que lhe foi imposta.
Por fim, o parágrafo 4º tipifica a conduta da colocação em circulação de moeda ainda não autorizada. O crime não é próprio, pois qualquer pessoa pode praticá-lo, desde que tenha acesso às moedas. Destaca-se que a moeda referida nesse parágrafo não é falsa, mas legalmente autorizada e fabricada, apenas sem autorização para ser posta em circulação no momento da prática do ato. Não é necessária a percepção de lucro ou qualquer vantagem para a tipificação, bastando que o agente saiba que a circulação da peça ainda não estava autorizada.
Em seguida passaremos a uma breve análise sobre questões que envolvem a aplicação do art. 289 do Código Penal com entendimentos doutrinários e jurisprudenciais acerca do tema.
3.3.1.1 Ressalvas acerca da aplicabilidade do art. 289 do Código Penal
Em que pese o art. 289 do Código Penal tipifique a conduta de falsificação monetária, o dispositivo não é aplicável a todas as condutas que envolvam a prática. O entendimento jurisprudencial é de que nos casos em que a moeda a ser repassada for incapaz de enganar o homem médio, ou seja, pessoa atenta, mas sem especialidade no assunto, não há de ser julgado o fato a partir do art. 289 do Código Penal, mas sim pela conduta de estelionato, prevista no art. 171 do mesmo dispositivo, que assim prevê:
Art. 171 - Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento:
Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa, de quinhentos mil réis a dez contos de réis
Sobre o crime de estelionato, podemos destacar que para sua ocorre mediante uma fraude que pode levar a vítima ao engano. Conforme Rocha (2018, p. 01) “(...)o estelionato, para que se configure, necessita de ter a obtenção da vantagem indevida e que causa um prejuízo a outrem, um prejuízo alheio”. O autor afirma que o resultado do crime é duplo, pois deve haver busca por uma vantagem indevida de uma parte ou terceiro, enquanto a outra parte deve sofrer prejuízo. A conduta somente existe na forma dolosa, ou seja, o agente deve praticar o ato de forma consciente, assumindo os riscos e sabendo que está tendo uma vantagem ilícita em desfavor de outrem.
Tal crime por vezes pode gerar certa confusão com o crime de moeda falsa, a depender da qualidade da falsificação, como podemos observar do julgado a seguir: 
Competência. Falsificação grosseira de cédula de hum mil cruzeiros. II. A imitação grosseira, perceptível "ictu oculi", não configura o delito de falsificação de moeda. Hipótese que caracteriza, em tese, a tentativa de estelionato. III. Conflito negativo de jurisdição conhecido, para declarar competente a justiça comum. (CJ 6271, Relator(a): Min. THOMPSON FLORES, Tribunal Pleno, julgado em 12/11/1980, DJ 05-12-1980 PP-10355 EMENT VOL-01195-01 PP-00035 RTJ VOL-00098-03 PP-00991).
O entendimento foi consolidado pela Súmula 73 do Superior Tribunal de Justiça, publicada em 20/04/1993, a qual enuncia: “A utilização de papel moeda grosseiramente falsificado configura, em tese, o crime de estelionato, da competência da Justiça Estadual”.
Ou seja, caso a falsificação seja grosseira, perceptível pelo homem médio, não há de se falar em crime de moeda falsa, mas em possível estelionato, tendo em vista a posição consolidada da doutrina e jurisprudência nesse sentido. A competência para o julgamento do fato passa a ser, dessa forma, da Justiça Estadual.
Ainda é importante destacar que, segundo julgado do Supremo Tribunal Federal, a tipificação do estelionato não é cabível nos casos em que a falsificação for demasiadamente grosseira, a ponto de não ser capaz de ludibriar terceiros. Extrai-se da ementa a seguir:
EMENTA: HABEAS CORPUS. PENAL. MOEDA FALSA. FALSIFICAÇÃO GROSSEIRA. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. CONDUTA ATÍPICA. ORDEM CONCEDIDA. 1. O crime de moeda falsa exige, para sua configuração, que a falsificação não seja grosseira. A moeda falsificada há de ser apta à circulação como se verdadeira fosse. 2. Se a falsificação for grosseira a ponto de não ser hábil a ludibriar terceiros, não há crime de estelionato. 3. A apreensão de nota falsa com valor de cinco reais, em meio a outras notas verdadeiras, nas circunstâncias fáticas da presente impetração, não cria lesão considerável ao bem jurídico tutelado, de maneira que a conduta do paciente é atípica. 4. Habeas corpus deferido, para trancar a ação penal em que o paciente figura como réu.
(HC 83526, Relator(a): Min. JOAQUIM BARBOSA, Primeira Turma, julgado em 16/03/2004, DJ 07-05-2004 PP-00035 EMENT VOL-02150-02 PP-00271)
O caso em análise, trata-se de Habeas Corpus em que o paciente foi denunciado pela conduta descrita no art. 289, § 1º do Código Penal, ao guardar, junto a outras cédulas, nota falsa de cinco reais. Após a realização de exames periciais, foi constatado que a falsificação poderia ser considerada de péssima qualidade, sendo incapaz de ser confundida como cédula autêntica, no meio circulante.
Assim, tendo em vista que a falsificação se tratava de falsificação grosseira, a conduta não se enquadrava no crime de moeda falsa. Ademais, em seu voto, o Ministro Joaquim Barbosa considerou que não estariam presentes, no caso os requisitos para enquadramento do fato como estelionato, quais sejam: “(i) emprego de artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento; (ii) induzimento ou manutenção da vítima em erro; (iii) obtenção de vantagem patrimonial ilícita em prejuízo alheio”.
O Ministro utilizou-se da posição de que a cédula estaria guardada em cofre na residência do paciente, e que, assim, inexistiria a aplicação de emprego de artifício, ardil, ou meio fraudulento, bem como a obtenção de vantagem patrimonial ilícita em prejuízo alheio. No tocante ao segundo requisito mencionado anteriormente, ele destacou que não houve vítima na conduta, e que a falsificação de péssima qualidade não seria meio idôneo para manter alguém em erro.
Nesse caso, considerando que a cédula encontrava-se dentre outras verdadeiras, não houve tentativa de colocação em circulação e era de valor inexpressivo, o Ministro entendeu que caberia a aplicação do princípio da insignificância, como pode-se ver do trecho do voto abaixo colacionado:
{...} é importante ressaltar que a nota, grosseiramente falsificada, única, dentre várias outras verdadeiras, apresenta o ínfimo valor de cinco reais. De acordo com o princípio penal da insignificância, tal fato não constitui lesão significativa que mereça, dentre tantas outras ofensas a bens jurídicos relevantes, a atenção do aparato judiciário penal. 
Ao final, o Ministro teceu considerações no sentido de que o fato seria considerado atípico, e verificaria-se, assim, a inépcia da ação, com a aplicação do princípio anteriormente mencionado. 
O recurso foi deferido por unanimidade de votos na primeira turma do Supremo Tribunal Federal, com julgamento em 16/03/2004.
Considera-se esse um caso excepcional, tendo em vista que diferentemente dos demais casos mais recentes o STF reiteradamente veio demonstrando a inaplicabilidade do princípio da insignificância ao delito de falsificação monetária, independentemente do valor envolvido, devido ao objeto da fé pública, que atingida pelo fato, como passa-se a analisar a seguir.
Diferentemente do que ocorre com o crime de furto, mesmo em casos em que o valor em moedas falsas apreendido na prática delituosa seja irrisório, é inviável, segundo a doutrina e a jurisprudência recente, a aplicação do princípio da bagatela, ou insignificância, tendo em vista que o bem jurídico tutelado é a fé pública e supera os interesses individuais dos diretamente envolvidos. Podemos ver o entendimento do Supremo Tribunal Federal a partir do seguinte trecho:
Ementa: Recurso ordinário em habeas corpus. Moeda falsa. Inaplicabilidade do princípio da insignificância. 1. A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal consolidou-se no sentido de que não se aplica o princípio da insignificância a fatos caracterizadores do crime de moeda falsa. 2. Recurso a que se nega provimento. (RHC 107959, Relator(a): Min. ROBERTO BARROSO, julgado em 08/10/2014, publicado em PROCESSO ELETRÔNICO DJe-199 DIVULG 10/10/2014 PUBLIC 13/10/2014)
No caso ilustrado pela referida ementa, o acusado foi detido pela tentativa de repasse de 4 cédulas de 50 reais falsas, totalizando 200 reais, e entendeu-se que pela característica do crime praticado, ou seja, o caráter supraindividual da conduta, não haveria de ser aplicado o princípio da insignificância por causa da violação à fé pública causada pelo ato praticado.
A seguir passaremos ao estudo dos crimes assimilados ao crime de moeda falsa, condutas tipificadas nos artigos 290 a 292 do Código Penal e que por não serem o objeto central de nosso estudo não serão abordados com a mesma profundidade que abordamos o art. 289.
3.3.2 Os crimes assimilados ao de moeda falsa
Além das condutas já analisadas anteriormente e tipificadas no art. 289, os artigos seguintes de nosso Código Penal criminalizam condutas relacionadas à falsificação monetária.
O art. 290 criminaliza ações que busquem a reutilização de cédulas já descartadas pelo Banco Central, como por exemplo a formação de cédula a partir de fragmentos de cédulas verdadeiras já recolhidas ou o suprimento de sinais de inutilização de tais cédulas. A pena para a conduta é de 2 a 8 anos e multa, exceto quando cometida por funcionário que trabalha na repartição onde o dinheiro encontre-se recolhido ou a ela tenha fácil acesso, caso em que a pena aumenta para até 12 anos. É necessário, além do dolo na conduta do agente, que a peça seja apta a circular como se verdadeira fosse e enganar terceiros. É necessário que haja dolo do agente para a classificação no tipo penal, devendo ele agir de maneira livre e consciente

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