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24/08/2020 FISIOPATOLOGIA II Aula 6 – Dr.Rafael Sanches Patologia do Estômago Os distúrbios do estômago são causa frequente de doenças clínicas, em que lesões inflamatórias e neoplásicas são particularmente comuns. Nos Estados Unidos, as doenças relacionadas ao ácido gástrico são responsáveis por quase um terço de todos os cuidados médicos gastos com doenças GI. Além disso, a despeito de uma incidência decrescente em certas localidades como os Estados Unidos, o câncer gástrico permanece como uma das principais causas de morte pelo mundo. O estômago é dividido em quatro regiões anatômicas principais: a cárdia, o fundo, o corpo e o antro. A cárdia e o antro são revestidos principalmente por células foveolares secretoras de mucina que formam as pequenas glândulas. As glândulas antrais são similares, mas também contém células endócrinas, tais como as células G, que liberam gastrina para estimular a secreção luminal de ácido pelas células parietais dentro do fundo e do corpo gástricos. As glândulas bem desenvolvidas do corpo e do fundo também contêm células principais que produzem e secretam enzimas digestivas, tal como a pepsina. Doenças do estômago > Inflamatórias > Neoplásicas Frequência elevada na população. Sistema de saúde > PS/ Ambulatório/ Exames de Imagem Irrigação sanguínea deriva do Tronco Celíaco e seus ramos. Circulação Esplâncnica. Secreção de HCl Luz gástrica (pH ácido) – enzima pépticas > digestão (dipeptídeos, tripeptídeos e aminoácidos) – fatores protetores da mucosa. Caso Clínico Mulher 50 anos, comerciante, procedente de Osasco QD: Dor abdominal há 2 meses HMA: paciente com quadro de dor abdominal em região epigástrica há 2 meses em queimação associado a eructações e pirose retroesternal. Refere uso frequente de antiácidos e omeprazol com melhora parcial do quadro. Antecedente Pessoais o Hérnia de Disco→Uso frequente de diclofenaco de sódio para dor lombar o Tabagista 25 anos/maço. Etilismo aos finais de semana (4 latas de cerveja) o Pai falecido por Câncer Gástrico Exame Físico Anti-inflamatório queimação 2 o PA 130X80mmHg, FC 84 bpm, FR 18 irpm, Temp Axilar 36,5oC o Abdome plano, ruídos hidroaéreos presentes, timpânico a percussão e dor a palpação profunda da região epigástrica Qual diagnóstico sindrômico mais provável do caso apresentado? A) Gastrite Aguda B) Síndrome Metabólica C) Pancreatite Aguda D) Síndrome Dispéptica Qual exame complementar ajudaria no diagnóstico etiológico? A) Ultrassom de Abdome Total B) Endoscopia Digestiva Alta C) Tomografia Computadorizada de Abdome D) Hemograma Completo Esôfago o Esôfago com calibre normal e trajeto sem alterações. o Mucosa encontra-se íntegra e de aspecto normal em todo o órgão. o Transição esofagogástrica encontra-se junto ao pinçamento diafragmático. o Não observamos hérnia hiatal, varizes, úlcera, neoplasia ou processo infeccioso. Estômago o Estômago com boa expansibilidade à insuflação e anatomia preservada. o Lago mucoso límpido, sem restos alimentares. Pregueado mucoso trófico. o Mucosa encontra-se com discreto enantema na região antral. o Visibiliza-se em parede anterior de corpo, pólipo séssil com superfície lisa, medindo 0,2 cm Polipectomia. o Piloro centrado, com diâmetro normal. Duodeno o Bulbo duodenal apresenta-se sem deformidade, com mucosa de aspecto normal. o Segunda porção encontra-se sem alterações. o Obs.: teste de urease para pesquisa de Helicobacter pylori (corpo e antro) - negativo. colhido material para exame Obs.: teste de uréase para pesquisa de Helicobacter pylori (corpo e antro) – negativo colhido material para exame anatopatológico. Gastrite X Gastropatia Gastrite o Processo Inflamatório da Mucosa Gástrica o Lesão primária – limitasse à muscoa; quando associada a doenças inflamatórias sistêmicas, infecciosas ou não, o processo pode estender-se às demais camadas do órgão. o Presença de neutrófilos → GASTRITE AGUDA - Pode haver processo patológico de destruição de células epiteliais, as células tronco presentes se diferenciam e substituem essas células. Se for uma destruição mais crônica e profunda, pode não conseguir fazer essa regeneração 3 Gastropatia o Afecções gástricas de evolução aguda ou crônica sem componente inflamatório evidente, representado por fenômenos degenerativos e regenerativos do epitélio, secundário a agressões químicas. o Fenômenos degenerativos e regenerativos secundário a agressões químicas. o De início, as observações sobre esse grupo de lesões foram feitas em pacientes gastrectomizados, a partir de estudos endoscópico e histológico da mucosa gástrica de boca anastomótica em contato com refluxo biliar; algum tempo depois, tais lesões foram descritas também em estômagos intactos, passando a ser chamadas gastrite de refluxo. o As gastropatias podem ser agudas, quando predominam lesões degenerativas, ou crônicas, quando prevalecem alterações regenerativas. As gastropatias crônicas associadas a agressão química são ainda pouco conhecidas. Morfologia o Lâmina própria o Edema moderado e congestão vascular leve; o Epitélio superficial intacto > hiperplasia das células foveolares (muco); o Proliferação epitelial o Neutrófilos > Gastrite Aguda A gastrite aguda é um processo inflamatório da mucosa transitória, que pode ser assintomático ou causar graus variáveis de dor epigástrica, náusea e vômito. Em muitos casos graves pode haver erosão da mucosa, ulceração, hemorragia, hematêmese, melena ou, raramente, perda sanguínea massiva. Patogenia. O lúmen gástrico é fortemente acídico com um pH próximo de 1, mais do que um milhão de vezes mais ácido do que o sangue. Esse ambiente hostil contribui para a digestão, mas também tem o potencial de danificar a mucosa gástrica. Múltiplos mecanismos têm evoluído para proteger a mucosa gástrica. A mucina secretada pelas células foveolares da superfície forma uma camada fina de muco que evita que partículas grandes de comida toquem diretamente o epitélio. A camada de muco também promove a formação de uma camada “inerte” de fluido sobre o epitélio que protege a mucosa e tem pH neutro como resultado da secreção do íon bicarbonato pelas células epiteliais da superfície. Finalmente, o rico suprimento vascular da mucosa gástrica libera oxigênio, bicarbonato e nutrientes enquanto remove o ácido que foi difundido de volta para a lâmina própria. A gastrite aguda ou crônica pode ocorrer como consequência do rompimento de um desses mecanismos protetores. Por exemplo, a síntese reduzida de mucina nos idosos foi sugerida como um dos fatores que podem explicar sua susceptibilidade aumentada à gastrite. As drogas anti- inflamatórias não esteroidais (DAINEs) podem interferir na citoproteção normalmente fornecida pelas prostaglandinas ou reduzir a secreção de bicarbonato, qualquer um dos quais aumenta a susceptibilidade da mucosa gástrica à injúria. Similarmente, a injúria gástrica que ocorre nos pacientes urêmicos e naqueles infectados com H. pylori secretora de uréase pode ser decorrente da inibição dos transportadores gástricos de bicarbonato pelos íons amônio. A ingestão de químicos agressivos, particularmente ácidos ou bases, tanto acidentalmente quanto por uma tentativa de suicídio, também resulta em injúria gástrica grave, predominantemente como resultado da injúria direta da mucosa epitelial e das células estromais. A injúria celular direta também é implicada na gastrite em função de consumo excessivo de álcool, DAINEs, terapia radioativa e quimioterapia. Já que toda a superfície da mucosa gástrica é substituída a cada 2 a 6 dias, inibidores mitóticos, incluindo aqueles usados na quimioterapia do câncer, causam danos generalizados à mucosa em razão da regeneração epitelial insuficiente. Finalmente, a liberação de oxigênio diminuída pode explicar a incidência aumentada de gastrite aguda em altas atitudes. 4 Morfologia.Histologicamente, gastrite aguda leve pode ser difícil de reconhecer, já que a lâmina própria apresenta apenas um edema moderado e uma congestão vascular leve. A superfície epitelial fica intacta, embora neutrófilos espalhados possam estar presentes entre as células epiteliais ou dentro das glândulas mucosas. Em contraste, uma abundância de linfócitos ou de plasmócitos sugere uma doença crônica. A presença de neutrófilos acima da membrana basal em contato direto com células epiteliais é anormal em todas as partes do trato GI e significa uma inflamação ativa. Este termo é preferido à inflamação aguda, já que a inflamação ativa pode estar presente tanto nos estados agudo ou crônico da doença. Com danos mucosos mais graves, erosões e hemorragia se desenvolvem. Uma erosão denota perda do epitélio superficial, gerando um defeito na mucosa que é limitado à lâmina própria. Esta é acompanhada por um infiltrado neutrofílico pronunciado dentro da mucosa e um exsudato purulento contendo fibrina no lúmen. A hemorragia pode ocorrer e causar pontos escuros na mucosa anteriormente hiperêmica. A erosão e a hemorragia simultâneas são chamadas de gastrite hemorrágica erosiva aguda. Grandes áreas da superfície gástrica podem estar desnudas, embora o envolvimento seja tipicamente superficial. Quando as erosões se estendem profundamente, elas podem progredir para úlceras. Gastrite Crônica Em contraste à gastrite aguda, os sintomas associados à gastrite crônica são tipicamente menos graves, porém mais persistentes. Náusea e desconforto abdominal superior podem ocorrer, algumas vezes com vômito, mas a hematêmese é incomum. A causa mais comum de gastrite crônica é a infecção com o bacilo Helicobacter pylori. Antes da aceitação do papel central da infecção por H. pylori na gastrite crônica, outros irritantes crônicos, incluindo estresse psicológico, cafeína e o uso de álcool e tabaco foram considerados as principais causas de gastrite. A gastrite autoimune, causa mais comum de gastrite atrófica, representa menos de 10% dos casos de gastrite crônica em pacientes sem infecção por H. pylori. Etiologias menos comuns incluem injúria por radiação, refluxo biliar crônico, injúria mecânica e envolvimento por doença sistêmica, tais como a doença de Crohn, amiloidose ou doença do enxerto-versus-hospedeiro. o Processo inflamatórios da mucosa gástrica com infiltrados de leucócitos mono e polimorfonucleares. o Proporção e intensidade variável; o Podem ser classificadas pela morfologia, topografia ou etiologia 5 Gastrite por H.Pylori Estes bacilos espiralados ou curvados estão presentes nas amostras de biópsias gástricas de quase todos os pacientes com úlceras duodenais e na maioria dos indivíduos com úlceras gástricas e gastrite crônica. A infecção aguda por H. pylori não produz sintomas suficientes a ponto de requerer a atenção médica na maioria dos casos; é a gastrite crônica que, por fim, leva o indivíduo a buscar tratamento. Os organismos H. pylori estão presentes em 90% dos indivíduos com gastrite crônica afetando o antro. Além disso, o H. pylori tem papéis importantes em outras doenças gástricas e duodenais. Por exemplo, a secreção aumentada de ácido que ocorre na gastrite por H. pylori pode resultar em doença da úlcera péptica, e a infecção por H. pylori também confere um risco aumentado de câncer gástrico. Epidemiologia. Nos Estados Unidos, a infecção por H. pylori está associada a pobreza, superpopulação doméstica, educação limitada, etnia afro-americana ou méxico-americana, residência em áreas rurais e nascimento fora dos Estados Unidos. Em áreas com alta prevalência, a infecção é adquirida na infância e persiste por décadas, explicando a correlação direta entre a taxa de colonização e a idade do paciente. O modo de transmissão do H. pylori não está bem definido, mas os humanos são os únicos hospedeiros conhecidos, tornando as vias oral-oral, fecal-oral e de espalhamento pelo ambiente as rotas de infecção mais prováveis. O organismo relacionado Helicobacter heilmannii causa uma doença similar e tem reservatórios em gatos, porcos e primatas não humanos. Enquanto as diferenças morfológicas entre os organismos H. pylori e H. heilmannii são sutis, o reconhecimento da infecção por H. heilmannii pode ser importante, já que isso pode incitar o tratamento de animais domésticos para prevenir uma reinfecção do companheiro humano. Patogenia. A infecção por H. pylori é a causa mais comum da gastrite crônica. A doença se apresenta mais frequentemente como uma gastrite predominantemente antral com alta produção de ácido, a despeito da hipogastrinemia. O risco da úlcera duodenal é aumentado nesses pacientes e, na maioria, a gastrite é limitada ao antro, com envolvimento ocasional da cárdia. Em um subgrupo de pacientes, a gastrite progride para envolver o corpo gástrico e o fundo. Esta pangastrite está associada a atrofia mucosa multifocal, secreção reduzida de ácido, metaplasia intestinal e risco aumentado de adenocarcinoma gástrico. Os organismos H. pylori se adaptaram ao nicho ecológico fornecido pelo muco gástrico. Embora o H. pylori possa invadir a mucosa gástrica, isso não está evidente histologicamente, e a contribuição da invasão para a doença não é conhecida. Quatro características estão ligadas à virulência do H. pylori: o Flagelos, os quais permitem que a bactéria seja móvel no muco viscoso. o Urease, a qual gera amônia da ureia endógena e assim eleva o pH gástrico local. o Adesinas que acentuam sua aderência bacteriana à superfície das células foveolares. o Toxinas, tais como a citotoxina de associação com o gene A (CagA), que pode estar envolvida no desenvolvimento de úlcera ou câncer por mecanismos fracamente definidos. Embora os mecanismos pelos quais o H. pylori causa gastrite não sejam completamente entendidos, está claro que a infecção resulta na produção aumentada de ácido e na ruptura dos mecanismos de proteção das mucosas gástrica e duodenal normais. A gastrite por H. pylori é, portanto, o resultado de um desequilíbrio entre as defesas das mucosas gastroduodenais e forças danificadoras que se superam essas defesas. Ao longo do tempo, a gastrite antral crônica por H. pylori pode progredir para uma pangastrite, resultando em gastrite atrófica multifocal. Os mecanismos subjacentes que contribuem para essa progressão não estão claros, mas as interações entre o hospedeiro e a bactéria parecem ser críticas. Por exemplo, os polimorfismo particulares no gene que codifica a citocina pró-inflamatória interleucina-1β (IL-1β) se correlacionam com o desenvolvimento da pangastrite após a infecção por H. pylori. Os polimorfismos no TNF e em uma variedade de outros genes associados à resposta inflamatória também influenciam o resultado clínico na infecção por H. pylori. A gravidade da doença também pode ser influenciada pela variação genética entre as linhagens de H. pylori. Por exemplo, o gene CagA, um marcador para a ilha de patogenicidade de aproximadamente 20 genes, está presente em 50% de todos os isolados de H. pylori, mas em 90% dos isolados de H. pylori encontrados em populações com risco de câncer gástrico elevado. Morfologia. As amostras de biópsias gástricas geralmente demonstram o H. pylori em indivíduos infectados. O organismo está concentrado no muco superficial que recobre as células epiteliais nas regiões da superfície e do colo. A distribuição pode ser irregular, com áreas de colonização pesada adjacentes àquelas com poucos organismos. Em casos extremos, os organismos formam um tapete nas superfícies luminais das células foveolares e mucosas do colo, e podem até mesmo se estender para dentro das criptas gástricas. Os organismos são mais facilmente demonstrados com uma variedade de colorações especiais. O H. pylori mostra um tropismo pelo epitélio gástrico e geralmente não é encontrado em associação com a metaplasia intestinal 6 gástrica ou com o epitélio duodenal.No entanto, o H. pylori pode estar presente nos focos de metaplasia pilórica no duodeno cronicamente injuriado ou na mucosa do tipo gástrica no esôfago de Barrett. Dentro do estômago, os H. pylori são geralmente encontrados no antro. Embora haja uma boa concordância entre a colonização do antro e da cárdia, a infecção da cárdia ocorre em baixas taxas. Os H. pylori são incomuns na mucosa oxíntica (produtora de ácido) do fundo e do corpo, exceto na colonização pesada. Logo, uma biópsia antral é preferida para a avaliação da gastrite por H. pylori. Quando vista endoscopicamente, a mucosa antral infectada por H. pylori é geralmente eritematosa e tem uma aparência grosseira ou mesmo nodular. O infiltrado inflamatório geralmente inclui números variáveis de neutrófilos dentro da lâmina própria, incluindo alguns que cruzam a membrana basal para assumir uma localização intraepitelial e se acumulam no lúmen das criptas gástricas para criar os abscessos das criptas. Além disso, a lâmina própria superficial inclui um grande número plasmócitos, frequentemente em grupos ou lâminas, e número aumentado de linfócitos e macrófagos. Neutrófilos intraepiteliais e plasmócitos subepiteliais são características da gastrite por H. pylori. Quando intensos, os infiltrados inflamatórios podem criar pregas rugosas espessadas, que mimetizam as lesões infiltrativas iniciais. Uma gastrite por H. pylori com longa duração pode se estender e envolver o corpo e o fundo, e a mucosa pode se tornar atrófica. Os agregados linfoides, alguns com centros germinativos, estão frequentemente presentes e representam uma forma induzida de tecido linfoide associado à mucosa, ou TLAM, que tem um potencial de se transformar em linfoma. Características Clínicas. Além da identificação histológica dos organismos, diversos testes diagnósticos têm sido desenvolvidos, inclusive testes sorológicos não invasivos para anticorpos para H. pylori, detecção bacteriana fecal e o teste da respiração de ureia baseado na geração de amônia pela urease bacteriana. As amostras de biópsia gástrica também podem ser analisadas pelo teste rápido da urease, cultura bacteriana ou detecção de DNA bacteriano por PCR. Tratamentos eficazes para a infecção por H. pylori incluem combinações de antibióticos e inibidores de bombas de prótons. Indivíduos com gastrite por H. pylori geralmente melhoram após o tratamento, embora possam ocorrer reincidências após a erradicação incompleta ou a reinfecção. O desenvolvimento de vacinas profiláticas e terapêuticas ainda está no estágio inicial de desenvolvimento. A doença da úlcera péptica, uma complicação da gastrite crônica por H. pylori. Gastrite Autoimune A gastrite autoimune é responsável por menos de 10% dos casos de gastrite crônica. Em contraste ao que é causado pelo H. pylori, a gastrite autoimune tipicamente poupa o antro e inclui uma hipergastrinemia. A gastrite autoimune é caracterizada por: o Anticorpos para células parietais e fatores intrínsecos que podem ser detectados no soro e nas secreções gástricas. o Concentração sérica de pepsinogênio I reduzida. o Hiperplasia de células endócrinas antrais. o Deficiência de vitamina B12. o Secreção defeituosa de ácido gástrico (aclorídria). Patogenia. A gastrite autoimune está associada a perda de células parietais, as quais são responsáveis pela secreção de ácido gástrico e fator intrínseco. A ausência da produção de ácido estimula a liberação de gastrina, resultando na hipergastrinemia e hiperplasia das células G antrais produtoras de gastrina. A falta do fator intrínseco Gastrite Crônica de Antro o Aumento secreção de ácido gástrico local o Risco para formação de ulcera gástrica em antro e duodeno Gastrite Atrófica Multifocal o Gastrite atrófica multifocal→redução células parietais→diminuição secreção ácido →metaplasia intestinal→risco adenocarcinoma gástrico 7 desabilita a absorção ileal de vitamina B12, levando à deficiência de B12 e à anemia megaloblástica de início lento (anemia perniciosa). A concentração sérica de pepsinogênio I reduzida resulta da destruição de células principais. Em contraste, embora o H. pylori possa causar hipoclorídria, ele não está associado a aclorídria ou anemia perniciosa, porque os danos das células parietais e principais não são tão graves como na gastrite autoimune. Inicialmente pensou-se que os anticorpos para componentes das células parietais, mas predominantemente a H+,K+-ATPase, ou bomba de prótons, e o fator intrínseco estivessem envolvidos na patogenia da gastrite autoimune. No entanto, isso é improvável, porque nem o fator intrínseco secretado nem a bomba de prótons orientada para o lúmen estão acessíveis aos anticorpos circulantes, e a transferência passiva destes anticorpos não produz gastrite em animais experimentais. É mais provável que as células T CD4+ direcionadas contra os componentes das células parietais, incluindo a H+,K+-ATPase, sejam os principais agentes da injúria. Isso é fundamental pela observação de que a transferência das células T CD4+ reativas para H+,K+-ATPase em camundongos normais resulta em gastrite e produção de anticorpos contra H+,K+-ATPase. Não há evidência de uma reação autoimune às células principais, sugerindo que estas tenham sido perdidas em virtude da destruição das glândulas gástricas durante o ataque autoimune às células parietais. Se a destruição autoimune for controlada pela imunossupressão, as glândulas podem repovoar, demonstrando que as células-tronco gástricas sobrevivem e são capazes de se diferenciar em células parietais e principais. Morfologia. A gastrite autoimune é caracterizada por dano mucoso difuso da mucosa oxíntica (produtora de ácido) dentro do corpo e do fundo. Geralmente não há danos ao antro e à cárdia ou são danos leves. Com atrofia difusa, a mucosa oxíntica do corpo e do fundo se apresenta notavelmente reduzida, e as pregas rugosas são perdidas. Se a deficiência de vitamina B12 for grave, ocorre hipertrofia nuclear (mudança megaloblástica) nas células epiteliais. Os neutrófilos podem estar presentes, mas o infiltrado inflamatório é mais frequentemente composto de linfócitos, macrófagos e plasmócitos. Agregados linfoides podem estar presentes. As plasmócitos da lâmina própria superficial da gastrite por H. pylori estão geralmente ausentes, e a reação inflamatória é geralmente mais profunda e centralizada nas glândulas gástricas. A perda de células parietais e principais pode ser extensiva. Quando a atrofia é incompleta, ilhas residuais da mucosa oxíntica podem dar a aparência de múltiplos pequenos pólipos ou nódulos. Pequenas elevações da superfície podem estar aparentes, e estas se correlacionam com áreas de metaplasia intestinal, caracterizada pela presença de células caliciformes e células absortivas colunares. A hiperplasia de células endócrinas antrais que se desenvolve na maioria dos pacientes pode ser difícil de avaliar nos cortes corados com H&E, já que as células endócrinas, também referidas como células semelhantes à enterocromafinas (CSE), não são facilmente reconhecidas. A hiperplasia corre paralelamente ao grau de atrofia mucosa e é uma resposta fisiológica à produção reduzida de ácido. Ao longo do tempo, a hipergastrinemia pode estimular a hiperplasia das células endócrinas no fundo e no corpo. Raramente, esta pode progredir até formar tumores pequenos, multicêntricos, neuroendócrinos de baixo grau ou carcinoides. Características Clínicas. Anticorpos para células parietais e fator intrínseco estão presentes no início do curso da doença. A progressão para atrofia gástrica provavelmente ocorre ao longo de duas a três décadas, e a anemia é vista somente em alguns poucos pacientes. Graças ao início lento e à progressão variável, os pacientes são geralmente diagnosticados somente após terem sido afetados por muitos anos. A idade média no diagnóstico é de 60 anos. As mulheres são levemente mais afetadas do que os homens.A anemia perniciosa e a gastrite autoimune estão geralmente associadas a outras doenças autoimunes, inclusive a tireoidite de Hashimoto, diabetes melito dependente de insulina (tipo I), doença de Addison, falha ovariana primária, hipoparatireoidismo primário, doença de Graves, vitiligo, miastenia grave e síndrome de Lambert- Eaton. Essas associações, juntamente com a concordância em alguns gêmeos monozigóticos e o agrupamento de doenças em famílias, dão respaldo à predisposição genética. Geralmente, cerca de 20% dos parentes de indivíduos com anemia perniciosa também têm gastrite autoimune, embora eles possam ser assintomáticos. A 8 despeito da forte influência genética, a gastrite autoimune permanece à parte de outras doenças autoimunes, visto que há poucas evidências da ligação à alelos HLA específicos. A apresentação clínica pode estar ligada a sintomas de anemia. Além disso, a deficiecia de vitamina B12, pode causar glorsite atrófica, na qual a língua se torna lisa e fortemente vermelha, megaloblastose epitelial e diarreia de má absorção. A deficiência de vitamina B12 também pode causar neuropatia periférica, lesões da medula espinal e disfunção cerebral. Alterações neuropáticas incluem desmielinização, degeneração axonal e morte neuronal. As manifestações mais frequentes de neuropatia periférica são as parestesias e o entorpecimento. As lesões espinais também podem estar associadas a mistura de perda de sentido de vibração e posição, ataxia sensorial com sinal de Romberg positivo, fraqueza dos membros, espasticidade e respostas plantares extensoras. As manifestações cerebrais variam de alterações leves de personalidade e perda de memória até psicose. Contrariamente à anemia, as alterações neurológicas não são revertidas pela terapia de reposição de vitamina B12. Doença do Estresse da Mucosa Doença Ulcerosa Péptica Está mais frequentemente associada à gastrite crônica hiperclorídrica induzida por H. pylori, a qual está presente em 85% a 100% dos indivíduos com úlceras duodenais e em 65% com úlceras gástricas. A presença da gastrite crônica pode ajudar a distinguir as úlceras pépticas da gastrite erosiva aguda ou úlceras de estresse, já que a mucosa adjacente à úlcera é geralmente normal nas duas últimas condições. A DUP pode ocorrer em 9 qualquer porção do trato GI exposto aos sucos acídicos gástricos, mas é mais comum no antro gástrico e na primeira porção do duodeno. A DUP pode ocorrer também no esôfago como resultado da DRGE ou da secreção de ácido gástrico pela mucosa gástrica ectópica. A mucosa gástrica no divertículo de Meckel pode resultar em ulceração péptica da mucosa adjacente. A DUP é comum e está classificada em quarto lugar tanto nas visitas médicas anuais quanto nos custos entre todas as doenças GI. Nos Estados Unidos, o risco de desenvolver úlcera durante a vida é de aproximadamente 10% em homens e de 4% em mulheres, as ultimas são tipicamente afetadas durante ou após a mesopausa. Patogenia. Os desequilíbrios das defesas mucosas e as forças danificadoras que causam a gastrite crônica também são responsáveis pela DUP. Logo, a DUP geralmente se desenvolve em segundo plano em relação à gastrite crônica. A infecção por H. pylori e o uso de DAINEs são as principais causas subjacentes da DUP e ambos comprometem as defesas mucosas enquanto causam danos à mucosa. Embora mais de 70% dos indivíduos com DUP sejam infectados por H. pylori, pouco menos de 20% dos indivíduos infectados por H. pylori desenvolvem úlcera péptica. A hiperacidez gástrica que impulsiona a DUP pode ser causada por infecção por H. pylori, hiperplasia das células parietais, respostas secretórias excessivas ou inibição prejudicada de mecanismos estimulatórios, tal como a liberação de gastrina. Por exemplo, a síndrome de Zollinger-Ellison, na qual há múltiplas ulcerações pépticas no estômago, duodeno e mesmo no jejuno, é causada pela liberação descontrolada de gastrina por um tumor e a produção massiva de ácido resultante. Os cofatores mais comuns na ulcerogênese péptica incluem uso crônico de DAINEs, que causa irritação química direta enquanto suprime a síntese de prostaglandinas necessária para a proteção da mucosa; uso de cigarros, que prejudica o fluxo sanguíneo mucoso e a cicatrização; e altas doses de corticosteroides que suprimem a síntese de prostaglandinas e prejudicam a cicatrização. Úlceras duodenais são mais frequentes em indivíduos com cirrose alcoólica, doença obstrutiva pulmonar crônica, falência renal crônica e hiperparatireoidismo. Nas últimas duas condições, a hipercalcemia estimula a produção de gastrina e, portanto, aumenta a secreção de ácido. Finalmente, o estresse psicológico autoimposto ou exógeno pode aumentar a produção gástrica de ácido. Morfologia. As úlceras pépticas são quatro vezes mais comuns no duodeno proximal do que no estômago. As úlceras duodenais geralmente ocorrem a poucos centímetros da valva pilórica e envolvem a parede duodenal anterior. As úlceras pépticas gástricas são predominantemente localizadas junto à curvatura menor próxima à interface do corpo e do antro. As úlceras pépticas são solitárias em mais de 80% dos pacientes. As lesões de menos de 0,3 cm de diâmetro tendem a ser superficiais, enquanto aquelas acima de 0,6 cm tendem a ser úlceras profundas. A úlcera péptica clássica é um defeito em saca-bocado, arredondado a oval. A margem da mucosa pode projetar a base levemente, particularmente no lado de cima, mas geralmente está nivelada com a mucosa circundante. Em contraste, margens proeminentes são mais características de cânceres. A profundidade das úlceras pode ser limitada pela espessa muscular própria gástrica ou pelo pâncreas aderente, pela gordura omental ou pelo fígado. Hemorragia e deposição de fibrina estão frequentemente presentes na serosa gástrica. A perfuração para a cavidade peritoneal é uma emergência cirúrgica que pode ser identificada pela presença de ar livre abaixo do diafragma nas radiografias verticais do abdome. A base das úlceras pépticas é lisa e limpa como resultado da digestão péptica do exsudato, e os vasos sanguíneos podem estar evidentes. Em úlceras ativas, a base pode ter uma fina camada de restos fibrinoides acima do infiltrado inflamatório predominantemente neutrofílico. Abaixo desta, um tecido de 10 granulação ativo infiltrado com leucócitos mononucleares e uma cicatriz fibrosa ou colagenosa formam a base da úlcera. As paredes dos vasos na área em cicatrização são tipicamente espessadas e estão ocasionalmente trombosadas. O sangramento progressivo na base da úlcera pode causar hemorragia com risco de vida. A cicatrização pode envolver a espessura inteira da parede e enrugar a mucosa circundante em pregas que se irradiam externamente. O tamanho e a localização não diferenciam úlceras benignas de malignas. No entanto, a aparência macroscópica das úlceras pépticas crônicas é, na prática, diagnós tica. A transformação maligna das úlceras pépticas é muito rara, e relatos da transformação provavelmente representam casos nos quais a lesão que se pensava ser benigna era na verdade um carcinoma ulcerado desde o início. Características Clínicas. As úlceras pépticas são notoriamente lesões crônicas, recorrentes com muito mais morbidade do que mortalidade. Elas podem se apresentar em jovens, mas são mais frequentemente diagnosticadas em adultos de meia idade ou mais velhos sem condições precipitantes óbvias. Após um período de semanas a meses de doença ativa, a cicatrização pode ocorrer com ou sem terapia, mas a tendência de se desenvolver úlcera péptica permanece. A maioria das úlceras pépticas chama a atenção clínica por causa da queimação epigástrica ou dor forte, embora uma fração significativa apresente complicações como anemia por deficiência de ferro, hemorragia franca ou perfuração. A dor tende a ocorrer de 1 a 3 horas após as refeições durante o dia, é pior à noitee é aliviada por álcalis ou alimentos. Náusea, vômito, inchaço, arrotos e perda de peso significativa são manifestação adicionais. Com úlceras penetrantes a dor é ocasionalmente referida às costas, o quadrante esquerdo superior, ou ao peito, onde pode ser interpretada erroneamente como tendo origem cardíaca. Gastrite Hipertrófica São doenças incomuns caracterizadas por hipertrofia cerebriforme gigante das pregas rugosas em função da hiperplasia epitelial sem inflamação. Como esperado, as gastropatias hipertróficas estão ligadas à liberação excessiva de fator de crescimento. Os dois exemplos mais bem entendidos são a doença de Ménétrier e a síndrome de Zollinger-Ellison. Síndrome de Zollinger-Ellison 11 É causada por tumores secretores de gastrina, os gastrinomas, que são mais comumente encontrados no intestino delgado e no pâncreas. Os pacientes se apresentam frequentemente com úlceras duodenais ou diarreia crônica. No estômago, a característica mais marcante é a duplicação da espessura da mucosa oxíntica em função do aumento de cinco vezes no número de células parietais. A gastrina também induz a hiperplasia das células mucosas do colo, a hiperprodução de mucinas e a proliferação das células endócrinas na mucosa oxíntica. Em alguns casos as células endócrinas podem formar pequenos nódulos displásicos ou, raramente, tumores carcinoides verdadeiros. O tratamento de indivíduos com a síndrome de Zollinger- Ellison inclui o bloqueio da hipersecreção de ácido, o qual é alcançado em quase todos os pacientes com inibidores de bombas de prótons ou altas doses de antagonistas do receptor de histamina H2. A supressão do ácido permite que as úlceras pépticas sarem e evita a perfuração gástrica, permitindo que o tratamento seja focado no gastrinoma, o qual se torna o principal determinante da sobrevivência de longo prazo. Doença de Ménétrier É um distúrbio raro causado pela secreção excessiva de fator de crescimento transformador a (TFG-𝛼). A doença é caracterizada pela hiperplasia difusa do epitélio foveolar do corpo e do fundo e pela hipoproteína devido à Enteropatia com perda de proteína. Os sintomas secundários, tais como perda de peso, diarreia e edema periférico, estão comumente presentes. Os sintomas e as características patológicas da doença de Ménétrier em crianças são similares aos dos adultos, mas a doença pediátrica é geralmente autolimitada e frequentemente ocorre em seguida a uma infecção respiratória. O risco gástrico de adenocarcinoma é maior em adultos com a doença de Ménétrier. Morfologia. eÉ caracterizada por hipertrofia irregular das rugas gástricas. Algumas áreas podem parecer polipoides. As rugas dilatadas estão presentes no corpo e no fundo, mas o antro geralmente é poupado. Histologicamente, o aspecto mais característico é a hiperplasia das células mucosas foveolares. As glândulas são alongadas e com uma aparência de saca-rolhas, e a dilatação cística é comum. A inflamação é, no geral, somente modesta, embora alguns casos mostrem uma linfocitose intraepitelial marcante. Uma atrofia glandular difusa ou em áreas, evidente como hipoplasia das células parietais e principais, é típica. 12 Referencias - R.TURNER, Jerrold. O trato gastrointestinal. In: KUMAR, Vinay. Robbins & Cotran - Patologia: bases patológicas das doenças. 8. ed. Rio de Janeiro: Elsevier Editora Ltda., 2010. Cap. 17. p. 771- 840.
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